Contratorpedeiros ClasseCannon

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o intensificar das tensões na Europa e na Ásia, já denunciavam claramente o que estava por vir, levando  o governo norte americano a antecipar estudos visando programas de modernização de suas forças armadas. No tocante aos meios navais, esta seria uma das maiores preocupações, observando principalmente o expansionismo da armada imperial japonesa. Neste período concentrava se muita ênfase no emprego de navios da classificação “Contratorpedeiro”(ou Destroier) tipo este tinha por objetivo empregar sua alta velocidade e manobrabilidade para proporcionar escolta a embarcações de maior porte da frota, comboio ou grupo de batalha, e assim defendê-las contra poderosos atacantes de curto alcance. A Marinha Americana (US Navy) estava empenhada no desenvolvimento de uma nova linhagem de navios que resultaria na classe de Fletcher de ,que provariam ser extremamente eficientes no realizar de suas missões durante toda a Segunda Guerra Mundial. No entanto a necessidade de se prover um grande incremento na quantidade de navios da frota, levaria os olhos do comando da marinha a analisar o  adoção de um modelo de embarcação de combate de custo reduzido que passou a ser  incorporado no fim da década de 1930 pela Marinha Real Britânica. Este novo tipo de navio recebeu a denominação de "corveta", que apesar de ser menos capaz era muito mais econômico de construir e operar que os clássicos contratorpedeiros, podendo ser empregado com relativo sucesso em missões de escolta de comboios de navios mercantes, garantindo proteção antiaérea e antissubmarino. 

Com base neste conceito os especialistas  da Marinha Americana (US Navy) desenvolveram navios com caraterísticas e missões semelhantes às das corvetas britânicas, mas os, classificaram-nos como "Destroyer Escorts" (contratorpedeiros de escolta). A ideia era empregar esta  classe de navios para a escolta e proteção de comboios de navios mercantes em áreas litorâneas, liberando assim os  contratorpedeiros para a proteção de comboios intercontinentais para a escolta de navios mais valiosos, como os porta-aviões. Esta iniciativa iria resultar em diversas classes de contratorpedeiros de escolta, entre este a Cannon Class, que seriam construídos a partir de fins de 1942 pelo estaleiro Dravo Corporation, em Wilmington, Delawere,.  O primeiro navio desta classe foi comissionado 26 de setembro de 1943 recebendo o nome e designação de USS Cannon (DE-99). O contrato inicial previa a construção de 116 navios que seriam produzidos pelos estaleiros da Dravo Corporartion e  Federal Shipbuilding & Drydock Co.,  ambos situados em Newark, New Jersey, porém somente 72 seriam completados, com restantes cancelados devido as evidências da proximidade do final do conflito em 1945. Os navios desta classe eram construídos com chapas de aço médio preto e decapado, de espessura variável de 1/8” até 2”, sistema de construção transversal, sendo longitudinal o travamento o principal, 171 cavernas transversais, dividido em 73 compartimentos estanques e um convés corrido. Possuía as seguintes características principais: 1512 t de deslocamento normal; 1600 t de deslocamento máximo 93,33 m de comprimento total; 90,0 m de comprimento entre perpendiculares; 11,14 m de boca máxima;3,60 m de calado máximo; 20,2 nós de velocidade máxima; 19 nós de velocidade máxima mantida e 12 nós de velocidade econômica. Seu raio de ação na velocidade econômica era de 13.000 milhas náuticas e na velocidade máxima mantida de 8.500 milhas náuticas.
Seu sistema de propulsão era diesel-elétrico, dispondo para isso de quatro grupos geradores, cada um com a potência de 1 700 HP em conjunto com motores a diesel produzidos pela General Motors modelo 16-278A de 16 cilindros em V, de 750 RPM, que acionavam, quatro geradores tipo D.C.2 de excitação separada com 1200 KW de potência em corrente contínua. A propulsão propriamente dita era feita por quatro motores elétricos principais, sendo dois por eixo, ligados em série, alimentados pelos dínamos principais, também em número de dois por eixo. São motores elétricos de corrente contínua excitação separada, modelo QV-DC-8145, fabricados pela Westinghouse com potência máxima de 1500 HP e 600 RPM cada um, que acionam dois hélices de três pás. Seus tanques possuíam a capacidade de 321 t de óleo combustível diesel e 18 t de óleo lubrificante. A energia elétrica era gerada por quatro grupos motores diesel geradores General Motors modelo 8-268A e 3-268A, que acionavam alternadores Westinghouse de 200 KW e 100 KW, respectivamente. A aguada era fornecida por um grupo destilatório de baixa pressão, que produzia 4.000 galões de água por dia, podendo chegar a 5000 galões por dia em emergência. Os paióis de munição não eram refrigerados e sim ventilados. Para salvamento o navio dispunha de uma lancha a motor diesel para 24 homens, quatro balsas de cortiça para cem homens e cinco redes flutuantes com capacidade total de 125 homens. Sua tripulação era composta por 12 Oficiais, 4 Suboficiais, 31 Sargentos, 29 Cabos e 69 Marinheiros, 41 Grumetes, 11 Taifeiros e 15 outros homens extras. Sendo assim o comandante e a tripulação de 11 oficiais e 200 praças.

Seu armamento era constituído por uma bateria principal de três canhões de 76 mm, semiautomáticos do modelo MK 22 Mod. 1, dispostos dois na proa e a uma ré, na popa. Sua bateria secundária era composta por dois canhões automáticos de Boffors 40 mm, sendo um MK 2 Mod.1 e um MK 1 Mod. 1, montados em reparos duplos. Possuía ainda oito metralhadoras antiaéreas de 20 mm Oerlikon MK 4, um reparo triplo de tubos lança torpedos MK 20 com torpedos Bliss Leavitt MK VIII Mod. 3-A e 3-D, um gerador de fumaça MK 1 Mod. 1, duas calhas para lançamento de bombas de profundidade MK 9, com capacidade para nove bombas, oito morteiros para lançamento de cargas de profundidade MK VI Mod. 2 e um projetor de bombas granadas MK 11 Mod. 0. Para a detecção de alvos na superfície, o navio era dotado de um Radar SL fabricado pela Western Electric & Co, com alcance máximo de 60 milhas náuticas e para a detecção de alvos aéreos, de um Radar SA fabricado pela RCA Manufacturing Co., de alcance máximo de 375 milhas náuticas. Para a identificação de aviões ou navios aliados, o navio possuía um sistema de IFF modelo BL-5 e um respondedor modelo ABK-7. Para a manobra o navio empregava dois lemes compensados e conjugados, governados por um aparelho de governo eletro-hidráulico com controle automático. Além disso, possuía dois ferros tipo Dunn, sistema Hall de 1360 kg cada um, talingados a duas amarras de 7 quartéis cada uma. Para a navegação o navio possuía uma agulha giroscópica mestre da marca Arma MK X Mod. 0, que ficava situada na PCI e várias repetidoras, um calculador e traçador de derrota (CTD), duas agulhas magnéticas padrão e de governo, situadas no tijupá e passadiço, respectivamente e um radiogoniômetro modelo DP-13 e um ecobatímetro modelo NJ 9 fabricado pela Submarine Signal Company.
Os primeiros seis navios em serviço, o USS DE-99 Cannon, USS DE-100 Christopher, USS DE-101 Alger, USS DE 102 Thomas, USS DE 103 Bostwick e USS DE 104 Breeman, foram alocados em ação no oceano atlântico protegendo o primeiro trecho de comboios de navios mercantes em direção a Europa. Posteriormente ao comissionamento de mais navios começaram a ser alocados nas frotas do pacífico e do atlântico. Em 1944 oito contratorpedeiros de escola seriam transferidos sobre regime de empréstimo a Marinha Brasileira para auxiliar na proteção dos comboios de navios mercantes que partiam do Brasil carregados com matéria prima para os Estados Unidos. Ainda antes do término do conflito seis navios seriam comissionados diretamente para as Forças Francesas Livres para suporte as operações de retomada do controle da França. No pós-guerra a partir de meados de 1946 esta classe de contratorpedeiros de escolta foi retirada do serviço ativo e colocada na reserva da Marinha Americana (US Navy), com unidades sendo cedidas a Republica da China, França, Japão, Grécia, Holanda, Filipinas, Coreia do Sul, Tailândia, Itália, Peru e Uruguai onde permaneceram em serviço pelo menos até meados da década de 1960. Os últimos navios na reserva da Marinha Americana foram retirados da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos em 1973 e vendidos para desmanche.

Emprego na Marinha do Brasil
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste. Isto se dava pois esta região especifica representava em termos de  translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, sendo então esta região fundamentalmente estratégica no processo de envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu.  Paralelamente o crescente fluxo de matérias primas estratégicas para os Estados Unidos levaria a crescente ameaça da ação de submarinos alemães e italianos nas costas do Atlântico Sul, levando assim a necessidade de defesa não só desta região mas também de todo o território nacional. Para fazer frente a este cenário as  Forças Armadas Brasileiras foram submetidas a um amplo processo de modernização, sendo o país beneficiado por ser signatário do Acordo de Leand & Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) que fora celebrando entre os dois países em outubro de 1941 na capital americana de Washington, que liberava ao pais um linha de crédito de mais de US$ 100 milhões para a aquisição de armas e equipamentos militares de última geração. Como citado o maior desafio para a contribuição brasileira no conflito era a guerra antissubmarino, sendo assim o país agraciado com recebimento de aeronaves de patrulha e combate e projetos de corvetas para a construção local e transferência de navios dedicados a este tipo de missão, com os primeiros recebimentos ocorrendo em fins do ano de 1942.

Nesta fase da campanha do Atlântico Sul a Marinha Brasileira  em termos de unidades navais com capacidade antissubmarino viável para conter a ameaça dos submarinos alemães e italianos, contava apenas com seis navios mineiros da Classe Carioca. Estes vaso de guerra  foram construídos  Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, sendo comissionados entre junho de 1939 e agosto de 1940, e passaram a ser reclassificados como corvetas após o inicio da Segunda Guerra Mundial. Porém esses pequenos navios além de não contar com sensores adequados a detecção  e acompanhamento de submarinos estavam armados apenas com um canhão de 102 mm e lançadores de minas marítimas, não representando assim grave ameaça aos agressores. Estes navios eram complementados por contratorpedeiros da Classe "M" ou "Marcílio Dias" que apesar serem melhores armados com um conjunto composto por 5 canhões de 5 pol./38 (127 mm) em reparos singelos; 4 canhões Bofors L/60 de 40 mm em dois reparos duplos; 8 metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos; 3 reparos quádruplos de tubos de torpedos de 21 pol. (533 mm); 2 calhas de cargas de profundidade Mk 3, 4 projetores laterais do tipo K Mk 6 para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9 e dois geradores de fumaça Mk 4, ainda não dispunham de sensores adequados a detecção e acompanhamento de submarinos. Visando sanar esta deficiência e melhorar a capacidade antissubmarino da Marinha Brasileira, o governo norte americano decidiu  pela transferência da frota Marinha Americana - US Navy, de oito contratorpedeiros de escolta da classe Cannon que dispunha de sensores e armamentos mais adequados a este tipo de missão. 
Em 1º de agosto de 1944, o primeiro desta classe navio foi entregue à Marinha do Brasil na Base Naval de Natal no Rio Grande do Norte pela Marinha dos Estados Unidos (ex-USS Pennewill - DE 175), sendo incorporado à Armada no mesmo dia por meio do Aviso Ministerial nº 1268 de 1º de agosto de 1944 recebendo o indicativo visual Be1 e o nome de Bertioga. Ainda em 1944,  este navio participou da escolta de vários comboios nas rotas JT (Recife-Trinidad) e TJ (Trinidad-Recife), comboio JT, com escolta mista Brasileira/Americana, participando também do comboio TJ-44. Durante o restante do conflito participou de muitas missões de escolta a navios mercantes, no pós-guerra foi empregado em missões e exercícios para o adestramento de guerra antissubmarino.  Em 20 de julho de 1953, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos, sendo definitivamente transferido para marinha. Em Com a nova padronização dos indicativos de casco da Marinha do Brasil, teve seu indicativo alterado para D 21, o que permaneceria até o início de 1960 quando foi reclassificado como Aviso Oceânico, teve todo seu armamento antissubmarino removido, e seu indicativo visual foi alterado para U 26. Deu baixa do serviço ativo em 1964 e foi vendido para desmanche. O Contratorpedeiro de Escolta Beberibe - Be 2, ex-USS Herzog - DE 178 foi incorporado em 1º de agosto de 1944, servindo em missões de escolta até o final do conflito. Em 20 de julho de 1953, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos, sendo definitivamente transferido para marinha. Em 1968 já reclassificado como aviso oceânico recebeu baixa do serviço ativo sendo vendido também para desmanche. O Contratorpedeiro de Escolta Bracuí - Be 3, ex-USS Reybold - DE 177 foi incorporado em 15 de agosto de 1944. Em 4 de dezembro de 1945, a Esquadra foi restabelecida pelo Decreto n.º 8273, ficando o Bracuí, assim como os demais navios da classe Bertioga à 2ª Flotilha de Contratorpedeiros. Em 1972 já reclassificado como aviso oceânico recebeu baixa do serviço ativo sendo vendido também para desmanche.

O contratorpedeiro de escolta Bauru - Be 4, ex-USS McAnn - DE 179 foi incorporado em 15 de agosto de 1944, seguiu sua carreira prestando excelentes serviços até ser descomissionado em 17 de setembro, tendo navegado 295.405 milhas náuticas e completando 1.423 dias de mar. Depois da sua baixa foi submetido a um processo de modificações na Estação Naval do Rio de Janeiro, para devolver-lhe as características originais, sendo inaugurado como Navio-Museu em 21 de julho de 1982. O Contratorpedeiro de Escolta Baependi - Be 5, ex-USS Cannon - DE 99, foi incorporado em 19 de dezembro de 1944, serviu durante toda a guerra em missões de combate antissubmarino. Em 1963 esteve entre as unidade destacadas em virtude da crise provocada pela chamada Guerra da Lagosta com a França. Em  1965 transferido para o Esquadrão de Avisos Oceânicos, quando foi reclassificado como Aviso Oceânico, teve todo seu armamento A/S removido, e seu indicativo visual foi alterado para U 27, operando até 1973 Deu baixa do serviço ativo e alienado para a venda para fins de desmanche. O contratorpedeiro de escolta Benevente - Be 6, ex-USS Christopher - DE 100, foi incorporado em 15 de agosto de 1944, em 1955 com a nova padronização dos indicativos de casco da Marinha do Brasil, teve seu indicativo alterado para D 20. No inicio dos anos 60, quando foi reclassificado como Aviso Oceânico, teve todo seu armamento antissubmarino removido, e seu indicativo visual foi alterado para U 30. Em 1964 recebeu baixa do serviço ativo e foi vendido para desmanche. O Contratorpedeiro de Escolta Babitonga - Be 7, ex-USS Alger - DE 101, sendo incorporado em 10 de março de 1945 recebendo o indicativo de casco Be 7. Em 1955 Com a nova padronização dos indicativos de casco da MB, teve seu indicativo alterado para D16. No inicio da década de 1960, quando foi reclassificado como Aviso Oceânico, teve todo seu armamento antissubmarino removido, e seu indicativo visual foi alterado para U 9. Em fins de 1964 deu baixa do serviço ativo e foi vendido para desmanche.
Por fim o contratorpedeiro de escolta Bocaina - Be 8, ex-USS Marts - DE 174 foi incorporado em 20 de março de 1945 recebendo o indicativo de casco Be 8. Em 1955 com a nova padronização dos indicativos de casco da Marinha Brasileira, teve seu indicativo alterado para D 22. No inicio dos anos 60, quando foi reclassificado como Aviso Oceânico, teve todo seu armamento antissubmarino removido, e seu indicativo visual foi alterado para U32, operando nesta missão até o inicio de 1975 quando foi retirado do serviço ativo e alienado para venda para desmanche. Os navios desta classe, denominados localmente como classe "B" ou “Bertioga”,  introduziram novos equipamentos táticas e conceitos na Marinha Brasileira à época, sendo considerados a espinha dorsal da esquadra. Eram navios antissubmarino completos para missões de escolta próximas ao litoral, tanto para enfrentar submarinos imersos, como na superfície. Eram extremamente manobráveis; sua propulsão Diesel-elétrica permitia aumento gradual de velocidade permitindo se adequar ao acompanhamento dos comboios. Esta classe de navios teve destacada participação no esforço de guerra brasileiro ajudando a garantir para os aliados o fluxo de materiais primas essenciais. A classe Bertioga foi substituída na Marinha do Brasil nas missões de combate antissubmarino a partir da década de 1960, quando da incorporação dos contratorpedeiros da Classe Fletcher.

Em Escala.
Para representarmos o contratorpedeiro da classe Cannon "B Bertioga" D18 Bauru, da Marinha do Brasil, fizemos uso do antigo kit da Revell na estranha escala 1/249. Aplicamos pequenas alterações em scratch na estrutura da ilha para  configurarmos o navio quando em serviço na marinha no período pós guerra.  Fizemos uso de decais produzidos sob encomenda pela Special Sings nesta mesma escala.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão aplicado em todos os navios da Marinha do Brasil, no período pós guerra mantendo esta sistemática até sua desativação. Salientamos que quando do recebimento em 1944 o navio ostentava o indicativo de casco de Be4, com esta indicação sendo alterada em 1955. Durante seu processo de restauração para transformação em navio museu, o D18 Bauro recebeu novamente sua indicação de casco original  .





Bibliografia : 

- Cannon Class Destroyer Wikipedia - https://enacademic.com/dic.nsf/enwiki/2942971
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/