M-55M (CjM) 12,7 mm

História e Desenvolvimento.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), o uso de metralhadoras automáticas tornou-se amplamente disseminado entre as forças beligerantes, transformando as dinâmicas dos combates. Essa nova realidade impulsionou o desenvolvimento de sistemas de blindagem mais robustos para veículos e aeronaves, tornando obsoletas muitas armas que utilizavam munição de fuzil. Diante desse cenário, tornou-se imperativa a criação de armamentos mais potentes para as forças de infantaria. Nesse contexto, o General John J. Pershing, comandante da Força Expedicionária Americana, solicitou ao Departamento de Armamentos do Exército dos Estados Unidos o desenvolvimento urgente de uma metralhadora de maior calibre. A especificação inicial exigia uma arma com calibre mínimo de 0,50 polegadas (12,7 mm) e velocidade de saída de pelo menos 2.700 pés por segundo (820 m/s). Em resposta, em julho de 1917, o renomado projetista John Moses Browning iniciou a reformulação da metralhadora M-1917 para operar com munições de maior calibre. Paralelamente, a Winchester Repeating Arms Company começou a desenvolver uma nova munição, inicialmente baseada em uma versão reforçada do cartucho .30-06, adaptada para uso antiveículos. Contudo, o General Pershing rejeitou a proposta inicial, insistindo em um cartucho sem aro. Em 15 de julho de 1918, o primeiro protótipo da nova metralhadora foi submetido a testes, mas os resultados foram insatisfatórios: a arma disparava menos de 500 tiros por minuto, com uma velocidade de saída de apenas 2.300 pés por segundo (700 m/s). Além disso, seu peso excessivo, dificuldade de controle e baixa cadência de tiro a tornavam inadequada para o combate antipessoal, além de insuficientemente poderosa contra blindagens leves. Enquanto o projeto avançava, em agosto de 1918, as forças aliadas capturaram um grande número de metralhadoras alemãs Mauser 1918 T-Gewehr e suas munições na Europa. A análise revelou que as munições alemãs de 13,2 mm alcançavam uma velocidade de saída de 2.700 pés por segundo (820 m/s), com projéteis de 800 gramas (53 gramas), capazes de penetrar blindagens de 25 mm a 230 metros de distância. Esses resultados levaram os projetistas norte-americanos a reavaliarem seus projetos. Como resultado, a Winchester Repeating Arms Company aprimorou sua munição de calibre .50 (12,7 mm), alcançando uma velocidade de saída de 2.750 pés por segundo (840 m/s). Apesar dos avanços, a versão final da metralhadora não foi concluída antes do armistício de 11 de novembro de 1918, que marcou o fim do conflito. Ainda assim, esses esforços estabeleceram as bases para o desenvolvimento de armamentos mais avançados nas décadas seguintes, refletindo a busca contínua por inovação em resposta às demandas do campo de batalha.

Com o término da Primeira Guerra Mundial (1914–1918), diversos projetos militares foram cancelados ou interrompidos. Contudo, devido à sua relevância estratégica, o desenvolvimento de uma nova metralhadora pesada prosseguiu, culminando, em 1921, na criação da metralhadora M-1921 Browning, refrigerada a água. Essa arma automática foi projetada para uso por forças de infantaria e como sistema de autodefesa em aeronaves, sendo testada extensivamente entre 1921 e 1937. A M-1921 apresentava um cano leve e alimentação de munição pelo lado esquerdo, o que facilitava sua operação e recarga. Uma variante mais pesada foi considerada para autodefesa em veículos terrestres. Apesar de suas qualidades, os testes revelaram limitações significativas, especialmente para uso em aeronaves e defesa antiaérea, levantando questionamentos sobre sua adequação a essas funções. Em novembro de 1926, o renomado projetista John Moses Browning faleceu, interrompendo temporariamente o projeto. No ano seguinte, a companhia S.H. Green assumiu a liderança, dedicando-se a solucionar os problemas de projeto da M-1921 para atender às exigências das Forças Armadas dos Estados Unidos. Esses esforços resultaram na metralhadora M-2 Browning, lançada em 1933 e produzida por empresas como Colt's Manufacturing Company, General Dynamics, U.S. Ordnance, Ohio Ordnance Works Inc. e FN Herstal (Fabrique Nationale). A M-2 podia ser configurada em até sete variantes especializadas, todas utilizando o calibre .50. Ao longo da década de 1930, a M-2 passou por atualizações significativas, com destaque para a substituição do sistema de refrigeração a água por um sistema a ar, tornando-a mais prática e versátil. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), a M-2 Browning consolidou-se como a principal metralhadora pesada das forças aliadas, sendo amplamente empregada em infantaria, aeronaves, tanques, caminhões, veículos de reconhecimento e embarcações navais. Sua eficácia em combates antiaéreos de baixa altitude e como arma de autodefesa eO sucesso operacional da M-2 inspirou iniciativas para aumentar sua capacidade de fogo. Em 1942, o Exército dos Estados Unidos lançou uma concorrência para o desenvolvimento de um sistema de armas composto por duas ou mais metralhadoras M-2 calibre .50, acopladas a uma torre elétrica com rotação de 360º, projetada para fácil instalação e operação em veículos automotores. Empresas como Bendix Corporation, Martin Aircraft Company e W.L. Maxson Corporation apresentaram propostas, marcando um novo capítulo na evolução dessa icônica arma, que continuou a desempenhar um papel crucial no fortalecimento das capacidades militares aliadas.m veículos blindados foi notável, destacando-se pela robustez e confiabilidade. 
Dentre as propostas submetidas ao Exército dos Estados Unidos (US Army), a da W.L. Maxson Corporation foi escolhida, resultando no desenvolvimento do sistema M-33. Projetado para ser instalado inicialmente nos veículos meia-lagarta White M-2, o M-33 proporcionava às unidades de infantaria uma defesa antiaérea autopropulsada de baixa altitude. Curiosamente, a Maxson não obteve o contrato de produção, que foi atribuído às empresas Kimberly-Clark e Landers, Frary & Clark Company. Contudo, a Maxson ficou responsável pela fabricação dos inversores de velocidade variável para as torres. Entre 1942 e 1943, foram entregues 2.160 sistemas M-33 ao Exército dos Estados Unidos (US Army). O desempenho operacional do M-33, integrado aos veículos meia-lagarta M-13 Multiple Gun Motor Carriage (designação dos White M-2 equipados com a torre), revelou-se insuficiente. A concentração de fogo não atendia às necessidades de saturação do espaço aéreo de baixa altitude, evidenciando a necessidade de melhorias. Liderada pelo engenheiro William Leslie Maxson, a equipe da W.L. Maxson Corporation retornou ao desenvolvimento, criando o sistema M-45 Quadmount. O M-45 Quadmount foi um avanço significativo, equipado com quatro metralhadoras M-2 Browning calibre .50, montadas em uma torre elétrica com rotação de 360º. Operado por dois carregadores e um artilheiro, o sistema permitia elevação angular de -10 a +90 graus e era alimentado por duas baterias recarregáveis de 6 volts. Para evitar superaquecimento, a prática operacional alternava disparos entre os pares superior e inferior de metralhadoras, permitindo que um par resfriasse enquanto o outro era utilizado. Cada arma possuía um conjunto de armazenamento com 200 munições, garantindo maior autonomia em combate. Os protótipos do M-45 foram submetidos a testes rigorosos, demonstrando excelente desempenho. O quarteto de metralhadoras proporcionava o poder de fogo desejado, resultando na aprovação para produção, novamente conduzida pelas empresas Kimberly-Clark e Landers, Frary & Clark Company. O sistema teve seu batismo de fogo durante a Operação Husky, a Invasão da Sicília, em julho de 1943. Ao longo da campanha no teatro europeu, o M-45 Quadmount consolidou-se como uma das principais armas dos batalhões de artilharia antiaérea, ao lado do canhão de 37 mm. Os batalhões equipados com o M-45 ofereciam uma defesa aérea indispensável para unidades maiores, especialmente artilharia de campanha. Sua capacidade de dissuasão contra ataques de baixa altitude, como as corridas de strafing por aeronaves inimigas, era notável. O quarteto de metralhadoras M2HB de "cano pesado" podia ser ajustado para convergir em um único ponto a distâncias variáveis, proporcionando precisão e flexibilidade em combate. A combinação de potência, mobilidade e versatilidade fez do M-45 Quadmount um marco na história da artilharia antiaérea, reforçando a proteção das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o sistema M-45 Quadmount destacou-se tanto como arma antiaérea quanto terrestre, especialmente durante a Batalha do Bulge (1944–1945). Apesar da supremacia aérea alcançada pelos Aliados após a invasão da Normandia, em junho de 1944, os ataques alemães em baixa altitude continuavam a representar uma ameaça. Montados nos veículos meia-lagarta M13 e M15 Multiple Gun Motor Carriage, os M-45 ofereceram proteção eficaz às forças terrestres aliadas, garantindo segurança contra investidas aéreas inimigas. A partir do final de 1944, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também empregou o M-45 em resposta aos ataques suicidas “Kamikaze” da Marinha Imperial Japonesa. Porta-aviões da classe Essex, como o CV-16 Lexington, receberam seis conjuntos do M-45 para testes operacionais a partir de maio de 1945. Contudo, o sistema mostrou-se ineficaz contra as altas velocidades das aeronaves japonesas de mergulho, limitando seu impacto nesse contexto. Na Segunda Guerra Mundial, o M-45 foi integrado a dois sistemas principais: o M-16 Multiple Gun Motor Carriage, montado nos veículos meia-lagarta White M-2 e M-5, e o M-51 Multiple Machine Gun Carriage, acoplado ao trailer M-17. Quando instalado no reboque M-20, o conjunto foi designado M-55 Machine Gun Trailer Mount. No entanto, o M-55 não concluiu os testes antes do fim das hostilidades na Europa, em maio de 1945. No teatro do Pacífico, os M-51 foram gradualmente substituídos pelo M-55 ao final do conflito. De forma experimental, em 1942, o M-45 foi testado em um tanque leve M-3 Stuart, substituindo a torre original de canhão de 37 mm. Esse projeto, porém, foi descontinuado devido à priorização de outras iniciativas militares. Durante a Guerra da Coreia (1950–1953), o M-55 Machine Gun Trailer Mount e o M-16 Multiple Gun Motor Carriage foram amplamente utilizados, especialmente em combates terrestres. As lições aprendidas nesse conflito levaram à conversão de mais de 1.200 veículos meia-lagarta White M-3 para a versão M-16A1, equipada com a torre M-45. Esses veículos eram identificados pela ausência de blindagem rebatível e da porta traseira no compartimento da tripulação, frequentemente equipados com um para-choque dianteiro de rolo em vez do guincho padrão dos M-16. Em 1954, cerca de 700 unidades do M-16A1 receberam modificações adicionais, incluindo a reinstalação da porta traseira e a fixação da blindagem dobrável na posição elevada. Essa variante foi designada M-16A2 Multiple Gun Motor Carriage, aprimorando a funcionalidade e a proteção da tripulação. O M-45 Quadmount demonstrou versatilidade e robustez em diversos cenários de combate, tanto na Segunda Guerra Mundial quanto na Guerra da Coreia. Sua capacidade de adaptação a diferentes plataformas e papéis – desde a defesa antiaérea até o apoio terrestre – consolidou sua importância nas operações militares aliadas. As evoluções e modificações aplicadas ao longo dos anos refletem o compromisso contínuo em aprimorar as capacidades defensivas das forças armadas, deixando um legado duradouro na história da artilharia.
Durante a Guerra da Coreia (1950–1953), tornou-se evidente que o sistema M-45 Quadmount era ineficaz contra os modernos aviões a jato, característicos da “Era do Jato”. Como resultado, seu uso foi redirecionado para o combate terrestre, com ênfase em alvos de infantaria no período pós-guerra. Nesse contexto, pelo menos sessenta conjuntos do M-45 foram cedidos à França, destinados ao Corpo Expedicionário do Extremo Oriente da União Francesa. Montados em caminhões militares, esses sistemas desempenharam um papel significativo na Batalha de Dien Bien Phu, no Vietnã, entre 13 de março e 7 de maio de 1954, enfrentando as forças revolucionárias comunistas do Viet Minh.s, com pelo menos seis M-55 Machine Gun Trailer Mount em serviço no Exército do Paraguai.  A partir de meados da década de 1960, diversos conjuntos do M-55 Machine Gun Trailer Mount foram revisados e modernizados. As atualizações incluíram a instalação de geradores elétricos mais potentes, permitindo sua adaptação para montagem na traseira de caminhões Reo M-35 e Diamond T M-54. Esses sistemas modernizados foram empregados durante a campanha norte-americana no Vietnã, demonstrando sua versatilidade em cenários de combate terrestre. Entre 1943 e 1944, foram produzidos 13.070 conjuntos M-45 Quadmount, muitos dos quais foram armazenados como reserva estratégica na década de 1950. Posteriormente, esses sistemas foram incorporados a programas de assistência militar dos Estados Unidos, sendo fornecidos a nações alinhadas com os objetivos geopolíticos norte-americanos, incluindo França, Brasil, Colômbia, Coreia do Sul, Argentina, Venezuela, Cuba, Vietnã do Sul, Holanda, Bélgica, Taiwan, Bolívia, Israel e Paquistão. Essa distribuição reforçou a cooperação militar com aliados estratégicos em diferentes regiões do mundo. Atualmente, o M-45 Quadmount permanece em serviço em algumas forças armadas. No Exército da Colômbia, o sistema é utilizado em veículos blindados sobre rodas Ford M-8 Greyhound repotencializados. Já no Exército do Paraguai, pelo menos seis unidades do M-55 Machine Gun Trailer Mount continuam operacionais, evidenciando a longevidade e a adaptabilidade desses sistemas em contextos modernos.

Emprego no Exército Brasileiro.
A estruturação do sistema de defesa antiaéreo no Brasil tem início no dia 04 de outubro 1940 com a criação do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (I/1º RAAAé) na cidade do Rio de Janeiro, se confundindo com a evolução da defesa antiaérea no país. Esta organização militar seria estabelecida com o principal objetivo de operacionalizar o emprego dos canhões alemães Flak Krupp 88 mm C/56 Modelo 18 e seus respectivos equipamentos de comando e direção de tiro (preditores) WIKOG 9SH fabricados pela Carl Zeiss e sistemas de localização de som Elascoporthognom, pertencentes ao “Grande Contrato Krupp” firmado no ano de 1938. O 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) iniciaria sua operação de fato e direito em fevereiro de 1941, quando foram efetivamente recebidos seus primeiros equipamentos de origem alemã.  Neste momento o intensificar das operações alemães no teatro europeu e no norte da África, levariam a o governo dos Estados Unidos a passar a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, proporcionando ao pais, uma   linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados, carros de combate em material de artilharia de campo e antiaérea.  

Como parte do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), o Exército Brasileiro foi contemplado com um conjunto significativo de equipamentos de artilharia, fortalecendo sua capacidade defensiva durante a Segunda Guerra Mundial. No âmbito da artilharia de campanha, foram recebidos canhões anticarro e antitanque M-1 de 57 mm e M-3 de 37 mm, além de obuseiros de campo M-1 Pack Howitzer de 75 mm, M-2 de 105 mm e M-1 de 155 mm. Para a defesa antiaérea, o Brasil adquiriu um número limitado, porém crucial, de canhões M-2A2 AA de 37 mm, M-3 AA de 76 mm e M-1A3 AA de 90 mm. Embora a quantidade de canhões antiaéreos recebidos fosse inferior às necessidades nacionais, sua chegada foi extremamente bem-vinda, preenchendo a lacuna deixada pelo recebimento de apenas 28 unidades dos canhões alemães Flak Krupp 88 mm C/56 Modelo 18, adquiridos anteriormente. Esses novos equipamentos permitiram equipar integralmente os 1º, 2º e 3º Regimentos de Artilharia Antiaérea (RAAAé), que foram estrategicamente posicionados para proteger pontos vitais do litoral brasileiro, incluindo uma bateria operacional na ilha de Fernando de Noronha. A defesa antiaérea de média altitude foi estruturada em torno dos canhões M-2A2 AA de 37 mm, cujas unidades operadoras passaram a ser designadas como Grupos de Artilharia Antiaérea 40 mm (Gcan40 AAe). Para a proteção contra ameaças em baixa altitude, o Brasil contava com algumas dezenas de canhões duplos Oerlikon de 20 mm, complementados por metralhadoras dinamarquesas Madsen de 30 mm e centenas de metralhadoras norte-americanas M-50 Browning M-1921 e Browning M-2 calibre .50. Estas últimas, frequentemente montadas em veículos blindados, desempenhavam funções de autodefesa. Embora o sistema M-55 Machine Gun Trailer Mount fizesse parte do portfólio do programa Leand & Lease Bill Act, ele não foi incluído no pacote negociado com o Brasil. Essa decisão pode ser atribuída à avaliação de que o risco de ataques aéreos de baixa altitude no território continental brasileiro era mínimo. Da mesma forma, em 1944, esses sistemas antiaéreos não foram fornecidos à Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuava no front italiano. Nesse período, a ameaça de ataques aéreos terrestres pela Luftwaffe (Força Aérea Alemã) já havia diminuído significativamente, tornando desnecessário o uso desses equipamentos no teatro de operações italiano. A incorporação desses armamentos, embora limitada em quantidade, representou um avanço significativo na modernização das Forças Armadas Brasileiras. A alocação estratégica dos regimentos de artilharia antiaérea e o uso de equipamentos modernos fortaleceram a capacidade de defesa do litoral brasileiro, protegendo áreas de importância estratégica durante a Segunda Guerra Mundial.
Logo após o período pós-guerra, por volta de meados do ano de 1948, seriam recebidos no país os primeiros conjuntos de metralhadores antiaéreas M-55 Machine Gun Trailer Mount, com pelo menos vinte destas peças usadas (mas em bom estado) sendo cedidas pelo governo norte-americano. Estes passariam a dotar os Grupos de Artilharia Antiaérea 40 mm (Gcan40 AAe). Em 1952, seria assinado na capital federal no Rio de Janeiro, o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que concederia as Forças Armadas Brasileiras acesso ao Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program), facilitando e simplificando o recebimento de material militar norte-americano. A partir deste momento seriam fornecidos ao país, uma grande quantidade de veículos e armamentos, entre eles setenta conjuntos do sistema de metralhadoras antiaéreas M-55 Machine Gun Trailer Mount. Neste momento iniciara-se o emprego deste sistema de armas como defesa de ponto para as tropas de infantaria com este equipamento passando a operar embarcado na traseira de caminhões GMC CCKW 352 B2 6X6, assim pela primeira vez o Exército Brasileiro passaria a contar para suas forças de infantaria com um sistema de proteção mínimo contra a ameaças de ataque aéreo a baixa altitude. A incorporação dos sistemas M-55 e a adesão ao Programa de Assistência Militar representaram marcos importantes na modernização da defesa antiaérea brasileira no período pós-guerra. A adaptação desses equipamentos para uso em caminhões e os estudos para conversão de veículos blindados demonstraram o compromisso do Exército Brasileiro em aprimorar sua capacidade de resposta a ameaças aéreas e terrestres. Uma nova possível aplicação para os M-55 no Exército surgiria no ano de 1969, quando uma delegação israelense esteve em visita ao 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (BCCL), o objetivo desta comitiva era o de buscar no mercado internacional a aquisição de veículos blindados antigos, visando assim transformá-los em veículos especializados ou de serviço. Durante esta reunião o comandante da unidade o Coronel Oscar de Abreu Paiva demonstraria grande interesse neste processo, tendo em vista os inúmeros comentários positivos preferidos pelos militares israelenses sobre estas conversões. Com base neste conceito, seriam conduzidos estudos visando a conversão de uma parcela da frota de carros de combate leve M-3 e M-3A1 Stuart em veículos antiaéreos autopropulsados, a exemplo de estudos similares conduzidos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, para o desenvolvimento de uma plataforma semelhante.

Após ser elaborado o projeto conceitual, seria escolhido o carro M-3 Stuart “EB11-487” como veículo protótipo, tendo este sua torre do canho de 37 mm removida, recebendo em seu lugar, um  sistema de reparo de metralhadoras antiaéreas quadruplo calibre .50 do modelo M-45 Quadmount que seria fornecida em regime de comodato pelo 5º Grupamento de Artilharia Antiaérea 90mm (Gcan90 AAe).Todo este processo de conversão seria executado nas oficinas do 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (BCCL), contando com o apoio da equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da Terceira Região Militar de Santa Maria (PqRMM/3). Esta viatura seria submetida a testes e campo, com os seus resultados se mostrando extremamente positivos do funcionamento dos sistemas elétricos e mecânicos, validando assim seu conceito técnico operacional desta conversão, evoluindo então para os testes de tiro real. Infelizmente não se sabe por quais motivos, o comando do Exército Brasileiro, não demonstraria neste momento o devido interesse, levando assim ao cancelamento do projeto, sendo o veículo restaurado a sua condição original e seu conjunto M-45 Quadmount sendo devolvido ao seu grupamento de origem. Em fins da década de 1970, apesar da idade e relativa ineficiência contra aeronaves de alta performance, o sistema M-55 Machine Gun Trailer Mount ainda podia ser empregado com sucesso contra aeronaves de asas rotativas e alvos de infantaria, este cenário levaria o comando do Exército Brasileiro a estudar um possível processo de repotenciamento deste sistema visando assim estender a vida útil destes sistemas de armas. Uma proposta seria apresentada pela empresa carioca Lysam Indústria e Comércio de Máquinas e Equipamentos Ltda, envolvendo além de uma completa revisão a troca de seu sistema elétrico original, adotando um modelo mais moderno carregado por um motor a gasolina Montgomery M-226 ou M-252 de 5 cv ou 6 cv (3,73 ou 4,47kW). A proposta agradaria os militares do Exército Brasileiro, sendo contratada a produção de um protótipo para fins de avaliação com este sendo concluído em meados do ano seguinte. Embora mantivesse capacidades e desempenho semelhantes por manter como seu armamento orgânico as quatro metralhadoras Browning M-2 calibre .50, sua velocidade de travessia seria melhorada, com sua capacidade de elevação aumentando para mais de 90° por segundo, para assim poder engajar alvos de travessia rápida. 
Na década de 1970, o Exército Brasileiro intensificava o desenvolvimento de uma família de veículos blindados, com destaque para os carros de combate leve MB-1 (X-1A Pioneiro e X1-A2 Carcará). Nesse contexto, surgiu a iniciativa de criar uma viatura antiaérea autopropulsada para equipar as unidades de Artilharia Antiaérea das Brigadas Blindadas. O projeto, designado M.01.15, foi conduzido pelo Centro de Tecnologia do Exército (CETEX) em parceria com a empresa Bernardini S/A. Para o protótipo, foi selecionado um carro de combate leve X-1A Pioneiro, que passou por modificações mecânicas para integrar o conjunto quádruplo de metralhadoras M-55M. Concluída, a viatura recebeu a designação de Viatura de Combate Antiaérea XM3D1 (VBC AAe) e foi submetida a um rigoroso programa de testes, com o objetivo de avaliar sua eficácia operacional. Paralelamente, foi planejada a construção de um segundo protótipo, sob o projeto M.01.27, que seria equipado com um canhão Bofors L/60 de 40 mm e receberia a designação XM3E1. No entanto, essa configuração foi cancelada, e a viatura acabou sendo equipada com o mesmo conjunto M-55M do protótipo anterior. Os testes realizados com a XM3D1 revelaram limitações significativas, especialmente a baixa cadência de fogo e o alcance restrito das metralhadoras Browning M-2 calibre .50. Esses fatores foram determinantes para a decisão de não adotar a viatura, levando ao cancelamento definitivo do projeto M.01.15. Apesar do esforço investido, as restrições técnicas inviabilizaram a integração da XM3D1 às operações das Brigadas Blindadas. Enquanto o projeto da viatura antiaérea autopropulsada não prosperou, os conjuntos de metralhadoras M-55M, montados em caminhões Ford-Engesa F-600, continuaram em operação junto aos Grupos de Artilharia Antiaérea (GAAAe). Esses sistemas permaneceram em serviço até o início da década de 1990, quando foram gradualmente desativados. As metralhadoras Browning M-2 e outros componentes foram sucateados, marcando o fim de uma era para esse equipamento no Exército Brasileiro. Atualmente, algumas unidades do sistema M-55M foram preservadas como parte do patrimônio histórico militar brasileiro. Um exemplo notável encontra-se no acervo do Museu do Comando Militar do Sul, localizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Essas relíquias representam não apenas a história da artilharia antiaérea brasileira, mas também o empenho do Exército em buscar soluções inovadoras para fortalecer sua capacidade defensiva, mesmo diante de desafios técnicos e logísticos.

Em Escala.
Para representarmos o sistema de metralhadoras antiaéreas M-55 Machine Gun Trailer Mount , fizemos uso do excelente kit na escala 1/35 produzido pela Dragon Models. Como optamos pela versão original não modernizada, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado direto da caixa. Usamos decais originais fornecidos com o modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial com os quais este sistema de defesa antiaérea foram recebidos a partir de 1948. Durante toda sua carreira no Brasil os M-55 Machine Gun Trailer Mount fizeram uso desde esquema de pintura.



Bibliografia :
- O Stuart no Brasil – Helio Higuchi, Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M-45 Quadmount - https://en.wikipedia.org/wiki/M45_Quadmount 
- M2- Browning - https://en.wikipedia.org/wiki/M2_Browning
- Blindados no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos