
História e Desenvolvimento.
A história de uma das mais icônicas famílias de aeronaves leves teve início em 1927, com a fundação da Taylor Brothers Aircraft Manufacturing Company, nos Estados Unidos, pelos irmãos Clarence Gilbert Taylor e Gordon A. Taylor. A empresa rapidamente se destacou no mercado aeronáutico com o lançamento do Taylor Cub, um avião biplace de asa alta projetado para ser simples, robusto e acessível. A produção do modelo começou em 1931, alcançando a impressionante marca de mais de 4.000 unidades fabricadas, o que consolidou a reputação da empresa no segmento de aviação leve. Em dezembro de 1937, a empresa foi reorganizada e renomeada como Piper Aircraft Company, sob a liderança de William T. Piper, um empresário que reconheceu o potencial do mercado de aeronaves leves para treinamento, transporte e uso recreativo. O modelo mais emblemático da empresa, o Piper J-3 Cub, introduzido na década de 1930, destacou-se pela sua simplicidade, baixo custo operacional e capacidade de operar em pistas rudimentares, características que o tornaram um sucesso comercial tanto no mercado interno quanto internacional. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Piper Aircraft Company desempenhou um papel crucial no esforço de guerra aliado. A empresa produziu mais de 5.000 unidades da versão militar do J-3 Cub, designada como L-4 Grasshopper, utilizada para missões de observação, reconhecimento e ligação. Além disso, a Piper fabricou componentes para outros equipamentos de defesa, consolidando sua relevância estratégica. A robustez e a versatilidade do J-3 Cub permitiam operações em condições adversas, com mínima infraestrutura de apoio, o que o tornou ideal para uso em bases improvisadas durante o conflito. Após a guerra, a Piper Aircraft capitalizou sua reputação para expandir sua presença no mercado global, especialmente em países em desenvolvimento, onde a demanda por aeronaves leves, acessíveis e confiáveis era crescente. Inicialmente, as aeronaves eram exportadas prontas, sendo montadas nos países de destino. Posteriormente, a Piper adotou uma estratégia inovadora ao negociar licenças de produção, permitindo que os compradores internacionais fabricassem as aeronaves localmente com um percentual de componentes produzidos no país de destino. A combinação de baixo custo de aquisição e operação, aliada à simplicidade e durabilidade do projeto, tornou o Piper J-3 Cub e seus derivados uma escolha popular em regiões remotas e com infraestrutura limitada. Em 1935, Clarence Gilbert Taylor, um dos fundadores da Taylor Brothers, foi destituído da diretoria executiva da Piper Aircraft Company. Decidindo se retirar do corpo acionário, ele fundou a Taylorcraft Aircraft Company no mesmo ano, com o objetivo de continuar sua visão de desenvolver aeronaves leves e acessíveis. Inspirado em projetos anteriores, Taylor lançou o Taylorcraft BC-12, um modelo que compartilhava semelhanças com o J-3 Cub, mas incorporava inovações próprias.
No final da década de 1930, o Brasil atravessava um período de profundas transformações econômicas e sociais, marcado por um processo de modernização e industrialização impulsionado pelo governo de Getúlio Vargas. Nesse contexto de renovação, a aviação civil começou a ganhar destaque, inspirada pelo sucesso de aeronaves leves produzidas nos Estados Unidos por empresas como a Taylorcraft Aircraft Company e a Piper Aircraft Company. Modelos como o Piper J-3 Cub e o Taylorcraft BC-12, conhecidos por sua simplicidade, robustez e capacidade de operar em pistas rudimentares, serviram como referência para iniciativas pioneiras no Brasil, onde a aviação leve encontrou terreno fértil para se desenvolver. Um dos protagonistas dessa história foi o empresário paulista Francisco Pignatari, cuja paixão pela aviação o levou a investir na criação de uma indústria aeronáutica nacional. No final dos anos 1930, Pignatari uniu-se ao engenheiro italiano Luigi Bresciani, cuja expertise técnica complementava a visão empreendedora do industrial. Juntos, eles iniciaram o desenvolvimento de uma aeronave leve nacional, inspirada nos modelos norte-americanos de biplace (dois lugares), com estrutura metálica recoberta por lona, uma construção típica da época que equilibrava leveza e resistência. O projeto resultou na construção de dois protótipos, equipados com motores a pistão Continental A65 de 50 cavalos de potência, amplamente utilizados em aeronaves leves da época, como o Piper Cub. Esses protótipos passaram por uma série de voos de teste, que demonstraram sua funcionalidade e viabilidade técnica. Apesar do sucesso inicial, o projeto não avançou para a produção em série, enfrentando limitações financeiras e tecnológicas. Contudo, as experiências adquiridas nesse processo foram fundamentais para pavimentar o caminho para iniciativas mais ambiciosas. As lições aprendidas com os protótipos inspiraram Pignatari a dar um passo adiante. Em início de 1942, ele criou uma divisão aeronáutica dentro de uma de suas empresas, a Laminação Nacional de Metais, com o objetivo inicial de produzir planadores para treinamento e formação de pilotos civis. Esses planadores, projetados para atender à crescente demanda por instrução aeronáutica em aeroclubes, alcançaram um sucesso notável no mercado brasileiro. As vendas expressivas incentivaram Pignatari a expandir suas ambições, levando à fundação, em agosto de 1942, da Companhia Aeronáutica Paulista (CAP), uma empresa independente dedicada exclusivamente à construção de aeronaves. Embora a CAP contasse com o capital necessário para investimentos, a falta de expertise tecnológica local representava um desafio. Para superá-lo, Pignatari estabeleceu uma parceria estratégica com o Instituto de Pesquisas e Tecnologia (IPT) de São Paulo, uma instituição renomada por sua capacidade de desenvolvimento técnico e inovação.

Essa colaboração foi decisiva para o avanço da empresa, culminando no desenvolvimento do primeiro protótipo de uma nova aeronave, designado IPT-4. Após sua homologação, o modelo recebeu o nome comercial CAP-1 Planalto, marcando o início de uma nova era na aviação leve brasileira. O CAP-1 Planalto, lançado no início dos anos 1940, foi projetado como uma aeronave leve de treinamento e transporte, com características que refletiam as influências dos modelos norte-americanos, mas adaptadas às necessidades do mercado brasileiro. Sua construção robusta e simplicidade operacional o tornaram ideal para aeroclubes e operações em regiões com infraestrutura limitada, como as áreas rurais do Brasil. O sucesso do CAP-1 incentivou a CAP a desenvolver versões subsequentes, denominadas CAP-2, CAP-3 e CAP-3A, que incorporavam melhorias em desempenho, conforto e capacidade. Mas neste mesmo período não apenas Francisco Pignatari, com sua Companhia Aeronáutica Paulista (CAP), mas também outros entusiastas investiram na criação de uma indústria aeronáutica nacional. Um marco significativo foi a fundação, em meados de 1931, da Empresa Aeronáutica Ypiranga Ltda. (EAY), estabelecida pelos empresários Fritz Roesler, Orthon W. Hoover e Henrique Santos Dumont, sobrinho do pioneiro da aviação Alberto Santos Dumont. A EAY representou um passo ousado na construção de uma aviação brasileira autônoma, contribuindo para o fortalecimento da identidade tecnológica do país. A EAY iniciou suas atividades com foco na produção de planadores, um segmento estratégico para o treinamento de pilotos em uma época em que a formação aeronáutica era essencial para o crescimento da aviação civil e militar. O primeiro destaque da empresa foi o EAY-101, um planador projetado e construído inteiramente no Brasil, marcando a primeira vez que uma aeronave desse tipo foi desenvolvida localmente. O sucesso do EAY-101 demonstrou a capacidade técnica dos fundadores e pavimentou o caminho para projetos mais ambiciosos, consolidando a reputação da empresa no cenário aeronáutico nacional. Em 1934, a EAY decidiu expandir suas ambições, iniciando o desenvolvimento de uma aeronave motorizada, designada EAY-201 Ypiranga. Inspirado diretamente no Taylor Cub, um modelo norte-americano conhecido por sua simplicidade e versatilidade, o EAY-201 foi projetado como uma aeronave leve biplace (dois lugares), ideal para treinamento, transporte e uso recreativo. O projeto refletia as tendências da época, com uma estrutura metálica recoberta por lona, garantindo leveza e resistência. O primeiro voo do EAY-201 Ypiranga ocorreu em maio de 1935, equipado inicialmente com um motor radial francês Salmson 9 AD de 40 cavalos de potência, que acionava uma hélice de madeira. Os testes iniciais foram promissores, com a aeronave demonstrando boa estabilidade e facilidade de operação. As aeronaves EAY-201 Ypiranga continuaram a operar no Brasil por décadas, desempenhando papéis em aeroclubes e operações regionais. O último voo conhecido de um EAY-201, registrado com a matrícula PP-TJR, ocorreu em 10 de dezembro de 1970, em um translado realizado pelo Comandante Lucy Lúpia Pinel Balthazar entre o Campo de Marte, em São Paulo, e o Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, a aeronave foi incorporada ao acervo permanente do Museu Aeroespacial (Musal), no Rio de Janeiro, onde permanece como um testemunho do pioneirismo da aviação brasileira.
No entanto, o desempenho do motor Salmson revelou-se insuficiente para as exigências do mercado. Em resposta, a EAY substituiu o motor original por um Franklin O-200 de 65 cavalos, que proporcionou melhor desempenho e confiabilidade, permitindo que o EAY-201 se alinhasse às expectativas de pilotos e operadores. Entre 1935 e 1943, a EAY produziu e comercializou diversas unidades do EAY-201 Ypiranga, que encontraram mercado em aeroclubes e operações privadas no Brasil. A aeronave tornou-se popular devido à sua simplicidade, baixo custo operacional e capacidade de operar em pistas rudimentares, características que a tornavam ideal para as condições do interior brasileiro. O EAY-201 foi utilizado principalmente para treinamento de pilotos e voos de ligação, contribuindo para a expansão da aviação civil em um país ainda marcado por desafios logísticos e geográficos. Em 1943, a Empresa Aeronáutica Ypiranga foi adquirida pela Companhia Aeronáutica Paulista (CAP), fundada por Francisco Pignatari em 1942. A negociação incluiu a transferência de todo o ferramental, maquinário, equipes técnicas e direitos de projeto e produção do EAY-201 Ypiranga. Essa absorção refletiu a consolidação da indústria aeronáutica brasileira, que, embora promissora, enfrentava dificuldades para sustentar múltiplas empresas em um mercado ainda incipiente. A integração à CAP permitiu que o legado técnico da EAY fosse preservado, influenciando o desenvolvimento de novos modelos, como o CAP-1 Planalto e suas variantes. Após a aquisição da EAY, a CAP firmou um novo acordo com o Instituto de Pesquisas e Tecnologia (IPT) de São Paulo, uma instituição reconhecida por sua expertise em pesquisa e inovação. O objetivo era revisar e aprimorar o projeto do EAY-201 Ypiranga, incorporando avanços técnicos das equipes de engenharia da CAP e do IPT. Esse processo colaborativo resultou no desenvolvimento de uma nova aeronave, designada CAP-4 Paulistinha, que combinava as melhores práticas dos projetos anteriores com inovações que atendiam às necessidades específicas do mercado brasileiro. O primeiro exemplar do CAP-4 Paulistinha saiu das linhas de montagem em 2 de abril de 1943, iniciando uma série de testes e ensaios de voo que receberam elogios unânimes por suas características de voo. A aeronave destacou-se por sua robustez, facilidade de manutenção, baixo custo de aquisição e operação e um perfil de pilotagem acessível, tornando-a ideal para treinamento de pilotos e operações em aeroclubes. Sua construção simples, com estrutura metálica recoberta por lona, seguia os padrões da época, mas incorporava soluções práticas que garantiam eficiência e durabilidade. Exceto pelo motor Continental A65 (posteriormente substituído por modelos como o Continental C-85 em algumas versões) e os principais instrumentos do painel, importados dos Estados Unidos, praticamente todos os componentes do CAP-4 eram fabricados nacionalmente, um feito significativo para a indústria brasileira da época. O CAP-4 Paulistinha alcançou um sucesso notável, com a CAP atingindo a impressionante marca de produzir uma aeronave por dia em 1943, um feito inédito para uma empresa nacional à época. Ao longo de sua produção, que se estendeu até meados da década de 1940, foram fabricadas aproximadamente 800 unidades do modelo, distribuídas em cinco variantes: três versões destinadas ao treinamento de pilotos, duas voltadas para remoção aeromédica e uma versão experimental, conhecida como “Paulistinha Rádio”, projetada para regulagem de tiro de artilharia. Essa versatilidade consolidou o CAP-4 como uma aeronave multifuncional, capaz de atender às demandas de aeroclubes, serviços médicos de emergência e até mesmo aplicações militares.

O sucesso comercial do CAP-4 Paulistinha foi amplificado pela Campanha Nacional de Aviação (CNA), também conhecida como “Campanha para Dar Asas à Juventude Brasileira” ou pelo slogan “Deem Asas ao Brasil”. Idealizada em 1941 pelo jornalista e magnata da comunicação Assis Chateaubriand, a campanha tinha como objetivo popularizar a aviação no Brasil, promovendo a formação de pilotos e a expansão da infraestrutura aeronáutica. Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados, mobilizou recursos financeiros e apoio político para doar aeronaves, como o CAP-4, a aeroclubes em todo o país, incentivando jovens a ingressar na aviação. Essa iniciativa não apenas democratizou o acesso ao treinamento de voo, mas também impulsionou a demanda por aeronaves leves, como o Paulistinha, que se tornou um símbolo do movimento. Com o final da Segunda Guerra Mundial, a demanda por aeronaves de treinamento diminuiu. O mercado militar estava abastecido com o excedente de aviões norte-americanos, enquanto o mercado civil ainda não estava suficientemente desenvolvido para gerar demanda, o que levou a Companhia Aeronáutica Paulista – CAP, a encerrar suas atividades, em 1949, neste momento os direitos de produção seriam transferidos para a propriedade do Ministério da Aeronáutica (MAer). Em 1955 a Sociedade Construtora Aeronáutica Neiva, negociaria a aquisição destes direitos, com o projeto original da aeronave passando a receber uma série de modificações, entre elas o reposicionamento do tanque e a seletora de combustível, que recebeu uma proteção para evitar o fechamento acidental, a alteração das portas da cabine, as janelas, o capô do motor e os instrumentos, além de utilizar um propulsor mais potente, um Continental C90 8F, de 90 hp. Esta aeronave receberia a designação comercial de P-56 (P de Paulistinha e 56 do ano do projeto - 1956), curiosamente não seria possível para a produção em série fazer uso do motor escolhido, com a empresa passando a adorar o Continental C90 14F, também de 90 hp, que apresentava sistema de partida elétrica, que seria alterado para o processo manual em 1957 para permitir sua certificação. Em setembro do mesmo ano, o Ministério da Aeronáutica (MAer) faria uma encomenda de dezenove P-56, que apresentavam como principal exigência a adoção de motores Lycoming O235B, de 100 hp (que se encontravam nos estoques da Força Aérea Brasileira), esta versão receberia a designação de P-56B. Em 1960, seriam resolvidos os problemas que impediam a importação dos motores um Continental C90 8F, com as novas aeronaves passando a ser designadas como P-56C. Em 1961 seria desenvolvido o P-56C1 equipado com um motor Lycoming de 115 hp, com esta versão sendo destinada a tarefas de pulverização de lavouras. Por fim o P-56C1 destinado como rebocador de planadores seria lançado em 1963, passando a contar com um motor Lycoming O320, de 150 hp. Ao todo seriam produzidas cerca de 260 aeronaves, com a maioria destas sendo adquiridas pelo Ministério da Aeronáutica (MAer), para serem doadas pelos Departamento de Aviação Civil (DAC) a muitos aeroclubes.
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Neste contexto a aviação passaria a ser muito difundida no pais, principalmente após a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) em janeiro de 1941, neste momento ser faria necessário priorizar a formação de pilotos militares preparando assim a recém criada Força Aérea Brasileira (FAB) para os desafios que sem mostrariam presentes em um futuro próximo. A fim de atender a esta demanda centenas de aeronaves de treinamento militar como os Fairchild PT-19 e Vultee BT-15 Valiant começariam a ser recebidas no país a partir do ano seguinte.
Neste momento o Brasil vivenciava um período de fervor patriótico, intensificado pela participação do país na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ao lado dos Aliados. Esse sentimento nacionalista, aliado à mobilização da sociedade civil em apoio às Forças Armadas, gerou uma série de iniciativas voltadas para o fortalecimento da Força Aérea Brasileira (FAB), criada em 1941. Entre essas iniciativas, destacaram-se as campanhas de arrecadação de fundos organizadas por entidades civis, que buscavam adquirir e doar aeronaves para a Aeronáutica, reforçando sua capacidade operacional e promovendo a integração nacional por meio da aviação. Uma dessas iniciativas foi liderada pelo Rotary Club do Rio de Janeiro, uma organização reconhecida por seu engajamento em causas sociais e cívicas. Movido pelo espírito patriótico da época, o clube mobilizou a comunidade local para arrecadar fundos destinados à aquisição de uma aeronave CAP-4B Paulistinha, fabricada pela Companhia Aeronáutica Paulista (CAP). Essa versão específica do Paulistinha foi configurada como uma ambulância aérea, projetada para realizar missões de remoção aeromédica, uma função crítica em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde o acesso a cuidados médicos em regiões remotas era frequentemente limitado. O CAP-4B Paulistinha, uma variante do bem-sucedido CAP-4, era equipado com adaptações que permitiam o transporte de pacientes em macas, além de contar com espaço para equipamentos médicos básicos. Sua robustez, baixo custo operacional e capacidade de operar em pistas rudimentares o tornavam ideal para operações humanitárias, especialmente em áreas com pouca infraestrutura. Após a arrecadação bem-sucedida, a aeronave foi adquirida e doada à Força Aérea Brasileira (FAB), sendo oficialmente integrada à frota da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, um dos principais centros operacionais da FAB na época. Em um gesto simbólico que reforçava o caráter patriótico da iniciativa, a aeronave foi batizada como “Anna Nery”, em homenagem à pioneira da enfermagem brasileira, que se destacou por seu trabalho humanitário durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). O nome escolhido não apenas celebrava o legado de uma figura histórica, mas também sublinhava a missão humanitária da aeronave, destinada a salvar vidas por meio de evacuações aeromédicas. Em maio de 1945, a Subdiretoria Técnica da Aeronáutica (SDTAer) incorporou um CAP-4A Paulistinha novo de fábrica, fabricado pela Companhia Aeronáutica Paulista (CAP). A aeronave, registrada com a matrícula L-CAP4 3055, foi designada como aeronave orgânica, sendo empregada em tarefas de ligação e transporte dentro das operações. O CAP-4, conhecido por sua robustez, baixo custo operacional e capacidade de operar em pistas rudimentares, era ideal para missões de curta distância, especialmente em um país com vastas áreas de infraestrutura limitada.

No entanto, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB), contava com uma frota de mais de 1.500 aeronaves, abrangendo diversos modelos e aplicações. Para maximizar recursos e reduzir custos operacionais, o comando da Aeronáutica iniciou um processo de racionalização, buscando padronizar os modelos em uso e priorizar aeronaves com maior versatilidade e capacidade. Nesse contexto, apenas dois CAP-4 Paulistinha permaneciam em operação: o CAP-4A L-CAP4 3055 e o CAP-4B “Anna Nery”, este último doado pelo Rotary Club do Rio de Janeiro em 1943 e configurado como ambulância aérea. A análise realizada concluiu que o CAP-4 Paulistinha não se enquadrava na nova sistemática de padronização, devido à sua capacidade limitada em comparação com outros modelos disponíveis. Assim, as duas aeronaves foram classificadas como excedentes às necessidades operacionais da força. Em 1947, o CAP-4B “Anna Nery” foi transferido para a Fundação Brasil Central, uma organização voltada para o desenvolvimento do interior do país, onde continuou a desempenhar missões humanitárias, incluindo transporte aeromédico. No ano seguinte, em novembro de 1948, o CAP-4A L-CAP4 3055, pertencente à Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA), foi repassado ao Departamento de Aviação Civil (DAC), que o destinou ao Aeroclube de Garça, no interior de São Paulo. Essa transferência reflete o compromisso do Ministério da Aeronáutica (MAer) em apoiar a aviação civil, especialmente por meio da doação de aeronaves a aeroclubes, alinhada aos ideais da Campanha Nacional de Aviação de Assis Chateaubriand. Paralelamente, também foram operados brevemente o Taylorcraft BC-12, sendo recebidas desmontadas pelo Parque Aeronáutico dos Afonsos (PqAerAF), no Rio de Janeiro, com sua origem envolta em incertezas. Especula-se que as aeronaves, registradas com as matrículas FAB 3060 e FAB 3061 e designadas militarmente como L-2, podem ter sido doadas ou apreendidas por contrabando, embora registros definitivos não esclareçam a questão. Os técnicos do PqAerAF realizaram a montagem e colocaram as aeronaves em condições de voo, destinando-as às Bases Aéreas do Galeão (Rio de Janeiro) e Porto Alegre, onde foram alocadas ao Quartel General da V Zona Aérea. Devido à sua limitada capacidade de transporte, os Taylorcraft BC-12 foram utilizados exclusivamente em missões de ligação, servindo às necessidades administrativas e logísticas do comando. Em 1956, estes dois Taylorcraft L-2 seriam retirados do serviço, e após revisão no Parque Aeronáutico dos Afonsos (PqAerAF) foram transferidos ao Departamento de Aviação Civil (DAC), onde foram cedidos a aeroclubes localizados no estado do Rio de Janeiro, se mantendo em uso por muitos anos.
Em 1962, a Marinha do Brasil adquiriu uma unidade usada do modelo militar Taylorcraft BC12D, com o objetivo de utilizá-la no Curso de Observador Aéreo Naval (COAN), um programa voltado para a formação de oficiais especializados em operações de observação aérea. O Taylorcraft BC12D, uma aeronave leve de origem norte-americana, era conhecida por sua simplicidade, robustez e capacidade de operar em pistas rudimentares, características que a tornavam adequada para treinamento. No entanto, o programa COAN foi cancelado antes mesmo da chegada da aeronave, alterando os planos iniciais para seu uso. Diante do cancelamento, o Taylorcraft BC12D foi realocado para o Destacamento Especial de Aeronaves do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), sediado na Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), no Rio de Janeiro. Nesse novo papel, a aeronave passou a realizar missões de ligação e transporte, atendendo às necessidades logísticas do pessoal da base. Sua operação, embora limitada, demonstrou a versatilidade de aeronaves leves em atividades administrativas e operacionais em contextos regionais. Em 1964, a Marinha determinou a transferência do Taylorcraft BC12D para o 1º Esquadrão Misto de Aeronaves, subordinado ao Núcleo do Comando de Aviação da Força de Fuzileiros da Esquadra. Nesse esquadrão, a aeronave operou ao lado de um CAP-4 Paulistinha, também adquirido em 1962, em missões semelhantes de ligação e transporte. Ambas as aeronaves, projetadas para operações simples e econômicas, eram adequadas para apoiar as atividades da Marinha em áreas com infraestrutura limitada, como a região de São Pedro da Aldeia. A trajetória dessas aeronaves na Marinha foi interrompida por uma decisão governamental significativa. Em 26 de janeiro de 1966, o Decreto Presidencial nº 55.627 determinou a transferência de todas as aeronaves de asa fixa da Aviação Naval para a Força Aérea Brasileira (FAB). Essa medida fazia parte de um processo de centralização das operações aéreas militares no Brasil, iniciado com a criação do Ministério da Aeronáutica em 1941, que buscava consolidar o controle das aeronaves de asa fixa sob a FAB, enquanto a Marinha se concentrava na aviação de asas rotativas (helicópteros). Na semana seguinte à promulgação do decreto, o Taylorcraft BC12D e as duas unidades do CAP-4 Paulistinha foram transferidos para a FAB. No entanto, a Diretoria de Material da Aeronáutica (DIRMA) avaliou que essas aeronaves não atendiam às necessidades operacionais da força, que já dispunha de uma frota diversificada e padronizada, incluindo modelos mais avançados adquiridos durante e após a Segunda Guerra Mundial. Como resultado, o Taylorcraft BC12D foi considerado excedente e vendido como sucata, as duas unidades do CAP-4 Paulistinha também foram rejeitadas pela FAB, mas, em vez de serem descartadas, foram transferidas ao Departamento de Aviação Civil (DAC).

Em Escala.
Para representarmos o CAP-4 Paulistinha N-710 da Aviação Naval da Marinha do Brasil (que posteriormente teve sua matricula alterada para N-505), fizemos uso do antigo kit da Academy na escala 1/48. A similaridade do projeto da Piper com a aeronave nacional nos permite representarmos o modelo em questão, procedendo mínimas alterações. Empregamos decais confeccionados pela FCM Decais presentes no Set 48/07A.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura de alta visibilidade, empregado nas aeronaves de instrução da Aviação Naval da Marinha Brasileira, durante a sua segunda fase da arma arma aérea. Já as aeronaves pertencentes a Força Aérea Brasileira (FAB) empregaram outros esquemas de pintura, durante sua carreira.
Bibliografia :
- Averonaves Militares Brasileirsa 1916 – 2015 – Jackson Flores Jr
- CAP Paulistinha - http://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/CAP_Paulistinha/CAP_Paulistinha.htm
- História da Força Aérea Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha
- http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Naval Brasileira, Professor Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/Asas%20sobre%20os%20mares/index.html