Ford & Kaiser M-151A1/C Mutt


História e Desenvolvimento.
A origem do emprego de veículos leves com tração 4X4 do tipo “Jeep”, nas forças armadas norte americanas, tem origem no final da década de 1920, quando o comando do Exército Americano (US Army), estava profundamente envolvido em um processo de motomecanização, visando aplicar em sua jovem frota as evoluções tecnológicas observados na pujante indústria automotiva americana. Além de envolver veículos de carga e transporte de pessoal, este projeto apresentava como de uma das primícias básicas o desenvolvimento de um veículo leve com tração 4X4 devendo apresentar capacidade de superar terrenos difíceis com obstáculos, e com capacidade para levar alguns homens e armamentos. No entanto o conceito final do “Jeep”, só seria materializado em termos de projeto viável a partir de 1932, com seus primeiros protótipos sendo completados em 1937, sendo então submetidos a testes práticos, que após sua homologação levaria a um primeiro contrato de produção de 70 carros. Satisfeitos com as perspectivas positivas da operação deste novo veículo leve com tração 4X4, o Exército Americano (US Army) decidiu pela adoção em larga escala, com o modelo sendo produzido nos anos seguintes por várias montadoras como a Ford Motor Company, American Bantam Co e Willys-Overland Co. Empregado com muito êxito em todos os fronts de batalha pelos aliados, durante a Segunda Guerra Mundial, os “Jeeps” deixariam sua marca na história militar mundial, sua produção superaria mais de meio milhão de carros, com 363.000 unidade fabricadas pela Willys Overland Co. e cerca de 280.000 produzidas pela Ford Motors Co, sendo dispostos em várias versões, desde transporte básico, bombeiro, ambulância e comando. Destes aproximadamente 51.000 foram exportados para a União Soviética sob os auspícios do programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). 

No período pós-guerra, o modelo continuou em produção em larga escala pela montadora Willys-Overland Co, pois a pois a Ford Motor Company foi judicialmente impedida de fazer uso da marca “Jeep”. Em 1948, o modelo seria redesignado junto as forças armadas norte americanas como M-38 (MC). Contratos adicionais de produção seriam firmados ao longo dos anos seguintes, com sua produção sendo descontinuada somente em 1964, com mais de 167.345 unidades fabricadas. Detentor de uma mecânica simples e robusta, grande parte dos veículos deste tipo construídos durante a Segunda Guerra Mundial, permaneceram em uso em diversas forças armadas no mundo até fins do século XX. No inicio da década de 1950, o Exército Americano (US Army), mantinha em sua frota milhares de veículos das versões mais recentes dos modelos M-38 e M-38A1 entregues nos anos finais do conflito, no entanto neste mesmo período estava em curso um grande programa de renovação da força motomecanizada. Assim em novembro do mesmo ano, o Departamento de Comando da Força Automotriz e Tanques do Exército Americano (U.S. Army's Ordnance Tank Automotive), lançou uma concorrência nacional direcionada a várias montadoras norte americanas, com o objetivo de se desenvolver um novo veículo utilitário de 1/4 Toneladas com tração nas 4 rodas, levando como parâmetros básicos a manutenção da ótima relação de custo benefício de aquisição e operação, a exemplo de seus antecessores. 
Ao todo, sete montadoras norte americanas de carros e caminhões apresentaram suas propostas e projetos, e após análises técnicas, e em maio de 1953, o comando do Departamento de Comando da Força Automotriz e Tanques do Exército Americano (U.S. Army's Ordnance Tank Automotive) decidiu pela proposta apresentada pela Ford Motors Co. O projeto escolhido deste novo utilitário com tração 4X4 , apesar de manter o mesmo lay out  básico e as dimensões de seus  predecessores, este novo veículo apresentava um desing final completamente novo, pois ao contrário dos projetos de “jeeps” anteriores, havia uma nova estrutura que consistia em uma cuba de aço aparafusada em uma estrutura de aço separada, empregando um novo conceito de quadro integrado, combinando os trilhos da estrutura no chassi do veículo composto por chapas soldadas A adoção deste sistema em substituição ao quadro separado concebeu ao veículo uma distância maior do solo, baixando assim o centro de gravidade, este processo ocasionou em um pequeno aumento no comprimento, tornando o também mais confortável, outra melhoria resultante foi implementada na suspensão, através da eliminação dos eixos rígidos dianteiros e traseiros, lhe permitindo viagens em alta velocidade em terrenos acidentados. Com o projeto aprovado, o mesmo passou a receber a designação militar de M-151. O primeiro contrato de produção foi firmado entre a Ford Motors Co. e o Exército Americano (US Army) foi firmado em 1956, prevendo uma aquisição inicial de 4.000 veículos, com sua produção em escala industrial sendo iniciada em janeiro de 1959, com os primeiros carros sendo entregue no inicio do ano seguinte.

Em meados de 1959, vietcongues e o exército regular do Vietnã do Norte atacam uma base norte-americana no Vietnã do Sul, este evento motivaria a decisão norte americana em começar a enviar armas e equipamentos para as forças militares do Vietnã do Sul. Porém logo após os fatos que ocorreram após “Incidente do Golfo de Tonquim”, demandariam o envio de tropas militares americanas para aquele pais, incluindo neste pacote grande quantidade de veículos e equipamentos, entre estes os novos jipes Ford M-151. Seu emprego em situação de conflito real neste cenário evidenciaria alguns problemas de graves de projeto, entre eles uma grande tendência a instabilidade quando empregado em altas velocidades, podendo provocar acidentes graves como capotamento. Como medida paliativa os motoristas militares costumavam colocar uma caixa de munição cheia de areia debaixo do banco traseiro quando nenhuma outra carga estava sendo carregada. O grande número de acidentes registrados, iria gerar uma vasta documentação de não conformidade junto aos órgãos americanos federais para a regulamentação de segurança rodoviária para veículos civis. Com este processo demandando uma limitante impediria a comercialização do  Ford M151 no mercado civil, não só de unidades novas, mas também posteriormente a entusiastas e colecionadores militares. No anseio de eliminar esta falha original do projeto, engenheiros Ford Motors redesenharam o sistema de suspensão, empregando o sistema “Semi-Trailing Arm Suspension”, nascendo assim em 1970 a versão M151A2. Com a teórica resolução deste problema, e no anseio de retomar a produção, para assim suprir as demandas emergenciais, o Comando do Exércitos dos Estados Unidos (US Army), concedeu as montadoras Kaiser Motors e à AM General Corp, a autorização para produção sob licença. Em termos de diferenças entre as distintas versões o M-151A2 se distinguia pela combinação do posicionamento das luzes de direção o que levaram a alteração no formato dos para lamas. A exemplo do modelo original o veiculo serviria de base para a criação de variantes especializadas como a ambulância M-718A1, porta canhão sem recuo M-825, versão de ataque rápido aerotransportado M-151A2 FAV e a versão antitanque equipadas com misseis M-151A2 TOW. O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marine Corps) se tornaria o segundo maior operador da família, iniciando suas primeiras aquisições em 1971 com versões customizadas para esta força como Marine FAV Mk I e MKII "Super Jeep, Airborne Marine FAV,  MRC108 e  por fim a versão M-1051 dedicada a combate a incêndios.
Até meados da década de 1980, a família de jipes Ford/Kaiser/AM M-151 foi responsável pelo sustentáculo das forças norte americanas no segmento de utilitários de 1/4 tonelada com tração 4X4. Apesar de servirem a contento, sua substituição se faria necessária em um curto espaço de tempo, o que ocorreria até o final desta mesma década com o advento do recebimento dos primeiros AM General “Humvee”. Este movimento gerou um grande estoque de unidades excedentes que começaram a ser fornecidas a nações amigas nos termos do programa Foreign Military Sales FMS (Vendas Militares Estrangeiras ), com milhares de carros sendo fornecidos as forças militares da Argélia, Argentina, Bolívia, Bahrein, Camarões, Canadá, Chile, Colômbia, República Democrática do Congo, Dinamarca, Egito, El Salvador, Etiópia, França, Gana, Grécia, Honduras, Guatemala, Indonésia, Israel, Jordânia, Kuwait, Luxemburgo, México, Marrocos, Paquistão, Panamá, Portugal, Peru, Filipinas, Portugal, Arábia Saudita, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido, Vietnã do Sul, Iêmen, Zaire e Líbia, onde muitos destes ainda permanecem em uso operacional. A produção de toda a família Ford/Kaiser/AM M-151, seria descontinuada em fins de 1982, atingindo aproximadamente 100.000 unidades entregues. 

Emprego no Exército Brasileiro.
O uso de veículos do tipo “Jeep” no Exército Brasileiro, tem seu inicio durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil por ser signatário do programa de Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), receberia quase dois mil veículos deste tipo, que durante muitos anos trouxeram a Força Terrestre uma excelente capacidade de mobilidade. Em meados da década de 1960 o Exército Brasileiro ainda dispunha em suas fileiras de centenas de Jeeps Willys e Ford, originários da década de 1940 que se encontravam em excelente estado de conservação e operação, e começava neste interim a receber também uma grande quantidade de modelos mais novos como as últimas versões produzidas dos jipes M-38, que eram oriundas em sua grande parte de excedentes dos estoques do Exército Norte Americano (US Army), onde o mesmo havia sido recentemente substituídos pelos novos Ford M-151 Mutt. Neste contexto vale citar que as Forças Armadas Brasileiras passam a adquirir também grandes quantidades dos primeiros jipes de produção nacional militarizados como o Willys Overland CJ-2A. No cenário apresentado e na realidade vivenciada naquele período pelas demais forças armadas sul americanas, podíamos considerar que o Exército Brasileiro estava muito bem equipado em termos de quantidade e modelos de utilitários do tipo jipe com tração  4X4 na faixa de 1/4 toneladas. E este momento aliado aos esforços do Governo Federal em fomentar a pujante indústria automotiva nacional, tornava o país autossuficiente na produção e manutenção de veículos deste tipo, não justificando em hipótese nenhuma a aquisição de veículos especializados militares americanos desta categoria especifica.

Apesar deste contexto uma série eventos a serem deflagrados no Caribe iriam culminar no emprego dos jipes norte americanos Ford-Kaiser M-151 Mutt pelo Exército Brasileiro. Em 1961, após um período de instabilidade política decorrido do assassinato do ditador dominicano Rafael Trujillo, eleições seriam realizadas naquele país, com o candidato Juan Bosch, um fundador do Partido Revolucionário Dominicano (PRD) sagrando-se vencedor do pleito em dezembro de 1962. No entanto apesar de uma breve expectativa de um novo tempo de estabilidade no país, a aplicação de políticas e dogmas populistas com inclinação a esquerda, com medidas equivocadas de a redistribuição de terras e a nacionalização de empresas multinacionais estrangeiras, levariam a ocorrência de um golpe militar sete meses mais tarde por uma facção militar de direita liderada pelo General Elías Wessin. Este por sua vez controlava o Centro de Entrenamiento de las Fuerzas Armadas (Centro de Formação das Forças Armadas ou "CEFA"), um grupo de infantaria de elite com cerca de 2000 altamente treinados, esta era “quase” uma organização militar independente, criada inicialmente por Ramfis Trujillo (filho do ex-ditador), para proteger o governo e assegurar a Guarda Nacional, a Marinha e a Força Aérea. Neste contexto esta organização seria responsável por transferir o poder vigente a um “Triunvirato Civil”, onde seus líderes rapidamente aboliram a Constituição, declarando-a "inexistente", passando então a comandar o pais de acordo com suas diretivas e vontades.
Em 24 de abril de 1965, um grupo de jovens oficiais nas forças armadas, liderado pelo coronel Francisco Caamaño, rebelou-se contra o “Triunvirato Civil”, estes rebeldes insurgentes Pró-Juan Bosch, conhecidos popularmente como "Constitucionalistas", rapidamente trataram de distribuir uma grande quantidade de armas à população civil, criando assim um clima de guerra civil. Sobre a ótica de um possível agravamento da crise, o Departamento de Estado do Governo Norte Americano, iniciou os preparativos para a evacuação dos seus cidadãos e de outros estrangeiros que poderiam desejar deixar a República Dominicana. No entanto observações dos serviços de inteligência norte americana, citavam que o avançar dos rebeldes poderia levar na região a criação de uma "uma segunda Cuba", assim buscando prevenir este possível cenário, o então presidente Lyndon Johnson, ordenou o envio de forças militares no intuito de se restaurar a ordem. Alegando como razão oficial para intervenção, a necessidade de proteger a vida dos estrangeiros, uma invasão foi deflagrada pelo Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) e pelos efetivos da 82ª Divisão Aerotransportada do Exército Americano (US Army). Assim juntamente com a aprovação e participação da Organização dos Estados Americanos (OEA), foi formada força multinacional militar para emprego na República Dominicana. Posteriormente, a Força Interamericana de Paz (IAPF) foi formalmente criada em 23 de maio. Contando também com participação de militares do Brasil, Honduras, Paraguai, Nicarágua, Costa Rica e El Salvador. 
 
Foi definido que os Estados Unidos, ficariam encarregados de prover em termos de suprimento e equipamento as nações participantes da Força Interamericana de Paz (IAPF), todos os países seriam agraciados com o recebimento de equipamentos modernos para emprego na Republica Dominicana. Como participante desta iniciativa, o Brasi, sendo representando pelo Exército Brasileiro receberia diversos equipamentos e termos de veículos estavam previstas a entregue de 88 carros das versões Ford M-151A1, Kaiser M-151AC (equipado com canhão sem recuou M40A1 de 106 mm) e M-718 Ambulância. Estes veículos foram entregues as tropas do Exército Brasileiro, quando do desembarque do primeiro contingente no país caribenho em 25 de maio de 1965. Durante mais de um ano, os jipes da família Ford-Kaiser M-151 A1/AC e M-718, a serviço do Exército Brasileiro, participaram ativamente de todas as missões realizadas pelo contingente de quatro mil soldados brasileiros, que atuaram em turnos junto a tarefas de pacificação na República Dominicana. Com o fim de intervenção da Força Interamericana de Paz (IAPF) e a desmobilização dos efetivos em 21 de setembro de 1966, as tropas brasileiras foram preparadas para seu retorno ao pais, neste momento o Departamento de Estado do Governo Norte Americano determinou a doação de todos o material empregado pelos países neste contexto, assim no dia 23 do mesmo mês os 88 carros foram oficialmente transferidos ao Exército Brasileiro.  No início do mês de outubro, estes veículos foram transportados por navios da Marinha do Brasil, juntamente com os efetivos do último contingente do Exército Brasileiro.
Após o recebimento e revisão os M-151A1, M-151A1C e M-718 foram distribuídos a diversas unidades de infantaria motorizada. O bom desempenho do modelo superior aos modelos em uso, lhe conferiram lugar de destaque junto as unidades, o confiável canhão sem recuo modelo M-40A1 de 106 mm que equipava o M-151A1C, lhe proporcionava bom poder de fogo e agilidade em terrenos desfavoráveis, provando suas qualidades em ambientes fora de estrada.  Curiosamente estes veículos também seriam empregados pelo Exército Brasileiro por um curto período de tempo em proveito das operações da UNEF - SUEZ (United Nations Emergency Force), durante a crise do Canal de Suez, quando diversos contingentes brasileiros se fizeram presente entre os anos de 1957 a 1967. Em fins de sua carreira já da década de 1990, as unidades remanescentes foram concentradas no 24º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIM) no Rio de Janeiro, apesar de se mostrarem ainda confiáveis e com muitos anos de serviço pela frente, o Exército Brasileiro encontrava grande dificuldade na obtenção de peças de reposição no mercado internacional. Assim decidiu-se pela desativação destes veículos, sendo os últimos retirados do serviço ativo em 2008 sendo substituídos por modelos importados como os Land Rover e nacional Agrale Marruá.
 
Em Escala.
Para representarmos o  Ford - Kaiser M-151A1C " EB-22-1430", fizemos uso do excelente kit da Academy, presente na escala 1/35 que nos brinda com um bom detalhamento do grupo motriz e munição para o canhão M-40A1 de 106 mm, o kit permite ainda montagem out of box (direto da caixa) para assim se representar a versão brasileira. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no Set Brasil 1944 - 1982. 
O esquema de cores  (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado em todos  os veículos Ford – Kaiser  M-151A1, M1-51A1C e M-718, utilizado desde o recebimento, até o ano de 1982, quando passaram a receber um novo padrão de camuflagem tática, numeração de matriculas e marcações de unidades. 

Bibliografia : 
- M-151 Truck Utility - Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/M151_Truck,_Utility,_l/4-Ton
- M-151 no Brasil - Arquivo Pessoal - Paulo Bastos
- O Brasil e a Rep Dominicana  Bruno P . Vilella http://www.uff.br