Do ponto de vista da engenharia, a Segunda Guerra Mundial foi um período de evolução sem igual. Num intervalo de seis anos, exércitos que ainda utilizavam a cavalaria de forma literal com cavalos seriam substituídos por divisões blindadas com tanques de até 76 toneladas. Na ponta de lança dessa corrida tecnológica estava a Alemanha e sua já prestigiada indústria automotiva, que ao longo do conflito conceberia e produziria em larga escala lendários modelos de carros de combate, os "Panzer ou Panzerkampfwagen" (que em alemão, significa couraça). Estes em maciço conjunto com veículos blindados especializados e de transporte de tropas seriam as ferramentas empregadas na doutrina Blitzkrieg (Guerra Relâmpago), que em combate rompiam rompiam os pontos frágeis das defesas inimigas e os exploravam com velocidade atordoante, garantindo nas fases iniciais da guerra retumbantes vitórias. No entanto apesar de deterem a vantagem tecnológica, os icônicos Panzers seriam superados em números por seus rivais norte americanos no front ocidental ou pelos eficientes T-34 soviéticos no leste europeu. A rendição incondicional seria assinada no dia 7 de maio de 1945, com pais sendo dividido entre os aliados ocidentais e a União Soviética. Neste contexto a Alemanha Ocidental permaneceria completamente desmilitarizada, sendo proibida pela regulamentação dos termos da rendição de constituir instituições militares, mesmo para autodefesa, com sua outrora pujante indústria automotiva passando a focar seus esforços no mercado comercial. No entanto o antigo território alemão seria transformado em uma região de grande tensão, representando a principal linha de frente no conflito da Guerra Fria, entre as forças do Pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN. Este cenário levaria junto ao comando a decisão de se revisionar o conceito da proibição de constituição de forças de defesa da Alemanha Ocidental, tendo em vista a necessidade de se reforçar as defesas da região, para assim fazer frente a constante ameaça representadas pelas forças dos países do bloco soviético. Desta maneira no dia 12 de novembro de 1955 seria promulgada dentro da constituição, as normativas que constituiriam a nova estrutura das forças armadas da República Federal da Alemanha, sendo composta pelo Deutsches Heer (Exército Alemão), Deutsche Marine (Marinha Alemã) e a Deutsche Luftwaffe (Força Aérea Alemã). De imediato seria iniciado um vasto programa de rearmamento, sendo fornecidos principalmente, equipamentos, armas, veículos, aeronaves, navios, blindados, e carros de combate de origem norte-americana. Em termos de carros de combate, o recém criado Exército Alemão (Deutsches Heer) passaria a ser equipado imediatamente, com uma respeitável frota composta pelos modelos M-41 Walker Buldog, M-47 Paton e M-48 Paton.
Porém neste mesmo momento, estes carros de combate já se mostravam inadequados frente as ameaças representadas pelos modelos T-44, T-54 e T-55 que equipavam as forças blindadas do Pacto de Varsóvia. A solução para atendimento a esta demanda ainda neste momento não estava disponível para emprego junto aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, apesar de existirem projetos em desenvolvimento como o norte-americano MBT T-95. Esta realidade motivaria o governo alemão a retomar sua indústria de defesa, sendo iniciados estudos ao final desta década, visando assim o desenvolvimento de projetos nacionais englobando uma variada gama de veículos blindados, desde carros de combate, transporte e versões especializadas de serviço. No que tange a carros de combate, os esforços seriam direcionados ao desenvolvimento de um MBT (Main Battle Tank), com suas especificações de projeto sendo definidas em 1956, sendo baseadas na necessidade de se superar os novos T-54 e T-55. Estas abrangiam um veículo na ordem de mais trinta toneladas, devendo ter alta mobilidade como prioridade em detrimento ao poder de fogo, e por isso sendo dotado com um canhão de 105 mm. Vários norteamentos seriam sugeridos, se destacando o programa “Europa Panzer”, um consórcio formado em 1958 por Alemanha, França e Itália. Diversas propostas seriam apresentadas, com os primeiros protótipos sendo disponibilizados em 1960, com o modelo Porsche 734 sendo declarado vencedor. Esta decisão, no entanto, levaria a repercussões de ordem política e motivado por sentimentos nacionalistas o governo da França decidiu abandonar o consorcio, optando em desenvolver um veículo novo totalmente nacional. A seguir o modelo da Dr. Ing. H.C. F. Porsche AG seria batizado como Leopard I, com sua versão final estando equipada com o consagrado canhão inglês, Royal Ordinance L-7 de calibre 105 mm, dispunha ainda de completo sistema de proteção NBC (Radiação Nuclear e Química). Em termos de blindagem atendendo aos parâmetros de mobilidade, possuía uma blindagem leve, porém eficiente com capacidade de resistir a impactos rápidos de armas de 20 mm em qualquer direção. Estas características lhe permitiam atingir uma velocidade máxima de 65 km/h no campo de batalha. Após a finalização de um programa de testes de aceitação, seria celebrado um contrato inicial para cem carros, que seriam produzidos nas instalações fabris da Krauss-Maffei Wegmann GmbH & Co. KG em Munique. Os primeiros Leopard I, seriam entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre setembro de 1965 e junho de 1966. O emprego operacional revelaria qualidades de projeto, passando a despertar o interesse de outras nações pelo modelo (além da Itália), gerando assim contratos de exportações para a Bélgica, Holanda, Noruega, Itália, Dinamarca, Austrália, Canada, Turquia e Grécia.
Ao ser operado por diversos países nos mais variados ambientes, verificaria-se suas qualidades operacionais e robustez em campo, abrindo assim estudos que partiam do empregado da plataforma original para o desenvolvimento de versões especializadas. Neste escopo em setembro de 1965, o Ministério Federal de Defesa da República Federal da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung) deflagaria uma concorrência visando o desenvolvimento de uma versão volta a tarefas de defesa antiaérea, objetivando a substituição do modelo norte-americano GMC M-42 Duster, que era equipado com os antigos canhões Bofors M-2A1, de 40 mm. Seus parâmetros de projeto previam o emprego de dois canhões de 30 mm, controlados por um sistema digital de controle de fogo, que tinha com finalidade engajar alvos aéreos em manobras evasivas. Deveria ainda apresentar um peso máximo de 45.500 kg e maior comunalidade no emprego de componentes presentes nos carros de combate Leopard 1. Dois consórcios industriais alemãs um formado pela Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche e outro pela Oerlikon-Contraves/Siemens-Albis responderiam à esta concorrência. A proposta apresentada pelo primeiro concorrente propunha o conceito de “grupo de batalha” (composto por viaturas equipadas separadamente com dispositivos de vigilância -identificação e outras com radar de controle de fogo/canhões, ambos os tipos sendo liderados por um veículo de comando). Já o segundo apregoava que todas estas funcionalidades fossem reunidas em um só veículo autônomo, armado com canhões de 35 mm (calibre rejeitado em 1962, por não ser padrão empregado naquela época). As duas propostas seriam analisadas entre os anos de 1966 e 1970, e neste momento o projeto apresentado pelo consórcio Rheinmetall/AEG Telefunken/Porsche seria oficialmente cancelado. Neste contexto a proposta vencedora seria aperfeiçoada, passando a receber o radar de vigilância Siemens MPDR 12 acoplado a um identificador de contatos aliados/hostis. Os primeiros protótipos receberiam a designação militar de “5 PFZ-A”, e após serem inseridos em um extenso programa de testes e avaliações, resultariam em uma variada gama de modificações e melhorias. Deste processo emergiria o um modelo de “segunda geração”, o "5 PFZ-B” que passaria a incorporar novos sistemas de radar de vigilância com capacidades aperfeiçoadas de supressão de interferências e de discriminação de alcance e radar Doppler de rastreio de alvos. Seu habitáculo seria soldado na torreta, usando placas de blindagem espaçadas nas seções frontal, traseira e superior; carro receberia uma proteção ao longo da lateral superior esquerda, cobrindo a saída do motor auxiliar e absorvedores de choque nas porções dois e seis do braço de suspensão. Sua blindagem apresentava apenas uma camada, com 70 mm de espessura à frente, variando entre 20 e 30 mm nas partes traseira e lateral, proporcionando satisfatória proteção em combate. Suas baterias elétricas seriam realocadas, com o veículo recebendo geradores auxiliares para os canhões antiaéreos, alocados no antigo paiol de munições do carro de combate original, estando estes isolados dos chassis por paredes blindadas com painel de acesso e extintor de incêndio próprios. Os protótipos desta "segunda geração" seriam testados e avaliados entre os anos de 1971 e 1974, com este programa avançando para o estágio de pré-produção, com dois veículos sendo produzidos e novamente submetidos a testes de campo. Em seguida seria firmado um contrato para a produção de doze carros, que englobariam mais modificações, tendo destaque o aumento do casco em 80 mm; reposicionamento da torreta em 20 mm ao centro; instalação de doze absorvedores de choque e lagartas mais cumprida, com este novamente direcionados ao programa de avaliação. Finalmente, em fevereiro de 1975, Ministério Federal de Defesa da Alemanha (Bundesministerium der Verteidigung), anunciaria a homologação do modelo 5PFZ Tipo B, com este sendo inicialmente adotado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer). Um novo contrato seria celebrado em maio do mesmo ano com a empresa Krauss-Maffei AG (atual Krauss Maffei Wegman), definindo como subcontratadas as empresas Oerlikon-Contraves e Siemens AG. Estes termos previam a produção de vinte carros iniciais, classificados como "lote piloto" sendo seguido por mais cento e vinte dois carros da versão B-1. Porém havia a previsão contratual para aquisição de para 432 torres e 420 cascos com um valor total de DEM 1.200.000.000,00 de marcos alemães, neste patamar cadaveículo custaria cerca de três vezes o preço de um Leopard 1 normal. Esta segunda fase seria alterada, com o desenvolvimento da versão B-2 com radar aperfeiçoado, na qual seria autorizada a produção de cento e noventa cinco carros. Um segundo contrato seria assinado em 1977 para a aquisição de duzentos e vinte cinco carros da versão B-2L, que passava a contar com um sistema de medidor de distância a laser, para alvos a até 5.100 metros. O veículo apresentaria um peso final de 47.5 toneladas, medindo 7,68 metros de comprimento, 3, 27 metros de largura e 3, 29 metros de altura, (com a antena do radar de busca rebatida). Estava equipado com dois motores, um Mercedes Benz MTU 838 Cam 500, multi combustível, de 10 cilindros, gerando 830 HP e outro auxiliar Daimler Benz OM 314, a diesel, gerando 90 HP para o acionamento dos canhões, complementado por dois geradores de 20 kVA cada. Este conjunto mecânico lhe proporcionava uma velocidade máxima de 65 km/h e 550 km de alcance.
Em termos de armamento ofensivo, seus dois canhões Oerlikon KDA L/R04, apresentavam uma cadência conjunta de 1.100 disparos por minuto, com os projéteis tendo velocidade inicial de 1.175 metros por segundo e alcance de 4 km. O projétil padrão pesava 550 gramas, podendo ser dos tipos de Alto Explosivo Incendiário (HEI), perfurante de Blindagem Incendiário (API), além de traçante. Cada arma levava 320 munições antiaéreas (armazenadas no interior da torreta) e 20 projéteis perfurantes, estocados ao lado dos canhões. Este sistema de armas seria orientado por um radar de busca Siemens MPDR 12 S-band instalado em um braço oscilante (abaixado atrás da torre para trânsito) na parte traseira da torre, que fornece um alcance de detecção hemisférica de 15 km e possui um interrogador MSR 400 Mk XII integrado para discriminação automatizada de alvos. Além disso, o Gepard possuía um sistema de mira óptica de backup para aquisição e engajamento passivo de alvos, consistindo em dois periscópios panorâmicos estabilizados para o artilheiro e o comandante, com uma ampliação variável (1,5× e um campo de visão de 50 ° e 6× com um FOV estreito de 12,5 °). Esses periscópios podem ser acionados mecanicamente pelo radar de rastreamento e direcionados automaticamente ao alvo para identificação preliminar. Um telêmetro a laser foi fornecido em veículos atualizados para o padrão B2L e instalado no topo da caixa da antena para o radar de rastreamento. O modelo que receberia por parte do fabricante o nome de batismo de "Gepard", com os primeiros blindados sendo entregues ao Exército Alemão (Deutsches Heer) entre os anos de 1976 e 1980, se consolidando como principal linha de defesa área a média e baixa altitude. O Gepard 1A2 Flakpanzer seria exportado para Bélgica e a Holanda, que adquiriram entre 54 e 95 carros, respectivamente. Entre os anos de 1997 e 2007, cento e quarenta e sete carros foram submetidos a um programa de modernização, visando assim a extensão de vida útil, os sistemas foram atualizados, passando a contar com um novo computador digital, conexão com o sistema de defesa aérea e gerenciamento de batalha através de rádios SEM 93. Os canhões receberam modificações para poder empregar munições do tipo HVFAPDS/FAPDS (perfurante de blindagem, estabilizada por aleta e calço descartável, de alta velocidade), proporcionado até 1.400 metros por segundo de velocidade inicial, o que elevou o alcance e teto operacional dos canhões para 5000 e 3.500 metros respectivamente. No Exército Alemão (Deutsches Heer), o Gepard seria descontinuado no final de 2010 e substituído pelo sistema Wiesel 2 Ozelot Leichtes Flugabwehrsystem (LeFlaSys) com quatro lançadores de mísseis FIM-92 Stinger ou LFK NG que passavam a oferecer uma proteção mais adequada a defesa área a média e baixa altitude. Seu batismo de fogo se daria durante a Guerra da Ucrânia, quando em 2023 veículos doados pela Alemanha seriam implantados naquele teatro de operações, obtendo grande êxito contra os drones russos.
Emprego no Exército Brasileiro.
O processo de implementação de um sistema de artilharia antiaérea no Exército Brasileiro, teve sua origem no dia 4 de outubro de 1940, data de criação do 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) na cidade do Rio de Janeiro. Este grupamento seria equipado com os famosos canhões alemães Flak 88 mm C/56 Modelo 18 que passariam em operar em conjunto preditores Carl Zeiss WIKOG 9SH e aparelhos de localização pelo som Electroacoustic GmbH ELASCOPORTHOGNOM. A partir de 1942 a artilharia antiaérea brasileira seria fortalecida pelo recebimento de uma grande quantidade de canhões norte-americanos dos modelos M-2A2 AA de 37 mm, M-3 AA de 76 mm e por fim M-1A3 AA de 90 mm. No entanto curiosamente não seriam cedidos ao país sistemas de artilharia antiaérea autopropulsados, que já eram empregados em grande escala no conflito. Esta lacuna operacional infelizmente perduraria durante as décadas seguintes, com a necessidade de criação de um sistema de defesa antiaérea a média e baixa altitude, sempre se fazendo presente, principalmente pelas dimensões continentais da nação. No início da década de 1970 seria implementado na Força Terrestre o “Plano Impere”, um programa que visava recuperar a operacionalidade diversos veículos de combate do III Exército Brasileiro que se encontravam parados há alguns anos, analisando inclusive a possibilidade de conversão de carros de combate dos modelos M-4 Sherman e M-3 Stuart como veículos de serviço e suporte. Entre diversas alternativas seria desenvolvido um protótipo de uma viatura blindada antiaérea, com um carro M-3 Stuart recebendo a instalação de um reparo de metralhadoras antiaéreas quadruplo calibre .50 do modelo M-45 Quadmount . Testes de campo se mostrariam extremamente promissores, porém infelizmente não se sabe por quais motivos, o comando do Exército Brasileiro, não demonstraria neste momento o devido interesse, levando assim ao cancelamento do projeto. O conceito para o desenvolvimento de uma viatura antiaérea autopropulsada, ressurgiria em fins da década de 1970, tendo como alicerce o programa do Carro Combate Leve Nacional MB-1 (X-1A Pioneiro e X1-A2 Carcará), com este gerando uma família de veículos especializados sobre esta nova plataforma, incluindo um modelo dedicado defesa antiaérea. Nascia assim o projeto M.01.15, que seria gerido Centro de Tecnologia do Exército (CETEX) em parceria com a empresa Bernardini S/A. Dois protótipos seriam construídos recebendo a designação de Viatura de Combate Antiaérea XM3D1 (VBC AAe) que contariam como armamento orgânico com quatro metralhadoras Browning M-2 calibre .50 montadas em uma torre M-55M Quadmout modernizada. Estes protótipos seriam exaustivamente testados e avaliados pelo Exército Brasileiro, porém a baixa cadência de fogo e o alcance das armas de calibre .50, se mostraram inadequados face a nova ameaça proporcionada pelas aeronaves de ataque a reação existentes naquela época, levando assim ao cancelamento definitivo do projeto.
A partir de meados da década de 1970, o sistema de defesa antiaéreo do Exército Brasileiro se mostrava complemente obsoleto contendo em suas filiares de antigos canhoes Boffors de 40 mm, se fazendo necessário a implementação de sua imediata substituição. Para o atendimento a esta demanda, entre os anos de 1977 e 1978 novos investimentos seriam feitos, envolvendo a aquisição do sistema suíço de artilharia antiaérea Oerlikon de 35 mm, que posteriormente seriam integrados com o conjunto diretor de tiro de fabricação nacional EDT FILA, controlando os canhões de 40 mm C/70 Bofors e canhões Oerlikon 35 mm C/90. Uma tentativa mais ousada seria materializada na aquisição do sistema de mísseis terra-ar Roland II montados no veículo sob esteiras alemão Marder 1A2, no entanto só seriam incorporadas quatro baterias com elas apresentando uma carreira efêmera no Exército Brasileiro. Nos anos vindouros não seriam registrados mais investimentos significativos neste segmento, porém em 1994, dentro do escopo do programa de modernização da Força Terrestre - FT 90 seriam incorporados os primeiros misseis russos Igla-S, armas terra ar de curto alcance do tipo Manpad (Man-Portable Air-Defense Systems). Mesmos estas iniciativas, ainda não trariam ao Exército Brasileiro uma real capacidade de defesa de ponto antiaérea, com este segmento tornando assim o principal "Calcanhar de Aquiles" da Força Terrestre. No início deste século, o Ministério da Defesa e o Exército Brasileiro conduziriam um amplo processo de transformação e modernização das suas estruturas, equipamentos e veículos de combate blindados, com este programa recebendo a denominação de modernização dos Produtos de Defesa (PRODE). Entre diversas vertentes este contemplaria a partir do ano de 2006 a aquisição da Viatura Blindada de Combate Carro de Combate (VBCCC) LEOPARD 1A5 BR para o emprego junto aos Regimentos de Carro de Combate (RCC). Apesar de que neste momento o Exército Brasileiro passaria a contar em sua frota com um veículo moderno e de elevada capacidade de sobrevivência, ainda as Baterias Antiaéreas (Bia AAAe) orgânicas das Brigadas Blindadas seriam desprovidas de um sistema autopropulsado. Assim sua defesa de ponto ficaria somente a cargo do emprego dos misseis antiaéreos (AAe) portáteis russos Igla-S, o que reduzia em muita sua capacidade de proteção contra-ataques aéreos, principalmente de helicópteros de ataque a média altura. Em um cenário de conflagração moderna, nossas forças mecanizadas em trânsito ficariam completamente desprotegidas contra ataques aéreos, com este cenário se repetindo para a defesa de ponto em objetivos estratégicos espalhados pelo país.
A partir de meados do ano de 2012, seriam conduzidos estudos referentes a adoção de possíveis soluções dedicadas a proteção do espaço aéreo nacional. Curiosamente apesar de ser um pleito antigo da Força Terrestre, esta demanda logo seria priorizada não por questões estratégicas e sim políticas, pois o país logo sediaria dois eventos internacionais de grande relevância, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Dentre as várias medidas de segurança exigidas ao país sede, figurava a defesa antiaérea de ponto dos locais onde estes eventos seriam realizados, assim a fim de sanar esta lacuna operacional, a Diretoria de Material do Exército Brasileiro emitiria ao mercado de defesa internacional, uma Solicitação de Informação - RFI (Request for Information), para assim estruturar a sua capacidade de defesa antiaérea de ponto, que passaria a ser denominado como "Projeto Estratégico Defesa Antiaérea". Em seguida começariam a ser apresentadas a Diretoria de Material, diversas propostas de empresas do segmento de defesa de renome internacional, uma criteriosa análise seria então elaborada, tendo como primícias básicas a busca por uma equilibrada relação de custo-benefício. Neste contexto a proposta comercial e técnica apresentada pela empresa alemã Krauss-Maffei Wegman que contemplava o modelo Gepard 1A2 uma versão modernizada. Estas propostas após ser analisada se mostraria mais viável em termos operacionais e financeiros, tendo como destaque sua rápida disponibilidade de entrega. Pesava sobre esta escolha também o histórico operacional do modelo junto a países europeus, com seus canhões de 35 mm operando em conjunto com um sofisticado sistema de radar com alcance de 15 km, efetuando ainda a varredura no espaço aéreo juntamente com o radar de tiro e computador digital de direcionamento e controle de fogo com o mesmo alcance. Como principal vantagem operacional, destacava-se que o sistema era montado sobre o chassi do carro de combate Leopard I, modelo com o qual o Exército Brasileiro já estava familiarizado em termos de operação e manutenção, o que facilitaria em muita sua incorporação, não havendo a necessidade de se proceder investimento adicionais em termos de treinamentos e ferramental. Após negociações seria celebrado entre as partes um acordo na ordem de US$ 50 milhões de dólares, englobando trinta e seis carros (oriundos dos estoques do Exército Alemão), munição, sobressalentes, ferramental e pacote de treinamento. Atendendo ao cronograma contratual, entre os dias 4 de março a 17 de maio de 2013, uma delegação de dez oficiais de dez sargentos realizaria a primeira fase de treinamento na cidade, cidade de Hardheim (Alemanha). O primeiro lote com dez carros Krauss Maffei Flakpanzer Gepard 1A2, seria recebido no Brasil dia 17 de maio de 2013, momento em que oficialmente seriam incorporados a a estrutura do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA), ficando a estes subordinados até a realização destes grandes eventos.
Neste momento estes mesmos militares participariam da segunda fase de formação, agora no Brasil, com a fase final deste treinamento resultando no processo de Tiro de Recebimento do GEPARD, conduzido pela 1ª Brigada de Artilharia Antiaérea no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), nos dias 22 e 23 de junho de 2013. Junto as instalações do Campo de Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro seriam executados 755 tiros sobre alvos aéreos ECLIPSE, operados por integrantes do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea e 871 tiros sobre alvos fixos a 500 e 1500 metros de distância, na Linha I. Seus canhões de 35 milímetros apresentam uma cadência de tiros de 1100 tiros por minuto sendo 550 em cada arma, com uma capacidade 640 tiros antiaéreo e mais 40 terrestre sendo 320 e 20 em cada arma com suas funções respectivamente, com este perfil operacional representando um grande avanço para a Força Terrestres. A partir deste momento, a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea passaria a ser responsável pela formação dos oficiais e sargentos do Exército Brasileiro operadores do Sistema GEPARD. Logo após, os oito carros deste primeiro lote seriam liberados para plena operação, com a missão de defesa de ponto, com este processo sendo conduzido a tempo de participar da edição da Copa da Confederações da Fifa, realizada no Rio de Janeiro entre os dias 15 a 30 de junho de 2013. Os veículos restantes seriam recebidos em diversos lotes entre maio de 2013 a setembro de 2014, totalizando trinta e quatro Gepard 1A2, operacionais e dois dedicados para treinamento. Em serviço operacional os estes blindados passariam a ser denominados como Veículo Blindado de Combate Antiaéreo (VBC AAe), sendo distribuídos a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), 11ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada (GAAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 1º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 6º Brigada de Infantaria Blindada (Bda Inf Bld), 2º Brigada de Artilharia Antiaérea (Bda AAAe), 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAe) e 5ª Brigada Blindada (Bda C Bld). Apesar de se encontrarem em excelente estado de conservação, os veículos adquiridos pelo Exército Brasileiro foram produzidos durante a década de 1970 e modernizados em 1996, necessitando então da implementação de um novo processo de atualização. Para atendimento a esta demanda seria celebrado em 2014 um contrato junto a Brasil Krauss-Maffei Wegmann, visando a modernização das viaturas e simuladores, abrangendo os sistemas sistema de tiro digital, visores termais estabilizados, data link a um centro de controle de defesa aérea - monitoramento, sensores de velocidade da munição. Este pacote englobava ainda a realização de revisões nos sistemas estruturais e mecânicos permitindo estender a vida útil do modelo até o ano de 2030.
A primeira unidade modernizada de um lote inicial de oito carros contratados, seria entregue ao Exército Brasileiro em 9 de março de 2016, com este processo sendo concluído até o final do ano de 2018. Apesar de muitas críticas internas do próprio Exército Brasileiro, quanto a real efetividade de proteção contra as ameaças aéreas atuais, a aquisição do sistema Flakpanzer Gepard 1A2 veio a robustecer o sistema operacional de defesa antiaérea da Força Terrestre. Principalmente para emprego em baixa altura até 3.000 metros, garantindo assim elemento importantíssimo para o sucesso nas operações, incrementando ainda mais, o poder de combate da tropa blindada. A importância deste sistema seria revelada durante a Guerra da Ucrânia, onde os Flakpanzer Gepard 1A2 tem desempenhado um papel fundamental no combate contra os drones, que se tornariam um dos principais flagelos das forças blindadas envolvidas naquele conflito. Assim além de prover proteção com esta nova ameaça, estes veículos a serviço do Exército Brasileiro, proporcionam uma razoável proteção contra helicópteros de ataque, sendo principalmente empregados como parte orgânica das Brigadas Blindadas, as Baterias Antiaéreas Autopropulsadas (Bia AAAe AP). Com estas brigadas sendo compostas por quatro Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe), menor Unidade de Emprego de Artilharia Antiaérea (AAAe), sendo constituídas cada uma dessas Seções de Artilharia Antiaérea (Seç AAAe) por quatro veículos Flakpanzer Gepard 1A2. Além de operarem junto as Brigadas de Artilharia Antiaérea, cada viatura individualmente é considerada como Unidade de Tiro (U Tir) com capacidade de, por seus próprios meios, detectar, acompanhar e destruir uma incursão inimiga, podendo ser empregada em operações estáticas ou em movimento, tais como em uma Marcha para o Combate, onde o Gepard 1A2 estará desdobrado no interior da coluna de blindados para prover a defesa antiaérea da tropa defendida. Em 2023 o Programa Estratégico do Exército Defesa Antiaérea passaria a focar seus esforços na recuperação capacidades já existentes, bem como obter novas capacidades de defesa antiaérea de baixa, média e grande alturas, modernizando as organizações militares de Artilharia Antiaérea da Força Terrestre. Assim durante um tempo os Gepard 1A2 operarão em conjunto com novos sistemas de defesa de média e grande altura que devem ser adquiridos nos próximos anos.
Em Escala.
Para representarmos o Krauss Maffei Gepard 1A2 Flakpanzer em uso pelo Exército Brasileiro, empregamos o antigo kit da Tamiya na escala 1/35, salientando que este apresenta a versão Gepard 1A1, desta maneira é necessário implementar uma série de mudanças em scratch building. Já os kit mais recentes produzidos pela Meng e Takon representam o modelo empregado pelo Exército Brasileiro, sendo indicados estes para compor a versão brasileira. Para representarmos a versão em uso no Brasil, não há necessidade de se proceder qualquer alteração em relação ao kit original. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals & Books presentes no set "Forças Armadas Brasileiras".
O esquema de cores descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pelo Exército Alemão (Deutsches Heer), com o qual estes blindados foram recebidos a partir de 2013. Nos dois primeiros não receberiam nenhuma marcação nacional, com o escudo do Exército Brasileiro sendo aplicado após o ano de 2018, salientamos ainda que mesmos os veículos modernizados não passaram por qualquer alteração em seu esquema de pintura.
Bibliografia :
- Gepard - Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Flakpanzer_Gepard
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado Volume II - Expedito Carlos Stephani Bastos