Type 82 KDF Kubelwagen


História e Desenvolvimento.
No início da década de 1930, a indústria automotiva alemã, após um longo e desafiador processo de recuperação pós-Primeira Guerra Mundial, havia finalmente reconquistado sua vitalidade. Contudo, as montadoras, em um equívoco estratégico, concentravam seus esforços exclusivamente na produção de veículos de luxo, inacessíveis à maior parte da população. O país, imerso em uma severa crise econômica, enfrentava dificuldades que limitavam o poder de compra dos cidadãos. Para a maioria dos alemães, possuir um automóvel era um sonho distante; com apenas um carro para cada cinquenta habitantes, a aquisição de veículos estava restrita, na melhor das hipóteses, a motocicletas básicas. Esse cenário de desigualdade e escassez moldava o cotidiano de um povo que lutava por sua subsistência. A ascensão de Adolf Hitler ao poder, como chanceler pelo Partido Nazista, trouxe uma mudança profunda nesse panorama. Seu plano de governo priorizava a recuperação econômica da Alemanha, com foco no fortalecimento da indústria metal-mecânica e na criação de um ciclo virtuoso de prosperidade. Central para essa visão era a democratização do acesso a bens de consumo, que impulsionaria a economia nacional e traria maior qualidade de vida à população. Nesse contexto, a indústria automotiva emergiu como um pilar estratégico. O chanceler alemão propôs à sua equipe o desenvolvimento de um carro popular, acessível à maioria dos cidadãos, que seria batizado de “Volkswagen” – o “carro do povo”. O projeto foi confiado ao renomado engenheiro Ferdinand Porsche, cuja missão era criar um veículo que atendesse a especificações rigorosas: capacidade para transportar dois adultos e três crianças a uma velocidade de 100 km/h, com um consumo eficiente de 7 litros por 100 km. O motor, refrigerado a ar, deveria suportar as duras condições do inverno alemão, e o design precisava ser simples, tanto no conceito quanto na produção, para garantir um preço acessível, não superior a 990 Reichsmarks. Em uma época em que o salário médio de um operário alemão girava em torno de 130 Reichsmarks, a aquisição do Volkswagen seria facilitada por um inovador programa governamental de poupança, conhecido como “Sparkarte”. Esse sistema permitia que os cidadãos pagassem prestações módicas, tornando o sonho do automóvel próprio uma realidade palpável. O projeto inicial do Volkswagen foi apresentado a  Adolf Hitler em 17 de janeiro de 1937. Contudo, a busca por aprimoramentos adiou a finalização do desenvolvimento para o início de 1938. As primeiras unidades de pré-produção foram concluídas apenas no início de 1939, com a expectativa de que as linhas de produção da Deutsche Arbeitsfront (Frente Trabalhista Alemã) atingissem plena capacidade no segundo semestre de 1940. Neste momento o Volkswagen não era apenas um veículo; simbolizava a esperança de mobilidade e progresso para um povo que, até então, via o automóvel como um privilégio reservado a poucos. 

No entanto antes disso, os ambiciosos planos de expansão territorial do chanceler Adolf Hitler conduziriam a Europa à iminência de um conflito devastador. Esse cenário alterou drasticamente as prioridades da indústria automotiva alemã, redirecionando todos os recursos disponíveis para o eminente esforço de guerra. As linhas de produção da Frente Trabalhista Alemã (Deutsche Arbeitsfront), até então conhecidas como Volkswagen e celebradas como símbolo da capacidade tecnológica alemã, foram rapidamente absorvidas pela máquina militar do Terceiro Reich. O projeto do “carro do povo”, que prometia democratizar a mobilidade para os cidadãos, teve sua produção em série interrompida após a fabricação de apenas um número reduzido de unidades. As fábricas, antes dedicadas a um ideal de progresso social, passaram a se concentrar na produção de motores e componentes para veículos militares, atendendo às demandas urgentes do conflito que se aproximava. Embora o conceito de um veículo militar baseado no Volkswagen padrão tivesse sido discutido entre Adolf Hitler e o engenheiro Ferdinand Porsche ainda em abril de 1937, foi somente em janeiro de 1938 que autoridades do alto escalão do regime nazista abordaram formalmente Ferdinand Porsche. A solicitação era clara: desenvolver um veículo de transporte militar leve, de baixo custo e capaz de operar com confiabilidade tanto em estradas pavimentadas quanto em terrenos acidentados, mesmo nas condições climáticas mais adversas. O veículo deveria acomodar até quatro soldados equipados e ser projetado para uma construção simplificada, permitindo a produção em larga escala. Fontes não oficiais sugeriam que a durabilidade do veículo não era uma prioridade, sendo mais econômico substituí-lo por uma nova unidade do que realizar reparos extensos ou manutenções preventivas. O resultado foi um veículo extremamente leve, projetado com uma engenhosidade que refletia as exigências do contexto. Sua estrutura permitia que dois ou três soldados conseguissem levantá-lo para trocar um pneu sem a necessidade de um macaco, uma solução prática para operações em campo. A carroceria, composta por finas chapas de aço com relevos estampados, foi desenhada para garantir a integridade estrutural, resistindo às torções do chassi em terrenos irregulares. Esse design era particularmente adequado para o futuro teatro de operações no Leste Europeu, onde a precária infraestrutura rodoviária exigiria veículos capazes de enfrentar condições desafiadoras com robustez e simplicidade. Assim, o Volkswagen, inicialmente concebido como um símbolo de esperança e progresso, foi transformado em um instrumento de guerra, refletindo as complexas tensões de uma era marcada por mudanças rápidas e profundas. Sob a liderança do engenheiro Ferdinand Porsche, a equipe responsável pelo desenvolvimento do Volkswagen deu início imediato ao projeto de militarização do “carro do povo”.
Partindo do design original, foram implementadas modificações estratégicas para adaptar o veículo às exigências militares. Apenas um mês após a solicitação oficial, em janeiro de 1938, o primeiro protótipo foi apresentado ao comando do Exército Alemão (Wehrmacht). Submetido a um rigoroso programa de testes em campo, o veículo revelou, no entanto, que os reforços aplicados ao chassi original não eram suficientes para suputar as tensões impostas por terrenos acidentados, comprometendo sua viabilidade para uso militar. Determinada a superar essas limitações, a equipe de Porsche buscou a expertise da Trutz, uma renomada fabricante de carrocerias militares. A colaboração visava atender às especificações exigidas, que determinavam um peso máximo de 550 kg quando vazio e 950 kg quando carregado, garantindo ao mesmo tempo a robustez necessária para operações fora de estrada com tração 4x2. Desse esforço conjunto nasceu a versão de avaliação final, designada Type 62, que passou por testes de campo conduzidos pelo Exército Alemão (Wehrmacht) a partir de novembro de 1938. Apesar da ausência de tração nas quatro rodas, o Type 62 demonstrou notável competência em terrenos difíceis, rivalizando com veículos de tração integral já em uso pelas forças armadas alemãs. O segredo de seu desempenho residia na combinação de um diferencial autoblocante fabricado pela ZF Friedrichshafen AG e o baixo peso do veículo, que compensavam personally a falta de tração 4x4. Com o sucesso nos testes, o Exército aprovou a produção de um lote de pré-produção, incorporando melhorias adicionais. Essas unidades chegaram a tempo de serem empregadas na invasão da Polônia, em setembro de 1939, onde o uso em um cenário real de combate revelou a necessidade de novos aprimoramentos. Entre as modificações implementadas, destacou-se a redução da velocidade mínima de 8 km/h para 4 km/h, permitindo que o veículo acompanhasse o ritmo de soldados em marcha a pé. Além disso, foram introduzidos eixos com cubos de redução de engrenagem para maior torque, amortecedores reforçados, rodas de 16 polegadas e um diferencial de deslizamento limitado. Inúmeras pequenas melhorias complementaram o projeto, assegurando maior capacidade em ambientes fora de estrada. Antes de receber a designação final o veiculo passou por uma fase de prototipagem conhecida como Type 62. Desenvolvido pela equipe de Ferdinand Porsche em colaboração com a Trutz, esse modelo inicial foi apresentado ao comando do Exército Alemão em 1938. Apesar de compartilhar o chassi e o motor do Volkswagen original, o Type 62 apresentava reforços estruturais para operações fora de estrada. Testes de campo revelaram limitações na resistência do chassi, levando a melhorias que culminaram no Type 82. O Type 62 foi essencial para validar o conceito de um veículo leve com tração 4x2, equipado com um diferencial autoblocante produzido também pela  ZF Friedrichshafen AG que compensava a ausência de tração nas quatro rodas.

Seu batismo de fogo ocorreu em setembro de 1939, durante a invasão da Polónia, os primeiros protótipos do Type 62 foram colocados em ação juntamente com as divisões motorizadas e blindadas alemãs. Apesar de ainda ser um veículo em fase experimental, desempenhou-se surpreendentemente bem em terrenos difíceis e sob condições adversas. Neste momento o modelo receberia o nome de batismo de  “Kübelwagen”, termo que deriva de Kübelsitzwagen (“automóvel com assentos em balde”), devido ao formato dos bancos.  Após essa campanha, o Kübelwagen foi oficialmente adotado como o veículo padrão de transporte leve do Exército Alemão (Wehrmacht).  A versão definitiva do Kübelwagen, o Type 82, entrou em produção em larga escala em fevereiro de 1940 na fábrica da Volkswagen em Wolfsburg, com componentes adicionais fornecidos por outras empresas, como a Ambi Budd Presswerke (carroceria) e fábricas da Tatra, Mercedes-Benz e Opel. Projetado para transportar até quatro soldados equipados, o Type 82 era extremamente leve (550 kg vazio, 950 kg carregado), com uma carroceria de aço estampado e chassi plano que permitia deslizar sobre areia, neve ou lama. Seu motor refrigerado a ar era confiável em climas extremos, e a partir de março de 1941, foi equipado com o motor Volkswagen Boxer VW 1.2, oferecendo maior potência e torque. Com o avanço do conflito, a fabricação foi gradualmente expandida para outras linhas de montagem pelo país, incluindo fábricas da Tatra, Mercedes-Benz e Opel. Durante a produção, o Type 82 recebeu pequenas modificações, como a eliminação de partes desnecessárias e reforços em componentes vulneráveis, além de melhorias como eixos com cubos de redução, amortecedores reforçados, rodas de 16 polegadas e um diferencial de deslizamento limitado. Essa versão foi amplamente utilizada em todos os fronts da guerra, do Leste Europeu ao norte da África, destacando-se por sua tenacidade e simplicidade. As mudanças implementadas focavam principalmente na eliminação de componentes desnecessários e no reforço de partes que se mostraram insuficientes para as exigências do campo de batalha. A única modificação de maior relevância ocorreu em março de 1941, com a adoção do motor Volkswagen Boxer VW 1.3, que oferecia maior potência e torque em comparação ao propulsor anterior, originalmente desenvolvido para a versão anfíbia Type 166 Schwimmwagen. Essa melhoria ampliou a versatilidade do Kübelwagen, permitindo seu uso em uma ampla gama de condições adversas, desde o rigoroso inverno europeu, com neve e gelo, até o calor abrasador dos desertos do norte da África. A produção em larga escala garantiu que o veículo equipasse unidades em todos os fronts de batalha, demonstrando uma capacidade notável de adaptação a diferentes cenários operacionais. Os resultados em combate foram surpreendentemente positivos, conquistando até mesmo os oficiais mais céticos, que inicialmente questionavam a viabilidade de um veículo de tração nas duas rodas (4x2) para operações militares.
Um dos aspectos mais notáveis do Kübelwagen era a parte inferior lisa e plana de seu chassi, que permitia ao veículo deslizar como um trenó motorizado quando suas rodas afundavam em areia, neve ou lama. Essa característica, aliada à sua leveza, conferia ao Kübelwagen uma tenacidade impressionante, permitindo que acompanhasse até mesmo veículos com tração integral. O motor refrigerado a ar revelou-se outro trunfo, funcionando com confiabilidade em climas extremos, quentes ou frios, e apresentando menor vulnerabilidade a projéteis por não depender de um radiador. Para operação em condições de inverno rigoroso, o veículo contava com um pequeno tanque auxiliar de combustível volátil, essencial para facilitar a partida em temperaturas baixas. Além da versão padrão o Type 82 (Versão de Produção Padrão, 1940–1945), seriam desenvolvidas variantes especificas como O Type 82/E (Versão de Estado-Maior) destinada a oficiais de alto escalão e equipes de comando. Diferentemente da versão padrão, essa configuração incluía acabamentos mais refinados, como assentos estofados e, em alguns casos, capotas de lona mais robustas ou até mesmo carrocerias parcialmente fechadas para maior proteção contra intempéries. Embora mantivesse as mesmas características técnicas do Type 82 padrão, o Type 82/E era usado principalmente em funções administrativas ou de supervisão, garantindo mobilidade rápida para oficiais em zonas de operação. Durante o conflito, o Kübelwagen foi adaptado para diversas funções específicas, resultando em configurações personalizadas:  Type 82/1 Rádio, Type 82/2 Sirencar (carro sirene), Type 82/3 Carro de batedor simulado, Type 82/5 picape, Type 82/6 "Tropenwagen" com carroceria de de Fusca e corpo de van box, Type 82/7 Carro de comando, Type 82/8 com carroceria feita em madeira para economizar em escassos recursos siderúrgicos e por fim o Type 87 "Kommandeurwagen, com carroceria de Fusca, equipado com paralamas mais largos para pneus off-road Kronprinz de maior diâmetro, roda sobressalente montado sob capô (acompanhado de uma lata de gás, uma tomada, um pequeno kit de ferramentas e uma pá). Alguns foram fornecidos a oficiais de alto escalão, que poderiam empurrar praticamente qualquer tipo de terreno com eles, a produção desta versão atingiria 667 carros. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, aproximadamente 50.000 unidades do Kübelwagen (Type 82 e suas variantes) foram produzidas, desempenhando um papel crucial em diversas frentes de batalha. Sua capacidade de operar em condições extremas, aliada à facilidade de manutenção e produção, fez dele um dos veículos militares mais emblemáticos de sua época. O Kübelwagen não apenas superou as expectativas iniciais, mas também inspirou desenvolvimentos posteriores na indústria automotiva, consolidando a reputação da Volkswagen como uma marca de inovação e resiliência. Muito depois do fim da guerra, a Volkswagen ressuscitou o design básico de Kübelwagen com o modelo Type 181 em 1969, sendo este veículo, desenvolvido para as Forças Armadas Federais alemãs e mais tarde também produzido para o mercado civil. Embora semelhante em aparência e design, quase nenhuma peça foi intercambiável com o Type 82.

Emprego na Força Aérea Brasileira. 
No início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos passaram a considerar com grande preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas potências do Eixo, formadas por Alemanha, Itália e Japão. Essa inquietação intensificou-se após a capitulação da França em junho de 1940, um marco que ampliou o alcance estratégico da Alemanha Nazista. Com a queda francesa, tornou-se plausível a utilização de territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias e Dacar, como bases operacionais para incursões no hemisfério ocidental. Nesse cenário, o Brasil emergiu como um ponto focal de interesse estratégico, tanto pela sua proximidade geográfica com o continente africano — que figurava nos planos expansionistas alemães — quanto pela sua relevância econômica e militar. A posição geográfica do Brasil, especialmente a região Nordeste, conferia-lhe uma importância singular. A cidade de Recife, por ser o ponto do continente americano mais próximo da África, destacava-se como um local estratégico para a instalação de bases aéreas e portos militares. Essa localização favorecia a criação de uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no Norte da África, reforçando a conexão entre os continentes americano e africano. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul, a partir de 1941, comprometeram o fornecimento global de látex, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo crítico para a indústria bélica aliada. Nesse contexto, o Brasil assumiu um papel crucial como principal fornecedor de látex para os Aliados, fortalecendo sua relevância no esforço de guerra. Diante dessas circunstâncias, observou-se uma rápida aproximação político-econômica entre Brasil e Estados Unidos. Essa cooperação materializou-se em acordos estratégicos, com destaque para a adesão do Brasil ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), promulgada em 1941. Por meio desse programa, os Estados Unidos concederam ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à modernização das Forças Armadas Brasileiras. Esses recursos permitiram a aquisição de armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, fundamentais para enfrentar as ameaças representadas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil e ao comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos. Esse comércio era vital, uma vez que o Brasil exportava diariamente matérias-primas estratégicas para a indústria bélica norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado não se limitou ao fornecimento de recursos estratégicos. O presidente Getúlio Vargas, sensível ao contexto global e às pressões internas e externas, sinalizou uma postura mais ativa. Em 1942, após uma série de ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros, Vargas declarou que o Brasil não se restringiria a contribuições materiais, abrindo caminho para o envio de tropas. 

Subsequentemente, conforme previsto, o Brasil ampliou sua participação no esforço de guerra ao lado dos Aliados, formalizando esse compromisso em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada no boletim reservado de 13 de agosto do mesmo ano, a qual estabeleceu a estrutura da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A missão do Exército Brasileiro consistia em engajar-se nas operações de combate no teatro europeu. Para o comando da FEB, foi designado o General-de-Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, que lideraria uma força composta por três Regimentos de Infantaria (6º Regimento de Infantaria de Caçapava, 1º Regimento de Infantaria e 11º Regimento de Infantaria), quatro grupos de artilharia (três equipados com peças de 105 mm e um com peças de 155 mm), uma esquadrilha de aviação para missões de ligação e observação (pertencente à Força Aérea Brasileira), um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de transmissões (comunicações). Neste contexto a  1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO) foi formalmente criada em 20 de julho de 1944, por meio do Aviso nº 57 do Ministério da Aeronáutica, com o propósito específico de apoiar a Artilharia Divisionária da FEB. Seu comando inicial coube ao Capitão-Aviador João Affonso Fabrício Belloc, promovido posteriormente a Major-Aviador, um oficial experiente que unia visão estratégica e habilidade técnica. A esquadrilha integrava-se diretamente à estrutura da Força Expedicionária Brasileira (FEB)., diferentemente do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA), que operava sob comando aliado mais amplo. Essa subordinação ao Exército Brasileiro permitia uma coordenação fluida, transformando a unidade em uma extensão ocular da artilharia sobre o campo de batalha. O efetivo inicial era enxuto, mas altamente qualificado: 11 oficiais aviadores, 1 oficial intendente, 8 sargentos mecânicos de avião, 2 sargentos de rádio e 8 soldados auxiliares de manutenção. Os observadores, oriundos da artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB), complementavam os pilotos, formando duplas inseparáveis que voavam em aeronaves leves e desarmadas, expostas aos perigos sem defesas adequadas. Desembarcada na Itália em outubro de 1944, a 1ª ELO integrou-se ao 5º Exército dos Estados Unidos, sob o comando do General Mark Clark, atuando no front italiano contra a Linha Gótica alemã. Suas missões primárias incluíam observação da linha de frente, detecção de alvos como comboios, depósitos de munições e movimentos de tropas inimigas, além de regulagem de tiro para a artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB). A 1ª ELO operava com aeronaves Piper L-4H Grasshopper, a versão militar do icônico Piper Cub, apelidado no Brasil de "Téco-Teco" por seu ronco característico, e contava com um pequeno número de veículos para apoio de suas atividades orgânicas em terra, porém aquém das necessidades de movimentação da esquadrilha. Curiosamente o atendimento parcial a esta demanda se daria de uma forma inusitada, pois desde o início do conflito, as potências beligerantes dedicaram esforços minuciosos ao estudo de armas e equipamentos capturados ou abandonados nos campos de batalha. Essa análise meticulosa buscava não apenas identificar os pontos fortes e vulnerabilidades do armamento inimigo, mas também explorar inovações tecnológicas que poderiam ser incorporadas por meio de engenharia reversa.
Nesse cenário, as Forças Armadas Brasileiras beneficiaram-se amplamente de relatórios de inteligência fornecidos pelos Aliados, que detalhavam o material bélico do Eixo, entre estes documentos possivelmente se encontravam dados referentes a avaliação de um Type 82 Kübelwagen no Campo de Provas do Exército dos Estados Unidos, em Aberdeen, Maryland, capturado durante as batalhas no norte da África em 1943.  Este trabalho culminaria na  publicação do Manual Técnico do Departamento de Guerra TM E9-803. Este documento foi distribuído às tropas americanas envolvidas na Operação Overlord, o desembarque nas praias da Normandia em 6 de junho de 1944, conhecido como Dia D. O manual tinha como objetivo fornecer conhecimentos técnicos básicos aos soldados que, em campo, poderiam encontrar Kübelwagens abandonados – muitas vezes por falta de combustível ou pequenos problemas mecânicos – e, com orientações práticas, reativá-los para uso como veículos suplementares. Essa possibilidade era especialmente valiosa para unidades de paraquedistas, que dependiam de mobilidade rápida em terrenos hostis. O TM E9-803 era notavelmente abrangente, incluindo instruções detalhadas para manutenção em campo e até mesmo recomendações para operação em temperaturas extremamente baixas, demonstrando o cuidado dos Aliados em maximizar o aproveitamento de recursos capturados. Posteriormente como previsto nos fronts de batalha europeus , especialmente entre as unidades de paraquedistas do Exército dos Estados Unidos (US Army), centenas de Kübelwagens capturados ou abandonados pelas tropas alemãs em retirada foram restaurados para pleno funcionamento. Utilizando as orientações detalhadas do Manual Técnico TM E9-803, as equipes de manutenção norte-americanas conseguiram recondicionar esses veículos, transformando-os em ferramentas valiosas para as operações aliadas. Para evitar confusão com unidades inimigas, os Kübelwagens recuperados foram completamente repintados no padrão tático do Exército dos Estados Unidos (US Army), integrando-se ao esforço de guerra com uma nova identidade visual. Além dos veículos capturados na França, muitos outros provenientes do norte da África também foram incorporados às forças aliadas passando a servir na Europa. Assim, o Type 82 Kübelwagen, originalmente concebido para servir as forças nazistas, passou a desempenhar um papel inesperado no dia a dia das tropas aliadas, demonstrando sua adaptabilidade em diversos cenários de combate.  Assim o simpático utilitário alemão logo serviria de forma inusitada sobre outra bandeira, a brasileira. O relato do emprego de um   Kubelwagen Type 82 pela Força Aérea Brasileira na Italia, remonta ao final e 1944, quando o Aspirante-Aviador Joel Clapp, piloto de um Piper Cub L-4 da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), deparou-se com um exemplar desse veículo na base aérea de San Giorgio, em Pistoia. Este Kubelwagen, originalmente capturado por soldados norte-americanos durante a campanha no Norte da África em meados de 1943, havia sido levado à Itália como troféu de guerra, junto a outros equipamentos e veículos alemães. Impressionado com o design singular do Kubelwagen, que contrastava com os jeeps norte-americanos utilizados pela 1ª ELO, o jovem oficial brasileiro viu no veículo uma oportunidade de aprimorar a mobilidade de sua unidade.
Determinado a superar as limitações logísticas, ele solicitou ao comandante da base aérea norte-americana adjacente a cessão de um Kübelwagen capturado. Inicialmente, o pedido foi negado, refletindo as cautelas burocráticas comuns em ambientes militares multinacionais. No entanto, após insistentes negociações e invocando o espírito de cooperação entre os Aliados — forjado nos acordos como o Lend-Lease Act de 1941 —, o oficial da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) concordou em transferir o veículo de forma definitiva para a unidade brasileira. Relatos informais de veteranos indicam que o Kübelwagen já havia sido repintado no padrão olive drab (verde-oliva) adotado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), uma medida padrão para integrar equipamentos capturados às forças aliadas e evitar confusões. Para afirmar sua identidade brasileira, a esquadrilha personalizou o veículo: aplicou o emblema nacional usado nos aviões Piper L-4H — um círculo branco com a estrela da FAB ao centro — e adicionou a identificação da unidade em letras brancas na traseira, acompanhada de uma bandeira brasileira. Durante missões externas, como deslocamentos para cidades próximas, o motorista fixava uma bandeira de tecido na parte frontal, uma precaução vital para prevenir incidentes de fogo amigo. Veículos de origem alemã ou italiana capturados eram frequentemente confundidos com inimigos, especialmente em zonas de combate fluidas como a Linha Gótica, onde a 1ª ELO operava em apoio ao 5º Exército dos EUA a partir de fevereiro de 1945. Apesar de sua robustez — o Kübelwagen era conhecido por sua simplicidade e capacidade off-road, projetado pela Volkswagen em 1938 para as forças alemãs —, o veículo enfrentava problemas crônicos no sistema de freios, exacerbados pela escassez de peças de reposição alemãs em um teatro dominado por suprimentos aliados. Em situações emergenciais, os motoristas recorriam a manobras improvisadas, como encostar a lateral do veículo contra edificações ou barreiras para reduzir a velocidade por atrito, uma solução arriscada que deixava marcas visíveis na lataria. Essas cicatrizes mecânicas e visíveis valeram ao Kübelwagen o apelido carinhoso de “Caroço” entre os pilotos e mecânicos da 1ª ELO, evocando as protuberâncias e imperfeições que o tornavam único e querido, como um companheiro fiel em meio ao caos. O “Caroço” acompanhou a esquadrilha ao longo de toda a campanha italiana, percorrendo estradas precárias em cidades como Suviana, Porretta Terme, Montecchio Emilia, Piacenza, Portalbera e, finalmente, Bergamo, entre outubro de 1944 e maio de 1945. Ele facilitou o transporte de pilotos para briefings, o deslocamento de observadores e até o carrego de suprimentos essenciais, contribuindo indiretamente para as 682 missões de guerra realizadas pela unidade, que incluíam regulagens de tiro para a artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com o término das hostilidades na Europa  o “Caroço” — já desgastado pelo uso intenso e pela falta de manutenção adequada — foi deixado na Itália, junto a outros equipamentos norte-americanos obsoletos ou danificados, conforme protocolos de desmobilização aliados. Seu destino, provavelmente como sucata ou o abandono em depósitos militares.

Em Escala.
Para representarmos o Type 82 Kubelwagem "Brasileiro" empregamos o kit da Tamiya na escala 1/35, modelo de fácil montagem, porém com carência de detalhamentos. Para se representar a versão empregada pela 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO), não há necessidade de se proceder nenhuma alteração. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como  complemento do livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro, adicionamos também uma bandeira brasileira em tecido para cobrir o estepe localizado da parte frontal.
O esquema de cores descrito abaixo, representa o padrão de pintura tático militar empregado pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), lembrando que este esquema foi aplicado posteriormente a sua captura no norte da Africa,  supõe-se que anteriormente este utilitário recebeu as cores padrão empregado nos  veiculos utilizados pelo Afrika Korps ( RLM079 ou Desert Yellow). 

Bibliografia :
- Livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro
Volkswagen Kübelwagen - Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Volkswagen_K%C3%BCbelwagen
- Um jipe chamado Caroço: o Kübelwagen dos brasileiros na Itália - EXTRA