A Europa, na segunda metade da década de 1930, presenciou um forte programa de rearmamento da Alemanha, que apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes (assinado após o término da Primeira Guerra Mundial) avançava a largos passos. O governo alemão, que era regido partido nacional socialista (Partido Nazista) e liderado pelo chanceler Adolf Hitler, começava a esboçar preocupantes ambições em termos de expansão territorial. O plano secreto de fortalecimento militar alemão, estava focado desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares, em sincronia com o uso de novas tecnologias em equipamentos e armas destinadas ao combate terrestre com apoio aéreo (que viria a ser denominado posteriormente como Blitzkrieg). Este conceito apresentava como um dos principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, caracterizada pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Os novos tanques alemães foram criados para serem superiores aos seus pares disponíveis na época. Do outro lado do atlântico, estas ameaça não passava desapercebida aos olhos do Exército Americano (US Army), levando nesta mesma época a criação de um programa de estudos visando o desenvolvimento de blindados que pudessem a rivalizar com os novos carros de combate alemães, italianos e japoneses. Esta iniciativa previa a criação de uma variada gama de veículos, desde blindados sobre rodas, carros de combate leve e médios, visando assim proporcionar uma melhoria de sua capacidade ofensiva em confrontos terrestres, que neste período tinha como esteio de sua força de carros de combate, o modelo M-3 Stuart. Apesar de estarem em números satisfatórios este modelo despertava dúvidas quanto a sua efetividade contra estas novas ameaças, principalmente por dispor de um canhão de 37 mm como arma principal, calibre este inadequado em tese para enfrentar os carros blindados dos potenciais inimigos até então.
Com as definições de projeto alinhadas, iniciou-se de imediato a produção em larga escala, a fin de se atender as demandas emergenciais de reequipamento do Exército Americano (US Army). Os M-3 foram os primeiros carros de combate exportados às pressas para os ingleses, a tempo de serem empregados no enfretamento aos blindados alemães e italianos no deserto africano. Como previsto seu desempenho seria sofrível, porém sua facilidade de produção em larga escala, poderia suprir a necessidades do esforço de guerra Aliado, com o modelo se mantendo em produção durante todo o conflito, envolvendo também a partir de sua plataforma básica o desenvolvimento de versões especializadas. Logo no início da participação norte-americana na Segunda Guerra Mundial, seria identificada a necessidade de se dotar o Exército Americano (US Army), com veículos capazes de tracionar no campo de batalha peças de artilharia, devendo ter como requisito básico a capacidade de acompanhar os demais veículos blindados em terrenos irregulares. Buscando atender a esta demanda, a empresa Allis-Chalmers Co. (fundada em 1901), especializada na produção de tratores, transmissões e implementos agrícolas, iniciaria o desenvolvimento de um "trator" de artilharia. Em fins do ano de 1942, seriam concluídos os primeiros protótipos, o novo modelo fora concebido a partir da plataforma básica, conjuntos mecânicos e componentes do blindado leve M-3 Stuart. Esta decisão seria baseada na comunalidade do emprego da mesma linha de produção e ferramental, o que otimizaria a produção em larga escala, outro ponto positivo se baseava na otimização dos processos de manutenção em campo, fazendo uso das mesmas peças de reposiçao empregadas nos carros de combate M-3 Stuart, utilizados em grande número em todos os fronts pelas forças aliadas.

Com sua aprovação para produção, o novo "trator de artilharia" sob esteiras, agora designado oficialmente como M-4 High Speed Tractor, receberia conforme sua capacidade a classificação de veículo de 18 toneladas, devendo ser homologado a tracionar primeiramente uma variada gama de peças de artilharia de grande porte, tal como os obuseiros M-1 de 155 mm e Long Ton de 240 mm e canhões antiaéreos M-1A3 de 90 mm e M-3 de 76 mm. Por questões de segurança veicular, o M-4 seria equipado com um sofisticado e eficiente sistema combinado de freios a ar e elétrico, para assim suportar com segurança as cargas a serem tracionadas em quaisquer condições adversas de deslocamento. O veículo fora projetado prevendo uma área de armazenamento em sua parte traseira, pois grande parte das peças de artilharia a serem empregados, deveriam ser transportados pelo próprio veículo, com estes sendo acondicionados em racks modulares específicos para os projeteis de 90 mm, 155 mm, 200 mm e 240 mm. No caso específico de projéteis de maior porte (e grande peso), sua movimentação dos racks até a culatra da peça de artilharia e feita com o auxílio de um guindaste mecânico. A capacidade de transporte de munição podia chegar a até 54 projeteis de artilharia e 500 cartuchos de metralhadora. O amplo espaço da carroceria permitia ainda confortavelmente o transporte interno de até dez soldados pertencentes a guarnição das peças de artilharia, além do condutor do próprio veículo, enfatizando assim a versatilidade deste veículo. O M-4 High Speed Tractor era ainda equipado com uma metralhadora M-2 Browning calibre. 50, que podia ser montada em um anel giratório no teto, para emprego antiaéreo e antipessoal.
As primeiras unidades do trator de artilharia M-4 High Speed Tractor, começaram a entrar em serviço operacional a partir de março de 1943, sendo destinados a equipar os regimentos de artilharia alocados no teatro de operações no Pacífico. O incremento da produção em série, possibilitaria equipar mais regimentos não só nos Estados Unidos, mas também nas unidades estacionadas na Inglaterra, que se preparavam para futuramente participarem da invasão do continente Europeu, nas praias da Normandia, durante a Operação Overlord. Durante todo o conflito, o M-4 High Speed Tractor, seria empregado em todos os fronts de batalha pelas forças norte-americanas. Além da modelo original, mais duas evoluções seriam desenvolvidas e produzidas, com a primeira sendo designada como M-4C, que passava a apresentar de rack reprojetados com maior capacidade de transporte de munições internamente, otimizando a operação durante as tarefas de tiro. Já a segunda versão designada como M-4A1, seria equipada com o novo modelo de esteira mais larga do tipo "duck bill" (bico de pato), otimizada para operação e terrenos adversos, seguindo as mesmas modificações implementadas nos carros de combate M-4 Sherman a partir de 1944. Sua extensa folha de serviço não se encerraria com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, com os robustos M-4 High Speed Tractor, sendo empregados novamente em batalha durante a Guerra da Coréia (1950 - 1953), sendo operados não só pelo Exército Americano (US Army), mas também utilizado em pequeno número pelas Forças Armadas da República da Coreia (Hangul).

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava pois esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam a beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o país ainda era signatário da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. Este processo de reequipamento teria início em meados de 1941 após a adesão do governo brasileiro do presidente Getúlio Vargas ao programa norte americano denominado Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamento seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália. Apesar do Exército Brasileiro ser amplamente favorecido neste processo, os acordos de fornecimento de veículos militares, curiosamente não incluiriam a imediata cessão dos modernos tratores de artilharia do modelo M-4 e M-5, o que dificultaria as operações de obuseiros de grande calibre no país.
Em regime de exceção, apenas algumas unidades do trator de artilharia sobre esteiras do modelo M-5 seriam fornecidas as tropas brasileiras na Itália, para o emprego junto ao 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta – 1º/1º RAP, unidade de campanha esta que compunha a Força Expedicionária Brasileira – FEB. Ao fim das hostilidades estes veículos seriam repatriados, sendo recebido no Rio de Janeiro em setembro de 1945. Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano, no objetivo de manter sua influência política e militar junto as nações aliadas, instituiria o Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program - MAP). Este programa visava criar linhas de crédito e vantagens econômicas para o fornecimento de material militar de segunda mão, e neste contexto o Brasil seria elencado com uma destas nações a serem beneficiadas. Assim a partir do final do ano de 1948, as Forças Armadas Brasileiras, passariam a receber uma grande quantidade de materiais militares, como armamentos, munições, motores, ferramental e peças de reposiçao. Em termos de veículos blindados, o Exército Brasileiro receberia um grande lote composto por carros de combate M-3 Sherman e tratores de artilharia do modelo M-4A1 High Speed Tractor. Este programa englobava o recebimento de sessenta e quatro veículos deste modelo. Uma comitiva seria enviada aos Estados Unidos para proceder a escolha dos tratores em melhor estado de conservação, os eleitos seriam submetidos a uma revisão mecânica, passando a ser despachados por via naval ao Brasil, sendo recebidos em lotes entre os anos de 1949 e 1952.

O recebimento deste novo modelo, viria a melhorar sensivelmente a capacidade de mobilidade da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, que neste momento além de contar com os M-5 Tractor "Italianos", dispunha apenas algumas unidades dos tratores meia lagarta alemães Hanomag Sd.Kfz-7, recebidos há mais de 20 anos, com o esteio desta tarefa sendo realizada precariamente pelos já obsoletos de desajeitados tratores de artilharia Mineapolis Monline GTX-147 6X6, que necessitavam ser rapidamente substituídos. Assim os "novos" M-4 High Speed Tractor seriam destinados inicialmente aos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) , Grupos de Artilharia de Costa Motorizado (GACosM) e posteriormente aos Grupos de Canhões Antiaéreo (GC AAe). Entre os principais destinos podemos citar o º Grupo de Canhões 90 mm Antiaéreos (5º GCan 90 AAé), 1º Grupo de Canhões 90 mm Antiaéreos (1º GCan 90 AAé) Rio, Escola de Artilharia de Costa (EAC), Escola de Defesa Antiaérea (EsDAAe), 6º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (6º GACosM), 1º Grupo do 7º Regimento de Obuses 105(1º GA7ºREGOb), 8º Grupo de Artilharia 75 Auto Rebocado (8º GaRec 75), 26º Grupo de Artilharia de Campanha (26º GAC) e o 2º Grupo de Obuses 155 mm (2º GaOb 155mm). Nestes grupos os M-4 High Speed Tractor, complementariam os M-5 Tractor, passando a substituir também os Mineapolis Monline GTX-147 6X6. Destinados originalmente a tracionar peças de artilharia de grande calibre, estes veículos operariam em conjunto com os obuseiros alemães Krupp de 88 mm, ingleses Vickers Armstrong de 152 mm e norte-americanos M-114A2 de 155 mm, e canhoes antiaéreos M-3 e M-1A3 antiaéreos de 76 mm e 90 mm.

Em Escala.
Para representarmos o M-4A1 High Speed Tractor “EB31-201” em sua versão original, fizemos uso do excelente kit da Hobby Boss, que prima pelo detalhamento e nos brinda com sets em photo etched que trazem ao modelo um excelente nível de acabamento. Para se representar a versão brasileira podemos montar o modelo direto da caixa sem a necessidade de alterações, apesar de algumas fotos de época apresentarem a roda tratora de coroa sólida, temos informações que o Exército Brasileiro recebeu modelos dos dois tipos. Empregamos decais Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982, quando tiveram alterados o brasão do exército e a sistemática de matrículas. Alguns veículos receberam ainda o esquema de camuflagem em dois tons.
Bibliografia :
- O Stuart no Brasil – Helio Higuchi,
Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M-4 Tractor Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M4_Tractor
- Blindados no Brasil Volume I, por
Expedito Carlos S. Bastos
- Blindados no Brasil Volume II, por
Expedito Carlos S. Bastos