A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, empresa norte-americana de aeronáutica que conquistaria grande notoriedade no mercado de aeronaves civis de transporte na década de 1930, teria sua gênese em 1912, quando Allan Lockheed e seu irmão Malcolm Lockheed fundaram uma pequena empresa especializada na cidade São Diego no estado da California. Inicialmente se especializaria no desenvolvimento e produção de pequenas aeronaves turísticas. Apesar da empresa apresentar um bom índice de crescimento em vendas nos anos seguintes, o termino da Primeira Guerra Mundial em novembro de 1918, iria provocar um fator adverso sobre o mercado, pois milhares de aeronaves com pouco uso seriam retiradas de serviço militar, inundando o mercado mundial da aviação civil. Isso geraria uma crise sem precedentes na comercialização de aeronaves novas, levando assim ao encerramento das atividades de um grande número de fabricantes aeronáuticos, entre estes a própria Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Desde então os irmãos Alan e Malcon passaram a empreender em segmentos diferentes de mercado, visando assim sua subsistência empresarial. Em 1926, Allan Lockheed, John Northrop, Ken Kenneth Kay e Fred Keeler se uniram em um novo empreendimento, logrando exito em obter fundos juntos a investidores, para assim fundar a Lockheed Aircraft Company , que teria sua sede em Hollywood no estado da Califórnia. Esta nova empresa faria uso da mesma tecnologia desenvolvida para o Modelo S-1 produzido na organização anterior, para a concepção de seu novo modelo, que seria batizado agora como Lockheed Vega. Rapidamente o sucesso comercial se mostraria presente, levando 1928, a empresa a mudar sua sede para a cidade de Burbank, e no final deste mesmo ano reportaria vendas superiores a um US$ 1.000.000,00 milhão de dólares. Neste mesmo período, seriam produzidas centenas de aeronaves, empregando mais de trezentos trabalhadores, em uma linha de produção que chegava a completar cinco aeronaves por semana. Em julho de 1929, o acionista majoritário Fred Keeler venderia 87% dos negócios da empresa para a companhia Detroit Aircraft Corporation, permitindo assim um ousado programa de expansão. No entanto a “Grande Depressão” de 1929 abalaria o mercado de construção aeronáutica, levando a empresa a um estado falimentar. Em 1932 durante seu processo de liquidação judicial, a empresa seria adquirida por grupo de investidores liderados pelos irmãos Robert e Courtland Gross, e Walter Varney, dando uma nova vida a companhia nesta década.
A partir de 1934, uma grande oportunidade se descortinaria para a Lockheed Aircraft Corporation, pois já ficava evidente para muitos governos europeus que um novo conflito no velho mundo seria só questão de tempo. Para fazer frente aos vastos programas de rearmamentos iniciados pela Alemanha e Itália, países como a França e o Reino Unido, e de forma mais tímida, a Bélgica e a Holanda começaram tardiamente a modernizar e ampliar suas forças armadas. Porém as industrias de defesas destas nações, simplesmente não estavam prontas para atender as necessidades de suas respectivas forças armadas dentro de espaço de tempo existente, em consequência, esses e outros países europeus não alinhados com a Alemanha e Itália optaram por buscar material de defesa produzido no novo mundo. Neste contexto, o governo da Grã Bretanha era a nação mais empenhada neste processo, e emergencialmente buscava renovar sua frota de aeronaves de combate, entre elas os já obsoletos bimotores Avro Anson que eram dedicados a missões de patrulhamento marítimo e reconhecimento. Esta demanda seria percebida pelos diretores da Lockheed Aircraft Corporation, que em fevereiro de 1938 autorizariam com recursos próprios iniciar o desenvolvimento de uma aeronave militar com foco a realização de a missões de reconhecimento, patrulha e bombardeio. Visando agilizar o projeto e otimizar investimento, este projeto seria baseado na plataforma do modelo civil Lockheed Modelo 14 Super Electra. Este programa receberia a designação de Lockheed Model B14, e logo seriam iniciados os trabalhos de construção do mock up em madeira, quando este processo estava em um estágio avançado, a empresa receberia a visita de uma comissão britânica de compras aos Estados Unidos. Assim uma completa apresentação seria realizada a estes delegados, com a proposta da aeronave agradando em muito os oficiais britânicos, gerando assim um convite para a diretoria da empresa realizar uma visita formal a Inglaterra para melhor discussão do projeto.

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, levaria a empresa Lockheed Aircraft Corporation, a se tornar rapidamente um dos mais importantes fornecedores estratégicos das forças armadas norte-americanas, com vários produtos obtendo posição de destaque no esforço guerra aliado. Entres estes o bombardeiro bimotor A-28 Hudson, disposto em várias versões viriam a operar em larga escala junto ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e a Aviação Naval da Marinha Americana (US Navy). Inicialmente, grande parte destas células seriam retiradas dos lotes de produção de exportação destinados a Força Aérea Real (Royal Air Force), com esta decisão emergencial sendo tomada devido de se reforçar os efetivos aéreos dispostos nas bases norte-americanas na costa oeste e no pacífico, logo após o ataque a base naval em Pearl Harbour no Havaí. Nas fases iniciais da participação americana no conflito os Lockheed A-28 Hudson foram fundamentais nas missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino operando tanto na Europa quanto no Pacifico em conjunto com os aerobotes Consolidated PBY Catalina. Cabe a aeronave ainda o mérito de ser a primeira aeronave desenhada e produzida nos Estados Unidos a derrubar um avião inimigo em combate durante a Segunda Guerra Mundial, um aerobote Dornier 18 da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) no dia 8 de outubro de 1939, em missão de patrulha no Mar do Norte. Seria também a primeira aeronave da Força Aérea Real (Royal Air Force), a enfrentar e afundar com cargas de profundidade um submarino alemão, o U-656 em 27 de agosto de 1941. Caberia ainda a versão naval Lockheed PBO-1 Hudson ser responsável pela destruição dos dois primeiros submarinos alemães em ataques desferidos por aeronaves de bandeira norte americana, e também pelo uso pioneiro e exclusivo de foguetes não guiados. Além de Estados Unidos e Grã-Bretanha aeronaves desta família seriam cedidas a mais países aliados nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos).

Emprego na Força Aérea Brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. A ameaça representada pela ação dos submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira começou a ser enfrentada após a declaração de guerra aos países do Eixo em agosto e 1942, quando a Marinha Americana (US Navy) começou a operar esquadrões antissubmarino a partir de bases principalmente no litoral do nordeste. Neste mesmo período a recém-criada Força Aérea Brasileira não dispunha de treinamento ou meios aéreos adequados a realização destas missões especializadas, e estava equipada com uma frota herdada das aviações Militar e Naval, que era composta em sua grande maioria por aeronaves obsoletas, com mais modernas representadas pelos modelos Vultee V-11 e Focke-Wulf FW-58 Weihe, sendo completamente inadequados as tarefas de patrulha marítima. Missões estas que deveriam compor o imediato esforço de guerra nacional, direcionado principalmente as atividades relacionadas a busca e destruição de submarinos do Eixo, que até então representavam uma grave ameaça a navegação militar e civil nas costas do mar territorial brasileiro. Era necessário assim, um esforço emergencial para a modernização dos meios de patrulha da Força Aérea Brasileira, com este movimento começando a tomar forma com a criação da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada nos Estados Unidos, para que esta viesse a selecionar e adquirir os meios necessários. A adesão do governo brasileiro ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seriam garantidos termos que viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos, seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha nos campos da Itália.
A intensificação das operações de ataque por parte de submarinos alemães e italianos na costa brasileira, por volta de 1941, levou o governo brasileiro a montar patrulhas marítimas, ainda que com aeronaves totalmente inadequadas para tais missões, ao mesmo tempo que aguardava o recebimento de aeronaves especializadas. Após receberem os primeiros bombardeiros North-American B-25B Mitchell e realizarem a conversão operacional no tipo, tripulações brasileiras passaram a efetuar missões de patrulha antissubmarino. No dia 22 de maio de 1942, antes mesmo de o Brasil entrar em guerra, ocorreu o primeiro ataque de uma aeronave da Força Aérea Brasileira a um submarino alemão, o qual, ao localizar a aeronave brasileira, abriu fogo com sua artilharia antiaérea. Os ataques de submarinos passaram então a aumentar em número até que, em 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha e Itália. Dentro deste programa de ajuda material seria provisionada a cessão de vinte e oito aeronaves do modelo Lockheed A-28A-LO Hudson, com os primeiro dez exemplares sendo recebidos em dezembro de 1942, com outros dezesseis chegando no mês seguinte, e em março de 1943 chegou o último Hudson a ser recebido. Estas células originalmente pertenciam a um lote destinado a Royal Air Force (Força Aérea Real), sendo desviadas a Força Aérea Brasileira, devido a necessidade emergencial em se dotar este novo aliado com o mínimo e equipamento necessário ao esforço de guerra. A primeira unidade a receber o modelo foi o Grupo de Aviões Bimotores (GAB) da Unidade Volante, que fora estabelecido em Natal no Rio Grande do Norte, iniciando assim em dezembro do mesmo ano, sua carreira operacional, atendendo a missões de patrulhamento marítimo para proteção de comboios. Em termos distribuição das aeronaves, a próxima unidade a receber os A-28 Hudson foi a Base Aérea de Salvador que recebeu uma dotação de sete células. Também o 2º Grupo de Bombardeio Médio (2ºGBM) foi ativado em Salvador (BA) em 17 de agosto de 1944 para cumprir missões de cobertura de comboios, antissubmarino e de bombardeio, e seria dotado com cinco unidades do modelo. Curiosamente a derradeira célula do modelo entregue as autoridades brasileiras nos Estados Unidos, permaneceu naquele pais, prestando apoio as atividades dos brasileiros que se encontravam destacados no San Antonio Air Depot, organização esta que era o maior centro de manutenção e logistica da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e habitual ponto de partida dos aviões que seriam transladados ao Brasil.

Vale citar que em termos operacionais, as células da Força Aérea Brasileira eram originalmente destinadas aos britânicos, possuindo assim algumas peculiaridades técnicas que os distinguiam das demais aeronaves produzidas para as forças armadas norte-americanas. Um exemplo era o sistema de frenagem do trem principal, que ao contrário do sistema original, em que a aplicação de intensidade e o diferencial de frenagem concentravam-se nos pedais, exigindo o emprego conjugado dos pedais e de uma espécie de freio de mão, levando este diferença a causar acidentes de pequena monta, com danos leves as células. Mesmo sendo aeronaves pertencentes ao mesmo lote de trezentos e cinquenta células, os primeiros Lockheed A-28A Hudson recebidos no país, dispunham de uma torre dorsal Bounton Paul, enquanto as demais contavam com um simples, mas volumoso defletor avante da metralhadora dorsal. Esta última característica aerodinâmica resultava na pouca autoridade dos lemes de direção quando a aeronave se encontrava com velocidade reduzida, o que era especialmente evidente durante o pouso e a decolagem. Possivelmente esta faceta, aliada ou não a outras particularidades do modelo levaria a ocorrência de acidentes, com dois registros fatais ocorrendo entre os meses de junho e novembro de 1943, com aeronaves pertencentes ao 2º Grupo de Bombardeio Médio (2ºGBM). Logo em seguida uma aeronave alocada junto ao Unidade Volante do Galeão se acidentaria com graves danos estruturais, também um quarto A-28A Hudson foi dado como perdido em acidente na cidade de Canavieiras na Bahia. Entre fins de 1943 e início de 1944, a Força Aérea Brasileira receberia um considerável reforço de aviões de patrulha e guerra antissubmarino dos modelos Consolidated PBY-5A Catalina, North American B-25J Mitchel e Lockeeds PV-1 Ventura e PV-2 Harpoon. No então esta diversidade de modelos acarretaria em inconveniências logísticas e de manutenção na tarefa de se manter aeronaves de vários tipos distribuídos em quatro unidades áreas. A busca por otimização de recursos resultaria em uma mudança organizacional, oficializada em 20 de dezembro de 1944, por meio de um boletim reservado da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA), que determinaria que todas as células dos Lockheed A-28A Hudson remanescentes, fossem concentrados no 4º Grupo de Bombardeio Médio (4ºGBM) sediado na Base Aérea de Fortaleza, com o objetivo de facilitar e padronizar tanto a operação quanto a manutenção.

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed A-28A Hudson “FAB 72” (número de série4 14-7172 aeronave que foi doada pela Fraternidade do Fole), empregamos o kit da Classic Airframes na escala 1/48. Para compormos a versão brasileira tivemos de construir em scratch o posto do metralhadora dorsal (estrutura, assento do operador e armamento), pois o kit vem originalmente equipado com a torre elétrica Bounton Paul. Fizemos uso de decais impressos artesanalmente e decais pertencentes a diversos sets da FCM Decais .
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura da Royal Air Force (Força Aérea Real). Vale citar que mesmo após receberem as marcações nacionais, estas aeronaves mantiveram durante algum tempo a identificação da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas partes inferiores das asas. Após o término da guerra receberam um novo esquema de pintura em verde oliva e cinza, mantendo este padrão até sua desativação. As três aeronaves convertidas para o padrão C-28 Hudson receberiam ainda um terceiro padrão de pintura em metal natural.
Bibliografia :
- Bombardeiros Bimotores da FAB, Aparecido Camazano Alamino - C&R
Editorial
- Lockheed Hudson –
Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Hudson
-
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 - Jackson Flores Jr
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 - Jackson Flores Jr