Canhões Vickers Armstrong 152,4 mm

História e Desenvolvimento
No ano de 1828,  na pequena cidade de inglesa de Sheffield era fundada por Edward Vickers a companhia Naylor Vickers & Co (que mais tarde seria renomeada como Vickers Limited), que no início dispunha de um pequeno parque industrial destinado a fundição de aço e tornou-se conhecida ao longo dos anos por seus famosos e gigantescos sinos da igreja, passando em seguida a desenvolver e produzir a componentes pesados para a indústria naval, como eixos, hélices, placas de blindagem e, em seguida, peças de artilharia. Em 1927 após sofrer impactos financeiros de grande monta devido a problemas de gestão, a empresa viria a se fundir com a empresa de engenharia Sir W G Armstrong Whitworth & Company (organização que já atuava nos mesmos segmentos de mercado da Vickers), nascendo assim a Vickers Armstrongs. Dentre os segmentos em que anteriormente as duas companhias se desacatavam, estava a de produção de armamentos para as forças armadas com a Armostrong Whitworth apresentando maior expertise e notabilidade em peças de artilharia pesada e a Vicker em armas de infantaria, como a metralhadora Vickers de 1912.  A união destas vertentes de pensamento, aliados a um excelente portfólio resultaria nas décadas de 1930 e 1940 na posição de terceiro maior empregador de manufatura da Grã-Bretanha, sendo considerado também um dos maiores fornecedores de equipamentos militares da Europa, operando deste a produção de armas leves, peças de artilharia de campanha, navios, carros de combate e aeronaves. Em termos de peças de artilharia os primeiros produtos desenvolvidos pela Vickers Limited foram introduzidos no serviço ativo a partir de 1890. Estas novas peças eram do tipo de canhões de tiro rápido (no qual a carga propulsora se encontra dentro de invólucros metálicos de latão dispensado a carga em propulsora unitária) com calibre de 152,4 mm, recebendo as denominações de Vickers I, II e III. Mais tarde esta família de canhões viria a equipar algumas classes de navios da Marinha Real Britânica mais antigos, desde cruzadores até canhoneiras fluviais, servindo até o término da Segunda Guerra Mundial.

Na final da década de 1890 o alto almirantado britânico, depois de um período de implementação e avaliação de canhões de tiro rápido para emprego naval, decidiu por voltar a operar sistemas de armas de artilharia convencional que faziam uso cargas propulsoras em sacos de seda. Esta decisão seria motivada pela proposta da Vickers Armstrong em um novo canhão equipado com o inovador mecanismo de culatra de ação simples, esta nova peça também de calibre 152,4 mm que podia ser carregado, inserido o tubo de ventilação de selagem e disparando, assim mais rápido que um canhão de tiro rápido normal. Além deste beneficio operacional, a armazenagem das cargas propulsoras de cordite em sacos de Seda poupavam imenso peso e espaço quando comparadas com os pesados invólucros de latão das granadas de tiro rápido. Este novo modelo receberia do fabricante a nomenclatura de Modelo VII, sendo seguido posteriormente de uma versão melhorada denominada VIII, que possuía a culatra com abertura para o lado esquerdo, podendo o equipamento ser usado em torres duplas. O canhão foi introduzido na classe de couraçados Formidable, lançados a partir de 1898 e comissionados no ano de 1901. No final da primeira metade da década de 1910, aventou-se a possibilidade de emprego do Vickers Armstrong Modelo VII como canhão de campanha, porém ficando este conceito apenas na fase de estudos. O eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 ressuscitaria este projeto, com as primeiras peça enviadas pelo Exército Britânico a França no inicio de 1916, sendo montados em transportadores com estrutura retangular, desenvolvidos anteriormente para o emprego com canhões do mesmo fabricante dos Modelos I e IV . No entanto o grau de elevação e por isso o alcance era bastante limitado por esta plataforma, levando ao desenvolvimento no mesmo ano, de um novo transportador que permitia um ângulo máximo de elevação de 22°. Empregue com sucesso na Batalha do Somme, o seu papel foi definido como "fogo anti-bateria" e também era a arma mais bem sucedida na destruição das vedações de arame farpado. Também era usado para disparos de longo alcance contra alvos em profundidade.
O canhão de 155 mm modelo VII manteve-se em utilização até ao fim da Primeira Guerra Mundial, apesar de ter sido suplantada pelo Canhão de 155 mm Modelo XIX. Logo após o termino do conflito, grande parte da frota naval na Marinha Real Inglesa (Royal Navy) composta por navios mais antigos foi desmobilizada com a intenção de ser retirada do serviço ativo. Antes de serem encaminhados para o sucateamento estes vasos de guerras tiveram todos seu armamento retirado com os equipamentos mais importantes sendo armazenados, entre estes um grande número de canhoes  Vickers Armstrong 152,4mm dos modelos VII e VIII. Estas peças teriam uma nova vida agora sendo empregadas como canhoes de artilharia de costa, sendo direcionadas a diversos pontos do vasto império colonial britânico. Um considerável numero de peças seriam ainda fornecidas aos governos de Portugal e Espanha para o mesmo tipo de uso, com os canhões portugueses sendo retirados do serviço ativo da artilharia de costa somente no ano de 1998. As armas britânicas veriam o combate real de novo durante a Segunda Guerra Mundial, quando estes canhões foram usados no intuito de se para armar os navios de transporte de tropas e mercantes. Entre estes o HMS Rawalpindi que entrou em combate contra os cruzadores alemães Scharnhorst e Gneisenau 3 de novembro de 1939 e o HMS Jervis Bay que se sacrificou, salvando o comboio que escoltava, contra o cruzador pesado Admiral Scheer armado com canhões de 280 mm, em novembro de 1940. Após o termino do conflito, foram mantidos em serviço somente os canhões de artilharia de costa, que continuaram em operação até o final da década de 1950 quando o processo de desmantelamento do Império Colonial britânico foi concluído.

O último modelo da família a ser produzido em larga escala foi o Vickers-Armstrong Modelo XIX – BL 6”, que teve sua produção iniciada ainda em 1916, seu desenvolvimento fora iniciado um ano antes e tencionava proporcionar uma peça de artilharia mais leve e de maior alcance que seus antecessores ainda em serviço com os Modelos VII e VIII. Diferente destes últimos de origem naval, todo seu desenvolvimento foi visando emprego como arma de artilharia de campo, sendo montado em um transportador mais moderno dotado com o sistema de recuo hidro-pneumático. Inicialmente apresentava rodas raiadas em metal e posteriormente montado com um sistema de transporte sobre pneumáticos (o mesmo empregado pelo obuseiro de de 8 polegadas Mk VI), o que lhe proporcionava grande mobilidade. Os transportadores possuíam uma abertura atrás da culatra para permitir atingir altos ângulos de elevação. Devido ao peso do conjunto, o Vickers-Armstrong Modelo XIX, não podia rebocada por tração hipomovel, sendo necessário o emprego de tratores de artilharia. O Modelo XIX mantinha o sistema de carga pela culatra interrompida com projetis de diversos emprego em conjunto cargas ensacadas de cordite. O mecanismo da culatra era operado por meio de uma alavanca no lado direito da culatra. Ao puxar a alavanca para a parte traseira, o parafuso da culatra é automaticamente desbloqueado e balançado na posição de carregamento. Após o carregamento, um impulso da alavanca insere o parafuso da culatra e o transforma na posição bloqueada, permitindo assim o inicio da sequencia de disparo.
Durante a Primeira Guerra Mundial foram produzidas 310 unidades, sendo empregadas em todos os fronts do conflito, substituindo gradativamente nesta função até o final da guerra o Modelo VII. As peças remanescentes seriam empregadas ainda no início da Segunda Guerra Mundial com três baterias servindo junto a Força Expedicionária Britânica (BEF) na campanha da França, e outras servindo no sistema de defesa doméstica, até serem substituídos pelos obuseiros norte americanos M1 de 155 mm. Além de seu pais de origem os Vickers-Armstrong Modelo XIX seriam empregados pelo Exército Americano (US Army), quando de sua participação na Primeira Guerra Mundial, pois havia a carência em sua força de artilharia de armas pesadas de longo alcance. Cem peças seriam produzidas sob encomenda, recebendo a designação de M1917 de 6 polegadas, infelizmente estas só seriam concluídas em março de 1920 não chegando a participar do esforço de guerra, sendo empregado em unidades no continente norte americano. Em 1933 a escassez de munição britânica de 152,4 mm levou ao armazenamento de 99 peças remanescentes juntamente com 51 tubos de reposição do canhão. Em 1939 os Vickers-Armstrong Modelo XIX seriam descarregados do serviço ativo, sendo substituídos por peças de artilharia mais modernas e de maior capacidade ofensiva produzidas localmente.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
Os canhões produzidos pela empresa Armostrong Whitworth passaram a servir as forças armadas brasileiras a partir do ano de 1872, quando a Marinha Brasileira imbuída em um amplo processo de modernização de sua artilharia procedeu a aquisição de um razoável numero de peças de peças para o emprego em seus fortes no litoral para artilharia de costa. Algumas ainda seriam cedidos ao Exército Brasileiro, incluindo uma unidade de 11 polegadas. Desta maneira a maior parte da artilharia de costa do país, passou a ser equipada com modernos canhões  produzidos por este fabricante inglês e pela empresa alemã Friedrich Krupp AG, estas peças de artilharia se mantiveram em serviço até o final da década de 1920. No final da década de 1930 as tensões politicas na Europa geraram um estado de atenção de todos governos mundiais, entre estes o Brasil. A grande preocupação do comando militar brasileiro era baseada na posição estratégica do país, tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste. Assim se fazia necessário promover um programa de modernização de sua artilharia de costa, que até então ainda era composta por canhões obsoletos produzidos pela Krupp e Schneider-Canet, presentes nos calibres de 150 mm, 280 mm e 305 mm. Neste período o país passou a vivenciar um processo de aproximação junto ao governo norte americano do Presidente Franklin Delano Roosevelt, que tinha por objetivo conquistar a confiança para estabelecer as bases para um processo de negociação visando a montagem de bases áreas e navais para proteção e operação de portos na região nordeste.  Isto se dava, pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu.

O avançar destas negociações logo começariam a fornecer condições interessantes para implementação de um programa de rearmamento, entre os programas contemplados estava a artilharia de costa, envolvendo em 1939 um acordo para o recebimento de 99 canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX (M1917) oriundos dos estoques do Exército Americano (US Army). Apesar de serem peças fabricadas no ano de 1920, estavam em perfeito estado de conservação, pois foram retiradas do serviço ativo e armazenadas em 1933, devido à escassez da munição de origem britânica de 155 mm. Não existem registros oficias sobre o recebimento dos 51 tubos de reposição do canhão que faziam parte do pedido original do Exército Americano e foram armazenados juntamente com as peças de artilharia. O recebimento dos Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 mm, destinados ao Exército Brasileiro, foi iniciado em outubro e 1940, além do equipamento em si o pacote contemplava apoio técnico norte americano para a produção local da munição que em muito se assemelhava aos projéteis de 155 mm. O proposito inicial devido a eclosão da Segunda Guerra Mundial, era o de direcionar estes novos equipamentos aos fortes localizados próximos aos principais portos comerciais do país. Assim operando em estado de alerta seria possível assegurar a navegação naquele trecho das águas territoriais brasileiras. Assim passaram a substituir e complementar nestas unidades gradualmente antigos canhões Krupp 150 mm L/50 recebidos entre 1901 e 1902 e Schneider-Canet de 150mm recebidos na década de 1920. Traziam como principal evolução o maior alcance chegando a 18.400 metros apresentando ainda a excelente cadencia de três tiros por minuto, superando em muito as peças em uso até então que atingiam no máximo 9.000 metros.
Esta iniciativa de proteção das regiões portuárias iria gerar a partir de 1942 a criação de novos unidades denominadas como “Grupos Móveis de Artilharia de Costa” (como o 6º GACosM e 8º GACosM) reforçando os já existentes “Grupos de Artilharia de Costa”, presentes nos fortes existentes na baixada santista. A possibilidade em deslocar peças de artilharia desta magnitude traria nova capacidade defensiva ao Exército Brasileiro, porém este equipamento ainda enfrentava certa limitação pois seus transportadores ainda estavam equipados com rodeis de aço o que prejudicava a velocidade de deslocamento em estradas de terra ou ainda em vias pavimentadas com paralelepípedos. Para atender a esta demanda uma comissão técnica norte americana capacitaria a empresa carioca, Sociedade Industrial Santa Mathilde  para proceder a conversão dos transportadores originais, passando a dotar este conjunto com rodas de reposição e pneus de borracha, para assim permitir que as armas fossem rebocadas em velocidades mais elevadas em qualquer tipo de movimento. Este processo também abrangeria a adaptação na base do transportador de uma plataforma circular com um eixo central de apoio, de forma que a peça podia ser girada 360º, equiparando assim sua funcionalidade de se posicionar com rapidez para assim disparar em todos os ângulos, se equiparando aos canhões fixos de artilharia de costa. Esta atualização pode permitir que os Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 mm, fossem tracionados com eficiência pelos tratores sobre rodas Minneapolis Moonline GTX-147 6X6 que foram recebidos a partir de meados do ano e 1941. Neste mesmo período duas peças foram alocadas junto a Escola de Artilharia de Costa (EAC), onde, no período de 1942 a AGO 1944, foi realizado o Curso de Emergência de Oficiais de Artilharia de 1ª linha, a fim de preparar artilheiros para a Segunda Guerra Mundial. 

Durante a Segunda Guerra Mundial os “Grupos Móveis de Artilharia de Costa” sem mantiveram em alerta, atuando em missões de prontidão não só em suas sedes no estado de São Paulo, mas também se desdobrando em tarefas de treinamento e atuação no estado do Rio de Janeiro e Paraná , já os efetivos pertencentes ao 7º Grupo Móvel de Artilharia de Costa (7ºGACosM), baseados no Rio Grande do Sul eram desdobrados nos estados vizinhos do sul. Nestes deslocamentos os  Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 mm eram tracionados por caminhões pesados Diamond T968 & T969 6X6 e Corbitt - US White Cargo, mais indicados para deslocamentos de grandes distancias. Peças deste modelo, anteriormente a sua modernização dos transportadores, também seriam mobilizadas para a defesa costeira do arquipélago de Fernando de Noronha para serem operados pelo recém criado o 1º Grupo Independente de Artilharia (1º GIA), com esta unidade posteriormente transferida para cidade de Niterói no Rio de Janeiro, porém 4 destas peças foram mantidas na defesa da ilha. O termino do conflito não alteraria a rotina operacional dos canhões ingleses, se mantendo em operação em suas bases originais, além de manterem as missões de desdobramentos como o grande aquartelamento do 8º GACosM nas praias do Leblon e na Fortaleza de Santa Cruz a partir do ano de 1946. A partir de 1949 os Minneapolis Moonline GTX-147 6X6 passaram a ser substituídos pelos novos M4 High Speed Tractor, na missão de tracionar os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 mm, melhorando sua eficiência no processo de movimentação das peças  
Durante as décadas seguintes os canhões Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 mm se mantiveram na missão de defesa e artilharia de costa, mantendo a proficiência e prontidão, mantendo alto índice de operacionalidade. Apesar do recebimento de sistemas de artilharia mais moderno de origem norte americana como o obuseiro M1 de 155 mm, os canhões ingleses se mantiveram na linha de frente na missão de artilharia de costa, recebendo apurada manutenção e modernização envolvendo sistemas de orientação de tiro. O avançar da tecnologia de foguetes e misseis destinados as tarefas de saturação de área iria lograr a obsolescência os sistemas de artilharia para defesa de costa. No início da década de 1990 os canhões remanescentes do modelo Vickers-Armstrong já se encontravam em operação a mais de 50 anos no Exército Brasileiro e dotavam neste período o 6° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado, 8° Grupo de Artilharia de Costa Motorizado e o 10º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado e seriam as primeiras unidades a incorporarem o Sistema de Foguetes de Artilharia para Saturação de Área de produção nacional ASTRO II, com uma bateria sendo alocada a cada unidade. Este processo seria implementado de forma gradual até 1994 quando as ultimas peças foram retiradas do serviço ativo, atualmente diversos Vickers-Armstrong Modelo XIX 152,4 são mantidos como monumentos em diversas unidades e museus militares.

Em Escala.
Para representarmos o obuseiro Vickers-Armstrong Modelo XIX - 152,4 mm fizemos uso de um inovador kit em resina com impressão 3D produzido artesanalmente, modelo que surpreende pelo nível de detalhes. Este modelo foi desenvolvido especificadamente para representar os canhões desta família operados pelos Exército Brasileiro, não sendo necessário proceder nenhuma alteração.


O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1940 , mantendo esquema até sua desativação no ano de 1994. Fizemos usos de tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.


Bibliografia:

- Vickers-Armstrong  Limited - https://en.wikipedia.org/wiki/Vickers-Armstrongs

- Canhão Vickers Armstrong 152,4 mm  VII/VIII - https://pt.wikipedia.org/wiki/Canh%C3%A3o_152,4_mm_modelo_VII/VIII

- A Evolução da Artilharia – Victor H. Mori & Adler Homero Fonseca de Castro

- Veteranos da Artilharia de Costa – Facebook.

- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf