A segunda metade da década de 1930, presenciou apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes, um forte programa de rearmamento da Alemanha que era regida pelo partido nazista que ambicionava expansões territoriais. Este processo focava o desenvolvimento de novos conceitos, doutrinas e tecnologias em equipamentos e armas (que viria a ser denominada como Blitzkrieg), e tinha com um dos principais pilares o desenvolvimento de carros de combate blindados, que se caracterizavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo, que eram superiores a maioria de seus pares disponíveis na época. No final deste mesmo período, o comando do Exército Americano tinha plena ciência que seus principais modelos de carros leve de combate M1 e M2 estavam completamente obsoletos quando comparados a seus principais e potenciais rivais alemães e japoneses. Fazia se necessário atender a esta necessidade, e os primeiros passos começaram a ser tomados em julho de 1940, com a decisão para o desenvolvimento de um novo carro de combate que que culminaria na família M3 Light Tank. O ponto de partida para este novo veículo, foi a adoção do canhão M22 de 37mm, sua blindagem foi projetada para resistir a tiros de armas antitanque do mesmo calibre da arma principal, assim partiu se para o emprego de uma nova suspensão redesenhada para assim suportar o peso excedente proveniente da blindagem, ganhando nas lagartas uma polia extensora traseira de maior diâmetro, aumentando assim a superfície de contato com o solo.
Com as definições de projeto alinhadas, iniciou-se de imediato a produção em larga escala a fins de se atender as demandas emergenciais de reequipamento do Exército Americano. Os M3 foram os primeiros carros de combate exportados às pressas para os ingleses poderem enfrentar os blindados das forças do Eixo no deserto, infelizmente o desempenho aferido no campo de batalha foi inferior aos tanques americanos, porém a facilidade de produção em larga escala necessária ao esforço de guerra aliado manteria o modelo em produção durante todo o conflito, com sua plataforma sendo emprega para o uso em versões especializadas. Logo no início da participação americana na Segunda Guerra Mundial, foi identificada a necessidade de se dotar o exército com veículos capazes de tracionar no campo de batalha peças de artilharia, devendo ter como requisito básico a capacidade de acompanhar os demais veículos blindados em terrenos irregulares. Buscando atender a esta demanda a empresa Allis-Chalmers fundada em 1901 na cidade de Milwaukee no estado de Wisconsin, especializada na produção de tratores, transmissões e implementos agrícolas, começou a produzir primeiros protótipos em fins de 1942 o M4 High Speed Tractor , basicamente o veículo foi desenvolvido sob a plataforma básica do blindado leve M3 Stuart, este processo foi adotado visando otimizar a produção partindo do mesmo ferramental e também a manutenção devido a comunalidade de componentes com blindados leves M3 empregados em larga escala pelos forças aliadas.

As primeiras unidades do M4 High Speed Tractor entraram em serviço a partir de março de 1943, sendo destinadas no teatro de operações do pacífico, com o incremento da produção mais e mais unidades começaram a ser enviadas para a Inglaterra para participarem futuramente da Operação Overlord para a invasão da Normandia. Durante o conflito o M4 High Speed Tractor foi empregado em todos os os fronts de combate pelas forças norte americanas. Além da versão inicial mais duas versões seriam produzidas até 1945, sendo a segunda designada como M4C que passou a passou a dispor com racks para transporte de munição internamente, melhorando a operação durante a operação em campo. Por fim a versão M4A1 High Speed Tractor que foi equipada com novas esteiras mais largas do tipo "duck bill" seguindo as mesmas modificações implementadas nos carros de combate M4 Sherman a partir de 1944. Após o termino da Segunda Guerra Mundial os M4 High Speed Tractor seriam novamente empregados em combate real, quando a da participação Norte Americana na Guerra da Coreia (1950-1953), sendo também operados em pequeno numero pelas forças armadas Sul Coreanas.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste. Por representar o ponto mais próximo entre o continente americano e africano a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida e no intuito de se modernizar as forças armadas brasileiras que até então eram ainda signatárias da doutrina militar francesa estavam equipadas com equipamentos obsoletos oriundos da Primeira Guerra Mundial decidiu-se fornecer ao pais os meios e as doutrinas para uma ampla modernização , este processo se daria pela assinatura da adesão do Brasil aos termos do Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que viria a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao pais acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Apesar do Exército Brasileiro ser amplamente favorecido neste processo, o pacote no entanto não incluiria os modernos tratores de artilharia do modelo M4 ou M5 a serem recebidos no Brasil o que dificultaria a operações de canhões de grande calibre. Vale salientar que um limitado numero de tratores M5 seriam fornecidos a Força Expedicionária Brasileira – FEB no teatro de operações italiano sendo destinados ao 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Pesada Curta – I/1ºRAPC.
Logo após o termino da Segunda Guerra Mundial, o governo norte americano, no objetivo de manter sua influência política e militar junto as nações alinhadas, instituiu o Programa de Assistência Militar (MAP Military Assistance Program). Este processo visava criar linhas de crédito e vantagens econômicas para o fornecimento de material militar de segunda mão, o Brasil estava entre as nações beneficiadas neste programa e fazendo uso dos termos deste, o Exército Brasileiro passou a receber a partir de 1948 armas, munição, equipamentos, ferramental, motores de reposição, carros de combate médio M3 Sherman e também tratores de artilharia do modelo M4 High Speed Tractor. O contrato previa a aquisição de 64 tratores usados oriundos do Exército Americano (US Army) e estavam dispostos na versão M4C High Speed Tractor, que após revisão foram recebidos entre 1949 e 1952. O recebimento deste novo modelo viria a melhorar significadamente a capacidade de mobilidade da artilharia do Exército Brasileiro, que além dos pouvos M5 Tractor oriundos da campanha da Itália, dispunha de apenas algumas unidades dos tratores meia lagarta alemães Sd.Kfz 7 e dos já obsoletos de desajeitados tratores de artilharia Minneapolis-Moline, modelos que necessitavam ser rapidamente substituídos.

Durante vários anos os M4 High Speed Tractor prestaram grande serviço as unidades de artilharia antiaérea , artilharia de costa e artilharia de campanha, pois apesar de apresentarem motores diferentes, havia grande comunalidade de componentes e peças com os carros de combate leves M3 Stuart, modelo do qual o Exército Brasileiro possuía elevado numero em operação com grande estoque de peças de reposição o que permitiu manter os tratores de artilharia M4 com alto índice de disponibilidade nas unidades operacionais. Esta mesma similaridade de projeto permitiria o modelo ser incluído nos estudos de modernização iniciados em fins da década de 1960 pelo Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) com a finalidade de aplicação na frota dos carros de combate M3 Stuart. Este processo tinha como alicerce a troca dos motores originais a gasolina (que além de dispendiosos careciam de peças de reposição no mercado), por novos de produção nacional a diesel Scania Vabis D-11 com 205 hp de potência. Após a implementação deste processo, visualmente a única diferença da versão repotencializada com a original do M4 High Speed Tractor, era o posicionamento do cano de escape do motor, sendo este similar aos escapamentos dos caminhões civis a diesel. Neste programa também importantes itens de reposição passaram a ser nacionalizados entre eles a produção dos patins das esteiras.

Em Escala.
Para representarmos o M4 High Speed Tractor “EB31-201” em sua versão original, fizemos uso do excelente kit da Hobby Boss, que prima pelo detalhamento e nos brinda com sets em photo etched que trazem ao modelo um excelente nível de acabamento. Para se representar a versão brasileira podemos montar o modelo direto da caixa sem a necessidade de alterações, apesar de algumas fotos de época apresentarem a roda tratora de coroa sólida, temos informações que o Exército Brasileiro recebeu modelos dos dois tipos. Empregamos decais Eletric Products pertencentes ao set “Exército Brasileiro 1942/1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até a o final do ano de 1982, quando tiveram alterados o brasão do exército e a sistemática de matriculas. Alguns veículos receberam ainda o esquema de camuflagem em dois tons.
Bibliografia :
- O Stuart no Brasil – Helio Higuchi,
Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M-4 Tractor Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M4_Tractor
- Blindados no Brasil Volume I, por
Expedito Carlos S. Bastos
- Blindados no Brasil Volume II, por
Expedito Carlos S. Bastos