REO M-62 e M-543 VTE Socorro Pesado

História e Desenvolvimento.  
Em agosto de 1897, Ransom Eli Olds, um engenheiro e designer de automóveis movido por uma paixão incansável pela inovação, fundou a Olds Motor Vehicle Company na cidade de Lansing, Michigan. Esse marco deu origem à marca Oldsmobile, que, ao longo das décadas, se tornaria sinônimo de excelência no mercado automotivo, conquistando o imaginário global com seus icônicos carros de passeio. A Oldsmobile não foi apenas uma empresa – foi a expressão do sonho de Olds de transformar a mobilidade, conectando pessoas e comunidades por meio de veículos confiáveis e elegantes. Em 1904, com a Oldsmobile já consolidada, Ransom Eli Olds decidiu embarcar em um novo desafio empresarial. Em parceria com outros empreendedores, ele fundou a REO Motor Car Company, na qual detinha 52% do capital acionário e assumiu os papéis de presidente e gerente geral. Para focar nessa nova empreitada, Olds tomou a difícil decisão de deixar a Olds Motor Vehicle Company em 1905, confiando que sua visão continuaria a prosperar em novas mãos. A REO, batizada com as iniciais de seu fundador, tornou-se o próximo capítulo de sua jornada, marcada pela mesma determinação que o levou a revolucionar a indústria automotiva. Para garantir a eficiência e a qualidade da REO, Olds demonstrou sua visão estratégica ao estabelecer empresas subsidiárias dedicadas à produção de componentes essenciais. A National Coil Company, a Michigan Screw Company e a Atlas Drop Forge Company foram criadas para formar uma cadeia de suprimentos confiável, reduzindo a dependência de fornecedores externos e assegurando a robustez dos veículos REO. Essa abordagem refletia não apenas sua perspicácia empresarial, mas também seu compromisso com a criação de empregos e o fortalecimento da economia local em Michigan. Inicialmente, Olds planejou nomear sua nova empresa como “R.E. Olds Motor Car Company”. Contudo, uma disputa legal movida pela Olds Motor Vehicle Company, que alegava confusão potencial entre os nomes devido à semelhança fonética, levou à mudança para “REO”. A partir de então, a marca REO, escrita em letras capitais ou, em algumas ocasiões, como “Reo”, tornou-se um símbolo de inovação e qualidade, estampada em veículos e materiais promocionais que conquistariam admiradores nos Estados Unidos e além. Em 1905, a REO lançou seu primeiro modelo, o Reo Speed-Wagon, um precursor das picapes modernas que combinava funcionalidade com design prático. O sucesso inicial do Speed-Wagon trouxe resultados animadores, consolidando a REO como uma força ascendente no mercado automotivo. Em 1907, a empresa alcançou um faturamento bruto superior a 4,5 milhões de dólares, posicionando-se entre as quatro maiores montadoras dos Estados Unidos. Esse êxito foi impulsionado pela dedicação de Olds e de sua equipe, que trabalhavam incansavelmente para expandir o portfólio da empresa com modelos que atendiam às necessidades de um público diversificado. Apesar do sucesso inicial, a partir de 1908, a REO enfrentou desafios crescentes devido à concorrência de montadoras emergentes, como a Ford Motor Company e a General Motors. Mesmo com a introdução de carros mais modernos e luxuosos, a participação de mercado da REO começou a declinar, exigindo adaptação e inovação contínuas para manter sua relevância. Em 1910, a REO estabeleceu uma divisão dedicada à fabricação de caminhões, com uma planta industrial localizada em St. Catharines, Ontário, Canadá. Essa iniciativa ampliou o alcance da empresa, atendendo à crescente demanda por veículos utilitários. Um dos episódios mais memoráveis da história da REO ocorreu em 1912, com a épica viagem Trans-Canadá. Um carro de turismo especial REO de 1912 percorreu 4.176 milhas (6.720 km) de Halifax, Nova Escócia, a Vancouver, Colúmbia Britânica, demonstrando a durabilidade e a confiabilidade dos veículos da marca. 

Em 1915, Ransom Eli Olds passou o cargo de gerente geral a seu protegido, Richard H. Scott, e, em 1923, deixou a presidência, mantendo-se como presidente do conselho. Sua saída da liderança operacional marcou o fim de uma era, mas seu legado continuou a guiar a empresa. Nesse mesmo ano, a REO lançou o “Motor Pullman Car”, um veículo recreativo pioneiro, conhecido popularmente como motorhome. Esse modelo conquistou uma fatia significativa do mercado, refletindo a capacidade da REO de antecipar tendências e atender às aspirações de uma sociedade em busca de novas formas de mobilidade e lazer. Entre 1915 e 1925, sob a liderança de Richard H. Scott, a REO Motor Car Company desfrutou de um período de alta lucratividade, consolidando sua posição no competitivo mercado automotivo norte-americano. Esse sucesso inspirou a empresa a lançar um ambicioso programa de expansão, projetado para ampliar sua competitividade ao oferecer carros de passeio em diversas faixas de preço, acessíveis a diferentes classes sociais. Modelos como o Reo Flying Cloud, lançado em 1927, e o sofisticado Reo Royale 8, introduzido em 1928, alcançaram êxito comercial, conquistando admiradores pela combinação de design e desempenho. Contudo, o programa de expansão revelou-se insustentável, culminando em um retumbante fracasso agravado pela Grande Depressão de 1929, que abalou profundamente a indústria automotiva dos Estados Unidos. As consequências da Grande Depressão foram devastadoras, trazendo perdas financeiras severas para a REO e para toda a cadeia produtiva automotiva. Diante desse cenário crítico, Ransom Eli Olds, fundador da empresa, interrompeu sua aposentadoria em 1933, reassumindo o comando com a determinação de reverter os resultados negativos. Com sua visão estratégica e experiência, Olds conseguiu, em um curto espaço de tempo, estabilizar as finanças da companhia, reacendendo a esperança entre trabalhadores e investidores. Sua liderança foi um farol em tempos de incerteza, mas, fiel ao seu legado de delegar responsabilidades, ele se retirou novamente do comando no final de 1934, deixando a empresa em bases mais sólidas. Nesse período, análises mercadológicas revelaram a necessidade de uma mudança estratégica. Em 1936, a REO tomou a decisão de abandonar a produção de carros de passeio, concentrando-se exclusivamente no mercado de caminhões, onde já vinha obtendo resultados promissores desde 1934. Modelos como o REO Fire Truck, voltado para bombeiros, e, a partir de 1936, o REO Bus e o REO Speed Wagon Truck, destacaram-se pela robustez e versatilidade, conquistando a confiança de clientes comerciais. Esses veículos não eram apenas máquinas – eram ferramentas que apoiavam comunidades, desde o combate a incêndios até o transporte público, refletindo o compromisso da REO com a funcionalidade e o serviço. Apesar dos sucessos no segmento de caminhões, a REO enfrentou problemas de gestão que geraram instabilidade financeira e fiscal. No início de 1939, a empresa atingiu seu ponto mais crítico, com a interrupção da linha de produção devido à inadimplência com fornecedores, que comprometeu o fluxo de componentes. Esse momento de dificuldade testou a resiliência dos trabalhadores, que, mesmo diante da incerteza, mantiveram a esperança de um recomeço. 
A virada veio em 1940, impulsionada pelo agravamento das tensões geopolíticas na Europa e no Sudeste Asiático. Antecipando a possibilidade de envolvimento na Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos implementou medidas para fortalecer sua indústria automotiva, visando preparar a cadeia produtiva para o reequipamento das forças armadas. Nesse contexto, os credores da REO receberam aportes governamentais, permitindo à empresa recuperar sua capacidade produtiva. Esse apoio foi mais do que financeiro – foi um reconhecimento do potencial da REO para contribuir com o esforço nacional, reacendendo o orgulho de seus funcionários. A partir de meados de 1941, a REO Motor Car Company integrou-se plenamente ao esforço de guerra norte-americano, redirecionando suas linhas de produção para a fabricação de componentes militares, incluindo motores e caminhões de porte médio para diversas aplicações. Um dos destaques foi a produção do Studebaker US6 2½-ton 6x6 truck, um caminhão robusto que se tornou essencial para a logística militar. A REO entregou mais de 22 mil unidades desse modelo, muitas destinadas à União Soviética sob os termos do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). O término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, trouxe à REO Motor Car Company um momento de estabilidade financeira há muito não experimentado, resultado de sua intensa participação no esforço de guerra norte-americano. A produção de caminhões militares, como o Studebaker US6, havia fortalecido a empresa, mas, com o fim do conflito, a demanda por esses veículos diminuiu gradualmente, exigindo uma reorientação estratégica. Para os trabalhadores da REO, que haviam dedicado longas horas às linhas de produção durante a guerra, esse novo cenário representava tanto um desafio quanto uma oportunidade de redefinir o futuro da companhia, mantendo viva a chama da inovação que sempre a caracterizou. Reconhecendo a necessidade de diversificar suas operações, a REO lançou, em 1946, uma divisão industrial dedicada à produção de cortadores de grama movidos a gasolina. Essa decisão, aparentemente simples, revelou-se uma estratégia visionária. Os cortadores de grama garantiram lucros consistentes e um fluxo de caixa positivo, sustentando a empresa durante os três anos seguintes, marcados por uma significativa redução nas vendas de caminhões. Para os funcionários, essa nova linha de produção não era apenas uma fonte de renda – era um símbolo de adaptação, permitindo que a REO atravessasse um período de incerteza com resiliência e esperança. O aprendizado adquirido com a fabricação de caminhões militares sob licença durante a guerra inspirou a liderança da REO a reinvestir no segmento de veículos pesados. Antecipando a necessidade iminente de renovação da frota militar norte-americana, a empresa destinou recursos próprios ao desenvolvimento de uma nova família de caminhões de transporte pesado com tração integral. Essa aposta refletia a confiança dos engenheiros e gestores da REO em sua capacidade de inovar, bem como o compromisso de atender às demandas de um mercado em transformação. No final da década de 1940, o Exército dos Estados Unidos lançou uma concorrência para o desenvolvimento de um novo caminhão militar com tração 6x6, destinado a substituir a frota envelhecida de modelos como o GMC CCKW 353 e o Studebaker US-6G, que apresentavam sinais de desgaste e obsolescência. Esse programa representava uma oportunidade de grande relevância, com um contrato que prometia revitalizar a indústria automotiva militar. 

Diversas montadoras apresentaram propostas, mas o projeto conceitual da REO, centrado no caminhão M-34, destacou-se pela sua ousadia e inovação, capturando a atenção dos militares. Equipado com um sistema de trânsito subaquático, o M-34 podia atravessar rios e lagos por até quatro horas, utilizando um snorkel para o motor e um escapamento estendido. Essa capacidade, incomum para a época, desafiava as convenções e posicionava o M-34 como uma das maiores inovações no universo dos caminhões, um legado que permanece admirado até hoje. Alimentado por um motor a gasolina OA-331 Continental I-6, o veículo era capaz de transportar até duas toneladas e meia, destacando-se especialmente em operações fora de estrada, onde sua tração integral 6x6 garantia desempenho excepcional. Um primeiro lote de produção pré-série seria contratado, com estes caminhões sendo destinados a um extenso programa de testes de campo, com estes sendo iniciados no início do ano de 1950. O resultado deste processo, levaria o comando do Corpo Técnico do Exército dos Estados Unidos (US Army) há homologar seus parâmetros operacionais.  Em seguinte seria firmado um primeiro contrato envolvendo a aquisição de cinco mil caminhões, que seriam produzidos nas linhas de montagem da montadora na cidade Lansing, no estado de Michigan. Os primeiros REO M-34 passariam a ser entregues as unidades operativas do exército já em setembro de 1950. O REO M-34 teve seu batismo de fogo durante a Guerra da Coreia (1950-1953), quando centenas de unidades foram enviadas para a linha de frente. Em terrenos acidentados e sob condições extremas, o caminhão demonstrou sua capacidade única de atravessar rios e córregos, graças ao inovador sistema de trânsito subaquático. Essa habilidade conquistou o coração das tropas, que carinhosamente o apelidaram de “Eager Beaver” – uma referência a um castor animado de desenho animado, simbolizando sua capacidade de atravessar rios e córregos em terrenos adversos. No entanto, o uso contínuo em operações reais revelou limitações no projeto original. Problemas de desempenho em terrenos desafiadores e a potência insuficiente do motor a gasolina OA-331 Continental I-6 de seis cilindros demandaram melhorias. A REO respondeu com agilidade, introduzindo alterações significativas, como a adoção de conjuntos duplos de pneus nos eixos traseiros, que aumentaram a capacidade de carga e facilitaram o deslocamento fora de estrada. O motor foi substituído por um novo conjunto multifuel, mais eficiente e adaptável, resultando na evolução do modelo para o REO M-35. Após o fim da Guerra da Coreia em 1953, a REO enfrentou um revés significativo ao perder uma concorrência para a General Motors Corporation, que conquistou novos contratos de produção com o Exército dos Estados Unidos. Esse golpe testou a resiliência da empresa, mas a REO encontrou uma nova oportunidade com o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. A crescente demanda por caminhões militares levou à assinatura de um novo contrato, permitindo que a REO retomasse a produção em larga escala de seu modelo REO M-35.
A introdução do REO M-35A2, uma evolução aprimorada do caminhão militar M-35, marcou um capítulo notável na história da REO Motor Car Company e das forças armadas norte-americanas. Equipado com o motor multicombustível LDT 465 Turbo de 478 polegadas cúbicas (7,8 L), produzido pela Continental Motors Company, Hercules ou White Motor Company, o M-35A2 desenvolvia 134 cv (100 kW) e 330 pés-lb (447 N⋅m) de torque. Esse motor, projetado para operar com uma ampla gama de combustíveis – incluindo diesel, querosene, óleo de aquecimento e gasolina –, oferecia uma flexibilidade operacional que era essencial em cenários de guerra e missões remotas. Para os soldados que dependiam do M-35A2, essa versatilidade não era apenas uma especificação técnica – era a garantia de que suprimentos e apoio chegariam, independentemente das condições. O M-35A2 contava com uma transmissão manual de cinco velocidades, acoplada a uma caixa de transferência divorciada de duas velocidades, como a Rockwell 136-21 (operada por sprag) ou a Rockwell 136-27 (selecionável e operada a ar). Essa configuração assegurava desempenho robusto em terrenos desafiadores, consolidando o caminhão como um pilar da logística militar. Embora a versão A2 fosse a mais comum, a família M-35 incluía os modelos Standard, A1, A2 e A3, com o Standard equipado com o motor a gasolina REO “Gold Comet” ou Continental OA331 de seis cilindros. As versões A1 e A3, por sua vez, frequentemente utilizavam transmissões de quatro velocidades, enquanto a maioria dos A2 contava com caixas “diretas” de cinco velocidades, otimizando a eficiência. Adotado em larga escala a partir de 1965, o REO M-35A2 tornou-se o principal caminhão de transporte das forças armadas norte-americanas, destacando-se pela sua capacidade de carga de até duas toneladas e meia e pela adaptabilidade a diversas funções. Além do modelo padrão, foram desenvolvidas versões especializadas, como tanque de combustível e cisterna de água (M-49), oficina de reparos gerais (M-109), basculante (M-47), guindaste (M-108, M-62 e M-543), bombeiro (530B) e reparo de linhas telefônicas (M-763). Uma variante de distância entre eixos extralonga, o M-36, com uma caçamba de 16 pés (4,9 metros), ampliou ainda mais sua utilidade. Para os militares que operavam essas versões, o M-35A2 era mais do que um veículo – era um parceiro indispensável, capaz de transformar desafios logísticos em soluções práticas. A versatilidade do M-35A2 transcendeu as fronteiras dos Estados Unidos, com milhares de unidades exportadas ou produzidas sob licença para as forças armadas de países como Argentina, Áustria, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Coreia do Sul, Egito, Israel, Turquia, Vietnã e muitos outros. Em cada nação, o caminhão carregava a missão de conectar tropas, transportar suprimentos e apoiar comunidades, muitas vezes em condições extremas. Nos Estados Unidos, a família M-35 permaneceu em serviço até 1996, quando foi gradualmente substituída pelos veículos do programa FMTV (Family of Medium Tactical Vehicles), como o M-1078. Essa transição marcou o fim de uma era, mas não apagou o impacto do M-35A2, que continuou a ser lembrado como um dos caminhões militares mais confiáveis e inovadores de sua época. Sua capacidade de operar em terrenos adversos, atravessar corpos d’água e adaptar-se a múltiplas funções deixou uma marca indelével na história militar.  

Emprego no Exército Brasileiro.
A adesão do Brasil ao esforço de guerra aliado durante a Segunda Guerra Mundial, por meio do programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), representou um divisor de águas para as Forças Armadas Brasileiras. Entre 1942 e 1945, o país recebeu um vasto conjunto de recursos, incluindo aeronaves, navios, armamentos, veículos e equipamentos militares, que fortaleceram significativamente sua capacidade operacional. Para o Exército Brasileiro, esse apoio traduziu-se na incorporação de mais de cinco mil caminhões militares com tração integral, pertencentes às famílias GMC CCKW, Studebaker US6G, Ward LaFrance, Corbitt e Diamond. Esses veículos, destinados a missões de transporte e aplicações especializadas – como socorro, cisterna, comando e basculante –, trouxeram uma experiência transformadora, elevando a mobilidade de tropas e cargas a patamares até então inimagináveis. Para os soldados que os operavam, esses caminhões eram mais do que máquinas – eram símbolos de prontidão, conectando a determinação militar à missão de defender a soberania nacional. No entanto, ao final da década de 1950, essa frota começou a apresentar preocupantes índices de indisponibilidade. O desgaste operacional, agravado pela dificuldade de importar peças de reposição – especialmente porque muitos desses modelos haviam sido descontinuados nos Estados Unidos há mais de uma década –, comprometeu gravemente a operacionalidade do Exército Brasileiro. Essa situação gerou profunda preocupação no comando da Força Terrestre, pois a redução da capacidade tática ameaçava a eficácia das operações militares. Para os militares responsáveis pela logística, o desafio era claro: encontrar soluções que preservassem a mobilidade essencial para missões de integração territorial e defesa, em um contexto de recursos limitados. A gravidade do cenário demandou estudos minuciosos para identificar soluções viáveis a curto e médio prazo. A opção mais imediata seria a aquisição de um número semelhante de caminhões militares modernos com tração 4x4 e 6x6, com destaque para os modelos REO M-34 e M-35, conhecidos por sua robustez e versatilidade em operações exigentes. Contudo, o investimento necessário para adquirir um lote significativo desses veículos revelou-se incompatível com as restrições orçamentárias do Exército Brasileiro na época. Essa realidade impôs a busca por alternativas mais práticas, capazes de equilibrar eficácia operacional com viabilidade financeira. Após análises detalhadas, três soluções complementares foram propostas. A primeira consistia na aquisição de um número reduzido de caminhões militares modernos, como os REO M-34 e M-35, para atender às necessidades mais críticas. A segunda envolvia a repotencialização dos caminhões GMC CCKW 352-353 e Studebaker US6G, visando prolongar sua vida útil por meio de reformas e atualizações. A terceira alternativa propunha a incorporação de caminhões comerciais militarizados, que poderiam assumir missões secundárias, aliviando a pressão sobre a frota militar. 

Juntas, essas medidas prometiam restaurar um nível mínimo de capacidade operacional, garantindo que o Exército pudesse cumprir suas responsabilidades com maior segurança. No entanto, a segunda opção – a repotencialização dos caminhões existentes – foi descartada após estudos aprofundados conduzidos pela equipe do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2). A análise revelou que a falta de experiência técnica e infraestrutura para implementar um programa de tal magnitude em escala tornava a iniciativa inviável.  Com o desgaste operacional e a crescente dificuldade de obtenção de peças de reposição, a capacidade de mobilização da Força Terrestre estava comprometida. Nesse cenário, a adoção de caminhões militarizados produzidos no Brasil ganhou destaque, impulsionada pelo apoio do governo brasileiro ao fortalecimento da indústria automotiva nacional. Essa iniciativa, que atraiu montadoras internacionais ao país, representava mais do que uma solução logística – era um símbolo de progresso, conectando a visão estratégica do Exército ao desenvolvimento econômico e industrial do Brasil. A primeira medida significativa foi a formalização de um acordo com a Fábrica Nacional de Motores (FNM), uma empresa estatal de capital misto sediada no Rio de Janeiro, que mantinha uma parceria comercial com a montadora italiana Alfa Romeo para a produção de caminhões médios e pesados. Por meio desse acordo, o Exército Brasileiro passou a incorporar versões militarizadas dos modelos civis FNM D-9500 e FNM D-11000, com adoção iniciada no começo da década de 1960. Esses caminhões destacavam-se por seu baixo custo, robustez e manutenção acessível, características que atendiam às limitações orçamentárias da época. Apesar de suas qualidades, os caminhões FNM não foram projetados como veículos militares, o que restringia seu desempenho em ambientes fora de estrada. Essa limitação impediu que substituíssem integralmente os antigos caminhões americanos, que, mesmo obsoletos, ofereciam tração superior em terrenos desafiadores. Ainda assim, entre 1957 e 1960, uma quantidade significativa de FNM D-9500 e D-11000 foi adquirida, sendo classificados como Viatura de Transporte não Especializada (VTNE). A incorporação dos caminhões FNM trouxe um alívio imediato, mas não eliminou a necessidade de veículos militares com tração integral 4x4 ou 6x6, essenciais para missões táticas em terrenos adversos. Consciente dessa lacuna, o comando do Exército Brasileiro voltou-se ao mercado internacional em busca de um modelo que combinasse excelência técnica com viabilidade econômica. A meta era ambiciosa: adquirir pelo menos dois mil novos caminhões, incluindo versões especializadas para funções como cisterna, comando e basculante. Esse volume de caminhões,  seria crucial para restaurar a capacidade operacional, excedia em muito o orçamento disponível, tornando indispensável a obtenção de uma linha de crédito internacional para financiar o programa.
Em 1957, após uma análise detalhada de diversos modelos de veículos militares, o caminhão norte-americano REO M-35 6x6 destacou-se como o que melhor atendia às especificações exigidas pela Força Terrestre Brasileira. Contudo, o elevado custo unitário de cada unidade fabricada inviabilizou a aquisição de veículos novos. Diante desse cenário, o Comando do Exército Brasileiro optou por explorar a compra de caminhões usados, iniciando negociações com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD). O objetivo era adquirir entre 500 e 1.000 veículos, valendo-se dos termos do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952. Esse acordo, por meio do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), facilitava o acesso a equipamentos militares modernos, com o propósito de fortalecer a defesa regional frente à hipotética ameaça de expansão socialista. As tratativas evoluíram para um amplo pacote de assistência militar, que incluía não apenas caminhões, mas também carros de combate, blindados de transporte de tropas e veículos leves. Esse pacote visava atender à premente necessidade de renovação dos recursos materiais do Exército Brasileiro e das demais Forças Armadas. No que se refere aos caminhões militares com tração integral 6x6, o acordo previa o fornecimento de mais de dois mil veículos usados, todos em excelente estado de conservação, provenientes da reserva estratégica do Exército dos Estados Unidos (US Army). A frota era composta majoritariamente pelos modelos REO M-34 G742 (chassi M-44 motor REO OA331 6 cil 127 hp gasolina) e M-35A2 G-742, além de diversas variantes especializadas, como os REO M-34 Talha, M-109 Oficina, M-47 Transporte, M-611C Cisterna Combustível, M-41C Transporte, M-49C Cisterna Combustível, M-609 Oficina, M-613 Oficina, M-614 Basculante, M-108 Oficina, M-543 Socorro, M-602 Transporte, M-54 Transporte e M-62 Socorro. As primeiras unidades, dos modelos REO M-34 e M-34 Talha, começaram a ser entregues no início de 1958, totalizando cerca de mil caminhões. Essa aquisição representou um marco significativo, permitindo ao Exército Brasileiro recuperar grande parte de sua mobilidade operacional. Contudo, devido a atrasos nos cronogramas de entrega, os primeiros caminhões REO M-35 A2C, juntamente com suas variantes especializadas, só foram recebidos a partir do início de 1965. Em serviço no Exército Brasileiro, os REO M-34  receberiam a designação de Viatura de Transporte não Especializado Carga Emprego Geral 2½-Ton, 6×6 (VTNE), passando a serem empregados principalmente em missões de transporte de tropas, cargas, reboque de peças de artilharia e demais funções não especializadas de logística. Esse modelo ao longo do anos seguintes se tornaria essencial no Exército Brasileiro em operações de deslocamento de unidades militares, especialmente em regiões de difícil acesso.  

No âmbito do fortalecimento das capacidades logísticas e operacionais, o Exército Brasileiro incorporou, ao lado dos caminhões de transporte REO M-34 G742 6x6, os primeiros veículos de socorro REO M-62 Wrecker. Esses caminhões, projetados para missões de resgate e apoio em operações de campo, foram concebidos em 1950 pelo Exército dos Estados Unidos com o objetivo de substituir os já desgastados Diamond T-969 Wrecker e Ward La France M-1/A1, amplamente utilizados durante a Segunda Guerra Mundial. O desenvolvimento do REO M-62 Wrecker culminou na construção de seu protótipo inicial em 1952. O veículo preservava o chassi e o conjunto mecânico do caminhão REO M-40C, equipado com o motor a gasolina Continental R6602, capaz de gerar 196 cavalos de potência. A transmissão contava com cinco velocidades, complementada por uma caixa de transferência de duas velocidades, garantindo robustez e versatilidade. Um dos destaques do M-62 era seu guindaste hidráulico, fabricado pela Austin Western Company, com capacidade de elevação de até 9 toneladas (20.000 libras). Esse guindaste, operado por uma bomba acionada pela tomada de força do motor, conferia ao veículo grande eficiência em operações de recuperação. Após rigorosos testes de campo, o REO M-62 foi aprovado para produção em série, com as primeiras unidades entrando em serviço ativo em meados de 1953. No Brasil, estima-se que o Exército tenha recebido aproximadamente 12 unidades desses caminhões especializados, designados como "Viatura de Transporte Especializado Socorro Pesado 5 Toneladas 6x6 M-62". Essas viaturas foram alocadas aos batalhões de logística, onde substituíram os antigos veículos de socorro leve Diamond T 969/A/0 G-509, de 4 toneladas e tração 6x6, recebidos durante a Segunda Guerra Mundial e já em estado avançado de desgaste. Nos Estados Unidos, questões jurídicas relacionadas ao licenciamento do sistema de guindaste da Austin Western Company levaram a R.E. Olds Motor Car Company a buscar alternativas para atender às demandas do mercado interno. A solução encontrada foi a adoção de um novo guincho hidráulico fabricado pela Gar Wood & Company, resultando no modelo REO M-543. Essa nova versão passou a predominar nas forças armadas norte-americanas e, consequentemente, foi fornecida ao Exército Brasileiro no âmbito do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), complementando os contratos previamente estabelecidos. Estima-se que um total de quinze destes caminhões seriam cedidos neste pacote, sendo dispostos nas versões REO M-543, M-543A1 e M-543A2, passando a serem recebidos a partir de maio de 1967, juntamente com os primeiros lotes dos modelos REO M-35. Estes caminhões, também seriam distribuídos aos batalhões de logistica, com a missão de substituir e complementar agora, os antigos VE Socorro Pesado de Rodas 6 toneladas 6x6  Ward La France M-1/A1 G-116 Mod 1000, que se encontravam em serviço no Exército Brasileiro, desde a Segunda Guerra Mundial. 
Ao longo das décadas, os caminhões REO M-62 e M-543 desempenharam um papel fundamental no Exército Brasileiro, prestando serviços valiosos em diversas regiões do país. Esses veículos, essenciais para operações logísticas e de socorro, foram amplamente empregados em missões que exigiam robustez e confiabilidade, consolidando sua relevância nas unidades de logística. A partir do final da década de 1970, os caminhões REO M-34 e M-35, peças-chave na mobilidade operacional do Exército, começaram a apresentar sinais de desgaste devido ao uso intensivo e prolongado. A redução na disponibilidade dessas viaturas, aliada à dificuldade de manutenção, levou o Exército a planejar estratégias de médio e longo prazo, que incluíam tanto a substituição gradual da frota quanto a repotencialização dos veículos ainda em operação. Nesse contexto, os primeiros esforços de modernização foram conduzidos entre 1981 e 1983 pelo Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar (Pq R Mnt/1), com a revitalização de um lote de caminhões REO M-34. Um dos principais avanços foi a substituição do motor original a gasolina REO OA331, de 6 cilindros, pelo motor diesel nacional MWM 229-6, também de 6 cilindros, mais econômico e adaptado às condições locais. Essa modernização foi estendida a outros modelos REO em serviço, incluindo os REO M-62 e M-543, designados como Viatura Especializada de Socorro Pesado de Rodas 5 Toneladas 6x6. Os trabalhos foram realizados pelos Parques Regionais de Manutenção da 3ª e 7ª Regiões Militares (Pq R Mnt/3 e Pq R Mnt/7), garantindo a continuidade operacional dessas viaturas. A repotencialização permitiu prolongar a vida útil desses caminhões, que continuaram a desempenhar funções críticas em batalhões de logística. Na década de 1990, o Exército Brasileiro iniciou a incorporação de viaturas especializadas de socorro de 5 e 6 toneladas produzidas pela Mercedes-Benz do Brasil S/A. Essa transição aliviou a demanda sobre a frota de caminhões REO, permitindo a desativação progressiva dos M-62, que, por sua idade avançada, apresentavam desgaste significativo. Até 2002, pelo menos duas unidades do M-62 permaneceram em serviço nos 3º e 4º Batalhões de Logística (B Log), um testemunho de sua durabilidade. Curiosamente, alguns REO M-543 continuaram em operação até os dias atuais, integrando as frotas do 16º e 25º Batalhões de Logística (B Log), do 20º Batalhão de Logística de Paraquedista (B Log Pqdt) e da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Na AMAN, destaca-se um M-543 com modificação no grupo ótico frontal, equipado com lentes quadradas, uma adaptação que reflete a capacidade do Exército em customizar seus equipamentos para atender às necessidades operacionais. Apesar da introdução de novos modelos Mercedes-Benz MB 2246, de 6 toneladas, a partir dos anos 2000, o Exército Brasileiro só passou a contar com um veículo militar de socorro verdadeiramente especializado em agosto de 2023, com a aquisição dos Navistar Defense MaxxPro MRV-PK 6x6, obtidos por meio do Programa de Vendas Militares Estrangeiras (Foreign Military Sales – FMS) dos Estados Unidos. Esses novos veículos representam um avanço significativo na capacidade de socorro especializado, complementando a frota e marcando o início de uma nova era na logística militar brasileira.

Em Escala. 
Para representarmos a Viatura de Transporte Especializado Socorro 5 toneladas 6X6 REO M-62 optamos pelo antigo kit da Renwal Blueprint Models na escala 1/32, único modelo disponível nesta escala. Apesar de certa idade este kit apresenta ainda um excelente padrão de qualidade em termos de detalhes e encaixes. Não é necessário proceder nenhuma alteração para se compor a versão empregada pelo Exército Brasileiro. Empregamos decais confeccionados pelo fabricante Decal & Book pertencentes ao "Set Forças Armadas Brasileiras 1942/1982". 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro, que seria aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982.  Tanto os REO M-62 quanto os M-543, M-543A1 e M-543A2 foram recebidos neste padrão, mantendo este esquema até o ano 1982, quando gradativamente passariam a ostentar o esquema de camuflagem tático em dois tons adotado pela Força Terrestre. 


Bibliografia :
- M-35 2½ ton cargo truck - http://en.wikipedia.org/wiki/M35_2%C2%BD_ton_cargo_truck 
- M-62 medium Wrecker - https://www.armyvehicles.dk/m62wrecker.htm
- M-34 e M-35 Series, Olive Drab -  http://olive-drab.com/od_mvg_www_deuce_m35.php

M-59A1 FMC (VBTP)

História e Desenvolvimento.
A origem e o emprego em larga escala dos carros blindados de transporte de tropas (VBTP) consolidaram-se durante a Segunda Guerra Mundial, com o uso de veículos de tração meia-lagarta que se destacaram pela mobilidade e versatilidade. No Exército Alemão (Wehrmacht), o modelo Hanomag Sd.Kfz. 251 tornou-se emblemático, sendo amplamente utilizado em diversas frentes. Já entre as forças aliadas, especialmente os exércitos norte-americano e britânico, a predominância foi dos modelos M-2, M-3 e M-5 Half Track Car, produzidos pela White Motor Company. Esses veículos foram empregados em grande quantidade em todos os teatros de operações, desempenhando papéis cruciais no transporte de tropas e carga. Apesar de sua relevância no esforço de guerra, os modelos norte-americanos apresentavam uma deficiência significativa: a ausência de uma cobertura blindada. Essa limitação deixava os soldados vulneráveis a disparos de armas leves e estilhaços de projéteis, expondo uma falha estrutural no projeto. Para corrigir esse problema, ainda nas fases finais do conflito, foi desenvolvido o projeto M-44 (T16), um veículo blindado de transporte derivado do carro de combate M-18 Hellcat. Esse modelo foi concebido com o objetivo principal de oferecer proteção integral aos seus ocupantes, resultando dimensões consideravelmente superiores aos meia-lagartas da época e uma capacidade de transporte de até 24 soldados totalmente equipados, com um peso total de combate de 23 toneladas. Três protótipos do M-44 foram construídos e submetidos a testes de campo, mas os resultados revelaram limitações críticas. O peso excessivo do veículo comprometia sua velocidade e capacidade de transposição de terrenos irregulares, levando ao cancelamento do projeto em junho de 1945. Apesar do insucesso, o conceito de um blindado de transporte de tropas com proteção reforçada não foi abandonado. Em setembro do mesmo ano, foi aberta uma concorrência para o desenvolvimento de um novo VBTP, com capacidade para transportar até 10 soldados e baseado no chassi do veículo de transporte de carga T-43 Cargo Carrier. Diversas montadoras apresentaram propostas em meados de 1946, que foram avaliadas pelo Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army). O modelo conceitual T-18E1, desenvolvido pela International Harvester Company (IHC), destacou-se nos testes, resultando na assinatura de um contrato para a produção de quatro protótipos iniciais. Esses protótipos foram concluídos e submetidos a ensaios a partir de 1947, em um processo que se estendeu por mais de oito meses. Durante os testes, foram identificadas diversas necessidades de melhorias, que orientaram os próximos passos no desenvolvimento desse tipo de blindado.

Após a incorporação das melhorias identificadas nos testes iniciais, os quatro protótipos do veículo blindado foram submetidos a novos ensaios, obtendo, subsequentemente, a homologação para produção em série. Em maio de 1950, foi assinado o primeiro contrato para a aquisição de mil unidades, com o modelo recebendo a designação oficial de M-75 Veículo de Infantaria Blindado (Armored Personnel Carrier - APC). A entrega das primeiras unidades às unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) teve início em 1952, substituindo de imediato os veículos meia-lagarta White M-3 e M-5 Half Track, ainda em operação. Embora mais leve que os protótipos do modelo M-44, o M-75 apresentava um peso de combate de 18 toneladas. Durante exercícios operacionais, constatou-se que o veículo não conseguia acompanhar a velocidade dos carros de combate no campo de batalha, violando um princípio fundamental da mobilidade: a sincronia na movimentação das unidades motorizadas de uma força terrestre. Essa limitação gerou grande preocupação no Comando do Exército dos Estados Unidos, resultando na decisão de cancelar o contrato de produção ainda em vigor. Como medida emergencial, centenas de veículos meia-lagarta M-3 e M-5, previamente transferidos para a reserva, foram reativados. Para sanar essa deficiência, em dezembro de 1953, o Exército lançou uma nova concorrência com o objetivo de desenvolver um veículo blindado de transporte de tropas que atendesse a requisitos mais modernos. O projeto previa a aquisição de pelo menos cinco mil unidades, destinadas a substituir tanto os remanescentes meia-lagartas quanto os recém-introduzidos M-75. O novo veículo deveria manter a premissa de oferecer proteção adequada aos ocupantes, mas com um peso total reduzido, garantindo maior agilidade no campo de batalha. Além disso, exigia-se capacidade anfíbia para a transposição de rios e pequenos cursos d’água, bem como a possibilidade de ser transportado por aviões de grande porte, então em desenvolvimento. Em janeiro de 1954, diversas empresas do setor automotivo começaram a apresentar suas propostas técnicas e comerciais. O Comando de Material do Exército dos Estados Unidos realizou as primeiras avaliações, culminando na elaboração de uma lista final (short list) que incluiu os modelos propostos pela International Harvester Corporation (IHC) e pela Food Machinery and Chemical Corporation (FMC). Esse processo marcou o início de uma nova etapa no desenvolvimento de blindados de transporte de tropas, com foco em maior eficiência e adaptabilidade às demandas do campo de batalha moderno.

O desenvolvimento do M-59 Armored Personnel Carrier (APC) representou um marco significativo na modernização dos veículos blindados de transporte de tropas (VBTP) do Exército dos Estados Unidos, buscando atender às demandas por maior mobilidade, proteção e versatilidade no campo de batalha. Após a concorrência lançada em dezembro de 1952, que visava substituir os veículos meia-lagarta e o recém-introduzido M-75 APC, o Exército dos Estados Unidos (US Army) financiou a construção de protótipos de cada modelo apresentado, com o objetivo de submetê-los a ensaios de campo comparativos. Os protótipos foram entregues pelos fabricantes até o final de abril de 1953, e o modelo T-59, desenvolvido pela Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), destacou-se frente aos concorrentes, sendo selecionado pelo Comando do Exército dos Estados Unidos. Essa escolha foi motivada pela capacidade do T-59 de atender aos requisitos estabelecidos, que priorizavam baixo custo de produção e manutenção, além de maior eficiência operacional em comparação com os modelos anteriores. Um dos pilares do projeto do T-59, posteriormente designado M-59 APC, era a utilização de componentes compartilhados com o carro de combate médio M-41 Walker Bulldog. Essa comunalidade de peças não apenas reduzia os custos de produção, mas também otimizava a logística de manutenção, facilitando a gestão de peças de reposição. O M-59 era propulsionado por dois motores comerciais a gasolina General Motors GMC-302, que, combinados, geravam uma potência de 7.200 HP. Esses motores estavam acoplados a uma transmissão hidramática Cadillac 301MG, que aprimorava a dirigibilidade e o controle pelo motorista. O veículo foi projetado com uma capacidade anfíbia limitada, equipado com um sistema de vedação de borracha em todas as portas e escotilhas, permitindo operações em águas calmas a uma velocidade máxima de 6,9 km/h. Seu casco soldado, construído em aço, oferecia proteção contra armas leves, com espessuras variando de 0,375 polegadas (0,95 cm) na parte superior a 1 polegada (2,49 cm) na base, com uma espessura média de 0,625 polegadas (1,59 cm). O amplo compartimento interno permitia o transporte de até 10 soldados totalmente equipados ou cargas diversas, incluindo, de forma notável, a possibilidade de acomodar internamente um veículo Jeep Willys MB. Para a condução, o motorista dispunha de um periscópio de visão noturna infravermelho M-19 e múltiplos periscópios M-17, que garantiam visibilidade mesmo em condições de combate com o veículo "abotoado" (com todas as escotilhas fechadas). Em termos de autodefesa, o novo M-59 APC era equipado com uma torre automática M-13, armada com uma metralhadora Browning M-2 calibre .50, que contava com um estoque de 2.205 cartuchos armazenados no interior do veículo. Após a seleção do modelo T-59, desenvolvido pela Food Machinery and Chemical Corporation (FMC), o Exército dos Estados Unidos (US Army) celebrou um contrato para a produção de oito veículos pré-série. 

Esses exemplares foram destinados a um segundo programa de ensaios operacionais, planejado para ocorrer entre setembro e outubro de 1953. Concluídos os testes de campo, foram identificadas necessidades de melhorias, prontamente implementadas pelo fabricante. Com as correções realizadas, o modelo foi homologado para produção em série, recebendo a designação oficial de M-59 Veículo de Infantaria Blindado (Armored Personnel Carrier - APC). Em seguida, foi assinado um contrato ambicioso para a aquisição de 6.300 unidades, com um cronograma que previa a entrega total do lote até o final de 1960. As primeiras unidades de série começaram a ser incorporadas às unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos em agosto de 1954, sendo recebidas com entusiasmo devido ao seu porte robusto e design moderno. Para desenvolver doutrinas de operação adequadas, o M-59 foi integrado aos regimentos equipados com carros de combate médios M-41 Walker Bulldog, com o objetivo de avaliar seu desempenho em cenários simulados de combate de alta mobilidade. Apesar de suas qualidades, os testes conjuntos com o M-41 revelaram limitações significativas no M-59, especialmente relacionadas à sua potência e mobilidade. Equipado com dois motores a gasolina GMC Model 302, de seis cilindros em linha, cada um gerando 146 cv, o veículo alcançava uma velocidade máxima de apenas 32 km/h. Essa performance era insuficiente para acompanhar o M-41 Walker Bulldog, que atingia até 45 km/h, comprometendo a sincronia essencial entre unidades blindadas em operações de combate. Além disso, o peso de combate de 19,3 toneladas resultava em uma autonomia limitada de 150 km, restringindo o M-59 a missões de média distância e impactando seu desempenho em operações que exigiam maior raio de ação. Embora o M-59 apresentasse uma blindagem superior aos veículos anteriores de sua categoria, com espessuras variando de 0,95 cm a 2,49 cm, testes subsequentes demonstraram sua vulnerabilidade às novas munições perfurantes de médio calibre, cada vez mais comuns nos arsenais dos exércitos do bloco soviético. Essas deficiências geraram preocupação no Comando do Exército dos Estados Unidos, que passou a questionar a eficácia e a capacidade de sobrevivência do M-59 em um hipotético conflito moderno, particularmente em cenários europeus de alta intensidade. Apesar dos desafios, o contrato de produção foi mantido, considerando que grande parte das unidades já havia sido entregue. A partir de 1957, o Exército iniciou estudos para adaptar o M-59 a funções especializadas, visando otimizar a frota existente. Versões como posto de comando, porta-morteiro e ambulância foram desenvolvidas, ampliando a versatilidade do veículo em papéis de apoio. Essas adaptações refletiram o esforço para maximizar o potencial do M-59, mesmo diante de suas limitações táticas. Esse projeto foi validado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), resultando na conversão de mais de 600 veículos nas linhas de produção da Food Machinery and Chemical Corporation (FMC).
A nova variante, designada M-84 Mortar Carrier, teve seu interior modificado com um piso reforçado estruturalmente para suportar a placa de base M-24A1 e um morteiro M-30 de 81 mm, equipado com um sistema de mira óptico M-53. O veículo contava com racks internos para armazenar 88 munições, sendo operado por uma guarnição de seis soldados responsáveis pela condução e operação da arma. O peso final do M-84, plenamente carregado, atingia 21.400 kg, superior ao do M-59 original devido à munição transportada. Essa característica tornava a versão porta-morteiro mais lenta no campo de batalha, mas a redução de mobilidade não foi considerada um fator limitante, dado o perfil tático da artilharia móvel, que prioriza apoio de fogo em posições estratégicas. O M-84 permaneceu como o principal porta-morteiro do Exército dos Estados Unidos até o final da década de 1960, quando foi gradualmente substituído pelo FMC M-106 Mortar Carrier, mais avançado e integrado ao novo conceito de blindados. Reconhecendo as deficiências do M-59, como baixa velocidade, autonomia limitada e vulnerabilidade a munições perfurantes de médio calibre, o Exército dos Estados Unidos iniciou, em 1958, estudos para o desenvolvimento de um novo veículo blindado de transporte de tropas. Esses esforços culminaram no conceito AAM-PVF (Airborne Armored Multi-Purpose Vehicle), um veículo blindado multiuso aerotransportado. Esse conceito se materializou em 1960 com o projeto T-113, que evoluiu para o icônico M-113 APC. O M-113 revolucionou a categoria ao incorporar uma blindagem de duralumínio, mais leve e eficiente, que reduzia significativamente o peso final do veículo. Essa inovação permitiu, pela primeira vez, uma velocidade compatível com os carros de combate, como o M-41 Walker Bulldog e o M-48 Patton, garantindo a sincronia essencial em operações mecanizadas. Além disso, o M-113 oferecia maior capacidade anfíbia e era apto ao transporte aéreo, atendendo plenamente aos requisitos do AAM-PVF. Com a introdução do M-113 no final da década de 1960, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a substituição progressiva do M-59. Grande parte da frota de M-59 foi transferida para as unidades de reserva da Guarda Nacional (National Guard), onde continuou a desempenhar funções de treinamento e apoio. Posteriormente, sob os termos do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), um número significativo de M-59 foi cedido a nações alinhadas com a geopolítica norte-americana, em condições vantajosas. A Turquia tornou-se o maior operador internacional do M-59, recebendo mais de 1.500 unidades, seguida pela República do Vietnã, com 866 veículos. Outros países, como Etiópia, Brasil, Grécia, Líbano, Vietnã do Sul e Venezuela, receberam cerca de 420 unidades no total. Esses veículos permaneceram em serviço até o início da década de 1990, desempenhando papéis variados, desde transporte de tropas até apoio logístico, dependendo das necessidades de cada força armada.

Emprego no Exército Brasileiro.
O processo de motomecanização da Força Terrestre brasileira teve início na década de 1920, marcando os primeiros esforços para modernizar a logística e a mobilidade do Exército Brasileiro. Durante esse período, a incorporação de caminhões permitiu, de forma ainda limitada, o transporte de cargas e soldados, representando um avanço em relação às tradicionais operações hipomóveis. Na década de 1930, a frota de veículos foi ampliada, mas continuava composta majoritariamente por modelos civis adaptados para uso militar, com modificações mínimas para atender às necessidades da Força. No início da década de 1940, o Exército Brasileiro começou a vislumbrar uma modernização mais significativa de seus meios, impulsionado pelo surgimento de veículos blindados de transporte de tropas (VBTP) nas forças armadas de potências como Alemanha e Estados Unidos, que demonstravam eficácia em cenários de combate da Segunda Guerra Mundial. Esse anseio começou a se materializar em 1942, com a adesão do Brasil ao programa norte-americano Lend-Lease Bill Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo). Por meio desse acordo, o Exército Brasileiro recebeu seus primeiros veículos blindados, incluindo o M3-A1 Scout Car, equipado com tração sobre rodas, e os meia-lagartas M-2 e M-3 Half Track. Curiosamente, embora projetados para o transporte de tropas no front de batalha, esses veículos não foram inicialmente empregados nessa função no Brasil. Influenciado pela doutrina militar francesa, que ainda se baseava nas táticas da Primeira Guerra Mundial e privilegiava operações hipomóveis, o Exército Brasileiro destinou esses blindados à tração de peças leves de artilharia. Essa escolha refletia a mentalidade operacional da época, que ainda não havia absorvido plenamente as inovações táticas da guerra mecanizada. A crescente influência norte-americana durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente após a entrada do Brasil no conflito ao lado dos Aliados, trouxe mudanças significativas na doutrina da Força Terrestre. O recebimento de um grande lote de meia-lagartas M-3, M-3A1 e M-5 possibilitou, pela primeira vez, a implementação de táticas de infantaria motorizada. Esses veículos, embora limitados pela ausência de cobertura blindada integral, marcaram o início da transição para operações mais dinâmicas e mecanizadas, alinhando o Exército Brasileiro às práticas das forças aliadas. No início da década de 1950, o comando da Força Terrestre passou a avaliar a efetividade e a capacidade de sobrevivência de suas unidades mecanizadas em um hipotético cenário de conflito moderno. Ficou evidente a necessidade de substituir os equipamentos recebidos na década de 1940, que, embora úteis, estavam obsoletos frente às exigências de um campo de batalha em rápida evolução. Essa constatação culminou em um marco histórico para a modernização do Exército Brasileiro: a assinatura, em 15 de março de 1952, do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, formalizado pelos presidentes Getúlio Vargas e Harry Truman.

Essa parceria bilateral, sob condições econômicas vantajosas, visava substituir os equipamentos militares cedidos durante a Segunda Guerra Mundial, alinhando as capacidades do Exército Brasileiro às exigências de um contexto geopolítico e tecnológico em constante transformação. Por meio desse acordo, o Brasil integrou o grupo de nações beneficiadas pelo Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), que facilitava o acesso a equipamentos militares modernos, com o objetivo de fortalecer a defesa regional contra a hipotética ameaça expansionista socialista durante a Guerra Fria. Nesse contexto, o Exército Brasileiro foi contemplado com uma parcela significativa dos recursos do acordo. A partir de agosto de 1960, começaram a ser entregues os primeiros equipamentos, incluindo 50 carros de combate médios M-41 Walker Bulldog, dois veículos de socorro M-74 Sherman Recovery Vehicle e 20 viaturas blindadas de transporte de pessoal FMC M-59 APC. Embora usados, os M-59 encontravam-se em excelente estado de conservação, com baixa quilometragem, tendo sido armazenados desde 1959 nas instalações da Unidade do Corpo de Artilharia (Ordnance Corps Depot), no estado de Ohio, nos Estados Unidos. Alguns veículos registravam menos de 1.000 milhas rodadas, pois haviam sido retirados de serviço após a identificação de limitações operacionais em campo. Os M-59 cedidos ao Brasil pertenciam à variante M-59 A1, que incorporava melhorias em relação à versão inicial de produção em série. Entre os aprimoramentos, destacava-se o processo de soldagem do casco de aço, com uma blindagem de 25 mm de espessura, proporcionando maior resistência. Tecnologicamente, esses blindados eram equipados com o eficiente sistema de periscópios M-17 e o dispositivo infravermelho M-19, que permitia a condução em ambientes noturnos ou com escotilhas fechadas, um avanço significativo para as operações táticas. Para autodefesa, o M-59 A1 dispunha de uma torre com acionamento hidráulico, armada com uma metralhadora automática Browning calibre .50. Esse sistema de torre automática, inédito no Exército Brasileiro, oferecia, pela primeira vez, proteção adequada ao operador da arma, marcando um progresso em relação aos meia-lagartas utilizados anteriormente. Os 20 carros blindados M-59 A1 destinados ao Exército Brasileiro foram cuidadosamente revisados e colocados em plenas condições de funcionamento nas instalações americanas antes de serem preparados para transporte por via naval. Em 14 de agosto de 1960, os veículos chegaram ao porto do Rio de Janeiro, juntamente com os primeiros M-41 Walker Bulldog. No Brasil, passaram por inspeções detalhadas e foram preparados para o estágio operacional, incluindo o treinamento de seus operadores.
Em dezembro de 1960, os 20 veículos blindados M-59 A1, recebidos no âmbito do Acordo de Assistência Militar com os Estados Unidos, foram distribuídos igualmente entre o 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada (15º RecMec) e o 16º Regimento de Cavalaria Mecanizada (16º RecMec), ambos sediados no Rio de Janeiro. Essa alocação representou um marco na modernização da Força Terrestre brasileira, inaugurando uma nova fase na doutrina de operações mecanizadas. Oficialmente designados como VBTT M-59 (Veículo Blindado de Transporte de Tropas), esses blindados desempenharam um papel central na formação de unidades de infantaria motorizada e no desenvolvimento de táticas integradas com os carros de combate médios M-41 Walker Bulldog e leves M-3 Stuart. Nas unidades operativas, os VBTT M-59 tiveram a missão estratégica de consolidar a doutrina de emprego de veículos blindados de transporte de tropas sobre lagartas, operando em conjunto com a força blindada do Exército Brasileiro. Apesar de sua velocidade máxima de 32 km/h não permitir acompanhar plenamente os carros de combate no campo de batalha, os M-59 superaram significativamente as capacidades dos meia-lagartas White M-2, M-3 e M-5, que predominavam na Força Terrestre até então. Essa superioridade era evidente na proteção oferecida aos soldados e na capacidade de transporte, que incluía até 10 militares totalmente equipados ou cargas diversas. Os oficiais brasileiros ficaram impressionados com a versatilidade do M-59. Além de sua função primária de transporte de tropas, o veículo foi amplamente utilizado em exercícios para transportar peças leves de artilharia, como os canhões antitanques M-1 de 57 mm e M-3 de 37 mm, ou mesmo veículos como os Jeeps Willys ou Ford GPW 4x4, diretamente para a linha de frente. Essa capacidade ampliou a flexibilidade operacional da infantaria, permitindo maior mobilidade e segurança em manobras ofensivas. Durante os primeiros anos de operação, os VBTT M-59 foram frequentemente empregados em conjunto com os carros de combate leves M-3 e M-3A1 Stuart, que, na época, constituíam a espinha dorsal da força blindada brasileira. Nessas manobras, os M-59 demonstraram ser relativamente compatíveis com os Stuarts, pertencentes aos Batalhões de Carros de Combate Leve (BCCL), acompanhando-os com razoável eficiência em cenários simulados. 

A integração com os CCL M-3 Stuarts reforçou a confiança na capacidade do  VBTP M-59 de apoiar operações mecanizadas, ainda que em um contexto de combate de baixa intensidade. No entanto, esse cenário mudou com a chegada de novos lotes de carros de combate médios M-41A1 e M-41A3 Walker Bulldog, que começaram a substituir os M-3 Stuart como o principal carro de combate da Força Terrestre. Nos primeiros exercícios conjuntos entre os VBTT M-59 e os M-41, ficou evidente a mesma limitação observada pelo Exército dos Estados Unidos (US Army): a incapacidade do M-59 de acompanhar a dinâmica e a velocidade dos M-41 Walker Buldog , que atingiam até 45 km/h. Essa discrepância comprometeu a sincronia necessária para operações coordenadas, revelando uma deficiência crítica em cenários de alta mobilidade. Além das questões de desempenho em combate, os M-59 apresentaram desafios significativos em deslocamentos de média e longa distância no território brasileiro. Com um peso bruto de 19,3 toneladas, o veículo excedia a capacidade de grande parte da infraestrutura viária do país na década de 1960, incluindo pontes, viadutos, estradas e, especialmente, pranchas ferroviárias utilizadas para transporte logístico. Essas limitações logísticas restringiram o uso do Veículo Blindado de Transporte de Tropas M-59 a operações regionais e dificultaram sua mobilização em larga escala, evidenciando a necessidade de veículos mais adaptados às condições brasileiras. Apesar de suas limitações, os VBTT M-59 A1 foram fundamentais para elevar o patamar operacional do Exército Brasileiro, marcando a transição de uma força predominantemente hipomóvel e equipada com meia-lagartas para uma força mecanizada com blindados sobre lagartas. Sua operação proporcionou valiosas lições sobre o emprego de veículos de transporte de tropas, pavimentando o caminho para a adoção do M-113, introduzido a partir de 1967. Mais leve, ágil e compatível com a infraestrutura brasileira, o M-113 superou as deficiências do M-59, consolidando a doutrina de cavalaria mecanizada. As limitações operacionais do VBTT M-59 A1, como baixa velocidade, autonomia reduzida e incompatibilidade com a infraestrutura viária brasileira, levaram o Ministério do Exército a declinar novas ofertas de cessão desses veículos no âmbito do Programa de Assistência Militar (MAP). 
Como medida intermediária, foram iniciados estudos para o repotenciamento dos meia-lagartas White M-2, M-3 e M-5, visando prolongar sua vida útil até a chegada de um substituto mais adequado. Essa necessidade, porém, foi rapidamente atendida com a negociação, a partir de 1965, da cessão de mais de 500 veículos blindados de transporte de tropas FMC M-113 A0, desenvolvidos nos Estados Unidos como sucessores diretos do M-59. A incorporação de um número tão expressivo de M-113 A0 permitiu um ciclo completo de renovação dos meios mecanizados do Exército Brasileiro, possibilitando a desativação definitiva dos meia-lagartas M-2, M-3 e M-5, que haviam servido desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1969, com os Veículos Blindados de Transporte de Tropas M-113A0 alcançando pleno status operacional, o 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada (15º RecMec) e o 16º Regimento de Cavalaria Mecanizada (16º RecMec), ambos sediados no Rio de Janeiro, passaram a ser equipados com esses novos blindados, mais leves, ágeis e compatíveis com as demandas táticas e logísticas do período. Com a chegada dos M-113, os VBTT M-59 A1 foram gradualmente relegados a funções secundárias, como treinamento de operadores e participações em cerimônias oficiais. Um momento emblemático de seu uso cerimonial ocorreu em setembro de 1972, quando os  VBTP M-59 foram empregados no transporte dos restos mortais do imperador Dom Pedro I e de sua primeira esposa, a imperatriz Leopoldina, em um evento de grande simbolismo histórico na cidade de São Paulo, marcando as comemorações do sesquicentenário da Independência do Brasil. No início da década de 1980, em um esforço para revitalizar os M-59 ainda em operação, a empresa paulista Moto Peças Transmissões S/A, de Sorocaba, em colaboração com técnicos do Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, iniciou estudos para um possível programa de repotenciamento. O foco principal era substituir os dois motores originais a gasolina GMC-302 por equivalentes nacionais movidos a diesel, seguindo o modelo de outros programas de modernização bem-sucedidos conduzidos pelo PqRMM/2. Contudo, análises econômicas revelaram que o projeto não era viável, devido à pequena escala da frota de apenas 20 veículos. Essa constatação levou ao cancelamento do programa, selando o destino dos M-59 no Exército Brasileiro. Apesar de sua limitada quantidade, o M-59 serviu como inspiração para o desenvolvimento de um projeto nacional de veículo blindado de transporte de tropas sobre lagartas, batizado de Charrua. Embora o Charrua não tenha avançado para a produção em série, ele reflete o impacto duradouro do M-59 na busca por soluções autóctones para as necessidades da Força Terrestre.

Em Escala.
A ausência de um kit específico no mercado para o Veículo Blindado de Transporte de Tropas (VBTT) M-59A1 "EB10-414", pertencente ao 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada (15º RecMec), inspirou-nos a empreender um projeto de modelismo utilizando a técnica de scratch building. Para a realização deste projeto, optamos por utilizar como base o kit do carro de combate M-41 Walker Bulldog, produzido pela Tamiya na escala 1/35. Aproveitamos apenas elementos fundamentais desse kit, como chassi, rodas, suspensão, esteiras e alguns acessórios, enquanto todo o restante da estrutura do M-59A1 foi construído manualmente, em scratch. Para a  identificação do veículo, utilizamos decais de alta qualidade produzidos pela Eletric Products, extraídos do conjunto "Veículos Militares Brasileiros 1944-1982". Esses decais permitiram recriar com exatidão as marcações do M-59A1 "EB10-414", incluindo insígnias do 15º RecMec e detalhes que remetem à sua operação no Exército Brasileiro durante a década de 1960
O padrão de pintura tático do Exército Brasileiro, baseado no sistema de cores Federal Standard (FS), foi aplicado uniformemente a todos os veículos militares da Força Terrestre desde a Segunda Guerra Mundial até o final de 1982. Esse esquema, caracterizado por sua funcionalidade e adaptabilidade aos diversos cenários operacionais. A maioria dos VBTP M-59A1 preservados em museus ou unidades do Exército Brasileiro ainda ostenta esse padrão de pintura, mantendo viva a memória de sua contribuição para a motomecanização da Força Terrestre. 



Bibliografia :
- Blindados no Brasil Volume I,  -  por Expedito Carlos S. Bastos
- M-59 APC Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M59_(APC)
- M-113 no Brasil - por Expedito Carlos S. Bastos

M-41, M-41A1 e M-41A3 Walker Bulldog

História e Desenvolvimento.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, e em plena Guerra Fria, o Exército dos Estados Unidos (US Army) sentiu a necessidade de dispor um novo carro de combate leve que pudesse suceder os já antiquados M-24 Chaffe. Este veterano fora colocando em serviço no ano de 1944 em substituição aos M-3 Stuart, e neste período já se demonstravam ineficientes quanto aos carros semelhantes a disposição das forças do Pacto de Varsóvia. A fim de atender a esta demanda, em 1946 seriam iniciados os estudos preliminares para o desenvolvimento deste novo carro de combate leve, com este programa recebendo a denominação oficial de T-37.  A fim de se obter reduções de custo na cadeia de produção e manutenção, este novo veículo deveria fazer uso de grande quantidade de peças e componentes automotivos já comuns a outros veículos militares em uso. Deveria apresentar um casco modular capaz de ser convertido para uma variedade de outras funções especializadas, como plataforma de defesa aérea, socorro e transporte. Em termos de perfil operacional, deveria ser extremamente ágil, a fim de ser empregado também em missões de reconhecimento do campo de batalha, sendo capaz ainda de enfrentar a nova geração de tanques soviéticos como os T-44, T-54 e T-55. Uma concorrência seria então deflagrada em meados do ano de 1947, e curiosamente entre as premissas desta demanda se destacava a obrigatoriedade pela adoção de dois modelos gasolina seis cilindros em V refrigerados ar com 500 hp de potência, com as empresas concorrentes podendo optar pelo motor produzido pela Continental Motors Company ou Lycoming Engines. Esta exigência faria do T-37 um dos primeiros carros de combate norte-americanos a  a ser projetado em torno de um tipo de motor preexistente, em vez de ser construído primeiro e depois adotar um motor adequado. A seguir seriam apresentas três propostas técnicas comerciais, no entanto as restrições de ordem orçamentária impostas no período pós-guerra atrasariam a liberação de verbas para a construção dos protótipos dos projetos apresentados.  Este cenário atrasaria o cronograma original até março de 1949, quando seriam completados os primeiros três carros.  Estes protótipos seriam submetidos a um extensivo programa de avaliação comparativa em campo, e neste processo o protótipo apresentado pela Cadilac Automotive Company  (uma subsidiaria da General Motors Company), se destacaria, sendo classificado para a segunda etapa desta concorrência, com o modelo recebendo a designação de T-37 FASE II.   

De volta ao campo de provas seriam identificadas correções e oportunidades de melhorias, resultando assim na versão de pré-produção, agora designada como T-41E1 pesava 23.500 kg, e poderia ser facilmente classificado como um carro de combate médio, não sendo mais adequado para ser lançado de paraquedas como fora originalmente almejado, porém ainda poderia ser aerotransportado frequentemente. Do ponto de vista técnico tanto o T-41E1 quanto o T-41E2 eram muito parecidos com o M-24 Chaffe, com trem de rolamento de cinco pares de rodas, suspensão com barra de torção, contando, porém, com o novo motor traseiro Continental AOS-895-3 a gasolina de 6 cilindros em V (14.685 cm3) que proporcionava 500 hp a 2.800 rpm, o que lhe concedia uma elevada velocidade em estradas regulares. Suas dimensões eram de 8,05 metros de comprimento (com o canhão a frente) ou 5,60 metros (com o canhão voltado para trás), 3,26 metros de largura e 2,5 metros de altura. Sua blindagem frontal era de 32 mm, com a lateral variando de 19 mm a 25 mm e na torre entre 15 mm a 25 mm. Era fácil de ser reparado e ter componentes substituídos no campo de batalha, estando armado com um canhão M-32 (T138E1) de 76 mm com freio de boca e extrator de fumaça, adaptado para o tiro anti-tanque. Apresentava uma torre bem delgada e inteiramente soldada, de excelente característica. Sua carcaça estava dividida em três partes, na frontal encontrava-se o compartimento do motorista, dispondo de um guidon similar ao de uma bicicleta ou de uma barra de direção, está pouco usual. Já o compartimento de combate, no centro da carcaça era onde local onde estava situada sua torre e abrigava o comandante do carro e o atirador á direita do canhão, com o municiador a esquerda. E por fim a traseira abrigando seu grupo motopropulsor refrigerado ar e sua caixa de mudanças automática Allison CD-500-3, com duas marchas a frente e uma a ré. A celebração do primeiro contrato de aquisição ocorreria em agosto de 1950, porém o início de sua produção em série seria adiado, principalmente a contratempos técnicos da decorrentes da decisão de se incorporar um telêmetro integral diretamente na torre de aço, o que levaria a necessidade de reprojeto de ferramental.  Um renovado senso de urgência introduzido pelo início da Guerra da Coréia (1950 - 1953), e as crescentes demandas do Exército dos Estados Unidos (US Army) pela incorporação de mais por mais carros de combate, resultariam na priorização de sua produção. O atendimento a esta demanda emergencial levaria o fabricante a implantar a toque de caixa, reformas em suas instalações localizadas na cidade de Cleveland, transformando este espaço em uma linha de produção exclusiva deste novo carro de combate, envolvendo 3.700 colaboradores. 
Este acelerado processo de produção impactaria novamente no projeto original, pois a concepção de seu ferramental envolveria alterações de ordem técnica, resultando em novos atrasos no cronograma original. O modelo receberia a designação de M-41 Little Buldog, mais tarde alterado para M-41 Walker Buldog em homenagem ao General Walton Harris Walker, falecido em um acidente com um jipe na Coréia em 23 de dezembro de 1950. Os primeiros oito carros de produção em série seriam entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) em julho de 1951. Em março de 1953, mais de novecentos carros de combate já haviam sido entregues, porém seriam disponibilizados para serviço ativo, tarde mais para participar conflito, apesar de alguns carros terem sido enviados para a Coréia antes de julho deste mesmo ano. Em fins do ano seguinte, mais de um e mil e oitocentos carros já haviam sido produzidos, porém seu emprego operacional descortinaria uma série de falhas técnicas, que possivelmente foram originadas de devido à sua produção emergencial. Estudos mais aprofundados realizados entre os anos de 1951 e 1952 apontariam que seria necessário implementar cerca de quatro mil alterações e melhorias no projeto original, levando ao desenvolvimento de uma nova versão. Além disto verificou-se que seu raio de açao era extremamente limitado o que levaria a substituição de seu motor original pelo modelo AOSI-895-5 com sistema de injeção eletrônica, garantindo uma redução de consumo de combustível na ordem de 20%.  Deste estudo nasceria a versão M-41A1, que além de atender as demandas de melhoria citadas anteriormente passava a ser equipado com o novo canhão M-76A1 (T138E2), e apresentava aumento da capacidade de armazenamento de munição de 76 mm passando de 24 no M-41 para 44, sendo acondicionadas na torre e 33 na carcaça. Com relação a pontaria, o comandante do carro e o atirador dispunham cada um de um periscópio M-20, cuja ligação balística ao canhão assegurava o alinhamento dos dois campos de visão com o eixo da alma da peça para o alvo selecionado. Além disso, o atirador dispunha de uma luneta M-97 como elemento secundário de pontaria. O municiador contava ainda com um periscópio de observação M-13 no teto da torre.  Como armamento secundário mantinha a metralhadora Browning M-2 de 12,7 mm montada sobre a torre e uma coaxial Browning M-1919A4E1 de 7,62 mm, contando com 430 munições de  de 12,7 mm e 4.200 de 7,62 mm.  Após a aprovação para a produção do M-41A1, seria decidido que pelo menos 1.361 carros do modelo M-41 que se encontravam em uso nas forças regulares, fossem armazenados junto as instalações da Unidade do Corpo de Artilharia (Ordinance Corps Depot), no estado de Ohio, a fim de serem posteriormente elevados para esta nova versão. 

Apesar destas melhorias o M-41A1 Walker Bulldog que nesta época já havia substituído completamente os M-24 Chaffe, ainda não se mostraria especialmente popular em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army). Mesmo com o desenvolvimento de suas  versões subsequentes como o M-41A2 em 1956 e o M-41A3 em 1958 (que passava a fazer uso do motor a diesel Cummins VTA-903), seu emprego operacional  continuaria a frustrar seus operadores. Entre varias observações destacava-se as queixas emitidas por seus condutores a respeito de seu  espaço interior limitado, somava-se ainda o fato que sua altura, tamanho e design,  afetavam sua capacidade de reconhecimento discreto no campo de batalha. Apesar do desenvolvimento de versões especializadas derivadas de sua plataforma, como o veículo antiaéreo M-42 Duster, obuseiros autopropulsados M-44 e M-52 e por fim o veículo blindado de transporte de tropas M-75, em fins de 1954 sua produção seria encerrada, totalizando 5.467 unidades entregues. Neste momento o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) passaria a focar seus esforços no desenvolvimento do novo carro de combate leve, o  M-551 Sheridan. O batismo de fogo do M-41 Walker Buldog ocorreria em abril de 1961, em Cuba durante o preludio da  "Invasão da Baía de Porcos", quando cinco destes carros retirados dos estoque do exército foram fornecidos pela  Agencia Central de Inteligência (CIA) aos exilados anticomunistas para apoiar a incursão da Brigada 2506 e a subsequente apreensão de locais estratégicos em Cuba que provavelmente seriam patrulhados ou defendidos por blindados, principalmente tanques médios T-34-85 fornecidos pelos soviéticos. Estes seriam transportados para a costa cubana por uma única embarcação de desembarque mecanizada em 17 de abril, depois desembarcaram com o apoio da infantaria em um ataque anfíbio de armas combinadas em Playa Girón.  Diversos embates ocorreriam, até que os M-41 tivessem sua munição esgotada, sendo abandonados pelas tripulações. Em 1964, como parte do esforço de apoio e modernização as forças blindadas do Exército da República do Vietnã (ARVN), o Comando de Assistência Militar Norte Americano, determinou o fornecimento de centenas de tanques M-41A3s,  que passariam a ser envolver nas maiores operações de combate, ao contrário do ocorrido no Exército dos Estados Unidos(US Army) o modelo de tornou muito popular entre os tripulantes locais, que geralmente eram de menor estatura do que seus contrapartes norte-americanos, e assim  não experimentariam o mesmo desconforto proporcionado pelo reduzido espaço interior.  Os últimos M-41 Walker Bulldogs foram entregues a este exército em 1972 totalizando 350 carros, e durante a Queda de Saigon entre os dias 28 e 30 de abril de 1975 , muitos destes carros de combate seriam capturados e incorporados ao Exército do Vietnã do Norte sendo mantidos em operação até meados da década de 1990.   
O M-41 Walker Bulldog seria o primeiro tanque do pós-guerra a ser adotado pelo Exército Alemão (Bundeswehr) após sua formação em 1955, com 50 desses veículos sendo destinados a compor os batalhões de reconhecimento blindado. No entanto o conceito de carros de combate leves provou ser impopular neste exército, e todos os M-41 seriam desativados em 1966 passando a ser substituídos pelos modelos M-48 Patton e Leopard 1.  Em 1958, de 40 a 50 carros do modelo M-41A-3 seriam cedidos as Forças Armadas Libanesa (LAF) a fim de substituírem em sua frota os obsoletos M-4  Sherman Firefly e os carros de combate leves franceses Hotchkiss H35 e Renault R35. Estes seriam amplamente empregados em cenários de conflagração real, atuando desde a crise do Líbano de 1958, a Guerra Civil Libanesa (1975 - 1982) até a Guerra da Montanha (1983 - 1984). Curiosamente além das forças regulares daquele país, vários M-41A-3 capturados seriam utilizados por por facções rebeldes dissidentes, como o Exército Árabe Libanês (LAA), Exército do Libano Livre (AFL), Forças Reguladoras Kataeb (KRF), Milícia dos Tigres e Libertação Popular Exército (PLA). No entanto seu maior usuário seria representando pelo Exército da República da China - Taiwan (ROCA), que começaria receber seus primeiros M-41A3 em 1958, chegando a receber até o ano de 1960 700 carros de combate desta família. Ao longo dos anos uma parcela desta frota seria profundamente modernizada para a versão M-41D, com muitos destes ainda permanecendo operacionais até os dias atuais. O advento da introdução dos novos  veiculos blindados de reconhecimento e assalto aerotransportados M-551 Sheridan AR/AAV iniciaria o ciclo de desativação dos M-41A1, M-41A2 e M-41A3 das unidades de linha de frente da cavalaria blindada do Exército dos Estados Unidos (US Army), com estes passando a ser armazenados como reserva técnica.  Desta maneira esta família de carros de combate passaria a constar no portifólio do Programa Militar de Assistência - MAP (Military Assistence Program), muito em virtude da grande quantidade armazenada como reserva estratégica.  Dentro destes termos deste programa milhares destes carros de combate seriam cedidos ao Brasil, Chile, República Dominicana, Guatemala, Uruguai, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Etiópia, Grécia, Japão, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, Portugal, Somália, Arábia Saudita, Somália, África do Sul, Espanha, Sudão, Tailândia, Tunísia e Turquia. Diversos programas de modernizações seriam desenvolvidos para esta família de carros de combate, permitindo estender sua vida útil, com muito destes ainda operando em serviço ativo junto as forças armadas da República Dominicana, Guatemala, Taiwan e Uruguai.   

Emprego no Exército Brasileiro.
A arma de cavalaria blindada na Força Terrestre seria criada e consolidada no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, período no qual, o país após passar a ser signatário do programa  internacional de ajuda militar Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Nos termos deste acordo seriam recebidos milhares de modernos veículos militares, trazendo ao Exército Brasileiro uma grande mobilidade e poder de dissuasão, se tornando neste período uma grande potência militar regional.  Em termos de carros de combate, o país dispunha de uma imponente frota, composta por mais de seiscentos carros de combate divididos entre os modelos leves M-3 e M-3A1 Stuart e médios M-4,  M-4A1 Sherman e M-3A3 e M-3A5 Lee. No entanto este status quo não se manteria por muito tempo, pois logo no final da década de 1950, essa frota além de se apresentar em um estágio de obsolescência, passaria a apresentar graves problemas de índice de indisponibilidade, provocada principalmente por problemas na obtenção de peças de reposição, tendo em vista que estes modelos tiveram sua produção descontinuada em meados do ano de 1945. Grande parte ainda destes problemas, estava concentrada no conjunto motriz  destes veículos blindados, gerando assim estudos de desenvolvimento voltando a implementação de programas de remotorização, substituindo os antigos motores a gasolina por modelos a diesel de fabricação nacional.  Apesar de se mostrarem viáveis em termos técnicos e econômicos, estes processos de revisão e modernização efetivados ou ainda em desenvolvimento, apesar de devolverem certa capacidade operativa ao Exército Brasileiro, não atenderiam a demanda de modernização de seus meios blindados. O principal calcanhar de Aquiles da frota de carros de combate M-3 e M-3A1 Stuart, M-4 e M-4A1 Sherman e M-3A3 e M-3A5 Lee repousava em seu natural obsolescência, ficando claro que modelos já se encontravam defasados, considerando ainda que a maior parte desta antiga frota estava composta por veículos armados com os ineficientes canhões de 37 mm,  que pouco podiam fazer em um cenário de enfrentamento moderno. A solução deste problema passaria obviamente pela aquisição de novos carros de combate (mesmo que em uma pequena quantidade) que possibilitaria assim uma imediata e necessária modernização da força blindada do Exército Brasileira. 

Para atendimento a esta demanda, o governo brasileiro fazendo uso dos termos do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos (que fora celebrado no ano de 1952), programa este que  tinha por objetivo ampliar a influência geopolítica norte-americana, para assim prover regionalmente uma linha de defesa contra a hipotética ameaça expansionista socialista. Desta maneira nosso pais passaria a ter acesso ao Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), que garantiria acesso facilitado a modernos equipamentos militares. Nestes termos em meados do ano do ano de 1959, o adido militar brasileiro baseado na cidade de Washington DC (Distrito Columbia), daria início as tratativas, junto a aquele governo, para a aquisição de veículos militares e carros de combate.  Nesta época o Exército dos Estados Unidos (US Army) dispunha em sua reserva estratégica, de uma grande frota de carros de combate médio da família M-41 Walker Buldog, com estes estando armazenados junto as instalações do  Ordinance Corps Depot (Unidade do Corpo de Artilharia) baseado em Lordstown Village, no estado de Ohio.  Vale citar que grande parte desta frota contemplava a primeira versão de produção deste modelo, e que foram logo substituídas nas linhas de frente pelas versões melhoradas como o M-41A3, apresentando assim, baixíssimo desgaste operacional.  Após a conclusão das negociações burocráticas, uma comitiva formada por oficiais do Exército Brasileiro seria enviada a Ohio, para proceder a escolha de cinquenta carros de combate do modelo M-41 Walker Buldog.  Estes seriam separados e então revisados localmente colocados em condições de funcionamento e preparados para transporte por via naval, sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro, em 14 de agosto de 1960. Já no país, estes carros seriam preparados para o estágio operacional e treinamento de seus operadores, sendo posteriormente transportados por via terrestre, e distribuídos aos 1º e 2º Regimentos de Reconhecimento Mecanizado (RecMec), que estavam baseados nas cidades de Porto e Alegre e Santo Ângelo no Rio Grande do Sul e ao 3º Regimento de Reconhecimento Mecanizado no Rio de Janeiro, (então Estado da Guanabara). Nestas unidades de imediato os novos carros de combate passariam a substituir os antigos carros de combate leves M-3 e M-3A1 Stuart. Em operação os M-41 naturalmente se mostrariam muito superiores principalmente devido a sua velocidade e poder de fogo,  proporcionado pelo moderno canhão M-76A1 (T138E2) de 76 mm. 
O grande êxito operacional destes carros de combate levaria o governo brasileiro em 1962 a negociar nos termos do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), resultado em um pacote de cessão de 303 carros de combate que deveriam ser recebidos até meados até o final desta mesma década. Estes estariam divididos entre o modelos M-41A1 com 248 blindados e 55 carros da versão mais recente de  produção o M-41A3. A principal diferença entre estes novos modelos estava baseada principalmente na motorização, com o último modelo apresentando em seu grupo motriz um, sistema de injeção de combustível, que lhe concedia a mudança de nomenclatura passando a ser designado como Continental AOSI-895-5, além disso possuía um sistema de elevação do canhão de maior ângulo, podendo este ainda ser equipado um conjunto de equipamento de infravermelho, para direcionamento e condução. Apesar destas diferenças, visualmente o M-41A1 e o M-41A3 eram praticamente idênticos com detalhe para os paralamas cortados no primeiro e paralamas retos no último. O recebimento total das quantidades negociadas ampliaria fortemente a força blindada brasileira, permitindo assim proceder o completo reequipamento de suas unidades blindadas de primeira linha permitindo a retirada de serviço dos últimos M-4 e M-4A1 Sherman. Ao substituir os antigos carros de combate, os M-41 Walker Buldog apresentariam aos militares brasileiros inovações tecnológicas de grande monta, como torres com sistema de acionamento hidráulico, maior velocidade de deslocamento, sistemas de mira mais precisos. Seu novo canhão M-32 de 76 mm também era muito superior aos canhões empregados nos carros de combate produzidos durante a década de 1940. A versão M-41A3 estava equipada com um sistema de visão infravermelho, aparato até então inédito no país, e apesar de estar presente em um pequeno número de carros, possibilitou a imersão dos tripulantes em uma tecnologia de suporte a combate realmente nova. Estes se fariam presentes e plenamente operacionais em grandes unidades, como a 5º Brigada de Cavalaria Blindada (Bda C Bld), 1º, 2º, 3º, 4º e 5º Regimentos de Carros de Combate (RCC) e nos 4 º, 6 º, 9 º e 20 º Regimentos de Cavalaria Blindado (RCB). Inclui-se ainda a Escola de Material Bélico (ESMB), berço dos blindados e templo da manutenção do Exército Brasileiro, além do 15 º Regimento de Cavalaria Mecanizado e Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) no Rio de Janeiro.   

Este importante movimento reequilibraria a balança de poder terrestre na América do Sul, então neste momento fortemente inclinada para a Argentina, nosso principal hipotético rival que começava a operar em larga escala o modelo TAM (Tanque Argentino Médio). Durante as décadas de 1960 e 1970 caberia ainda ao M-41 Walker Buldog ser o carro de combate responsável pela formação da moderna força blindada no Brasil, consolidando assim a doutrina motomecanizada no Exército Brasileiro. Vale a menção que apesar não haver dados específicos sobre o recebimento de carros do modelo M-41A2, existem alguns documentos internos do Exército Brasileiro que confirma a existência de diversos carros desta versão. Estes veículos devido ao seu tamanho e peso, possuíam a capacidade para serem transportados por via férrea, sem trazer problemas a malha ferroviária brasileira, podendo ser facilmente transportados em pranchas ferroviárias sem grandes modificações. Apenas seriam desenvolvidos alguns tipos de rampas fixas e móveis que facilitavam seu embarque e desembarque. Também poderiam ser transportados em pranchas rodoviárias existentes na Força Terrestre e nas empresas de transporte civil. Este fator possibilitaria seu emprego em âmbito nacional, sendo registrados diversos exercícios de grande monta em diversos pontos do território nacional, comprovando a capacidade de dissuasão da força blindada. Estes carros de combate nunca participaram de combates efetivos, mas tiveram destacada participação em grandes exercícios operacionais, de longa duração simulando cenários reais de combate, proporcionando um amplo aprendizado da tropa na operação com carros de combate, seja na área de logistica, transporte ferroviário, tiros reais e manutenção preventiva e corretiva nas unidades e no campo de treinamento. Os M-41 Walker Buldon seriam eternizados no imaginário popular mediante registros fotográficos obtidos durante os eventos decorrentes da Revolução de 1964, quando foram destacados para a proteção de locais estratégicos principalmente na cidade do Rio de Janeiro e na capital federal em Brasília. Neste período, durante mais de uma semana suas tripulações foram obrigadas a "viver" em seus veículos ou próximos a eles mantendo a prontidão de combate. Porém apesar de sua importância operacional e estratégica, os M-41 Walker Buldog brasileiros, infelizmente nunca receberiam a aplicação dos programas manutenção preventiva e corretivas adequados indicados pelo fabricante. Grande parte das manutenções seriam realizadas fazendo uso de peças de reposição não originais de baixa qualidade, muitas vezes em áreas sensíveis, como retentores, mangueiras e linha hidráulicas. 
Este inadequado procedimento de manutenção resultaria a médio e longo prazo em altos índices de desgastes, causando na sequência de quebras de outros componentes vitais, afetando assim a cada vez mais disponibilidade da frota. Esta irresponsável decisão, buscava implementar economias da ordem de algumas centenas de dólares por veículo, colocando em risco um carro de combate que chegava a custar mais de meio milhão de dólares.  No início da segunda metade da década de 1970, a frota de M-41 Walker Buldog brasileira já apresentava graves índices de disponibilidade operacional, com este cenário sendo agravado em 1977 após o rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos.  As dificuldades na aquisição de suprimentos críticos, agravadas ainda mais pelo fato de seu motor operar com gasolina de alta octanagem, facilmente inflamável e com consumo superior a três litros por quilometro. A este problema se somava o suprimento da munição de 76 mm de seu canhão M-32 que além de não ser fabricado no país foi descontinuada nos Estados Unidos no início da década de 1970. No anseio de resolver estes problemas e objetivando também promover melhorias, seriam conduzidos estudos visando o desenvolvimento de um programa de modernização, onde além da substituição do grupo motriz importado por um nacional, previa-se a alteração do armamento principal, incluindo um canhão de 90 mm. Diversos iniciativas seriam conduzidas a partir de 1977 pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) de São Paulo, pelo Centro de Tecnologia do Exército (CTEx) e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), trabalhando em conjunto com a empresa paulista Bernadini S/A. Após as parametrizações de projeto e assinatura de contrato, em meados de 1978, os primeiros carros seriam encaminhados para a modernização, nascendo assim a versão nacional M-41B. Curiosamente em 1982 seriam adquiridos 53 M-41A3 no Japão , oriundos de excedentes do Exército dos Estados Unidos (US Army) que estavam armazenados em Tóquio e que nunca foram incorporados , visto que não entraram no processo de modernização. Este carros ficariam guardados no então Parque Central de Motomecanização (PqCMM) no Rio de Janeiro e acabariam servindo somente como fonte de peças de reposição. Muitos destes acabariam sendo transformados em monumentos em quarteis ou outros locais, salienta-se ainda que os veiculos preservados em sua versão original, se tratam do lote de adquirido do Japão no ano de 1982 que foram destinados somente a servir como fontes de peças de reposição.

Em Escala.
Para representarmos o M-41A3 Walker Buldog "EB11-793" optamos pelo kit da AFV na escala 1/35, sendo este o modelo mais indicado para compor a versão empregada no Brasil com kit podendo ser montado diretamente da caixa. Este modelo apresenta ainda um excelente padrão de qualidade (oferecendo inclusive o tubo do canhão em metal). Empregamos decais confeccionados pelo fabricante Decal & Book pertencentes ao "Set Forças Armadas Brasileiras 1942/1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro, que seria aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982. Os M-41, M-41A1 e o M-41A3 Walker Buldog brasileiros, mantiveram este padrão até serem submetidos ao processo de modernização, onde emergiram ostentando o esquema de camuflagem tático em dois tons adotado pela Força Terrestre  a partir do ano de 1983.


Bibliografia :

M-41 Walker Buldog - http://pt.wikipedia.org/wiki/M41_Walker_Bulldog
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos
- Blindados no Brasil Volume II, por Expedito Carlos S. Bastos
- M-41C Rede de Tecnologia & Inovação do Rio de Janeiro - http://www.redetec.org.br/inventabrasil/caxias.htm
- Carro de combate M41 no Exército Brasileiro - http://www.defesanet.com.br