Historia e Desenvolvimento.
No início do ano de 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge decidiram construir um automóvel diferente dos modelos existentes no mercado norte-americano naquele momento. Passando inicialmente a produzir quase que artesanalmente dezenas de veículos, este processo evoluiria para um status de produção em série a partir do ano de 1914. Agora a montadora denominada como Dodge Brothers Motors Company, logo ganharia notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, passando a conquistar um importante fatia daquele mercado. Este sucesso permitiria a empresa a amealhar recursos para iniciar em meados da década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários para emprego no mercado comercial civil. Infelizmente, pouco tempo depois os irmãos fundadores faleceriam, com a empresa em 1928 passando a integrar o conglomerado de empresas da Chrysler Corporation. Os primeiros modelos utilitários criados e lançados no mercado norte-americano, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros desta mesma marca, resultando assim em menores investimentos para projeto e produção. Fazendo assim, uso do mesmo ferramental e processos de manufatura, gerando assim impactos positivos em seu custo final, proporcionando uma grande competividade comercial. A exemplo dos veículos de passeio desta montadora, esta nova série de veículos alcançaria rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez para emprego no transporte de cargas e outras atividades pesadas em ambientes fora de estrada. As vendas em constante ascensão proveriam mais recursos ainda a montadora que passaria a almejar projetos mais ousados a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, um preocupante cenário geopolítico começava a se avizinhar na Europa, principalmente na Alemanha com a chegada ao poder do partido Nazista capitaneado pelo chanceler Adolf Hitler. Este movimento passaria a preocupar uma série de nações entre elas o próprio Estados Unidos que apesar de sua politica aparente de neutralidade, estava sempre a antecipar possíveis ameaças futuras . Atentos a uma possível corrida armamentista em escala mundial como resposta a este cenário, a diretoria da Dodge Motors Company, resolveria direcionar seus esforços e investimentos no promissor nicho de mercado militar. Assim em 1934, fazendo uso de recursos próprios a empresa iniciaria o desenvolvimento dos primeiros projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de porte médio e grande, tendo como base projetos anteriores de modelos produzidos para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1937, a empresa realizaria ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) uma apresentação oficial de seu primeiro modelo experimental, um caminhão de 1 ½ toneladas com tração integral nas quatro rodas, designado como K-39-X-4. Este veículo seria submetido a teste de campo, com seus resultados gerando ótimas impressões junto aos militares, com este processo culminando na assinatura de um contrato de quase oitocentos caminhões. Nos meses seguintes, as primeiras entregas passariam a ser realizadas, e na sequencia seriam firmados novos contratos mais representativos, envolvendo os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada. Versões destinadas ao mercado civil seriam lançadas e comercializadas no mercado doméstico, obtendo grande sucesso comercial. Este êxito motivaria a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, com novos modelos, passando a ocupar as linhas de produção de sua recém-inaugurada planta industrial em Warren Truck Assembly em Michigan, planta esta edificada especialmente para a montagem de caminhões leves e médios. No ano seguinte a montadora apresentaria uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, que apresentavam uma aparência moderna com a designação de "Job-Rated" visava atender a todos os trabalhos e tarefas. Neste mesmo período ficava cada vez mais evidente que as forças armadas norte-americanas deveriam ser emergencialmente modernizadas e reequipadas, visando fazer frente as possíveis ameaças geopolíticas que se pronunciavam cada vez mais na Europa e no Pacífico. No que tange a veículos de transporte seria definido principalmente pelo exército, um padrão a ser adotado se dividindo em cinco classes e caminhões, baseados em carga útil sendo ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ tonelada, 4- e 7 ½ tonelada. Em junho de 1940 o Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) já havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de ½ tonelada 6x6 e o Mack ½ tonelada 6X6. Definiu-se que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões, assim no verão de 1940 a Dodge - Fargo Division da Chrysler recebeu um contrato para a entrega de quatorze mil unidades do modelo de meia tonelada com tração integral 4X4, que foi denominado pelo fabricante como série VC. Sua produção em série em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC (Weapons Carriers), com letra “W“ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que código C, posteriormente foi mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de ½ tonelada.
Os modelos Dodges WC 1 e WC-50 pertenceriam a faixa de veículos de ½ tonelada, sendo novamente intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos novos modelos da linha de 3/4 toneladas lançados posteriormente. Em 1942, a carga útil seria atualizada, com sua linha de caminhões se dividindo entre o modelo 3⁄4 toneladas, 4×4 mais curto denominado como G-502 com tração integral 4X4 e o modelo G-507 mais longo de ½ tonelada que seria destinado a transporte de carga e tropas que passava a contar com tração integral 6X6. Curiosamente a montadora reteria confusamente os códigos de modelo da família de utilitários Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, estes novos veículos manteriam o percentual de componentes intercambiáveis, e peças de serviço com os modelos de ½ toneladas, sendo este um requisito exigido pelo comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões próximos a linha de frente. Novamente o grande percentual de intercambialidade. Esta característica de projeto facilitaria em muito o processo de logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. Seria decidido criar uma versão de carroceria fechada para o transporte de comandantes, visando assim complementar o emprego dos carros oficiais derivados de modelos comerciais. O ponto de partida para este novo veículo seria o Dodge WC-51, fazendo uso de seu chassis e conjunto mecânico, passando a empregar a carroceria de um carro civil da montadora . Em termos de motorização esta proposta apresentava um modelo convencional de cabeçote plano de válvulas laterais, (do tipo flathead que foi produzido até a década e 1960), possuindo seis cilindros dispostos em V com 3.800 cm ³ e 105 CV de potência com baixa taxa de compressão, configuração esta que lhe proporcionava um nível de torque significativo ideal para operações fora de estrada, no entanto como ponto negativo apresentava um alto consumo. Sua carroceria possuía quatro grandes janelas laterais pivotantes, assentos dianteiros dobráveis para possibilitar acesso aos bancos traseiros mais confortáveis. Para otimização do espaço interno do veículo optou-se pela fixação externa do estepe, com este sendo instalado ao lado da porta do motorista, curiosamente embora a porta estivesse totalmente operacional, ela não podia ser aberta devido a este fato. Já na extremidade traseira do veículo seria disponibilizadas duas portas com abertura lateral, facilitando o acesso de carga ou ainda manutenção do sistema de rádio. Sua produção em larga escala teria início em fins do ano de 1941, com as primeiras unidades sendo entregues as forças armadas norte-americanas logo em seguida, sendo disponibilizadas a organizações militares dispostas no território continental. Inicialmente seriam empregadas na tarefa de transporte de oficiais, porém quando operando em cenários de conflagração real passariam a ser engajadas em missões de reconhecimento de campo de batalha e posto de rádio para uso dos comandantes.
Em fins do ano de 1941, este novo modelo designado como WC-53 serviria e base ainda para o desenvolvimento de versão ambulância, que teria por finalidade substituir os antigos modelos de socorro médico produzidos por esta mesma montadora que se dividiam nas versões WC-9, WC-18 e WC-27 que até então dotavam as unidades médicas das forças armadas norte-americanas e já se mostravam não adequadas a operação no moderno front de batalha terrestre com observado na Europa. Além deste primícia, visava-se com esta nova ambulância militar, iniciar um processo de padronização de veículos deste tipo, além do colaborar na intenção do comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) em um programa maior de unificação da cadeia logistica de peças de reposiçao, que já estava em curso com os novos Dodge WC-51, WC-52, WC-53, WC-56, WC-57, WC-60 e WC-62. Embora baseado no chassi Dodge WC-51 "Beep" de 3/4 de toneladas, cujos eixos dianteiro e traseiro apresentavam faixas mais largas de 643⁄4+ em (1,64 m), as versões ambulância de 3/4 toneladas manteriam uma distância entre eixos mais longa, muito próxima dos modelos anteriores de maiores dimensões, apresentando ainda um desing em sua linha frontal mais arredondada e inclinada para cima, em vez da tampa do motor totalmente horizontal, plana e mais larga dos modelos desta montadora. Seu sistema de suspensão seria redesenhada visando o nível de conforto dos enfermos e feridos. Sua carroceria fechada e totalmente em metal seria produzida pela empresa Wayne Body Works, apresentando capacidade de transporte de sete pacientes sentados ou quatro deitados em macas do tipo beliches dobráveis, além do médico ou enfermeiro de campo. Ainda visando o aspecto de conforto, esse novo veículo dispunha ainda de um grande aquecedor de cabine matricial instalado na parte frontal para emprego durante os rígidos invernos europeus e norte-americanos. Seria ainda equipado com um degrau dobrável em sua parte traseira para permitir um acesso mais fácil para portadores de maca e pessoal ferido. Esta ambulância militar receberia a designação de catálogo de fornecimento norte-americano como G-502. Os primeiros carros produzidos em série apresentavam uma tampa de enchimento de combustível presa que foi alterada para uma embutida no modelo posterior, uma modificação que foi adaptada a alguns caminhões de modelo inicial. Ao longo dos anos diversos contratos de produção seriam firmados com a primeiras viaturas sendo incorporadas ao serviço ativo principalmente no Exército dos Estados Unidos em março de 1942, passando em seguida a equipar os demais ramos das forças armadas daquele pais.
O Dodge WC-54, também seria incluso como item constante do programa de ajuda militar, Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), sendo fornecido durante o conflito as forças armadas de países aliados como Grã-Bretanha (Corpo Aéreo do Exército Real), França (Forças Francesas Livres), Australia e Brasil. Junto as forças armadas norte-americanas estas ambulâncias participariam de diversas campanhas em todos as frentes de combate durante o conflito. Entre os anos de 1942 e 1945 deixariam as linhas de produção da Dodge Motors Company um total de 29.502 WC-54, porém antes mesmo do término do conflito, uma versão melhorada seria desenvolvida, recebendo a designação de WC-64, envolvendo diversas modificações como uma ligeira extensão da carroceria que permitiram aumentar a capacidade de transporte de feridos e enfermos no campo de batalha. Apesar de apresentar melhor desempenho e capacidade operacional, ficava cada dia mais que o conflito se encaminhava para seu fim, levando assim ao cancelamento de uma série de contratos de defesa entre estes os de produção da nova ambulância Dodge WC-64, sendo completados até julho de 1945 apenas três mil e quinhentas viaturas. Após o final da Segunda Guerra Mundial, estas ambulâncias seriam novamente empregadas em um cenario de conflagração real durante a Guerra da Coréia (1950 – 1953), operando em conjunto com os Dodge WC-64. A partir de meados desta mesma década os WC-54 passariam a ser substituídos no Exército dos Estados Unidos pelas novas ambulâncias. Devido a enorme quantidade de veículos disponíveis, milhares de carros WC-56 e WC-57 permaneceriam em serviço nas forças armadas norte-americanas até meados da década de 1950, quando começaram a ser substituídos inicialmente no Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos novos Dodge M43 (versão ambulância do modelo M-37). Neste contexto uma grande parte dos Dodge WC-54 em melhor estado de conservação seriam armazenados como reserva estratégica, sendo em seguida cedidos a nações amigas nos termos de diversos programa de ajuda militar, como Grécia, Áustria, Bélgica, Brasil, Noruega, Filipinas, Suécia e Iugoslávia, com muitos deste veículos se mantendo em uso até meados da década de 1970.
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.
A partir de fins do ano de 1941 começariam a ser recebidos no país primeiros os lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras constantes neste programa de ajuda militar, porém os primeiros veículos utilitários da família Dodge WC começariam a ser entregues somente no final do ano de 1942. Quase a totalidade destes veículos era representado por viaturas recém completadas das linhas de produção da Dodge Motors Company e Fargo Motor Car Company. Dentre os diversos modelos previstos para incorporação as forças armadas brasileiras se encontravam inicialmente, cento e quarenta e nove ambulâncias Dodge WC-54. Estas viaturas especializadas começariam a chegar no porto do Rio de Janeiro no início do ano de 1943, sendo distribuídas as unidades operativas dispostas no sudeste e nordeste. Neste tipo de missão, principalmente junto ao Exército Brasileiro os Dodge WC-54 com tração 4X4 vieram a substituir e complementar modelos civis de ambulâncias produzidas pela Ford Motors Company e General Motors Company, adquiridas no início da década de 1930 (em substituição as lendárias ambulâncias baseadas na plataforma do modelo Ford T). A implementação desta nova viatura representaria um salto operacional qualitativo com sua capacidade para emprego em ambientes fora de estrada (off road), se mostrando com o maior diferencial, proporcionado assim as unidades médicas militares da força terrestre, uma mobilidade jamais atingida com as versões civis com tração 4X2. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações). A tropa além de seu próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música.
Do total de veículos Dodge WC-54 previstos para cessão ao Brasil nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), seria definido que trinta destas viaturas deveriam ser entregues diretamente na Itália, após a chegada do primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Atendendo ao cronograma original, a partir do dia 5 de agosto de 1944 toda a frota de veículos militares destinadas aos efetivos brasileiros já se encontravam prontas para serem disponibilizadas, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementaçao do 5º Exército dos Estados Unidos (5th Us Army) baseado na cidade italiana de Tarquinia. Não existem registros oficiais sobre se estas ambulâncias eram novas de fábrica ou veteranas de guerra, pois naquela localidade se encontravam armazenadas um grande número de viaturas empregadas anteriormente nas campanhas militares na Sicília e no Norte da África. Sobre os Dodge WC-54 seria definido sua total alocação junto ao Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, sendo este destacamento composto por um Batalhão de Saúde e um Destacamento de Saúde. Dentre as importantes atividades a serem realizadas por esta organização estava a missão de transporte de feridos, iniciando na linha de frente, operando em uma sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização. Neste momento a mobilidade seria fundamental envolvendo no campo de batalhas os padioleiros e por consequente veículos de remoção imediata para o transporte até os postos de saúde (PS) onde seria realizada a triagem, estabilização inicial do ferido grave, tratamento de condições pouco graves que possibilitassem o retorno do ferido ao combate e medidas de saúde preventiva. A sistemática inicialmente a ser empregada, a exemplo da doutrina operacional norte-americana, previa o uso de dois modelos de viaturas, com os Jeep MB Willys "Holden Jeeps" (versão ambulância de campanha) fazendo o primeiro transporte no front para o atendimento de campanha, e posteriormente caso os feridos necessitassem ser evacuados para os Posto de Atendimento Avançados (PAAs), operados pelas Companhias de Saúde Avançadas do Batalhão de Saúde (2º Escalão), esta tarefa passaria a ser realizada pelas as ambulâncias especializadas Dodge WC-54 que podiam proporcionar melhor assistência e conforto no transporte, com este processo, muitas vezes representando a diferença entre a vida e morte para os soldados feridos em combate.
O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB), ocorreria no 16 de setembro de 1944, quando o 6º Regimento de Infantaria (R.I) durante a batalha pela conquista da cidade Massarosa, o intensificar das ações resultariam em um grande número de feridos, com os Dodge WC-54 ajudando a salvar a vida de muitos combatentes brasileiros, transportando-os desde a frente de batalha até os hospitais na retaguarda. Estes veículos receberiam um esquema de identificação marcante, sendo visível a grande distância, possuindo uma grande cruz vermelha sobre fundo branco nas laterais, teto e traseira, além de duas pequenas acima do para-brisa, tendo no centro a inscrição em branco “Ambulance”, (salientando que algumas ambulâncias chegaram a ter a cruz vermelha pintada na grade frontal). Além destas marcações, os veículos a serviço do Exército Brasileiro apresentavam as identificações nacionais como o “Cruzeiro do Sul” inserido em um círculo branco nas laterais da porta e a sigla FEB aplicada nos para-choques frontais e traseiros, com os números de identificação 710 ou 310 (número de todos os veículos do Batalhão de Saúde), mais letra K (Destacamento de Comando). Podiam ainda apresentar marcações com as letras A B e C (1ª, 2ª e 3ª Cia de Evacuação, respectivamente) ou ainda a letra D (Cia de Tratamento), seguido de um pequeno emblema do Cruzeiro do Sul e o número do veículo (1 a 30), aplicado nas laterais, no alto, atrás das portas dianteiras e no lado direito da porta traseira e no alto. No dia a dia das operações os motoristas e enfermeiros destas ambulâncias estariam expostos aos mesmos riscos dos demais combatentes, com seus veículos sendo alvejados frequentemente por rajadas de metralhadoras do Exército Alemão (Wehrmacht). Além deste fato, havia ainda o risco de se trafegar por estradas estreitas e semidestruídas, e muitas vezes lamacentas, o que exigia o uso de correntes nos pneus, e com grandes penhascos, onde qualquer erro poderia ser fatal. No entanto, em um contexto geral a frota total de veículos disponibilizados ao Exército Brasileiro na Itália, se apresentava em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), com este fato se repetindo na frota de ambulâncias de campanha, levando a necessidade de adaptação de outras viaturas, como os Dodges WC-56 e Willys Jeep MB para a complementação da frota a serviço dos batalhões de saúde. Registros fotográficos da campanha da Itália apontam para o emprego de pelo menos dois Dodge WC-54 pela Força Aérea Brasileira, servindo de apoio as equipes de ar e terra do 1º Grupo de Avião de Caça (1° GAvCa) e da 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1ºELO), não se sabe ao certo se estas viaturas faziam parte do lote de trinta ambulâncias destinadas ao Exército Brasileiro ou se foram cedidas pelo comando regional do teatro de operações da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF).
Após o término do conflito em maio de 1945, as ambulâncias Dodge WC-54 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização, os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Após seu recebimento no país, estes se juntariam aos demais veículos dos mesmos modelos que já se encontravam em serviço desde 1943, não só no Exército Brasileiro, mas também na Força Aérea Brasileira. Especula-se que mais veículos foram incorporados em fins da década de 1940, mas infelizmente não encontramos registros oficiais que comprovem estas informações com datas e quantidades. No início da década de 1960, o status operacional da frota de utilitários da família Dodge começaria a despertar a preocupação por parte do comando do Exército Brasileiro, tendo em vista a baixa taxa de disponibilidade destes veículos. Este cenário era causado principalmente por problemas no processo de aquisição de peças de reposição, mais notadamente referente ao motor a gasolina Dodge T-214 de seis cilindros, que teve sua produção descontinuada no final do ano de 1947 nos Estados Unidos. Fazia-se necessário então, buscar uma solução emergencial, com sendo desenvolvida através de negociações junto ao Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, visando dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP), visando a aquisição de um considerável lote de utilitários mais modernos da família Dodge M-37 e M-43. Estes entendimentos resultariam na aquisição e mais de trezentos utilitários usados destes modelos, que passariam a ser recebidos no Brasil a partir do ano de 1966. Muitos destes, seriam da versão ambulância M-43 (M-615), possibilitando assim desativar grande parte da frota remanescente dos Dodge WC-54, com as últimas viaturas que foram remotorizadas , sendo baixadas do serviço ativo somente no ano de 1978.
Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-54 “FEB 710”, quando em uso pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), fizemos uso do antigo kit da Italeri na escala 1/35, modelo este que apesar de ser de fácil montagem, carece de um melhor nível de detalhamento interno. Não há a necessidade de realizar nenhuma alteração para se compor a versão empregada pela Exército Brasileiro no teatro de operações italiano. Empregamos decais confeccionados pela Eletric Products presentes no set “FEB Corpo Médico” em conjunto com decais originários do próprio modelo.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura do Exército dos Estados Unidos (US Army), aplicado em suas ambulâncias durante a Segunda Guerra Mundial, esquema com o qual as viaturas brasileiras foram recebidas e operadas (Exército Brasileiro e Força Aérea Brasileira), passando a ostentar somente as marcações nacionais. Este padrão seria mantido durante seu emprego no período, mantendo este esquema com poucas variações até sua baixa de serviço no ano de 1978.
Bibliografia :
- Dodge WC Series – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- WC-54 Ambulance – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC54
- Ambulâncias Dodge WC-45 FEB – Expedito C.S.Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/arq/Art%2018.htm
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947