EE-T1 e EE-T2 Engesa Osório


História e Desenvolvimento.
A Engesa – Engenheiros Especializados S.A., fundada em 1958 na cidade de São Paulo, SP, por um grupo de engenheiros recém-formados liderado por José Luiz Whitaker Ribeiro, consolidou-se como o principal fabricante de equipamentos militares terrestres do Brasil. Nos anos iniciais, a empresa concentrou suas atividades na produção de equipamentos para prospecção, produção e refino de petróleo. Composta por profissionais altamente qualificados, muitos deles formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Engesa destacou-se pela excelência técnica e inovação. Em 1966, a Engesa iniciou um marco em sua trajetória com o projeto e a fabricação do sistema de tração 4×4, conhecido comercialmente como Tração Total. Esse sistema, composto por uma caixa de transferência com duas tomadas de força, eixo dianteiro direcional e guincho opcional, foi projetado para equipar veículos nacionais de série, como picapes e caminhões das marcas Chevrolet, Ford e, posteriormente, Dodge. O sucesso do sistema levou ao desenvolvimento das versões 6×4 e 6×6, que aproveitavam eixos e feixes de molas traseiros originais dos veículos. O sistema Tração Total conferiu excepcional desempenho fora de estrada, até então inédito no Brasil para veículos dessa categoria. Um exemplo notável foi a picape F-100 6×6, cuja capacidade de carga foi duplicada, permitindo a transposição de rampas com inclinação de até 85%. Devido à sua eficiência, o sistema foi patenteado no Brasil e em diversos países, consolidando a reputação da Engesa no mercado. O crescimento da Engesa esteve intrinsecamente ligado ao período da ditadura militar (1964–1985). Em 1967, o sistema Tração Total foi declarado “de interesse para a Segurança Nacional”, resultando em contratos com o Exército Brasileiro para o fornecimento de centenas de caminhões novos (modelos Chevrolet 4×4 e 6×6) e a modernização de parte da frota herdada da Segunda Guerra Mundial. Esses contratos incluíam a reforma de chassis e carrocerias, repotencialização de motores e substituição de suspensões e sistemas de tração pelos fabricados pela Engesa. Paralelamente, a empresa continuou atendendo o mercado civil, adaptando veículos para empresas como Petrobras, empreiteiras, concessionárias de energia e madeireiras. A partir de 1968, a Engesa passou a exibir seus produtos em diversas edições do Salão do Automóvel, ampliando sua visibilidade no setor. Os laços da Engesa com as Forças Armadas foram fortalecidos pelo Decreto-Lei nº 200/67, que promovia a descentralização de atividades da administração federal e incentivava a execução indireta de tarefas por meio da iniciativa privada. O decreto estipulava que a administração deveria transferir atividades executivas para empresas privadas capacitadas, o que resultou na redução de verbas e de quadros de servidores dedicados à pesquisa e desenvolvimento no setor público, incluindo o Exército. Essa política beneficiou diretamente a Engesa, que assumiu parte das responsabilidades de pesquisa e desenvolvimento militar. O crescimento da empresa foi expressivo, com a adaptação de 960 veículos em 1968, número que alcançou 1.371 dois anos depois. Esse avanço foi acompanhado pela criação de novos produtos voltados às Forças Armadas, consolidando a Engesa como um dos principais fornecedores militares do Brasil. 

Em abril de 1971, a Engesa – Engenheiros Especializados S.A. demonstrou sua capacidade como fabricante de armamentos modernos ao apresentar à imprensa brasileira dois blindados sobre rodas, desenvolvidos conforme especificações do Exército Brasileiro. O primeiro, um Carro de Reconhecimento (CRR), e o segundo, um Carro de Transporte de Tropas Anfíbio (CTR-A), foram os protótipos dos modelos EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, respectivamente. Esses lançamentos marcaram o início de uma linha de equipamentos militares identificada por nomes de cobras venenosas, que se tornaria característica da Engesa nas décadas seguintes. As primeiras unidades do EE-9 Cascavel foram equipadas com canhões de 37 mm reutilizados, provenientes de blindados M3 Stuart recebidos pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. A segunda série do veículo incorporou uma configuração modernizada, com uma torreta francesa armada com um canhão de 90 mm. Contudo, esse sistema apresentava custos elevados e dependia de autorizações prévias do governo francês para exportações, o que levou a Engesa a desenvolver um canhão de 90 mm próprio, fabricado sob licença com base em um projeto belga. O EE-9 Cascavel, equipado com esse canhão “nacionalizado”, foi posteriormente reconhecido por analistas internacionais como um dos melhores blindados leves de reconhecimento do mundo. Estimulada pelos planos de investimento das Forças Armadas Brasileiras e pelo potencial de mercado no Oriente Médio, a Engesa transferiu, em 1974, suas principais instalações para São José dos Campos, SP. No mesmo ano, a empresa criou a Engex S.A., uma unidade fabril em Salvador, BA, dedicada à produção de engrenagens, caixas de transmissão e canhões. Ainda em 1974, a Engesa lançou os caminhões EE-15 e EE-25, com capacidades de carga de 1,5 e 2,5 toneladas, respectivamente, projetados para operações fora de estrada, com o dobro da capacidade em superfícies regulares. No início de 1982, o comando do Exército Brasileiro solicitou à Engesa estudos para o desenvolvimento de um carro de combate médio sobre lagartas, com peso de aproximadamente 35 toneladas. Este seria o veículo mais pesado a entrar em serviço no Brasil e o primeiro projeto desse porte conduzido pela empresa. Considerando a limitada demanda interna, a Engesa optou por adaptar o projeto às necessidades do mercado internacional de defesa, aumentando o peso do veículo para 41 toneladas. Com isso, o projeto foi elevado à categoria de Main Battle Tank (MBT – Carro Principal de Combate), ampliando seu potencial competitivo no cenário global.

Na década de 1980, o Exército da Arábia Saudita lançou uma concorrência internacional para o desenvolvimento e aquisição de um novo Carro de Combate Principal (Main Battle Tank – MBT), destinado a substituir os obsoletos AMX-30B de fabricação francesa. O programa previa a compra de aproximadamente mil unidades, em um contrato estimado em US$ 3 bilhões. A Engesa – Engenheiros Especializados S.A., reconhecendo o potencial de exportação, identificou nessa oportunidade a possibilidade de alcançar a escala industrial necessária para viabilizar o atendimento às demandas do Exército Brasileiro, além de fortalecer sua posição no mercado global. A Engesa  S/A  já detinha significativa notoriedade como fornecedora de veículos militares e equipamentos para nações do Oriente Médio, o que a posicionava como uma concorrente relevante na concorrência saudita. Sua experiência prévia na exportação de blindados, como o EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu, reforçava sua credibilidade no setor de defesa. O projeto do novo carro de combate, inicialmente denominado T-1 e posteriormente batizado EE-T1, foi concebido para atender aos padrões modernos de MBTs, com ênfase em poder de fogo, proteção e mobilidade. O veículo deveria incorporar tecnologias avançadas, incluindo: Pontaria a laser e controles para tiro em movimento; Sistemas de visão noturna; Proteção contra ameaças químicas, radioativas e biológicas (QRB); Sensores térmicos infravermelhos. A blindagem do EE-T1 foi projetada para ser leve e resistente, utilizando chapas compostas de materiais metálicos e compostos, desenvolvidas pela Eletrometal S.A., empresa responsável também pela produção de aços especiais para os canhões da Engesa. Para acelerar o desenvolvimento e reduzir custos, a Engesa buscou parcerias com fabricantes internacionais renomados, como a Dr. Ing. hc F. Porsche AG e a Thyssen-Henschel, ambas alemãs. O objetivo era adquirir tecnologia por meio de transferência, mas divergências comerciais e diferenças nos parâmetros de projeto inviabilizaram essas colaborações. Diante do fracasso nas negociações, a Engesa optou por desenvolver o EE-T1 de forma autônoma, incorporando as tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado. O projeto foi estruturado em duas vertentes: Versão para Exportação: Customizada para atender às especificações exigidas pelo mercado internacional, incluindo a concorrência saudita. Versão para o Exército Brasileiro: Configuração simplificada, adaptada às necessidades operacionais nacionais. Para equipar o EE-T1, a Engesa encomendou à britânica Vickers Defence Systems duas torres intercambiáveis com comando elétrico, compatíveis com canhões de 105 mm e 120 mm, este último de origem francesa. Essa abordagem permitiu flexibilidade no armamento, atendendo a diferentes requisitos operacionais

O Engesa EE-T1, projetado para uma tripulação de quatro membros, foi concebido com uma estrutura monobloco composta por chapas blindadas soldadas, utilizando materiais monometálicos, bimetálicos e compostos. A blindagem composta, aplicada no arco frontal com pequenos ângulos de incidência, assegurava baixa silhueta e maximizava a proteção balística. Em 1986, essa configuração permitia resistência razoável contra munições antitanque disponíveis à época. O veículo incluía saias laterais em aço blindado para proteger as lagartas e os sistemas de suspensão, enquanto o motor e a transmissão automática com conversor de torque eram posicionados na traseira. O monobloco foi dividido em dois compartimentos principais — tripulação e power pack — separados por uma parede estrutural “corta-fogo” com isolamento térmico-acústico. O compartimento do power pack contava com três tampas em aço blindado bimetálico, projetadas para facilitar o acesso, complementadas por grades balísticas nas entradas e saídas de ar. A suspensão hidropneumática, fabricada pela Dunlop, atuava sobre as doze rodas de apoio (seis por lado), utilizando lagartas Dhil. O sistema de frenagem, hidráulico a disco com retarder, era assistido por computador, garantindo maior controle e segurança. Para propulsão, foi selecionado o motor MWM TBD 234 V12 a diesel, refrigerado a ar, com 1.020 cv, importado da Alemanha, acoplado à transmissão ZF Friedrichshafen AG LSG 3000, de seis velocidades (quatro à frente e duas à ré). O EE-T1 estava equipado com o sistema de controle de fogo britânico Marconi Centaur, integrado a dois periscópios franceses SFIM VS580 VICAS, um para o atirador (com telêmetro a laser) e outro para o comandante (com visão panorâmica). Adicionalmente, o sistema de visão noturna Philips UA9090, de fabricação holandesa, proporcionava visores para ambos os tripulantes, ampliando a capacidade operacional em condições de baixa luminosidade. Em julho de 1985, um protótipo do EE-T1 (P.1) foi enviado à Arábia Saudita para participar do processo de pré-seleção da concorrência internacional promovida pelo Exército Saudita. O veículo demonstrou plena adaptação ao terreno desértico, obtendo excelentes resultados e sendo classificado para a fase seguinte, onde competiu diretamente com modelos de fabricantes da França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Conforme o cronograma, em julho de 1987, o protótipo definitivo, equipado com um canhão de 120 mm e sistemas eletrônicos de ponta, foi despachado para o Oriente Médio para a seleção final. Durante os testes, o EE-T1 apresentou os seguintes dados de desempenho: Rampa máxima: 65%; Obstáculo vertical máximo: 1,15 m; Capacidade de vau: 1,20 m (sem preparação) a 2,00 m (com preparação); Velocidade máxima: 70 km/h;Autonomia: 550 km.

O Engesa EE-T1 Al Fahd (P.2) destacou-se como um dos carros de combate principais (Main Battle Tank – MBT) mais avançados de sua categoria, rivalizando com os melhores projetos globais, exceto o alemão Leopard, que não participou da concorrência saudita. Sua combinação de qualidade mecânica e sistemas de controle sofisticados conferiu ao veículo um desempenho excepcional, particularmente nos testes de autonomia e precisão de tiro. O sistema de controle de fogo do EE-T1 Al Fahd era notavelmente avançado, incorporando uma "janela de coincidência" que analisava a posição do canhão e a mira do atirador. Esse recurso permitia disparos apenas quando o alinhamento entre o canhão e os periscópios era coincidente, mesmo durante oscilações do veículo, resultando em alta precisão. Nos testes, o EE-T1 foi o único a acertar um alvo a 4 km de distância. Em disparos contra alvos móveis a distâncias entre 1,5 e 2,5 km, o veículo brasileiro obteve oito acertos em doze tentativas, superando o M1A1 Abrams norte-americano (cinco acertos) e os demais concorrentes (um acerto cada). Na fase inicial da concorrência, os carros de combate franceses AMX-40 e britânicos Challenger foram desclassificados, deixando o EE-T1 Al Fahd e o M1A1 Abrams como finalistas. Na etapa final de testes de campo, iniciada em 1987, o EE-T1 Al Fahd (P.2) novamente demonstrou superioridade técnica em relação ao modelo norte-americano, consolidando a confiança da Engesa na vitória do certame. Como resultado de seu desempenho, a Engesa S.A. assinou um pré-contrato com o governo saudita para o fornecimento inicial de 316 carros de combate, em um acordo avaliado em US$ 15 bilhões (valores ajustados para 2020). Esse contrato representava não apenas uma conquista comercial, mas também a validação do projeto brasileiro no cenário internacional de defesa. Apesar da superioridade técnica do EE-T1 Al Fahd, em 1989, o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos apresentaram ao Congresso norte-americano um relatório detalhado defendendo a importância estratégica do contrato para os interesses geopolíticos e a indústria de defesa dos EUA. O M1A1 Abrams, já em serviço nas unidades de cavalaria do Exército dos Estados Unidos desde o início da década de 1980, havia sido amplamente testado em operações reais, conferindo-lhe uma vantagem operacional comprovada. Além disso, a versão do M1A1 Abrams ofertada, equipada com o canhão alemão Rheinmetall L/44 de 120 mm, estava em produção seriada desde 1986, permitindo entregas imediatas ao Exército da Arábia Saudita. Esses fatores, aliados à significativa influência política dos Estados Unidos, favoreceram a escolha do modelo norte-americano, impactando diretamente o desfecho da concorrência. Embora o EE-T1 Al Fahd tenha demonstrado excelência técnica e competitividade, a decisão final da Arábia Saudita refletiu a complexidade de fatores políticos e logísticos em concorrências internacionais de defesa. O episódio destacou os desafios enfrentados pela Engesa em competir com potências estabelecidas no mercado global, apesar de sua capacidade de desenvolver um MBT de classe mundial.

Emprego no Exército Brasileiro.
Na década de 1970, a força de carros de combate do Exército Brasileiro era composta principalmente pelos modelos M-41, M-41A1 e M-41A3, complementados por um número reduzido de Bernardini X1 e X1A2, versões modernizadas dos M-3A1 Stuart. Essa composição apresentava limitações significativas em termos de efetividade operacional, especialmente frente às potenciais ameaças na região sul do país. Embora programas paliativos, como a modernização dos M-41 Walker Bulldog e o desenvolvimento do carro de combate médio Bernardini MB-3 Tamoyo, estivessem em andamento, tornou-se evidente a necessidade urgente de um blindado moderno para substituir todos os modelos em serviço na Força Terrestre a curto e médio prazo. Nesse contexto, a Engesa – Engenheiros Especializados S.A. foi consultada em 1982 para desenvolver um novo carro de combate sobre lagartas, com peso aproximado de 35 toneladas. Contudo, a demanda limitada do Exército Brasileiro não era suficiente para justificar os investimentos necessários ao projeto, levando a Engesa a propor o desenvolvimento de um Main Battle Tank (MBT – Carro Principal de Combate) com peso superior a 40 toneladas. Essa decisão gerou divergências com o Exército, que considerava veículos acima de 40 toneladas e com largura superior a 3,5 metros inadequados devido ao maior custo de aquisição e às limitações impostas pela precária infraestrutura rodoviária e ferroviária do Brasil. Apesar das diferenças conceituais, foi estabelecida uma parceria técnica entre a Engesa e o governo federal, com o acompanhamento de engenheiros militares do Centro Tecnológico do Exército (CTEx). O projeto, iniciado em 1982, utilizou o avançado sistema de desenho CAD/CAM. Em 1983, foi concluído um mock-up em escala real, seguido pela construção do primeiro chassi, que realizou seu teste inicial em setembro de 1984. Batizado com o nome “Cachaça”, em referência à bebida tradicional brasileira, o protótipo, designado P.0, foi submetido a rigorosos testes em um campo de provas da Engesa. Para simular sua configuração final, o protótipo recebeu uma torre e um canhão falsos, além de pintura camuflada e marcações do Exército Brasileiro, proporcionando uma representação realista do veículo. De acordo com o planejamento estratégico da Engesa, o projeto do EE-T1 foi estruturado em duas versões distintas: Versão para Exportação: Mais sofisticada, equipada com tecnologias avançadas para atender às exigências do mercado internacional, particularmente na concorrência saudita e a Versão para o Exército Brasileiro: Configuração simplificada, adaptada às necessidades operacionais e logísticas da Força Terrestre, com foco em custo e adequação ao cenário nacional.

O Carro Principal de Combate (Main Battle Tank – MBT) desenvolvido pela Engesa S.A. recebeu a designação EE-T1 P1 e foi batizado como “Osório”, em homenagem ao patrono da arma de Cavalaria do Exército Brasileiro, General Manuel Luís Osório, Marquês do Herval. O veículo foi equipado com o canhão britânico de alma raiada Royal Ordnance L7 de 105 mm, operado pelo sistema de controle de fogo Marconi Centaur. Para observação e pontaria, foram instalados periscópios OiP LRS-5DN (para o comandante) e LRS-5DNLC (para o atirador), ambos dotados de visão noturna. A torre do EE-T1 Osório contava com sensores integrados ao sistema de controle de fogo, garantindo precisão nos disparos. Para autodefesa, o veículo suportava a instalação de uma metralhadora Hughes EX-34 de 7,62 x 51 mm (padrão OTAN) acionada por corrente, além de uma arma coaxial, que poderia ser uma metralhadora Browning M2HB de 12,7 x 99 mm ou uma FN MAG de 7,62 x 51 mm. O grupo motriz do Engesa EE-T1 P1 Osório era idêntico ao da versão de exportação, com potencial para nacionalização futura, considerando que os fabricantes do motor e da transmissão possuíam instalações no Brasil. Entre 16 de dezembro de 1986 e 14 de abril de 1987, o EE-T1 Osório foi submetido a um rigoroso programa de testes de campo, coordenado pelo Exército Brasileiro. Durante esse período, o veículo percorreu 3.296 km, incluindo 750 km em condições adversas no campo de provas de Marambaia, Rio de Janeiro, para avaliar sua mobilidade em terrenos desafiadores. Foram realizados 50 disparos com o canhão de 105 mm, que demonstraram elevado índice de acerto e confiabilidade. Ao final do programa, foram emitidos dois relatórios pelo Exército Brasileiro: o RETEx (Relatório Técnico do Exército) e o RETOp (Relatório Técnico Operacional). Ambos apresentaram avaliações altamente positivas, destacando o desempenho excepcional do EE-T1 Osório em termos de mobilidade, precisão e robustez. O desempenho do EE-T1 Osório superou as expectativas dos militares brasileiros, gerando entusiasmo e otimismo quanto à possibilidade de equipar as unidades blindadas da Força Terrestre com um MBT de fabricação nacional. O projeto foi visto como um marco tecnológico, reforçando a capacidade da indústria de defesa brasileira em desenvolver equipamentos de ponta. Apesar do sucesso técnico, o projeto enfrentou obstáculos internos relacionados à doutrina militar do Exército Brasileiro. A Força Terrestre, cuja missão era essencialmente defensiva e voltada para a proteção do território nacional, não priorizava a adoção de um Carro Principal de Combate. A política externa brasileira, baseada na não intervenção e na neutralidade, também limitava a necessidade de uma arma de caráter predominantemente ofensivo. Essas divergências conceituais representaram barreiras significativas para a incorporação do EE-T1 Osório às forças blindadas nacionais.
A decisão de não adotar o Carro Principal de Combate (Main Battle Tank – MBT) EE-T1 Osório pelo Exército Brasileiro foi influenciada pelo elevado custo de aquisição do veículo. Inicialmente estimado em US$ 1,5 milhão por unidade, o valor projetado em 1987 alcançou US$ 4 milhões, excluindo os custos de manutenção e operação. Esses montantes eram incompatíveis com as restrições orçamentárias do Exército Brasileiro, especialmente em meio à grave crise econômica que afetava o Brasil na década de 1980. A ausência de recursos financeiros suficientes para aquisição contribuiu para a estagnação do projeto. O cancelamento da encomenda da Arábia Saudita, que previa a aquisição de 316 unidades do EE-T1 por US$ 15 bilhões (valores ajustados para 2020), representou um revés significativo para o programa. As estimativas dos custos de desenvolvimento do EE-T1 Osório variam entre US$ 50 milhões e US$ 150 milhões, impactando severamente o fluxo de caixa da Engesa S.A. A falta de apoio político e financeiro do governo brasileiro, combinada com a percepção do mercado de que o Exército Brasileiro não tinha interesse no veículo, afastou potenciais compradores internacionais. A situação financeira da Engesa foi agravada por uma inadimplência de US$ 200 milhões junto ao governo iraquiano, um de seus principais clientes.  A empresa depositava esperanças em uma possível assistência financeira do Governo Federal. No entanto, em um contexto de busca por equilíbrio fiscal, esse apoio não se materializou. Esse cenário de dificuldades financeiras culminou em um pedido de concordata preventiva em março de 1990, marcando o início de uma fase de deterioração contínua. Em 1992, a imprensa já reportava o estado pré-falimentar da empresa, caracterizado por endividamento crescente, incapacidade de cumprir encomendas e demissões em massa. Em 1993, foi decretada a falência da Engesa S.A., resultando na dissolução de seu legado técnico e industrial. O vasto conhecimento acumulado pela empresa foi perdido, com grande parte de seus ativos vendida como sucata. A biblioteca técnica foi destruída, reduzida a papel picado e comercializada por peso. Quatro leilões liquidaram os principais prédios da empresa, localizados em São José dos Campos e Barueri, São Paulo. Os funcionários da Engesa enfrentaram destinos variados: muitos abandonaram o setor de defesa, outros migraram para o exterior, e o conhecimento técnico desenvolvido até então foi interrompido. A falência da Engesa não foi apenas resultado da perda da concorrência saudita, mas o estopim de uma crise financeira latente, agravada pela dependência de um mercado global de armamentos altamente competitivo e pela falta de suporte estatal.
Durante o processo de concordata da Engesa S.A., diversos protótipos de veículos militares foram desmantelados, com seus componentes importados — como canhões, sistemas optrônicos, motores e transmissões — devolvidos aos fabricantes estrangeiros como forma de pagamento de dívidas. As carcaças remanescentes foram sucateadas, restando apenas alguns exemplares incompletos em posse de colecionadores, incluindo o EE-18 Sucuri II, o EE-T4 Ogum e outros caminhões e blindados. O protótipo de pré-série EE-T1 Osório P.0 foi vendido como sucata, com seus componentes importados também devolvidos para aliviar os débitos da empresa. Como o governo brasileiro era um dos principais credores da massa falida da Engesa, uma decisão judicial determinou que grande parte dos ativos, peças de reposição e veículos fosse incorporada ao Exército Brasileiro. Entre os equipamentos transferidos estavam dois EE-3 Jararaca, um EE-T4 Ogum (P.1), um EE-11 Urutu e os dois protótipos do EE-T1 Osório: o P.1 (equipado com canhão de 105 mm) e o P.2, também conhecido como EE-T2 Al Fahd (equipado com canhão de 120 mm). Esses dois carros de combate foram colocados sob a custódia do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMec), em Pirassununga, SP, onde permaneceram armazenados, sem integração às operações da unidade. Em atendimento a exigências judiciais, os protótipos EE-T1 Osório P.1 e P.2 estavam programados para serem leiloados em 20 de novembro de 2002, como parte do processo de pagamento aos credores privados da massa falida. Contudo, a pedido do Exército Brasileiro, o Ministério Público de São Paulo interpôs uma ação cautelar que impediu com sucesso a venda dos veículos a terceiros. Em 2003, os dois protótipos foram oficialmente entregues ao 2º Regimento de Carros de Combate, em Pirassununga, onde foram entronizados, garantindo sua preservação em estado operacional. Essa medida assegurou que os veículos permanecessem como um tributo à capacidade tecnológica brasileira e como referência para o desenvolvimento futuro da arma blindada no Brasil. Em 2013, um dos protótipos do EE-T1 Osório foi transferido para o acervo do Museu Militar Conde de Linhares, no Rio de Janeiro, onde passou a integrar a coleção de itens históricos. O outro foi enviado ao Centro de Instrução de Blindados (CIBld), em Santa Maria, RS, para fins educacionais e de preservação. No início de 2024, foi iniciada uma operação de restauração dos dois protótipos, conduzida pelo Parque Regional de Manutenção/5 (Pq R Mnt/5), em Curitiba, PR. Em abril de 2024, o EE-T1 Osório P.1 recuperou seu status operacional, marcando um esforço significativo para manter o legado do projeto. Embora o EE-T1 Osório não tenha alcançado sucesso comercial, ele permanece um marco na história da indústria de defesa brasileira. O veículo demonstrou a capacidade do Brasil de desenvolver tecnologia militar avançada, posicionando o país como um ator relevante no cenário global de produção de carros de combate. Apesar de sua breve trajetória, o Osório deixou um legado de orgulho e conhecimento técnico, servindo como testemunho do talento e da competência dos engenheiros brasileiros no setor de defesa. A preservação dos protótipos assegura que futuras gerações possam reconhecer e se inspirar nesse feito, enquanto o veículo continua a contribuir para a evolução doutrinária e tecnológica da arma blindada no Brasil.

Em Escala:
Para representar o protótipo Engesa EE-T2 Osório (P.2), registrado como "EB 346606180", foi utilizado o kit da Trumpeter na escala 1/35. Este modelo, embora detalhado, exigiu uma série de modificações para retratar com precisão as características específicas do protótipo. As alterações foram implementadas para garantir a fidelidade histórica e estética em relação ao veículo original. Os emblemas e marcações do EE-T2 Osório foram reproduzidos utilizando uma combinação de decais originais fornecidos com o kit da Trumpeter e complementos do conjunto "Exército Brasileiro 1983-2002", produzido pela Eletric Products. 
O esquema de cores descrito, conforme o padrão Federal Standard (FS), corresponde ao segundo padrão de pintura aplicado ao protótipo Engesa EE-T2 Osório (P.2) após seu retorno dos testes realizados na Arábia Saudita em 1987. Este padrão foi adotado para adequar o veículo às especificações visuais do Exército Brasileiro, refletindo as diretrizes de camuflagem utilizadas na época.  O primeiro protótipo, EE-T2 Osório (P.1), foi submetido a dois padrões distintos de camuflagem tática em dois tons ao longo de sua trajetória. O último desses padrões foi alinhado ao esquema de camuflagem predominante nos veículos do Exército Brasileiro, garantindo uniformidade visual com a frota militar nacional.

Bibliografia: 

- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume II, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Engesa – Lexicar - http://www.lexicarbrasil.com.br/engesa/

 

Caça Submarinos Classe SC-497/J

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o cenário global tornou-se cada vez mais sombrio com o intensificar das tensões geopolíticas. As ambições expansionistas da Alemanha nazista na Europa, aliadas às pretensões imperialistas do Japão na Área, prenunciavam o inevitável caminho rumo a um conflito de proporções globais. Esse contexto de crescente instabilidade levou os Estados Unidos a anteciparem esforços para modernizar suas forças armadas, visando preparar-se para potenciais ameaças futuras. No âmbito naval, a preocupação era particularmente aguda, impulsionada pelo rápido crescimento da armada imperial japonesa e pela expansão das forças de submarinos das marinhas alemã (Kriegsmarine) e italiana, que desafiavam as limitações impostas pelo Tratado de Versalhes de 1919. Relatórios de inteligência britânicos traziam alertas cada vez mais alarmantes sobre a capacidade da Kriegsmarine, especialmente sua frota de submarinos, que representava uma ameaça direta às linhas de abastecimento marítimo. A Grã-Bretanha, altamente dependente de importações, sobretudo dos Estados Unidos, enfrentava o risco de ter suas rotas comerciais estranguladas por ataques submarinos. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os submarinos alemães, conhecidos como U-boats, já haviam demonstrado seu potencial devastador, e a perspectiva de uma nova campanha submarina intensificada gerava temores fundados. A necessidade de proteger os comboios de navios mercantes, essenciais para o esforço de guerra aliado, tornou-se uma prioridade estratégica. A solução mais imediata parecia ser a construção de uma frota robusta de navios especializados em guerra antissubmarino (ASW), como destróieres e fragatas. No entanto, um programa dessa magnitude exigiria investimentos na ordem de centenas de milhões de dólares, consumindo recursos significativos que poderiam comprometer outras áreas do esforço de guerra. Diante desse desafio, buscou-se alternativas mais econômicas que permitissem expandir rapidamente a capacidade de defesa naval. Uma dessas soluções foi a revitalização dos "Submarine Chasers" (caçadores de submarinos), pequenas embarcações ágeis que haviam desempenhado um papel crucial na Primeira Guerra Mundial contra os U-boats alemães. Curiosamente, após o fim da Primeira Guerra, essas embarcações foram consideradas obsoletas por muitos estrategistas navais. Com o avanço da tecnologia de submarinos, que passaram a operar com maior eficácia em mar aberto na década de 1920, acreditava-se que os Submarine Chasers não seriam capazes de enfrentar as novas gerações de submersíveis. Contudo, o agravamento das tensões na década de 1930 reacendeu o interesse por essas pequenas, mas versáteis, embarcações. Sua agilidade, baixo custo de produção e capacidade de operar em conjunto com outras forças navais tornaram-nas uma opção viável para reforçar a proteção de comboios, especialmente em um momento em que a rapidez na resposta às ameaças submarinas era crucial. A decisão de investir nos Submarine Chasers reflete o pragmatismo das potências aliadas em um período de incertezas. Enquanto as grandes marinhas do Eixo se preparavam para desafiar o controle dos mares, os Estados Unidos e seus aliados buscaram soluções criativas e econômicas, combinando lições do passado com as demandas de um conflito iminente. 

À medida que as tensões globais escalavam no final da década de 1930, com as ameaças expansionistas da Alemanha nazista e do Império do Japão, tornou-se evidente a necessidade de estratégias navais inovadoras para proteger as rotas marítimas aliadas. Nesse contexto, os "Submarine Chasers" (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte que haviam se provado eficazes na Primeira Guerra Mundial, foram reconsiderados como uma solução prática para a guerra antissubmarino (ASW). Sua agilidade e capacidade de operar em águas costeiras permitiam que navios maiores, como destróieres, fossem destacados para missões em alto-mar, ampliando a capacidade de dissuasão contra a crescente ameaça dos submarinos alemães e italianos, que visavam interromper as linhas de abastecimento aliadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) fez uso extensivo dessas embarcações, empregando-as com grande sucesso em patrulhas costeiras e operações de ataque contra submarinos alemães ao longo do litoral americano. Equipados com dispensadores de cargas de profundidade como armamento principal, os Submarine Chasers também contavam com metralhadoras antiaéreas para autodefesa, garantindo versatilidade em cenários de combate. O desempenho positivo dessas embarcações durante os primeiros anos do conflito reforçou a confiança em seu potencial, justificando investimentos em novos projetos que priorizassem baixo custo de construção e operação, permitindo sua produção em larga escala. Em março de 1938, foi lançado o "Experimental Small Craft Program", liderado pela equipe técnica da Defoe Shipbuilding Company, em Michigan. Esse programa resultou no desenvolvimento de três projetos experimentais: os PC-451 e PC-452, com deslocamento de 280 toneladas (padrão) e 450 toneladas (totalmente carregados), e o PC-453, uma embarcação menor, com 98 toneladas (padrão) e 108 toneladas (totalmente carregada). Enquanto os dois primeiros projetos culminaram na criação da bem-sucedida classe PC-461, com mais de 300 unidades construídas entre 1941 e 1944, o PC-453 destacou-se por sua construção em madeira, uma escolha estratégica para economizar materiais metálicos essenciais, que eram prioritariamente destinados a navios de guerra de maior porte, como encouraçados e cruzadores. A classe PC-461 tornou-se um pilar da estratégia antissubmarino aliada, graças à sua capacidade de operar em áreas costeiras e proteger ancoradouros, garantindo a segurança de comboios mercantes e bases navais. Por outro lado, o PC-453, com sua construção em madeira, foi projetado para atender à demanda por embarcações de produção rápida e econômica, ideais para patrulhas costeiras. Essa abordagem refletia a necessidade de maximizar recursos em um momento crítico, quando a mobilização total para o esforço de guerra exigia soluções criativas e eficientes. 
Sob o "Programa FY1938", a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) lançou um projeto ambicioso para desenvolver uma nova geração de "Submarine Chasers" (caçadores de submarinos), embarcações de pequeno porte destinadas a proteger rotas costeiras e comboios marítimos contra a crescente ameaça dos submarinos do Eixo. Esse programa, conduzido pela Defoe Shipbuilding Company, em Michigan, resultou na construção de três protótipos — SC-449, SC-450 e SC-453 —, dos quais apenas o SC-453 foi selecionado para produção em série, culminando na entrega de 27 embarcações. As embarcações da classe SC-453, embora promissoras, apresentaram limitações operacionais em suas primeiras operações, revelando pouca evolução em relação aos Submarine Chasers utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Suas principais inovações limitavam-se à adoção de motores a diesel e sonares simplificados, insuficientes para atender às demandas da guerra naval moderna. Durante a Primeira Guerra, essas pequenas embarcações haviam desempenhado um papel crucial na luta contra os U-boats alemães, protegendo comboios aliados em águas costeiras. Contudo, o avanço tecnológico dos submarinos na década de 1930 exigia embarcações mais robustas e versáteis. Em resposta, a Marinha dos Estados Unidos implementou uma série de melhorias no projeto do SC-453, resultando em uma embarcação otimizada que se tornou um componente essencial da estratégia antissubmarino aliada. A versão aprimorada do SC-453 tinha um deslocamento de 98 toneladas (padrão) e 130 toneladas (totalmente carregada). Construída inteiramente em pinho americano, a embarcação contava com 100 cavernas e três compartimentos estanques, separados por anteparas transversais de aço, garantindo maior segurança e resistência estrutural. Seu casco foi reforçado com tábuas de madeira conhecidas como "ice shelting", permitindo operações em águas parcialmente congeladas, uma característica vital para missões em regiões de clima rigoroso, como o Atlântico Norte. Com dimensões de 33,52 metros de comprimento total, 32 metros entre perpendiculares, 5,18 metros de largura máxima e 1,52 metros de calado, a embarcação era ligeiramente maior que o projeto original, oferecendo melhor estabilidade e capacidade operacional. A propulsão era fornecida por dois motores diesel de dois tempos, modelo 8-268A "Pancake" da General Motors, com oito cilindros em linha e 500 HP cada, operando a 1.270 rpm. Esses motores acionavam dois hélices por meio de engrenagens redutoras, permitindo uma velocidade máxima de 21 nós, ideal para patrulhas rápidas e perseguições. A energia elétrica, em corrente contínua, era gerada por dois motores diesel, com capacidades de 30 KVA e 20 KVA, garantindo o funcionamento dos sistemas a bordo. A tripulação, composta por três oficiais, dois suboficiais, sete sargentos, quatro cabos e onze marinheiros, operava em condições desafiadoras, exigindo coordenação e dedicação para enfrentar as ameaças submarinas do Eixo. O armamento principal incluía um canhão de 3 polegadas (76 mm) e 23 calibres, modelo MK XIV de 1918, complementado por duas metralhadoras antiaéreas Oerlikon de 20 mm em reparos simples (MK II). Para a guerra antissubmarino, a embarcação contava com duas calhas de popa, cada uma capaz de lançar quatro bombas de profundidade, quatro calhas singelas laterais e dois morteiros singelos. Com cerca de 20 bombas de profundidade de 135 kg, o Submarine Chaser estava bem equipado para neutralizar submarinos inimigos, protegendo comboios e bases costeiras com eficiência.

Para a detecção de submarinos, cada SC-497 era equipado com um aparelho de escuta submarina WEA-1, fabricado pela RCA Electric Company, e um registrador químico para medição de distâncias, permitindo a localização precisa de alvos submersos. No campo das comunicações, as embarcações contavam com um transmissor telegráfico TCE-2 da Westinghouse Electric Company, com 125 W de potência para fonia e código Morse (CW), além de três receptores para ondas curtas, médias e longas, garantindo conectividade em diversas condições. Para comunicações visuais, essenciais em operações táticas, os navios dispunham de bandeiras de sinalização, escote na verga do mastro principal e um holofote de 12 polegadas, que facilitava a coordenação em ambientes de baixa visibilidade. A navegação era assegurada por duas agulhas magnéticas — uma padrão no tijupá e outra de governo no passadiço — complementadas por um radiogoniômetro tipo CRM, que auxiliava na determinação de posições. Para a segurança da tripulação, cada embarcação incluía um bote com capacidade para oito homens, duas balsas de cortiça (também para oito pessoas cada) e 25 coletes salva-vidas, garantindo meios de evacuação em emergências. Um recurso inovador era o sistema de desmagnetização, conhecido como "Degaussing". Esse sistema consistia em uma bobina instalada internamente ao redor do casco, na altura do convés, que, ao ser percorrida por corrente elétrica controlada por um quadro na praça de máquinas, anulava o campo magnético do navio. Ajustado por cartas específicas conforme a zona marítima, o Degaussing protegia a embarcação contra minas magnéticas, uma ameaça Sexo masculino System: ameaça comum em operações navais da Segunda Guerra Mundial. O sistema era ativado antes da saída do porto e calibrado periodicamente, garantindo a segurança do navio em áreas minadas. A construção da classe SC-497, inteiramente em madeira de pinho americano para economizar materiais estratégicos, permitiu uma produção rápida e econômica, com cada embarcação sendo concluída em apenas 90 a 120 dias. Em 1941, a Marinha dos Estados Unidos abriu uma concorrência para a construção de 475 unidades, firmando contratos com estaleiros civis, como a W.A. Robinson Inc., de Ipswich, Massachusetts, especializada em veleiros. Cada navio, ao custo unitário de US$ 500.000, foi entregue a partir de agosto de 1941, marcando o início de uma produção em larga escala que fortaleceu a capacidade naval aliada. Devido aos seus cascos de madeira, os SC-497 foram carinhosamente apelidados de "Splinter Fleet" (frota estilhaçada) pelos marinheiros, uma referência à sua construção aparentemente frágil, mas que, na prática, demonstrou notável resistência. Durante a guerra, essas embarcações operaram com sucesso em patrulhas costeiras e missões de escolta, enfrent_fuentes System: comboios, enfrentando os perigos do Atlântico com determinação e eficiência. A história da classe SC-497 é um testemunho da engenhosidade humana em tempos de crise, combinando inovação tecnológica com a coragem de suas tripulações, que enfrentaram condições adversas para proteger as rotas marítimas essenciais ao esforço de guerra aliado. 
A classe SC-497 de "Submarine Chasers" (caçadores de submarinos), desenvolvida pela Marinha dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, representou uma solução estratégica e econômica para a guerra antissubmarino (ASW). Inserida no portfólio do Leand-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) de 1941, essa classe de embarcações desempenhou um papel significativo no esforço de guerra aliado, sendo compartilhada com nações parceiras para fortalecer a defesa marítima global. Sob esse programa, 70 navios foram cedidos à União Soviética, onde também foram utilizados para transporte de tropas, 50 às Forças Francesas Livres, oito ao Brasil, três à Noruega e três ao México. Essa distribuição reflete o espírito de colaboração internacional que caracterizou a luta contra as potências do Eixo. Durante a Segunda Guerra Mundial, a versatilidade da classe SC-497 foi amplamente explorada. Setenta dessas embarcações foram convertidas em navios de controle de patrulha (SCC), enquanto oito foram adaptadas como canhoneiras de patrulha a motor (classe PGM-1). Muitas unidades desempenharam funções cruciais em operações anfíbias, incluindo o histórico desembarque na Normandia, no Dia D, em 6 de junho de 1944. Esses pequenos navios, com seus cascos de madeira e tripulações dedicadas, garantiram a segurança de comboios e apoiaram desembarques em praias contestadas, contribuindo para o sucesso de uma das maiores operações militares da história. A produção da classe SC-497 começou com o lançamento do primeiro navio em maio de 1941. Até outubro de 1944, 338 embarcações foram concluídas, um feito impressionante que demonstra a capacidade industrial dos Estados Unidos durante o conflito. No entanto, à medida que a ameaça dos submarinos do Eixo diminuía, particularmente após avanços aliados no Atlântico e no Pacífico, tornou-se evidente que a produção adicional não era mais necessária. Como resultado, a construção dos 37 navios restantes foi cancelada, marcando o fim da fabricação em massa da classe. Apesar de seu papel ativo na guerra, não há registros oficiais de que os SC-497 tenham destruído submarinos inimigos. Um caso frequentemente citado, o suposto naufrágio do submarino japonês RO-107 pelo USS SC-669 em 29 de maio de 1943, foi desmentido, já que o submarino foi avistado em operação no Pacífico Sul em 6 de julho do mesmo ano. Durante o conflito, 16 caçadores de submarinos SC-497 e uma canhoneira PGM-1 foram perdidos em ação, um testemunho dos riscos enfrentados por suas tripulações em missões perigosas contra a ameaça submarina. Com o fim da guerra em agosto de 1945, muitos navios da classe SC-497 foram desativados ou transferidos para esquadrões de reserva. No âmbito do Programa de Defesa e Assistência Mútua (MDAP), 12 embarcações foram cedidas à Marinha das Filipinas (Hukbong Dagat ng Pilipinas) e 20 à Marinha Francesa (Marine Nationale), onde continuaram a operar até meados da década de 1950. Essas transferências reforçaram a cooperação militar pós-guerra, ajudando a reconstruir as capacidades navais de nações aliadas. De todos os navios construídos, apenas um foi preservado como testemunho de seu legado: o HNoMS Hitra (ex-USS SC-718), que hoje integra o acervo do Museu Real da Marinha da Noruega. Este navio, carinhosamente apelidado como parte da "Splinter Fleet" devido aos seus cascos de madeira, é um símbolo duradouro da coragem das tripulações e da engenhosidade que marcou a construção dessas embarcações. 

Emprego na Marinha do Brasil.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil que estava sendo potencializada pelo comercio exterior com o Estados Unidos, transportando diariamente matérias primas para a indústria de guerra daquele país.   

No Brasil, cuja posição estratégica como fornecedor de matérias-primas tornava seus portos alvos potenciais, a Marinha do Brasil enfrentava limitações significativas em sua capacidade de combater essas ameaças. Inicialmente, a frota contava apenas com seis navios da Classe Carioca, originalmente projetados como mineiros e reclassificados como corvetas. Apesar de equipados com sensores e radares adequados para detecção de submarinos, essas embarcações estavam armadas com um único canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas, uma configuração inadequada para enfrentar submersíveis modernos, como os U-boats da Kriegsmarine. Para superar essa lacuna operacional, o Brasil, no âmbito da cooperação militar com os Estados Unidos sob o Leand-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) de 1941, recebeu a transferência de 16 embarcações especializadas em guerra antissubmarino. O pacote incluía oito caçadores de submarinos da classe PC-461, redesignados no Brasil como Classe Gurupi (ou G), e oito da classe SC-497, reclassificados como Classe Javari (ou J). Essas embarcações, cedidas a partir de 1942, reforçaram significativamente a capacidade da Marinha do Brasil de proteger seu litoral, especialmente nas regiões sul e sudeste, onde o tráfego de navios mercantes era intenso. O primeiro navio da Classe Javari, o Javari (CS 51, J 1), ex-USS SC-763, foi o quinto a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio homônimo, um importante curso d’água da Amazônia. Lançado em 25 de setembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 20 de outubro do mesmo ano, o Javari foi transferido ao Brasil em 7 de dezembro de 1942, em uma cerimônia que marcou o fortalecimento da parceria naval entre os dois países. Sob o comando do Capitão-Tenente Aristides Pereira Campos Filho, a embarcação foi imediatamente integrada às operações de escolta de comboios ao longo dos litorais sul e sudeste brasileiros, protegendo navios mercantes de ataques submarinos. Em 19 de julho de 1944, durante a travessia de Vitória ao Rio de Janeiro, o Javari escoltava o navio auxiliar Vital de Oliveira quando este foi torpedeado pelo submarino alemão U-861, um trágico episódio que destacou os riscos enfrentados pelas tripulações brasileiras. Após o fim da guerra, em 29 de dezembro de 1945, o Javari foi transferido para a Diretoria de Hidrografia e Navegação, onde permaneceu em serviço até dezembro de 1949, sendo desativado oficialmente em 1951. O segundo navio da classe, o Jutaí (CS 52, J 2), ex-USS SC-762, foi a terceira embarcação a receber esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio Jutaí, afluente do Solimões. Lançado em 14 de setembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 7 de outubro do mesmo ano, o Jutaí foi transferido ao Brasil em 31 de dezembro de 1942, em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida. Sob o comando do Capitão-Tenente Roberto Nunes, a embarcação assumiu um papel ativo nas operações de patrulha e escolta, contribuindo para a segurança das rotas marítimas brasileiras durante o conflito.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Marinha do Brasil assumiu a crucial missão de proteger as rotas marítimas do Atlântico Sul. Nesse contexto, os caçadores de submarinos da Classe Javari, recebidos dos Estados Unidos sob o Leand-Lease Act de 1941, tornaram-se instrumentos vitais na defesa das costas sul e sudeste do país. Operando em um cenário de ameaças constantes dos U-boats alemães, essas embarcações demonstraram a resiliência e a dedicação dos marinheiros brasileiros, que enfrentaram os desafios do mar com coragem e profissionalismo. O Javari (CS 51, J 1), ex-USS SC-763, foi oficialmente incorporado à Força Naval do Nordeste por meio do Aviso nº 346, de 16 de fevereiro de 1943. Durante o conflito, a embarcação percorreu 61.660 milhas náuticas, escoltando 61 comboios em 267 dias de mar. Um dos episódios mais marcantes de sua trajetória ocorreu em 21 de julho de 1944, quando, ao lado do caça-submarino Graúna (G 8), integrou o Grupo de Escolta do comboio JT-18. Naquela ocasião, o Javari prestou socorro aos náufragos da corveta Camaquã (C 6), que afundou a cerca de 12 milhas a nordeste de Recife, Pernambuco, em um trágico incidente. Sob o comando do Capitão-Tenente Aristides Pereira Campos Filho, a tripulação do Javari demonstrou solidariedade e eficiência, resgatando sobreviventes em meio a condições adversas. Após o término da guerra, em dezembro de 1945, o navio foi transferido para a Diretoria de Hidrografia e Navegação, onde permaneceu em serviço até sua desativação, formalizada pelo Aviso Ministerial nº 2129, de 23 de setembro de 1948. O Juruá (CS 53, J 3), ex-USS SC-764, foi lançado em 12 de outubro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 31 de outubro do mesmo ano. Transferido ao Brasil em 30 de dezembro de 1942, sob o comando do Capitão-Tenente Luiz Penido Burnier, o Juruá recebeu inicialmente o indicativo CS-53, posteriormente alterado para J-3. Durante a guerra, a embarcação navegou 64.514 milhas náuticas em 247 dias de mar, escoltando 36 comboios com notável dedicação. Sua desativação ocorreu em 23 de setembro de 1948, conforme o Aviso Ministerial nº 2130, encerrando uma trajetória de serviço exemplar na proteção do litoral brasileiro. O Juruena (CS 54, J 4), ex-USS SC-766, foi o terceiro navio a receber esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem ao rio Juruena, no Mato Grosso. Lançado em 27 de outubro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 11 de dezembro de 1942, foi transferido ao Brasil em 30 de dezembro do mesmo ano, em uma cerimônia realizada em Miami, Flórida. Sob o comando do Capitão-Tenente Manoel João de Araújo Neto, o Juruena permaneceu inicialmente em Miami, servindo como navio de treinamento para as guarnições brasileiras, sob a supervisão do Capitão-de-Fragata Harold Reuben Cox, chefe da Comissão Brasileira. A embarcação também foi empregada em missões de vigilância e caça a submarinos. Em 29 de março de 1943, o Juruena liderou, como capitânia, um Grupo-Tarefa comandado pelo Capitão-Tenente Arthur Oscar Saldanha da Gama, acompanhado pelos caça-submarinos Jacuí (CS 57) e Jundiaí (CS 58), em uma operação de escolta de comboio entre Miami e Key West, Flórida. Reclassificado como J-4 em dezembro de 1945, o Juruena foi transferido para a Diretoria de Hidrografia e Navegação, sendo desativado em 1951.

O Jaguarão (CS 55, J 5), ex-USS SC-765, foi lançado em 12 de novembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 3 de dezembro do mesmo ano. Antes de sua transferência ao Brasil, navegou cerca de 1.800 milhas náuticas sob bandeira americana. Entregue à Marinha do Brasil no Chaser Training Center, em Miami, Flórida, em 16 de fevereiro de 1943, o Jaguarão percorreu 68.986,6 milhas náuticas durante seu serviço ativo, incluindo 57.187 milhas e 256 dias de mar em operações de guerra entre março de 1943 e novembro de 1945. A partir de maio de 1946, foi reclassificado como Navio-Faroleiro, desempenhando missões de auxílio à sinalização náutica sob a Diretoria de Hidrografia e Navegação. Sua desativação foi formalizada pelo Aviso Ministerial nº 1.142, de 25 de junho de 1950, marcando o fim de uma trajetória marcada por serviço incansável. O Jaguaribe (CS 56, J 6), ex-USS SC-767, foi lançado em 7 de dezembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 2 de janeiro de 1943. Transferido ao Brasil em 16 de fevereiro de 1943, sob o comando do Capitão-Tenente Valim Cruz de Vasconcellos, recebeu inicialmente o indicativo CS-56, posteriormente alterado para J-6. Após o término da guerra, em 29 de dezembro de 1945, foi subordinado à Diretoria de Hidrografia e Navegação, onde permaneceu em serviço até dezembro de 1949. Sua baixa definitiva ocorreu em 1951, encerrando uma carreira dedicada à proteção das águas brasileiras. O Jacuí (CS 57, J 7), ex-USS SC-1288, foi o segundo navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, em homenagem aos rios homônimos do país. Lançado em 24 de dezembro de 1942 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 12 de fevereiro de 1943, foi transferido ao Brasil em 19 de maio de 1943, em cerimônia realizada em Miami, Flórida. Sob o comando do Capitão-Tenente Carlos Roberto Perez Paquet, o Jacuí participou de operações de escolta e patrulha, contribuindo para a segurança dos comboios marítimos. Reclassificado como J-7 após o conflito, sua desativação foi determinada pelo Aviso Ministerial em maio de 1951. O Jundiaí (CS 58, J 8), ex-USS SC-1289, foi o primeiro navio a levar o nome da cidade homônima de São Paulo na Marinha do Brasil. Lançado em 8 de fevereiro de 1943 e incorporado à Marinha dos Estados Unidos em 12 de março, foi transferido ao Brasil em 26 de abril de 1943. Sob o comando do Capitão-Tenente Pedro Borges Lynch, o Jundiaí integrou, em 29 de março de 1943, um Grupo-Tarefa liderado pelo Capitão-Tenente Arthur Oscar Saldanha da Gama, ao lado do Juruena (CS 54, capitânia) e do Jacuí (CS 57), em uma missão de escolta de comboio entre Miami e Key West, Flórida. Sua desativação foi determinada em 1951, marcando o fim de seu serviço ativo. A Classe Javari, com suas pequenas mas valentes embarcações, simboliza a determinação da Marinha do Brasil em proteger suas águas territoriais durante a Segunda Guerra Mundial
A vida a bordo dos caça-submarinos era marcada por desconforto e sacrifício. Apesar de sua boa estabilidade, essas embarcações de madeira, com cerca de 33 metros de comprimento, eram constantemente castigadas pelas ondas, que frequentemente varriam o convés, forçando os marinheiros a dormirem amarrados aos beliches para evitar quedas. A alimentação representava outro desafio significativo. A pequena cozinha, localizada na popa em um espaço quente e abafado, dependia majoritariamente de alimentos enlatados, devido à falta de instalações adequadas para preparar refeições frescas. A escassez de água potável era ainda mais crítica: cada homem dispunha de menos de cinco litros diários, suficientes apenas para cozinhar e lavar roupas, deixando pouco ou nada para higiene pessoal. Em travessias longas, como as rotas entre Trinidad e Belém ou Recife e Belém, as condições de habitabilidade tornavam-se particularmente árduas, testando a resistência física e mental das tripulações. As condições de trabalho eram igualmente desafiadoras. Os marinheiros, muitas vezes vestindo apenas calções, camisetas, sapatos rústicos e um cinto com uma faca para emergências, enfrentavam longas jornadas sob o sol escaldante ou em mares agitados. Os oficiais, alojados em um pequeno camarote com quatro beliches e uma privada, compartilhavam refeições em um espaço exíguo ou, frequentemente, no passadiço, sob condições que os deixavam exaustos e com aparência desgastada. Apesar disso, o espírito de camaradagem e o compromisso com a missão mantinham a coesão das tripulações. Em termos de equipamentos, os navios da Classe Javari estavam equipados com tecnologia que, embora avançada para o contexto brasileiro, apresentava limitações. Diferentemente de muitos SC-497 operados pela Marinha dos Estados Unidos, os caça-submarinos brasileiros contavam com radar, mas dependiam principalmente de um sonar, apelidado de "araponga" devido ao seu ruído constante e incômodo, que ecoava dia e noite, impregnando-se no subconsciente dos tripulantes. O armamento era adequado para ataques a submarinos imersos, mas insuficiente para combates de superfície. Cada navio dispunha de um canhão de 3 polegadas (76 mm) de calibre 23, modelo MK XIV de 1918, na proa, usado para ataques rápidos, e duas metralhadoras Oerlikon de 20 mm, eficazes contra alvos aéreos. Para a guerra antissubmarino, os navios contavam com um lança-bombas-foguete "Mousetrap" na proa, com capacidade para duas a quatro tentativas, morteiros tipo K nas bordas e calhas de bombas de profundidade na popa, carregando cerca de 20 bombas de 135 kg. A operação desses navios apresentava desafios adicionais. Os motores a diesel, embora confiáveis, liberavam gases de escape pelos bordos, que intoxicavam as guarnições, especialmente durante longos períodos no mar. Além disso, a baixa silhueta dos caça-submarinos, projetada para dificultar sua detecção, por vezes os colocava em risco de serem confundidos com submarinos inimigos por outras forças aliadas, aumentando a tensão a bordo.

Em Escala.
Para representarmos o Caça Submarinos da Classe SC-497  Jundiaí J 8 da Marinha do Brasil, quando a serviço da  Força Naval do Nordeste (FNNE),  fizemos uso de um kit em resina produzido pela Argus Models na escala 1/350. Este modelo pode ser montado diretamente da caixa tendo em vista que este  foi concebido para representar as embarcações empregadas no Brasil. Fizemos uso de decais  oriundos de um set da Tamiya.
Apesar da maioria dos Caças Submarinos da Classe SC-497/J da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), fazerem uso camuflagens táticas, os registros fotográficos de época apontam que os navios destinados a Marinha do Brasil, foram recebidos no padrão básico de pintura naval daquele país. Este esquema de pintura ao longo dos anos se manteria inalterado, havendo apenas a alteração na identificação visual dos mesmos. 



Beechcraft UC-43 Traveler - GB-1


História e Desenvolvimento.
O empresário Walter H. Beech se tornaria um dos mais relevantes personagens do ramo de construçao aeronáutica durante os primórdios da história da aviação norte-americana, sendo um dos principais responsáveis pelo seu grande desenvolvimento. Em sua biografia destaca-se a fundação da Travel Air Manufacturing na cidade de Wichita Kansas, uma empresa de construção aeronáutica, que apresentaria entre seus quadros os promissores projetistas Lloyd Stearman e Clyde Vernon Cessna.  Suas aeronaves de maior destaque comercial seriam representadas pelos modelos Travel Air 2000, Travel Air 5000 e Travel Air 5000, se tornando assim naquele período uma das uma das mais proeminentes fabricantes de aeronaves. A quebra da Bolsa de Valores em 1929, afetaria pesadamente a economia norte-americana e por consequente o mercado aeronáutico, e neste contexto a  Travel Air Manufacturing passaria a enfrentar dificuldades financeiras, com este processo culminado em sua venda para a Curtiss-Wright Corporation. Neste momento seria concedido a Walter Beech a posição de presidente da divisão de aviões da companhia e vice-presidente de vendas, no entanto ficaria insatisfeito por se afastar das áreas de desenvolvimento e produção de aeronaves , levando o a decisão de deixar a Curtiss-Wright Corporation a fim de estabelecer sua própria empresa de construção aeronáutica. Após estudar o mercado e compor seu planejamento estratégico, e meados do ano de 1932, seria fundada na cidade de Wichita Kansas a   Beech Aircraft Corporation, contando com Walter Beech como presidente, sua esposa Olive Ann Beech como secretária, Ted A. Wells como vice-presidente de engenharia, KK Shaul como tesoureiro, e o investidor CG Yankey como vice-presidente. A empresa iniciou suas operações em uma fábrica ociosa da  ociosa da Travel Air Manufacturing (agora já renomeada como Cessna Aircraft Company), em Wichita no estado do Kansas. Apesar do cenário econômico norte-americano nesta época se apresentar caótico, em função de se apresentar no auge da depressão, Walter H. Beech resolveria focar seus esforços para o segmento de transporte executivo e turismo de luxo, nichos estes que mesmos pequenos, ainda  mantinham demandas regulares. 
 
A aposta da Beechcraft Aircraft Company,  em um segmento de aeronaves de alto valor agregado, se dava pelo objetivo de se tentar conquistar uma classe de consumidores potenciais que não foram  afetados diretamente pela grande crise econômica norte-americana e internacional. Potenciais clientes estes, que se disporiam a investir um valor considerável para a aquisição de  uma aeronave de transporte pessoal, desde que esta apresentasse características diferenciadas principalmente de desempenho e desing, seduzindo assim com facilidade este importante nicho de mercado. Seguindo esta linha estratégica, sua primeira aeronave de transporte executivo, deveria apresentar alta performance para viagens em velocidades de cruzeiro, para percorrer médias e curtas distancias, focando como potenciais clientes empresas de transporte regional e principalmente altos  executivos e proprietários das grandes corporações norte-americanas. Seu projeto seria completamente desenvolvido pelo brilhante engenheiro aeronáutico Ted Wells, que havia participado  anteriormente também da fundação da Travel Air Manufacturing. Nascia assim o  Beechcraft Modelo 17, uma aeronave monomotora,  que apresentava configuração do tipo biplano, com as duas superfícies de sustentação posicionadas fora do conceito tradicional, com a asa superior mais recuada em relação a inferior. Este desing inovador, conferia a aeronave uma aparência diferente, porém agradável aos olhos. A incomum configuração de asa cambaleante negativa da aeronave e sua forma única maximizaria a visibilidade do piloto,  e tinha por intenção  reduzir o arrasto de interferência entre as asas. Sua estrutura era de madeira e tubos de aço soldados, recoberta com entelagem, a exceção do bordo de ataque das asas, carenagem do motor e parte frontal do suporte do para-brisa que eram confeccionados em alumínio. Sua construção era complexa e levava muitas horas-homem para ser concluída. Seu trem de pouso convencional do Beechcraft Modelo 17, se mostraria incomum na época, porém  combinado com uma simplificação cuidadosa, de peso leve e um poderoso motor radial, ajudaria a aeronave a obter um bom desempenho. 
O primeiro protótipo desta aeronave alçaria voo nas instalações da empresa na cidade de Wichita  no estado do Kansas, no dia 4 de novembro de 1932, sendo submetido nos meses seguintes pelo fabricante a um intensivo programa de ensaios em voo. Este processo levaria a implementação de muitas melhorias no projeto original, nascendo neste momento sua primeira versão de produção em série. As primeiras aeronaves seriam ofertadas ao mercado doméstico a partir de maio e 1933,  com preços unitários na ordem de US$ 14.000,00 a US$ 17.000,00 de acordo com as configurações do modelo escolhido. No entanto esta faixa de preço se mostraria inadequada, resultando em apenas dezoito aeronaves vendidas no mercado norte-americano no ano de 1933. Em busca de aumentar sua fatia de mercado, mais melhorias seriam implementadas na aeronave, entre estas mudanças estava a implementação de trem de pouso retrátil representando uma novidade para aquele período.  Assim desta maneira gradativamente suas vendas foram melhorando, e como principal exclusividade sua configuração luxuosa do interior aparada em couro e mohair e produzida artesanalmente, despertavam a atenção dos mais exigentes clientes, levando o modelo nos anos seguintes a conquistar uma boa fatia do mercado norte-americano e canadense de aeronaves executivas. A velocidade do Beech Model 17 Staggerwing , tornaria o modelo muito popular entre os pilotos civis na década de 1930, e uma de suas versões iniciais, lograria êxito ao conquistar o primeiro lugar na cobiçada  "Corrida do Troféu Texaco" na edição de 1933. Em 1935, um diplomata britânico, o Capitão H.L. Farquhar, realizaria com sucesso um voo ao redor do mundo, fazendo uso de um Beech Model B-17R, viajando 34.331 quilômetros de Nova York a Londres, por meio da Sibéria, Sudeste Asiático, Oriente Médio, Norte da África e de volta pela Europa. Em termos de competições, Louise Thaden e Blanche Noyes conduzindo um Beech Model C-17R Staggerwing, conquistariam  o troféu Bendix de 1936.  Pilotando um modelo D-17W, Jackie Cochran estabeleceria um recorde de velocidade feminino de 328 km/h e de altitude, alcançando mais de 9.144 metros, conquistando também o terceiro lugar na Bendix Trophy Race de 1937. Curiosamente o primeiro emprego militar da aeronave ocorreria durante a Guerra Civil Espanhola, quando células da versão civil Beechcraft C-17 Staggerwing adaptadas,  seriam empregadas em missões de bombardeiro pela Força Aérea Republicana Espanhola. Algumas aeronaves também seriam usadas como ambulância pelas forças armadas da China Nacionalista no conflito contra o Japão neste mesmo período.  

 Durante os anos seguintes, o modelo ganharia grande notoriedade no mercado civil norte-americano se tornando um sucesso em vendas, despertando assim  a atenção do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), que buscava naquele momento um vetor para este tipo de emprego.  Assim no final de 1938, três células do modelo Beech D-17S seriam adquiridas a fim de serem  empregadas em um programa de avaliação,  para validar ou não o seu emprego como aeronave de ligação leve. Esta variante incorporava além do trem de pouso retrátil, uma série de melhorias no projeto,  como ailerons nas asas superiores, novo motor Pratt & Whitney Wasp Junior R-985-17 com 450 hp de potência e sistema de sincronização dos freios com os pedais do leme de direção. Estas aeronaves receberiam a designação militar provisória de YC-43 ( Y designando uma aeronave em desenvolvimento ou tipo não padrão, C significando Carga ), sendo entregues para o inicio do programa de ensaios operacional. Após a conclusão deste estágio, a aeronave seria homologada para operação militar, levando a celebração de um contrato com o Exército dos Estados Unidos (US Army) para a  aquisição de setenta e cinco células da versão Beech UC-43  Traveler, que começariam a ser entregues a partir de maio de 1939. Posteriormente as três aeronaves iniciais seriam deslocadas posteriormente para a Europa para servirem como aeronaves de ligação a serviço dos adidos aéreos militares norte-americanos em Londres, Paris e Roma. A Marinha dos Estados Unidos (US Navy) se tornaria o segundo maior cliente militar do modelo, assinando em setembro de 1939 um contrato para a produção de cento e trinta e duas aeronaves dos modelos Beech GB-1 e GB-2 para emprego em sua aviação naval atuando principalmente no continente. Mais cento e dezoito aeronaves seriam negociadas para a aquisição, com pelos menos três dezenas de células do modelo civil Beechcraft D17 Staggerwing, sendo temporariamente alugadas a fim de suprir demandas emergenciais. A Força Aérea Real (Royal Air Force) e a Marinha Real (Royal Navy) adquiririam cento e seis aeronaves da versão Beech "Traveller Mk. I",  nos termos do programa de ajuda militar Lend-Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) para suprir sua própria necessidade crítica de transportes leves de pessoal, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda durante o conflito, mais aeronaves seriam exportadas a nações aliadas, sendo empregados como aeronaves de transporte e ligação junto as forças armadas do Brasil, Nova Zelândia,China Nacionalista  e Austrália. No pós-guerra aeronaves desta família seriam exportadas para  Holanda, Bolívia, Cuba,  Espanha, Honduras, Finlândia, Etiópia, Peru e Uruguai. Em emprego militar muitas destas células seriam operadas até fins da década de 1960, principalmente na América Latina.  Ao todo entre os anos de 1933 e 1948 seriam produzidas setecentos e oitenta e cinco células da família Beechcraft D-17 Staggerwing e UC-43, dispostas em vinte e uma versões civis e quinze militares. Curiosamente devido a escassez de motores durante a Segunda Guerra Mundial estas aeronaves foram produzidas visando a intercambialidade no emprego de uma variada cama de motores, como Wright R-760-E2, Jacobs L-5 (R-830-1), Jacobs L-6 (R-915A3), Wright R-760 -E1, Wright R-1820-F11, Wright SR-1820-F3 , Jacobs L-4 (R-755D), Wright R-975-E2 ou E3, P&W R-985-AN-1 ou AN-3 e P&W R-985-SC-G. Em fins de 1945, a Beechcraft Aircraft Company converteria sua capacidade de produto totalmente para o mercado civil, desenvolvendo a versão  final da aeronave o  modelo G-17S, ao preço unitário de US$ 29.000,00. Seu sucessor natural o Beechcraft Bonanza,  chegaria ao mercado no início da década de 1950, porém apesar de ser menor e menos potente, custava um terço do preço do modelo anterior, podendo ainda transportar até quatro pessoas a uma velocidade semelhante com um menor custo operacional. Novamente o legado da empresa na produção de aeronaves executiva se manteria vivo, com este novo modelo se tonando também um grande sucesso  comercial, se mantendo em produção até os dias atuais. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, destinados a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. 

A recém-criada Força Aérea Brasileira, era a força armada que mais necessitava de modernização neste momento, pois dispunha em sua frota um grande número aeronaves já classificadas como completamente obsoletas, comprometendo o desempenho de várias tarefas entre estas a de transporte, sobre as quais recorria também a incumbência de operar as linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN). Este serviço era de vital importância e havia herdado aeronaves pertencentes ao Correio Aéreo Militar (CAM) e ao Correio Aéreo Naval (CAN), desta frota destacavam-se três células do modelo D-17A Beechcraft Staggerwing oriundas da Aviação Naval da Marinha do Brasil, que foram incorporadas em 1939 para o atendimento da Linha de Correio Tronco Norte. Ao longo dos anos anteriores estas modernas e ágeis aeronaves provaram seu valor no atendimento pleno de diversas linhas postais no interior do país, com estas qualidades atestando que o modelo norte-americano representava vetor ideal para esta tarefa. Assim no final do ano de 1941 seria decidido incrementar esta frota de aeronaves, podendo assim potencializar as linhas aéreas do seu serviço postal militar. Desta maneira em novembro deste mesmo ano o Comando da Aeronáutica (COMAER) oficializaria suas intenções ao governo norte-americano através da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada em Washington. Desta maneira se valendo das vantajosas condições oferecidas nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), seria negociada a cessão de cinquenta e uma aeronaves novas de fábrica da família Beechcraft D-17S Staggerwing.  Este programa receberia a classificação de prioridade, com estas aeronaves sendo então retiradas da linha de produção do fabricante envolvendo quarenta células da versão UC-43 Traveller, destinadas ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos - (USAAC) e onze células GB-2 produzidas originalmente para o atendimento de demandas da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). 
Diferente dos três Beechcraft D-17A Staggerwing originais, estas novas aeronaves estavam equipadas o motor Pratt & Whitney Wasp Junior R-985-NA1 de 450 hp de potência que lhe proporcionavam uma velocidade máxima de 341 km/h. Estes aviões seriam transladados em grupos por oficiais da Força Aérea Brasileira, desde as instalações do fabricante até o Rio de Janeiro, com as primeiras sendo recebidas no Campo dos Afonsos em dezembro de 1942. Ao serem incorporados receberiam a designação de UC-43 e as matriculas "FAB 01 a 51", e após a formação e treinamento de seus tripulantes, seriam disponibilizadas ao comando do Correio Aéreo Nacional (CAN), onde complementariam os veteranos Beechcraft D-17A (DB1e) nas mais diversas linhas áreas do serviço postal. Sua introdução nesta missão ampliaria não só alcance, mas também a efetividade, transportando malas postais ou cargas leves para várias regiões deste país de dimensões continentais. Em operação estas aeronaves passariam a ser muito apreciadas por seus tripulantes e eventuais passageiros (podendo serem transportados até quatro pessoas), principalmente por causa de sua alta velocidade e conforto interno. Paralelamente ao emprego no Correio Aéreo Nacional (CAN), estas aeronaves também seriam empregadas esporadicamente em tarefas orgânicas e administrativas, transportando pessoal e malas postais entre as principais bases aéreas existentes naquele período. Novamente seu excepcional desempenho em serviço, garantiria aos Beechcraft  D-17A, UC-43 e GB-2 o papel de representar como um dos principais vetores no Correio Aéreo Nacional (CAN), pelo menos até meados do ano de 1955. Anteriormente em 1952  estas aeronaves seriam redesignados via normativa da Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) como C-43 passando a portar as matriculas de FAB 2736 á 2786".  A partir deste ano, estes aviões passariam a ser parcialmente substituídos e ou complementados no serviço aéreo postal pelos bimotores Beechcraft AT-7, C-18 e D-18, aeronaves que apesar de ser contemporâneas aos UC-43 e GB-2,  apresentavam melhor performance, alcance e segurança no atendimento das linhas espalhadas pelo interior do Brasil. 
Inicialmente estes novos vetores, operariam em um regime compartilhado nas linhas postais, com estas aeronaves recebendo o apelido de “Beech Bi” e seus antecessores o apelido de “Beech Mono”. Ao longo dos anos por serem empregadas intensivamente nas mais diversas linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) em todo o território nacional, as células dos modelos Beechcraft D-17A Staggerwing, UC-43 Traveller e Beech GB-2, sofreriam um grande desgaste estrutural de suas células.  Com muitas destas aeronaves sendo inutilizadas em acidentes de grande e pequena monta,  reduzindo assim desta maneira drasticamente a frota da Força Aérea Brasileira. No início da década de 1950, os três Beechcraft  D-17A oriundos da Aviação Naval da Marinha do Brasil já haviam sido descarregados e sucateados há alguns anos, com a frota total atingindo apenas vinte e nove células. As aeronaves remanescentes, ainda em boas condições de voo, seriam mantidas em operação, sendo empregadas agora como aeronaves orgânicas a serviço de diversas bases aéreas e Parque de Materiais da Aeronáutica. No entanto logo seria decretada o fim de sua carreira operacional, com estes aviões sendo retirados de serviço à medida que atingiam o cronograma de revisão geral em âmbito de parque, sendo alienadas para venda como sucata.  A última célula ainda em operação seria declarada fora de serviço  somente em abril do ano 1963, com seu destino sendo definido para posterior restauração. Desta maneira esta aeronave seria armazenada, até meados da década de  1970, e após a conclusão deste processo o Beechcraft UC-43 "FAB 2778", seria incluída no acervo de exposição do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro – RJ.    

Em Escala.
Para representarmos o Beechcraft GB-2 Traveller "FAB 2778", fizemos uso do recente kit produzido pela Roden na escala 1/48, modelo básico em nível de detalhamento, mas de fácil montagem e boa qualidade de injeção. O modelo pode ser montado diretamente da caixa para se compor a versão operada pela Força Aérea Brasileira. Empregamos o  antigo set de decais "Aviões Militares Brasileiros - Beechcraft UC-43" confeccionado pela Rafael Pinheiro Decais.
O esquema pintura representa o padrão aplicado as aeronaves da aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) durante a Segunda Guerra Mundial, salientando que as demais células foram recebidas com dois outros esquemas, um pertencente ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos  (USAAC) em dois tons de azul e cinza e outros dois em metal natural, com um destes apresentando faixas em amarelo, com este esquema aplicado originalmente nas linhas de montagem do fabricante. 



Bibliografia : 

- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 á 2015  -  Jackson Flores Jr 

- Aviões Militares Brasileiro - Rafael Pinheiro Decais

- Beechcraft Model 17 / D17A - Aviação Naval Brasileira - http://www.naval.com.br 

- História da Força Aérea Brasileira – Rudnei Cunha Dias da Cunha http://www.rudnei.cunha.nom.br 

- Beechcraft Model 17 Staggerwing - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Beechcraft_Model_17_Staggerwing