Dodge WC62 e WC63 Big Shot

História e Desenvolvimento. 
Fundada em 1914 a Dodge Motors Company, iniciou a produção de carros de passeio ganhando grande notoriedade de marca no mercado norte americano. Este sucesso permitiu a empresa a angaria fundos para com recursos próprios para iniciar em fins da década de 1920 esforços para o desenvolvimento de veículos utilitários leves para uso civil. Os primeiros modelos criados e lançados no mercado norte americano, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros da marca, gerando assim menores investimentos para projeto e produção (pois usava o mesmo ferramental). A exemplo dos veículos de passeio, esta nova série de veículos alcançou rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez para emprego no transporte de cargas e outras atividades pesadas e fora de estrada. As vendas em constante ascensão proveriam mais recursos ainda a montadora que almejaria voo mais longos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930 um cenário preocupante começava a se avizinhar na Europa, principalmente com a chegada ao poder do partido Nazista de Adolf Hitler. Atentos a uma possível nova corrida armamentista em escala mundial a direção da Dodge Motors Company, resolveu olhar o nicho militar com maior esmero e atenção, assim fazendo uso novamente de recursos próprios em 1934, iniciou o projeto e desenvolvimento dos primeiros protótipos de caminhões militares dedicados de porte médio e grande (pois a empresa já havia fornecidos ao governo veículos leves durante a Primeira Guerra Mundial). Apresentações realizadas ao comando do Exército Norte Americano  de seu primeiro caminhão com tração nas quatro de  uma tonelada experimental de 1 1⁄2 tonelada designado K-39-X-4, a boa impressão causada resultaria na primeira encomenda de 796 unidades, que seriam nos anos seguidos por novos contratos, tendo como mais representativos os que envolviam os modelos VC-1 e VC-6 ½ton Dodge.

O sucesso dos caminhões motivaria a expansão da linha com novos modelos, visando assim ocupar as linhas de produção de sua recém-inaugurada planta industrial em Warren Truck Assembly em Michigan que seria voltada a construção de caminhões leves e médios, que fora inaugurada em 1938. No ano seguinte a Dodge apresentou uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, que apresentavam uma aparência moderna com a designação de "Job-Rated" visava atender a todos os trabalhos e tarefas. Neste mesmo período era claro que as forças armadas norte americanas deveriam ser modernizadas e reequipadas visando fazer frente as ameaças que se aproximavam. No que tange a veículos de transporte foi definido um padrão a ser adotado se dividindo em cinco classes e caminhões, baseados em carga útil sendo 1⁄2 ton, 1 1⁄2 ton, 2 1⁄2-, 4- e 7 1⁄2 ton. Em junho de 1940 o Quartermaster Corps (Q.C.), havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de 1⁄2 tonelada 6x6 e um 6x6 de Mack6 e 6x6 de Mack 6. Definiu que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões, assim no verão de 1940 a Dodge / Fargo Division da Chrysler recebeu um contrato para a entrega de 14.000 unidades do modelo de meia tonelada com tração 4X4, que foi denominado pelo fabricante como série VC. Sua produção em série  em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC, com letra “ W  “ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que  código C, posteriormente foi mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o  primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de  ½ tonelada.
Em 1940, a Dodge também construiu 6.472 caminhões WC de  ½ tonelada, com tração nas quatro rodas, sob dois contratos celebrados com o governo norte americano, sendo os modelos VF-401 para o VF-407 (ou motor / tecnologia tipo T-203 da Dodge - e G-621 do Exército), que em suma eram variações de seus predecessores experimentais pré-guerra, o RF-40 (-X) e o TF-40 (- X) (ou T-200 / T-201), ainda montado em um chassi da mesma distância entre eixos de 143 pol (3,63 m).Os novos Dodge WC ½ tonelada substituíram  no US Army os antigos caminhões 1940 VC-1 e VC-6 ½ ton  da Dodge que também faziam parte da série G505. Um total de 79.771 dos veiculps de ½ tonelada foram produzidos entre o final de 1940 e o início de 1942 sob contratos do Departamento de Guerra. Os modelos de WC 1 a 50 faziam parte da faixa de 1/2 tonelada e eram intercambiáveis a 80% em peças de serviço com os modelos de 3/4 toneladas posteriores. A família de veículos WC , atingiu a impressionante cifra de 38 variantes, entre elas, transporte de tropas, carga, ambulância, comando , estação móvel de comunicações, canhoneiro , oficina, reconhecimento, entre outros. Um ponto importante a citar era o índice de 80% de intercambialidade entre as peças de reposição de todas as versões, facilitando em muito a logística de suprimento nos diversos fronts de batalha da Segunda Guerra Mundial. Quase a totalidade das versões foi produzida com o sistema de tração 4X4, porém em fins de 1942 o comando do Exército Americano viria a alterar a configuração de um pelotão armado, passando de 8 para 12 homens, aumentando assim a capacidade de combate e sobrevivência no campo de combate.

No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte americanas, tendo em vista que 12 soldados não podiam ser transportados nos Dodge com tração 4X4  WC-51 e WC-52 Beep, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema o Major General Courtney Hodges, que na época era o chefe da infantaria do Exército do Estados Unidos, sugeriu a Dodge o desenvolvimento de uma versão alongada visando assim comportar os 12 soldados necessários. Assim no início de 1943 a equipe de projetos do fabricante iniciou os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo, visando a padronização de componentes, redução de custos e uma melhor otimização da linha de montagem, partiu se fazendo uso da plataforma do WC-51. Para suportar a nova configuração os itens mais críticos como suspensão e transmissão foram redimensionados, o peso extra levaria a necessidade de incorporação de um motor mais potente sendo escolhido então o Dodge T-223 com 93 HP. A primeira versão de produção WC-62 iniciou sua produção seriada em fins de 1941, sendo seguida pela versão WC-63 que que diferia da primeira apenas por contar com um sistema de guincho elétrico Braden MU2 com capacidade de tração de até 3.409 kg.  Os primeiros veículos das duas versões começaram a ser distribuídos as unidades do Exército Americano de imediato, sendo alocados em todos os fronts sendo empregado primordialmente no transporte de tropas e carga. Porem em uso constante observou-se que a melhoria na manobrabilidade proporcionada pela tração 6X6, não só na transposição de terrenos adversos, mas também em estradas normais fez com o que modelo passasse a ser  adotado para o reboque de peças de artilharia anti tanque de 57 mm.
Ao longo da Segunda Guerra mundial foram construídas cerca de 43.000 unidades das versões Dodge WC-62 e WC-63, sendo produzidas pela Chrysler Corp e sua divisão Fargo na planta industrial de Dodge’s Mound Road Truck, na cidade de Detroit. A exemplo dos demais veículos de transporte, esta linha foi amplamente fornecida a nações aliadas durante o período do conflito para assim compor o esforço aliado frente as nações do Eixo. Logo no pós guerra os excedentes começaram a ser cedidas nos programas de apoio militar a nações alinhadas aos interesses geopolíticos americanos como Áustria, Brasil, Bélgica, Grécia, Irã, Nicarágua, Portugal e Suíça.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o pais ainda era signatárias da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. Este processo de reequipamento teria início em meados de 1941 após a adesão do governo brasileiro do presidente Getúlio Vargas ao programa norte americano denominado Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.

A partir de fins e 1941 começaram a ser recebidos no Brasil os lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras que estavam dispostos no termo do acordo de empréstimos e arrendamentos. No final do ano de 1942 começaram a ser recebidos no Brasil as primeiras unidades dos modelos Dodge 4X4 WC-51 e WC-52 Beep, fazendo parte deste lote inicial estava os primeiros carros dos modelos Dodge WC-62 e WC-63  Big Shot, que começaram a ser recebidas no Brasil a partir de meados do ano de 1942, basicamente se tratava de veículos novos saídos das linhas de produção da Dodge e Fargor que estavam empenhadas na produção desta família de veículos utilitários A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros obrigados a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”. Este pensamento seria concretizado em   09 de agosto de 1943 quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. A 1ª DIE, que seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 e um de calibre 155); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação; um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações).
As tropas brasileiras desembarcaram na Itália em agosto de 1944,  e após um breve período de treinamento, passarão a integrar os efetivos do V Exército norte-americano sob o comando do general Mark Clark, nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) recebeu todo o equipamento, armas e veículos que iria empregar em sua campanha, dentre estes recursos estavam pelo menos se encontravam 137 unidades do utilitário 6X6 da Dodge dispostos nas versões WC-62 e WC-63, sendo entregues aos efetivos brasileiros no Nápoles em setembro de 1944, juntamente com a chegada do 1º Escalão. Com a disponibilização do total das tropas no front os Dodge 6X6 WC-62 e WC-63,  foram distribuídos a Companhia de Manutenção Leve; 1º Divisão de Infantaria Expedicionária; 1º Companhia de Transmissões; Companhia do Quartel General; Companhia de Manutenção; 1º Batalhão de Saúde; 9º Batalhão de Engenharia; Pelotão de Transportes; Companhia de Canhões Anti carros; 1º Regimento de Infantaria; 6º   Regimento de Infantaria; 11º Regimento de Infantaria e Companhia de Intendência. A 1ª etapa da campanha da FEB na Itália iniciou-se a partir de meados de setembro de 1944; onde a FEB em conjunto com 371º regimento afro-americano e outras unidades americanas menores (principalmente as de apoio da 1ª divisão blindada), formando a Task Force 45, liberando da ocupação alemã o Vale do rio Serchio (ao norte da cidade de Lucca, datando desta época suas primeiras vitórias ainda em setembro, com as tomadas de Massarosa, Camaiore e Monte Prano), e a maior parte da região de Gallicano-Barga, onde sofreu seus primeiros reveses.

No front italiano os WC-62 e WC-63 Big Shot teriam grande importância, contribuindo exaustivamente na realização destas missões de combate real , operando em tarefas de transporte de tropas e carga. Seguindo o exemplo aplicado no Exército Americano os Dodges 6X6 da FEB passaram a ser empregados para tracionarem peças de artilharia leve e médias entre elas o canhão anti carro M1 de 57 mm. Após terem participado das campanhas de Montese, Castelnuovo di Vergato, Monte Castello, Camaiore, Monte Prano, Zochia, Colechio e Fornovo, os Dodge WC-62 e WC-63  Big Shot tiveram atuação na totalidade do front italiano. A 2 de maio, ao cessarem as hostilidades na Itália com a capitulação do último corpo de Exército germânico, a divisão brasileira ocupava a cidade de Alessandria desde 30 de abril, e estabelecia ligação com o Exército francês em Susa, próximo à fronteira franco-italiana. Após este dia ficou determinado o retorno das tropas da Força Expedicionária Brasileira ao Brasil, e juntamente com o corpo de pessoal todo o equipamento militar empregado pela FEB seria despachado em navios de carga. Entre os veículos remanescentes estavam dezenas de unidades dos Dodge WC-62 e WC-63, que chegaram ao território nacional ainda a tempo de participarem do desfile da Vitória na Avenida Presidente Vargas, na cidade do Rio de Janeiro em 18 de julho de 1945, onde em conjunto com os Pracinhas perfilaram ao público as glorias da Força Expedicionária Brasileira.
Em serviço ativo nos pós-guerra o modelos Dodge WC-62 e WC-63  Big Shot, foram incorporados as unidades de infantaria motorizada e  as também as companhias de canhões anti carro (para tracionarem os canhões M1 de 57mm).  A partir de meados da década de 1960, estes veículos já apresentavam sinais de desgaste, e sofriam com falta de peças e reposição (principalmente do motor a gasolina), alguns veículos seriam ainda incluídos nos contratos de modernização dos Dodge WC-51, WC-52, WC-56, WC-57 e WC-54 com a empresa paulista Motopeças S/A, procedendo a troca do motor original por um nacional a diesel. Apesar deste processo os poucos carros em operação foram submetidos a partir de fins da década de 1970 a um gradual processo de desativação, com os últimos carros sendo retirados do serviço ativo somente em fins da década de 1980, sendo então leiloados para entusiastas ou vendidos como sucata.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-63 "FEB 330", pertencente ao 11º Regimento de Infantaria da Companhia Anti Carros empregamos o excelente kit da AFV Club, na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-62 (sem o guincho elétrico frontal), incluímos em resina artefatos que simulam a carga em formato de caixas ou lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como   complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura militar americano, presente em todos os veículos com marcações nacionais, empregados pelos efetivos da Força Expedicionária Brasileira na campanha de Itália de 1944 a 1945. Após seu recebimento no Brasil o padrão de pintura foi mantido, alterando-se apenas o padrão de matrícula, seguindo este esquema até sua desativação.



Bibliografia :

- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Standard Catalog of U.S. Military Vehicles, 1942
- Dodge 6X6 WC-63 da  FEB, por Expedito Stephani Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/Dodge.pdf