Savoia Marchetti SM-79T no Brasil

História e Desenvolvimento.
Fundada em 1915 como SIAI (Società Idrovolanti Alta Italia - Companhia de Hidroavião do Norte da Itália), esta empresa inicialmente se especializaria na fabricação de hidroaviões, a grande maioria dos quais destinados às forças armadas italianas. Talvez sua aeronave mais proeminente nesta fase inicial seja o modelo SIAI S.16, um hidroavião desenvolvido para desempenhar missões de reconhecimento aéreo e bombardeio, provando quando em operação ser capaz de realizar voos de longa distância. Logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, a empresa seria renomeada como Savoia após a aquisição da Società Anonima Costruzioni Aeronautiche Savoia, uma empresa italiana de aeronaves fundada por Umberto Savoia em 1915. O nome Marchetti seria adicionado a marca da empresa logo após o recrutamento de seu designer-chefe de longa data, Alessandro Marchetti, durante o ano 1922. A empresa ganharia notoriedade internacional com sua aeronave modelo Savoua S.55, quando em 1926 o protótipo S.55P estabeleceu com sucesso quatorzer recordes mundiais separados em categorias, incluindo velocidade, altitude e distância com uma carga útil. Centenas de aeronaves desta família seriam produzidas ao longo dos anos seguintes, sendo largamente empregadas em tarefas militares e civis. No início da década seguinte, a empresa buscava renovar sua linha de produtos, com o modelo Savoia Marchetti SM.79,  sendo escolhido para capitanear este processo. O projeto seria originalmente desenvolvido pela equipe do engenheiro aeronáutico Alessandro Marchetti durante o início da década de 1930, com o objetivo de ser uma aeronave rápida de transporte comercial com capacidade para até oito passageiros. Apresentava configuração monoplano de asa baixa cantilever, com estrutura combinada em madeira e metal sendo propulsionado por três motores radiais. O voo do primeiro protótipo, inicialmente designado como SM.79P (Passageiro) ocorreria em 28 de setembro de 1934, infelizmente não estaria pronto a tempo de poder participar da corrida aérea Londres-Melbourne (para o qual fora concebido conceitualmente), mas provou sua velocidade realizando um vôo de Milão para Roma em apenas uma hora e dez minutos, voando a uma velocidade média de 410 km / h. Este seria um dos muitos recordes comerciais de velocidade e autonomia que seriam conquistados pelo modelo entre os anos de 1934 e 1935. Porém seria determinado desde cedo que eram os motores, e não a própria estrutura, que provariam ser seu fator limitante em termos de desempenho operacional.

Assim em 1936 os motores radiais originais Piaggio P.IX, seriam substituídos pelos novos e mais potentes Alfa Romeo 126 RC.34s. O alto desempenho demonstrado pelo protótipo atrairia a atenção do comando das Forças Armadas Italianas, que solicitaram a empresa a elaboração de estudos visando investigar as perspectivas de produção de uma variante destinada a realizar missões de bombardeio de média e longa distância. Avaliações com este objetivo seriam conduzidas com expectativas de desempenho positivas obtidas, neste processo o corpo técnico da Força Aérea Italiana (Regia Aeronautica) recomendaria a instalação de três metralhadoras para autodefesa para assim rivalizar com os caças contemporâneos. Em resposta ao interesse dos militares italiano, a empresa decidiu construir um segundo protótipo já militarizado dentro das especificações exigidas (não diferindo muito estruturalmente da versão civil. Esta aeronave já apresentava a instalação ventral para o lançamento de bombas, sistema de autodefesa com uma metralhadora de tiro frontal acima da cabine do piloto, e outra arma localizada na parte de baixo da cauda, com possibilidade de instalação de uma terceira metralhadora em uma posição aberta a ré da carenagem dorsal. Este protótipo alçou voo em 20 de maio de 1936, passando a ser submetido a detalhado processo de avaliação, neste meio tempo a equipe de projetos do fabricante voltaria a focar seus esforços na versão com a versão comercial, com a produção em série sendo iniciada em outubro do mesmo ano. Rapidamente o Savoia Marcheti SM-79 passaria a ser considerado um item de prestígio nacional na Itália fascista, atraindo apoio significativo do governo e, muitas vezes, sendo empregado como elemento da propaganda estatal. Logo no início, a aeronave era rotineiramente inserida em fly-offs e corridas aéreas competitivas, logrando sair vitoriosa em muitas destas contendas.
A versão militar começou a ser entregue a Força Aérea Italiana (Regia Aeronautica) em maio de 1936, com o 12° Grupo Stormo, sendo imbuído para avaliação operacional inicial do bombardeiro e consequente desenvolvimento da doutrina de emprego. Em agosto do mesmo o SM-79 "Sparviero” completaria com sucesso o lançamento de torpedos a partir de uma distância alvo de 5 km, a operação desta variante demandava muita perícia dos pilotos em função da instabilidade aerodinâmica da aeronave quando armada com dois torpedos de grande porte. As capacidades da aeronave ainda estavam sendo exploradas quando da eclosão da Guerra Civil Espanhola, alinhado a linha ideológica da ditadura de Francisco Franco, o governo fascista italiano iria prover apoio ao esforço de guerra nacionalista espanhol. No início das hostilidades em 4 de novembro de 1936, estavam disponíveis apenas seis células do SM-79 Sparviero, que passariam a operar imediatamente com suas tripulações formando a “Aviazione Legionaria” com base nas Ilhas espanholas Baleares. No início de 1937 já estavam disponíveis quinze células, que assim possibilitaram aumentar a amplitude das missões de combate, sob o comando do Tenente Coronel Riccardo Seidl, os SM-79 Sparviero passariam a operar sobre a Catalunha e as principais cidades do leste da Espanha. Missões de bombardeiro foram realizadas atacando as forças da “Segunda República Espanhola", resultando infelizmente em baixas de 2.700 civis, ferindo mais de 7.000 nesta campanha. Durante os três anos do conflito civil, mais de cem aeronaves do modelo SM.79s serviriam como bombardeiros na “Aviazione Legionaira", destes, apenas quatro foram registrados como sendo perdidos em combate. Devido à experiência adquirida na Espanha, o SM.79-II melhorado seria introduzido em outubro de 1939, passando assim a formar a espinha dorsal do corpo de bombardeiros italianos durante a Segunda Guerra Mundial.

Após o término da Guerra Civil Espanhola, o SM-79 "Sparviero"  passou a equipar também os grupos de bombardeiro  8º Stormo e 111º Stormo, porém já em fins de 1939,  quase quatrocentas células estavam em serviço,  equipando total ou parcialmente onze alas da Força Aérea Italiana (Regia Aeronautica), participando inclusive da campanha de ocupação italiana na  Albânia durante o outono de 1939. Até o início da Segunda Guerra Mundial, um total de seiscentas e doze  aeronaves haviam sido entregues, tornando o Savoia Marcheti SM-79 Sparviero o mais numeroso dos bombardeiros em operação na arma aérea italiana, equipando a um total de quatorze grupos (8º, 9º, 10º, 11º, 12º , 14º, 15º, 30º, 32º, 33º, 34º, 36º, 41º e 46º). Cada esquadrão empregava cerca de nove a dez aeronaves, mas isso incluía aeronaves de segunda linha, de modo que a força de cada esquadrão consistia, em média, de sete a oito bombardeiros, e cada ala tinha cerca de trinta bombardeiros. Entre essas unidades os  8º, 9º, 11º, 12º, 30º, 32º, 36º, 41º e 46º Stormi seriam baseados na Itália e participaram  ativamente da Batalha da França. Coube ainda aos SM-79 Sparviero serem responsáveis pelo afundamento de um grande número de navios aliados, entre eles os destroiers HMS Fearless, HMS Bedouin, HMAS Nestor, HMS Foresight, as corvetas HMS Marigold, HMS Ibis, outros foram torpedeados e sofreram sérios danos como os cruzadores HMS Liverpool, HMS Glasgow, HMS Manchester, HMS Phoebe, HMS Arethusa e por fim o porta-aviões HMS Indomitable em 16 de julho de 1943. Por estes feitos o SM-79 Sparviero seria apelidado pelos aliados como o “Flagelo do Mediterrâneo”.
Após o armistício com os aliados, as forças remanescentes leais a Benito Mussolini integrantes da nova Repubblica Sociale Italiana (RSI) decidiriam continuar operando o SM-79 "Sparviero" em tarefas de bombardeio e torpedo. As primeiras missões tentaram se opor aos desembarques em Anzio, onde as forças britânicas e norte-americanas haviam pousado em 22 de janeiro de 1944. A estas seguiram outras missões, mas neste momento a superioridade área aliada representada pelos modernos caças Republic P-47D Thunderbolt começaram a cobrar um alto custo em aeronaves abatidas. Durante julho de 1944, várias células seriam transferidas para a base Eleusis - Atenas para realizar surtidas no Mediterrâneo Oriental, sofrendo novamente pesadas baixas sem resultar em muito estrago, asisim os SM-79 "Sparviero” se mantiveram em operação até maio de 1945. Durante o conflito o modelo ainda seria usado pela Croácia, Alemanha Nazista, Iraque, Iugoslávia, Romênia Espanha e Reino Unido (aeronaves capturadas). Ao todo até o início de 1945 seriam produzidas 1.240 aeronaves, com muitas destas células se mantendo em operação no pós-guerra, principalmente na Itália e Líbano, sendo retiradas de serviço somente entre os anos de 1952 e 1959.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras
Em meados década de 1930 a Aviação Naval da Marinha do Brasil e a Aviação Militar do Exército Brasileiro focavam esforços na modernização de seus meios aéreos e doutrinas de operação, pois ambas contavam com poucas e já obsoletas aeronaves em seu acervo. Esta demanda geraria oportunidades comerciais de grande monta para fornecedores de aeronaves e equipamentos militares,  neste mesmo período, o  governo fascista do ditador italiano de Benito Mussolini, estava profundamente estava empenhado em uma campanha de propaganda de sua máquina estatal, principalmente para divulgar a superioridade tecnológica de sua indústria, com o objetivo assim aumentar sua esfera de influência internacional e consequentemente conquistar novos mercados para seus produtos industriais. Nesta fase um dos expoentes do orgulho tecnológico italiano era representando pela aeronave SM-79 "Sparviero", aeronave esta que era frequentemente era empregada em corridas áreas e reides e longa distância visando assim demonstrar a superioridade daquele país no meio aeronáutico. Uma destas iniciativas contemplava uma travessia do Atlântico Sul, percorrendo a mesma rota que futuramente seria operada comercialmente por aviões de transporte da empresa LATI (Linee Aeree Transcontinentali Italiane). Desta maneira três aeronaves da versão S-79CS Corsa (Corrida), que foram customizadas para esta tarefa, recebendo neste processo importantes alterações e melhorias, como fuselagem modificada para reduzir o arrasto aerodinâmico, remoção de armamento-blindagem e inclusão de maiores tanques de combustível para incremento de autonomia (com esta última alteração em específico gerando a versão denominada SM-79T -Transatlântico). Além destas as células receberiam ainda uma vistosa pintura em vermelho, ganhando as matrículas "I-BISE", "I-MONI", e "I-BRUN", tendo este último como piloto Bruno Mussolini, filho do ditador italiano.

A esquadrilha batizada "Sorci Verdi" (Ratos Verdes), decolou da cidade Guidonia em 24 de janeiro de 1938, para assim iniciar o voo no percurso Roma-Dakar-Rio, os aviões percorreriam a primeira perna da viagem de 4.500 km pousando em Dakar após um voo com duração de 10:47 horas. No dia seguinte decolariam com destino a cidade de Natal, no entanto o SM-79T "I-MONI" apresentaria problemas em uma das hélices no que resultou em perda de velocidade, levando a aeronave a permanecer nesta cidade, já as duas outras seguiram em viagem para a cidade do Rio de Janeiro, aonde chegaram as 22:45 horas (horário da capital federal), completando um percurso e 9.850 km, a uma velocidade média de 404 km/h. Concluídos os reparos no SM-79T "I-MONI", seguiria viagem, chegando na cidade do Rio de Janeiro no dia seguinte. Este ousado reide possibilitaria provar que o estabelecimento de uma rota comercial de transporte de cargas e possivelmente passageiros entre a Itália e Brasil era tecnicamente viável e plenamente segura, abrindo as portas para a empresa estatal LATI (Linee Aeree Transcontinentali Italiane) operar a versão civil desta aeronave regularmente. Este evento teve seu ápice, no dia 22 de fevereiro de 1938 , quando o Tenente Bruno Mussolini oficialmente doou em um gesto de propaganda a Aviação Militar do Exército, a aeronave SM-79T "I-BRUN", gerando o interesse por parte do Governo Federal Brasileiro em um gesto de reciprocidade negociar a aquisição das  outras duas células,  com este processo sendo concretizado em 27 de abril de 1938, quando as três aeronaves foram oficialmente incorporadas a Aviação Militar do Exército Brasileiro.
As três células do modelo italiano, Savoia Marchetti SM-79T seriamdistribuídos a Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM) em maio do mesmo ano, com o oficial italiano Capitão Nino Moscatelli permanecendo no Brasil como parte do acordo de compra, onde durante dois meses seguintes, ele ministraria um curso para os aviadores da Aviação Militar do Exército.  Paralelamente presume-se que os seis mecânicos e técnicos integrantes originais da esquadrilha "Sorci Verdi” também permaneceram no país, sendo responsáveis pelo treinamento básico da equipe de manutenção das aeronaves italianas agora em serviço na Aviação Militar. Após a conclusão destes processos, seriam iniciados os voos de adaptação com as aeronaves. Nominalmente adquiridos para desempenhar tarefas de reconhecimento aéreo de longa distância, especula-se ainda que a incorporação destas primeiras aeronaves, visava preparar o caminho para a encomenda de mais células na versão militar, tendo em vista que nesta época o modelo da Savoia Marchetti representava o estado da arte em termos de tecnologia e desempenho, o que poderia ter gerado um importante efeito de modernização na aviação militar brasileira. Infelizmente o início das hostilidades na Europa em setembro de 1939 e o alinhamento incondicional do governo de Benito Mussolini aos objetivos expansionistas alemães, determinaria que a Savoia Marchetti e as demais indústrias de defesa daquele pais, focassem primordialmente seus esforços no fornecimento de aeronaves para as forças armadas italianas, o que abortaria qualquer possível futura negociação de exportação.

Apesar deste cenário que restringiria a frota do modelo a somente três aeronaves (que receberam as matriculas militares de K-420, K-421 e K-422), os Savoia Marchetti SM-79T brasileiros se mantiveram muito ativos  na Aviação Militar do Exército, entre os anos de 1939 a 1941. Registrando ainda o recorde de velocidade entre as cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre, com a marca de duas horas e cinquenta minutos, em uma velocidade média de 423km/h. Esse evento, registrado no dia 9 e julho de 1939, representaria o ponto alto da carreira desses aviões no Brasil.  Já nas tarefas do dia a dia pertinentes a rotina da Escola de Aviação Militar do Exército (EAvM), os SM-79T passaram a ser empregados em missões de treinamento multi motor, com este na época sendo considerado o modelo mais avançado da frota brasileira. Vale salientar que os registros de época apontam a inclusão em carga no contrato de compra das aeronaves de um lote de metralhadoras Breda de calibre 12,7 mm, porém não há comprovação documental ou fotográfica de que este armamento foi realmente instalado nos Savoia Marchetti  SM-79T brasileiros. Em janeiro de 1941 o movimento de criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) determinaria a transferência de todas as aeronaves da Aviação Naval e Aviação Militar para a recém-criada Força Aérea Brasileira, com estas aeronaves trimotoras italianas sendo alocadas junto a Escola de Aeronáutica (EAer) para emprego em missões de treinamento multi motor e navegação. 
Em meados do mesmo ano seriam conduzidos estudos visando a possível conversão das aeronaves para o emprego em tarefas de transporte, com estes trabalhos sendo originalmente previstos para serem realizados nas oficinas do Parque de Aeronáutica dos Afonsos (PqAerAF) no Rio de Janeiro. Porém o intensificar das hostilidades na Europa levaria a um total bloqueio naval da Itália, exaurindo assim qualquer possível fonte de peças de reposição prejudicando assim a disponibilidade operacional destas aeronaves. O recebimento de novas aeronaves de treinamento e transporte de origem norte-americana, a partir do final do ano de 1942, acelerariam o processo de desativação dos Savoia Marchetti SM-79T. Em 12 de fevereiro de 1943 uma célula seria descarregada, as duas restantes se manteriam timidamente operacionais, com seu último voo sendo registrado em 29 de junho do mesmo ano. As duas aeronaves restantes seriam desativadas e alienadas para venda como sucata em outubro de 1944, encerrando assim  a carreira dos trimotores italianos no Brasil.

Em Escala.
Para representarmos o Savoia Marchetti SM-79T “K-421” empregamos o antigo kit da Airfix na escala 1/72.  Para se compor a versão operada no Brasil temos de converter o modelo, retirando em scratch a corcova e o armamento defensivo. Como não existe um set de decais específico para a versão brasileira, optamos por usar decais diversos oriundos de sets da FCM Decais.

O esquema de cores (FS) é baseado em uma única foto de época, inicialmente as aeronaves empregaram o padrão da esquadrilha "Sorci Verdi", este registro fotográfico aponta para um padrão em verde, presumimos se tratar do "Vert Foncé" que era a cor empregada nas aeronaves militares de origem francesa que equiparam a Aviação Militar do Exército Brasileiro a partir do inicio da década de 1930.


Bibliografia :

- Arquivo José de Alvarenga
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
- Savoia-Marchetti SM.79 Wikipedia , https://en.wikipedia.org/wiki/Savoia-Marchetti_SM.79