O conceito técnico do “Canhão sem recuo (CSR)” com aplicação anticarro e antipessoal pode ser descrito como um canhão especial, com uma retro-abertura que permite a saída por trás dos gases provocados pelo disparo da sua munição, evitando o recuo da arma que ocorre nos canhões convencionais. Esta simplicidade operacional tornava o conjunto do equipamento mais leve que os tradicionais canhões de pequeno calibre, podendo ser empregado com maior mobilidade pelas tropas manualmente ou em pequenos veículos como os jeeps. O emprego deste tipo de armamento nas forças armadas norte americanas remete a meados da década de 1910, quando um modelo deste tipo de canhão foi desenvolvido comandante Cleland Davis, da Marinha dos EUA, pouco antes da Primeira Guerra Mundial. O desing estava baseado em duas armas consecutivas interligadas, com uma virada para trás carregada de bolas de chumbo e graxa do mesmo peso que a concha na outra arma, este conceito seria experimentalmente usado pelos britânicos como uma arma anti-Zeppelin e antissubmarino. Durante a segunda guerra mundial este tipo de equipamento seria empregado em larga escala pelas forças armadas soviéticas, alemães (este quais tiveram grande êxito quando empregado em operações de invasão aerotransportadas), já o exército norte americano, próximo do final do conflito faria uso em larga escala dos modelos M18 de 57 mm e M20 de 75 mm, deveriam ser complementados em serviço pelo novo M27 que passava a fazer uso do calibre de 105 mm, porém o projeto não chegou a fase de produção a tempo.
Com o final do conflito e as possíveis ameaças representadas pelo bloco soviético o projeto do M27 seria retomado em regime urgência devido ao aumento das tensões na península coreana, levando assim a arma a ser produz foi produzida às pressas com o início da Guerra da Coréia. A velocidade com que foi desenvolvida e colocada em campo resultou em problemas de confiabilidade alto peso do conjunto, dificuldade na montagem mira e disparo. Estas falhas de projeto levariam o exército a empenhar esforços na resolução destes problemas, tendo como base o M27, seria desenvolvido uma versão aprimorada de um canhão sem recuo com calibre de 106 mm que receberia a designação de M40, sendo o mesmo liberado para a produção em série a partir do início de 1955. O canhão apresentava um formato de tubo longo com um M8C .50 cal fixado acima, o dispositivo de elevação e gatilho era proporcionado por uma roldana no centro que servia também para acionar a arma, todo o conjunto era montado em tripé, e na perna frontal estava instalada uma roda de rodizio, centro da roda de rolagem, há uma roda de travamento; quando a roda está abaixada, o rifle é travado em rotação e só pode ser movido para a direita e para a esquerda com a roda de deslocamento. A arma foi projetada apenas para tiro direto, e equipamentos de mira para esse fim foram fornecidos com cada arma, incluindo um rifle apontador. Este sistema simples legava a arma um baixo peso de transporte podendo ser transportado em veículos leves, ser içado por helicópteros leves e ser lançado de paraquedas.

Além do grande êxito junto as forças armadas norte americanas os M40 lograram grande sucesso no mercado internacional sendo exportados para Angola, Austrália, Áustria, África do Sul, Bahrein, Bangladesh, Bolívia, Brasil, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Canada, Chad, Chile, China, Colômbia, Congo, Coreia do Sul, Republica Dominicana, Dinamarca , Egito, Equador, El Salvador, Estônia, Espanha, Emirados Árabes, França, Filipinas, Gabão, Guatemala, Grécia, Haiti, Honduras, Holanda, Índia, Ira, Iraque, Israel, Itália, Japão, Laos, Líbano, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malásia, Mauritânia, México, Marrocos , Mianmar, Nova Zelândia, Nicarágua , Nigéria, Noruega, Paquistão, Peru, Portugal , Rhodesia, Singapura, Somália, Sri Lanka, Sudão, Suriname, Suíça, Suriname, Síria, Taiwan, Tunísia, Turquia, Uruguai , Venezuela e Zimbábue. Além de serem produzidas dos Watervliet Arsenal localizado em Nova York , os M40 foram fabricados sob licença pela Lohner GmbH na Austria (10.6 cm rPAK M40A1), Norinco na China (Type 75), Ordnance Factory Board na Índia, Defense Industries Organization no Ira, Pakistan Machine Tool Factory Limited, no Paquistão , Kia Machine Tool Company na Coreia do Sul e na empresa espanhola Santa Bárbara Sistemas. O M40 esteve em combate em diversos conflitos regionais ao longo do século entre estes a Guerra Ira x Iraque , Guerra Indo Paquistanesa, Guerra Civil Líbano, Guerra Civil Somália, Vietnã.

Emprego no Exército Brasileiro.
O desenvolvimento da doutrina operacional em técnicas de combate anti-carro e anti tanque no Exército Brasileiro tem início durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste. Por representar o ponto mais próximo entre o continente americano e africano a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida e no intuito de se modernizar as forças armadas brasileiras que até então eram ainda signatárias da doutrina militar francesa estavam equipadas com equipamentos obsoletos oriundos da Primeira Guerra Mundial decidiu-se fornecer ao pais os meios e as doutrinas para uma ampla modernização , este processo se daria pela assinatura da adesão do Brasil aos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que viria a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao pais acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Entre estes equipamentos estavam os primeiros canhões modernos a serem recebidos em grande número variando de calibres de 37 mm a 305 mm, representando um grande avanço para a artilharia do Exército Brasileiro.
Parte destas peças de artilharia deveriam ficar no Brasil para equipar as unidades mecanizadas do Exército Brasileiro, e outra parte estava destinada a compor os efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que se preparava para lutar na Itália. Não existem registros concretos ou fotográficos sobre o real emprego dos canhões anti-tanque M3 e M3A1 em ações reais de combate, especula-se que, no entanto, estas peças de artilharia foram empregadas com afinco no processo de treinamento ministrado pelo Exército Americano (US Army) para pracinhas brasileiros já em solo italiano. Outra teoria corrobora que o front italiano não estava entre os prioritários e que não recebia a mesma atualização em termos de armamentos mais moderno a exemplos de outros teatros de operação. No entanto todo este aprendizado em solo italiano seria replicado as demais unidades do Exército Brasileiro quando do retorno ao Brasil do contingente da Força Expedicionária Brasileira. Em 1960 mais unidades agora do modelo M3A1 seriam recebidas dentro dos auspícios do programa do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos, esta nova versão produzida a partir de 1942 diferia do original por contar com a extremidade final rosqueada para permitir a instalação de sistema de um freio de boca, acessório este que nunca chegou a ser instalado. Dispondo de mais unidades do M3 e M3A1, em seu acervo o Exército Brasileiro aumentou a base de distribuição destas peças que até então estavam concentradas nos Regimento de Infantaria, passando a compor também alguns Esquadrões de Reconhecimento Motorizado.

Em fins da década de 1960 fazendo uso nos termos do Military Assistance Program – MAP (Programa de Assistência Militar),o Exercito Brasileiro passou a receber uma grande quantidade de veículos, armamentos e munições destinadas a promover um novo ciclo de modernização da força terrestre, entre estavam mais de 40 unidades do canhão sem recuo M40A1 106mm, que eram oriundos dos estoques do exército norte americano. Paralelamente este equipamento seria produzido no Brasil também a pedido do Exército pela empresa Hydroar S/a Indústria Metalúrgica e pelo Arsenal de Guerra de São Paulo. Contando agora com um número considerável de unidades a disposição estes armamentos começaram a ser distribuídos ao Batalhões de Infantaria Blindada - BIB e Batalhões de Infantaria Paraquedistas – BIPQDT, sendo nestas unidades distribuídas com dotação por pelotões em duas seções contendo quatro peças do M40A1 106mm CSR cada. Além de serem empregos em conjuntos com os Jeeps de procedência norte americana, este sistema de armas também foi instalado em veículos leves da família militar do Gurgel X15. Estas unidades receberam em termos de munição os tipos M344 e M344A1 HEAT - anti carro; M346 HEP-T - anti carro, anti pessoal, contra edifícios e contra fortificações e M381 APERS-T - anti pessoal. Disparava milhares de flechetes. Apesar de serem de fácil manuseio, contar com alta velocidade e poder de impacto, com resultados confiáveis em campo, possuíam como principal desvantagem o alto estampido do disparo e grande geração de fumaça provocada pelo escape das gazes o que assim facilmente denunciariam ao inimigo a posição do atirador.

Em Escala:
Para representarmos o “Canhão sem Recuo M40A1 106mm", fizemos uso do excelente kit da AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, basta apenas seguir as orientações do manual não sendo necessário implementar nenhuma modificação.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o único padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1968 e nos lotes subsequentes, mantendo este esquema até sua retirada de serviço em fins do ano de 2016.
Bibliografia:
- O Brasil e a Rep Dominicana
Bruno P . Vilella http://www.uff.br
- MSS 1A2 https://www.forte.jor.br/2018/09/01/brasil-leva-mais-de-30-anos-para-desenvolver-missil-anticarro/