A segunda metade da década de 1930 presenciou apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, um forte programa de rearmamento da Alemanha que era regida pelo partido nazista que ambicionava expansões territoriais. Este processo focava o desenvolvimento de novos conceitos, doutrinas e tecnologias em equipamentos e armas (que viria a ser denominada como Blitzkrieg), e tinha com um dos principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, que se caracterizavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo, que eram superiores a maioria de seus pares disponíveis na época. Atentos as possíveis ameaças futuras, o comando do Exército Americano (US Army) iniciou em fins desta mesma década um programa de estudos visando o desenvolvimento de blindados que pudessem a rivalizar com os novos carros de combate alemães, italianos e japoneses. Assim em julho de 1941, o Departamento de Defesa Americano, iniciou estudos para o desenvolvimento de um novo carro antitanque leve, que tinha por objetivo substituir o já obsoleto e não adequado carro blindado sobre rodas GMC M-6 M-6 Gun Motor Carriage, que nada mais era que um uma versão modificada do carro 4X4 WC-5. Esta proposta tinha por objetivo criar um veículo específico para esta missão. Os parâmetros desta concorrência definiam um veículo blindado leve sobre rodas com tração integral do tipo 6X6, que deveria armado com um canhão de 37 mm instalado em uma torre giratória dispondo ainda de duas metralhadoras Bronwing calibre .50. para autodefesa.
Inicialmente o Departamento de Defesa Americano passou a considerar para análise, as propostas apresentadas por empresas como a Studebaker Automotive Co., com o modelo designado T-21, Ford Motors Co. com seu modelo T-22 e por fim o modelo da Chrysler Automotive Co., designado T-23. Como as propostas conceitualmente eram promissoras, estas indústrias foram autorizadas e financiadas pelo Exército Americano (US Army) para a construção de um protótipo de cada participante, elevando assim está concorrência para a realização de testes comparativos em campo. Os resultados apresentados nesta fase, levaria a decisão a pender favoravelmente para o modelo T-22 da Ford Motors, apesar disto importantes ressalvas foram apontadas, levando a empresa a aplicar uma série de melhorias a fim de sanar as deficiências identificadas. Neste estágio, porém já estava clarificado que o canhão de 37 mm, já não se apresentava como eficaz contra as blindagens frontais e laterais dos novos carros de combate alemães, que passavam a adotar armas de maior que calibre, tornando assim o T-22 uma presa fácil, pois sua blindagem fora originalmente projetada para suportar impacto de armas leves. Apesar deste contexto, o Exército Americano (US Army), decidiu por seguir com projeto, com esta decisão sendo influenciada pelo intensificar das tensões políticas na Europa e no Pacífico, demandando então grande urgência na implementação de um vasto programa de reequipamento. Neste momento o veículo passaria a ser empregado em missões de reconhecimento do campo de batalha, e alterações deveriam ser implementadas no projeto para o atendimento deste novo perfil operacional, passando a ser designado como M-8. Apesar de rapidamente customizado, problemas burocráticos relativos à celebração do contrato de produção, resultaria no atraso da produção em série, com a mesma se iniciando apenas em meados do mês de março do ano de 1943.

O primeiro carro de comando, totalmente blindado foi construído sobre um chassi Cadillac em 1914, e deste então o comando do Exército Americano (US Army), vinha buscando um veículo militar dedicado a esta tarefa. O ambiente de guerra moderna de alta mobilidade no campo de batalha, observado no início da Segunda Guerra Mundial, traria de novo esta necessidade à tona, visando conceber um veículo blindado de comando, que pudesse equipar os batalhões motorizados de infantaria, que pudesse fornecer uma leve proteção blindada contra armas de fogo de baixo calibre e estilhaços permitindo assim que os comandantes pudessem atuar o mais próximo possível do front de batalha. Esta oportunidade surgiria em março de 1943, quando do início da produção em série do veículo blindado de reconhecimento Ford M-8 Greyhound. Basicamente o chassis e a estrutura padrão eram os mesmos empregados neste novo modelo de blindado, o M-20 dispensava então torreta giratória do canhão de 37 mm , e em seu lugar projetava-se uma nova extensão vertical da blindagem, podendo ainda ser incluído nesta base um anel giratório de 360 graus, que permitiria a instalação e operação de uma metralhadora antiaérea Bronwing calibre .50 para autodefesa. Este novo blindado, seria ainda equipado com um moderno sistema de rádio de longo alcance para uso dos comandantes em todo o campo de batalha, podendo ainda se comunicar com facilidade com as estações de retaguarda. Ao longo Segunda Guerra Mundial, seu emprego operacional derivou de carro comando para também veículo blindado reconhecimento do campo de batalha e transporte de carga, proporcionando este último modelo, grande mobilidade e proteção no transporte de cargas especiais (principalmente munição) em cenários de conflagração, complementando assim o trabalho de caminhões militares

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil ao passar a representar no cenario global, uma posição de destaque estratégico no contexto do conflito, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas (borracha, metais e alimentos) sendo detentor ainda de um vasto território com pontos estratégicos, extremamente propícios em seu litoral nordeste, para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. Esta localização privilegiada representava o ponto mais próximo entre o continente americano e africano a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. E neste contexto o país, passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, navios, veículos blindados e carros de combate. Este vasto programa de reequipamento visava proporcionar ao país, as condições básicas para o estabelecimento de um plano defesa territorial eficiente. Logo em seguida seria ainda definido que o Brasil iria compor o esforço de guerra aliando também no front europeu, enviando um contingente militar para a Itália, culminando assim em 9 de agosto de 1943 na criação do Corpo Expedicionário que seria conhecida popularmente como Força Expedicionária Brasileira (FEB).
O Corpo Expedicionário Brasileiro, seria estruturado nos mesmos moldes do Exército Americano (US Army), havendo assim a necessidade de se contar com diversas unidades mecanizadas, equipadas com veiculos blindados dos modelos Ford M-8 Greyhound , White Motros M2 Half Track e Ford M-20 Armored Utility Car. Nexte contexto uma grande frota destes modelos deveria ser fornecida ao Exército Brasileior. Porém ao contrário do esperado, o veículo de comando blindado Ford M-20 Armored Utility Car não seria entregue no teatro de operações da Itália, aos efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), ficando assim o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária equipado somente com os quinze veículos do modelo Ford M-8 Greyhound, deixando então o comando do Exército Brasileiro, sem a opção de contar com m carro comando blindado, fazendo uso então na linhas de retaguarda dos modelos especializados Dodge WC-56 e Dodge WC-57 Command Car. Paralelamente ainda durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944 o Exército Brasileiro receberia nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos) mais vinte carros blindados Ford M-8 Greyhound e dois carros comando do modelo Fod M-20 Armored Utility Car. Estas novas incorporações de veículos blindados sobre rodas, aumentariam a capacidade de mobilidade da Força Terrestre Brasileira, sendo inicialmente distribuídos entre as unidades blindadas de infantarias sediadas no Rio de Janeiro. Esta movimentação permitiria ao Exército Brasileiro, concentrar os primeiros carros blindados sobre rodas 6X6 em serviço, do modelo Ford T-17 Deerhound, no Sul do país.

Após a rendição alemã em 8 de maio de 1945, todo contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi desmobilizado, e teve início o processo de repatriamento das tropas e equipamentos, com os Ford M-8 Greyhound "Italianos", sendo despachados ao Brasil por via naval. Após seu recebimento no porto do Rio de Janeiro, estes seriam concentrados, juntamente com os dois Ford M-20 Armored Utility Car. Já logo após o término no conflito o 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado da FEB (Esqd Rec Mec), considerado como o embrião da cavalaria mecanizada no Brasil, desenvolveu grande importância na modernização da Força Terrestre, fazendo finalmente a transição da doutrina hipomóvel para a mecanizada, com novos manuais sendo elaborados, contando ainda com novos investimentos do governo federal, de modo que o país começou a pensar na sua proteção externa. Dispondo da mesma plataforma mecânica dos Ford M-8 Greyhound, a versão de carro comando, passaria a operar em conjunto com os demais veículos blindados pertencentes ao 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec), aplicando o conceito completo de um carro de comando e controle. Neste momento pela primeira vez nos treinamentos operacionais, os oficiais de comando podiam operar avançando na linha de frente, em uma profundidade que seriam impensáveis de se imaginar com os carros comando convencionais não blindados em uso no Exército Brasileiro do modelo Dodge WC-57 Command Car. Seu sistema de rádio de última geração com longo alcance, representava também um diferencial qualitativo junto a Força Terrestre.
No final de 1947, uma reorganização operacional promovida no Exército Brasileiro, envolveria diretamente o 4 º/2 º Regimento de Cavalaria Divisionária ( R.C.D.) sediado na localidade de São Borja no Interior do Rio Grande do Sul, com esta unidade recebendo oito viaturas blindadas sobre rodas Ford M-8 Greyhound, cinco carros blindados meia lagarta White Motors M-2A1 e um dos dois carros comando, Ford M-20 Armored Utility Car, promovendo assim a substituição dos carros de combate M-3A1 Stuart. Posteriormente esta unidade seria redenominada como 2º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (Esqd Rec Mec), passando assim também a ser a segunda unidade a operar este modelo de blindado de comando. Em 15 de janeiro de 1954, pelo decreto nº 34.946 sancionado pelo Presidente Getúlio Vargas, esta unidade recebe o nome de "Esquadrão Anhanguera", sendo então transferido para a Cidade de São Paulo. Sempre participando nas mais importantes manobras militares do Estado, assim como integrante de destaque nos desfiles do 7 de setembro na cidade de São Paulo, o Ford M-20 passou a ser um velho conhecido de todos. O Ford M-20 Armored Utility Car, seria empregado por brasileiros em um cenário real de conflagração, quando o Brasil participou ativamente com vários contingentes de soldados, compondo as Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a Crise do Canal de Suez (1957-1967), com pelo menos cinco destes carros de propriedade do Exército Americano (US Army), cedidos em regime de comodato, foram operados pelo Exército Brasileiro.

Em fins da década de 1960, a necessidade de se manter o status operacional da frota de caminhões e carros de combate norte-americanos recebidos durante a década de 1940, iria motivar o desenvolvimento de estudos de modernização por parte do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo. Dentre estes projetos, diversos projetos que surgiram podemos citar os estudos práticos para a remotorização e retrofit dos Ford M-8 Greyhounds e M-20 Armored Car, prevendo as substituições da caixa de câmbio, transmissão, freios, suspensão, parte elétrica, e pôr fim a troca do seu motor original a gasolina Hércules JDX, de seis cilindros e 110 hp, por um conjunto nacional a diesel Mercedes-Benz OM 321, de 120 hp. Os trabalhos seriam realizados entre os anos de 1968 e 1969, com o primeiro protótipo do modelo M-8 sendo avaliado, e os resultados foram tão positivos, que levariam a modernização de todos os carros remanescentes, a mando da Diretoria de Motomecanização (DMM), com os trabalhos sendo executados pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2), sendo este programa concluído com pleno êxito em fins do ano de 1972. Este processo permitiria estender a vida útil dos dois Ford M-20, até fins do ano de 1986, quando foram substituídos pelos novos blindados sobre rodas da Engesa EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu.
Em Escala.
Para representarmos o Ford M-20 Armored Utility Car "EB10-301“empregado como veículo comando do 1º Esquadrão do 5° Regimento de Cavalaria Mecanizado (1°/5°R.C. Mec.) - Esquadrão Anhanguera, optamos pelo antigo e raríssimo modelo produzido pela Monogram, na escala 1/32. Dispondo de um interior completamente despojado de detalhamento, procedemos a inclusão de todo o equipamento de rádio e assentos da tripulação. Empregamos decais produzidos pela Eletric Products presentes no set Exército Brasileiro 1944 - 1982.
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelos blindados pertencentes ao Exército Americano (US Army), durante a Segunda Guerra Mundial quando do recebimento dos dois Ford M-20 no Brasil. Estes carros receberiam apenas as marcações nacionais, mantendo este esquema até a sua desativação em 1986. Um dos dois carros preservados recebeu o esquema de pintura camuflado em dois tons, adotado pelo Exército Brasileiro a partir de 983
Bibliografia :
- Blindados no Brasil - Volume I
– Expedito Carlos Stephani Bastos
- Origem do Conceito 6X6 do Veículo Blindado no Exército Brasileiro
- http://www.funceb.org.br/images/revista/20_1n8q.pdf