LAK1111/14 MB (VTNE-VTE-VE)

História e Desenvolvimento. 
Ao longo de mais de um século, o engenho criativo de Gottlieb Daimler e Carl Benz moldou de maneira decisiva o surgimento da indústria automobilística moderna. Trabalhando de forma paralela, ainda que independente, ambos desenvolveram os primeiros automóveis motorizados plenamente funcionais, inaugurando uma era de transformações tecnológicas profundas. O pioneirismo desses inventores não se limitou aos veículos de passeio: deles também derivaram marcos fundamentais como o primeiro ônibus, o primeiro caminhão equipado com motor a gasolina e o primeiro caminhão movido a diesel, inovações que estabeleceram as bases para o transporte automotivo no século XX. Em abril de 1900, a introdução do motor “Daimler-Mercedes” representou um salto tecnológico expressivo. O novo grupo propulsor, projetado para ser eficiente, simples e de custo competitivo, revolucionou a produção seriada de veículos comerciais e consolidou a reputação da engenharia alemã no campo da motorização. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), a empresa desempenhou um papel central no esforço de guerra alemão. Suas fábricas produziram uma ampla variedade de equipamentos, incluindo caminhões, automóveis militares, componentes mecânicos e motores aeronáuticos, contribuindo diretamente para a sustentação logística e operacional das forças armadas do Império Alemão. Com o fim do conflito, entretanto, a Alemanha mergulhou em uma grave crise econômica. A hiperinflação, o desemprego em massa e a queda abrupta no poder de compra da população afetaram profundamente a indústria automotiva, especialmente o mercado de veículos de luxo. A sobrevivência tornou-se um desafio para grande parte das montadoras; muitas foram forçadas à fusão ou à cooperação industrial como forma de enfrentar o ambiente adverso. Nesse contexto, ao longo da década de 1920, a produção automotiva começou a apresentar sinais de recuperação. Para enfrentar os desafios econômicos e fortalecer sua posição no mercado, as empresas Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG) e Benz & Cie firmaram um acordo amplo de administração conjunta e cooperação tecnológica. O pacto — projetado para vigorar até o ano 2000 — previa a unificação de processos de engenharia, compras, produção, vendas e publicidade. Apesar disso, cada empresa continuou, por um breve período, comercializando seus automóveis sob suas marcas tradicionais. A aproximação evoluiu de modo natural para uma integração plena, resultando na formação da Daimler-Benz AG. O símbolo da nova companhia, a célebre estrela de três pontas, concebida originalmente por Gottlieb Daimler, passou a expressar a versatilidade universal dos motores da empresa, pensados para operar em terra, no ar e no mar. Já em meados da década de 1930, a Daimler-Benz foi profundamente impactada pelo contexto político da Alemanha Nazista. O agressivo programa de rearmamento implementado pelo governo de Adolf Hitler impulsionou de forma decisiva as vendas e garantiu contratos volumosos para a companhia. O portfólio, até então concentrado em automóveis e caminhões, foi expandido para incluir: motores aeronáuticos e navais; componentes mecânicos para veículos militares; embarcações de pequeno porte; equipamentos especializados destinados às Forças Armadas. Com isso, a Daimler-Benz consolidou-se como um dos principais pilares industriais do regime, desempenhando papel estratégico no fortalecimento da máquina de guerra nazista às vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, as instalações industriais da Daimler-Benz encontravam-se praticamente paralisadas em razão dos intensos bombardeios conduzidos pelos Aliados. Em meio ao cenário devastado, a empresa iniciaria um lento processo de reconstrução, conduzido em cooperação direta com autoridades e empresas britânicas e norte-americanas. Esse movimento não se limitou à Daimler-Benz: estendeu-se a toda a infraestrutura alemã, impulsionado, a partir de 1947, pelo Plano Marshall. A reconstrução nacional criou uma demanda imediata por veículos utilitários de diversos portes, essenciais para a recuperação econômica e para a reorganização logística do país. Diante desse contexto, a Daimler-Benz identificou uma oportunidade singular no mercado interno e passou a direcionar grande parte de seus esforços ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de caminhões leves e médios. Para acelerar a retomada industrial, a empresa inicialmente recorreu a projetos concebidos na década de 1930, então já testados e aprovados, o que permitiu reduzir custos e encurtar o tempo de produção. Esses modelos alcançaram expressivo sucesso comercial não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa, reforçando a presença da marca no período pós-guerra. Entretanto, seria apenas em meados da década de 1950 que a Daimler-Benz apresentaria um produto totalmente novo e especialmente concebido para atender às necessidades logísticas do processo de reconstrução alemã: o Mercedes-Benz MB L-319. O veículo incorporava o conceito de cabine avançada (cab-over-engine – COE), solução que ampliava o espaço disponível para carga sem alterar significativamente o comprimento do chassi ou a distância entre eixos. Tal configuração proporcionava maior manobrabilidade em ambientes urbanos e maior eficiência no transporte de mercadorias. O MB L-319 foi disponibilizado em múltiplas configurações, caminhão de carga, furgão, chassi para ônibus e versões especializadas o que o tornava notavelmente versátil. Seu sucesso no mercado europeu impulsionou o desenvolvimento da família de caminhões LP (Lastkraftwagen-Pullmann), que incluiria modelos como LP-315, LP-321, LP-326, LP-329 e LP-331. Todos mantinham o conceito de cabine avançada e encontraram aplicação em diversos setores: transporte de mercadorias, serviços municipais, veículos de emergência, como caminhões de bombeiros, e ambulâncias. Essa família consolidou a reputação da Mercedes-Benz como fabricante de veículos robustos, eficientes e tecnicamente avançados. Nesse ambiente de rápida recuperação econômica, a diretoria da Daimler-Benz AG começou a estruturar o primeiro grande plano de expansão internacional da empresa. Entre os mercados avaliados, a América do Sul assumiu papel estratégico, e o Brasil foi escolhido como ponto de partida para essa iniciativa. O objetivo consistia em estabelecer uma linha de produção local de caminhões e, futuramente, chassis de ônibus aproveitando o acelerado crescimento industrial brasileiro. Nessa fase inicial, as vendas no Brasil eram conduzidas por Alfred Jurzykowski, empresário polonês e distribuidor oficial da marca, cuja atuação alcançava notável êxito na comercialização de veículos importados no formato CKD (Completely Knock-Down). Esse modelo, baseado na importação de veículos desmontados para montagem em território nacional, seria o embrião da futura consolidação da Mercedes-Benz do Brasil.
Em 1951, Alfred Jurzykowski assumiu papel decisivo ao aproximar a Daimler-Benz do governo brasileiro, então sob a liderança do presidente Getúlio Vargas. Seu esforço diplomático e empresarial resultou em um acordo estratégico que previa a produção nacional de caminhões e ônibus equipados com motores diesel tecnologia que, à época, representava um avanço significativo em relação ao padrão predominante no país. Dois anos mais tarde, em outubro de 1953, esse movimento concretizou-se com a fundação da Mercedes-Benz do Brasil S.A., marco inaugural da presença industrial da montadora no país. Em seguida, iniciaram-se as obras de sua primeira planta fabril, instalada em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, área que então despontava como polo de modernização industrial do Brasil. Enquanto a fábrica tomava forma, a empresa concentrou-se na elaboração de um ambicioso programa de nacionalização de seus motores diesel. O esforço culminou, em dezembro de 1955, na fundição dos primeiros blocos de motor diesel produzidos na América Latina, evento realizado nas instalações da Sofunge – Sociedade Técnica de Fundições Gerais S/A. A cerimônia contou com a presença de Juscelino Kubitschek, presidente eleito, simbolizando o alinhamento entre a política de industrialização nacional e o avanço tecnológico da montadora. Pouco depois, em janeiro de 1956, teve início a usinagem desses blocos, um marco que contribuiria de maneira decisiva para a consolidação do motor diesel como padrão no mercado brasileiro  até então fortemente dominado pelo modelo norte-americano de motores movidos a gasolina. A fábrica de São Bernardo do Campo foi oficialmente inaugurada em 28 de setembro de 1956, sob direção técnica de Ludwig Winkler, que anteriormente comandara a linha de montagem da marca no Rio de Janeiro e, futuramente, estaria também ligado à produção de chassis da concorrente Magirus. A cerimônia  prestigiada pelo Presidente da República — refletia o clima de confiança e entusiasmo que caracterizava o Brasil dos anos 1950. Em discurso célebre, Juscelino Kubitschek proclamou: “O Brasil acordou!”, frase que sintetizava seu projeto desenvolvimentista e a crença no potencial industrial do país. Durante o evento, Kubitschek percorreu as instalações a bordo do Mercedes-Benz L-312, o primeiro caminhão diesel de médio porte fabricado no Brasil. O modelo, com capacidade de 6 toneladas de carga útil, era equipado com o motor nacional Mercedes-Benz de seis cilindros, 4.580 cm³, 110 cv, transmissão de cinco marchas e freios hidráulicos com assistência pneumática. Conhecido popularmente como “Torpedo”, o L-312 possuía cabine metálica recuada, permanecendo, até os dias atuais, como o único veículo desse tipo produzido pela marca no país. Esse novo modelo de porte médio rapidamente conquistou apreciável aceitação no mercado europeu, consolidando ainda mais a reputação internacional da Daimler-Benz AG no segmento de caminhões. Sua robustez, confiabilidade e baixo custo operacional tornaram a marca sinônimo de excelência e resistência mecânica.

No Brasil, a consolidação dessa reputação ganhou novo impulso em meados de 1964, quando foi iniciada a produção do Mercedes-Benz L-1111. Repetindo o êxito obtido em seu país de origem, o modelo alcançou vendas superiores a 39 mil unidades em apenas seis anos de produção, resultado extraordinário para a realidade do mercado nacional da época. Esse desempenho expressivo contribuiu para afirmar, de maneira definitiva, a liderança da Mercedes-Benz no setor de veículos comerciais no país. O novo Mercedes Benz L-1111 ou “Onze Onze” como era popularmente chamado, seria no Brasil o grande precursor do modelo na configuração de cabine semiavançada. Sendo que futuramente seria representada na  “ MB - AGL”, que anos mais tarde faria muito sucesso no mercado brasileiro com a linha L-1113 “Onze Treze”.  Em suma, tratava-se do modelo antigo com teto baixo, que evoluiria entre os anos de 1970 e 1971, para a versão de teto alto, passando a equipar também as versões posteriores como os modelos Mercedes Benz MB L-1313, MB L-1513, MB 2013 (6X2), MB 2213 (6X4) e outros modelos específicos produzidos até o final da década de 1980.  Os dois modelos iniciais desta linha se tornariam os veículos mais representativos na trajetória da montadora alemã no Brasil, introduzindo entre outras inovações, o sistema de suspensão por feixe semielíptico transversal secundado por amortecedores telescópicos. Já em termos do trem de força, o Mercedes Benz MB L-1111, vinha equipado com o novo motor Mercedes-Benz OM-321 de seis cilindros com 110 cv de potência, o mesmo que equipara anteriormente os caminhões "Cara-Chata" MB LP-321, bem como, os ônibus de motor dianteiro do modelo MB LPO-321, e os modelos monoblocos MB O-321 H e MB HL. Esse novo motor a diesel, trabalhava ainda com o sistema de injeção  do tipo indireta produzida nacionalmente pela Bosch Roberts do Brasil S/A, com aspiração natural, sendo conhecido o popularmente como “maçarico”, dispondo de seis cilindros em linha esse propulsor Mercedes-Benz gerava seus 110 cv de potência (DIN). No início o Mercedes-Benz MB L-1111 seria oferecido no mercado nacional nas versões MB L, MB LK e MB LS, sendo que a versão MB L era a única disponibilizada em três opções de distância entre eixos (3.600 mm / 4.200 mm / 4.823 mm).  Seria ainda disponibilizada no mercado brasileiro neste mesmo período, a  versão Mercedes-Benz MB L-1111 Modelo 48, que representava aos operadores de transporte rodoviário, o modelo ideal para a implementação do terceiro eixo. Este sistema opcional se encontrava disponível para a venda nas concessionárias, e podia ser instalado em um grande gama de oficinas credenciadas pela montadora. Com a exceção dos modelos Mercedes-Benz MB L-1111/48 e MB LS-1111/36 com semirreboque e MB CMT, que apresentavam um preso bruto total (PBT) de 18.300 kg, algumas outras versões do MB L-1111 garantiam um PBT de 10.500 kg. Um ano mais tarde, no final do ano de 1965, a Mercedes Benz do Brasil S/A lançaria no mercado nacional sua nova versão com tração total do Mercedes-Benz MB L-1111, passando a ser denominada comercialmente como modelo MB LA-1111(4X4). 
Este novo caminhão seria o sucessor da versão "Cara-Chata" e passaria a fazer uso do sistema de tração total Mercedes-Benz, recebendo a designação comercial de MB LAP-321(4X4), e seria oferecido nas concessionárias nas versões LA, LAK e LAS.  Já a versão MB LA-1111 era a única que apresentava ao mercado duas opções de distância entre eixos, constituída pelos modelos  MB LA-1111/42 (4X4) com 4200 mm de distância entre eixos e a MB LA-1111/48 (4X4) com distância entre eixos de 4830 mm.   Todos os modelos MB L-1111 com tração integral nas quatro rodas, vinham equipados com o motor Mercedes Benz OM-321 com 110 cv de potência, caixa de mudanças tipo DB modelo G-32 de cinco velocidades à frente e um à ré; embreagem do tipo monodisco a seco; eixo dianteiro e traseiro tipo DB – 322 com engrenagens hipóides; e como item opcional de fábrica a direção do tipo hidráulica.  No interior da cabine esta família de caminhões contava com banco do motorista com acabamento em tecido ou corvin, ajustável em três posições diferentes; banco para dois ou mais acompanhantes; para-brisa de uma só peça; amplas janelas laterais e visores traseiros que proporcionavam excelente visibilidade. Um eficiente sistema de isolamento, estava instalado entre o habitáculo e o compartimento do motor, fazendo uso de revestimentos à prova de calor e som. Exteriormente dois grandes espelhos retrovisores externos asseguravam manobras fáceis e seguras e amplos estribos laterais permitiam entradas e saídas rápidas.  No ano de 1970 a montadora lançaria no mercado brasileiro, uma nova versão, o Mercedes Benz MB L-1113, que vinha equipado com o novo motor diesel MB OM-352LA com injeção direta de 5,6 litros de cubagem, 6 cilindros em linha com potência de 130 cv.  Seu motor apresentava um novo sistema no qual o combustível era injetado diretamente na câmara de combustível, proporcionando um consumo bastante moderado, que neste momento em função da crise do petróleo, resultaria em um grande diferencial competitivo no mercado comercial.  Além de apresentar uma excelente relação de custo-benefício operacional, o novo caminhão apresentava mais vantagens perante os concorrentes, como boa acessibilidade aos componentes mecânicos sob o capo, facilitando os processos de manutenção corretiva e preventiva. Além disso seu peso máximo de transporte bruto (PBT) de onze toneladas, apresentando em um caminhão de porte médios, representava ao mercado uma adequada resposta as necessidades de transporte em curtas distancias e usos leves. Neste contexto a versão MB L-1113/48, resultante da instalação do terceiro eixo, garantiria ao veículo o peso bruto total (PBT) de 18,5 toneladas, proporcionando disputar com facilidade um novo nicho de mercado, garantindo a Mercedes-Benz S/A no Brasil mais conquistas em termos de participação no mercado nacional. Neste momento a subsidiária brasileira começaria a aumentar seu volume de exportações para mercados emergentes. Nos anos seguintes o lançamento de novos modelos básico ou com tração integral (4X4 ou 6X6) ampliariam o leque de versões a serem disponibilizadas no mercado, levando a montadora a conquistar a liderança absoluta no Brasil no mercado de caminhões.   Apesar de grande sucesso dos novos modelos nos anos seguintes, cabe ao emblemático Mercedes-Benz MB L-1113 o título de caminhão mais vendido no Brasil, com este patamar se mantendo até os dias atuais. Entre seus anos de produção, seriam comercializados e emplacados mais de duzentos mil caminhões desta família. 

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro vivenciou um expressivo salto em sua capacidade de mobilização, resultado direto do recebimento de caminhões militares fornecidos pelos Estados Unidos por meio da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend-Lease Act). Essa cooperação internacional permitiu às Forças Armadas Brasileiras reorganizar seus meios logísticos e alinhar-se ao padrão operacional das potências aliadas. Contudo, ao longo da década de 1950, a frota remanescente daquele esforço de guerra passou a enfrentar sérios entraves operacionais, motivando a condução de estudos internos sobre alternativas de modernização, substituição ou complementaridade de meios. Com a entrada oficial do Brasil no conflito em 1942, o país recebeu, até o final de 1945, mais de 5.000 caminhões militares — incluindo modelos das séries GMC CCKW, Corbitt, Diamond e Studebaker US6G. Esses veículos desempenharam papel crucial na mobilização de tropas, transporte de suprimentos e apoio às operações militares durante e após a guerra. Entretanto, ao final dos anos 1950, a operacionalidade desse acervo estava profundamente comprometida por dois elementos centrais: Desgaste Natural da Frota, o  uso contínuo desde o período bélico, seguido por mais de uma década de emprego intenso em missões cotidianas, acelerou o desgaste estrutural e mecânico dos veículos. Dificuldades na Obtenção de Peças de Reposição,  a produção desses caminhões havia sido descontinuada nos Estados Unidos desde o final da década de 1940, dificultando progressivamente o fornecimento de componentes essenciais para manutenção. Esse quadro despertou séria preocupação no comando do Exército Brasileiro, pois ameaçava a capacidade de mobilização e comprometia a prontidão logística de toda a Força Terrestre. Era necessário identificar soluções que fossem não apenas tecnicamente adequadas, mas também compatíveis com as limitações orçamentárias do Estado brasileiro naquele período. A alternativa considerada ideal consistia na substituição integral da frota por caminhões modernos com tração 4×4 e 6×6, sendo os modelos REO M-34 e M-35 avaliados como os mais apropriados, devido à sua robustez, versatilidade e tecnologia superior. Entretanto, o custo total da renovação inviabilizou a adoção dessa solução em larga escala. Diante desse cenário, o Exército Brasileiro delineou uma estratégia baseada em três medidas complementares: Aquisição Limitada de Veículos Modernos,  a compra de um número reduzido de caminhões REO M-34 e M-35, destinados prioritariamente a missões estratégicas e unidades de maior exigência operacional. Repotencialização da Frota Existente, estudos foram conduzidos visando a modernização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G, a fim de prolongar sua vida útil por meio da atualização de sistemas mecânicos e estruturais. Adoção de Caminhões Comerciais Militarizados, considerando o avanço da indústria automobilística nacional, passou-se a avaliar a incorporação de caminhões brasileiros adaptados para funções secundárias, como transporte de cargas leves, apoio a pelotões administrativos e serviços gerais. A combinação dessas medidas permitiria restabelecer, de maneira gradual e financeiramente realista, a capacidade logística da Força Terrestre.

No entanto, os estudos referentes à repotencialização dos GMC CCKW e Studebaker US6G, embora detalhados e tecnicamente abrangentes, não receberam recomendação para execução. As conclusões indicaram que o custo por veículo seria desproporcionalmente elevado, especialmente diante da necessidade de importar componentes fora de linha ou desenvolver substitutos no mercado nacional.  Faltava ao país expertise industrial e corpo técnico especializado para conduzir um programa dessa natureza em escala, envolvendo processos complexos de reengenharia e adaptação mecânica. Essas limitações tornaram o projeto economicamente e tecnicamente inviável, direcionando o foco do Exército para a aquisição seletiva de novos modelos militares e para a incorporação crescente de caminhões comerciais nacionalmente produzidos medida que, nos anos seguintes, transformaria profundamente a logística terrestre brasileira. O cancelamento definitivo do programa de repotencialização dos caminhões GMC CCKW e Studebaker US6G evidenciou de maneira incontornável a urgência de medidas alternativas para restaurar a operacionalidade da frota automotiva do Exército Brasileiro. Diante da impossibilidade técnica e financeira de modernizar os veículos remanescentes do período da Segunda Guerra Mundial, ganhou força a adoção de caminhões comerciais nacionalmente produzidos e posteriormente militarizados — uma solução pragmática, economicamente viável e coerente com as condições industriais do Brasil no final da década de 1950. A incorporação de caminhões comerciais permitia que eles fossem empregados nas tarefas de transporte administrativo e logístico rotineiro, liberando os veículos militares 6×6 mais robustos e apropriados para operações fora de estrada para missões táticas e estratégicas. Concentrava-se o uso dos caminhões militares ainda em condições satisfatórias nas atividades mais exigentes, prolongando sua vida útil e racionalizando recursos. Importa salientar que essa estratégia não era inédita no contexto brasileiro. Desde a década de 1930, o Exército já utilizava caminhões comerciais de pequeno porte adaptados para fins militares, justamente em razão de seu baixo custo de aquisição, manutenção mais simples e ampla disponibilidade de peças no mercado nacional. Naquele momento, porém, a necessidade se mostrava mais ampla, envolvendo sobretudo a categoria dos caminhões médios. Para suprir essa demanda, o Ministério do Exército voltou-se para a Fábrica Nacional de Motores (FNM) uma das empresas mais emblemáticas do esforço brasileiro de industrialização.  Embora a substituição dos caminhões médios avançasse de maneira satisfatória, a situação da frota leve permanecia crítica. Grande parte desses veículos, muitos deles oriundos do período pré-guerra e da própria Segunda Guerra Mundial, constituía o núcleo do transporte cotidiano da Força Terrestre. Seu desgaste acumulado, associado à crescente escassez de peças, indicava a necessidade de um programa imediato de renovação. Esse cenário coincidiu com um momento crucial da indústria automobilística brasileira: a criação, em 1956, do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) Foi nesse ambiente que a Mercedes-Benz do Brasil S.A. reconheceu uma oportunidade singular. Observando a iminente demanda militar por caminhões leves e médios, a empresa intensificou suas negociações com o Exército. O principal diferencial apresentado pela montadora — e decisivo para sua competitividade — era a qualidade de seus motores diesel, reconhecidamente mais econômicos, duráveis e de manutenção mais simples em comparação aos motores a gasolina dos concorrentes diretos, como o Ford F-600 e o Chevrolet C-60.
Os esforços de negociação, fundamentados nas qualidades técnicas dos produtos, culminaram em êxito com a assinatura, em maio de 1959, do primeiro contrato de aquisição com o Ministério do Exército. Esse acordo consagrou a Mercedes-Benz do Brasil S.A. como fornecedora oficial de caminhões para a Força Terrestre. O contrato inicial estipulava a aquisição de centenas de viaturas dos modelos MB LP-321 e MB LP-331, ambos com tração 4x2. Logo seria incorporado também o LAPK-321, a primeira viatura de grande porte no Exército Brasileiro a possuir tração 4X4. O objetivo era otimizar a logística militar, reduzindo a dependência de caminhões puramente militares com tração 6x6, como os REO M-34 recebidos em 1958, liberando estes para se focarem no transporte fora de estrada. Por se tratar de caminhões comerciais adaptados, o cronograma de entrega foi extremamente célere, com as primeiras unidades sendo entregues às unidades operativas a partir de maio de 1960.  Contudo, sua concepção, baseada em projetos da década de 1950, apresentava limitações operacionais para o uso militar, incluindo restrições de robustez e desempenho em terrenos adversos. Essas deficiências, inerentes a um projeto já considerado obsoleto, motivaram o comando do Exército Brasileiro a buscar alternativas mais modernas e adequadas às exigências do ambiente militar. Em 1964, a Mercedes-Benz do Brasil lançou no mercado nacional a linha de caminhões MB L-1111 e L-1112, que rapidamente conquistou reconhecimento por sua robustez, confiabilidade e facilidade de manutenção. Esses atributos atraíram a atenção do comando do Exército Brasileiro, que identificou nesses modelos o potencial para atender às demandas de transporte militar. O interesse do Exército intensificou-se, com o lançamento da versão com tração integral, o MB LA-1111 (4x4), concebido para enfrentar terrenos irregulares e operações de longa duração, características essenciais para o emprego militar. Ainda neste ano, o Ministério do Exército encomendou oficialmente o desenvolvimento de um protótipo militar baseado no MB LA-1111. O projeto avançou com notável rapidez, e, antes mesmo do encerramento daquele ano, o protótipo foi apresentado. O modelo incorporava uma série de melhorias destinadas a elevar sua aptidão militar, entre as quais se destacavam, a adoção do motor Mercedes-Benz OM-352, um diesel de 6 cilindros, capaz de gerar 147 cavalos de potência. Transmissão Reprojetada a caixa de transmissão MG-G-3-36 foi otimizada para operações em condições adversas. Por fim incluiu-se reforços estruturais no chassi e na cabine, carroceria militar, para-choques reforçados, faróis especiais protegidos por grades, faróis de comboio e um gancho hidráulico traseiro para reboque, com capacidade de carga de até 21.650 kg na carroceria. O  modelo foi submetido a um rigoroso e abrangente programa de testes de campo, conduzido em estreita colaboração entre militares e a equipe técnica da montadora. As avaliações ocorreram em múltiplos cenários operacionais, contemplando desde vias pavimentadas até terrenos acidentados, com o objetivo de verificar a resistência estrutural, a mobilidade e a confiabilidade do veículo diante das exigências do emprego militar.  O novo caminhão não apenas atendia plenamente aos requisitos estabelecidos pela Força Terrestre, como também superava de forma consistente as limitações observadas nos modelos LAPK-321 e LP-331, que já demonstravam sinais de obsolescência no início da década de 1960.

Esse desempenho exemplar abriu caminho para a formalização de contratos de fornecimento em larga escala, consolidando o MB LA-1111 como a solução mais adequada ao processo de modernização logística empreendido pelo Exército Brasileiro ao longo da década de 1960. Em fevereiro de 1966, as primeiras unidades foram oficialmente incorporadas às organizações militares de emprego, marcando um ponto de inflexão na renovação da frota de transporte da Força Terrestre. A aceitação do veículo foi imediata e amplamente positiva. Sua robustez mecânica, aliada à simplicidade de manutenção e à comprovada capacidade de operar em uma grande variedade de terrenos, demonstrou que o projeto estava plenamente alinhado tanto às peculiaridades geográficas do Brasil quanto às demandas operacionais impostas pelas atividades militares, que frequentemente exigiam elevada mobilidade e confiabilidade. A confiança depositada no MB LA-1111 reforçou, de maneira decisiva, a relação entre o Exército Brasileiro e a Mercedes-Benz do Brasil. Para além de um simples fornecedor, a empresa consolidou-se como parceira estratégica no processo de fortalecimento da base industrial de defesa nacional, contribuindo para o amadurecimento da indústria automotiva brasileira e ampliando sua capacidade tecnológica. O êxito do modelo, entretanto, extrapolou as fronteiras do Brasil. A qualidade de sua construção e sua comprovada adaptação ao emprego militar repercutiram internacionalmente, resultando no primeiro contrato de exportação de um veículo militar produzido pela Mercedes-Benz do Brasil. Mais de uma centena de caminhões dos modelos MB-1112 e MB-1114, variantes próximas às utilizadas pelo Exército Brasileiro foram adquiridos pelo Exército Argentino, consolidando o prestígio da indústria automotiva nacional e demonstrando sua crescente competitividade no cenário internacional de defesa. Além do modelo MB LA-1111, o Ministério do Exército viria a adquirir a partir 1967 uma grande variedade de versões como: VTE Cisterna Combustível 7000 L 4x2, VTE Cisterna de Agua, VTNE Carga Emprego Geral 7 Ton 4x2, VTNE Carga Emprego Geral c/ Munck 2 ½ Ton, VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ Ton 4x4, VTNE Carga Emprego Geral 7 Ton 4x2, VTP Choque 39 Psg 4x2, VE Oficina de Reparos Gerais Shelter Matra, VTNE Carga Emprego Geral 2 ½ Ton 4x4, VTE Basculante 3.5 m³ 4x2, VE Lubrificação de Comboio, VTNE Carga Emprego Geral 19 ton 6X2, , VTE Frigorífico 13 Ton, VTE Furgão Transporte de Animais 7 ton 4X2, VTE Carga Emprego Geral Braço Mecânico 2½ ton 4X4 1973 CC Bat. de Eng. e Construção, VTE Engenharia Cavalete 2 ½ Ton 4x4, VTE Engenharia Corpo Pontão 2 ½ Ton 4x4, VTE Engenharia Embarcação Manobra Ponte M4T6 2 ½ Ton 4x4, VTE Distribuidor de Asfalto Pneumático HE-C cap 5.000 L , VTNE Carga Emprego Geral Comercial 13-ton 6x2, VTNE Carga Emprego Geral Carroceria 8 ton 4x2 CC Bat. de Eng. e Construção e VTTNE Trator s/ rodas Cavalo Mecânico Emprego Geral 40 Ton 4x2 . Em poucos anos, a Série L de caminhões produzida pela Mercedes-Benz consolidou-se como o principal alicerce da frota de veículos médios e pesados do Exército Brasileiro. Sua combinação de robustez estrutural, confiabilidade mecânica e facilidade de manutenção fez com que esses caminhões se tornassem elementos centrais na modernização logística da Força Terrestre ao longo das décadas seguintes.
A evolução da linha de caminhões civis da Mercedes-Benz do Brasil desenvolveu-se em estreita parceria com as Forças Armadas Brasileiras, consolidando a fabricante como um dos pilares da logística militar nacional ao longo da segunda metade do século XX. À medida que os veículos produzidos localmente incorporavam novos avanços tecnológicos, ampliavam também sua participação no esforço de modernização das frotas do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira (FAB) e do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Com o amadurecimento industrial da Mercedes-Benz do Brasil, sucessivos contratos foram firmados para atender às demandas logísticas crescentes das Forças Armadas. O Exército Brasileiro, em particular, adquiriu em larga escala os modelos MB L-1514, L-1614 e L-1620, configurados para múltiplas funções operacionais, entre as quais: Transporte de tropas; Transporte de cargas; Veículo de socorro e guincho; Transporte de tropa de choque; Cisterna de água, Veículo oficina, Engenharia Corpo Pontão, Trator s/ rodas Cavalo Mecânico, Lubrificação de Comboio entre outros.  Paralelamente, a Força Aérea Brasileira (FAB) e o Corpo de Fuzileiros Navais incorporaram novos lotes dos modelos MB L-1111, L-1113 e L-1114. Esses veículos, adaptados para missões específicas – transporte de cargas, frigoríficos, viaturas-oficina, cisternas de água e transporte de tropas de choque com carroceria tipo “espinha de peixe” destacaram-se pela resistência, versatilidade e confiabilidade, consolidando a presença da marca no ambiente militar brasileiro. Em 1971, atendendo a uma demanda do Exército Brasileiro, a Mercedes-Benz do Brasil desenvolveu o MB LG-1213, um caminhão militar 6x6 concebido para combinar elevada mobilidade com grande capacidade de carga. O projeto utilizava como base as versões 4x4 já consolidadas, integrando o trem dianteiro motriz do LA-1113 ao conjunto de bogies traseiros do L-2213. Entre suas principais características técnicas destacavam-se: motor diesel Mercedes-Benz OM-352 aspirado, de 130 cv, reconhecido por sua confiabilidade; caixa de transmissão MB G-32 (posteriormente G-36), com cinco marchas sincronizadas; sistema de transferência com saídas para três cardans, resultado da integração dos sistemas dos modelos “doadores”. Versátil, o LG-1213 foi empregado em diversas configurações — transporte geral, carrocerias-oficina, cisternas e viaturas de abastecimento de combustível  o que justificou volumosas encomendas. Sua durabilidade também se tornaria emblemática: em 1988, 80 unidades passaram por recondicionamento e permaneceram em uso, evidenciando a longevidade do projeto. A partir da década de 1990, os caminhões produzidos entre as décadas de 1970 e 1980 começaram a ser gradualmente complementados  e depois substituídos por modelos mais modernos das linhas MB L-1418 e L-1618. Esses veículos incorporavam melhorias de eficiência energética, capacidade de carga e desempenho, preservando a tradicional robustez associada à marca. Ainda assim, centenas de unidades das gerações anteriores, como o próprio LG-1213, permanecem em operação, testemunhando a qualidade de construção dos veículos e o elevado nível técnico das equipes de manutenção das Forças Armadas Brasileiras.

Em Escala.
Para dar vida à réplica do MB LA/LAK 1111 VTNE Carga Emprego Geral 7 Ton 4x2, foi selecionado um modelo em die-cast na escala 1/43, produzido pela Axio para a coleção “Caminhões de Outros Tempos” da Editora Altaya. Originalmente, o modelo representava o MB L-1213 em sua configuração civil, o que demandou uma série de modificações para refletir as características específicas da versão militar utilizada pelo Exército Brasileiro. A transformação do modelo civil em uma réplica militar envolveu um trabalho artesanal detalhado, utilizando técnicas de scratch-building e materiais especializados. Foram adicionados para-choques reforçados, característicos da versão militar, projetados para suportar as condições exigentes do uso em operações militares. O estepe foi realocado para a posição correta, conforme o padrão do veículo militar, garantindo fidelidade aos detalhes. Grades de proteção para os faróis foram incorporadas, Inclusão do Gancho de Reboque e por fim a composição da carga, onde foram usados itens em resina. A etapa final envolveu a aplicação de decalques personalizados, produzidos pela Decais Eletric Products, pertencentes ao conjunto “Exército Brasileiro 1942/1982”.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial, até o final do ano de 1982. Ao longo dos anos, seriam aplicadas pequenas alterações, sempre relacionadas apenas as marcações de identificação e números de frota. Após o ano de 1983, estes caminhões  adotariam o esquema de camuflagem tático de dois tons, mantendo este padrão até a desativação no ano de 2004.  Empregamos tintas e vernizes produzidos pela Tom Colors.

Bibliografia : 
- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos  – MB LP-321/331 , editora Altaya
- Veículos Militares Brasileiros – Roberto Pereira de Andrade e José S Fernandes
- Mercedes Benz L-1111 http://merce-denco.blogspot.com.br
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1976