D17A Beechcraft Staggerwing

História e Desenvolvimento.
O empresário Walter H. Beech seria um dos vários personagens relevantes atuantes nos primórdios da aviação norte-americana, entre os anos de 1924 e 1925. Ele se juntaria aos talentosos projetistas Lloyd Stearman e Clyde Cessna para fundar em janeiro de 1925, na cidade de Wichita, no estado de Kansas, a empresa Travel Air Manufacturing. Esta nova companhia inicialmente voltaria seus esforços para o desenvolvimento e produção de uma série de aviões biplanos esportivos e de treinamento com cabine aberta, incluindo os Modelos A, Modelo B, Modelo BH e Modelo BW. Em 1926 a empresa romperia desenvolvimento tradicional de biplanos, lançando seu mais novo modelo denominado como Travel Air 5000, que em conjunto com o Travel Air 6000, se tornariam grandes sucessos de vendas no mercado norte-americano, isto faria da Travel Air Manufacturing uma das mais promissoras fabricantes de aeronaves daquele período. Apesar do cenário econômico que se abatera sobre o país após a quebra da bolsa de Nova York em 1929, Walter H. Beech, que agora ocupava a vice-presidência da empresa, decidiu ousadamente em trilhar um caminho solo, deixando assim a Travel Air Manufacturing em fins de 1930, para criar sua própria empresa de construção aeronáutica, que seria fundada oficialmente em meados do ano de 1932 sob o nome de Beech Aircraft Corporation. Esta nova empresa seria dirigida por Walter Beech como presidente, sua esposa Olive Ann Beech como secretária, Ted A. Wells como vice-presidente de engenharia, K. K. Shaul como tesoureiro, e o investidor C. G. Yankey como vice-presidente. Inicialmente ocupariam uma antiga linha de produção ociosa da Travel Air Manufacturing (agora já renomeada como Cessna Aircraft Company), em Wichita no estado do Kansas. Apesar do cenário econômico americano na época se apresentar caótico em função do auge da depressão norte americana, Walter Beech resolveu focar seus esforços para o segmento de transporte executivo e turismo de luxo.

Sua aposta em um segmento de aeronaves de alto valor agregado se dava pelo objetivo de atingir uma classe de consumidores potenciais não afetadas diretamente pela crise, que se disporia a investir um valor considerável em uma aeronave de transporte pessoal diferenciada, que deveria seduzir seus clientes pelo desempenho e desing diferenciado. Seguindo esta linha estratégica sua primeira aeronave deveria ter alta performance para viagens de ligação de médias e curtas distancias, rotinas constantes de seus futuros clientes, principalmente no atendimento a altos executivos das corporações norte americanas. Seu projeto foi completamente desenvolvido pelo engenheiro aeronáutico Ted Wells que havia participado também anteriormente da fundação da Travel Air Manufacturing. O Beechcraft Modelo 17, uma aeronave monomotora apresentava configuração do tipo biplano, com as duas superfícies de sustentação posicionadas fora do conceito tradicional, com a asa superior mais recuada em relação a inferior, lhe conferindo uma aparência diferente, porém agradável aos olhos. A incomum configuração de asa cambaleante negativa da aeronave e a forma única maximizou a visibilidade do piloto e tinha a intenção de reduzir o arrasto de interferência entre as asas. Sua estrutura era de madeira e tubos de aço soldados, recoberta com entelagem, a exceção do bordo de ataque das asas, carenagem do motor e parte frontal do suporte do para brisa que eram confeccionados em metal. A construção era complexa e levava muitas horas para ser concluída. O trem de pouso convencional do Beechcraft Modelo 17, incomum na época, combinado com uma simplificação cuidadosa, de peso leve e um poderoso motor radial, ajudaria a aeronave a obter um bom desempenho.
O primeiro protótipo designado como Beech Model 17 Staggerwing alçou voo em Wichita Kansas, no dia 4 de novembro de 1932, sendo submetido a um programa de ensaios em voo pelo fabricante, que ao final deste processo resultariam em melhorias para a primeira versão de produção em série. As primeiras aeronaves seriam ofertadas ao mercado com preços unitários na ordem de US$ 14.000,00 a US$ 17.000,00 de acordo com as configurações da aeronave, no entanto esta faixa de preço se mostrou inadequada, resultando em apenas dezoito aeronaves vendidas no mercado civil no ano de 1933. Em busca de aumentar sua fatia de mercado, mais melhorias seriam feitas, entre estas mudanças estava a implementação de trem de pouso retrátil representando uma novidade para aquele período, assim gradativamente as vendas foram melhorando, a exclusividade de configuração luxuosa do interior da aeronave feita mão, aparada em couro e mohair, chamavam a atenção dos mais exigentes clientes, levando o modelo nos anos seguintes a conquistar uma boa fatia do mercado norte americano de aeronaves executivas. A velocidade do Beech Model 17 Staggerwing tornou-o popular entre os pilotos aéreos na década de 1930. Uma versão inicial do Model 17 ganharia a Corrida do Troféu Texaco de 1933. Em 1935, um diplomata britânico, o Capitão H.L. Farquhar, voou com sucesso ao redor do mundo em um Modelo B17R, viajando 34.331 quilômetros de Nova York a Londres, por meio da Sibéria, Sudeste Asiático, Oriente Médio, Norte da África e de volta pela Europa. Louise Thaden e Blanche Noyes ganharam o troféu Bendix de 1936 em um Modelo C17R Staggerwing. Thaden também ganhou o Troféu Harmon por sua conquista. Jackie Cochran estabeleceu um recorde de velocidade feminino de 328 km/h, estabeleceu um recorde de altitude de mais de 9.144 m e terminou em terceiro lugar na Bendix Trophy Race de 1937, tudo em um modelo especial D17W Staggerwing. Curiosamente o primeiro emprego militar da aeronave ocorreu durante a Guerra Civil Espanhola, quando células da versão civil Beechcraft C17 Staggerwing adaptadas seriam usadas em missões de bombardeiro pela Força Aérea Republicana Espanhola. Algumas aeronaves também foram usadas como ambulância pelas forças armadas da China Nacionalista no conflito contra o Japão.   

No final de 1938 o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) adquiriria três células do modelo Beech D17S a fim de avaliar o modelo para o emprego como aeronave de ligação leve. Esta variante incorporava além do trem de pouso retrátil uma série de melhorias como ailerons nas asas superiores, novo motor Pratt & Whitney Wasp Junior R-985-17 com 450 hp de potência, e sistema de sincronização dos freios com os pedais do leme de direção. Estas aeronaves receberam a designação de YC-43, e após um programa de avaliação foram homologados para operação militar, estas três aeronaves seriam deslocadas posteriormente para a Europa para servirem como aeronaves de ligação a serviço dos adidos aéreos militares norte-americanos em Londres, Paris e Roma. Logo em seguida o comando do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), assinaria com a empresa um contrato para a aquisição de setenta e cinco células da versão Beech UC-43  Traveler, que começariam a ser entregues a partir de maio de 1939. A Marinha Americana (US Navy) se tornaria o segundo maior cliente militar do modelo, assinando no mesmo ano um contrato para a produção de cento e trinta e duas aeronaves dos modelos Beech GB-1 e GB-2. Mais cento e dezoito aeronaves seriam adquiridas e alugadas pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), sendo empregados em função de urgência modelos civis Beechcraft D17 Staggerwing. A Força Aérea Real Britânica (Royal Air Force) e a Marinha Real (Royal Navy) adquiririam cento e seis aeronaves da versão Beech "Traveller Mk. I" (a denominação britânica usa a ortografia dupla "l" do Reino Unido) através do acordo Lend-Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) para suprir sua própria necessidade crítica de transportes leves de pessoal, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda durante o conflito, mais aeronaves seriam exportadas a nações aliadas nos termos do programa Lend-Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), com células sendo entregues as forças armadas do Brasil, Nova Zelândia e Austrália. A estes se somariam mais clientes militares como Holanda, Bolívia, Cuba, China Nacionalista, Espanha, Honduras, Finlândia, Etiópia, Peru e Uruguai, com aeronaves entregues durante e logo após o final da Segunda Guerra Mundial, sendo muitas destas células operando até fins da década de 1960. Ao todo entre os anos de 1933 e 1948 foram produzidas setecentos e oitenta e cinco células da família Beechcraft D-17 Staggerwing e UC-43, dispostas em vinte e uma versões civis e quinze militares. Esta família de aeronaves no mercado civil seria substituída com sucesso a partir de 1950 com o novo Beechcraft Bonanza, que apesar de ser menor e menos potente, custava um terço do preço do modelo anterior, podendo ainda transportar até quatro pessoas a uma velocidade semelhante ao Beechcraft D-17 Staggerwing.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O primeiro registro de transporte aéreo de malas postais que se tem notícia no Brasil, ocorreria no dia 15 de agosto de 1919, quando o hidroavião HS-2  nº11 da Aviação Naval, tripulado por oficiais da Marinha do Brasil , transportaria a correspondência oficial do ministério para uma divisão que participava de manobras de combate na Ilha Grande, inaugurando assim o Correio da Esquadra. Em 1934, seria criado o Correio Aéreo Naval (CAN); atendendo linhas ao longo do litoral sul-brasileiro, entre as cidades de Rio Grande e Rio de Janeiro. Eram utilizados nestas linhas de correio uma variada gama de hidroaviões, como os biplanos Waco CSO e Waco CPF F-5, e aviões Waco CPF F-5 e Waco CJC Cabine, aeronaves que apesar de confiáveis apresentavam limitações em termos de desempenho e autonomia. Na segunda metade da década de 1930, o comando da Aviação Naval da Marinha Brasil, iniciaria um amplo programa de modernização de seus meios aeronáuticos, incluindo neste processo como prioridade a renovação da frota de aeronaves de transporte, para o emprego não só em missões de ligação, mas também para a atuação junto as linhas do Correio Aéreo Naval (CAN). Um dos principais objetivos com a aquisição de novas aeronaves de transporte de maior autonomia, estava estruturar e pôr em prática a tão sonhada Linha de Correio Tronco Norte. Saindo da cidade do Rio de Janeiro, esta nova rota seguiria por toda a costa do Nordeste até chegar a cidade de Belém no estado do Pará. Dali, acompanhando o Rio Amazonas, a linha terminaria em Manaus. Uma ramificação da Linha Tronco Norte, saindo do Rio de Janeiro, também deveria atender a localidade de Ladário no Mato Grosso do Sul, na região  centro oeste do país.

Após analisar diversas propostas apresentas por fabricantes internacionais, a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), acabaria decidindo pela aquisição do modelo Beechcraft D-17A Staggerwing, uma aeronave que tecnicamente atendia as demandas exigidas para operação nas linhas de longa distância do Correio Aéreo Naval (CAN). Negociações seriam conduzidas junto ao fabricante, com quatro aeronaves novas de fábrica sendo encomendadas, a um custo unitário de US$ 16.350,00, com o contrato oficial sendo assinado entre as partes no final do ano de 1939. As aeronaves desmontadas seriam despachadas por via marítima ao Brasil, sendo recebidas no porto do Rio de Janeiro no primeiro trimestre de 1940. Após a chegas,  estas células seriam transportadas em caixotes por via terrestre até Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ), localizado na Base Aérea do Galeão para serem montados sob supervisão de uma equipe técnica da Beechcraft Aircraft Corporation. Após a finalização deste processo, as aeronaves com o registro do fabricante 358 á 361, receberam a designação militar de D1Be  recebendo as matriculas “MB 205 á 208”, sendo colocadas em condições de voo e ensaiadas. E após aceitas oficialmente para serviço, estas aeronaves seriam disponibilizadas ao Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ). Em sequência os Beechcraft D-17A Staggerwing, agora com a designação militar D1Be foram transferidas para a Correio Aéreo Naval (CAN). Curiosamente somente oito aeronaves da variante Beech D17A foram fabricadas, sendo o modelos substituído na linha de produção pelo modelo Beech D17R  , especula-se que estas sejam as quatro entregues à Marinha do Brasil em 1940.
Contudo, após a chegada ao Brasil, uma destas aeronaves se acidentaria com perda total, em 21 de junho de 1940, este Beech D17A decolaria de madrugada da pista da Base de Aviação Naval de Rio Grande (RS) para empreender a perna de regresso da linha semanal do correio aéreo, ao sul do pais, e por encontrar condições meteorológicas adversas logo após a decolagem, a tripulação optou por regressar ao aeroporto, já próximo aquela cidade, a aeronave caiu no centro do canal, ao norte do aeródromo, provocando infelizmente a morte dos quatro tripulantes. Apesar deste acidente as três células restantes seriam mantidas em intensa atividade realizando não só as missões do Correio Aéreo Naval (CAN), como também voo de ligação e transporte de oficiais e autoridades da Aviação Naval e da Marinha do Brasil. Em janeiro de 1941 a criação do Ministério da Aeronáutica (MAer) determinaria a transferência das três células remanescentes para a Força Aérea Brasileira, logo em seguida no dia 20 de fevereiro do mesmo ano a Portaria Ministerial nº 47, determinaria que  o Correio Aéreo Militar (CAM) e o Correio Aéreo Naval (CAN) fossem fundidos em um único serviço aéreo postal, com este passando a ser denominado como Correio Aéreo Nacional (CAN). Cientes das qualidades da aeronave no pleno atendimento das linhas postais, o Beechcraft D17 seria considerado o vetor ideal para esta tarefa, com o comando da aeronáutica em fins do anos de 1941 decidindo por buscar um incremento de sua frota deste modelo de aeronave, se valendo para isso das vantajosas condições oferecidas nos termos do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos).

Desta maneira a Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada em Washington, negociaria a aquisição de cinquenta e uma aeronaves novas de fábrica, dispostas agora nas versões Beech UC-43 Traveller e Beech GB-2. Em conjunto com as primeiras aeronaves Beechcraft D-17A Staggerwing, estas novas células passariam a compor as mais diversas linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), ampliando não só alcance, mas também a efetividade, transportando malas postais ou cargas leves, atuando também como aeronaves de ligação orgânica entre as principais bases aéreas existentes naquele período. Em operação estas aeronaves passaram a ser muito apreciadas por seus tripulantes e eventuais passageiros, principalmente por causa de sua alta velocidade e conforto interno, sendo mantidos na linha de frente do Correio Aéreo Nacional (CAN) até meados do ano de 1955. Porém os Beechcraft D-17A Staggerwing, UC-43 Traveller e Beech GB-2, começariam a ser parcialmente substituídos nestas tarefas pelos bimotores Beechcraft AT-7, C-18 e D-18, que apresentam maior alcance e segurança.  Inicialmente estes novos vetores operariam em um regime compartilhado nas linhas postais, com estas aeronaves recebendo o apelido de “Beech Bi” e seus antecessores o apelido de “Beech Mono”.
Por serem empregadas intensivamente nas mais diversas linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN), as células dos Beechcraft D-17A Staggerwing, UC-43 Traveller e Beech GB-2, sofreram grande desgaste, com muitas aeronaves sendo inutilizadas em acidentes de grande e pequena monta. As aeronaves remanescentes, ainda em boas condições de voo, seriam mantidas em operação, sendo empregadas como aeronaves orgânicas a serviço de diversas bases aéreas e Parque de Materiais da Aeronáutica, até o ano de 1963, quando o último avião foi retirado do serviço ativo da Força Aérea Brasileira. Das células originais, somente uma célula da versão Beechcraft UC-43 Traveller, seria preservada, passando a pertencer ao acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro – RJ.

Em Escala.
Para representarmos o Beechcraft D-17A Staggerwing D-17A D1Be "MB 205", empregamos o antigo kit da AMT, pois não existe no mercado um modelo para compor esta versão inicial da aeronave, levando assim a necessidade de pequenas modificações para se aproximar do modelo empregado pela Aviação Naval da Marinha do Brasil. Como não há no mercado um set de decais específicos para a versão naval brasileira na escala 1/48, empregamos decais oriundos de diversos sets da FCM Decais.

O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão com o qual as aeronaves foram recebidas em 1940, este esquema foi mantido após a transferência para a Força Aérea Brasileira. Após o termino da Segunda Guerra Mundial estas aeronaves e os demais Beech UC-43 Traveller e Beech GB-2, passaram a ostentar um novo padrão de pintura e metal natural, com as marcações nacionais, mantendo este esquema até sua desativação no ano de 1963.



Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 á 2015  -  Jackson Flores Jr
- Beechcraft Model 17 / D17A - Aviação Naval Brasileira - http://www.naval.com.br
- História da Força Aérea Brasileira – Rudnei Cunha Dias da Cunha http://www.rudnei.cunha.nom.br
- Beechcraft Model 17 Staggerwing - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Beechcraft_Model_17_Staggerwing