Jeep Ford G.P.W 1941 (VTrOp)

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas. As iniciativas para conceber esse novo utilitário envolveram colaboração estreita entre militares e a indústria automotiva, mas enfrentaram desafios técnicos e orçamentários. O conceito definitivo começou a tomar forma no início de 1932, sob a liderança do Coronel Robert G. Howie, comandante da 7ª Companhia de Tanques, sediada em Fort Snelling, Minnesota. Como defensor fervoroso da motomecanização total da Força Terrestre, Howie possuía uma visão clara das necessidades operacionais em um novo espectro de combate. Sua experiência prática e compreensão estratégica foram fundamentais para o avanço do projeto. Sob sua supervisão, o primeiro protótipo funcional foi construído nas oficinas do Fort Sam Houston, no Texas. Submetido a rigorosos testes de campo, o veículo demonstrou resultados promissores, comprovando sua capacidade de operar em terrenos difíceis e atender às exigências táticas. Esses testes reforçaram a confiança do comando do Exército na viabilidade do conceito, levando à decisão de alocar recursos para a produção de um lote pré-série de setenta veículos. Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. Conhecida por sua agilidade na fabricação de veículos leves, a Bantam entregou os primeiros utilitários a partir de meados de 1938, destinando-os ao Quartel-General do Departamento do Exército, localizado no Fort Holabird, em Baltimore, Maryland. Com uma frota inicial à disposição, o Exército ampliou a abrangência de seu programa de testes, avaliando o desempenho dos veículos em diversos terrenos e condições operacionais. Esse processo foi crucial não apenas para validar o projeto, mas também para iniciar a formatação de uma doutrina de emprego operacional para utilitários leves 4x4. Esses testes estabeleceram as bases para o desenvolvimento do que viria a ser o Jeep, um ícone militar que revolucionaria a mobilidade tática na Segunda Guerra Mundial.

No âmbito de um abrangente programa de testes de campo conduzido no final da década de 1930, o Exército dos Estados Unidos (US Army) verificou que o novo veículo utilitário leve com tração integral 4x4 apresentava um potencial excepcional para ampliar a mobilidade da Força Terrestre. Capaz de operar com eficácia em uma ampla gama de ambientes fora de estrada (off-road), o veículo demonstrou versatilidade em diversas tarefas, superando obstáculos naturais e garantindo o transporte eficiente de até quatro soldados totalmente equipados. Esses resultados consolidaram a convicção do comando do Exército de que o utilitário representava um avanço estratégico crucial para a mecanização das forças armadas, levando à decisão de adotá-lo em larga escala. Com base nos testes bem-sucedidos,  lançou-se, em 1940, uma concorrência formal para a produção em série do veículo utilitário leve 4x4. O processo foi estruturado com rigor, envolvendo a emissão de convites a mais de cem empresas da indústria automotiva norte-americana. As participantes deveriam apresentar propostas técnicas e comerciais detalhadas, acompanhadas de protótipos funcionais que atendessem às especificações. A concorrência visava assegurar que o veículo final combinasse robustez, confiabilidade e capacidade de manufatura em larga escala, alinhando-se às necessidades operacionais . O aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul, impulsionado pela ascensão da Alemanha Nazista e do Império do Japão, alterou drasticamente o contexto da concorrência. A iminência de um conflito global tornou evidente a necessidade urgente de reequipar as forças armadas norte-americanas para enfrentar potenciais ameaças. Em resposta o comando do Exército revisou o cronograma original, estabelecendo um prazo excepcionalmente curto de 49 dias para a apresentação de protótipos funcionais. Essa exigência refletia a pressão para acelerar o processo, mas também impôs desafios significativos às empresas concorrentes. Das mais de cem empresas convidadas, apenas três aceitaram o desafio de desenvolver um protótipo dentro do prazo estipulado: a Ford Motor Company, a American Bantam Car Company e a Willys-Overland Company. A American Bantam, uma pequena montadora da Pensilvânia com experiência em veículos leves, foi a única a cumprir o prazo, entregando um protótipo funcional em setembro de 1940. Denominado Bantam Reconnaissance Car (BRC), o veículo foi submetido a testes comparativos rigorosos, demonstrando desempenho excepcional em mobilidade, resistência e adequação às especificações militares. Embora o protótipo da Bantam tivesse obtido êxito nos testes, o comando do Exército, ciente da necessidade emergencial de produção em grande escala, optou por aprovar também as propostas da Ford e da Willys-Overland. Essa decisão foi motivada pela capacidade industrial limitada da Bantam, que não poderia atender sozinha à demanda militar em tempo hábil. Os testes comparativos entre os protótipos resultaram em melhorias significativas no projeto original, incorporando sugestões das três montadoras. 
O modelo pré-série Bantam BRC, desenvolvido pela American Bantam Car Company, apresentava um design traseiro que evocava os padrões estilísticos dos automóveis da década de 1930, aliado a características técnicas cuidadosamente projetadas para atender às exigências militares. Com tração 4x4, suspensão reforçada e capacidade de carga de ¼ de tonelada, o BRC foi concebido para oferecer robustez e versatilidade em operações de campo. Embora os protótipos apresentados pela Bantam, Ford Motor Company e Willys-Overland Company tenham sido inicialmente aprovados, pairavam dúvidas sobre a viabilidade dos projetos concorrentes das duas últimas empresas. Para dirimir essas incertezas, o Exército dos Estados Unidos (US Army) promoveu uma nova rodada de testes de campo, conduzida entre 27 de setembro e 16 de outubro de 1940, nos campos de prova do Quartel-General do Departamento do Exército. Durante esses ensaios, o Bantam BRC destacou-se novamente, impressionando engenheiros e militares por seu desempenho excepcional. Esse resultado levou o Exército a reconsiderar a ideia inicial de produzir três modelos distintos, inclinando-se, em um primeiro momento, a favor do projeto da Bantam. Em 31 de março de 1941, foi firmado um contrato com a American Bantam Car Company para a fabricação de 1.500 unidades do modelo BRC 40. No entanto, ficou evidente que a Bantam não dispunha da capacidade industrial nem da solidez financeira necessárias para atender à demanda de produção em larga escala exigida pelo cronograma militar. Diante dessa limitação, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos tomou uma decisão polêmica: transferir o projeto e as plantas originais do BRC 40 para a Ford Motor Company e a Willys-Overland Company. Essa medida permitiu que ambas as empresas desenvolvessem suas próprias versões do veículo utilitário, incorporando melhorias com base no protótipo da Bantam. Surpreendentemente, essa decisão, considerada arbitrária, não foi contestada pela diretoria da Bantam, possivelmente devido à frágil situação financeira da empresa à época. Como uma possível compensação, a American Bantam Car Company foi contemplada com contratos para a produção de componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (totalizando mais de 70 mil unidades) e também torpedos para a Marinha Real Britânica (Royal Navy). Essa estratégia assegurou a sobrevivência da empresa, ainda que sua contribuição central para o desenvolvimento do Jeep tenha sido ofuscada pelo sucesso posterior dos modelos produzidos pela Ford e Willys. Em agosto de 1941, o Exército dos Estados Unidos (US Army) assinou um novo contrato com a Willys-Overland Company para a produção de mais 16.000 veículos, designados pela montadora como MA Quad (posteriormente evoluindo para o modelo MB). 

A Willys-Overland foi selecionada para a produção em larga escala do Jeep devido à sua capacidade industrial e às melhorias incorporadas ao projeto, destacando-se o motor Willys Go-Devil, reconhecido por sua maior potência e confiabilidade. Nos meses subsequentes, novos contratos foram celebrados, mas a Ford Motor Company emergiu como a principal fornecedora, recebendo, até o final de 1945, as maiores encomendas para a fabricação do veículo. O modelo produzido pela Ford foi oficialmente designado como Ford G.P.W (General Purpose Willys, ou veículo de uso geral), compartilhando componentes e design com o Willys MB, mas fabricado em escala massiva nas instalações industriais da Ford. No Exército dos Estados Unidos (US Army), os condutores começaram a chamar o veículo pelo acrônimo “GP”, derivado de General Purpose (propósito geral), que, na pronúncia em inglês, soava como “Jeep”. Esse termo rapidamente ganhou popularidade entre os soldados, que viam no veículo um símbolo de agilidade e versatilidade. Curiosamente, a palavra “Jeep” também evocava Eugene the Jeep, um carismático personagem das tiras de quadrinhos do marinheiro Popeye, criado na década de 1930. Eugene, o animal de estimação de Olivia Palito, era conhecido por suas habilidades extraordinárias, como caminhar por paredes e tetos, o que ressoava com a robustez e a capacidade do veículo em superar desafios. Inspirados pela popularidade do desenho animado, os soldados passaram a chamar seus veículos de “Jeep”, associando-os à força e à versatilidade do personagem. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!) tornou-se comum para elogiar pessoas com habilidades físicas excepcionais, consolidando o termo como um ícone cultural. Assim, nasceu um dos nomes mais emblemáticos da história automotiva mundial. À medida que as montadoras intensificavam a produção, o Jeep foi incorporado em número crescente às frotas das unidades militares norte-americanas. O batismo de fogo do Ford G.P.W ocorreu em 1942, com sua introdução em operações nos teatros do Pacífico Sul e do Norte da África. No Pacífico, o Ford G.P.W foi empregado em campanhas contra as forças do Exército do Império do Japão, desempenhando papéis vitais em missões de reconhecimento, transporte de tropas e suprimentos, e até como base improvisada para armamentos leves. Um dos primeiros registros de seu uso em combate foi durante as operações nas ilhas do Pacífico, onde sua capacidade de navegar por terrenos acidentados e lamacentos provou ser indispensável. No Norte da África, durante a Operação Torch (invasão aliada em novembro de 1942), o Ford G.P.W foi amplamente utilizado pelas forças norte-americanas e britânicas, enfrentando as duras condições do deserto e contribuindo para a mobilidade das tropas em cenários desafiadores. Embora modelos anteriores, como o Bantam BRC 40 e o Willys MA, tenham sido testados em combate em 1941, foi o modelo da Ford que consolidou a reputação do Jeep como um símbolo de mobilidade e resistência. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a produção da família de utilitários leves Jeep alcançou a impressionante marca de mais de meio milhão de unidades, consolidando sua relevância histórica. Desse total, aproximadamente 363.000 veículos, dos modelos Willys MA Quad e MB Quad, foram fabricados pela Willys-Overland Company, enquanto cerca de 280.000 unidades do modelo Ford G.P.W saíram das linhas de produção da Ford Motor Company. Esses veículos tornaram-se um dos pilares do programa de ajuda militar Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), por meio do qual os Estados Unidos forneceram apoio militar aos aliados. Notavelmente, mais de 51.000 Jeeps foram enviados à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para uso pelo Exército Vermelho de Trabalhadores e Camponeses, além de milhares de unidades cedidas a outras nações aliadas sob os mesmos termos, incluindo o Brasil. Com o fim do conflito, em maio de 1945, a produção em larga escala do Jeep (de todas as montadoras) foi interrompida devido ao cancelamentos dos contratos governamentais.  Nesse mesmo período, a Willys-Overland Company iniciou uma disputa legal contra a Ford Motor Company, reivindicando a exclusividade internacional da marca “Jeep”. A ação judicial baseava-se na aquisição prévia do projeto original pela Willys junto à American Bantam Car Company. Após uma prolongada batalha nos tribunais, em janeiro de 1946, a Ford Motors  foi legalmente proibida de utilizar a marca “Jeep”, consolidando a exclusividade da Willys sobre o nome e a logomarca. Diferentemente de outros veículos militares cuja produção foi descontinuada após a guerra, a família Jeep continuou a ser fabricada exclusivamente pela Willys-Overland. A partir do início da década de 1950, o modelo foi redesignado como M-38 (MC), substituindo gradualmente muitos dos Ford G.P.W ainda em serviço nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Grande parte desses veículos foi transferida a nações aliadas por meio de programas de assistência e cooperação militar, reforçando a presença global do Jeep. A mecânica simples e robusta do Ford G.P.W garantiu sua longevidade, com muitos exemplares permanecendo em operação em diversas forças armadas ao redor do mundo até, pelo menos, o final da década de 1990. A durabilidade e a versatilidade desses veículos não apenas marcaram sua importância durante a Segunda Guerra Mundial, mas também asseguraram seu legado como um ícone da engenharia militar, admirado por gerações de soldados e civis.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Os contratos inicialmente firmados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army), existindo relatos de alguns modelos raríssimos como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizaria-se assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando seus veículos usados para exportação. O advento do recebimento destes carros e sua operação no Brasil, em muito contribuiria no processo de implantação do programa de motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos utilitários leves com tração integral deste porte, se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. Uma pequena parcela destes novos utilitários norte-americanos seria ainda cedida a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil para o emprego em missões administrativas, transporte de pilotos ou de remoção médica.
Em 13 de agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma unidade composta por aproximadamente 25.000 militares, estruturada para operar em alinhamento com os padrões do Exército dos Estados Unidos, que priorizavam alta mobilidade. A FEB incluía quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para missões de ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, uma companhia de comunicações, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia militar e, simbolicamente, uma banda de música. Para atender às exigências de mobilidade, a FEB foi equipada com uma frota significativa de veículos, incluindo 660 utilitários leves com tração integral 4x4. Dentre esses, destacavam-se cinco Jeeps anfíbios Ford G.P.A., entregues nas instalações do 5º Exército dos Estados Unidos, em Tarquinia, na Itália. Muitos desses veículos, tanto leves quanto médios, já haviam sido intensamente utilizados em campanhas militares na Sicília e no Norte da África, sendo considerados “veteranos de guerra”. A cessão de veículos usados, frequentemente em precário estado de conservação, ao Brasil refletia a priorização de recursos pelos Estados Unidos, que destinavam equipamentos novos e de primeira linha para a invasão da França, durante a Operação Overlord, em junho de 1944, no conhecido “Dia D”. Nesse cenário, oficiais norte-americanos ministraram treinamentos especializados aos motoristas e mecânicos brasileiros. Alguns carros seriam fornecidos a Força Aérea Brasileira para emprego junto ao 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GpAvCa) e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), onde seriam empregados em tarefas administrativas. Os veículos incorporados ao Exército Brasileiro se apresentavam em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), pois pelo tamanho do contingente seria necessário se contar pelo menos com o dobro da frota. Desta maneira este carros passaram ser muito valorizados, e os soldados indicados como motoristas, passavam a adotar estes carros como verdadeiras “damas”, sendo submetidos primorosamente a processos de manutenção preventiva e corretiva. Exemplo disso é que grande parte da frota recebeu nomes de batismo, pintados em sua lataria, com alguns fazendo referência às “pessoas amadas” que ficaram no Brasil. Como referência citamos o Jeep FEB 330 que recebeu o nome “Delourdes”, o Jeep FEB 310 chamado de “Macaca”, e o veículo de uso pessoal do General de Divisão Joao Batista Mascarenhas de Morais, que recebeu o nome de “Liliana” em homenagem a sua filha.

Durante a Campanha da Itália, os veículos fornecidos à Força Expedicionária Brasileira (FEB), incluindo os Jeeps, apresentavam uma peculiaridade: as chaves de ignição eram soldadas aos painéis, um procedimento padrão do Exército dos Estados Unidos (US Army) para evitar sua perda em meio às operações de combate. Contudo, esses veículos, especialmente os Jeeps destinados à FEB, chegavam sem numeração serial padrão do Exército Brasileiro, e apenas algumas centenas exibiam marcações do US Army. Essa ausência de padronização gerou desafios significativos para o controle da frota pelas unidades brasileiras, resultando em extravios acidentais de viaturas em campo e, em alguns casos, em apropriações indevidas por outras forças aliadas. Curiosamente, essas perdas eram, por vezes, compensadas de maneira informal. Soldados brasileiros, conhecidos como pracinhas, frequentemente se apropriavam de Jeeps norte-americanos encontrados camuflados, abastecidos e prontos para uso. Aproveitando-se das chaves soldadas aos painéis, os brasileiros, em patrulhas, “tomavam emprestado” esses veículos de forma discreta, garantindo a continuidade de suas operações. Essa prática, embora não oficial, refletia a inventividade e a determinação dos pracinhas em manter a mobilidade em um cenário de guerra exigente. Dos Jeeps recebidos no teatro italiano, nove unidades foram configuradas como ambulâncias, desempenhando um papel vital no transporte de feridos até os hospitais de campanha. Alocadas ao Batalhão de Saúde, essas viaturas operavam em conjunto com outros tipos de veículos. Com o avanço da campanha, outras unidades da FEB passaram a converter Jeeps adicionais para o transporte de feridos, adaptando-os às necessidades médicas. Essas conversões variavam desde uma configuração básica, com uma padiola posicionada transversalmente na parte traseira do veículo, apoiada nas laterais, até uma versão mais elaborada, com suportes específicos instalados na carroceria para sustentar a padiola, que se apoiava na primeira maca e no para-brisa rebaixado. Enquanto isso, no Brasil, os Jeeps consolidaram-se como a espinha dorsal da frota motomecanizada do Exército Brasileiro, sendo distribuídos por unidades militares em todo o país. Além disso, essas viaturas também equiparam bases da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, ampliando sua relevância nas Forças Armadas. A versatilidade e a robustez dos Jeeps não apenas atenderam às demandas operacionais no teatro de guerra, mas também marcaram uma transformação significativa na capacidade militar brasileira, deixando um legado de inovação e adaptação.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, os jipes  remanescentes, juntamente com outros veículos, armamentos e equipamentos fornecidos pelos Estados Unidos no âmbito do programa Lend-Lease Act, foram entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, na cidade de Roma. Nesse local, as viaturas em melhores condições de conservação foram cuidadosamente selecionadas, armazenadas e, posteriormente, transportadas por via naval ao Brasil. Ao chegarem, esses Jeeps se integraram à frota de veículos da mesma classe já em operação no país desde 1942, sendo distribuídos às unidades operativas do Exército Brasileiro. A partir da segunda metade da década de 1950, as Forças Armadas Brasileiras receberam novos lotes de Jeeps provenientes do Exército dos Estados Unidos (US Army), classificados como "material excedente de guerra" (War Surplus). Esses veículos foram cedidos no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), reforçando significativamente a capacidade operacional do Brasil. Além disso, a chegada desses novos Jeeps possibilitou a substituição de unidades mais antigas, promovendo uma maior padronização dos modelos e simplificando os processos de manutenção, o que trouxe maior eficiência às operações militares. Na década de 1960, o Brasil começou a incorporar os primeiros jipes militarizados produzidos nacionalmente, como os modelos Willys Overland e Ford CJ-2, CJ-5 e CJ-6. Paralelamente, o país também recebeu unidades usadas do Willys M-38A1. Esse movimento marcou o início de um amplo processo de desativação dos Jeeps fornecidos na década de 1940, que, apesar de sua robustez, já apresentavam sinais de obsolescência. Segundo registros oficiais, os últimos jipes originais permaneceram em serviço ativo até, pelo menos, o final da década de 1970, testemunhando sua durabilidade e relevância. Hoje, algumas dessas viaturas históricas ainda se encontram em estado operacional no Exército Brasileiro, sendo preservadas e empregadas principalmente em funções cerimoniais. Esses Jeeps, mais do que simples veículos, representam um capítulo significativo da história militar brasileira, evocando a resiliência e a determinação das gerações que os operaram.

Em Escala.
Para representarmos o Ford Jeep GPW "Malacara” matrícula FEB 210A, em uso pela Força Expedicionária Brasileira – FEB, durante a Segunda Guerra Mundial, fizemos uso do kit produzido pela Bronco Models na escala 1/35. Para melhor detalhamento adicionamos um set de armamentos em resina da Eletric Products. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes no livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro. Existem algumas diferenças sutis entre os jipes militares GPW e Willys produzidos após 1942, mas os primeiros lotes produzidos apresentavam as marcas dos fabricantes estampadas em suas carrocerias, processo este descontinuado a mando do Departamento de Guerra Norte Americano (The War Department).
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos em todos os seus veículos empregados durante a Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa, com estes Jeeps Ford GPW recebendo apenas as marcações e seriais do Exército Brasileiro. Alguns deste manteriam durante o conflito os números seriais norte-americanos ostentando o escudo do Cruzeiro do Sul. Em seu retorno ao Brasil os Jeeps Ford G.P.W mantiveram este padrão de pintura até sua desativação. Empregamos tintas, washes e vernizes produzidos pela Tom Colors.



Bibliografia : 
- Jeep Ford & Willys  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
- Jeeps no Exército Brasileiro - https://jplopes.tripod.com/exbrz.htm
- FEB na segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa de Monteiro
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.