Opel Blitz II Comercial ¾ Ton (TNE)


História e Desenvolvimento
Fundada em 21 de janeiro de 1862 por Adam Opel, na pequena cidade de Rüsselsheim, no estado de Hesse, Alemanha, a Opel Automobile GmbH – conhecida simplesmente como Opel iniciou sua trajetória muito antes de se tornar uma das grandes montadoras europeias do século XX. Seu nascimento ocorreu em um contexto de transformações industriais profundas, marcado pelo avanço da mecanização doméstica e pela expansão das manufaturas alemãs. Nesse cenário, a empresa surgiu com a proposta de produzir máquinas de costura, atendendo tanto às necessidades domésticas quanto às demandas de pequenos ateliês e oficinas industriais. O empreendimento, inicialmente modesto, rapidamente ganhou projeção. Entre 1863 e 1911, a Opel alcançou o expressivo marco de um milhão de máquinas de costura fabricadas e vendidas, consolidando uma reputação de qualidade e precisão técnica. Paralelamente, acompanhando o ritmo de modernização europeia, a empresa diversificou sua produção e passou também a fabricar bicicletas, um produto em ascensão no final do século XIX e símbolo de mobilidade individual acessível. Contudo, por volta de 1900, tornou-se evidente aos dirigentes da empresa que o futuro da Opel não permaneceria vinculado ao setor de máquinas de costura. A crescente concorrência interna e a saturação do mercado global indicavam limites para a continuidade desse segmento. Esse momento de inflexão estratégica marcou o início da mais importante transformação da marca: a transição para a nascente indústria automobilística, um campo ainda experimental, mas repleto de possibilidades. Os primeiros passos nesse novo universo ocorreram em 1898, quando a Opel deu início ao desenvolvimento de seus primeiros automóveis. No ano seguinte, 1899, o primeiro veículo da marca saiu da linha de montagem em Rüsselsheim. Apesar do entusiasmo, o modelo inicial enfrentou dificuldades comerciais, com menos de uma centena de unidades vendidas – resultado natural da desconfiança de um mercado ainda reticente e da pouca tradição automobilística da empresa naquele momento. A busca pela aprendizagem técnica e pela consolidação industrial levou, em 1901, a uma importante parceria com a montadora francesa Automobiles Darracq France. Sob o acordo, passaram a ser produzidos na Alemanha os veículos Opel-Darracq, que combinavam carrocerias alemãs com chassis franceses e motores simples de dois cilindros. Essa cooperação trouxe à Opel valiosa experiência no design e na engenharia automotiva, permitindo que, em 1902, fosse apresentado ao público, no Salão do Automóvel de Hamburgo, o primeiro modelo inteiramente desenvolvido pela empresa. Sua produção em série teve início em 1906, sinalizando a maturidade industrial da marca e a abertura de uma nova fase. O êxito desse novo ciclo tornou a parceria com a Darracq desnecessária, sendo encerrada em 1907. A partir desse momento, a Opel passou a atuar de forma plena e independente no mercado automotivo, consolidando sua identidade e ampliando sua presença na Europa. Em 1909, a empresa apresentou um de seus modelos mais emblemáticos: o Opel 4/8 PS, conhecido popularmente como Doktorwagen, ou “Carro do Médico”. Robusto, confiável e relativamente acessível custando cerca de 3.950 marcos alemães, aproximadamente metade do valor de veículos de luxo da época – o modelo logo se tornou o preferido de médicos e outros profissionais que precisavam percorrer longas distâncias em regiões rurais, onde estradas pavimentadas ainda eram raridade. O Doktorwagen representou mais do que um sucesso de vendas: simbolizou a democratização do automóvel e aproximou a inovação tecnológica do cotidiano de milhares de europeus.

Um dos momentos mais desafiadores da trajetória da Opel ocorreu em 1911, quando um incêndio devastador destruiu grande parte de sua fábrica em Rüsselsheim. O episódio, que poderia ter comprometido o futuro da companhia, acabou por se tornar um marco de reconstrução e renovação. Longe de sucumbir à tragédia, a empresa reagiu com determinação e investiu na construção de uma nova instalação equipada com máquinas e ferramentas modernas, alinhadas ao que havia de mais avançado na engenharia industrial da época. Essa reestruturação não apenas restaurou a capacidade produtiva da Opel, como também impulsionou sua competitividade no cenário europeu. O resultado desse esforço tornou-se evidente poucos anos depois. Em 1913, a Opel Automobile GmbH consolidou-se como a maior montadora da Alemanha e uma das principais da Europa, um feito que refletia sua capacidade de inovação, sua resiliência diante das adversidades e seu compromisso com padrões elevados de qualidade. Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a indústria alemã foi rapidamente mobilizada para atender às demandas bélicas, e a Opel não foi exceção. A fábrica de Rüsselsheim, renovada e modernizada após o incêndio de 1911, tornou-se um ativo valioso para o esforço de guerra, contribuindo de forma estratégica para a logística militar. A empresa concentrou-se na produção de caminhões, essenciais para o transporte de tropas, munições, víveres e equipamentos em frentes de combate longas e muitas vezes isoladas. Entre os veículos mais importantes produzidos nesse período destacou-se um caminhão de três toneladas, projetado especificamente para atender às necessidades do exército alemão. Pela primeira vez na história da empresa, adotou-se um sistema de padronização de peças, permitindo que componentes de um veículo fossem utilizados na manutenção de outro. Essa inovação representou um avanço significativo, reduzindo o tempo de reparo no campo de batalha e aumentando a disponibilidade operacional da frota militar  um fator crucial em um conflito marcado por rápidas mudanças e intenso desgaste material. Entretanto, a mobilização nacional trouxe desafios profundos. Cerca de 2.500 funcionários da Opel  uma parcela expressiva da força de trabalho foram convocados para servir no front, deixando lacunas importantes na produção. Para suprir essa carência, a empresa passou a empregar mulheres e prisioneiros de guerra, uma prática amplamente adotada pelas indústrias alemãs durante o conflito. Muitos desses trabalhadores não tinham experiência prévia com máquinas industriais, mas assumiram papéis fundamentais na manutenção das linhas de produção, enfrentando longas jornadas, pressão constante e um ambiente de grande incerteza. A participação dessas pessoas, frequentemente em condições adversas, representou um esforço coletivo de dimensões humanas profundas. Seu trabalho silencioso sustentou a continuidade das operações da Opel e contribuiu para o esforço nacional em um dos períodos mais turbulentos da história europeia. Ao final, a produção de caminhões da Opel não apenas garantiu suporte logístico ao exército alemão, mas também simbolizou a transformação de uma empresa que, em poucas décadas, evoluíra de fabricante de máquinas de costura e bicicletas para um protagonista da indústria automotiva. 
O término da Primeira Guerra Mundial, em novembro de 1918, marcou o início de um período desafiador para a Opel Automobile GmbH, então a maior montadora da Alemanha. Com a derrota do país e as imposições do Tratado de Versalhes, a indústria alemã enfrentou severas restrições, incluindo limitações na produção de bens estratégicos e uma economia abalada pela hiperinflação e pela crise social. Nesse contexto, a Opel, sediada em Rüsselsheim, demonstrou notável resiliência, reconstruindo suas operações e consolidando sua posição como uma força inovadora no setor automotivo europeu. Essa jornada de recuperação foi impulsionada pela determinação de seus trabalhadores e pela visão de seus líderes, que transformaram adversidades em oportunidades para um novo capítulo na história da empresa. Na década de 1920, a Opel lançou modelos que reforçaram sua reputação de inovação e acessibilidade. Um dos marcos foi o Opel 4/12 PS, conhecido como Laubfrosch (“rã verde”), introduzido em 1924. Inspirado em conceitos de produção em massa, esse carro compacto e econômico tornou-se um sucesso comercial, atraindo uma nova geração de consumidores que buscavam mobilidade acessível. O Laubfrosch foi um reflexo do compromisso da Opel em democratizar o automóvel, oferecendo um veículo confiável a um preço competitivo, em um momento em que a Alemanha lutava para se recuperar economicamente.  A empresa também investiu na modernização de suas instalações em Rüsselsheim, incorporando técnicas de produção inspiradas nos avanços da indústria americana, como a linha de montagem. Essa abordagem permitiu à Opel aumentar a eficiência e reduzir custos, consolidando sua posição como líder no mercado automotivo alemão. Em 1928, a Opel alcançou um feito notável, tornando-se a maior produtora de automóveis da Europa, com uma participação de mercado significativa e uma reputação de qualidade e inovação. Um marco crucial na trajetória pós-guerra da Opel foi sua aquisição pela General Motors (GM) em 1929. A parceria com a gigante americana trouxe recursos financeiros, acesso a novas tecnologias e uma visão estratégica que permitiram à Opel expandir suas operações e enfrentar a concorrência global. Sob a égide da GM, a Opel continuou a desenvolver veículos que combinavam engenharia alemã com inovações de produção em massa, mantendo sua identidade enquanto se adaptava às demandas de um mercado em rápida evolução. Essa colaboração também proporcionou estabilidade em um período de turbulência econômica, especialmente com a chegada da Grande Depressão. A Opel, apoiada pela GM, conseguiu manter suas operações e continuar inovando, lançando modelos como o Opel 1.2 Liter em 1931, que reforçava sua oferta de veículos econômicos e confiáveis para o público. Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu em 1939, a Opel Automobile GmbH, sediada em Rüsselsheim, Alemanha, era a maior montadora do país e uma das líderes da Europa, já sob o controle da General Motors (GM) desde 1929. Como uma das principais indústrias automotivas da Alemanha, a Opel foi rapidamente mobilizada para apoiar o esforço de guerra do regime nazista, redirecionando sua expertise em engenharia e produção para atender às demandas militares.  Com o início do conflito, a produção civil de automóveis foi suspensa, e as fábricas da Opel em Rüsselsheim e Brandeburgo foram reorientadas para a fabricação de veículos e equipamentos militares. A empresa concentrou-se na produção do Opel Blitz, um caminhão robusto que se tornou um pilar da logística militar alemã. 

Disponível em várias configurações, como transporte de tropas, ambulâncias e veículos de carga, o Opel Blitz era valorizado por sua confiabilidade e capacidade de operar em terrenos difíceis, desempenhando um papel crucial no transporte de suprimentos e pessoal nas frentes de batalha. Além do Blitz, a Opel produziu componentes para outros equipamentos militares, incluindo peças para aviões e tanques. A fábrica de Rüsselsheim, modernizada após o incêndio de 1911, e a planta de Brandeburgo, inaugurada em 1935, operavam em alta capacidade para atender às exigências do exército alemão. A empresa também fabricou o Opel Maultier, uma variante adaptada para terrenos extremos, com esteiras traseiras que melhoravam a tração em condições como neve e lama, especialmente na Frente Oriental. O término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, trouxe à Opel Automobile GmbH um cenário de desafios sem precedentes. A divisão da Alemanha colocou a fábrica de Brandeburgo, um dos principais centros de produção da empresa, na zona controlada pela União Soviética, além da Cortina de Ferro. As linhas de montagem remanescentes, ou o que sobrou delas, foram transferidas para o território soviético, onde passaram a produzir o Moskwitch, um veículo inspirado no popular Opel Kadett e em outros modelos pré-guerra. Em Rüsselsheim, coração industrial da Opel, 47% das instalações haviam sido devastadas pelos bombardeios aliados nos meses finais do conflito. Com determinação inabalável, a Opel, agora sob a gestão renovada da General Motors Corporation (GM), concentrou seus esforços na reconstrução da fábrica de Rüsselsheim. Em 15 de julho de 1946, um marco histórico foi alcançado: o primeiro caminhão Opel Blitz do pós-guerra saiu da linha de produção, em uma cerimônia que contou com a presença do General Geoffrey Keyes, do Exército dos Estados Unidos (US Army), além de líderes locais e jornalistas. Esse momento simbolizou não apenas a retomada da produção, mas também a renovação da Opel como um pilar da indústria alemã. Nos primeiros anos do pós-guerra, a fábrica de Rüsselsheim diversificou sua produção, fabricando refrigeradores Frigidaire para atender às necessidades imediatas de um mercado em reconstrução. No entanto, o Opel Blitz permaneceu como o coração da identidade automotiva da empresa. Equipado com o confiável motor de seis cilindros a gasolina, originalmente utilizado na limusine militar Kapitän, o caminhão era sinônimo de durabilidade e funcionalidade, características essenciais em uma nação que demandava veículos robustos para reconstruir sua infraestrutura. No final da década de 1940, o departamento de projetos da Opel, sob a liderança da GM, começou a planejar um sucessor para o Opel Blitz, com o objetivo de atender à crescente demanda por caminhões e ônibus em uma Alemanha em recuperação. Lançado no final de 1951, o novo Blitz trouxe inovações modestas, mas significativas. O motor de seis cilindros em linha com válvulas laterais, embora considerado tecnologicamente ultrapassado, manteve-se como uma escolha confiável devido à sua robustez e funcionamento silencioso. Acoplado a uma caixa de câmbio de quatro velocidades, com a primeira marcha não sincronizada, e a uma tração traseira suspensa por molas multifolhas de desmultiplicação simples, o veículo foi projetado para atender às necessidades práticas do período. A inovação mais notável, embora discreta, foi a introdução de uma cabine monobloco em aço. Essa evolução substituiu as antigas carrocerias de chapa montadas sobre estruturas de madeira, que eram pesadas, frágeis e pouco rígidas. A nova cabine, mais leve e resistente, representou um avanço significativo em segurança e eficiência, refletindo o compromisso da Opel em adaptar-se às exigências de um mercado em transformação. 
Na década de 1950, a Opel Automobile GmbH, sob a égide da General Motors, consolidou sua recuperação após os desafios do pós-Segunda Guerra Mundial, lançando o Opel Blitz II, um caminhão que combinava funcionalidade com um design moderno inspirado nos utilitários norte-americanos da Chevrolet. Com linhas que remetiam ao estilo aceito nos Estados Unidos, o Blitz II apresentava laterais pronunciadas, um capô arredondado com uma grade cromada de destaque, portas altas e um para-brisa chanfrado. Esses elementos conferiam ao veículo uma estética sofisticada, comparável aos modelos produzidos em cidades como Detroit e Chicago, tornando-o não apenas um utilitário, mas também um símbolo de inovação em uma Alemanha em reconstrução.  Como caminhão de tonelagem média, o Opel Blitz II ocupava um nicho semelhante ao do Citroën 23Ru no mercado francês, destacando-se por sua economia, confiabilidade e robustez. Ele se tornou o parceiro ideal de pedreiros, pequenos empresários da construção civil, criadores de gado, distribuidores de bebidas e fornecedores de combustível, que dependiam de sua versatilidade para enfrentar as demandas do dia a dia. Disponível em diversas configurações de carroceria, o Blitz II era onipresente, adaptando-se a diferentes necessidades com a mesma determinação que impulsionava a recuperação econômica do país. Em 1960, a terceira geração do Opel Blitz foi apresentada no Salão do Automóvel de Frankfurt, marcando um novo capítulo na evolução do veículo. A cabine semiavançada, inspirada nos furgões de entrega de leite norte-americanos, trouxe um design ainda mais moderno, com um capô curto inclinado, um amplo para-brisa panorâmico e um raio de giro reduzido que garantia excepcional manobrabilidade em ambientes urbanos. Essa configuração foi pensada para facilitar o trabalho de motoristas em cidades movimentadas, onde a agilidade era essencial. A Opel ofereceu uma gama de opções personalizáveis, quase “à la carte”, permitindo que os clientes escolhessem entre diferentes configurações de portas – batente ou corrediça para o motorista, lateral de batente único ou engastada, e traseira em uma ou duas partes, incluindo portas do tipo armário. A alavanca de câmbio, agora posicionada sob o volante, trouxe maior conforto ao motorista, simplificando o trabalho de distribuição e transporte urbano. O motor a gasolina General Motors de seis cilindros, com 2.695 cm³ e 70 cv a 3.600 rpm – o mesmo utilizado nos sedãs de luxo da marca –, oferecia um equilíbrio entre leveza e torque, embora seu consumo elevado fosse uma limitação em comparação com os motores a diesel, um mercado dominado pela Mercedes-Benz. Em maio de 1965, a Opel lançou a quarta geração do Blitz, respondendo às demandas do mercado com a introdução de uma opção de motor a diesel. Os clientes podiam escolher entre o motor a gasolina de seis cilindros, agora com 80 cv, ou o motor diesel XPD-90 de 2.100 cm³ e 60 cv, produzido pela Indenor (Grupo Peugeot). Embora menos potente, o motor diesel destacava-se por sua alta confiabilidade e baixo consumo, oferecendo economia significativa para os usuários diários. Essa inovação posicionou o Blitz como uma opção mais competitiva em mercados de exportação, onde a ausência de motores a diesel havia sido uma desvantagem. A partir de 1970, a última versão do Opel Blitz incorporou uma caixa de câmbio sincronizada de cinco marchas, permitindo melhor aproveitamento da potência do motor diesel. Produzido até 1975, o Blitz continuou a ser um símbolo de confiabilidade, atendendo às necessidades de trabalhadores que viam no veículo um parceiro indispensável para suas atividades. Em 1975, seu sucessor, desenvolvido pela Bedford, uma subsidiária britânica da General Motors, assumiu o nome Blitz e continuou a ser produzido na fábrica alemã, mantendo o legado de versatilidade e inovação.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, representou um marco decisivo na evolução das forças armadas ao redor do mundo. O conflito demonstrou de maneira incontestável a importância dos veículos automotores no campo de batalha, estabelecendo-os como elementos centrais da doutrina militar moderna. No Brasil, essa mudança de paradigma não passou despercebida. A jovem oficialidade do Exército Brasileiro, profundamente influenciada por ideais de progresso e modernização, reconheceu na motorização um caminho promissor para o fortalecimento das capacidades operacionais da força. Esse entusiasmo foi igualmente compartilhado pelas então chamadas Forças Públicas  hoje as polícias militares  que viam nos veículos motorizados um instrumento de eficiência e profissionalização. Esse movimento refletia mais do que uma simples adoção tecnológica: simbolizava uma aspiração nacional por modernidade em um período em que o país buscava se consolidar no cenário internacional e superar antigas limitações estruturais. No início da década de 1920, o Exército Brasileiro incorporou seus primeiros veículos automotores, destacando-se entre eles os caminhões Ford Modelo T. A escolha desse modelo tinha razões claras. A Ford Motor Company, pioneira ao se estabelecer no Brasil em 1919, introduziu a produção em larga escala no país, tornando seus veículos amplamente acessíveis. Os Ford T eram montados localmente pelo sistema CKD (completely knocked down), no qual peças importadas eram reunidas e montadas em território nacional. Embora concebidos originalmente para uso civil, esses veículos passaram por adaptações para atender às demandas militares. Simples e robustos, representaram um avanço significativo em uma época em que cavalos e carroças ainda predominavam como meios de transporte nas unidades do Exército. A Ford, entretanto, não era a única protagonista desse cenário emergente. Dividindo espaço com ela, competiam empresas norte-americanas e europeias, com destaque para a General Motors — conhecida no Brasil pela marca Chevrolet. A Chevrolet rapidamente assumiu posição de liderança no mercado brasileiro de caminhões e utilitários, graças à reputação de resistência e confiabilidade de seus veículos. Assim como os modelos da Ford, seus caminhões originalmente civis foram adaptados para funções militares, contribuindo para a transição do Exército para uma estrutura logística mais moderna e eficiente. Em 1923, o Exército Brasileiro deu um passo decisivo rumo à consolidação dessa nova era ao criar o Serviço Central de Transportes (SCT), sediado no Rio de Janeiro, então capital federal. A unidade foi equipada com diversos modelos de caminhões e veículos especialmente adaptados para uso militar. Os veículos eram geralmente adquiridos diretamente dos fabricantes, compostos apenas pelo chassi, motor e parte dianteira; todo o restante  carrocerias, implementos, compartimentos especiais  era construído e adaptado pelo próprio Exército. O SCT possuía um parque de montagem e manutenção considerado avançado para os padrões da época, símbolo de eficiência e autonomia operacional. Ali, militares e trabalhadores especializados transformavam chassis básicos em veículos aptos a cumprir funções variadas — desde transporte de suprimentos até missões específicas de engenharia e comunicações. O trabalho exigia habilidade técnica, criatividade e dedicação, características que ajudaram a moldar a identidade de uma força terrestre em processo de modernização.

Assim, o Serviço Central de Transportes tornou-se um marco na história da motorização militar brasileira, consolidando-se como expressão do esforço do Exército em acompanhar as transformações tecnológicas do pós-guerra e preparar suas tropas para os desafios de um mundo que caminhava rapidamente rumo à mecanização. A primeira grande demonstração do potencial dos veículos automotores no Exército Brasileiro ocorreu durante a Revolução de 1924, particularmente na frente do Paraná. Sob o comando do General Cândido Mariano da Silva Rondon, um líder visionário, diversos veículos – tanto civis quanto militares – foram empregados em funções estratégicas. De ambulâncias que transportavam feridos, garantindo cuidados médicos em meio ao conflito, a pequenos caminhões que moviam tropas rapidamente, esses veículos provaram sua importância em um cenário de combate. A mobilidade proporcionada pelos automotores não apenas aumentou a eficiência operacional, mas também trouxe um novo nível de agilidade às forças brasileiras, marcando um divisor de águas na história militar do país. Para os soldados que operavam esses veículos e para os feridos que dependiam de sua chegada, os caminhões representavam mais do que máquinas – eram instrumentos de esperança e sobrevivência. O General Rondon, com sua visão estratégica, reconheceu o valor dessa tecnologia, utilizando-a para fortalecer a capacidade de resposta de suas tropas e consolidar o papel dos veículos no futuro do Exército Brasileiro. Na década de 1930, o Exército Brasileiro consolidou sua trajetória de modernização, incorporando uma ampla gama de veículos militares e militarizados, tanto sobre rodas quanto sobre lagartas, provenientes de marcas renomadas como Ford, Chevrolet, Dodge, International, Thornycroft, Commer, Somua, Henschel e Krupp. Essa diversidade refletia a busca por soluções que atendessem às crescentes demandas logísticas e operacionais de uma força armada em transformação. Contudo, em meio à multiplicidade de fornecedores, emergiu uma preferência clara por caminhões leves e médios produzidos ou montados localmente, utilizando o sistema completely knocked down (CKD), no qual componentes importados eram montados no Brasil. Essa abordagem não apenas fortalecia a indústria nacional, mas também garantia maior acessibilidade e manutenção dos veículos, fundamentais para as operações militares. Em 27 de setembro de 1937, o Exército Brasileiro formalizou sua estratégia de aquisição de veículos por meio do “Aviso 658”, uma normativa que estipulava a compra exclusiva de modelos fabricados por quatro montadoras: Ford Motor Company, General Motors Corporation (Chevrolet), Dodge Motor Company e Commer Motors. Essa decisão visava padronizar a frota, reduzindo custos de manutenção e simplificando a logística de suprimentos. A medida refletia o compromisso com a eficiência operacional, mas também a visão de uma instituição que reconhecia a importância de alinhar-se às capacidades industriais disponíveis no país. Nesse contexto, a General Motors Corporation, popularmente conhecida no Brasil como Chevrolet, começou a ganhar destaque nas fileiras do Exército Brasileiro, rivalizando em igualdade com a Ford do Brasil S/A. 
A preferência por essas marcas era impulsionada não apenas pela qualidade de seus veículos, mas também pela infraestrutura de montagem e suporte que ambas ofereciam no Brasil, garantindo prontidão e confiabilidade em um cenário de recursos limitados. Entre os primeiros veículos da nova geração adquiridos pelo Exército estavam os caminhões leves Chevrolet Modelos 112 e 137, apelidados de Tigre e Comercial. Esses modelos, robustos para a época, conquistaram espaço devido à sua versatilidade e à capacidade de operar em diferentes condições. Outro veículo amplamente adotado foi a picape Chevrolet 1941, disponível em versões com cabine aberta, ideal para o transporte de pessoal, ou cabine fechada, voltada para cargas. Apesar de sua popularidade, esses modelos apresentavam limitações em termos de capacidade de carga, não atendendo plenamente às necessidades operacionais do Exército Brasileiro, que exigia veículos mais robustos para suportar as demandas de transporte militar. A solução para esse desafio veio com a introdução do Chevrolet 157 Gigante 937, um caminhão com capacidade de transporte de 1,5 tonelada. Esse modelo representou um avanço significativo em relação aos seus predecessores, oferecendo maior robustez e eficiência. Para os militares que dependiam desses veículos em missões de transporte de tropas, suprimentos ou equipamentos, o Gigante era mais do que um caminhão – era um aliado confiável, capaz de enfrentar as estradas precárias e os desafios logísticos de um país em desenvolvimento. A adesão do Brasil ao programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) em 1941 marcou um momento decisivo para as Forças Armadas Brasileiras, particularmente para o Exército Brasileiro. Por meio desse acordo, o país recebeu milhares de caminhões militares com tração 6x6 e 4x4, incluindo centenas de modelos fabricados pela General Motors Corporation, como os GMC G7106, G7107, G-617M, G-506, G-085 M-6 e G-620, além de veículos produzidos pela Ford e Dodge. Esses caminhões representaram um salto significativo na capacidade de mobilização das forças brasileiras, permitindo que os antigos Chevrolet 157 Gigante 937, já obsoletos para as demandas táticas, fossem realocados para funções administrativas e de apoio secundário. Para os militares que operavam esses novos veículos, eles eram mais do que máquinas – eram instrumentos de prontidão e soberania, fortalecendo a presença do Exército em um período de tensões globais. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, o Exército Brasileiro enfrentou a necessidade de redefinir suas prioridades. A experiência adquirida durante o conflito, incluindo a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, destacou a importância da mobilidade e da logística eficiente. Nesse contexto, foi iniciado um movimento de profunda reorganização da frota de caminhões de transporte, com um novo foco em missões de transporte leve voltadas para a integração territorial do Brasil. Essas missões, essenciais para conectar regiões remotas e consolidar a presença militar no vasto território nacional, demandavam veículos com tração 4x4, que ofereciam o melhor equilíbrio entre custo, benefício e versatilidade.

No início da década de 1950, o Exército Brasileiro enfrentava um desafio significativo: grande parte da frota de caminhões de pequeno porte recebida por meio do esforço de guerra encontrava-se desgastada, inoperante ou totalmente fora de serviço. A escassez de peças de reposição  resultado direto das complexas condições logísticas do pós-guerra  reduziu drasticamente a disponibilidade desses veículos, comprometendo a capacidade de transporte em um momento em que o país buscava ampliar sua presença em regiões remotas e fortalecer sua infraestrutura militar. Embora a aquisição de caminhões militares importados fosse a solução tecnicamente mais adequada, as severas limitações orçamentárias da época tornavam essa alternativa inviável. Diante desse cenário, o Exército optou por uma estratégia pragmática e financeiramente sustentável: adquirir caminhões comerciais produzidos no Brasil, que combinavam custos operacionais mais baixos, maior facilidade de manutenção e a robustez necessária para cumprir missões militares de transporte e apoio logístico. Nesse contexto, a General Motors do Brasil S/A emergiu como uma parceira natural para as Forças Armadas. Na década de 1950, a empresa vivia um período de expansão sem precedentes no mercado civil, consolidando sua liderança no segmento de caminhões e utilitários. O reconhecimento da marca Chevrolet pela durabilidade e pela confiabilidade de seus veículos reforçava sua credibilidade junto ao setor público. Sua escala industrial permitia preços competitivos, especialmente nas linhas de caminhões leves e médios, que se ajustavam perfeitamente às necessidades do Exército. A confiança dos militares na General Motors não era fortuita. O desempenho dos veículos Chevrolet no mercado civil  em frotas governamentais, pequenas empresas e no setor de serviços  já havia demonstrado sua capacidade de enfrentar condições adversas e oferecer manutenção simplificada, características essenciais para operações militares em um país de dimensões continentais. Foi nesse ambiente que o governo brasileiro abriu uma concorrência pública para a aquisição de um grande lote de caminhões comerciais com tração 4x2, destinados a substituir a frota debilitada do imediato pós-guerra. A licitação atraiu três importantes fabricantes presentes no Brasil: Ford Motor Company Brasil Ltda, Dodge Motors do Brasil S/A e General Motors do Brasil S/A. Entre as propostas apresentadas, a da General Motors destacou-se pelo Opel Blitz II, um caminhão de porte médio amplamente reconhecido no mercado civil por sua robustez e eficiência. Compacto e versátil, mas com excelente capacidade de carga, o Blitz II havia se tornado indispensável para autônomos e pequenas empresas dos setores de construção, transporte e distribuição. Sua reputação de confiabilidade estendia-se também ao setor público: diversos Corpos de Bombeiros estaduais utilizavam o modelo como viatura de intervenção rápida, valorizando sua agilidade e baixo custo de operação. A proposta da General Motors oferecia uma combinação difícil de superar: preço extremamente competitivo, durabilidade comprovada e disponibilidade de uma rede de manutenção já consolidada em território nacional. 
Assim, o Blitz II surgiu como a solução ideal para o Exército Brasileiro, não apenas suprindo as necessidades de transporte leve, mas também materializando o esforço de modernização de uma força armada que buscava se adaptar aos novos tempos, mantendo equilíbrio entre eficiência operacional e responsabilidade financeira. Após uma avaliação rigorosa, o Opel Blitz II foi declarado vencedor da concorrência, marcando um marco significativo na modernização do Exército Brasileiro. Em meados de 1951, o Ministério do Exército formalizou um contrato com a General Motors do Brasil para a aquisição inicial de pelo menos 300 caminhões. Por se tratar da versão comercial básica, sem adaptações específicas para uso militar, as entregas foram iniciadas imediatamente, com os primeiros veículos chegando às unidades operativas ainda no mesmo ano. Essa rapidez na implementação refletiu a eficiência da General Motors e a urgência do Exército em revitalizar sua frota. Neste período, a incorporação de uma nova frota de caminhões Opel Blitz II ao Exército Brasileiro marcou um passo significativo na modernização de suas unidades, especialmente os Regimentos de Cavalaria, que, a partir de 1969, seriam redesignados como Regimentos de Cavalaria Mecanizados, refletindo a extinção definitiva da tração hipomóvel no Brasil. Em serviço receberiam as designações de  "TNE Auto Caminhão Carga 4x2" e TNE Caminhão Carga 1/ ¾ Ton 4x2.  Concentrados principalmente nas regiões Sul e Sudeste, esse processo de mecanização representou não apenas uma evolução tecnológica, mas também um símbolo de progresso, conectando a determinação dos militares à missão de fortalecer a mobilidade e a eficiência operacional em um país de vastas dimensões.  Apesar de sua robustez e versatilidade, a capacidade de transporte do Blitz II era limitada devido ao seu porte médio, permitindo o carregamento de apenas seis soldados de infantaria totalmente equipados ou equipes de apoio com armamentos pesados, como morteiros de 81 mm, metralhadoras Browning M-2 calibre .50 de fabricação norte-americana ou as antigas metralhadoras dinamarquesas Madsen 7 mm montadas em tripé. Mesmo com essa restrição, o Blitz II provou ser um aliado confiável, demonstrando notável desempenho em terrenos variados e consolidando sua reputação como um veículo resistente e adaptável. A versatilidade do Opel Blitz II brilhou especialmente durante treinamentos operacionais de grande relevância, como a manobra “A Grande Marcha de 1960”. Nesse evento, os caminhões prestaram suporte logístico essencial ao Décimo Esquadrão Independente de Cavalaria de Guarapuava, que percorreu cerca de 400 km a cavalo até Londrina, no norte do Paraná, para participar do desfile de Sete de Setembro. Embora o Opel Blitz II tenha desempenhado seu papel com distinção, sua capacidade limitada de transporte tornou-se um obstáculo à medida que as demandas operacionais do Exército Brasileiro evoluíam. A partir da primeira metade da década de 1960, os caminhões começaram a ser complementados e gradualmente substituídos por novos modelos produzidos localmente pela General Motors do Brasil, como o Chevrolet Brasil 6500, e, posteriormente, pela família Chevrolet C-60 e D-60. Esses veículos, projetados para atender às necessidades de transporte militar com maior capacidade e eficiência, marcaram o próximo capítulo na mecanização das forças armadas.

Em Escala 
Para representarmos o Opel Blitz II Comercial TNE Carga "EB21-3412 empregado pelo Exército Brasileiro usamos o modelo em die cast produzido pela Axio para a Editora Altaya na escala 1/43. Assim como a versão militarizada apresenta mínimas diferenças em relação a versão civil, procedemos uma leve conversão em scratch e incluímos como detalhamento itens em resina para representar a carga , para se obter a configuração empregada pelo Exército Brasileiro. A identificação visual do “EB21-3412” foi recriada com a aplicação de decais de alta qualidade, produzidos pela Eletric Products e pertencentes ao conjunto “Exército Brasileiro 1942-1982”
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático do Exército Brasileiro aplicado em todos seus veículos militares desde a Segunda Guerra Mundial até  o final do ano de 1982, pequenas alterações seriam relacionadas apenas as marcações de identificação. Os Opel Blitz II Comercial  TNE Carga, manteriam este padrão até sua retirada do serviço ativo.  Na recriação desse padrão para fins de modelismo ou restauração, foram utilizadas tintas de alta qualidade produzidas pela Tom Colors, conhecidas por sua precisão e fidelidade às especificações originais. 

Bibliografia :
- Caminhões Brasileiros de Outros Tempos - Opel Blitz II - Editora Ataya
- Opel Blitz II Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Opel_Blitz
- A Grande Marcha de 1960 -  Jose M. Gracia Araujo - https://dirceupato.blogspot.com/
- Veículos Militares  do Brasil – EB e CFN https://www.facebook.com/groups/blindadosbrasil