Stearman Boeing A75 - A76 e B76

História e Desenvolvimento.
A Stearman Aircraft Corporation, seria fundada na década de 1920, sendo considerada uma das primeiras empresas do segmento aeronáutico nos Estados Unidos. Seu fundador o empresário Lloyd Carton Stearman apesar de ter um grande talento para o desenvolvimento de aeronaves, não dispunha das mesmas habilidades na gestão financeira de sua empresa. Em 1929 durante a grande depressão a empresa como todas as demais indústrias aeronáuticas do país passariam por uma grande crise, levando assim Lloyd Carton Stearman a vender sua empresa para conglomerado corporativo United Aircraft and Transport Corporation. Apesar de não ser mais o controlador da companhia, o empresário se manteria na presidência da empresa resultando assim em um importante legado, que seria representado por uma linha de aeronaves de treinamento e turismo que obteria um grande sucesso no mercado norte-americano de aviação civil, atraindo o interesse da gigante Boeing Aicraft Co., sendo adquirida e transformada em uma subsidiaria deste grande conglomerado alguns meses depois. Sua gestão na empresa seria mantida durante o processo de transição se estendendo até o terceiro trimestre de 1930, participando ativamente do desenvolvimento do modelo Stearman Model 6 Cloud Boy, que realizaria seu primeiro voo no início de 1931. Esta nova aeronave fora projetada como um treinador básico para o mercado civil, contando também com uma versão militar que seria oferecida ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), recebendo a designação de YPT-9, porém infelizmente os militares não se interessariam pela aeronave. A empresa ainda tentaria vender a aeronave no mercado civil, porém o país ainda atravessa uma grave crise econômica, com estes esforços resultando na venda de apenas três aviões. 

Apesar de ser um fracasso comercial o Stearman Model 6 Cloud Boy - YPT-9, o modelo serviria em 1933, de base para o desenvolvimento de um novo projeto que receberia a designação de Stearman Model 70. Esta nova aeronave apresentaria uma configuração biplace, sendo destinada especificadamente a tarefas de instrução e treinamento, apesar de possuir um desempenho bastante modesto quando comparado a aeronaves da mesma categoria, a empresa apostaria na excelente relação de custo benefício como um dos principais diferenciais competitivos de seu novo produto. A decisão seria acertada pois as características da aeronave atendiam com perfeição aos requisitos técnicos que o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e a aviação naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) estabeleceriam em conjunto para seu futuro avião de treinamento primário.  Uma proposta seria então apresentada aos militares norte-americanos em fins de 1936, com uma posterior apresentação em voo da nova aeronave sendo realizada. As excelentes impressões causadas pelo Stearman Model 70 levariam em 1935 a celebração do primeiro contrato com o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), para a compra de sessenta e uma aeronaves de uma subversão denominada como Model 73, que passava a contar com algumas pequenas alterações solicitadas. Logo em seguida  a Marinha Americana (US Navy) firmaria um contrato semelhante, com suas primeiras aeronaves sendo recebidas no mesmo período do que as do exército, no inicio do ano de 1937. Novas compras seriam realizadas agora de uma versão melhorada designada como Stearman PT-13, que ao longo dos anos seguintes totalizariam 2.114 aeronaves dispostas em cinco variantes.
As variantes previstas neste grande contrato de fornecimento podem ser denominadas na seguinte ordem: PT-13 Initial Production com motor R-680-B4B com vinte e seis células produzidas entregues diretamente ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), sendo seguido pelo PT-13A equipado com um motor mais potente o R-680-7 com 210 hp, com noventa e duas aeronaves entregues para o exército e a marinha. O próximo modelo a entrar na linha de produção foi o PT-13B R-680-11 com duzentos e cinquenta aviões, que seriam entregues entre os anos de 1939 e 1940, destes seis foram modificados para voo por instrumentos recebendo a designação de PT-13C. E por fim as trezentas e cinquenta e três aeronaves do modelo PT-13D, que representavam a versão PT-13A equipadas com uma versão melhorada do motor o Continental R680-17. No entanto o avançar na guerra na Europa e o aumento das tensões com o Império do Japão no Pacífico, levariam o governo norte-americano a implantar programas emergenciais de reequipamento para suas forças armadas. Todo este processo deveria ser precedido pelo treinamento e formação em larga escala de novos pilotos militares. Com base nesta demanda o Departamento de Defesa Americano, consultaria a Stearman Aircraft Division para o desenvolvimento e produção em larga escala de uma aeronave biplano de treinamento básico de baixo custo de aquisição e operação, e desta necessidade nasceria o modelo Stearman PT-17.

Definida e aprovada a proposta comercial e técnica, um vultuoso contrato para a aquisição de mais de três mil e quinhentas aeronaves seria celebrado, com sua produção em série sendo iniciada em janeiro do ano de 1940. Como seu antecessor, o Stearman PT-17A era destinado ao treinamento básico apresentando configuração biplano,  com estrutura composta por tubos de aço soldado, asas em madeira, com toda sua superfície coberta com telas, possuía duas cabines abertas em tandem para o aluno e instrutor, este ainda equipado com o motor radial a pistão Continental R-670-5 com 210 hp de potência. Dentre os primeiros lotes produzidos figuravam dezoito células configuradas para treinamento por instrumentos recebendo a designação de PT-17B.  Em 1941 seria desenvolvida a versão PT-18, passando a empregar o motor radial Jacobs R-755 de 225 hp (mesmo conjunto empregado nos Beechcraft Model 17 Staggerwing e Cessna AT-17 Bobcat), um total de cento e cinquenta células seriam produzidas com seis aeronaves configuradas treinamento por instrumentos, recebendo a designação de PT-18A. Dentro do Corpo Aéreo do Exército Americano (USAAC), o Stearman PT-17 se tornaria o treinador primário padrão, com a Aviação Naval adotando o mesmo conceito, quando da incorporação do modelo Stearman N2S, que seria equipada com uma variada gama de motores Continental (R-670-14 R, R-680-8, R-670-4 e R-680-17). Esta versão naval receberia encomendas para quase quatro mil e trezentas aeronaves que seriam entregues nas versões N2S-1, N2S-2, N2S-3, N2S-4 e N2S-5. 
O primeiro cliente internacional do modelo foi Força Aérea Real Canadense (RCAF) que receberia em 1941, trezentas células, recebendo a designação local de PT-27. Durante a Segunda Guerra Mundial as aeronaves desta família foram responsáveis pela formação de mais de sessenta mil pilotos norte-americanos. Uma versão de exportação designada Model 76 foi desenvolvida que além de atender à necessidade treinamento primário podia também ser empregada como aeronave de ataque leve podendo ser equipado com dois cabides ventrais com capacidade de 65 kg cada, uma metralhadora móvel Colt Browning MG28 calibre.30 e uma fixa, dispunha ainda de maior autonomia e mais potência. Em seu país de origem seria popularmente conhecido como Kaydet, Boeing Stearman, NS, NS2 ou simplesmente PT-17. Sua produção seria distribuída em dezesseis variantes que atingiram mais de dez mil células entregues entre maio de 1936 até agosto de 1945. Após o término do conflito, milhares de aeronaves foram retiradas do serviço ativo, sendo transferidas para o meio civil onde continuaram a realizar missões de treinamento, voo turístico. Um grande número seria ainda convertido como aeronaves de pulverização de lavouras operando durante mais de quarenta anos nestas atividades. Centenas de células seriam ainda cedidas as forças armadas da República da China, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Grécia, Guatemala, Honduras, Irá, Israel, Nicarágua, Paraguai, Peru e Filipinas, com as últimas aeronaves sendo desativadas somente na década de 1960.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Perto do final da década de 1930 os comandantes da Aviação Militar do Exército Brasileiro decidiriam pela renovação de sua frota de aeronaves de treinamento, buscando assim reduzir o gap tecnológico existente entre os treinadores e as aeronaves de linha de frente. Naquele período a formação dos novos aviadores militares estava a cargo e modelos já obsoletos como os De Havilland DH-60T Moth Trainer, Fleet Model 11, que eram complementados por alguns treinadores mais novos, como os Curtiss Wright CW16, representando assim aeronaves já não mais tão indicadas para fazer a transição para aeronaves de linha de frente. A fim de atender esta demanda o governo brasileiro lançou uma concorrência internacional para o fornecimento de uma aeronave de treinamento avançado prevendo a aquisição de até trinta aeronaves, contando com a participação de fabricantes franceses, ingleses e norteamericanos. As propostas começaram a ser apresentadas ao comando do Exército Brasikeiro no final do último semestre de 1936, com os estudos sendo concluídos no ano seguinte. Entre as propostas entregues se destacava o da empresa norte-americana Stearman Aircraft Division, que apresentava a versão de exportação do Stearman Model 76, que fora projetada para atender as missões de treinamento, podendo também ser empregada como aeronave de ataque leve, recebendo a provisão para instalação de cabides de bombas ventrais e metralhadoras Colt Browning MG-28 calibre.30 para autodefesa.  Esta variante dispunha ainda de maior capacidade de combustível com tanques para 110 litros e motor mais potente representado pelo modelo Wright R-975-E3 de 420 hp e por fim apresentava uma vantajosa proposta comercial.

A decisão final recairia sobre o a proposta apresentada pela empresa norte-americana Stearman Aircraft Division, se materializando assim em um acordo para o fornecimento de trinta células configuradas a exemplo da versão de exportação Stearman Model 76 , contando como diferenças principais a customização dos instrumentos para o emprego do sistema métrico e a instalação de uma metralhadora móvel instalada na nacele traseira. Metade das aeronaves encomendadas deveria contar com uma metralhadora fixa instalada na asa direita inferior, este lote específico receberia a designação de Model A76-C3. Já o lote restante receberia a instalação de uma câmera fotográfica Farchild K 3B no lugar da metralhadora fixa, recebendo pelo fabricante a designação de Model B76-C3. Após a assinatura do contrato, seria definido o cronograma de produção e entrega, com as primeiras aeronaves sendo completadas nas instalações da empresa em maio de 1937. Após inspeção local por uma comitiva de oficiais brasileiros, os aviões seriam desmontados, acondicionados em caixas de madeira  e despachados por via naval ao Brasil, sendo recebidos no porto do Rio de Janeiro vinte dias depois. Posteriormente seriam transportados por via terrestre até o Parque Central de Aviação do Exército, localizado no Campos dos Afonsos, onde as aeronaves seriam montadas e ensaiadas para voo, sob a supervisão de equipes técnicas do fabricante. 
Em 9 de julho de 1937 o primeiro Stearman A76-C3 realizou seu voo inaugural nos céus brasileiros, sendo seguido pelo B76-C3 em setembro do mesmo ano, com a última célula sendo incorporada ao serviço em dezembro. Conforme as aeronaves eram declaradas operacionais, passavam a ser encaminhadas para a Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx), onde os cadetes aviadores após terem passado pela instrução básica nas aeronaves mais antigas, passariam a te contato com as novas aeronaves. Neste estágio os Stearman A76-C3 e B76-C3 eram empregados na instrução de navegação, voo em formatura, manobras básicas de acrobacia e tarefas básicas de instrução em bombardeio, tiro terrestre e fotografia aérea. Além de serem utilizados na Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx), estas aeronaves operariam também em outras localidades, sendo deslocados para Belém no Pará para operar no Esquadrão de Adestramento do Núcleo do 7º Regimento de Aviação e no Núcleo do 4º Regimento de Aviação na cidade de Belo Horizonte no estado de Minas Gerais. Neste mesmo período a Aviação Militar começava a enfrentar uma situação delicada, pois sua de aeronaves de treinamento primário De Havilland DH-60T Moth Trainer Muniz M-9, passavam a apresentar cada vez menores índices de disponibilidade. Este fator se dava principalmente pela falta de peças de reposição principalmente dos motores que eram de origem inglesa e se tonaram extremamente escassos devido ao início da Segunda Guerra Mundial. 

Um pequeno alivio seria recebido quando da aquisição de um pequeno numero de aeronaves do modelo North American NA-72 que assumiriam a função de treinadores avançados, podendo assim destacar provisoriamente alguns Stearman A76-C3 para o treinamento primário. Porém dever-se-ia buscar uma solução mais abrangente, passando pela decisão de se prover a aquisição de novas aeronaves destinadas a esta tarefa. A escolha lógica acabaria recaindo sobre um modelo produzido pela própria Stearman Aircraft Division, visando assim padronizar os processos de manutenção e fluxo de peças de reposição.  Por se tratar de um avião destinado a instrução básica a variante de treinamento escolhida seria o A75-L3, que a exceção do motor, tanques extras de combustível e armamento, era idêntico aos Stearman A76-C3 e B76-C3 em operação. No início do segundo semestre de 1939 a Diretoria de Aviação do Exército assinaria um contrato para a aquisição de vinte células da versão A-75L3, que seriam recebidas desmontadas na sede da Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx) em março de 1940. Estas aeronaves seriam montadas e colocadas em condições de voo em maio do mesmo ano, passando logo a ser empregadas no processo de instrução primária. Em função das diferenças presentes entre os dois modelos os A75-L3 foram apelidados de "Stirminhas" e os A76-C3 e B76-C3 de “Stirmões “em uma clara alusão ao desempenho de ambos.
Em 20 de janeiro de 1941, quando da criação do Ministério da Aeronáutica (MAer), a Aviação Militar dispunha ainda em operação de vinte e sete aeronaves dos modelos Stearman A76-C3 e B76-C3 e dezenove A75-L3. Estas aeronaves e seu respectivo pessoal operativo seriam transferidos para a recém-criada Força Aérea Brasileira, que lhes atribuiria um novo trabalho de instrução em sua nova organização de treinamento, a Escola de Aeronáutica (EAer). A partir de 1943 com o crescente recebimento dos novos modelos de treinamento primário Fairchild PT-19, as aeronaves remanescentes da família Stearman, seriam transferidas para a Base Aérea de São Paulo (BASP), onde foram disponibilizadas ao 3º Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais de Reserva da Aeronáutica (GTCPOR), sendo incumbidos da missão de formação de pilotos da reserva da força. O ano de 1944 assistiria ainda transferência de doze células remanescentes para o 2º Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais de Reserva da Aeronáutica (GTCPOR) baseado no Galeão, que passava a concentrar as tarefas de formação de aviadores da reserva. As últimas unidades do A75-L3 foram desativadas em 1946 e os A76-C3 e B76-C3 em 1947, sendo então revisados e repassados  para o Departamento de Aviação Civil (DAC) para distribuição em diversos aeroclubes brasileiros.

Em Escala.
Para representarmos o Stearman A75-L3 "K-132” nas cores da Aviação Militar do Exército Brasileiro fizemos uso da única opção disponível na época da montagem na escala 1/48, um kit produzido pela Lindberg. Para se compor a versão nacional, não é necessário prover nenhuma alteração. Empregamos decais produzidos pela FCM Decais presentes no antigo set 48/04.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado por todos os Stearman A75-L3 e A76-C3 e B76-C3 quando de seu recebimento, contando com pequenas diferenças de marcações para identificar os esquadrões, após sua incorporação na Força Aérea Brasileira o esquema original foi mantido se alterando apenas as marcações de serial.



Bibliografia :

- Boeing Stearman Model A75/A76  - Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Boeing-Stearman_Model_75
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Boeing Stearman no Brasil - Incaer , Aparecido Camazano Alamino - www.incaer.aer.mil.br/ideias_42.pdf
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr