M-2 e M-2A1 White Half Track

História e Desenvolvimento. 
O veículo militar  com tração meia lagarta - Half Track  padrão,  se caracterizava por possuir rodas com pneus na sua parte dianteira e lagartas na parte traseira, concedendo uma parcial, porém satisfatória capacidade off road (fora de estrada) para a transposição de terrenos de difícil deslocamento, sendo um conceito muito empregado na primeira metade do século passado e hoje completamente abandonado. A origem deste tipo de veículo remonta ao início da década de 1920, quando na Europa, começariam a ser desenvolvidos e lançados vários modelos deste tipo para aplicação civil e militar, ganhando grande notoriedade para a operação em ambientes fora de estrada. O veículo de maior destaque neste período era o Citroën-Kégresse P-17 de fabricação francesa, sendo desenvolvido inicialmente para o mercado civil e logo customizado para o emprego militar. A aplicação inicial almejada, seria para transporte de tropas e cargas na linha de frente (considerando sua capacidade inclusive de transpor trincheiras simples), porém sua ótima mobilidade no ambiente fora de estrada o tornaria uma plataforma ideal para emprego em combate vindo, a ser armado com metralhadoras automáticas e canhões anti carro de 37 mm. Este desempenho e versatilidade levariam esta empresa francesa a conquistar vários contratos de exportação, e curiosamente o Exército dos Estados Unidos (US Army) se tonaria um dos principais clientes do modelo.  Em 1932 o governo norte-americano lançaria uma concorrência internacional para a compra de até duzentos veículos este tipo.  Diversas propostas seriam apresentadas, porém o modelo francês Citroën-Kégresse P-17, se mostraria em testes comparativos, muito superior aos projetos oferecidos pela indústria automotiva nacional, vencendo, vencendo assim este processo.  Assim este utilitário francês ser tornaria o  primeiro veículo meia lagarta a equipar o Exército dos Estados Unidos (US Army). Apesar de saírem derrotados nesta concorrência governamental, as montadoras norte-americanas vislumbrariam um grande potencial futuro nesta categoria de veículo militar, gerando assim uma onda de esforços para o aprimoramento de projetos desta ordem. 

Entre estes fabricantes norte-americanos, se encontrava a empresa James Cunninghan & Sons de Rocheste, sediada em Nova York, que despontava rapidamente no segmento automotivo nacional. Em maio de 1933 seria então apresentado ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) um protótipo do caminhão blindado com tração meia lagarta designado como T-24. Este blindado seria testado em campo, porém como neste momento os Citroën-Kégresse P-17 ainda se encontravam e processo de recebimento e incorporação, o T-24 não seria adotado neste momento. Logo após esta empresa seria absorvida pela White Motor Company, com grande parte de seus projetos sendo aproveitados por esta nova gestão. Desta maneira a equipe de engenharia da companhia vislumbraria o potencial do modelo T-24, passando a atualizar o conceito deste modelo de veículo meia lagarta. Em meados do ano de 1938, a montadora apresentaria aos militares norte-americanas uma proposta de desenvolvimento de um novo utilitário com tração meia lagarta baseado no blindado sobre rodas com tração integral 4X4 White M-2 Scout Car, que já se encontrava em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) desde o ano de 1934.  O projeto despertaria a atenção dos envolvidos, recebendo então uma sinalização positiva para seu desenvolvimento, com a White Motors chegando a concluir um protótipo funcional bem a tempo de poder participar de uma nova concorrência lançada pelo governo norte-americano. Este ousado programa previa a aquisição de pelo menos dois mil veículos com tração meia lagarta que seriam destinados ao transporte de tropas e tração de peças de artilharia. O protótipo da White Motor Company, receberia inicialmente a designação de “T-9 Half-track Truck”, e posteriormente de “T-14 Half-track Scout Car” e seria submetido a um amplo programa de testes de campo comparativo com os demais concorrentes. A aprovação da escolha do vencedor seria influenciada pelo fato da White Motor Company já ter em seu portfólio um veículo em serviço ativo no exército, e como o T-9 Half-track Truck compartilhava além do chassi muitos itens com o M-3 Scout Car.  Assim por questões logicas de custo e padronização, este modelo seria então declarado como vencedor da concorrência. O primeiro contrato de aquisição, seria celebrado em meados de 1939 com sua produção em série sendo iniciada no ano seguinte. Como neste período o governo norte-americano estava empenhado em implementar um plano de reequipamento emergencial, face as tensões geopolíticas que se avizinhavam na Europa e no Pacífico, mais contratos seriam firmados com estes veículos passando a ser montados também nas linhas de produção da Autocar Company e Diamond T. Motor Car Company. 
Apesar de todos estes esforços, problemas de ordem de engenharia de processo atrasariam o cronograma inicial previsto, com os primeiros White Motors M-2 Half Tracks passando a ser entregues as unidades operativas do Exército dos Estados Unidos (US Army) no início do ano de 1941. Sanados os problemas de processos, a cadência de produção e consequente entrega de veículos aumentando consideravelmente ao longo dos meses seguintes. Esta grande agilidade na produção, seria proporcionada principalmente pelo emprego de um alto índice de componentes automotivos presentes em veículos comerciais daquela época, o que proporcionaria o emprego de ferramental e linhas de produção já existentes na indústria automotiva norte-americana. Este novo veículo blindado com tração  meia lagarta, apresentava as mesmas dimensões e design (grade frontal, faróis e para-lamas) do modelo sobre rodas M-3 Scout Car e a exemplo deste, estava equipado com um cilindro mecânico afixado no para-choque frontal que a ajudava a transpor elevações no solo. Para autodefesa o M-2 Half Track estava equipado com duas metralhadoras Browning calibre .30 refrigeradas a água, instaladas sobre um trilho que circundava todo o seu interior, permitindo ao artilheiro operar em todos os ângulos. Desenvolvido inicialmente como trator para reboque de obuseiros leves dos modelos M-102 105 mm Howitzer e M-1 de 57 mm, os M-2 Half Track seriam distribuídos a quase todas as unidades de artilharia de campanha do Exército dos Estados Unidos (US Army), servindo também como transportadores de munição para estas armas. Paralelamente o modelo começaria a ser empregado para prover a mobilidade dos esquadrões de infantaria que operavam as metralhadoras pesadas Browning calibre .50, realizando seu emprego, transporte de munição e das equipes dedicadas. Provisoriamente os M-2 Half Tracks seriam encarregados temporariamente das missões de reconhecimento do campo de batalha, com centenas de carros customizados para esta tarefa, até serem substituídos no front europeu, a partir de fins de 1943, por veículos especializados sobre rodas com tração 6X6 como os novos Ford M-20 Command Car e M-8 Greyhound . 

Em operação, estes veículos apesar de receberem muitos elogios iniciais, apresentariam pequenos problemas de ordem técnica, com uma série de falhas sendo relatadas ao fabricante, demandas estas que levariam a uma revisão do projeto original. O atendimento a estas modificações resultariam no surgimento da nova versão M-2A1 Half track Car, que além dispor de alterações no conjunto mecânico apresentava como diferencial estético a inclusão de um suporte quadrado sobre o assento do auxiliar, onde era possível acoplar uma metralhadora Browning calibre .50 operada pelo acompanhante do condutor. O veículo receberia também novas metralhadoras Browning calibre .30 (abandonando o sistema de refrigeração a água), que continuariam instaladas sobre os trilhos laterais, melhorando assim a capacidade de autodefesa da viatura. De acordo com subversão, o veículo poderia ainda receber a instalação de um guincho hidráulico instalado no para choque dianteiro (podendo ser empregado para desatolamentos). Já na parte traseira da carroceria, seriam instalados dois racks dois escamoteáveis para o  transporte de carga extra, infelizmente este modelo ainda não seria contemplando com a instalação de uma porta traseira de acesso, inovação esta que seria implementada somente nos modelos M-3 Half Track Car.  Seu batismo de fogo ocorreria quando da invasão das Filipinas pelo Exército Imperial Japonês em dezembro de 1941, onde dezenas destes veículos foram extremamente importantes nos esforços de defesa da ilha, sendo muito empregados em tarefas de ressuprimento de cargas e tropas para as linhas de frente dos combates. Seu emprego em larga escala se daria durante a Operação Tocha, que teve lugar em 8 de novembro de 1942, quando os Aliados desembarcaram no Norte da África (Marrocos e Argélia), abrindo uma nova frente de batalha para as tropas do Afrika Korps do Exército Alemão (Wehrmacht) naquele continente. Os White M-2 e M-2A1 Half track Car, tiveram destacada e continua utilização nas principais batalhas na Europa e também na campanha do Pacífico, representando muitas vezes em terrenos adversos o sustentáculo da operação logística aliada. 
A produção total de carros blindados da família M-2 e M-2A1 Half Track seria efetivada nas linhas de montagem da White Motors Company, Autocar Company e Diamond T. Motor Car Company, entre os anos de 1940 e 1942, atingiria a impressionante cifra de aproximadamente 13.500 veículos. Uma versão para exportação seria desenvolvida exclusivamente para o atendimento de especificações operacionais particulares do Exército Vermelho Soviético (Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses). Assim seriam produzidos pela montadora International Harvester Corporarion, oitocentos veículos na versão designada como M-9 Half Track, que seriam cedidos nos termos do programa do Leand & Lease Act Bill (Leis de Empréstimos e Arrendamentos) a União Soviética. Em meados de 1942 uma nova versão melhorada, o M-3 Half track Car passaria a ocupar as linhas de produção das três montadoras norte-americanas. Porém a exemplo de seu antecessor, este novo modelo e suas versões subsequentes, compartilhavam as mesmas deficiências de conceito, principalmente no quesito de proteção aos infantes, seja pela ausência de cobertura, ou blindagem inadequada para suportar fogo de munição de médio calibre. O término da Segunda Guerra Mundial determinaria a retirada de serviço de todos os veículos remanescentes junto as forças armadas norte-americanas, com grande parte da frota sendo transformada em sucata, e o restante sendo armazenados para futura cessão a nações aliadas a política internacional norte-americana, entre elas Argentina, Brasil, Bélgica, Chile, Camboja, Chile,  Tchecoslováquia, Finlândia, França, Grécia, Israel, México, Holanda, Nicarágua, Paraguai, Filipinas, Polônia, Portugal e  Vietnã do Sul. Ainda em fins do século XX, dezenas desses veículos  repotencializados ainda se encontravam em operação.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros obrigados a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

Nesta época, curiosamente o Exército Brasileiro já operava uma pequena quantidade de veículos meia lagarta dos modelos Sd.Kfz.7 (alemão) e  Somua - Citroën Kegresse (francês), que eram empregados nos grupos de artilharia antiaérea, tracionando canhões Flak Krupp 88 mm C/56 e sistemas de localização de aeronaves pelo som do tipo  BBT (Barbier,Bernard & Turenne). Esta experiencia seria benéfica, pois facilitaria a introdução em serviço de modelos semelhantes de origem norte-americana. Os aditivos originais do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), previam ao Brasil, o recebimento de quatrocentos e trinta carros do modelo M-2 e M-2A1 e quarenta e nove da versão M-3, que deveriam ser entregues até final de 1943. Porém este cronograma seria profundamente alterado, tendo em vista a priorização no fornecimento deste tipo de veículo as forças aliadas que se preparavam para a invasão ao continente Africano e posteriormente Europeu. Assim desta forma a grande parcela destes carros blindados com traçao meia lagarta, só seriam recebidos após o  término do conflito, e  nunca nestas quantidades originalmente definidas. Mas de fato, a partir do início de 1942 começariam a ser recebidos no Brasil, os primeiros lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras, entre vários modelos, se encontravam os carros blindados meia lagarta, sendo dispostos na ordem de oito do modelo M-2, vinte e cinco M-2A1 Half Track , além de algumas poucas unidades das versões M-3 e M-3A1. Estes novos veículos, tinham como finalidade, equipar as recém-criadas unidades blindadas motorizadas e motomecanizadas, com estas viaturas sendo distribuídas assim que disponibilizadas. Já em serviço passariam a realizar missões de transporte de cargas e tropas, além de complementar os veículos blindados sob rodas com tração integral do modelo M-3A1 Scout Car, que operavam tracionando canhões M-3 de 37 mm, junto as baterias de canhões anti-carro auto rebocadas. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Porém curiosamente os modelos M-2 e M-2A1 Half Track não seriam fornecidos as tropas brasileiras presentes na frente de batalha italiana, com estas sendo equipadas somente com poucos M-3 e M-3 A1.
Conforme previsto, logo após o término da Segunda Guerra Mundial na Europa, o Brasil passaria a receber sucessivos lotes dos veículos meia lagarta desta família, sendo dispostos nas versões M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5. Salientando que que ao contrário do primeiro lote recebido a partir de 1942, grande parte destes eram veículos usados sendo incluídos como material excedente de guerra, mas mesmo assim estavam em excelente estado de conservação. Os últimos carros a serem recebidos da versão M-3A1 seriam entregues no porto do Rio de Janeiro somente em fevereiro do ano de 1947. O significativo acréscimo da frota de veículos blindados de transporte, possibilitaria ao Exército Brasileiro consolidar seu processo de evolução deixando de ser uma força hipomóvel para uma arma motomecanizada, atingindo neste momento uma capacidade de mobilidade e  operacionalidade a um patamar jamais alcançado, se equiparando as principais forças armadas no mundo. A partir de meados do ano de 1946, os veículos meia lagartas da família White M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5, passariam a designados oficialmente no Exército Brasileiro, como Carro Blindado de Transporte de Tropas - CBTP, sendo destinados a equipar vários Batalhões de Infantaria Blindada (BIB), Esquadrões de Cavalaria Mecanizada (Esq.C.Mec) e Esquadrões de Reconhecimento Mecanizado (Esqd.RC.Mec). Em serviço, além de serem empregados em missões de transporte de tropa - cargas e tração de peças de artilharia M-101 (M-2) AR 105 mm, estes veículos blindados seriam também utilizados como veículos porta morteiros, equipados com armas de 81 mm. Algumas viaturas que estavam equipadas com modernos sistemas de rádios de longo alcance seriam empregados como carro comando.  Apesar de suas limitações de projeto referentes a proteção de seus ocupantes e baixa blindagem, os Carro Blindado de Transporte de Tropas – CBTP M-2 e M-2A1 Half Track, cumpririam a contento suas missões no Exército Brasileiro durante toda a sua carreira. 

Em fins da década de 1960, os altos custos de manutenção demandados pelo envelhecimento da frota e a crônica falta de peças de reposição (principalmente componentes do grupo motriz a gasolina cuja produção havia sido descontinuada a mais de vinte anos), impactariam fortemente nos índices de operacionalidade da frota dos Carros Blindados de Transporte de Tropas – CBTP, restando apenas algumas dezenas de viaturas operacionais,  debilitando gravemente a capacidade de mobilidade do Exército Brasileiro.  Apesar de já dispor em seu inventário de vinte blindados de transporte de tropas sob esteira do modelo FMC M-59 APC , e se encontrar em processo final de tratativas para a incorporação de centenas de blindados do modelo FMC M-113AO APC (cujas primeiras unidades seriam entregues em 1967), o comando do Exército Brasileiro ainda vislumbrava neste segmento de veículos blindados de transporte a existência de uma preocupante lacuna operacional de curto prazo. Uma alternativa plausível e de baixo custo, se baseava na remotorização de uma parcela da frota dos modelos M-2, M-2A1, M-3, M-3A1 e M-5, levando assim ao início de estudos de viabilidade. Caberia então a equipe de técnicos do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2) de São Paulo a tarefa de se desenvolver e implementar este programa de modernização. Entre as primícias básicas estava a necessidade de se buscar o maior nível de nacionalização possível, com esta equipe elencando as áreas prioritárias de customização na produção destes componentes. Apesar de existirem tabus dentro das fileiras de comando do Exército Brasileiro sobre a real capacidade técnica em se proceder um repotenciamento neste nível, o consenso derivaria para que fosse dado prosseguimento a esta pauta. Como protótipo para este programa seria escolhido uma viatura do modelo M-2, com os trabalhos sendo rapidamente iniciados, neste contexto apresentava-se como objetivo crucial a troca do motor original a gasolina, por um nacional a diesel, com a escolha recaindo sobre o modelo produzido no país, o  Perkins Modelo6357 de seis cilindros em linha, apresentando 142 hp de potência.
O projeto de remotorizaçao apresentava boas perspectivas, com o programa também logrando grande êxito no objetivo secundário de nacionalização de mais componentes básicos, entre eles o emprego de sapatas de borracha para as esteiras, produzidas pela empresa Novatração Artefatos de Borracha Ltda, pneus e tanques de combustível a prova de balas.  Estes trabalhos evoluiriam sem maiores percalços, sendo acompanhados por técnicos dos principais parceiros fornecedores, com grande destaque para a área de engenharia da Perkins do Brasil S/A. O protótipo do M-2 seria finalizado no mês de   julho de 1972, e sua apresentação oficial ao Comando do Exército Brasileiro se daria no mês seguinte, com esta viatura sendo entregue a Diretoria de Moto Mecanização (DMM), a fim de ser submetido a exaustivos testes de campo para avaliação técnica deste programa. Após a finalização estágio, o protótipo receberia sua homologação, recebendo então a autorização para a implementação pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (Pq.RMM/2) deste programa em todos os veículos desta família ainda em carga no Exército Brasileiro. Gradativamente estes blindados seriam submetidos a este processo de repotenciação, e devolvidos as unidades operativas. Em operação rotineira cumpririam a contento até meados da década de 1980, quando as últimas viaturas foram enfim substituídas pelos novos veículos blindados de transporte de pessoal Engesa EE-11 Urutu. Felizmente ainda é possível encontrar no Exército Brasileiro, alguns exemplares bem conservados, seja a rara White M-2 do Museu militar Conde de Linhares no Rio de Janeiro, o M-3A1 do 24º BIB (Batalhão de Infantaria Blindado) e a M-5 Half Track do 1º Esquadrão de Cavalaria Mecanizada (Esqd.RC.Mec)  – Esquadrão Tenente Amaro de Valença. 

Em Escala.
Para representarmos o White Motors M-2A1 Half Track "EB10-395" tivemos de proceder uma customização (pois não existe um kit regular no mercado desta versão ), partindo  de um modelo tipo “snap” na escala 1/32 do fabricante New Ray, que apresenta a versão M-16. Assim procedemos em scratch a construção de seu interior, envolvendo assentos, laterais, sistema de rádio e parte traseira, complementando o conjunto com detalhamento em resina (acessórios). Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products pertencentes ao set  "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército dos Estados Unidos (US Army)  com os quais a totalidade dos veículos foram entregues ao Exército Brasileiro a partir de 1943. Após o final do conflito no pais,  seria adotada a sistemática de matricula da viatura, que seria mantida juntamente com o esquema de pintura original até a sua desativação na década de 1980.

Bibliografia:

- Meia Lagartas no Exército Brasileiro por Expedito Carlos S. Bastos - Revista Hobby News Nº 27
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos
- M2 Half Track Car -  Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M2_Half_Track_Car
- M3 Half Track Car -  Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Half-track

De Havilland DH-60T Moth Trainer

Historia e Desenvolvimento.
A história de fundação deste tradicional fabricante inglês remete ao ano de 1912 com a criação da The Aircraft Manufacturing Company Limited (Airco), sendo está uma das primeiras industriais aeronáuticas a se estabelecer na Grã-bretanha. Alavancada pela Primeira Guerra Mundial a AIRCO logo seria o maior fabricante mundial de aviões, produzindo milhares de aeronaves para as forças armadas britânicas e aliadas durante a guerra, incluindo caças, treinadores e bombardeiros. A maioria das aeronaves da empresa foi projetada internamente pelo designer-chefe da The Aircraft Manufacturing Company Limited, Geoffrey de Havilland. Após o final do conflito, as nações reduziram em muitos seus orçamentos militares e o excesso de aeronaves disponíveis nas forças armadas limitaria em muito a aquisição de novos modelos principalmente por parte do governo britânico. Este cenário culminou em uma grave crise financeira para a empresa, levando a empresa as portas da falência, a fim sanar parcialmente suas dívidas a empresa seria vendida em 1920 para Birmingham Small Arms Company, com base no cenário não muito favorável e após tomar ciência do real estado financeiro da empresa, a diretoria decidiu pela liquidação total da operação, procedendo neste processo a venda de ativos. Neste processo Geoffrey de Havilland que até então ocupava o cargo de diretor técnico e designer-chefe, vislumbrou a oportunidade de montar sua própria empresa e fazendo uso de recursos próprios. Desta maneira se procedeu a aquisição de ativos e assumindo instalações modestas no próximo aeroporto de  Stag Lane fundando assim a Havilland Aircraft Company Limited.

Dispondo de um limitado capital para investimento Geoffrey de Havilland decidiu investir esforços no mercado de aeronaves civis, tendo em vista que ainda não havia perspectivas do curto prazo para o fechamento de contratos militares. Mesmo no mercado civil, suas iniciativas seriam voltadas para o desenvolvimento de aeronaves simples e de pequeno porte, muito aquém das aeronaves mais complexas desenvolvidas por Geoffrey de Havilland anteriormente durante a guerra. A escolha do nicho inicial de investimento pendeu para o de aeronaves de treinamento, tendo por base o projeto do treinador primário Airco DH-51. O protótipo do treinador básico seria batizado como  De Havilland DH-60 Moth (Traça) e realizou seu primeiro voo sob o comando de Geoffrey de Havilland em 22 de fevereiro de 1925, no aeródromo de Stag Lane. A aeronave de pequeno porte propulsada por um motor Cirrus apresentava a configuração biplano com dois lugares , com estrutura em madeira e fuselagem recoberta com compensado e superfícies cobertas de tecido, um painel traseiro padrão com um único painel traseiro e barbatana, tinha ainda como inovação a possibilidade de se dobras as asas, permitindo assim aos proprietário guardar a aeronave em reduzidos espaços de hangar.
O programa de ensaios em voo clarificaria que o De Havilland DH-60, não somente satisfazia às exigências do incipiente mercado de proprietários de aeronaves de pequeno porte para lazer, bem como poderia atender a outras demandas, entre estas a equipar aeroclubes e escolas de pilotos civis, observação esta realizada pelo Secretário de Estado da Ar, Samuel Hoare, que transformou o interesse na aeronave no primeiro contrato para o governo da Havilland Aircraft Company Limited com a venda de dez células a fim de equipar cinco aeroclubes na Inglaterra. O protótipo foi modificado com um leme balanceado, usado nas aeronaves de produção, e foi inscrito na Corrida da Copa do Rei de 1925, pilotada por Alan Cobham apresentando bom desempenho, em seguida as aeronaves começaram a ser entregues aos aeroclubes, com uma célula sendo entregue na configuração anfíbia, sendo a primeira aeronave do tipo produzida pela empresa. Três aeronaves foram modificadas para a Corrida da Copa do Rei de 1927 com modificações internas e um motor Cirrus II em uma montagem de motor rebaixada. A designação original de DH.60X (para experimental) foi logo alterada para Cirrus II Moth; a designação DH.60X foi reutilizada em 1928 para a versão movida a Cirrus III com um eixo dividido.

Neste estágio a aeronave ainda estava equipada com o motor original Cirrus, apesar de ser confiável, era baseado no projeto francês Renault de oito cilindros e empregava muitos componentes de origem francesa fabricados durante o esforço de guerra, com esta produção cessando após ó término das hostilidades, este fato não garantia a De Havilland segurança no abastecimento a médio e longo prazo. Este cenário levaria a empresa a desenvolver seu próprio motor, o projeto sobre a tutela do engenheiro Frank Halford seria concluído em 1927 recebendo o nome de Havilland Gipsy I apresentando uma potência de 98 hp, com a nova versão da aeronave sendo designada como DH-60G Gipsy Moth. Além de apresentar um significativo aumento de potência, a adoção deste novo motor produzido pelo próprio fabricante proporcionaria uma significativa redução de custo, chegando uma célula ao custo de aproximadamente 650 libras. Em 1930 visando se adequar aos avanços da tecnologia aeronáutica, a empresa lançaria a versão De Havilland DH-60M Moth, que passava a contar com a fuselagem recoberta em metal. Originalmente este novo modelo foi desenvolvido originalmente para atender as demandas de clientes militares e civis no exterior, particularmente devido a uma solicitação das forças armadas do Canadá. Novamente suas características simplistas e baixo custo de produção atrairiam a atenção de outras nações, sendo produzido sob licença na versão civil em países como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Noruega.
Até o final da produção em fins de 1933 seriam produzidas mais de dual mil células dispostas em diversas versões, entre estas sessenta e quatro aeronaves da versão De Havilland DH-60T Moth Trainer destinadas ao mercado de aviões de treinamento militar. O maior operador militar foi a Força Aérea Real (Royal Air Force) que procedeu a aquisição de cento e vinte aeronaves da versão DH-60M, que foram empregados até 1933. Versões deste modelo também seriam empregados pela Austrália, Áustria, Bélgica, Birmânia, Canadá, China, Brasil, Chile, Cuba, Dinamarca, Egito, Etiópia, Finlândia, Grécia, Hungria, Irlanda, Iraque, Nova Zelândia, Paraguai, Polônia, Portugal, Romênia, África do Sul, República Espanhola, Estado Espanhol, Suécia,  Reino da Jugoslávia, Estados Unidos e Alemanha e Japão que empregaram durante a Segunda Guerra Mundial aeronaves capturadas.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da década de 1930, a Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM) contava com poucas células dos já obsoletos Morane Saulnier MS.147Ep2 e MS.130ET2 para o emprego na formação de alunos inscritos no curso de aviação militar, este cenário de necessidade de modernização também se assemelhava junto a Aviação Naval da Marinha do Brasil. O atendimento desta demanda em comum levou o governo brasileiro a lançar uma concorrência internacional visando a aquisição de até quarenta aeronaves para serem divididas entre a Marinha do Brasil e o Exército Brasileiro. Constam em registros que foram apresentados sete modelos de aviões de procedência francesa, britânica e norte-americana, com a escolha pendendo para o fabricante De Havilland Aircraft Company. Um contrato seria celebrando no final do ano de 1931 prevendo a aquisição de aeronaves do modelo DH-60T, sendo quinze células para o Aviação Militar e vinte e quatro para a Aviação Naval,  com o Brasil se tornando o maior operador militar desta versão. As primeiras três aeronaves chegaram no Rio de Janeiro a bordo do navio mercante Andaluzia Star em 5 de março de 1932, juntamente com o piloto chefe ensaios em voo da empresa o Capitão Hubert S Broad, que tinha como missão acompanhar a montagem das aeronaves e ministrar o treinamento básico aos pilotos. A primeira aeronave finalizada seria oficialmente apresentada no dia 18 do mesmo mês em uma cerimônia oficial realizada no Campo dos Afonsos, até maio do mesmo ano as demais células foram recebidas e montada, neste interim Broad já treinara o núcleo de instrutores da Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM) e da Escola de Aviação Naval (EAvN). Do total recebido pelo Exército dois DH-60T foram alocados na Esquadrilha de Treinamento do Grupo Misto de Aviação (GMA) sediado no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro.

Diferentemente das aeronaves do Exército Brasileiro que apresentavam configuração exclusiva de treinamento, os DH-60T da Marinha do Brasil foram recebidos com kits para adaptação de flutuadores, porta bombas, rádios, visor de bombardeio Aldis e metralhadoras fotográficas. A eclosão da Revolução Constitucionalista em 1932, vislumbrou o emprego dos De Havilland DH-60T em missões de combate real com seis aeronaves designadas à Defesa do Litoral (DAL) para compor duas seções daquele comando, com dois DH-60T equipados com equipamento de rádio, dois com porta bombas e dois com metralhadoras fotográficas,  a fim de serem utilizados em missões de ligação, observação e reconhecimento ao longo do litoral paulista a serviço das forças legalistas que combatiam em terra entre Picinguaba e Santos. Com os outros seis aviões em serviço da Escola de Aviação Naval (EAvN), o comando da Marinha do Brasil tentaria ainda agilizar o recebimento das doze células, porém chegariam tarde demais para participar do conflito, que se encerrou em 3 de outubro com a assinatura do armistício. Em tempos de paz a Aviação Naval pode retomar seu processo de reorganização, determinando que o novo lote de aeronaves fosse direcionado a Base Aérea de Porto Alegre onde passariam a compor a Divisão de Instrução, ocorre, porém, que somente quatro De Havilland DH-60T foram assim alocados, com os demais sendo distribuídos ao Centro Naval de Santa Catarina e ao Centro de Aviação Naval do Galeão.
A exemplo dos De Havilland DH-60T da Marinha do Brasil, as aeronaves da Aviação Militar do Exército também se fariam presente na Revolução Constitucionalista iniciada em 9 de julho de 1932. Estando as forças combatentes subequipadas para as operações áreas que se faziam necessárias em um conflito daquela escala. Considerou-se assim empregar todos os meios disponíveis, com as aeronaves da De Havilland DH-60T sendo deslocados para os destacamentos aéreos baseados nas cidades de Resende no Rio de Janeiro e Mogi Mirim no interior de São Paulo. Nestas localidades os DH-60T foram usados em missões exclusivamente de ligação, em rotinas diárias entre estas bases e o Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro. Com o encerramento do conflito, os De Havilland DH-60T  retomaram o foco nas missões de instrução. A partir 1932 ocorreram alguns acidentes que reduziram sensivelmente a disponibilidade da frota, levando a necessidade de aquisição a partir de 1934 de aeronaves Waco RNF, então gradualmente os DH-60T passaram a realizar missões administrativas em proveito da Escola de Aviação Militar (EAvM). Em fins de 1935 os Gipsy Moth foram transferidos para o controle do 4º Divisão da Escola de Aviação Naval (EAvN), para serem empregados exclusivamente como aeronaves de adestramento. No início de 1936 estavam disponíveis apenas seis aeronaves, nos anos seguintes a frota fora reduzida e três ou quatro células, levando as autoridades de Aviação do Exército a se decidirem pela desativação do modelo no início de 1939, sendo os aviões remanescentes e todo o suprimento de peças de reposição doados a aeroclubes.

Apesar do desgaste natural das células, as aeronaves De Havilland DH-60T ainda rendiam elogios por parte de pilotos e oficiais da Aviação Naval, esta aceitação culminaria no interesse em adquirir mais aeronaves deste modelo, que resultaria na celebração de um contrato de compra do novo modelo da empresa designado como DH-82 Tiger Moth, que começaram a ser recebidos em meados do ano de 1933. Este evento assinalou o início do fim da breve carreira dos De Havilland DH-60T como aeronave de treinamento básico padrão da Escola de Aviação Naval (EAvN). A partir do final deste mesmo ano, os DH-60T Gipsy Moth remanescentes passaram a cumprir gradativamente tarefas utilitárias em distintas bases aéreas e centros operacionais da Aviação Naval. Seis aeronaves ainda permaneceram na Escola de Aviação Naval (EAvN) cumprindo missões de treinamento em complemento a frota dos nos DH-82 Tiger Moth , se mantendo nesta função até final de 1934, quando as células ainda em condições de voo foram repassadas para outras unidades. Em maio de 1935 as poucas aeronaves restantes no acervo da Aviação Naval passaram a constituir a 2º Flotilha de Diversos, cujos aviões desta unidade sendo repartidos entre os Centros de Aviação Naval de Santa Catarina, Porto Alegre, Ladário, Rio de Janeiro e Santos.
Apesar de apresentarem uma pequena sobrevida no mercado civil com as aeronaves oriundas da Aviação Militar que foram cedidas ao Departamento de Aviação Civil, esta história não se repetiria com as aeronaves da Aviação Naval, pois a acentuada taxa de atrito registrada ao longo dos anos seguintes reduziu consideravelmente o número de aeronaves DH-60T disponíveis para voo. De fato, as vésperas da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em janeiro de 1941, havia somente um DH-60 Moth Trainner em condições de voo e esse foi transferido para o acervo da Força Aérea Brasileira, onde foi alocado como aeronave orgânica da Base Aérea de Santos, se mantendo ativa até fins do ano de 1942. Posteriormente antes da descarga para alienação e venda como sucata os remanescentes De Havillan DH-82 Tiger Moth e este último De Havilland DH-60 Gipsy Moth foram redesignados como PT-MT em 1945.

Em Escala.
Para representarmos o De Havilland DH-60T "K-147" pertencente a Escola de Aviação Militar (EAvM)do Exército Brasileiro, empregamos o kit do fabricante Amodel, na escala 1/48. Única opção injetada para esta aeronave nesta escala, que infelizmente apresenta baixo nível de detalhamento e qualidade de injeção. Fizemos uso de decais FCM Decais oriundos de diversos sets combinados com decais originais do kit.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa um dos padrões de pintura originais do fabricante De Havilland Aircraft Company, com a aplicação das marcações nacionais da Aviação Militar, sendo mantidas durante toda a sua carreira operacional no Exército Brasileiro.


Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 / 2015 – Jackson Flores Jr
- De Havilland DH-60 Moth Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/De_Havilland_DH.60_Moth
- O emprego do avião na Revolução Constitucionalista de 1932 - www.reservaer.com.br/

N.A. T-28R-1 e T-28A(S) na Marinha

História e Desenvolvimento. 

Logo após o termino da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Americana (USAF) começou a considerar possíveis substitutos para sua frota de treinadores avançados T-6 Texan deflagrando assim uma concorrência entre várias empresas americanas para o desenvolvimento do projeto de uma nova aeronave dedicada a esta tarefa. Após análises preliminares de todos os concorrentes, a empresa North American Aviation sagrou-se vencedora, com seu projeto NA-159, uma aeronave biposta em tandem com trem de pouso triciclo, equipada com um motor radial de 800 hp, que recebeu a designação militar de XBT-28, sendo dotado com um motor radial Wright R-1300-7 de 800 hp, com os primeiros voos ocorrendo a partir de 26 de setembro de 1949.

Após uma densa campanha de ensaios aplicada aos dois protótipos da aeronave, o Air Training Command (ATC – Comando Aéreo de Instrução) passou a receber em abril de 1950 as primeiras células do modelo, agora sob a designação de T-28A Trojan e passaram a ser distribuídos ao Proving Ground na base área de Eglin na Florida e ao  3200 th Fighter Test Squadron (Esquadrão de Testes em Voo), que viriam a desenvolver a doutrina de operação da aeronave, com este processo se alongando até novembro do mesmo, gerando assim os primeiros contratos de produção englobando 605 células, que seriam seguidos por outros contratos até o ano de 1957 totalizando a aquisição de 1.194 aeronaves.
Após ser adotado como treinador primário padrão pela Força Aérea Americana (USAF), a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também demonstrou interesse pelo modelo também com o objetivo de substituir os T-6 Texan , assinando contratos da aquisição da versão de treinamento avançado, designada T-28, que diferia da anterior por contar com um novo motor  Wright R-1820-9 com 1425 hp, os acordos firmados totalizaram 489 aeronaves adquiridas, que seriam empregados não só pela US Navy, mas também pelo Corpo de Fuzileiros Navais (US Corps Marine), para operações de treinamento embarcado em porta aviões com a aquisição de 266 unidades da versão T-28C que passava a dispor de gancho de parada e outras pequenas modificações necessárias a navalizacao do modelo.

No entanto a carreira do T-28A na USAF foi breve em face do desejo daquela arma em introduzir aeronaves de reação no programa de formação de seus pilotos. Consequentemente, a partir de 1956, os T-28A gradualmente deixaram de operar com o ATC, sendo substituídos totalmente até o início de 1960, pelo binômio Beech T-34A / Cessna T-37A. Já os as versões T-28B e T-28C continuaram a ser empregadas pela US Navy e US Corps Marine até o início da década de 1980. A retirada de serviço dos T-28A da USAF gerou um volume de células excedentes em bom estado, que passaram a ser transferidas a nações alinhadas com os Estados Unidos, gerando assim novas versões, entre elas a T-28D Nomad que ser originaram de conversões do modelo original que foram  implementadas pela empresa  Pacific Airmotive  a partir de 1962,  sendo destinadas ao emprego armado em missões de reconhecimento e contra insurgência, tendo destacada atuação nos conflitos do sudeste asiático.
A empresa francesa Sud Aviation a pedido da Força Aérea Francesa, passou a desenvolver um processo de conversão similar ao T-28D Nomad, capacitando a aeronave a dispor de um leque de armamentos, composto por pods de metralhadora .50, foguetes não guiados de 37 mm e 62 mm Matra e bombas de bombas de queda livre e napalm, dispostos em seis pontos duros sob as asas, resultando em uma e encomenda 148 aeronaves, que foram empregadas em conflitos regionais no Norte da África entre 1959 e 1962 No ano de 1960 a empresa Hamilton Aircraft Company passou a oferecer no mercado civil e militar uma conversão designada T-28R Nomair, adotando um motor de Cyclone 1820-56A de 1.350 hp e hélice tripa. A versão civil recebeu a designação T-28R-2 (com canopi fixo e capacidade para até cinco pessoas) e a militar T-28R-1, sendo exportadas a 28 países, com células em serviço até pelo menos até o início da década de 1990.

Emprego no Brasil. 

No início da década de 1960, a Marinha do Brasil consolidava o processo de reativação da sua aviação naval, elaborando em seu cronograma de implementação as necessidades de equipamentos e aeronaves para compor suas unidades áreas, entre estas previa se um esquadrão de instrução aérea dotado de aeronaves de asa fixa. Apesar de a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DaerM) ter comprado, no mercado civil local aeronaves leves no transcorrer de 1962, esses em termos de qualidade e quantidade estavam longe de satisfazer aquela necessidade, levando a Marinha do Brasil a buscar no mercado exterior meios que atendessem a esta demanda. Porém o cenário de embate com a Aeronáutica, devido a outrora exclusividade da FAB em operar aeronaves militares levou a  DaerM a descartar as fontes tradicionais e procurar soluções entre fornecedores de pequeno porte.

Assim em meados de 1962, a Comissão Naval Brasileira sediada em Washington D.C, iniciou negociações junto a empresa Hamilton Aircraft Company nos, com vistas a adquirir seis células do modelo T-28A, que anteriormente foram compradas da USAF, e convertidas ao padrão T-28R-1 Nomair com a substituição do motor original por um Wright R-1820-56A de 1.350 hp, para serem comercializadas no mercado civil, facilitando assim seu processo de exportação. O contrato de compra assinado no último trimestre de 1962 previa ainda a customização das aeronaves, adequando as para operação embarcadas em navio aeródromo, dentre estas alterações a mais visível era a instalação de um gancho de parada. Paralelamente, em janeiro de 1963, o adido naval brasileiro em Paris finalizou as negociações e assinou o contrato de compra de 12 aviões T-28A(S) que se encontravam estocados desde 1961 que pertencerem anteriormente a Força Aérea Francesa e foram modificados pela Sud Aviation .
Os dois lotes foram transportados por via marítima, sendo recebidos desmontados no final do primeiro trimestre de 1963. Os T-28R-1 foram trazidos a bordo do Navio de Transporte de Tropa Soares Dutra, e logos após sua atracação as caixas contendo as células foram transferidas para o NAeL Minas Gerais a fim de serem montadas nos hangares sob o acompanhamento de um técnico americano da Hamilton Aircraft Company, assim quando prontas as aeronaves foram pintadas, prontificadas e testadas para vôo, no dia 17 de outubro de 1963, decolando do porta aviões em direção a Base Aeronaval de Sao Pedro da Aldeia – RJ. Estas células juntamente com seis T-28A(S) deveriam ser distribuídas ao 2º Esquadrão de Aviões de Instrução (2ºEsAvl) que teria como missão treinamento avançado e qualificação de pouso a bordo em navio aeródromo. Porém as circunstâncias ditaram uma mudança nestes planos e os T-28R-1 passaram a integrar o 1º Esquadrão de Aviões Anti-Submarino (unidade posteriormente renomeada 1º Esquadrão Misto de Aviões Anti-submarino e de Ataque), já os T-28A(S) permaneceram desmontados e armazenados.

Dispondo de pilotos qualificados pela Aviação Naval Americana para operação em navio aeródromo, a Marinha começou a ensaiar o primeiro pouso embarcado no Nael Minas Gerais, que ocorreu em 11 de dezembro de 1963, quando o T-28 N-703, pilotado pelo Capitão-de-Corveta Roberto Arieira comandante do 1º EsMavASA executou o primeiro pouso de avião militar brasileiro a bordo do Minas Gerais, assinalando, assim, o início de uma nova etapa na História da Aviação Naval. Mais dois embarques seriam registrados em operações de adestramento e patrulha, com uma aeronave sendo perdida em um acidente fatal em 3 de janeiro de 1964. No intuito de melhorar a formação de pilotos navais previa-se a ativação do 2º Esquadrão de Aviões de Instrução (2ºEsAvl) com a dotação inicial de seis T-28A(S). Porém as divergências entre os Ministérios da Aeronáutica e Marinha, esta decisão foi postergada e novamente as aeronaves permaneceram desmontadas, ocorre porém que registros fotográficos comprovam que houve a remoção dos motores R-1820-56A de alguns T-28R-1, sendo substituídos pelos R-1820-76A de 1425 hp dos T-28A(S).
Em dezembro de 1964 ocorreu o incidente de Tramandaí, quando um helicóptero da MB foi metralhado por pessoal da FAB, e uma decisão final para o destino da Aviação Naval tornou-se urgente. No início do ano de 1965, o Minas Gerais entrou na Baía de Guanabara com os T-28 estacionados no convôo. A consequente reação do Ministro da Aeronáutica em relação ao fato acabou precipitando a decisão presidencial e, no dia 26 de janeiro, o Decreto de extinção da Aviação de Asas Fixas da Marinha foi assinado. Uma semana após a publicação do Decreto, o presidente Castelo Branco e sua comitiva chegaram ao NAeL Minas Gerais para assistir a última demonstração de toques e arremetidas e de pouso enganchado das aeronaves. Após o evento, os T-28 decolaram para o seu último vôo nas mãos da Marinha., as cinco aeronaves remanescentes foram transferidas para a FAB em janeiro de 1965, sendo incorporadas à 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação.

Em Escala.

Para representarmos o T-28R-1 "N 703" empregamos o kit da Monogram da versão T-28A na escala 1/48, a escolha por este modelo se deu através da observação de fotos de época onde está célula apresenta estar dotada com a tomada de ar mais curta da refrigeração do radiador de óleo, características estas presentes nas versões "A e B” para representarmos a versão brasileira incluímos a hélice tripá e o gancho de parada, além de pequenas conversões em scratch. Empregamos decais confeccionados pela FCM presentes no Set 48/05.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura adotado pela Marinha Brasileira em suas aeronaves de asas fixas e asas rotativas a partir de fins da década de 1950, sendo mantido ate a transferência das células para a Força Aérea Brasileira em 1965.


Bibliografia :

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 Jackson Flores Jr
- North American T-28 Trojan – Wikipedia
- Asas sobre os Mares Aviação Naval Prof. Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html
- North American T-28 Trojan - Poder Naval - http://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/NA_T-28/NA_T28_Trojan.html