North American T-6D e T-6G


História e desenvolvimento.
Fundada em 6 de dezembro de 1928, na cidade de Los Angeles, Califórnia, pelo empreendedor Clement Melville Keys, a North American Aviation (NAA) surgiu inicialmente como uma holding corporativa voltada para a aquisição e negociação de participações em companhias aéreas e empresas do setor aeronáutico. Essa estratégia, porém, foi interrompida em 1934 com a promulgação da Lei Federal do Correio Aéreo, que desestruturou holdings desse tipo ao proibir a integração vertical entre empresas de transporte aéreo e outras do mesmo setor. Diante desse revés, a North American Aviation, já consolidada como uma referência no mercado aeronáutico na produçao de aeronaves leves, reorientou sua atuação para o desenvolvimento e a fabricação de componentes e, posteriormente, de aeronaves completas. Nesse momento de transição, a liderança da empresa foi assumida por James H. "Dutch" Kindelberger, um engenheiro de renome que detinha vasta experiência adquirida junto a sua passagem na Douglas Aircraft Company. Sob sua direção, e com um grande suporte financeiro de fundos ligados à Eastern Air Lines, a empresa iniciou uma nova fase de crescimento. Em 1935, a General Motors Corporation adquiriu o controle da empresa, incorporando-a à sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation. No mesmo ano, a North American Aviation transferiu sua planta fabril de Dundalk, Maryland, para Los Angeles, Califórnia, uma decisão estratégica motivada pelas condições climáticas favoráveis da região, que permitiam a realização de ensaios de voo durante todo o ano. A nova estratégia comercial da North American Aviation  priorizou o segmento de aeronaves de treinamento, um nicho de mercado com menor concorrência em comparação com o de aviões de grande porte ou alta complexidade como caças e bombardeiros estratégicos. Dessa abordagem surgiram projetos notáveis, como os modelos North American GA-16, voltado para treinamento básico, e o GA-15, destinado a missões de reconhecimento e observação. O protótipo do GA-15 realizou seu primeiro voo em janeiro de 1935, sendo submetido a uma série de ensaios de voo que culminaram em sua homologação no mesmo ano. A aeronave foi oficialmente designada como O-47 pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Air Corps), refletindo seu papel principal como avião de observação. Os dois protótipos do modelo GA-16, oficialmente designados NA-18, realizaram seus primeiros voos em janeiro de 1935. Submetidos a um rigoroso programa de ensaios de voo, os testes avaliaram desempenho, manobrabilidade e adequação às necessidades de treinamento militar. Cabe destacar que ambos estes projetos tiveram como base desenvolvimentos anteriores da General Aviation Manufacturing Corporation sendo aprimorados, marcando os primeiros passos da North American Aviation rumo à sua consolidação como um dos principais fornecedores de aeronaves militares para as Forças Armadas dos Estados Unidos nas décadas seguintes.

O novo GA-16/NA-18 era um monoplano de asa baixa, projetado para combinar simplicidade operacional com robustez, características essenciais para uma aeronave de treinamento. Suas especificações incluíam: Estrutura: Construção metálica com superfícies cobertas por tela aeronáutica, um padrão comum na época, que equilibrava leveza e resistência. Motorização: Equipado com um motor radial Wright R-975 de 400 hp, confiável e adequado para voos de treinamento prolongados. Trem de pouso: Fixo, projetado para facilitar operações em pistas improvisadas, comuns em centros de instrução. Tripulação: Dois assentos, para um instrutor e um aluno, com controles duplos para permitir supervisão e aprendizado prático. Desempenho: Velocidade máxima de aproximadamente 170 mph (274 km/h) e alcance suficiente para missões de treinamento. Os testes do NA-18 resultaram em melhorias que culminaram no BT-9, a primeira versão de produção em série. Em outubro de 1935, a North American Aviation  assinou um contrato com o Exército dos Estados Unidos (US Army) para fabricar 42 células do BT-9, com entregas iniciadas em 1936. Pouco depois, um novo contrato foi firmado para a produção de mais  40 aeronaves de uma variante atualizada, o BT-9A Advanced Trainer., que se distinguia pela incorporação de armamento: uma metralhadora calibre .30 montada na asa direita e outra no nariz, sincronizada com a hélice. Essas aeronaves foram rapidamente distribuídas aos principais centros de instrução do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), onde se destacaram pela eficácia no treinamento de pilotos. O sucesso do BT-9 levou ao desenvolvimento de versões subsequentes. O BT-9B, com 117 unidades encomendadas, e o BT-9C, com 97 unidades, trouxeram melhorias nos sistemas elétricos e de navegação, consolidando a reputação do modelo entre instrutores e alunos por sua confiabilidade e facilidade de operação. Esse desempenho chamou a atenção da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que buscava modernizar sua frota de treinamento. Em maio de 1936, o protótipo de uma versão navalizada, designada North American NJ-1, realizou seu primeiro voo. Após testes bem-sucedidos, a Aviação Naval da Marinha adquiriu 40 aeronaves , que foram integradas às suas operações de treinamento. Apesar de representar um avanço significativo em relação às aeronaves de treinamento da época, o BT-9 e suas variantes começaram a mostrar sinais de obsolescência diante da rápida evolução tecnológica. O comando militar reconheceu a necessidade de desenvolver uma nova aeronave de treinamento que replicasse o desempenho das modernas aeronaves de caça, incorporando inovações como trem de pouso retrátil e superfícies revestidas em alumínio, em substituição à tela aeronáutica. Essa demanda foi intensificada pelo crescente tensionamento político na Europa, que sinalizava o risco de uma corrida armamentista. Como resposta, o governo norte-americano lançou um programa emergencial de rearmamento, que abriu caminho para a aquisição de um novo vetor de treinamento em larga escala, marcando a transição para projetos mais avançados, como o icônico T-6 Texan. 
A competição promovida pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), oficialmente designada como "USAAC Basic Combat" (Combate Básico), despertou grande interesse entre os fabricantes aeronáuticos, resultando na apresentação de mais de uma dezena de propostas. Dentre elas, destacou-se o projeto da North American Aviation (NAA), que submeteu o modelo NA-26 BT-9D para avaliação. Este novo treinador foi desenvolvido com base na versão original do NA-19 BT-9, mas incorporava significativos avanços técnicos e estruturais. O NA-26 apresentava um perfil ampliado, com asas redesenhadas, estrutura reforçada e revestimento em alumínio, substituindo a tradicional tela aeronáutica. Além disso, contava com um trem de pouso retrátil, sistemas modernizados de navegação e comunicação, e era propelido pelo motor radial Pratt & Whitney R-985-25 Wasp Jr, de 450 hp, que conferia maior desempenho e confiabilidade. O programa avançou para a fase de análises comparativas, com testes de voo envolvendo protótipos das aeronaves concorrentes. O NA-26 BT-9D da NAA destacou-se por suas qualidades operacionais e foi declarado vencedor ao final do processo. Em abril de 1938, foi assinado um contrato para a produção inicial de 251 unidades destinadas ao USAAC, sendo 36 dessas células configuradas especificamente para treinamento em voo por instrumentos. O modelo recebeu a designação militar BC-1 (Basic Combat – Treinador Básico de Combate), e as primeiras entregas às unidades de formação de pilotos militares começaram em setembro de 1938. A aeronave demonstrou excelentes características de manejo e operação, sendo considerada ideal para o treinamento avançado de voo e para a introdução de cadetes às técnicas de combate básico. As qualidades do BC-1 atraíram a atenção internacional, particularmente do Ministério do Ar Britânico, que, em meio a um esforço emergencial de reequipamento diante das crescentes tensões na Europa, buscava fortalecer sua capacidade de treinamento de pilotos. Esse interesse resultou em um pedido de exportação de 400 aeronaves, destinadas às escolas de formação da Força Aérea Real (RAF). Esta variante, adaptada para as necessidades britânicas, foi designada Harvard Mk I, tornando-se um marco na cooperação aeronáutica entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Além disso, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também reconheceu o potencial do modelo, incorporando 16 unidades de uma versão navalizada, designada SNJ-1. Essas aeronaves foram adaptadas para operações em ambientes navais, reforçando a versatilidade do projeto da NAA. O sucesso do NA-26 BT-9D, com suas variantes BC-1, Harvard Mk I e SNJ-1, consolidou a reputação da North American Aviation como uma das principais fornecedoras de aeronaves de treinamento militar.  A evolução do projeto da North American Aviation (NAA) culminou na versão BC-1A, que incorporou as melhorias introduzidas na variante naval SNJ-1, consolidando-se como a base para o desenvolvimento do icônico T-6 Texan.  

Este modelo representou um marco significativo na trajetória da NAA, combinando avanços técnicos com a versatilidade necessária para atender às crescentes demandas de treinamento militar. Em 1939, o Exército dos Estados Unidos (US Army) celebrou um contrato para a produção de 177 unidades do BC-1A, enquanto a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) encomendou 61 unidades de uma versão navalizada, designada SNJ-2. As versões destinadas à exportação, voltadas para equipar a Força Aérea Real (RAF) e a Real Força Aérea Canadense (RCAF), receberam a designação Harvard Mk. II. Um total de 1.173 aeronaves foi empregado pelas forças britânicas, principalmente no Canadá e na Rodésia, como parte do Empire Air Training Scheme, um programa estratégico para a formação de pilotos aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Essas aeronaves destacaram-se pela robustez e confiabilidade, sendo fundamentais na preparação de milhares de pilotos para os desafios do conflito. Nesse mesmo período, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) implementou uma ampla reestruturação organizacional e conceitual, que incluiu uma revisão de seu sistema de formação de pilotos. Como parte dessas mudanças, a fase de treinamento conhecida como Basic Combat (Combate Básico) foi reformulada e passou a ser designada Advanced Trainer (Treinador Avançado). Nesse contexto, as aeronaves BC-1A foram redesignadas como AT-6, refletindo sua nova função no treinamento avançado de pilotos militares. Uma variante notável do BC-1A foi produzida sob licença pela Commonwealth Aircraft Corporation, na Austrália, sob o nome Wirraway. Este modelo alcançou distinção histórica ao ser a única aeronave da família de treinadores a registrar, de forma confirmada, a destruição de um caça japonês – possivelmente um A6M Zero ou, segundo alguns autores, um Ki-43 Oscar – em 26 de dezembro de 1942, nos céus da Nova Guiné, durante a Segunda Guerra Mundial. Esse feito destacou a versatilidade do Wirraway, que, embora projetado como treinador, demonstrou capacidade em cenários de combate real. A evolução do projeto prosseguiu com a introdução do AT-6A (e sua variante naval SNJ-3), que trouxe melhorias significativas, como um leme de formato triangular – em substituição ao perfil arredondado das versões anteriores – e extremidades das asas retas. Equipado com o motor radial Pratt & Whitney R-1340-49 Wasp, o AT-6A podia ser armado com duas metralhadoras calibre .30, uma fixa no lado direito da capota do motor e outra móvel, posicionada na cabine traseira, permitindo treinamento em táticas de combate. Foram produzidas 1.549 unidades do AT-6A e 270 do SNJ-3. Além disso, a Noorduyn Aviation, no Canadá, fabricou sob licença 1.500 unidades do AT-16 para as forças armadas americanas e 2.485 unidades do Harvard Mk. IIB para as forças britânicas, reforçando a relevância global do projeto.  
A evolução do North American T-6 Texan continuou com a introdução da versão AT-6B, equipada com o motor Pratt & Whitney R-1340-AN-1, que se tornou o padrão para as versões subsequentes. Projetada especialmente para o treinamento de metralhadores, essa variante apresentava um assento traseiro montado virado para trás, facilitando a instrução em técnicas de tiro aéreo. A maioria das aeronaves AT-6 foi produzida na fábrica da North American Aviation em Dallas, Texas, o que levou à adoção do nome "Texan", um tributo à origem de sua fabricação e ao espírito resiliente da região. A variante seguinte, AT-6C (designada SNJ-4 pela Marinha dos EUA e Harvard Mk. IIA pela Força Aérea Real – RAF), marcou um aumento significativo na produção, com 2.970 unidades do AT-6C, 2.400 do SNJ-4 e 726 do Harvard Mk. IIA fabricados. Uma subvariante, a SNJ-4C, com apenas 85 unidades produzidas, foi equipada com um gancho de parada, permitindo operações em porta-aviões, o que ampliou sua versatilidade para a aviação naval. Posteriormente, a versão AT-6D (SNJ-5 para a Marinha e Harvard Mk. III para a RAF) trouxe melhorias no sistema elétrico, reforçando a confiabilidade da aeronave. Foram produzidas 3.713 unidades do AT-6D, 1.357 do SNJ-5 e 915 do Harvard Mk. III, atendendo às demandas crescentes das forças armadas americanas e britânicas durante a Segunda Guerra Mundial. Uma subvariante semelhante, a SNJ-5C, com 80 unidades, manteve as adaptações para uso naval, incluindo o gancho de parada. A última variante produzida durante o conflito foi a AT-6F (SNJ-6 para a Marinha), projetada sem provisão para armamento. Essa versão incorporava uma hélice com cubo, embora este fosse frequentemente removido em serviço devido a dificuldades de manutenção. A produção do AT-6F/SNJ-6 consolidou o papel do Texan como um dos principais treinadores militares da época. Após a guerra, a evolução do projeto continuou com a T-6G, uma versão modernizada que resultou da conversão de aeronaves T-6 anteriores. Com 2.068 unidades produzidas, a T-6G trouxe melhorias significativas, incluindo a elevação do assento traseiro para proporcionar maior visibilidade ao instrutor, a remoção de algumas nervuras do canopy para melhorar a visão de piloto e instrutor, e a instalação de tanques adicionais de combustível nas asas, aumentando o alcance da aeronave. Essas modificações refletiram o compromisso da NAA em adaptar o Texan às necessidades de treinamento em um contexto pós-guerra. Na década de 1950, a empresa canadense Canadair (anteriormente Canada Car and Foundry) produziu a versão Harvard 4, designada T-6J, que foi adotada por forças aéreas de países como Canadá, França, Itália, Bélgica e Alemanha. Essa variante destacou-se por sua durabilidade e capacidade de operar em diversos cenários, consolidando o legado do T-6 como um dos treinadores militares mais bem-sucedidos da história. 

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No inicio da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a encarar com profunda preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo, formadas por Alemanha, Itália e Japão. Essa inquietação intensificou-se após a rendição da França, em junho de 1940, quando a Alemanha nazista passou a ter a possibilidade de estabelecer bases estratégicas em territórios franceses, como as Ilhas Canárias, Dacar e outras colônias, criando condições adequadas para uma potencial experiência no continente americano. Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto de especial vulnerabilidade, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também figurava nos ambiciosos planos de expansão territorial alemã. Além disso, o avanço japonês no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul consolidou o Brasil como o principal fornecedor de látex para os Aliados, uma matéria-prima indispensável para a produção de borracha, essencial à indústria bélica. A posição estratégica do litoral brasileiro, especificamente na região Nordeste, revelou-se de grande relevância, com destaque para a cidade de Recife, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Essa localização privilegiada tornou o Brasil um potencial hub logístico, capaz de facilitar o envio de tropas, suprimentos e aeronaves para os teatros de operações na Europa e no Norte da África. Nesse contexto, observou-se uma rápida aproximação política, estratégica e econômica  entre Brasil e Estados Unidos, marcada por investimentos direcionados  e acordos de cooperação militar. Um marco dessa parceria foi a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar "Lend-Lease Act Bill", à Lei de Empréstimos e Arrendamentos, que visava modernizar as forças armadas aliadas, incluindo neste escopo o Brasil . Por meio desse programa, nosso pais  obteve uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões para a aquisição de equipamentos militares modernos, incluindo armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos foram fundamentais para fortalecer a defesa nacional frente às crescentes ameaças dos submarinos alemães, que comprometem a segurança da navegação civil e do comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, essencial para o transporte de materiais primários destinados à indústria bélica norte-americana. A participação do Brasil no esforço de guerra aliado não se restringe ao fornecimento de recursos estratégicos. O presidente Getúlio Vargas expressou a disposição do país de assumir um papel mais ativo no conflito, sinalizando a possibilidade de enviar tropas brasileiras para teatros de operações de relevância, demonstrando o compromisso do Brasil com a causa aliada. Assim nos termos do referido acordo de assistência militar, o Brasil iniciou a recepção de uma significativa quantidade de material bélico, incluindo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, navios e armamentos, sendo o Exército Brasileiro o principal beneficiário desse investimento.

No contexto da Segunda Guerra Mundial, a recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB) enfrentava desafios significativos, sendo a modernização de sua frota uma necessidade premente. À época, suas aeronaves, em grande parte obsoletas, careciam da capacidade necessária para atender às demandas de uma força aérea eficiente. A escassez de aviões de treinamento básico e avançado limitava a formação de pilotos militares, tanto em quantidade quanto em qualidade, comprometendo a preparação de uma aviação militar robusta. A partir do final de 1942, essa carência começou a ser suprida com a chegada dos primeiros treinadores North American AT-6B ao Brasil. Embora projetados para a formação de pilotos, esses aviões foram inicialmente empregados em missões de patrulha marítima, devido à ausência de aeronaves especializadas para essa função. A partir de janeiro de 1943, a Força Aérea Brasileira recebeu unidades das versões AT-6C e AT-6D, permitindo uma reorganização estratégica de sua frota. Esses novos modelos foram distribuídos entre bases aéreas no Sul e no Leste do país, incluindo os Grupamentos do Curso de Formação de Oficiais da Reserva (CPOR), fortalecendo a capacidade operacional. Com a introdução de aeronaves especializadas em patrulha e guerra antissubmarino, os AT-6 passaram a ser gradualmente destinados às missões de treinamento avançado, ao lado de modelos como o Fairchild PT-19 e o Vultee BT-15 Valiant. Ao término do conflito, a Força Aérea Brasileira contava com cerca de 120 aeronaves da família AT-6 em condições de voo. Contudo, muitas apresentavam significativo desgaste estrutural, decorrente do uso intensivo durante a guerra, o que representava um risco para a continuidade do treinamento de novos pilotos. No pós-guerra, a necessidade de expandir e modernizar a frota de treinamento tornou-se ainda mais evidente. Para atender a essa demanda, o Brasil recebeu, por meio de dois programas norte-americanos de "Reequipamento das Forças Aéreas nas Américas", 163 células do T-6, dispostos em diferentes versões, o que trouxe um alívio significativo à capacidade operacional da Força Aérea Brasileira. Ainda assim, a frota disponível era insuficiente para suprir a crescente necessidade de formação de pilotos. Buscando uma solução de longo prazo, o Ministério da Aeronáutica iniciou, negociações com a North American Aviation Corp. para a produção sob licença do T-6D na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa (ornanizaçao fundada em1º de setembro de 1935). Embora o acordo tenha sido rapidamente formalizado, A implementação deste projeto trouxe desafios logísticos e técnicos. O Brasil, na época, carecia de uma infraestrutura industrial robusta, com limitações na produção de materiais como alumínio e aço, além de uma engenharia mecânica e elétrica ainda incipiente. A importação de componentes dos Estados Unidos, essencial para a montagem das aeronaves, foi dificultada pelo contexto da pós-guerra e pelas restrições logísticas do período. Além disso, a customização dos processos produtivos em Lagoa Santa sofreu adaptações complexas, o que gerou atrasos no cronograma original.
O contrato firmado para a produção das aeronaves North American T-6D na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa previa, inicialmente, a entrega de 81 unidades. Destas, 61 seriam montadas com componentes importados, enquanto as 20 unidades finais deveriam apresentar  um maior índice de nacionalização, excetuando-se o grupo propulsor, instrumentos de navegação e armamentos. A produção na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa foi marcada por dificuldades operacionais e financeiras, desta maneiras as as primeiras aeronaves designadas T-6D 1LS (com o sufixo LS indicando Lagoa Santa), foram montadas em 1944, porém devido a avaliaçoes técnicas nao seriam liberadas para entrega. Em 1945, a gestão da fábrica foi transferiada ao Grupo Pignatari , que operava a Companhia Aeronáutica Paulista, na tentativa de melhorar a eficiência. Neste contexto em maio de 1946,  a operaçao lograria exito em entregar oficialmente a Força Aérea Brasileira as primeiras células que foram finalizadas em dois anos antes. Estes T-6D 1LS seriam destinados diretamente à Escola de Aeronáutica , no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, para missões de treinamento avançado de pilotos. Contudo, até 1947, apenas 19 das 81 aeronaves foram montadas, refletindo os desafios técnicos e logísticos. Diante dos altos custos e da baixa produtividade, o Ministério da Aeronáutica propôs uma rescisão do contrato em 1947, culminando na intervenção e ocupação da fábrica em 1º de outubro de 1949 . A produção das últimas unidades foi concluída em 1951, já sob administração federal. Após a conclusão do contrato, a Fábrica de Aviões de Lagoa Santa foi transformada no Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS) passando a assumir a responsabilidade pelas revisões estruturais de âmbito de parque, enquanto as revisões do grupo motor permaneceram sob a gestão do Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF), no Rio de Janeiro. A partir de 1952, os T-6 passaram a integrar a Esquadrilha da Fumaça, o esquadrão de demonstração aérea da Força Aérea Brasileira (FAB), realizando impressionantes 1.225 apresentações até 1976. A partir de 1953, com o objetivo de ampliar a disponibilidade e a eficiência da frota, a Força Aérea Brasileira (FAB) implementou um programa de modernização de 28 aronaves das versoes T-6B, T-6C e T-6B, sendo escolhidas as células em melhor estado de conservaçao estrutural.  O programa de modernização incluiu a instalação de equipamentos avançados de navegação e comunicação, elevando essas aeronaves ao padrão do modelo North American T-6G, em um processo semelhante ao realizado nos Estados Unidos. As aeronaves modernizadas passaram a desempenhar um papel central nas missões de treinamento de voo por instrumentos, atendendo tanto aos cadetes da Escola de Aeronáutica quanto aos oficiais de bases aéreas e outras unidades administrativas da Força Aérea Brasileira. Apesar de saírem do programa em condições praticamente novas, essas aeronaves receberam restrições rigorosas para a realização de voos acrobáticos, medida adotada em razão de sua idade e com o objetivo de preservar sua integridade estrutural.

Em 1958, com o objetivo de recompor as perdas de aeronaves North American T-6 devido a acidentes operacionais ou desgaste, o Ministério da Aeronáutica (MAer) iniciou negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos visando assim a cessao de mais aeronaves desta familia. Esta iniciativa resultaria na  aquisição de 50 aeronaves do North American T-6G, com este processo sendo viabilizado por meio de programas de assistência militar dos Estados Unidos, como o Programa de Assistência Militar (MAP). Cada celulas apresentaria um custo de aquisiçao extremamente baixo na ordem unitaria de US$ 500 (equivalente a aproximadamente US$ 6.900 em valores ajustados para 1958). Estas aeronaves se encontravam relativamento novas e haviam sido atualizadas entre os anos de 1949 e 1953, incluind melhorias como : tanques de combustível de maior capacidade (140 galões em vez de 110 galões), um painel de instrumentos atualizados e sistemas hidráulicos modernizados.  Em serviço junto a Escola de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, estas aeronaves foram destinadas principalmente a missões de treinamento de voo por instrumentos. Em 1960, a Força Aérea Brasileira (FAB) reforçou sua frota com a aquisição de oito aeronaves North American SNJ-5C e 12 SNJ-6C oriundas dos estoqueS da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) , integrando essas unidades ao seu inventário para atender às demandas de treinamento e operações especializadas. Equipadas com ganchos de retenção para pousos em porta-aviões, essas aeronaves foram inicialmente utilizadas pelo 1º Grupo de Aviação Embarcada -  em exercícios simulados na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, embora nunca tenham operado a bordo de porta-aviões ligeiro  A-11  Minas Gerais . Posteriormente, essas aeronaves navalizdas foram destinadas a operar junto a 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO), sediada na base área do Galeao no Rio de Janeiro, e posteriomente junto a Base Aeronavel de Sao Pedro da Aldeia onde operariam em parceria com a Marinha do Brasil. Em 17 de outubro de 1961, a Portaria Ministerial nº 2A4-521013 do Ministério da Aeronáutica padronizou a nomenclatura de todas as versões do T-6 em uso pela Força Aérea Brasileira (FAB), passando a designá-las simplesmente como T-6. Para o cumprimento das missões de adestramento de seu pessoal orgânico, cada base aérea possuía uma esquadrilha de adestramento equipada com aeronaves NA T-6. Essas células eram empregadas em viagens de treinamento dos pilotos que trabalhavam em atividades internas burocráticas, e para voos administrativos das bases, realizando as ligações com os comandos aéreos regionais aos quais eram subordinados.  Outra missão confiada às aeronaves North American T-6 pela Força Aérea Brasileira foi a seleção de aspirantes a oficiais destinados ao curso de pilotagem da caça Republic P-47 Thunderbolt. Por meio de treinamentos específicos conduzidos no T-6, a FAB avaliava as habilidades técnicas, a disciplina e a demanda dos candidatos, preparando-os para enfrentar os desafios de operar uma aeronave de combate de alta performance.
Na década de 1960, a Força Aérea Brasileira (FAB) estruturava seu sistema de formação de pilotos em torno de um binômio consolidado, composto pelas aeronaves Fokker T-21, destinadas ao treinamento básico, e North American T-6, empregadas na instrução avançada. Essas aeronaves, embora robustas e confiáveis, começavam a evidenciar sinais de envelhecimento e obsolescência, especialmente diante das crescentes exigências impostas pela aviação militar moderna. Tornava-se evidente a necessidade de substituir, no médio prazo, esses vetores por modelos mais avançados, capazes de proporcionar uma formação mais eficiente e alinhada às demandas dos cadetes que, futuramente, operariam aeronaves de ataque a reaçao de maior complexidade. Em 1966, o Ministério da Aeronáutica (MAer) definiu um plano estratégico para renovar sua frota de treinamento. Para a instrução básica, optou-se pela aquisição do Aerotec T-23 Uirapuru, uma aeronave de fabricação nacional desenvolvida especificamente para atender às necessidades da Força Aérea Brasileira, combinando simplicidade, confiabilidade e baixo custo operacional. Para o treinamento avançado, seria selecionado o jato Cessna T-37C, uma aeronave de treinamento a jato de origem norte-americana, conhecida por sua agilidade e capacidade de simular as condições de voo de caças modernos. As primeiras unidades do T-37C começaram a ser entregues em 1967 ao Destacamento Precursor da Academia da Força Aérea (AFA), sediada em Pirassununga, São Paulo. Durante um breve período de transição, os T-37C operaram em conjunto com os últimos T-6, permitindo uma substituição gradual e a adaptação dos instrutores e cadetes à nova tecnologia. Em 1968, o North American T-6 foi oficialmente retirado das tarefas de instrução de voo, encerrando uma era de quase três décadas como pilar da formação de pilotos brasileiros. As aeronaves remanescentes, ainda em condições operacionais, foram submetidas a revisões minuciosas no Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS) e redistribuídas para diversas bases aéreas e unidades da FAB. Nessas novas funções, os T-6 desempenharam papéis administrativos e orgânicos, incluindo voos de ligação entre comandos regionais, transporte de pessoal e missões de apoio logístico. Um destaque no uso pós-instrução do T-6 foi sua alocação ao Esquadrão de Formação em Ensaios em Voo, vinculado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos. Nesse contexto, as aeronaves foram empregadas em missões de ensaio em voo, contribuindo para o desenvolvimento e teste de tecnologias aeronáuticas nacionais. As últimas unidades do T-6 foram retiradas do serviço ativo em 1976, marcando o fim de uma trajetória de contribuições inestimáveis à aviação militar brasileira. Durante sua operação, o T-6 não apenas formou milhares de pilotos, mas também desempenhou papéis variados, desde patrulha antissubmarino na Segunda Guerra Mundial até missões de seleção para caças como o P-47 Thunderbolt.

Em Escala.
Para retratar com fidelidade o North American T-6D, registrado como FAB 1471, quando em operação na Escola de Aeronáutica (EAer), no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, foi utilizado o kit injetado na escala 1/48 produzido pela Academy, comercializado em uma edição especial nacional pela HTC Modelismo. Este modelo destaca-se pela sua precisão e qualidade, acompanhado por um conjunto de decais ricamente detalhado que permite compor varios esquemas de pintura, sendo desenvolvido e confeccionado pela FCM Decais. 
O padrão de cores descrito no sistema Federal Standard (FS) reflete o esquema adotado pelas aeronaves de instrução da Escola de Aeronáutica (EAer), no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, e, posteriormente, pela Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, São Paulo. Esse esquema, caracterizado por sua funcionalidade e visibilidade, sofreu pequenas variações nas marcações ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades operacionais e às diretrizes da FAB. Já as aeronaves T-6 alocadas à 2ª Esquadrilha de Ligação e Observação (2ª ELO) receberam uma pintura distinta, em um vibrante tom de amarelo, harmonizado com o padrão utilizado por outras aeronaves dessa unidade, destacando sua função em missões de ligação e observação. Após a retirada dos T-6 das atividades de treinamento, em 1968, as unidades remanescentes, redistribuídas para outras bases aéreas, mantiveram o esquema básico de pintura, preservando-o até sua desativação definitiva em 1976. 



Bibliografia :
Revista ASAS nº 60 " North American T-6 na FAB (1942 - 1963) - Aparecido Camazano Alamino
Aeronaves Militares Brasileiras 1915 2016 – Jackson Flores Jr
North American T-6 - Wikepedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/North-American_T-6
História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html