Historia e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares por sua robustez e desempenho, culminando na assinatura de um contrato para a produção de aproximadamente 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers). A letra “W” indicava o ano de início da produção (1941), enquanto “C” representava a classificação de ½ tonelada. Posteriormente, o código “C” foi estendido para modelos de ¾ tonelada e 1 ½ tonelada 6x6, com o primeiro veículo dessa família sendo o G-505 WC de ½ tonelada.

Os modelos Dodges WC 1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos novos modelos da linha de 3/4 toneladas lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Seria decidido criar uma versão de carroceria fechada para o transporte de comandantes, visando assim complementar o emprego dos carros oficiais derivados de modelos comerciais. O ponto de partida para este novo veículo seria o Dodge WC-51, fazendo uso de seu chassis e conjunto mecânico, passando a empregar a carroceria de um carro civil da montadora . Em termos de motorização esta proposta apresentava um modelo convencional de cabeçote plano de válvulas laterais, (do tipo flathead que foi produzido até a década e 1960), possuindo seis cilindros dispostos em V com 3.800 cm ³ e 105 CV de potência com baixa taxa de compressão, configuração esta que lhe proporcionava um nível de torque significativo ideal para operações fora de estrada, no entanto como ponto negativo apresentava um alto consumo. Sua carroceria possuía quatro grandes janelas laterais pivotantes, assentos dianteiros dobráveis para possibilitar acesso aos bancos traseiros mais confortáveis. Para otimização do espaço interno do veículo optou-se pela fixação externa do estepe, com este sendo instalado ao lado da porta do motorista, curiosamente embora a porta estivesse totalmente operacional, ela não podia ser aberta devido a este fato. Já na extremidade traseira do veículo seria disponibilizadas duas portas com abertura lateral, facilitando o acesso de carga ou ainda manutenção do sistema de rádio. Sua produção em larga escala teria início em fins do ano de 1941, com as primeiras unidades sendo entregues as forças armadas norte-americanas logo em seguida, sendo disponibilizadas a organizações militares dispostas no território continental. Inicialmente seriam empregadas na tarefa de transporte de oficiais, porém quando operando em cenários de conflagração real passariam a ser engajadas em missões de reconhecimento de campo de batalha e posto de rádio para uso dos comandantes.
Em fins do ano de 1941, este novo modelo designado como WC-53 serviria e base ainda para o desenvolvimento de versão ambulância, que teria por finalidade substituir os antigos modelos de socorro médico produzidos por esta mesma montadora que se dividiam nas versões WC-9, WC-18 e WC-27 que até então dotavam as unidades médicas das forças armadas norte-americanas e já se mostravam não adequadas a operação no moderno front de batalha terrestre com observado na Europa. Além deste primícia, visava-se com esta nova ambulância militar, iniciar um processo de padronização de veículos deste tipo, além do colaborar na intenção do comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em um programa maior de unificação da cadeia logistica de peças de reposiçao, que já estava em curso com os novos Dodge WC-51, WC-52, WC-53, WC-56, WC-57, WC-60 e WC-62. Embora baseado no chassi Dodge WC-51 "Beep" de 3/4 de toneladas, cujos eixos dianteiro e traseiro apresentavam faixas mais largas de 643⁄4+ em (1,64 m), as versões ambulância de 3/4 toneladas manteriam uma distância entre eixos mais longa, muito próxima dos modelos anteriores de maiores dimensões, apresentando ainda um desing em sua linha frontal mais arredondada e inclinada para cima, em vez da tampa do motor totalmente horizontal, plana e mais larga dos modelos desta montadora. Seu sistema de suspensão seria redesenhada visando o nível de conforto dos enfermos e feridos. Sua carroceria fechada e totalmente em metal seria produzida pela empresa Wayne Body Works, apresentando capacidade de transporte de sete pacientes sentados ou quatro deitados em macas do tipo beliches dobráveis, além do médico ou enfermeiro de campo. Ainda visando o aspecto de conforto, esse novo veículo dispunha ainda de um grande aquecedor de cabine matricial instalado na parte frontal para emprego durante os rígidos invernos europeus e norte-americanos. Seria ainda equipado com um degrau dobrável em sua parte traseira para permitir um acesso mais fácil para portadores de maca e pessoal ferido. Esta ambulância militar receberia a designação de catálogo de fornecimento norte-americano como G-502. Os primeiros carros produzidos em série apresentavam uma tampa de enchimento de combustível presa que foi alterada para uma embutida no modelo posterior, uma modificação que foi adaptada a alguns caminhões de modelo inicial. Ao longo dos anos diversos contratos de produção seriam firmados com a primeiras viaturas sendo incorporadas ao serviço ativo principalmente no Exército dos Estados Unidos em março de 1942, passando em seguida a equipar os demais ramos das forças armadas daquele pais.

No âmbito do Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), o Dodge WC-54, uma ambulância militar robusta e confiável, foi fornecido durante a Segunda Guerra Mundial às forças armadas de nações aliadas, incluindo a Grã-Bretanha (Corpo Aéreo do Exército Real), as Forças Francesas Livres, a Austrália e o Brasil. Esses veículos desempenharam um papel vital nas frentes de combate, operando em diversos teatros de guerra ao lado das forças norte-americanas, onde salvaram inúmeras vidas ao transportar feridos sob condições extremas. Entre 1942 e 1945, as linhas de produção da Dodge Motors Company, em Detroit, entregaram um total de 29.502 unidades do WC-54, consolidando sua reputação como um pilar essencial do suporte médico em campanha. Ainda durante o conflito, a Dodge desenvolveu uma versão aprimorada, designada WC-64, que incorporava melhorias significativas, como uma carroceria ligeiramente alongada, permitindo maior capacidade para o transporte de feridos e enfermos no campo de batalha. Apesar de seu desempenho superior e maior eficiência operacional, o iminente fim da guerra, em 1945, levou ao cancelamento de diversos contratos de defesa, incluindo os da produção do WC-64. Até julho daquele ano, apenas 3.500 unidades desse modelo foram completadas, limitando seu impacto em relação ao antecessor, mas ainda assim reforçando o compromisso com a inovação em tempos de crise. Após o término da Segunda Guerra Mundial, as ambulâncias WC-54 e WC-64 voltaram a desempenhar um papel crucial durante a Guerra da Coreia (1950–1953), operando em conjunto para atender às demandas médicas em um novo cenário de conflito. Sua capacidade de operar em terrenos difíceis e sob condições adversas continuou a salvar vidas, perpetuando seu legado de serviço humanitário. A partir de meados da década de 1950, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a substituição gradual do WC-54 pelo Dodge M-43, uma versão ambulância do modelo M-37, mais moderna e adaptada às novas exigências operacionais. Com a grande quantidade de veículos WC-54 e WC-64 disponíveis, muitos em excelente estado de conservação, milhares foram armazenados como reserva estratégica. Posteriormente, essas ambulâncias foram cedidas a nações aliadas por meio de programas de assistência militar, incluindo Grécia, Áustria, Bélgica, Brasil, Noruega, Filipinas, Suécia e Iugoslávia. Em muitos desses países, os veículos permaneceram em serviço até meados da década de 1970, demonstrando sua durabilidade e versatilidade. No Brasil, as ambulâncias WC-54 foram empregadas pelo Exército Brasileiro em operações logísticas e de apoio médico, contribuindo para a modernização da Força Terrestre e para o atendimento em situações críticas. O Dodge WC-54 e seu sucessor WC-64 não foram apenas instrumentos de guerra, mas símbolos de esperança e resiliência, transportando feridos e salvando vidas em momentos de grande adversidade. Seu legado, marcado pela dedicação dos militares que os operaram e pela engenhosidade de seu projeto, permanece como um testemunho da importância do suporte médico no campo de batalha e da cooperação internacional que fortaleceu os esforços aliados
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos aos Aliados e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa no conflito, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.
No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Dentre os equipamentos fornecidos, os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, começaram a ser entregues ao Brasil no final de 1942. Esse atraso inicial decorreu da prioridade dada às forças armadas norte-americanas, que demandavam grandes quantidades desses veículos para os esforços de guerra. Quase a totalidade destes veículos era representado por viaturas recém produzidas das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, e Chrysler Corporation. Dentre os diversos modelos previstos para incorporação as forças armadas brasileiras se encontravam inicialmente, cento e quarenta e nove ambulâncias Dodge WC-54. Estas viaturas especializadas começariam a chegar no porto do Rio de Janeiro no início do ano de 1943, sendo distribuídas as unidades operativas dispostas no sudeste e nordeste. Neste tipo de missão, principalmente junto ao Exército Brasileiro os Dodge WC-54 com tração 4X4 vieram a substituir e complementar modelos civis de ambulâncias produzidas pela Ford Motors Company e General Motors Company, adquiridas no início da década de 1930 (em substituição as lendárias ambulâncias baseadas na plataforma do modelo Ford T). A implementação desta nova viatura representaria um salto operacional qualitativo com sua capacidade para emprego em ambientes fora de estrada (off road), se mostrando com o maior diferencial, proporcionado assim as unidades médicas militares da força terrestre, uma mobilidade jamais atingida com as versões civis com tração 4X2. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações).

O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB), ocorreria no 16 de setembro de 1944, quando o 6º Regimento de Infantaria (R.I) durante a batalha pela conquista da cidade Massarosa, o intensificar das ações resultariam em um grande número de feridos, com os Dodge WC-54 ajudando a salvar a vida de muitos combatentes brasileiros, transportando-os desde a frente de batalha até os hospitais na retaguarda. Estes veículos receberiam um esquema de identificação marcante, sendo visível a grande distância, possuindo uma grande cruz vermelha sobre fundo branco nas laterais, teto e traseira, além de duas pequenas acima do para-brisa, tendo no centro a inscrição em branco “Ambulance”, (salientando que algumas ambulâncias chegaram a ter a cruz vermelha pintada na grade frontal). Além destas marcações, os veículos a serviço do Exército Brasileiro apresentavam as identificações nacionais como o “Cruzeiro do Sul” inserido em um círculo branco nas laterais da porta e a sigla FEB aplicada nos para-choques frontais e traseiros, com os números de identificação 710 ou 310 (número de todos os veículos do Batalhão de Saúde), mais letra K (Destacamento de Comando). Podiam ainda apresentar marcações com as letras A B e C (1ª, 2ª e 3ª Cia de Evacuação, respectivamente) ou ainda a letra D (Cia de Tratamento), seguido de um pequeno emblema do Cruzeiro do Sul e o número do veículo (1 a 30), aplicado nas laterais, no alto, atrás das portas dianteiras e no lado direito da porta traseira e no alto. No dia a dia das operações os motoristas e enfermeiros destas ambulâncias estariam expostos aos mesmos riscos dos demais combatentes, com seus veículos sendo alvejados frequentemente por rajadas de metralhadoras do Exército Alemão (Wehrmacht). Além deste fato, havia ainda o risco de se trafegar por estradas estreitas e semidestruídas, e muitas vezes lamacentas, o que exigia o uso de correntes nos pneus, e com grandes penhascos, onde qualquer erro poderia ser fatal. No entanto, em um contexto geral a frota total de veículos disponibilizados ao Exército Brasileiro na Itália, se apresentava em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), com este fato se repetindo na frota de ambulâncias de campanha, levando a necessidade de adaptação de outras viaturas, como os Dodges WC-56 e Willys Jeep MB para a complementação da frota a serviço dos batalhões de saúde. Registros fotográficos da campanha da Itália apontam para o emprego de pelo menos dois Dodge WC-54 pela Força Aérea Brasileira, servindo de apoio as equipes de ar e terra do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO), não se sabe ao certo se estas viaturas faziam parte do lote de trinta ambulâncias destinadas ao Exército Brasileiro ou se foram cedidas pelo comando regional do teatro de operações da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF).
Com o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, as ambulâncias Dodge WC-54, juntamente com outros veículos, armas e equipamentos utilizados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) e pela Força Aérea Brasileira (FAB), foram transferidos ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, sediado em Roma. Nesse processo, as viaturas em melhor estado de conservação foram cuidadosamente selecionadas, armazenadas e posteriormente enviadas ao Brasil por via naval. Ao chegarem ao país, essas ambulâncias se integraram à frota de veículos da mesma família, em serviço desde 1943, distribuída entre o Exército Brasileiro e a FAB. Há indícios de que novos veículos foram incorporados ao final da década de 1940, embora a ausência de registros oficiais detalhados, com datas e quantidades precisas, limite a confirmação dessas informações. No início da década de 1960, a condição operacional da frota de utilitários Dodge, incluindo as ambulâncias WC-54, começou a gerar preocupação no comando do Exército Brasileiro. A baixa disponibilidade dessas viaturas decorria, em grande parte, das dificuldades na aquisição de peças de reposição, especialmente para o motor a gasolina Dodge T-214, de seis cilindros, cuja produção foi descontinuada nos Estados Unidos em 1947. Esse obstáculo comprometeu a manutenção e a operacionalidade dos veículos, exigindo medidas urgentes para assegurar a continuidade de seu uso em missões críticas, como o transporte de feridos e o suporte logístico. Para enfrentar esse desafio, o Exército Brasileiro, por meio de negociações com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, recorreu ao Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), buscando a aquisição de um lote significativo de utilitários mais modernos das famílias Dodge M-37 e M-43. Essas tratativas resultaram na incorporação de mais de 300 veículos usados, cuja entrega ao Brasil teve início em 1966. Entre esses, destacavam-se as ambulâncias M-43 (M-615), que ofereceram maior capacidade e modernidade em relação ao WC-54. A chegada dessas novas viaturas permitiu a desativação progressiva da frota remanescente de Dodge WC-54, com as últimas unidades, muitas das quais remotorizadas para prolongar sua vida útil, sendo retiradas do serviço ativo em 1978. A transição para os modelos M-37 e M-43 marcou um avanço significativo na modernização da logística militar brasileira, garantindo maior eficiência no atendimento médico e no suporte operacional. As ambulâncias WC-54, que por décadas desempenharam um papel crucial, especialmente durante a campanha italiana da FEB, deixaram um legado de resiliência e serviço humanitário.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-54 “FEB 710”, quando em uso pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), fizemos uso do antigo kit da Italeri na escala 1/35, modelo este que apesar de ser de fácil montagem, carece de um melhor nível de detalhamento interno. Não há a necessidade de realizar nenhuma alteração para se compor a versão empregada pela Exército Brasileiro no teatro de operações italiano. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no set “FEB Corpo Médico” em conjunto com decais originários do próprio modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército dos Estados Unidos (US Army), aplicado em suas ambulâncias durante a Segunda Guerra Mundial, esquema com o qual as viaturas brasileiras foram recebidas e operadas (Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira), passando a ostentar somente as marcações nacionais. Este padrão seria mantido durante seu emprego no período, mantendo este esquema com poucas variações até sua baixa de serviço no ano de 1978.
Bibliografia :
- Dodge WC Series – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- WC-54 Ambulance – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC54
- Ambulâncias Dodge WC-45 FEB – Expedito C.S.Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/arq/Art%2018.htm
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947