No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) passada a dedicar cada mais esforços e recursos visando fechar o processo de transição de uma força terrestre hipomóvel para uma força mecanizada, e neste contexto cada vez mais se valia dos avanços tecnológicos implementados pela pujante indústria automotiva norte-americana. Este importante programa além de abranger uma variada gama de veículos de carga e transporte de pessoal, priorizava o desenvolvimento de um veículo utilitário leve com tração integral 4X4, capaz de operar em ambientes fora de estrada devendo superar com facilidades obstáculos e ainda transportar até quatro soldados totalmente equipados. Diversas iniciativas seriam trabalhadas pelos militares em conjunto com a indústria automotiva para o atendimento deste objetivo, porém o conceito final deste novo utilitário só se materializaria a partir do início do ano de 1932. Seu idealizador o Coronel R. G. Howie era um dos comandantes do 7º Companhia de Tanques baseado no Fort Smelling Minn no estado de Minessota, e um dos principais defensores do conceito de motomecanização total do exército e por isso tinha plena ciência das necessidades da força terrestre neste espectro operacional. Seu primeiro protótipo funcional seria construído nas oficinas do Forte Sam Houston no estado do Texas, sendo imediatamente submetidos a testes práticos de campo. Excelentes resultados seriam apurados neste processo, levando a decisão do comando do exército em liberar recursos para a contratação da produção de um lote pré-série de setenta carros, porém esta fase seria adiada devido a restrições orçamentarias vigentes naquele período. Este programa só seria retomado em fins do ano de 1936 quando a montadora Bantan Car Company da Pensilvânia seria escolhida para esta tarefa. Estes veículos passaram se entregues a partir de meados do ano de 1938 ao Quartel General do Departamento Exército dos Estados Unidos no Forte de Holabird em Baltimore (Maryland). Dispondo agora de uma frota maior, os militares poderiam ampliar a abrangência de se programa de testes em campo, iniciando neste contexto também a formatação da doutrina de emprego operacional deste novo tipo de veículo utilitário.
Neste completo programa de testes de campo, verificou-se que este novo veículo utilitário com tração integral 4X4, permitiria ao exército norte-americano explorar um grande potencial de mobilidade para força terrestre operando com sucesso em uma variada gama de tarefas em ambientes fora de estrada (off road). Esta perspectiva levaria a decisão em se adotar em larga escala o modelo nas forças armadas norte-americanas, culminando assim na abertura de concorrência para sua produção em série. Neste processo seriam emitidos convites a mais de cem empresas dispostas a participar da concorrência, prevendo a apresentação de suas propostas técnicas e comerciais e protótipos funcionais. No entanto o aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul naquele momento, iriam afetar drasticamente este processo de concorrência, pois cada vez se tornava mais claro a emergencial necessidade em se modernizar as forças armadas norte-americanas face as novas possíveis ameaças representadas pela Alemanha Nazista e pelo Império do Japão. E devido a este importante fato, o cronograma inicial desta grande concorrência seria alterado, e passaria a contar como exigência básica, a apresentação de um protótipo funcional do veículo em apenas quarenta e nove dias. De montadoras convidadas a participar deste processo, apenas a Ford Motor Company, American Bantam Compay e Willys-Overland Company aceitariam o desafio, porém somente a segunda conseguiu entregar o protótipo funcional dentro do prazo exigido. Apesar do protótipo apresentando pela American Bantam Company lograr êxito no processo de avaliação comparativo, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em face a necessidade emergencial de reequipamento militar, definiria por aprovar também as propostas dos demais concorrentes. Os processos de avaliação e testes resultariam em modificações sobre o protótipo original, nascendo assim o modelo pré-série de produção designado como Bantan BRC, que apresentava em termos de desing traseiro, grande semelhança com os projetos concorrentes, apresentando ainda um desenho frontal levemente arredondado em consonância com o design automotivo norte-norte americano típico do final dos anos da década de 1930.

Este cenário poderia retardar o avanço das tropas aliadas motorizadas que em breve seriam empregadas naquele front de batalha, por isto se fazia necessário a criação de um carro anfíbio que pudesse transpor estes obstáculos. Um dos inspiradores deste projeto foi o engenheiro e designer Roderick Stephens Jr., líder de projeto da Sparkman & Stephens Inc, empresa especializada no projeto construção de iates (que anteriormente havia participado do projeto com caminhão anfíbio GMC DUWK 6X6). Assim uma grande equipe de projetistas foi reunida para o desenvolvimento deste novo veículo, com os dois primeiros protótipos sendo completados em fins do ano de 1941. Além do modelo da Ford uma proposta concorrente foi apresentada pela empresa Marmon-Herrington Company, que ao ser entregue foi submetido a inúmeros testes e avaliações de campo, sendo colocado em comparação com os resultados apresentados pelo modelo da Ford. Ao final desta concorrência o desempenho superior e o fator de comunalidade de linha de produção e peças de reposição, levaram a Ford a vencer a concorrência gerando assim um contrato de produção em larga escala a partir de janeiro de 1942. Este novo veículo viria a receber a designação Seep G.P.A 4X4 (G - Goverment, P-Distância entre eixos de 80 polegadas e A – Amphibian), sendo originado da plataforma estendida do Ford Jeep padrão. O novo GPA apresentava um casco naval muito semelhante aos dos caminhões DUWK, sendo composto de placas de aço soldadas. O painel de controle do Jeep GPA diferia do modelo básico por contar com os comandos para as operações de tração alternada 2WD ou 4WD (4X2 ou 4X4), tipo de condução Oi-range / Lo-range, controle de leme e hélice de impulso. O carro ainda dispunha de um sistema de guincho elétrico para tração e ancora para operação fluvial.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte americano estava preocupado com uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornou claro. Se a Alemanha pudesse obter bases nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacifico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na guerra. Além deste aspecto, geograficamente o país era estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Este cenário levaria a uma maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em equipamentos, armamentos e doutrina. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. Seria decidido também pelo presidente Getúlio Vargas, que o país enviaria um contingente expedicionário para ajudar no esforço aliado no teatro europeu de operações.
Os contratos previam o fornecimento de 1.985 veículos leves com tração 4X4, sendo este total compostos por modelos fabricados por três empresas automotivas norte americanas (não existem registros oficiais sobre a quantidade de modelos produzidos pela Ford Motors Co., American Bantam Co. e Willys Overland Co.). Os primeiros carros começaram a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados (oriundos do Exército Americano – US Army), existindo relatos de alguns modelos raríssimos como os Willys MA (sem registro) e "Slatt Grill" (grade de grelha), Ford GP e até uma unidade do primordial Bantam BRC-40. Salientamos que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado modelos da fase de pré-produção (procedimento normal dos fornecimentos feitos dentro dos termos do Leand & Lease Act, a exemplo dos carros entregues também para a (Inglaterra, Rússia e China). O advento do recebimento destes carros no Brasil em muito contribuiu no processo de implantação da motomecanização no Exército Brasileiro, pois até então os veículos existentes de categoria simular empregados, eram os antigos 4X4 Vidal & Sohn Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém em números insuficientes para se dotar sequer uma unidade. Dos carros destinados ao Brasil, 655 unidades seriam direcionadas a equipar Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1º Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE) e por órgãos não-divisionários, prevendo um contingente da ordem de 25.000 soldados. Estes carros seriam entregues no front italiano sendo retiradas do estoque estratégico do 5º Exército Norte Americano, com muitas das viaturas serem “veteranas de guerra”, tendo sido empregadas nas campanhas militares dos aliados na Sicília e Norte da África. O principal motivo da cessão de carros usados para as forças militares brasileiras, era a necessidade de alocação de recursos e equipamentos para a realização da operação Overlord (Dia D) nas costas da França.

Após o termino do conflito os remanescentes Ford Seep GPA pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram armazenados e despachados por via naval ao Brasil, juntamente com o restante de veículos aeronaves e armas empregados naquele teatro de operações, sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro nos segundo semestre de 1945. No imediato pós guerra, mais 68 carros usados, seriam recebidos pelo Exército Brasileiro, ainda dentro dos termos do acordo Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Estes “novos” carros passaram a ser empregados pelos Regimentos de Cavalaria Mecanizados, ficando em serviço pelo menos até o no início da década de 1970 com o advento do recebimento de novos veículos anfíbios de transporte. Os Ford Seep GPA seriam ainda empregados no Brasil pela Marinha, com esta demanda seria criada no inicio da década de 1950 quando figuravam entre as prioridades da força o estabelecimento de estrutura de combate anfíbia. Ao longo do tempo, ações seriam tomadas em termos da criação de uma doutrina inspirada nos moldes do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, faltavam, no entanto, os meios para operacionalizar as tarefas anfíbias. Esta necessidade seria atendida neste mesmo período com a aquisição de pequenos lotes de veículos militares anfíbios usados, com a escolha recaindo sobre caminhões GMC DUWK oriundos dos estoques da Marinha Francesa e 18 Ford Seep GPA, fornecidos nos termos do Programa de Assistência Militar (Military Assistence Program – MAP). Após sua incorporação e manutenção os Jeeps GPA foram destinados Batalhão de Viaturas Anfíbias, onde receberam a designação de “Jipanf” (Jipe Anfíbio) e passaram a operar em conjunto com os DUWK Camanf (caminhões anfíbios).

Em Escala.
Para representarmos o Ford Seep G.P.A "EB 23-164“ pertencente ao 2° Regimento de Cavalaria Mecanizado (2º RC Mec), empregamos o excelente kit da Tamiya na escala 1/35. Modelo este de fácil montagem e excelente nível de detalhamento. Complementamos o conjunto com decais confeccionados pelo fabricante Eletric Products, presentes no Set "Veículos Militares Brasileiros 1944 - 1982 ".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo exército Americano em todos os veículos utilizados no teatro europeu durante a Segunda Guerra Mundial, com os carros pertencentes ao Exército Brasileiro recebendo apenas as marcações nacionais. Já os carros operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil receberam um novo padrão de pintura, seja para uso tático ou cerimonial.
Bibliografia:
- Jeep Willis MB - http://www.willysmb.com.br/
- FEB na Segunda Guerra
Mundial - Luciano Barbosa Monteiro
- Ford GPA - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Ford_GPA
- Exército Brasileiro
- http://www.exercito.gov.br