Canhões Krupp 75 mm

História e Desenvolvimento.
Em 20 de novembro de 1811, Friedrich Krupp, junto com os irmãos Georg Karl Gottfried e Wilhelm Georg Ludwig von Kechel, fundou a Friedrich Krupp em Essen, inicialmente focada na produção de aço fundido inglês. As forjas de Essen, operadas por trabalhadores dedicados que enfrentavam o calor escaldante das fundições, produziam materiais de alta qualidade, estabelecendo as bases para a futura gigante industrial. Após a morte de Friedrich em 1826, seu filho Alfred Krupp assumiu a liderança por volta de 1830, com apenas 18 anos, e transformou a empresa em um colosso industrial. Sob sua visão, a Krupp desenvolveu inovações como o aro de roda inteiriço para trens, revolucionando as ferrovias globais e facilitando o transporte de tropas e suprimentos. A verdadeira transformação veio com a produção de canhões de aço fundido, um avanço técnico que superava os frágeis canhões de bronze da época. Esses canhões, testados em campos de batalha, ofereceram maior durabilidade e precisão, contribuindo para as vitórias prussianas contra a Áustria na Guerra Austro-Prussiana (1866) e contra a França na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). Para os engenheiros da Krupp, cada canhão produzido era o resultado de longas horas de cálculos e testes, enquanto para os artilheiros prussianos, era uma ferramenta de confiança que mudava o curso das batalhas. A liderança da família Krupp consolidou a empresa como a principal fornecedora de armas do Império Alemão, exportando canhões para exércitos como o russo, o austríaco e, especialmente, o otomano durante a década de 1860. Em 1897, a Krupp lançou o canhão de campanha de 75 mm (Field Gun), um projeto revolucionário que serviu de base para uma família de canhões que marcaram os campos de batalha do século XX. Com alcance de até 8.500 metros e alta cadência de tiro, o canhão combinava mobilidade e potência, ideal para as táticas de guerra modernas.  Seu sucesso levou ao desenvolvimento do modelo Krupp 1903, lançado no mercado europeu com melhorias em estabilidade e precisão. O Exército Alemão (Reichswehr) adotou o canhão em grande escala, validando seu desempenho em exercícios rigorosos, onde artilheiros enfrentavam longas jornadas para calibrar as armas sob condições adversas. O desempenho do Krupp 1903 em exercícios do Reichswehr garantiu um grande contrato governamental na Alemanha, validando seu design e impulsionando seu sucesso comercial. A Krupp exportou o canhão para diversos países, consolidando sua liderança no mercado bélico.  O Krupp 75 mm Field Gun Modelo 1903 foi um canhão de campanha projetado como um "stock gun", ou seja, uma arma produzida em série para exportação, com adaptações mínimas para atender às necessidades de diferentes clientes, levando assim a adoção deste modelo por outras nações.

Seu primeiro grande cliente seria o Império Otomano que adquiriu 558 unidades do Krupp 1903, projetadas sob especificações turcas, com escudo de proteção e culatra de bloco deslizante horizontal. Estas centenas de peças de artilharia seriam extensamente utilizadas,  com destaque para oS eventos decorridos durante a Primeira Guerra dos Balcãs (1912-1913), quando 126 unidades otomanas adquiridas anteriormente foram capturadas pelo Exército Real Sérvio, que as reutilizou na Primeira Guerra Mundial, demonstrando a durabilidade do projeto. A Dinamarca e a Holanda incorporaram o canhão, com os holandeses adquirindo 120 unidades e os direitos de produção, e logo seriam modernizados com a adaptação de  rodas de aço e pneus pneumáticos, para serem tracionados por  por veículos automotores. Os canhoes destinados a Dinamarca seriam designados como  "03 L/30", sendo inclusive  usados nas fases iniciais da Segunda Guerra Mundial, compondo a  resistência  à invasão alemã em 1940. Em termos de usuários, o  caso mais notável foi a Romênia, que adquiriu 636 unidades, a maior importação de um único tipo de canhão em sua história. Localmente seriam designados como "Tunul de câmp Krupp, cal. 75 mm, md. 1904" e se diferenciavam por estarem equipados  com a mira Ghenea-Korodi, produzida nacionalmente, com este sistema se mostrando mais avançado e preciso que seu similar  original alemão. Esses canhões formaram a espinha dorsal da artilharia romena na Primeira Guerra Mundial, equipando todos os regimentos de artilharia das divisões de infantaria. Para os artilheiros romenos, operar o Krupp 1903 era uma tarefa de precisão e resistência. Em campos de batalha como os dos Cárpatos, enfrentavam lama, frio e combates intensos, carregando projéteis de 6,5 kg e ajustando a mira para atingir alvos a longas distâncias.  O atrito e as perdas em combate reduziriam em 1926 este acervo para apenas 321 peças, porém apesar de já ser considerado obsoleto, seriam mantidos em serviço ativo até o ano de 1942. A Bélgica adquiriu uma licença para produzir o Krupp 1903 na Fonderie Royale des Canons, sob a designação Canon de 7c5 M 1905 TR et TRA. Esses canhões foram usados nas duas guerras mundiais, com os alemães designando os capturados como 7.5 cm Feldkanone 235(b). O número exato de unidades produzidas não é detalhado, mas a licença sugere uma produção significativa. No Japão, o governo comprou os direitos do  Krupp 1903, desenvolvendo localmente  o canhão Tipo 38 de 75 mm, que foi amplamente utilizado pelo Exército Imperial do Japão  na guerra contra a China Nacionalista na década de 1930.
Na primeira década do século XX , quando a grande corrida armamentista europeia teve seu início em função  do intensificar das tensões geopolíticas, o governo belga fecharia um grande contrato para produção sob licença diretamente junto ao fabricante alemão, envolvendo mais especificamente uma versão aprimorada do  Krupp 7.5 cm Field Gun Modelo 1903. A nova arma de artilharia receberia a designação de Canon de 7c5 M 1905 TR et TRA e seria fabricada localmente pela Fonderie Royale des Canons (FRC). O "TR" (Traction Roulante) referia-se à versão tracionada por cavalos, enquanto o "TRA" (Traction Automobile) indicava uma modernização para tração motorizada, implementada na década de 1920. O canhão utilizava uma culatra de cunha horizontal deslizante e era equipado com um escudo de proteção, oferecendo maior segurança às tripulações.  Inicialmente os primeiros lotes apresentavam um baixo índice de conteúdo local, com este processo evoluindo até atingir um índice de nacionalização de quase 90% excetuando apenas o barril que ainda era produzido pela Friedrich Krupp AG.  Tratava-se de um projeto convencional para a época , fazendo uso de  um sistema de recolhimento de mola hidráulica e uma culatra horizontal do tipo bloco deslizante. A pistola pesava 1.070 kg quando utilizada, uma elevação de –8 ° a + 16 ° e poderia disparar um projétil de estilhaço de 6,5 kg a um alcance máximo impressionante de 8.000 metros. Em 1914, o Exército Belga (Armée belge) possuía dezoito brigadas de artilharia de campanha , e cada uma delas composta por três baterias de 75 mm, equipadas com o Modelo  Krupp 1905. A produção do Canon de 7c5 M 1905  na Bélgica não tem números exatos documentados, mas, considerando a capacidade industrial da FRC e o uso do canhão por divisões de infantaria belgas, estima-se que algumas centenas de unidades foram fabricadas, possivelmente entre 100 e 200, com base em práticas de produção licenciada da época. O Canon de 7c5 M 1905 foi amplamente utilizado pelo Exército Belga durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), apoiando divisões de infantaria em batalhas como a defesa de Antuérpia e a Frente Ocidental. Com uma cadência de 15 a 20 disparos por minuto e projéteis de 6,5 kg, o canhão oferecia suporte eficaz contra posições fortificadas e tropas inimigas. A maioria dessas armas acabaria sendo perdida durante o avanço inicial das forças armadas alemães. A parir deste momento o esteio da artilharia de campo da Bélgica passaria a ser composta por canhões de calibre de 75 mm produzidos na França. 

Neste momento a  equipe de projetos da Friedrich Krupp AG, sempre se dispunha livremente a customizar o desing de seus produtos destinados ao mercado de exportação, visando assim atender a necessidades especificadas de cada novo cliente. A exemplo podemos citar o Modelo 1908, que teve seu projeto fundamentalmente alterado para atender aos requisitos apresentados pelo Exército Imperial do Japão.  O Krupp 75 mm Modelo 1908 foi projetado como uma evolução do bem-sucedido Field Gun de 75 mm Modelo 1903, que alcançou exportações significativas para países como Romênia, Império Otomano e Holanda. A pedido do Exército Imperial do Japão, a equipe de projetos da Krupp realizou alterações substanciais para atender às especificações japonesas, demonstrando a flexibilidade que caracterizava a empresa. O Modelo 1908, designado como Type 38 no Japão após aquisição dos direitos de produção, apresentava um cano mais longo, com comprimento de 30 calibres (L/30, cerca de 2,25 metros), em comparação com os modelos anteriores, como o Krupp 1903. Essa modificação aumentava o alcance máximo para aproximadamente 9.000 metros, superando os 8.500 metros do Modelo 1903, embora tornasse o canhão ligeiramente mais pesado, com cerca de 1.100 kg. A carruagem de transporte foi completamente redesenhada, rompendo com o padrão da Krupp. Em vez da típica caixa aberta usada no Krupp 7.5 cm Gebirgskanone M.1904 (canhão de montanha), o Modelo 1908 adotou elementos tubulares, assemelhando-se a um grande diapasão no plano horizontal. A seção traseira da trilha, que suportava a pá de ancoragem, podia ser dobrada sobre os tubos dianteiros, facilitando o transporte em terrenos acidentados. Esse design inovador, inspirado em projetos da concorrente Ehrhardt Rheinmetall AG, conferia maior mobilidade e robustez, ideais para as operações do Exército Imperial Japonês em terrenos variados da Manchúria e da China. Na fábrica da Krupp em Essen, engenheiros e operários trabalhavam com precisão artesanal, moldando o aço em forjas escaldantes e testando cada componente para garantir durabilidade e desempenho.  Adquiridos as centenas pelo governo do Império do Japão, logo se tornaria  a espinha dorsal de sua artilharia de campanha. Durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), o canhão foi amplamente utilizado, oferecendo suporte às divisões de infantaria com sua cadência de 15 a 20 disparos por minuto e projéteis de 6,5 kg. Sua mobilidade, garantida pela carruagem tubular, permitia deslocamentos rápidos em terrenos difíceis, enquanto o alcance ampliado era crucial para atingir posições fortificadas. Este modelo seria considerado para exportação há outros países mantendo o calibre 75mm L/30, se tornando um grande sucesso comercial na primeira década do século vinte. 
O Tratado de Versalhes impôs duras sanções à Alemanha, incluindo indenizações financeiras e limites rigorosos à produção industrial. Para a Friedrich Krupp AG, que havia se tornado sinônimo de armamentos desde as guerras prussianas de 1866 e 1870, as restrições foram particularmente severas: a empresa foi proibida de fabricar armas e munições, e a produção de aço foi limitada por cotas máximas. Essas medidas afetaram profundamente os trabalhadores de Essen, que, após anos moldando canhões em forjas escaldantes, enfrentaram a incerteza de um futuro sem a principal atividade da empresa. Para muitos, a transição foi um teste de adaptação, com famílias inteiras dependentes da Krupp para sua subsistência. Sob a liderança de Gustav Krupp, a empresa se reinventou, voltando-se para a produção de ferramentas, máquinas agrícolas e materiais para a indústria de base, como locomotivas e componentes ferroviários. Nas oficinas de Essen, operários que outrora forjavam canhões agora fabricavam arados e peças industriais, mantendo viva a tradição de precisão da Krupp. Esse período de paz forçada foi marcado por um espírito de resiliência, com engenheiros e técnicos buscando soluções inovadoras para sustentar a empresa em um cenário de restrições. A ascensão de Adolf Hitler ao poder em 1933, consolidada em 1934, marcou o início de um ambicioso programa de rearmamento alemão, desafiando as restrições do Tratado de Versalhes. A Friedrich Krupp AG foi convocada a retomar sua produção bélica, reacendendo as forjas de Essen com um novo propósito. Para os trabalhadores, o retorno à fabricação de armas era tanto uma oportunidade de recuperação econômica quanto um lembrete do papel central da Krupp na história militar alemã. Engenheiros, muitos dos quais haviam preservado seus conhecimentos durante o período de restrições, voltaram a projetar canhões e munições, adaptando-se às demandas do regime nazista. Entre os projetos de destaque estava o Schwerer Gustav, um colossal canhão ferroviário de 800 mm, projetado para destruir fortificações massivas. No entanto, o volume de negócios da Krupp concentrou-se em peças de artilharia de médio e leve calibre, mais práticas para produção em massa e uso em campo. Os canhões de campanha de 75 mm, como os modelos Krupp 75 C-26 M e C-28 M, foram desenvolvidos para atender a essas necessidades, com designs simplificados que priorizavam eficiência e baixo custo. Equipados com rodas de madeira para tração animal, esses canhões combinavam mobilidade e robustez, pesando cerca de 1.000 kg e alcançando até 9.000 metros com projéteis de 6,5 kg.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
A artilharia brasileira, enraizada nas lutas coloniais e consolidada após a Independência de 1822, é um pilar da história militar do país, marcada por momentos de bravura, inovação e resiliência. As origens da artilharia brasileira remontam ao período colonial, quando brasileiros se mobilizaram em conflitos como as Batalhas de Guararapes, enfrentando forças holandesas em Pernambuco com táticas rudimentares, mas corajosas. Após a Independência, em 1822, a artilharia de campanha começou a se estruturar como uma arma organizada, ganhando prestígio no Império do Brasil. Diferentemente da infantaria e da cavalaria, que exigiam menos anos de formação, a artilharia demandava treinamento completo na Academia Militar do Império, refletindo sua complexidade técnica. Os artilheiros, muitas vezes jovens oficiais, dedicavam-se a dominar cálculos balísticos e manobras táticas, forjando uma tradição de excelência que marcaria gerações. O auge desse período foi a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), onde a artilharia brasileira, sob o comando do Marechal Emílio Luís Mallet, se destacou na Batalha de Tuiuti (1866), a maior batalha campal da América do Sul. Apelidada de “Artilharia Revólver” por sua precisão e rapidez, a força brasileira, protegida por um fosso tático inovador, resistiu a ataques paraguaios com uma determinação eternizada na frase de Mallet: “Eles que venham! Por aqui não passam!”. Nascido na França em 1801 e naturalizado brasileiro, Mallet comandou com destreza, sendo promovido a brigadeiro por mérito e agraciado com o título de Barão de Itapevi em 1878, ascendendo a marechal em 1885. Sua liderança transformou a artilharia em um símbolo de orgulho nacional, inspirando gerações de artilheiros. A influência da Friedrich Krupp AG no Brasil começou em 1872, com a aquisição dos primeiros canhões de campanha de 75 mm, destinados aos Regimentos de Artilharia a Cavalo. Essas peças, fabricadas em Essen, Alemanha, representavam o auge da tecnologia bélica, superando os canhões franceses La Hitte, que até então equipavam o arsenal brasileiro. Na década de 1880, o Exército Imperial recebeu mais três dezenas de canhões Krupp 75 mm Modelo 1895, recomendados pelo Conde d’Eu, Comandante Geral da Artilharia e presidente da Comissão de Melhoramento de Material do Exército. Como genro do Imperador Dom Pedro II, o Conde d’Eu desempenhava um papel central como conselheiro militar, defendendo a superioridade dos canhões alemães, que alcançavam até 12.000 metros, uma melhoria significativa em relação aos modelos anteriores. A adoção em larga escala dos canhões Krupp marcou uma virada na modernização do Exército Brasileiro, recuperando o potencial militar após anos de estagnação. Para os artilheiros, operar essas armas era um desafio que exigia precisão e treinamento. Em exercícios nos campos de treinamento do Rio de Janeiro, equipes de cinco a sete homens carregavam projéteis de 6,5 kg, ajustavam sistemas de mira e disparavam sob o calor carioca, fortalecendo a camaradagem. Ironicamente, os canhões recomendados pelo Conde d’Eu foram usados contra uma rebelião monarquista na Guerra de Canudos (1896-1897), onde provaram sua eficácia em combates reais, apesar das condições adversas do sertão baiano.

No início do século XX, o Exército Brasileiro enfrentava a obsolescência de seus armamentos e doutrinas, um legado das limitações técnicas evidenciadas desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) e confirmadas na Campanha de Canudos (1896-1897). Os canhões Krupp de 75 mm, adquiridos em 1872 e 1895, embora revolucionários em sua época, não acompanhavam os avanços tecnológicos, como os sistemas de recuo hidropneumático e a maior mobilidade exigidos pela guerra moderna. Sob a liderança visionária dos Marechais João Nepomuceno de Medeiros Mallet, Francisco de Paula Argolo e, sobretudo, Hermes da Fonseca, com o apoio do Barão do Rio Branco, o Brasil empreendeu uma transformação profunda conhecida como Reforma Hermes (1900-1908). A Reforma Hermes envolveu a reestruturação organizacional do Exército, com a divisão do território nacional em 21 regiões para alistamento militar e 13 para inspeção, além da criação e regulamentação do Estado-Maior. Inspirado pelo Exército Prussiano, particularmente pelo modelo de Estado-Maior de Helmuth von Moltke, Hermes defendia publicamente a necessidade de elevar o Exército Brasileiro ao nível das forças germânicas, conhecidas por sua disciplina e tecnologia de ponta. A reforma também revisou o sistema de ensino militar, capacitando oficiais com formação técnica avançada, e priorizou a aquisição de armamentos modernos, especialmente da Alemanha, devido à ausência de uma indústria bélica nacional. Em agosto de 1908, Hermes da Fonseca realizou uma viagem à Alemanha, movido por sua admiração pelo Exército Prussiano e pelo desejo de adquirir conhecimentos técnico-profissionais e equipamentos de ponta. A visita resultou em contratos significativos com empresas alemãs, incluindo a Friedrich Krupp AG, que reforçaram a modernização do Exército Brasileiro. Esses acordos incluíram a aquisição de 400.000 fuzis Mauser de 7 mm para a infantaria, 10.000 lanças Ehrhardt, 20.000 espadas e 10.000 mosquetões para a cavalaria, refletindo a escala da renovação armamentista. Para a artilharia, a Krupp forneceu 27 baterias de canhões de campanha de 75 mm Modelo 1908, seis baterias de canhões de montanha de 75 mm e cinco baterias de obuses de 105 mm. Esses canhões, com sistemas de recuo hidropneumático e alcance de até 9.000 metros (75 mm) e 6.500 metros (105 mm), representavam o auge da tecnologia bélica. O Modelo 1908, já customizado para o Japão como Type 38, era conhecido por sua carruagem tubular, que aumentava a mobilidade, e por sua construção simplificada, ideal para produção em massa. Além disso, foram encomendados canhões Krupp de 305 mm, destinados às torres do Forte de Copacabana, em construção no Rio de Janeiro, então Capital Federal, para fortalecer a defesa costeira. Para os artilheiros brasileiros, operar essas novas armas era um desafio que exigia treinamento intensivo. Em campos de treinamento como os de Valença (RJ) e Rio Pardo (RS), equipes de cinco a sete homens ajustavam sistemas de mira, carregavam projéteis de 6,5 kg (75 mm) ou 15 kg (105 mm) e disparavam sob condições adversas.
Em fins do ano de 1909 seriam recebidos no porto do Rio de Janeiro, um total de cento e setenta canhões  Krupp 75 mm C-26 e C-28 dos modelos 1908 e 1909, sendo logo colocados em imediatamente em serviço. Estas armas de calibre 75mm/L28 apresentavam um alcance de 6.000 metros, disparando projeteis de 5,5 kg (estilhaços 245 balas de 11 gramas) a uma velocidade de 490m/s. Sua guarnição era de nove homens, com o conjunto sendo geralmente tracionados por nove cavalos ou mulas, sua munição composta de 36 granadas era transportada em um um "carro de munição" também fabricado pela Friedrich Krupp AG. O canhão apresentava um peso total de 1.436 kg, o o carro de transporte de munição pesava 1.415 kg totalmente carregado e 792 kg quando vazio. A robustez da construção da arma e sua facilidade de operação e manutenção, agradaria muito os comandantes das unidades de artilharia de campanha. O primeiro emprego real dos novos canhões Krupp 75 mm ocorreria durante a Guerra do Contestado (1912 - 1916), em uma localidade situada entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esta região seria marcada por essas disputas em razão da presença de uma rica floresta e uma grande região dedicada à plantação de erva-mate. Este conflito teria como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado. Preocupados com a formação de rebeliões, os governos estadual e federal passaram a partir de 1912 a enviar expedições militares contra a população do Quadrado Santo, com unidades de artilharia de campanha sendo muito empregadas em ataques decisivos, com este conflito se estendendo pelo menos o mês de agosto de 1916.   Satisfeitos com os resultados do emprego desta família de canhões, o comando do Exército Brasileiro decidiria por adquirir mais armas de artilharia desta família, assim negociações bilaterais seriam conduzidas entre os governos brasileiro e a alemão. Em agosto de 1913, o seria celebrado um contrato junto a Friedrich Krupp AG, prevendo a aquisição imediata de duzentos canhões de campo de 75 mm, que deveriam ser entregues em até dez meses a partir da assinatura do acordo. A primeira remessa seria realizada dentro do cronograma previsto, pertencendo ao modelo Krupp C-28 1911, e apresentavam como diferença básica em relação à pistola Modelo 1909 ser representada pela maior espessura da culatra com o mecanismo semelhante ao modelo FK 96. Nesta mesma remessa seriam entregues também recebidos canhões de montanha Krupp de  Modelo 24 C14 de 75 mm.
No entanto em julho de 1914 ao eclodir da Primeira Guerra Mundial, pelo menos cento e oito peças destinadas ao contrato brasileiro se encontravam prontas nas instalações do fabricante na cidade de Essen. Porém estas seriam confiscadas arbitrariamente pelo governo alemão, e possivelmente seriam destinadas a equipar as divisões de artilharia no front oriental. Os registros do fabricante classificavam estas peças como pertencentes a versão  Feldkanonen C-30 de 75 mm, um modelo aprimorado, podendo ser este o motivo que levaria a esta decisão de confisco. Durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro se encontrava em uma situação complicada, pois este era um período sacudido por inúmeros conflitos de ordem regional espalhados no mundo. Olhando o cenário sul-americano, muitos países vizinhos ao Brasil dispunham de equipamentos bélicos superiores, chegando a preocupante definição que nosso país estava completamente despreparado para enfrentar possíveis ameaças externas. Para resolver esta deficiência em 1936 o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinou que uma comissão de compras, visitasse na Europa principalmente, vários fabricantes de armamentos, visando assim iniciar um processo de reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras.  Em atendimento a estas demandas, em 25 de março de 1938, seriam assinados diversos contratos com a empresas alemães como a Daimler Benz, Kraus Maffei, Fried Krupp AG. AG Matra Werke, Bussing-NAG, Henschel & Sohn, Car Zeiss e Eletroacoustic GmBh, resultando na compra de uma quantidade substancial de material militar. O fornecedor principal nesta fase, novamente, seria a Fried Krupp AG, se destacando pelo volume de negócios celebrados com esta, assim por este motivo este acordo passaria a ser conhecido como “O Grande Contrato Krupp. Em setembro de 1939 o início da Segunda Guerra Mundial implicaria em bloqueios nas rotas comerciais entre a Alemanha e os demais países, atrasando a entrega dos materiais pertencentes ao contrato brasileiro. O intensificar do conflito na Europa iria interromper de vez o fornecimento de materiais militares previstos neste contrato, com o restante do material estocado sendo absorvido pelas forças armadas alemães. Somente 64 canhões Krupp dos modelos C-26 e C-28 seriam recebidos, incluindo equipamentos de apoio e reboque de munição. Durante o conflito estas armas em conjuntos com outros modelos fabricados pela Fried Krupp AG seriam empregados em diversas manobras e exercícios de defesa equipando os regimentos de artilharia a cavalo. Os canhões Krupp de 75 mm estiveram em ação em quase todos os grandes conflitos regionais ocorridos no país no início do século vinte incluindo as revoluções de 1930, a Constitucionalista de 1932, curiosamente os canhões de 75 mm Krupp (e também Schneider) foram empregados como arma orgânica dos seis trens blindados (TB) denominados TB-1 a TB-6, construídos na Oficinas Ferroviárias. Com a ampliação da motorização do exército, a partir de 1954 uma parte destes canhões mais novos, seriam modernizados nos arsenais de guerra no Rio de Janeiro (RJ) e General Câmara (RS) recebendo novas rodas com pneus no lugar das rodas de madeira passando a dotar vários Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) permanecendo em operação até a primeira metade da década de 1980.   

Em Escala:
Diversos modelos e versões dos canhões Krupp 75 mm seriam empregados no Exército Brasileiro  e na Força Publica de São Paulo ao longo dos anos, desta maneira optamos por representar o modelo Krupp 1895 calibre 75 mm do tipo retrocarga. O kit produzido pela empresa Artesania Latina é composto por peças produzidas em madeira, latão e metal, e apresenta nível de detalhamento e acabamento aceitável.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp 75 mm e demais peças de artilharia de origem alemã, se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Reichswehr) durante a década de 1910. Presume-se desta maneira  que as peças de artilharia pertencentes ao Exército Brasileiro neste período foram repintados neste esquema. Esta tonalidade de pintura representa também as peças preservadas atualmente em museus militares.


Bibliografia: 
- História Militar - http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/
- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Jr – Tecnologia & Defesa
- Arquivos do Museu Militar de Conde de Linhares – Rio de Janeiro
- Krupp Gun – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Krupp_gun
- Arquivos do Museu Militar do Comando Sul – Porto Alegre