História e Desenvolvimento.
Durante a Segunda Guerra Mundial a indústria militar alemã se manteria na vanguarda da tecnologia, produzindo em larga escala lendários modelos de carros de combate, denominados popularmente como "Panzer ou Panzerkampfwagen". O emprego destes em conjunto com outros modelos de veículos blindados especializados seriam o componente fundamental da doutrina Blitzkrieg (Guerra Relâmpago), que nas fases iniciais do conflito proporcionariam retumbantes vitórias. No período pós-guerra a Alemanha Ocidental permaneceria completamente desmilitarizada, sendo vetada neste momento a constituição de instituições militares, mesmo para autodefesa, com sua outrora pujante indústria automotiva passando a focar seus esforços no mercado comercial. No entanto o antigo território alemão seria transformado em uma região de grande tensão, representando a principal linha de frente no conflito da Guerra Fria, entre as forças do Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Este cenário levaria junto ao comando a decisão de se revisionar o conceito da proibição de constituição de forças de defesa da Alemanha Ocidental, tendo em vista a necessidade de se reforçar as defesas da região, para assim fazer frente a constante ameaça representadas pelas forças dos países do bloco soviético. Desta maneira no dia 12 de novembro de 1955 seria promulgada dentro da constituição, as normativas que constituiriam a nova estrutura das forças armadas da República Federal da Alemanha, sendo composta pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). De imediato seria iniciado um vasto programa de rearmamento, sendo fornecidos principalmente, equipamentos, armas, veículos, aeronaves, navios, blindados, e carros de combate de origem norte-americana. Em termos de carros de combate, o recém-criado Exército Alemão (Deutsches Heer) passaria a ser equipado imediatamente, com uma respeitável frota composta pelos modelos M-41 Walker Buldog, M-47 Paton e M-48 Paton. Porém neste mesmo momento, estes carros de combate já se mostravam inadequados frente as ameaças representadas pelos modelos T-44, T-54 e T-55 que equipavam as forças blindadas do Pacto de Varsóvia. A solução para atendimento a esta demanda ainda neste momento não estava disponível para emprego junto aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), apesar de existirem projetos em desenvolvimento como o norte-americano MBT T-95. Esta realidade motivaria o governo alemão a retomar sua indústria de defesa, sendo iniciados estudos ao final desta década, visando assim o desenvolvimento de projetos nacionais englobando uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas de serviço.
O foco inicial desta iniciativa seria concedido ao desenvolvimento de um MBT (Main Battle Tank), com suas especificações de projeto sendo definidas em 1956, baseadas na necessidade de se superar os novos T-54 e T-55. Estas abrangiam um veículo na ordem de mais trinta toneladas, devendo ter alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, e por isso sendo dotado com um canhão de 105 mm. Diversos seriam galgados neste processo, e finalmente a partir de meados do ano de 1965 começariam a ser entregues as unidades de cavalaria blindada do Exército Alemão (Deutsches Heer), os primeiros carros de combate do modelo Leopard 1. Rapidamente seu emprego operacional conquistaria grande notoriedade passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim grandes contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia. O grande êxito deste programa motivaria o governo alemão em fins da década de 1960, a investir recursos em um novo projeto, agora visando o desenvolvimento de um novo veículo blindado dedicado a tarefas de transporte de tropas, que pudesse acompanhar no campo de batalha os novos carros de combate Leopard 1. Porém neste contexto buscava-se também criar uma plataforma comum que pudesse ser aplicada no desenvolvimento de mais versões especializadas de combate ou serviço. Após a definição dos objetivos deste programa, seu projeto seria direcionado ao recém-formado consorcio internacional, composto pela empresa alemã Rheinmetall Landsysteme (Rheinstahl-Hanomag, Ruhrstahl, Witten-Annen, Büro Warnecke) e a suíça Mowag Motor Car Factory. Neste momento um contrato seria celebrado com o governo alemão, para a produção de cinco protótipos, do novo "veículo de combate de infantaria". Estes carros seriam disponibilizados para o emprego em um programa de ensaios e testes de campo entre os anos de 1961 e 1963. Este processo apresentaria uma série de correções e melhorias de projeto, com uma versão aprimorada deste modelo recebendo em 1967 mais um contrato para a produção de dez blindados para avaliação. A partir desta data o programa passaria a ser capitaneado pela empresa Henschel Werke, mantendo ainda a parceria com a Mowag Motor Car Factory. Os novos veículos de testes passariam a ser entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) em outubro de 1968, sendo imediatamente empregados em um novo ciclo de testes e avaliações, resultando em novas alterações e melhorias no projeto do modelo. Em maio do ano de 1969 o novo "veículo de combate de infantaria" receberia o nome de batismo de Marder (ou Marten em alemão), sendo liberado assim para a produção em série.
O modelo inicial de produção do Marder 1 apresentava um design relativamente convencional, com o assento do motorista se localizando no lado esquerdo da frente do veículo, com conjunto motriz ficando posicionado à sua direita. Em termos do conjunto mecânico um motor diesel refrigerado a líquido de seis cilindros MTU MB 833 Ea-500 que fornecia aproximadamente 441 kW (600 PS; 591 hp) a 2.200 rpm. Os radiadores de resfriamento são montados na parte traseira do casco em ambos os lados da rampa de saída. O motor é acoplado a uma caixa de engrenagens planetárias HSWL 194 de quatro velocidades da Renk, com quatro marchas à frente e quatro à ré. A transmissão também fornecia direção e frenagem através de uma unidade hidrostática variável, que transmitia energia para duas unidades de acionamento montadas na frente do casco do blindado. O veículo transportava ainda 652 litros de combustível, concedendo uma autonomia de cerca de 500 quilómetros em terreno regular. Suas versões posteriores, podiam atingir uma velocidade de estrada de 75 km/h na quarta marcha, porém este desempenho seria reduzido para 65 km/h com o emprego de blindagem extra. Seu casco era totalmente confeccionado em placas de aço soldado, proporcionando aos passageiros e tripulantes relativa proteção contra incêndios e fragmentos munição, suportando tiros de armas automáticas de médio de calibre. Para autodefesa estaria equipado com um metralhadora de MG3 de 7,62 mm , podendo ainda empregar kits especiais com sistemas de proteção contra radiação, armas biológicas e químicas podendo operar nos mais diversos hipotéticos cenários de conflagração na Europa. Podia transportar até doze soldados totalmente equipados, com seu acesso e saída sendo rapidamente proporcionado por grande porta traseira com acionamento hidráulico e por três escotilhas superiores. Podia ainda transpor sem preparação cursos de 1,5 metros de água e podia ainda ser equipado com um kit especial que lhe permitiria a passagem em cursos de água de até 2,5 metros de profundidade. Em 12 de outubro de 1968, o governo da Alemanha Ocidental celebraria um contrato com a Rheinmetall Landsysteme envolvendo a compra de um lote inicial de cem carros, que deveriam ser produzidos por suas empresas subsidiarias a Thyssen-Henschel e Krupp MaK. Em 7 de maio de 1971, os primeiros cinco Marder 1 IFV seriam formalmente entregues ao comando do Exército Alemão (Deutsches Heer), sendo destinado a compor os regimentos de infantaria mecanizada (Panzergrenadier).
Ao longo dos anos seguintes mais carros seriam incorporados, totalizando dois mil quatrocentos e treze veículos até o ano de 1975, neste momento devido a importância do modelo para a força terrestre alemã, seriam estudadas alternativas para a melhorias de sua capacidade de sobrevivência no campo de batalha. Neste contexto seria incorporado ao Marder 1, o sistema francês de míssil anticarro guiado por fio MILAN (Missile d'Infanterie, Léger, Antichar - Míssil de Infantaria, Ligeiro, Anticarro). Em testes campo seriam coletados dados extremamente positivos, levando a partir de 1977 a implementação desta modificação em toda a frota em operação no Exército Alemão (Deutsches Heer). Em 1979 seria desenvolvida a versão Marder 1A1, que passava a apresentar uma série de melhorias, entre estas, destacava-se a adoção do canhão automático Rheinmetall MK 20 Rh202 de 20 mm, disposto em uma pequena torre de operada por dois homens podendo disparar variados tipos de munição anti pessoal ou blindagem. Uma metralhadora MG3 de 7,62 mm estava montada coaxialmente à esquerda do canhão, normalmente o Mader 1A1 dispunha de 1.250 rodadas para o canhão de 20 mm e 5.000 rodadas para a metralhadora MG3 de 7,2 mm. Esta torre apresentava uma rotação de 360 graus, podendo elevar-se de -17 graus a + 65 graus, a uma velocidade de 40 graus por segundo, ao mesmo tempo que atravessa a uma velocidade de 60 graus por segundo. As versões mais recentes apresentariam uma segunda metralhadora MG3 de 7,2 mm montado no deck traseiro em um sistema de pod remoto controlado. Vários programas de atualização foram realizados, resultando nas versoes Marder 1A1(+) , 1A1(-), 1 A1A3, 1 A1A, que incluiriam a instalação de equipamentos de visão noturna e um termovisor, bem como uma alimentação de munição atualizada para o canhão de 20 mm. Entre os anos de 1984 e 1981, todos os veículos em serviço no Exército Alemão (Deutsches Heer) seriam atualizados para o modelo Marder 1A2, passando incluir modificações substanciais da suspensão, tanques de combustível, sistema de refrigeração e sistema de limpeza por jato de água. Um novo sistema de mira e termovisores seriam instalados, com o antigo equipamento de luz de busca infravermelha sendo removido. Em 1988 seria iniciado o programa de atualização do A3, com a Thyssen-Henschel recebendo um contrato para atualizar 2.100 veículos das séries Marder 1 A1 / A2, com os primeiros carros sendo entregues em 17 de novembro de 1989. Esta seria a versão final a entrar em serviço, com sua desativação gradual deflagrada após a introdução nos novos Schützen-AFV Puma”, a partir do ano de 2022. Este processo de desativação permitiria a exportação de um lote excedente para a Grécia, Chile, Indonésia, Jordânia e pôr fim a doação de trinta blindados para a Ucrânia em março do ano de 2023.
Anteriormente no início da década de 1980, na Alemanha, o Marder 1A1 também seria considerado como plataforma para defesa antiaérea de médio alcance, sendo realizados pelos fabricantes estudos para a adoção de lançadores e sistemas de direcionamento de misseis terra ar (SAM). Entre vários sistemas considerados, decidiria-se pela escolha do modelo de curto alcance Roland II. Este projeto franco-alemão seria desenvolvido a partir de 1963 em um consórcio formado pelas empresas Nord Aviation (futura Aérospatiale) e Bölkow Entwicklungen KG (futura Messerschmitt-Bölkow-Blohm), recebendo as designações locais de SABA e P-250. No ano seguinte, seria fundada a Euromissile uma empresa destinada a produção deste e outros programas de mísseis. A divisão francesa tomaria a responsabilidade primária pelo sistema Roland 1 (dia e bom tempo) e alemã assumiria a responsabilidade principal pelo sistema Roland 2 (para todos os climas). A Aerospatiale também seria responsável pelo desenvolvimento do sistema traseiro e de propulsão do míssil, enquanto a Messerschmitt-Bölkow-Blohm desenvolveria a extremidade frontal do míssil com suas ogivas e sistemas de orientação. O primeiro lançamento guiado de um protótipo do missil Roland I ocorreria em junho de 1968, destruindo um drone alvo CT20 da Nord Aviation, com seu cronograma prevendo o início de sua produção a partir de janeiro de 1970. No entanto atrasos decorrentes do processo final de testes postergaram produção do Roland I em escala industrial até início do ano de 1977 e o Roland II somente no ano seguinte. O primeiro usuário do modelo para "tempo bom" foi o Exército Frances (Armée de Terre) sendo empregado principalmente a partir de uma versão especializada do carro de combate AMX-30R. O sistema Roland II entraria em serviço no Exército Alemão (Deutsches Heer) em dezembro de 1978, operando a partir de uma versão customizada do blindado de transporte de tropas Marder 1A2. Apesar de se mostrar extremamente promissor o sistema de misseis Rolanda I - II nao alcançaria um grande êxito comercial, pois seus constantes atrasos de produção e desenvolvimento e aumento decorrente dos custos limitaria em muita sua competividade no mercado internacional. Estes se manteriam em produção até fins da década de 1990, sendo adotado pelas forças armada dos Estados Unidos, Venezuela, Espanha, Brasil, Nigéria, França, Noruega, Eslovênia, Alemanha, Nigéria, Iraque e Catar.
Emprego no Exército Brasileiro.
O processo de implementação de um sistema de artilharia antiaérea no Exército Brasileiro, teve sua origem no dia 4 de outubro de 1940, data de criação do 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) na cidade do Rio de Janeiro. Este grupamento seria equipado com os famosos canhões alemães Flak 88 mm C/56 Modelo 18 que passariam em operar em conjunto preditores Carl Zeiss WIKOG 9SH e aparelhos de localização pelo som Electroacoustic GmbH ELASCOPORTHOGNOM. A partir de 1942 a artilharia antiaérea brasileira seria fortalecida pelo recebimento de uma grande quantidade de canhões norte-americanos dos modelos M-2A2 AA de 37 mm, M-3 AA de 76 mm e por fim M-1A3 AA de 90 mm. No entanto curiosamente não seriam cedidos ao país sistemas de artilharia antiaérea autopropulsados, que já eram empregados em grande escala no conflito. Esta lacuna operacional infelizmente perduraria durante as décadas seguintes, com a necessidade de criação de um sistema de defesa antiaérea a média e baixa altitude, sempre se fazendo presente, principalmente pelas dimensões continentais da nação. No início da década de 1970 seria implementado na Força Terrestre o “Plano Impere”, um programa que visava recuperar a operacionalidade diversos veículos de combate do III Exército Brasileiro que se encontravam parados há alguns anos, analisando inclusive a possibilidade de conversão de carros de combate dos modelos M-4 Sherman e M-3 Stuart como veículos de serviço e suporte. Entre diversas alternativas seria desenvolvido um protótipo de uma viatura blindada antiaérea, com um carro M-3 Stuart recebendo a instalação de um reparo de metralhadoras antiaéreas quadruplo calibre .50 do modelo M-45 Quadmount . Testes de campo se mostrariam extremamente promissores, porém infelizmente não se sabe por quais motivos, o comando do Exército Brasileiro, não demonstraria neste momento o devido interesse, levando assim ao cancelamento do projeto. O conceito para o desenvolvimento de uma viatura antiaérea autopropulsada, ressurgiria em fins da década de 1970, tendo como alicerce o programa do Carro Combate Leve Nacional MB-1 (X-1A Pioneiro e X1-A2 Carcará), com este gerando uma família de veículos especializados sobre esta nova plataforma, incluindo um modelo dedicado defesa antiaérea. Nascia assim o projeto M.01.15, que seria gerido Centro de Tecnologia do Exército (CETEX) em parceria com a empresa Bernardini S/A. Dois protótipos seriam construídos recebendo a designação de Viatura de Combate Antiaérea XM3D1 (VBC AAe) que contariam como armamento orgânico com quatro metralhadoras Browning M-2 calibre .50 montadas em uma torre M-55M Quadmout modernizada. Estes protótipos seriam exaustivamente testados e avaliados pelo Exército Brasileiro, porém a baixa cadência de fogo e o alcance das armas de calibre .50, se mostrarIam inadequados face a nova ameaça proporcionada pelas aeronaves de ataque a reação existentes naquela época, levando assim ao cancelamento definitivo do projeto.
A partir de meados da década de 1970, o sistema de defesa antiaéreo do Exército Brasileiro se mostrava complemente obsoleto contendo em suas filiares de antigos canhoes Boffors de 40 mm, se fazendo necessário a implementação de sua imediata substituição. Para o atendimento a esta demanda, entre os anos de 1977 e 1978 novos investimentos seriam feitos, envolvendo a aquisição do sistema suíço de artilharia antiaérea Oerlikon de 35 mm, que posteriormente seriam integrados com o conjunto diretor de tiro de fabricação nacional EDT FILA, controlando os canhões de 40 mm C/70 Bofors e canhões Oerlikon 35 mm C/90. Apesar destes esforços o país não dispunha de um sistema de defesa área baseada em misseis terra-ar oque comprometia em muitos seus níveis de segurança. Ainda neste período os Estados Unidos figuravam como o principal fornecedor de artigos militares para o Brasil, através do Programa de Assistência Militar MAP (Military Assistance Program). oque lhe garantia acesso a artigos militares em condições favoráveis. Porém no início do ano de 1977 esta realidade começaria a ser alterada pela administração do presidente Jimmy Carter, que passaria a condicionar a continuidade dos programas de ajuda militar a averiguação da situação do Brasil no tocante aos direitos humanos. Esta decisão provocaria o desagravo do presidente Ernesto Geisel, que em carta oficial se manifestaria “O governo brasileiro recusa de antemão qualquer assistência no campo militar que dependa, direta ou indiretamente, de exame prévio, por órgãos de governo estrangeiro, de matérias, que, por sua natureza, são da exclusiva competência do governo brasileiro.” A seguir a ocorrência de mais pressões políticas decorridas desta iniciativa, levariam o governo brasileiro a decidir pelo rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos, cessando assim vantagens e subsídios na aquisição de equipamentos de defesa de alta tecnologia produzidos naquele país. Porém esta decisão geraria um movimento de aproximação entre os militares brasileiros e a indústria de defesa europeia, resultando em diversos contratos de fornecimento, como no caso dos caças interceptadores franceses Dassault Mirage IIIE, fragatas inglesas da classe Vosper Amazon - Niterói e mais uma variada gama de estudos e projetos de defesa de alta tecnologia para o emprego pelas forças armadas. Entre estes se destacavam a incorporação de misseis antiaéreos britânicos Short Brothers GWS-20 SeaCat destinados a proteger a novas fragatas da Marinha Brasileira, motivando assim o comando do Exército Brasileiro a buscar opções para adoção de um sistema semelhante para emprego como defesa de ponto, trazendo assim a Força Terrestre brasileira a um novo patamar de defesa antiaérea.
Neste momento uma das maiores prioridades neste segmento era o de prover um eficiente sistema de defasa antiaérea capital federal Brasília - DF, com um sistema de misseis terra ar complementando o braço armado do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA) operando em complemento aos interceptadores supersônicos F-103EBR Mirage III. Desta maneira consultas sobre a aquisição de uma solução neste segmento seriam feitas as indústrias de defesa europeias, e entre as propostas recebidas se destacava a do consórcio franco-alemão Rheinmetall Landsysteme. Esta solução fazia uso da plataforma de blindados sob esteiras equipado com dois lançadores de misseis terrar ar (SAM) para "qualquer tempo" Euromissile Roland II. O míssil Roland II era composto por dois estágios, sendo unidade propelente sólido 2,4 metros de comprimento com um peso de 66,5 kg, e outro estágio com 6,5 kg portando uma múltipla ogiva de fragmentação carga oca que contém 3,5 kg de explosivo detonado por impacto ou proximidade fusíveis. Estas armas eram disponibilizadas em um recipiente vedado que era empregado também o tubo de lançamento, cada lançador carrega dois tubos de lançamento com mais oito no interior do veículo ou abrigo com recarga automática em dez segundos. Este sistema fora projetado para atingir alvos aéreos inimigos que voam em velocidades de até Mach 1,3 em altitudes entre 20 metros e 5.500 metros, com uma gama eficaz mínima de 500 metros e um máximo de 6.300 metros. Em termos modos de detecção e orientação, seu sistema podia operar em modo óptico ou radar e pode alternar entre esses modos durante o rastreio e lançamento, neste conjunto, um radar de busca de pulso-doppler com uma gama de 15 a 18 km proveria a detecção do alvo, que poderia então ser rastreado ou pelo radar ou um rastreador óptico. Este último normalmente, seria utilizado apenas durante o dia contra alvos muito de baixo nível ou em um ambiente de bloqueio pesado. Diversas análises seriam feitas pelo comando do Exército Brasileiro, comparando pelo menos três propostas apresentadas, com a escolha recaindo sobre o sistema de misseis superfície ar (SAM) Euromissile. Roland II, dos quais seriam adquiridas inicialmente um total de quatro baterias de lançadores e inicialmente cinquenta misseis. Esta decisão seria baseada principalmente em critérios técnicos, levando em conta que este sistema além de já estar em uso em grande escala na Alemanha (43 carros e 825 misseis) e França (39 carros e 1.315 misseis), estava sendo escolhido para equipar também o Exército dos Estados Unidos (US Army).
Dentre as opções de plataforma intercambiáveis apresentadas pelo consórcio franco-alemão Rheinmetall Landsysteme, o sistema Roland II podia ser configurado prioritariamente sobre os veículos sobre lagartas franceses AMX-30 e alemães Rheinstahl Marder VCI 1A2 ou ainda montado em shelters tracionados. O contrato brasileiro previa ainda aquisição e pacote de treinamento dos sistemas eletrônicos para instrução de emprego teórico e prático, com o sistema Roland II configurado sobre a plataforma do veículo blindado médio alemão Rheinstahl Marder 1A2. Este modelo de veículo já era testado e provado em operação, sendo escolhido anteriormente seu chassi para compor o carro de combate médio argentino TAM (Tanque Argentino Mediano). O emprego da plataforma Marder 1A2 previa a alocação de dois mísseis dispostos em lançadores na parte externa da torre prontos para entrar em operação, com mais oito misseis estavam alojados em dois carregadores rotativos automáticos na parte interior do veículo. Neste momento o Exército Brasileiro se tornaria o terceiro operador deste sistema de mísseis superfície-ar (SAM - Surface Air Missile), que na época representava a tecnologia no estado da arte. Desta maneira sua introdução em serviço representaria um salto tecnológico sem precedentes no Exército Brasileiro no que tange a defesa antiaérea, pois até então seu arsenal consistia a exceção de um pequeno lote de um moderno sistema suíço de artilharia antiaérea Oerlikon de 35 mm, de obsoletos canhões antiaéreos de origem norte-americana e sueca complementados por reparos de metralhadoras de calibre .50 montados em caminhões, sistemas estes pouco ou totalmente ineficazes contra as ameaças proporcionadas pela aviação de ataque daquela década. Para fins de instrução teórica e prática, os equipamentos eletrônicos e seus simuladores seriam alocados na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) sediada na cidade do Rio de Janeiro, vale salientar que este aparato ocupava uma grande área física nesta instituição, pois ainda não existiam microcomputadores. Assim previa-se inicialmente que todo o programa de treinamento e operação deste sofisticado sistema seria ministrada na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) sendo acompanhada do uso das plataformas e armamentos, com estas baterias sendo posteriormente transferidas para a capital federal Brasília no DF. Os quatro veículos seriam declarados operacionais no ano de 1979, recebendo a denominação de Viatura Blindada de Combate Leve Msl Marder 1A2 – Sistema SAM Roland II (VBC L Msl Marder), realizando inclusive os primeiros treinamentos com disparos reais dos misseis Roland II contra alvos aéreos remotamente pilotados ao longo dos anos seguintes.
No entanto os VBC L Msl Marder apresentariam uma carreira efêmera, permeada por períodos de baixa disponibilidade operacional, devido a problemas no fluxo de obtenção de peças de reposição para o veículo lançadores e principalmente dos componentes eletrônicos de seus sistemas detecção e orientação. Desta maneira gradativamente estes veículos seriam transferidos novamente para a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) sediada na cidade do Rio de Janeiro. Neste mesmo período, um destes blindados seriam perdidos em um grave acidente durante treinamentos no Campo de Provas de Marambaia. Em meados da década de 1990 somente um Marder 1A2 Roland II permaneceria em serviço com os demais servindo como fonte de peças de reposição, este último remanescente juntamente com os simuladores e sistemas eletrônicos de tiro e direção seriam operados em tarefas de instrução pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército (IPD) até o final do ano de 2012. Quanto aos demais carros, um seria preservado junto ao acervo do Museu Militar Conde de Linhares na cidade do Rio de Janeiro - RJ e o outro seria empregado em 1998 como alvo estático em exercício no Campo de Marambaia, sendo alvejado por tiros dos novos carros de combate Leopard 1A1, servindo assim como estudo para a análise da resistência de blindagem, tendo em vista que esta era muito semelhante a emprega da no combate médio argentino TAM (pais que na época era considerado o maior antagonista militar regional). Historicamente este sistema de defesa antiaérea foi adquirido prioritariamente para a defesa da Capital Federal, porém extraoficialmente especula-se que a principal intenção era o desenvolvimento de uma versão nacional (empregando técnicas de engenharia reversa). Não existem registro oficiais que confirmem esta teoria, porém em meados da década de 1980 o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) desenvolveu um protótipo de um "shelter" auto rebocado de fabricação nacional empregando um sistema Roland II retirado temporariamente de um dos Marder 1A2, porém este não passaria da fase de protótipo tendo em vista sua instabilidade durante a operação de lançamento. No ano de 2024, o Batalhão Central de Manutenção e Abastecimento do Exército Brasileiro (BCMS) realizou a recuperação e restauração de um veículo lançador de mísseis Marder 1A2 Roland II, o mesmo que anteriormente se encontrava em operação junto ao Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército (IPD). A restauração, realizada por mecânicos e responsáveis pela manutenção, incluiu a recuperação do conjunto motriz e dos sistemas mecânicos de tração, devolvendo o veículo ao perfeito estado de funcionamento.
Em Escala:
Para representarmos a Viatura Blindada de Combate Leve Msl Marder 1A2 – Sistema SAM Roland II "EB 24065” , empregamos como base o modelo da Tamiya na escala 1/35 configurado com o míssil anticarro MILAN. Para representarmos a versão empregada no Exército Brasileiro, tivemos de construir totalmente em scratch build a torre lançadora dos misseis terra ar Roland II , fazendo uso de plasticard e materiais diversos. Alterações significativas também tiveram de ser implementadas na parte traseira do veículo. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no set Exército Brasileiro 1983 – 2002.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura com os qual estes carros foram recebido em meados da década de 1970, com este perdurando até o ano de 1983, quando seria adotado o novo esquema tático de camuflagem em dois tons, semelhante aos carros de combate médio Bernardini M-41C Caxias. Já o carro preservado junto ao Museu Militar Conde de Linhares receberia durante seu processo de restauração o esquema de pintura original.
Bibliografia :
- Blndados no Brasil - Volume 01, Expedito Carlos Stephani Bastos
- Mísseis no Exército Brasileiro - ww.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/MEB.pdf
- Artilharia Antiaérea sob lagartas no EB, por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Exército Brasileiro recupera viatura histórica Marder com sistema Roland - www.defesaaereanaval.com.br/