Flakpanzer Gepard 1A2 no Brasil

História e Desenvolvimento.
A origem da família carros de combate Leopard remonta ao período pós-guerra, onde a Alemanha então dividida a entre as forças do Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN, representava a linha de frente no conflito da Guerra Fria (1947 - 1991), região esta que vivia enorme tensão. Nesta época, a Alemanha Ocidental permaneceu completamente desmilitarizada, sendo proibida pela regulamentação aliada de constituir instituições militares. No entanto a necessidade de criar e reforçar as defesas frente a constante ameaça soviética, levaria a constituição em 12 de novembro de 1955, de uma nova estrutura das forças armadas alemães quer seriam compostas pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). Em termos e recursos, as novas forças armadas seriam imediatamente equipadas com sistemas de armas de origem norte-americana. No segmento de blindados, os carros de combate médios fornecidos eram os modelos americanos M-47 e M-48 Paton, veículos que mesmo modernos, que já se mostravam inadequados frente as ameaças apresentadas pelas forças blindadas do Pacto de Varsóvia. O atendimento desta necessidade se materializaria a partir de 1956, com o desenvolvimento de um novo carro de combate de produção nacional, estudos e concorrências culminaram no projeto, que seria batizado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer) como Leopard I, e se tornaria o primeiro Main Battle Tank (carro principal de combate) totalmente alemão, desenvolvido e produzido do período pós-guerra.

As primeiras unidades foram entregues as unidades do Exército Alemão (Deutsches Heer)  entre os anos de 1965 e 1966, e o grande êxito na operação inicial, despertaria as atenções de outros países, gerando assim contratos de exportação de centenas de carros de combate, para Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia. A robustez e versatilidade da plataforma do veículo, abriria caminho para a criação de versões especializadas derivadas do modelo original, assim em setembro de 1965, o Ministério Federal de Defesa da Alemanha ( Bundesministerium der Verteidigung) autorizou o desenvolvimento de uma versão volta a tarefas de defesa antiaérea. O principal objetivo deste projeto, era prover a substituição do modelo norte-americano M-42 Duster, que era equipado com os antigos canhões Bofors M-2A1, de 40 mm. O novo veículo deveria ser armado com dois canhões de 30 mm, controlados por um sistema digital de controle de fogo, que tinha com finalidade engajar alvos aéreos em manobras evasivas. Deveria apresentar um peso máximo de 45.500 kg e maior compatibilidade com os componentes originais dos carros de combate Leopard. Dois consórcios industriais – um formado pela Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche e outro pela Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis – responderam à concorrência, com o primeiro propondo o conceito de “grupo de batalha” (composto por viaturas equipadas separadamente com dispositivos de vigilância -identificação e outras com radar de controle de fogo/canhões, ambos os tipos sendo liderados por um veículo de comando) enquanto que o outro sugeriu que todos esses itens fossem reunidos em um só veículo autônomo, armado com canhões de 35 mm (calibre rejeitado em 1962, por não ser padrão empregado naquela época)
As duas propostas foram analisadas entre os anos de 1966 e 1970, neste momento o projeto derivado da primeira proposta apresentada pelo consórcio  Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche foi oficialmente cancelado, enquanto o conceito da proposta da  Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis seria aperfeiçoada, passando a receber o radar de vigilância Siemens MPDR 12 acoplado a um identificador de contatos aliados/hostis. Os primeiros protótipos receberam a designação militar de “5 PFZ-A”, porém as modificações incorporadas durante o desenvolvimento, foram tão amplas que resultaram na “segunda geração” do modelo, gerando a versão "5 PFZ-B”. Neste momento seriam incorporados sistemas de radar de vigilância com capacidades aperfeiçoadas de supressão de interferências e de discriminação de alcance e radar Doppler de rastreio de alvos. O habitáculo seria soldado na torreta, usando placas de blindagem espaçadas nas seções frontal, traseira e superior; seriam instalados geradores auxiliares para os canhões antiaéreos, alocados no antigo paiol de munições do carro de combate original, estando estes isolados do  chassis por paredes blindadas com painel de acesso e extintor de incêndio próprios. As baterias elétricas seriam realocadas, o carro receberia uma proteção ao longo da lateral superior esquerda, cobrindo a saída do motor auxiliar e absorvedores de choque nas porções 2 e 6 do braço de suspensão. Os protótipos desta "segunda geração" seriam testados e avaliados entre os anos de 1971 e 1974, com o programa avançando para o estágio de pré-produção, sendo contratada a produção de doze carros, que englobariam mais modificações, tendo destaque o aumento do casco em 80 mm; reposicionamento da torreta em 20 mm ao centro; instalação de doze absorvedores de choque e lagartas mais cumpridas.

Finalmente, fevereiro de 1975, Ministério Federal de Defesa da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung), anunciou a homologação do modelo 5PFZ Tipo B, seria adotado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer). Um contrato seria celebrado em maio do mesmo ano com a empresa Krauss-Maffei AG (atual Krauss Maffei Wegman), definindo como subcontratadas as empresas  Oerlikon-Contraves e Siemens AG. Estes termos previam a produção de vinte carros iniciais, classificados como "lote piloto" sendo seguido por mais cento e vinte dois carros da versão B-1. Esta segunda fase seria alterada, com o desenvolvimento da versão B-2 com radar aperfeiçoado, na qual seria autorizada a produção de cento e noventa cinco carros. Um segundo contrato seria assinado em 1977 para a aquisição de duzentos e vinte cinco carros da versão B-2L, que passava a contar com um sistema de medidor de distância a laser, para alvos a até 5.100m. O carro, pesava 47.5 toneladas, medindo 7,68 m de comprimento, 3, 27 m de largura e 3, 29 m de altura, (com a antena do radar de busca rebatida).  Estava equipado com dois motores, um MTU 838 Cam 500, multi combustível, de 10 cilindros, gerando 830 HP e outro auxiliar Daimler Benz OM 314, a diesel, gerando 90 HP para o acionamento dos canhões, complementado por dois geradores de 20 kVA cada.  Este conjunto mecânico lhe proporcionava uma velocidade máxima de 65 km/h e 550 km de alcance. Sua blindagem tem apenas uma camada, com 70 mm de espessura à frente, variando entre 20 e 30mm nas partes traseira e lateral, proporcionando satisfatória proteção em combate. Em termos de armamento ofensivos seus dois canhões KDA L/R04, apresentavam uma cadência conjunta de 1.100 disparos por minuto, com os projéteis tendo velocidade inicial de 1.175 metros por segundo e alcance de 4 km. O projétil padrão pesava 550 gramas, podendo ser dos tipos Alto Explosivo Incendiário (HEI), Perfurante de Blindagem Incendiário (API), além de traçante. Cada arma leva 320 munições antiaéreas (armazenadas no interior da torreta) e 20 projéteis perfurantes, estocados ao lado dos canhões. 
O modelo que recebeu o nome de batismo de "Gepard", seria entregue ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre os anos de 1976 e 1980, se consolidando como principal linha de defesa área a média e baixa altitude. O modelo seria ainda exportado para Bélgica e a Holanda, que adquiriram entre 54 e 95 carros, respectivamente.  A partir de 1988, duzentos e seis carros alemães, foram equipados com um avançados sistema de telêmetro a laser. Entre os anos de 1997 e 2007, cento e quarenta e sete carros foram submetidos a um programa de modernização, visando assim a extensão de vida útil, os sistemas foram atualizados, passando a contar com um novo computador digital, conexão com o sistema de defesa aérea e gerenciamento de batalha através de rádios SEM 93. Os canhões receberam modificações para poder empregar munições do tipo HVFAPDS/FAPDS (perfurante de blindagem, estabilizada por aleta e calço descartável, de alta velocidade), proporcionado até 1.400 metros por segundo de velocidade inicial, o que elevou o alcance e teto operacional dos canhões para 5000 e 3.500 metros respectivamente.  Esta versão modernizada receberia a designação de Gepard 1A2, sendo previsto que deverá se manter operacional até o ano de 2025. 

Emprego no Exército Brasileiro.
Desde o início de sua era moderna, o Exército Brasileiro, nunca contou em suas fileiras com sistemas de defesa antiaérea autopropulsada com esta necessidade sempre se fazendo presente, principalmente pelas dimensões continentais da nação. Esta importante demanda levaria a estudos para o desenvolvimento de uma solução nacional entre as décadas de 1970 e 1980, que culminariam nas tentativas representadas por modelos como os M-3A1 Antiaéreo e Bernardini XM3D/E Viatura de Combate Antiaéreo, que infelizmente não resultariam em opções viáveis. Uma tentativa mais ousada seria materializada na aquisição do sistema de mísseis Roland II montados no veículo sob esteiras alemão Marder 1A2, porém novamente não houve êxito no estabelecimento de sistema defesa viável antiaérea com real capacidade de emprego em todo o território nacional. Já os antigos e já obsoletos canhões antiaéreos americanos Boffors de 40 mm, fornecidos durante a Segunda Guerra Mundial, só seriam substituídos em 1977 com a aquisição do sistema suíço de artilharia antiaérea Oerlikon de 35 mm, que posteriormente foram integrados com o sistema diretor de tiro de fabricação nacional EDT FILA, controlando os canhões de 40 mm C/70 Bofors e canhões Oerlikon 35 mm C/90. Este último sistema seria ainda complementado com aquisição de misseis terra ar de curto alcance do tipo Manpad (Man-Portable Air-Defense Systems) russos Igla-S na década de 1990. Mesmos estas iniciativas recentes ainda não traziam ao Exército Brasileiro uma real capacidade de defesa de ponto antiaérea, se tornando o principal "Calcanhar de Aquiles" da Força Terrestre Brasileira naquele período

Ao longo da primeira década do século vinte e um, o Ministério da Defesa e o Exército Brasileiro conduziram um amplo processo de transformação e modernização das suas estruturas, equipamentos e veículos de combate blindados. No que tange à modernização dos Produtos de Defesa (PRODE), a aquisição da Viatura Blindada de Combate Carro de Combate (VBCCC) LEOPARD 1A5 BR a partir de 2006, dotou os Regimentos de Carro de Combate (RCC) com um meio moderno e de elevada capacidade de sobrevivência, frente aos demais meios blindados existentes na América do Sul, naquele período. Entretanto, a modernização das unidades blindadas não contemplaria, inicialmente as Baterias Antiaéreas (Bia AAAe) orgânicas das Brigadas Blindadas, ficando estas a cargo somente do emprego dos misseis antiaéreos (AAe) portáteis russos  Igla-S , o que reduzia em muita sua capacidade de proteção contra-ataques aéreos, principalmente de helicópteros de ataque a média altiura. A partir de 2012, seriam conduzidos estudos referentes a proteção do espaço aéreo, com esta necessidade sendo enfatizada pela futura realização de eventos internacionais de grande relevância como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que o Brasi sediaria brevemente. Esta demanda levaria o Ministério da Defesa, a buscar alternativas para o atendimento desta lacuna operacional, levando a Diretoria de Material do Exército Brasileiro, a emitir em âmbito internacional uma solicitação de informação (ou RFI) para estruturar a sua capacidade de defesa antiaérea de ponto.
A Diretoria de Material do Exército Brasileiro, passaria a receber diversas propostas de empresas do segmento de defesa de renome internacional, uma criteriosa análise seria então elaborada, tendo como primicia básica a busca por uma equilibrada relação de custo-benefício. Neste contexto a proposta comercial-técnica apresentada pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegman se mostrava mais viável em termos operacionais e financeiros, englobando o fornecimento de um lote de trinta e seis unidades de seu blindado de defesa aérea Flakpanzer Gepard 1A2. Este consagrado modelo, estava armado com dois canhões Oerlikon de 35 mm, operando em conjunto com um sofisticado sistema de radar e computador digital de direcionamento e controle de fogo.  Como principal vantagem, destacava-se que o sistema era montado sobre o chassi do carro de combate  Leopard I, modelo com o qual o Exército Brasileiro ja era familiarizado em termos de operação e manutenção, por operar desde a década de 1990 mais trezentos carros dispostos entre as versões Leopard 1A1 e 1A5BR. O contrato seria estabelecido em US$ 50 milhões de dólares, incluindo além dos veículos, simuladores, programa de treinamento, sobressalentes e ferramental para manutenção. O primeiro lote com dez carros do sistema Flakpanzer Gepard 1A2, chegou no Brasil no dia 17 de maio de 2013, e após uma rápida revisão foram Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), a tempo de serem empregados na defesa de ponto, fornecendo proteção para a realização no mesmo ano da Copa da Confederações da Fifa. Teriam destaque também na participação da estrutura de defesa durante a Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.

Os veículos restantes foram recebidos em diversos lotes entre os meses de maio de 2013 a setembro de 2014, totalizando trinta e quatro veículos operacionais e dois para instrução. A filial brasileira do fabricante, a Brasil Krauss-Maffei Wegmann, seria posteriormente contratada pelo Ministério da Defesa para a implementação de um programa de modernização das viaturas e simuladores deste modelo, visando assim, atualizar os sistemas sistema de tiro digital, visores termais estabilizados, data link a um centro de controle de defesa aérea - monitoramento, sensores de velocidade da munição.  Este contrato englobava ainda a realização de revisões nos sistemas estruturais e mecânicos permitindo estender a vida útil do modelo até o ano de 2030. A primeira unidade modernizada de um lote inicial de oito carros contratados, foi entregue ao Exército Brasileiro em 9 de março de 2016.  Em serviço operacional os Flakpanzer Gepard 1A2, passaram a ser denominados como Veículo Blindado de Combate Antiaéreo (VBC AAe), sendo distribuídos a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), 11ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada (GAAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 1º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 2º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAe) e 5ª Brigada Blindada (Bda C Bld). Nos dias 22 e 23 de junho de 2013, seriam realizados no Centro de Avaliações do Exército (CAEx) junto as instalaçoes do Campo de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro, os primeiros disparos de testes para avaliação do sistema, atuando inicialmente contra alvos terrestres.
Apesar de muitas críticas internas do próprio Exército Brasileiro, quanto a real efetividade de proteção contra as ameaças aéreas atuais, a aquisição do sistema Flakpanzer Gepard 1A2 veio a robustecer o sistema operacional de defesa antiaérea para emprego em baixa altura até 3.000 metros. Com as unidades de blindadas brasileiras, recebendo uma mínima proteção para suas operações em campo, com estes veículos sendo principalmente empregados como parte orgânica das Brigadas Blindadas, as Baterias Antiaéreas Autopropulsadas (Bia AAAe AP). Com estas brigadas sendo compostas por quatro Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe), menor Unidade de Emprego de Artilharia Antiaérea (AAAe), sendo constituídas cada uma dessas Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe) por quatro veículos  Flakpanzer Gepard 1A2. Cada veículo deste é manuseado por um motorista e dois operadores, com seus canhões Oerlikon de 35 mm podendo disparar 1.100 tiros por minuto, com o alcance das armas atingindo até 5 quilômetros de alcance.

Em Escala.
Para representarmos o Krauss Maffei Flakpanzer Gepard 1A2 em uso no Exército Brasileiro, empregamos o kit da Tamiya na escala 1/35, para compormos a versão brasileira, não há necessidade de se proceder qualquer alteração em relação ao kit original. Não fizemos uso de decais para compor a marcações, pois até a presente data os Flakpanzer Gepard 1A2 do Exército Brasileiro não receberam qualquer tipo de identificação.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Alemão empregado em todos os veículos Flakpanzer Gepard 1A2 recebidos, sendo este esquema mantido apenas com a retirada das marcações e matrículas originais, salientando que até o presente momento não houve a implementação de mudanças, mesmo nos veículos modernizados.


Bibliografia :

- Gepard  - Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Flakpanzer_Gepard
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos
- Gepard 1A2 – Plano Brasil por Sergio Santana www.planobrazil.com