História e Desenvolvimento.
Do ponto de vista da engenharia automotiva com aplicação militar, a Segunda Guerra Mundial representaria um período de evolução sem igual. Em um intervalo de seis anos, exércitos que ainda utilizavam a cavalaria de forma literal com cavalos seriam substituídos por divisões blindadas com carros de combate com peso de até 76 toneladas. Na ponta de lança dessa corrida tecnológica estava a Alemanha e sua já prestigiada indústria automotiva, que ao longo do conflito conceberia e produziria em larga escala lendários modelos de carros de combate, os "Panzer ou Panzerkampfwagen" (que em alemão, significa couraça). Estes em maciço conjunto com veículos blindados especializados e de transporte de tropas seriam as ferramentas empregadas na doutrina Blitzkrieg (Guerra Relâmpago), que em combate rompiam rompiam os pontos frágeis das defesas inimigas e os exploravam com velocidade atordoante, garantindo nas fases iniciais da guerra retumbantes vitórias. No entanto apesar de deterem a vantagem tecnológica, os icônicos Panzers seriam superados em números por seus rivais norte-americanos no front ocidental ou pelos eficientes T-34 soviéticos no leste europeu. O desempenho deste último que não só rivalizava, mas superava os blindados alemães clarificaria o talento da indústria da União Soviética (URSS) em produzir carros de combate robustos e com grande poder de fogo. Este sucesso se repetiria com os novos T-44 e T-54 lançados em fins da década de 1940 e início da década seguinte, sendo produzidos em larga escala para equipar as forças do bloco soviético. Neste campo a resposta norte-americana seria dada com o desenvolvimento de carros pesados, inicialmente com o M-46 Paton que entraria em serviço no ano de 1949, passando a substituir o M-26 Pershing e M-4 Sherman. Em 1951 seriam incorporados os primeiros M-47, com este se tornado o veículo padrão em uso tanto no Exército dos Estados Unidos (US Army) quanto no Corpo de Fuzileiros Navais (United States Marine Corps). Apesar destes dois modelos representarem grandes avanços, as forças armadas norte-americanas ainda se ressentiam da falta de um MBT "Tanque de batalha principal" (Main Battle Tank), com esta demanda sendo atendida a partir de 1952 com a introdução do M-48 Patton, que fazia uso de um novo canhão de 90 mm com carregamento automático, e sistema de blindagem reforçada de apliques compostos feitos com vidro de sílica fundido foram concebidos para serem instalados no casco. Apresentava ainda um novo sistema de controle de fogo que incluía um telêmetro, computador balístico mecânico, acionamento balístico e mira de artilheiro. Rapidamente o M-48 se tornaria o esteio da força de carros de combate dos Exército dos Estados Unidos (US Army) e do Corpo de Fuzileiros Navais (United States Marine Corps), substituindo os M-46 e M-47. Milhares destes carros de combate, seriam ainda exportados para nações aliadas, com sua produção final até o ano de 1956, superando a casa das doze mil unidades.
Na segunda metade da década de 1950 a União Soviética passaria a introduzir em seu exército, versões atualizadas do T-54 , que incluíam mais de 1.400 modificações elevando o patamar operacional do modelo, despertando grande preocupação por parte dos norte-americanos. Este cenário seria agravado logo em seguida quando agencias de inteligência identificaram o processo de desenvolvimento de um novo carro de combate soviético o T-55. Neste momento ficava claro que as versões posteriores do M-48 Patton (inclusive equipadas com canhão de 105 mm) não seriam páreo para enfrentar nos hipotéticos campos de batalha na Europa os novos carros de combate soviéticos. Além das qualidades destes novos carros de combate, a balança pesava a favor das Forças do Pacto de Varsóvia pela sua incrível superioridade numérica. Este grave cenário levaria ao estudo com a finalidade de se implementar uma emergencial modernização na frota de carros de combate M-48 Patton, porém análises detalhadas revelariam, que qualquer processo adota neste aspecto resultaria em resultados pouco eficazes. Desta maneira para atender a esta demanda se faria necessário o desenvolvimento de uma segunda geração de MBT (Tanque de batalha principal), com esta iniciativa sendo deflagrada em abril de 1957. Este programa sobre a égide "MBT T-95" estaria estabelecido sobre parâmetros inovadores e experimentais para um carro de combate, se destacando o canhão T-208 de alma lisa de 90 mm, fixado rigidamente à sua torre, design inovador de motor em forma de "X", uma nova estrutura de blindagem composta e sistema de telêmetro infravermelho. Porém depois verificou-se que desenvolvimento destas inovações e sua implementação funcional no novo carro de combate, acabariam resultando em consideráveis atrasos no cronograma geral, com projeto passando a conter uma abordagem mais convencional. O projeto apesar de promissor seria muito influenciado por um fato inusitado, pois em 1956 durante a Revolução Húngara, um T-54A foi levado pelos húngaros à embaixada do Reino Unido em Budapeste, neste momento o carro seria submetido a um breve exame por parte de oficiais e técnicos britânicos. Este processo levaria a conclusões importantes, entre elas que as munições anticarro do tipo HEAT (High Explosive Anti Tank) ou Armor-Piercing Capped (APC), então existentes no inventário da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) eram incapazes de penetrar sua blindagem frontal. Perplexos os britânicos iniciariam esforços para contrapor este nível de ameaça, levando assim ao desenvolvimento do novo canhão de 105 mm, o Royal Ordnance L7. Esta arma passaria a equipar o carro de combate FV4007 Centurion, proporcionando assim oferecer um poder de fogo que pudesse infringir danos a blindagem dos carros de combate soviéticos.
Estes dados seriam compartilhados com os militares norte-americanos, passando a influenciar diretamente o programa do carro principal de combate "MBT T-95", e as ponderações resultantes deste estudo levariam a criação do programa XM-60, que passaria a gerido pelo Comitê do Exército para Veículos de Combate (Army Combat Vehicle-ARCOVE). A fim de favorecer o custo de aquisição e operação (além de aproveitamento de ferramental) seria definido que novo carro de combate fosse desenvolvido a partir da plataforma do M-48 Patton, considerando a várias características técnicas do M-26 Pershing. Para escolha da arma principal seriam realizados em 1958 testes comparativos no campo de provas Aberdeen Proving Grounds envolvendo seis modelos de canhões diferentes. Neste processo seria avaliado a precisão, letalidade de um golpe, taxa de tiro e desempenho de penetração de cada concorrente, com a escolha pendendo para a adoção do modelo T-123E6 de 105 mm (sendo este uma versão sob licença do canhão britânico Royal Ordnance L7). Além de apresentar melhor avaliação nos itens aferidos, esta arma fazia uso de uma ampla variedade de munições já usadas no canhão M-58, como APDS-Tracer (APDS-T) (M392 e M728), Armour-Piercing Fin-Stabilized Discarding Sabot-Tracer (APFSDS-T) (M735 e M774), APFSDS Depleted Uranium (DU) (APFSDS-DU) (M833), HEAT-FS (M456), APDS, HEP, HESH e M393), disponíveis em grandes quantidades nos paios do Exército dos Estados Unidos (US Army). Após ajustes no projeto o modelo receberia a designação de M-68 passando a ser produzido pelo Arsenal de Guerra Watervliet em Nova York. Seu conjunto de blindagem seria construído em apliques compostos feitos com vidro de sílica fundido, sendo projetados para serem montados no casco. Isso levaria a um completo redesenho da frente do casco na forma de uma cunha plana, em vez da frente elíptica presente no design do M-48 Patton. Esta solução apresentava melhorias no sistema de proteção final do casco, que apesar de dispor de 93mm ao invés de 114 mm possuía um ângulo mais íngreme, aumentando assim a eficiência da blindagem. Apesar de eficaz este sistema de blindagem seria abandonado na segunda versão de produção, levando a adoção de uma armadura de aço convencional, apresentando uma melhor relação de custo-benefício. O novo veículo receberia ainda o moderno motor a diesel Continental V-12 Twin Turbo refrigerado a ar desenvolvendo 750 hp de potência. O contrato de aquisição envolvendo 45 carros de pré-produção seria aprovado em abril de 1959, com a produção inicial iniciada em junho nas linhas de montagem da fábrica de defesa da Chrysler Corporation em Delaware.
As primeiras entregas ocorreriam entre novembro e dezembro de 1959, com os M-60 sendo destinados a um elaborado programa de avaliação no Campo de Provas de Aberdeen, com um segundo e terceiros lotes de carros sendo contratos para emprego junto Centro de Testes do Arsenal de Detroit e Fort Knox. Um quarto lote piloto foi concluído em 26 de outubro sendo usado como casco mestre para verificar os padrões de produção na fábrica de tanques de Detroit, com um total de produção inicial de baixa taxa de 180 carros de combate construídos em 1959. A produção em série, teria início com o lote de outubro de 1960, seria construída na fábrica de tanques do Detroit Arsenal, em Warren, Michigan, atingindo então o patamar de capacidade operacional com o envio para unidades do Exército na Europa a partir de dezembro do mesmo ano. Apesar de representar um grande avanço sobre os M-48 Patton, verificou se durante seu processo de introdução no serviço ativo, que o novo carro de combate carecia ainda de melhorias de projeto, levando a avaliação para implementação de soluções que viessem a atender a estas demandas. Assim no início do ano de 1960 nascia o programa M-60A1, com os primeiros protótipos sendo submetidos a testes no mês de março e abril. A nova versão abandonava o sistema de blindagem composto, e passava a dispor de uma torre com maior proteção balística, periscópios IR de visão infravermelho e motor Continental AVDS-1790-2A (que apresentava um perfil de uso mais econômico e com menor emissão de fumaça). Após um amplo programa de testes de campo realizados campo em Fort Knox, o modelo receberia em 22 de outubro de 1961 sua aceitação operacional. Com as definições oficializadas, seria celebrado no final deste mesmo ano um contrato no valor de US$ 61.000.000 milhões de dólares prevendo a aquisição inicial de 720 carros. Sua produção teve início em 13 de outubro de 1962, a partir das linhas de montagem da Detroit Arsenal Tank Plant, uma subsidiária da Crysler Automotive Company, com o modelo se mantendo em produção por vinte anos. A próxima versão seria designada como M-60A2 e seria fruto de estudos para o emprego de misseis antitanques guiados disparados pelo veículo. Diversos protótipos foram testados no campo de provas de Aberdeen, com o modelo M-60A1E2 sendo aceito pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) em 1970. Um contrato de 540 carros seria firmado, com as entregas sendo efetuadas a partir de 1975. No entanto, os modelos M-60A1 e M-60A2 ainda eram incapazes de disparar com precisão em movimento, esta deficiência começou a ser solucionada a partir de 1978, quando iniciaram-se os trabalhos de desenvolvimento da variante M-60A3. Essa versão além de agregar um eficiente sistema de estabilização de tiro em movimento, que em conjunto com novo computador balístico M-21 criava uma plataforma estabilizada que permitia a realização do tiro a longas distancias, (incluindo munição tipo flecha APFDS) com elevada probabilidade de acerto no primeiro tiro, mesmo contra alvos em movimento e sob qualquer situação climática e de visibilidade. Os primeiros carros começariam a ser entregues as unidades operativas a partir de meados de 1979.

Em serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (US Army) e Corpo de Fuzileiros Navais Americanos (US Marine Corps) o M-60A3 representaria o carro de combate padrão, até começar a ser substituído em grande escala pelo novo Carro de Combate Principal (MBT) M-1 Abrams a partir de 1984. Desta maneira cerca de 3.000 carros seriam transferidos para as unidades da Guarda Nacional do Exército (National Guard), a fim de serem armazenados para reforçar as unidades ativas do Exército na Europa em caso de conflito. Uma parte desta frota seria submetida a programa de atualização, resultando nos modelos M-60AX e M-60A4 No entanto um representativo número ainda permaneceria em serviço, participando ativamente da primeira e da segunda guerra do Golfo. O modelo se destacaria no mercado internacional, com centenas sendo fornecidos a nações amigas nos termos do programa de Vendas Militares Estrangeiras dos Estados Unidos (FMS). Estes carros receberiam a designação de E-60, sendo customizados de acordo com modificações solicitadas, como remoção da cúpula M-19, diferentes modelos de metralhadoras, eletrônicos, sistemas de controle de fogo ou rádios, placas de blindagem externas, lançadores de fumaça e motores. Israel se notabilizaria como principal operador com 1.350 carros, implementando localmente um grande número de melhorias criando o modelo Magach 6. A Jordânia também promoveria um programa semelhante resultando no M60A3 Phoenix, equipado com canhão de cano liso RUAG Land Systems L50 de 120 mm com uma taxa de disparo de 6 a 10 tiros por minuto, operando em conjunto com Sistema Integrado de Controle de Fogo (IFCS) da Raytheon, consistindo em um telêmetro a laser seguro para os olhos, visão noturna de segunda geração, computador balístico digital, sensores de escala e um barramento de dados MIL-STD 1553. Além destes a família M-60 dotarias as forças armadas da Bósnia, Herzegovina, Bahrain, Alemanha, Espanha, Egito, Grécia, Irã, Jordânia, Líbano, Marrocos, Omã, Portugal, Arábia Saudita, Espanha, Taiwan, Sudão, Tailândia, Tunísia, Singapura Brasil, Turquia, Áustria, Etiópia, Itália, Iêmen e Ucrânia, onde muitos ainda permanecem em serviço ativo.
Emprego no Exército Brasileiro.
A implementação da arma de cavalaria blindada no Brasil, seria desenvolvida e potencializada a partir da Segunda Guerra Mundial, quando do fornecimento de centenas de carros de combate dos modelos M-3 Stuart, M-3 Lee e M-4 Sherman. Esta imponente frota para os padrões regionais naquele período, traria grande capacidade operacional para a Força Terrestre. Apesar deste cenário, poucos anos depois estes carros de combate se encontrariam obsoletos, levando a necessidade de implementação de um ciclo de renovação dos meios blindados. Desta maneira em meados da década de 1960, seriam incorporados nos termos do Programa de Assistência Militar (MAP - Military Assistance Program) os primeiros carros de combate médios M-41 Walker Buldog. Ao substituir ou complementar os antigos modelos M-4 e M-4A1 Sherman, M-3 Lee e M-3 e M-3A1 Stuart, estes novos blindados trariam o contato e imersão das tripulações brasileiras a inovações tecnológicas de grande monta, como torres com sistema de acionamento hidráulico, sistema de visão infravermelho (M-41A3), canhões mais eficientes, maior velocidade de deslocamento e conjuntos mira mais precisos. No entanto o rápido avançar da tecnologia naquele mesmo logo traria a obsolescência neste segmento ao Exército Brasileiro. No início da década de 1970 seriam desenvolvidas iniciativas de modernização ou desenvolvimento pela indústria nacional em parceria com os militares. Este processo visava garantir localmente os meios para a promoção de um novo ciclo de renovação da Arma de Cavalaria Blindada Brasileira. Entre estes esforços destacamos os projetos Bernardin X1 e X-1A, M-41B e M-41C Caxias, no entanto estas seriam soluções paliativas de pouco êxito operacional. Paralelamente esforços mais ousados como os projetos Bernadini MB-3 Tamoyo e Engesa EET-1 P1 Osório, porém infelizmente não avançariam além dos estágios de protótipos. Estes acontecimentos impactariam severamente a Força Terrestre, que em espera de uma solução nacional não promoveria a inclusão de novos carros de combate, ficando assim claramente defasado em relação as hipotéticas ameaças representadas no cone sul. No início da década de 1990, a força de carros de combate de primeira estava composta pelos modelos modernizados M-41B e M41C Caxias, que apesar de estarem disponíveis em grande escala, já eram considerados obsoletos para operação em uma moderna arena de combate. Se fazia necessário então em curto espaço de tempo prover a substituição destes carros na linha de frente, devendo-se também substituir por completo os modelos Bernardini X-1 Pioneiro & X-1A2 Carcará que ainda dotavam dois Regimentos de Carros de Combate (RCC).
Esta demanda passaria a ser considerada como prioridade, dentro do escopo do programa Força Terrestre 90 (FT 90), que tinha como meta a curto prazo na construção do “exército do futuro”, que deveria se estender até 2015, envolvendo os planos Força Terrestre 2000 (FT 2000) e Força Terrestre do Século XXI (FT 21). Desta maneira seria previsto a análise e aquisição de um substancial lote de carros blindados de nova geração, que a médio prazo deveria substituir toda a frota atual, envolvendo principalmente os carros de combate. Uma concorrência seria aberta, passando-se a analisar propostas internacionais que envolviam o modelo francês AMX 30, o alemão Krauss Maffei Leopard I, o norte-americano Chrysler M-60A3 e curiosamente até o russo LKZ T-80, que chegaria a ser avaliado por uma comitiva brasileira em uma viagem a aquele país. Neste contexto a preferência do Exército Brasileiro acabaria para pender para o modelo alemão, no entanto os investimentos pretendidos para a aquisição de mais de cem carros de combate "novos de fábrica" acabariam por ser obstruídos pela estagnação econômica nacional naquele momento específico, que culminariam em severos cortes nos orçamentos destinados as Forças Armadas naquela década. A fim se adequar a realidade orçamentaria premente, este programa passaria a ser norteado com buscas em compras de oportunidade, sendo analisadas diversas propostas no mercado internacional. Entre estas se destacaria uma oferta apresentada pelo governo da Bélgica envolvendo carros de combate usados do modelo Leopard 1A1, unidades oriundas do primeiro lote, produzidos entre os anos de 1968 e 1971. Salientando que estes haviam sido atualizados na década de 1980 para uma versão intermediaria com alterações eu seus sistemas de mira e comunicações. Esta movimentação não passaria desapercebida pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos (DoD), que buscava neste momento fortalecer sua influência geopolítica junto ao governo brasileiro. Uma das vertentes desta iniciativa visava retomar a preferência como principal fornecedor itens militares, tendo em vista que em 1977, após o rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos, o país passaria a ser atendido somente pela indústria europeia. A fim de reverter este cenário, em 1996 seria apresentado ao governo brasileiro uma proposta extremamente interessante em termos financeiros, envolvendo a cessão de carros de combate em forma de leasing. Para este processo seria escolhido um lote de veículos usados, porém em excelente estado de conservação do modelo M-60A3 TTS, que se encontravam em reserva técnica, após serem substituídos pelos novos MBT M-1 Abrams. Esta proposta envolvia a cessão de um lote de noventa e um carros de combate M-60A3 TT, munição, peças reposição e treinamento, a um custo total de US$ 12.000.000 milhões de dólares.
No entanto este contrato a ser firmado, apresentava normativas referentes a limitações de uso em situações de conflagração real, sendo seu emprego neste caso vedado caso não houvesse prévia anuência do governo norte-americano. Apesar disto a proposta se mostrava extremamente vantajosa, tanto em termos técnicos quanto econômicos, culminando na aceitação por parte do governo brasileiro. Em meados do ano de 1996, uma comitiva de oficiais do Exército Brasileiro foi enviada para a base da Guarda Nacional do Exército (National Guard) em Fort Drum no estado de Nova York, onde estes carros de combate se encontravam armazenados a fim de se proceder uma avaliação e escolha dos noventa e um M-60A3 TT. Paralelamente outra equipe formada, desta vez formada por Oficiais e Sargentos de Material Bélico, seria enviada ao Fort Dix, em New Jersey, a fim de realizar o curso de manutenção da nova viatura. E por fim uma terceira equipe composta por Oficiais e Sargentos de Cavalaria seria selecionada para ser tornarem os multiplicadores do curso de guarnição dos carros de combate M-60A3 TTS. Apesar do contrato de aquisição dos carros de combate Krauss Maffei Leopard 1A1 ter sido celebrado antes do acordo para a cessão por leasing, os blindados norte-americanos seriam recebidos no Brasil em fevereiro de 1997, poucos meses antes da chegada dos blindados alemães, este movimento afirmava o o interesse do Departamento de Estado daquele país em não perder influência junto ao governo brasileiro. Após realizada inspeção padrão de recebimento, estas viaturas seriam distribuídas ao 4º Regimento de Carros de Combate (RCC), em Rosário do Sul no estado do Rio Grande do Sul, ao 5º Regimento de Carros de Combate (RCC), em Rio Negro, no estado do Paraná, ao Centro de Instrução de Blindados (CiBld), no Rio de Janeiro e na Escola de Material Bélico (EsMb), no Rio de Janeiro. A incorporação do M-60A3 TTS proporcionaria ao Exército Brasileiro, o acesso a tecnologias inéditas embarcadas em carros de combate, não disponíveis na sua frota em uso, como os sistemas Tank Thermal Sight (equipamento de visão noturna passiva e residual), tiro estabilizado e indireto, telêmetro laser e computador balístico de tiro M-21. Ao dispor de uma blindagem mais robusta e arma principal de 105 mm, esta viatura seria classificada como MBT (Main Battle Tank) empregado em nossa Força Terrestre. Apesar destes pontos positivos a operação cotidiana deste modelo no apresentaria algumas limitações em termos de deslocamento pelo interior do país, fator este ocasionado pelo seu peso bruto total, o que o tornava inadequado para operar em algumas regiões, principalmente pela estrutura rodoviária e ferroviária nacional não ter sido dimensionada para operação e transporte de blindados desta categoria.
Apesar de se tratar de um veículo complexo, com a frota apresentando problemas de padronização (pequenas diferenças mecânicas ou elétricas, resultantes de programas de modernização realizados anteriormente nos Estados Unidos), sua operacionalidade sempre se manteve em níveis aceitáveis. Este patamar seria obtido pelos hercúleos esforços do Parque Regional de Manutenção da 5º Região Militar (PqRMnt/5), que inclusive procedeu com grande êxito a nacionalização de componentes críticos como, filtro de bomba injetora, óleo lubrificante, filtros de óleo de motor, baterias de 150 Ah, filtros primários de óleo e combustível, bandagens da cinta da fricção e outro. Em 2006 o comando do Exército Brasileiro passaria a a considerar a curto prazo um substituto para os carros de combate Leopard 1 A1 e M-60A3 TTS, com este processo culminando na aquisição de mais duas centenas de carros de combate usados agora do modelo Krauss Maffei Leopard 1A5, com os primeiros dez sendo recebidos em 2009. O início desta nova fase promoveria um programa de redistribuição das forças blindadas, com o Leopard 1A5 se tornando o principal carro de combate do Exército Brasileiro. Neste contexto decidiu-se promover a desativação dos derradeiros Bernardini M-41C Caxias que ainda se encontravam em operação junto 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) sediado na cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul, pertencente a estrutura do Comando Militar do Oeste (CMO). Seria então que o M-60A3 TTS passaria a dotar esta unidade, com trinta e dois carros sendo transferidos, com o restante da frota sendo deslocados ao Parque Regional de Manutenção da 9º Região Militar (PqRMnt/9), a fim de serem desmontados para que seus componentes fossem armazenados para aproveitamento de componentes como suprimento de 2ª classe. Da frota original, três M-60A3 TTS ainda foram mantidos no Centro de Instrução de Blindados (CiBld) para serem utilizadas nos estágios de formação. Em operação junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB) os M-60A3 TTS apresentariam desde o início bons resultados e excelente nível de operacionalidade representando um salto qualitativo fantástico quando comparado aos antigos Bernardini M-41C Caxias. Neste escopo destacamos a execução em 29 de setembro de 2015 da "Operação de Tiro em Roraima", quando um M-60A3 TTS, depois de ser deslocado por mais de 9.000 km desde a cidade de Campo Grande (MS), até Boa Vista (RR), disparou sete vezes o seu canhão de 105 mm, no Lavrado (terreno similar ao cerrado de Goiás) na Serra do Tucano, Município de Bonfim, próximo à capital. Este evento registraria a primeira vez na história, que um carro de combate operou e disparou no Teatro de Operações da Amazônia e no extremo setentrional do Brasil.

Ao final da década de 2010, apesar de sua boa performance o M-60A3 TTS já apresentava claros sinais de obsolescência, suscitando diversos estudos referentes a modernização ou extensão da vida útil dos M-60A3 TTS remanescentes. Seriam abordados temas como a modernização e revisão de itens como o sistema de controle de tiro (SCT), a troca para um giro elétrico da torre e o sistema de intercomunicação, além da inclusão do Gerenciador de Campo de Batalha, dentre outros. Neste contexto seriam analisados programas semelhantes aplicados em diversos países, como Israel, Turquia e Taiwan, tendo em vista a versatilidade da plataforma deste carro de combate. Estudos seriam conduzidos neste aspecto visando principalmente a participação da indústria nacional, com seus dados e considerações sendo inclusos um relatório desenvolvido pelo Grupo Tarefa (GT) encarregado de realizar a “Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro”, que seria publicado em boletim (BE nº 26, de 28 de junho de 2019). Em resumo geral (incluindo os carros de combate Leopard 1A5) apresentam grande defasagem tecnológica, particularmente da proteção blindada, dos sistemas de armamento, aquisição de alvos, observação, direção tiro e Comando e Controle. Neste contexto devido a limitações de recursos e a necessidade em se padronizar os meios da Cavalaria Blindada seria decidido na aplicar nenhum processo de modernização na frota residual dos M-60A3 TTS, definindo que as viaturas ainda operacionais deveriam ser manutenidos com os meios e recursos disponíveis, até serem descartadas, prevendo sua substituição por um novo modelo resultante do programa "Nova Couraça". Em 04 de agosto de 2023, seria publicado o Boletim do Exército Nº 31/2023, que em sua portaria EME/C Ex Nº 1.111* extinguia o Estágio da Viatura Blindada de Combate Carro de Combate (VBC CC) M-60 A3 TTS, para oficiais e sargentos. Este fato seria um indicativo de um horizonte de desativação próximo (algo entre cinco e seis anos), se for considerado questões de movimentação de pessoal, quadro de efetivos da unidade operadora, pessoal técnico/logístico capacitado disponível etc. Além das últimas 25 viaturas em serviço junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), esta diretiva se estende também carros em operação junto Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e no Centro de Instrução de Blindados (C I BLND).
Em Escala.
Para representarmos o M-60A3 TTS do Exército Brasileiro empregado atualmente pelo 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), fizemos uso do excelente kit da Tamiya na escala 1/35, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento fornecendo ainda um set extras de equipamentos, tripulação e munição para emprego. Utilizamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no set "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura adotado pelo Exército Brasileiro, com este esquema tático de dois tons sendo adotado após o término do contrato de leasing dos M-60A3 TTS. Estes carros de combate foram recebidos em 1997 ostentando uma camuflagem tática em três tons empregada nas unidades do Exército dos Estados Unidos (US Army) baseados na Europa, salientando que por disposições previstas no contrato, estes carros não poderiam sofrer nenhuma alteração em seu padrão de pintura, incluindo a adoção de marcações nacionais de qualquer espécie.
Bibliografia :
- Blindados no Brasil – Um Longo e Árduo Aprendizado Vol II, por Expedito Carlos S. Bastos
- M60A3 TTS no Brasil – www.defesanet.com
- M-60 Patton - http://en.wikipedia.org/wiki/M60_Patton