O primeiro protótipo do T-17 foi entregue ao Aberdeen Proving Ground em março de 1942, apenas seis meses após a autorização, demonstrando a urgência imposta pela entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial após o ataque japonês a Pearl Harbor. A necessidade premente de veículos levou o Exército americano a autorizar, em janeiro de 1942, a produção de 2.260 unidades do T-17 e 2.000 unidades do T-17E1, desenvolvido pela Chevrolet. Um mês após a entrega do primeiro protótipo, o pedido do T-17 foi ampliado para 3.760 unidades. Um segundo protótipo, testado pelo Conselho da Força Blindada em Fort Knox, incorporou uma torre de três homens, melhorias no sistema de admissão e no convés do motor, aumentando a eficiência de combate e a tripulação para cinco. Embora os detalhes dos testes sejam escassos, sabe-se que o segundo protótipo apresentou melhor economia de combustível, e os britânicos, em julho de 1942, observaram que o T-17 parecia superior ao T-17E1, influenciando a decisão dos Estados Unidos de reservá-lo para uso próprio. O desenvolvimento do T-17 também incluiu adaptações para operações em climas frios, iniciadas em julho de 1942, com a incorporação de aquecedores para o motor, bateria e compartimento da tripulação, além de um primer de motor, para-brisa especial e persianas para as entradas e saídas de ar. O projeto seguiria em frente sendo programada a produção inicial de 250 T-17, no entanto Conselho da Força Blindada percebeu que tinha muitos projetos em andamento simultaneamente como resultado de não ter estabelecido requisitos claros do que eles queriam. Seu comandante o Brigadeiro-General W. B. Palmer era bastante implacável e favorecia fortemente os carros blindados leves. A Doutrina da Força Blindada agora finalmente decidiu que o reconhecimento deveria ser feito por veículos pequenos, baratos e 'sorrateiros', em oposição a veículos capazes de lutar em combate corpo a corpo. Qualquer desenvolvimento de carro blindado com peso superior a 20.000 libras (9,1 toneladas) deveria ser cancelado imediatamente. A Força Blindada tentou manter o carro blindado médio T-19 em desenvolvimento, mas acabou não sendo capaz de defender suficientemente o desenvolvimento do veículo. Como resultado, o Gun Motor Carriage T-22 deveria ser padronizado e se tornou o M-8 Greyhound. Isto influenciaria o futuro do T-17, com seu contrato reduzido para 250 veículos, que era a produção esperada de 1942. Embora o desenvolvimento tenha sido essencialmente cancelado para o T-17 e o T-17E1, a produção já havia começado e talvez fosse desnecessário cancelar imediatamente a produção. Além disso, o contrato de produção de 250 veículos também foi autorizado a ser realizado até que a Ford pudesse fazer a transição para fabricar M-8 Greyhounds e compensar as perdas de ferramentas de produção. Os britânicos ainda estavam em posição de solicitar formalmente a produção de um carro blindado de qualquer maneira, mesmo que fosse apenas para atender às suas necessidades. Como resultado, mais testes do T-17 e T-17E1 para guerra no deserto foram formalmente solicitados pelo Exército Britânico (Royal Army) em algum momento de janeiro de 1943.
Os testes do carro blindado T-17 Deerhound, conduzidos pelo Exército Britânico e pelo Desert Warfare Board em Camp Young, Califórnia, continuaram até 15 de abril de 1943, com o objetivo de avaliar sua resistência e adequação às exigências operacionais. Nos 15 dias seguintes, embora menos falhas tenham sido relatadas, a implementação de eixos de transmissão sólidos e novos suportes de para-choques permaneceu pendente devido à indisponibilidade dos componentes necessários. Essa demora refletiu os desafios logísticos que marcaram o projeto, evidenciando a dificuldade de alinhar produção e adaptação em um contexto de guerra. Em 5 de junho de 1943, os testes foram finalizados, e os resultados, discutidos com a Ford Motor Company, geraram controvérsias. A Ford argumentou que as condições dos testes, que incluíam um percurso de 5.000 milhas (8.047 km) dividido igualmente entre estrada e terreno off-road, eram excessivamente rigorosas. Contudo, o relatório do Desert Warfare Board foi implacável, destacando falhas graves, como torções nos eixos intermediários e problemas nas juntas do eixo dianteiro. Diante disso, os britânicos solicitaram o cancelamento da alocação de todos os 218 T-17s construídos — um número inferior aos 250 inicialmente planejados —, argumentando que os custos e esforços para corrigir as deficiências não justificavam sua utilização. A necessidade de redesenhos extensos, especialmente nos eixos de transmissão, revelou uma possível subestimação por parte da Ford quanto à robustez necessária para os componentes do T-17. As falhas catastróficas em curtas distâncias operacionais, observadas já após 400 milhas (644 km) de testes, indicaram que os problemas identificados não foram corrigidos nos veículos de produção, já que os testes ainda estavam em andamento quando as decisões críticas foram tomadas. Em julho de 1943, os britânicos formalizaram o cancelamento do T-17, citando as severas avarias mecânicas, a complexidade dos redesenhos necessários e a dificuldade de implementar modificações em uma frota dispersa por diversos portos americanos. Em fevereiro de 1944, o Exército dos Estados Unidos também abandonou o projeto, encerrando oficialmente o desenvolvimento do T-17. Os veículos remanescentes foram concentrados, e muitos tiveram suas armas removidas para serem realocados a unidades da Polícia Militar nos Estados Unidos, onde foram empregados em tarefas de patrulha nas proximidades de bases militares. Embora o T-17 Deerhound não tenha alcançado o sucesso esperado, sua história reflete a complexidade de desenvolver tecnologia militar em um período de intensa pressão. As falhas mecânicas e os desafios logísticos impediram que o veículo cumprisse seu potencial, mas o esforço investido no projeto contribuiu para um processo maior de aprendizado. Esse conhecimento pavimentou o caminho para o desenvolvimento de veículos blindados mais eficazes, como o M-8 Greyhound.No âmbito do acordo de assistência militar firmado com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil recebeu uma expressiva quantidade de equipamentos bélicos, incluindo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, navios e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse esforço, que visava fortalecer suas capacidades em um contexto global de intensos conflitos. A partir do final de 1941, o Brasil começou a incorporar veículos blindados, como os carros de combate leves M-3 Stuart, os médios M-3 Lee e os veículos de transporte de tropas M-3A1 White Scout Car. Em meados de 1943, um lote de 54 Ford T-17 Deerhounds chegou ao país, tornando o Brasil o único a operar esse veículo blindado em unidades regulares de uma força terrestre. A aquisição do T-17 Deerhound pelo Brasil, no entanto, levanta questionamentos, especialmente considerando que o veículo havia sido rejeitado anteriormente tanto pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) quanto pelo Exército Britânico (Royal Army) devido a falhas mecânicas graves e dificuldades logísticas identificadas em testes conduzidos em 1943. O T-17 Deerhound, projetado pela Ford Motor Company, apresentava problemas como torções nos eixos de transmissão e juntas defeituosas, tornando-o menos confiável que seu concorrente, o M-8 Greyhound, que já se destacava em serviço por seu desempenho superior. Surge, portanto, a dúvida: por que o Brasil aceitaria um veículo rejeitado, especialmente em um momento de urgência por equipamentos modernos? A resposta reside em um possível equívoco logístico ou alteração intencional. Inicialmente o Exército Brasileiro havia solicitado 54 M-8 Greyhounds, acompanhados da documentação correspondente, esperando receber esse modelo mais avançado. Contudo, ao descarregar a remessa, constatou-se que os veículos enviados eram, na verdade, T-17 Deerhounds. Esse incidente não foi isolado: documentos de arquivo brasileiros revelam que o Brasil também solicitou esclarecimentos aos Estados Unidos sobre a substituição de obuses M-3 de 105 mm por modelos M-1A1 de 75 mm, indicando possíveis falhas na coordenação das entregas. O contexto sugere que os Estados Unidos priorizaram o envio dos Ford M8 Greyhounds para a Europa, onde a demanda por veículos blindados confiáveis era crítica. Com cerca de 200 T-17 rejeitados disponíveis em estoque, os norte-americanos encontraram no Brasil uma oportunidade para alocar esses veículos, que, apesar de serem de tração 6x6 e semelhantes ao M-8 em conceito, apresentavam desempenho inferior. Assim, a entrega dos T-17 Deerhounds ao Brasil parece ter sido uma decisão pragmática, aproveitando um estoque de veículos descartados para atender a um aliado sem comprometer os recursos destinados ao teatro de operações europeu. Um documento de arquivo brasileiro chegou a questionar os Estados Unidos sobre essa substituição, porém não houve um retorno oficial sobre esta temática.
Estimativas apontam que o Exército Brasileiro recebeu os blindados Ford T-17 Deerhound em dois lotes até meados de 1944, como parte do programa Lend-Lease Act, que fortaleceu a modernização das forças armadas brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial. Em setembro do mesmo ano, as primeiras 18 unidades foram oficialmente incorporadas, recebendo a designação local de Carro Blindado de Reconhecimento (CBR). Esses veículos, considerados os primeiros blindados sobre rodas 6X6 do Exército Brasileiro, foram destinados a funções de reconhecimento e comando em unidades blindadas, aproveitando sua configuração original, que incluía um canhão M6 de 37 mm, uma metralhadora coaxial .30 M1919 e outra metralhadora .30 montada na proa do casco, e assim desempenhando um papel pioneiro na transição da cavalaria hipomóvel para a mecanizada no Brasil. Os T-17 Deerhound foram alocados a três unidades principais do Exército Brasileiro, contribuindo para a capacitação operacional: 2º Regimento Motomecanizado (2º RMM), Porto Alegre, RS - Sediado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, o 2º RMM recebeu 18 viaturas T-17 Deerhound em setembro de 1944. Essas unidades operaram em conjunto com tanques leves M-3A1 Stuart, viaturas blindadas White M-3A1 Scout Car e jipes Willys MB, formando um núcleo inicial de forças mecanizadas. Infelizmente, a escassez de registros oficiais e fotográficos limita o conhecimento sobre o emprego desses blindados nessa unidade. Um dos poucos registros disponíveis refere-se ao veículo EB 10-084, carinhosamente apelidado de “Tuiuti”. Retirado do serviço ativo no início da década de 1970, esse exemplar foi restaurado e transformado em monumento na cidade de Jaguarão, Rio Grande do Sul, onde permanece como testemunho histórico. 3º Regimento Motomecanizado (3º RMM), Bagé, RS - Em 3 de setembro de 1944, o 3º RMM, baseado em Bagé, também no Rio Grande do Sul, incorporou 18 viaturas T-17 Deerhound. Esses blindados foram distribuídos entre o 3º e o 4º Esquadrões de Carros Leves, operando ao lado de 34 tanques M-3A1 Stuart. A integração dessas viaturas reforçou a capacidade de reconhecimento e mobilidade tática da unidade, embora detalhes operacionais permaneçam pouco documentados. 1º Batalhão de Polícia do Exército (1º BPE), Rio de Janeiro, RJ - Sediado na então capital federal, Rio de Janeiro, foi a terceira unidade a operar os T-17 Deerhound. Embora não haja registros oficiais que confirmem o número exato de viaturas alocadas, estima-se, com base na distribuição padrão de 18 unidades por regimento, que o batalhão tenha recebido quantidade semelhante. Fotografias de época, especialmente de desfiles cívicos, mostram no máximo três viaturas operando simultaneamente, sugerindo um uso mais limitado em atividades de segurança e representações oficiais. Em 17 de maio de 1946 os Regimentos Motomecanizados seriam renomeados Regimento de Cavalaria Mecanizado (RCMec), neste mesmo período marcações também começariam a ser padronizadas nessa época. A partir de pré-1946, quando usavam uma estrela nas cores do Brasil, ela foi substituída de 1946 a 1983 pelo Cruzeiro de Sul, traduzido como Cruzeiro do Sul. Além disso, o registro dos veículos também foi padronizado, com o formato EB10-XXX. EB referia-se ao Exército Brasileiro, o 10 ao tipo de veículo, no caso, um veículo de reconhecimento, e o XXX (por exemplo, 084) a qual veículo.
Desde o seu recebimento estes blindados foram empregados em inúmeros treinamentos, e a decisão de se concentrar estes blindados no Sul do país se mostraria acertada ao longo dos anos. A partir de novembro de 1953, as unidades seriam redesignadas como Regimento de Reconhecimento Mecanizado (RRecMec) até cerca de 1968-1969, após o que seriam designadas como RCMec novamente, o que mantêm até hoje. Uma vez que a fonte se refere principalmente ao RRecMec e este foi o período mais longo em que o T-17 serviu sob esta designação de regimento. Embora o T-17 tenha sido certamente uma atualização em comparação com o Renault FT-17 ou o Fiat-Ansaldo L-3, apresentando um desempenho inédito como sua velocidade máxima de 72 km/h e capacidade de atravessar terrenos variados (como inclinações de até 60% e obstáculos verticais de 46 cm) e com uma autonomia de 80 a 483 km em terrenos variados e 483 a 644 km em estradas pavimentadas, o Deerhound não se mostrou muito popular entre as tripulações. Os dois motores Hercules JXD tiveram que ser sincronizados, o que supostamente foi bastante desafiador, com a viatura sofrendo com problemas mecânicos crônicos, incluindo falhas nas transmissões e eixos, o que tornava sua manutenção um desafio logístico por causa disso, os Deerhounds geralmente não apresentam bons índices de disponibilidade. Para piorar a situação, dirigir o veículo em um monomotor para contornar o problema de sincronização danificaria os eixos de transmissão. Em suma, parece que os erros que o primeiro protótipo do T-17 tinha não foram realmente resolvidos ou simplesmente não podiam ser corrigidos por causa da concepção fundamental do T-17 Deerhound de dois motores. Ao final da década de 1950 grande parte frota se encontrava indisponível operacionalmente. Estas deficiências de projeto e a complexibilidade de seu grupo motriz excluiriam estes 54 blindados do estudo referente a repotenciação e remotorização que seriam conduzidos pelo Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2) em meados da década de 1960 e seriam implementados junto a uma parcela da frota de carros M-8 e M-20. Posteriormente, os T-17 remanescentes em condições operacionais foram transferidos para a Polícia do Exército (PE) no Rio de Janeiro, onde permaneceram em uso até meados da década de 1970. Durante esse período, desempenharam funções de patrulha e segurança, mas seu desempenho foi considerado insatisfatório devido à complexidade mecânica e à baixa confiabilidade. O T-17 Deerhound é pouco conhecido no Brasil devido ao seu desempenho limitado e ao número reduzido de unidades. No entanto, ele marcou a história como o primeiro veículo blindado 6x6 operado pelo Exército Brasileiro. Alguns exemplares sobreviveram e estão preservados em museus e parques históricos, todos em condição não operacional: Museu Militar do Comando Militar do Sul, Porto Alegre, RS; Parque Histórico Marechal Manoel Luis Osório, Tramandaí, RS; Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar, Rio de Janeiro, RJ (sem armamento). Curiosamente, todos os quatro T-17 Deerhounds sobreviventes no mundo estão no Brasil, o que destaca a singularidade da experiência brasileira com esse veículo. 




