No início do século XIX, a artilharia ainda dependia amplamente de canhões de alma lisa, feitos de bronze ou ferro fundido, que disparavam projéteis esféricos com alcance e precisão limitados. Embora a pólvora já fosse conhecida desde o século XIII, sua aplicação em canhões de maior calibre, como os de 155 mm, ganhou força com o aprimoramento das técnicas de fundição e metalurgia. Esses avanços permitiram a produção de canhões mais resistentes, capazes de suportar pressões internas maiores e disparar projéteis mais pesados a distâncias maiores. A principal revolução na artilharia do século XIX foi a introdução do raiamento nos canos dos canhões, que começou a ser amplamente adotado a partir da década de 1850. As raias helicoidais no interior do cano faziam o projétil girar, conferindo maior estabilidade, precisão e alcance. Para canhões de 155 mm, isso significou a substituição de granadas esféricas por projéteis cilíndricos e ogivais, que eram mais aerodinâmicos e eficazes. Outro avanço crucial foi o desenvolvimento do carregamento pela culatra, que substituiu o carregamento pela boca, predominante até meados do século. Canhões de 155 mm, como os projetados na Europa (especialmente na França e na Prússia), começaram a adotar sistemas de culatra que permitiam recargas mais rápidas e seguras, além de reduzir o risco de escapamento de gases. A França, com o obus Canon de 155 C Modèle 1917 Schneider, precursor de modelos posteriores, foi pioneira nesse campo, influenciando a artilharia de outros países. Na década de 1890, o desenvolvimento de sistemas de freio e recuperação (como molas ou cilindros de gás) permitiu que canhões de 155 mm absorvessem o recuo do disparo, mantendo a estabilidade e reduzindo a necessidade de reposicionamento após cada tiro. Essa inovação, combinada com carretas mais robustas, aumentou a mobilidade e a eficiência das peças de artilharia em campanha. Canhões de 155 mm, classificados como artilharia média ou pesada, eram usados tanto em operações de sítio quanto em combates de campo. Durante a Guerra Russo-Turca (1877-1878), obuses de 155 mm demonstraram sua capacidade de atingir fortificações com projéteis explosivos de cerca de 43 kg, com alcance de até 19 km em modelos mais avançados do final do século. Na Guerra Civil Americana, peças como o canhão-obus de 12 cm (próximo ao calibre de 155 mm) foram amplamente empregadas, destacando-se pela versatilidade em disparar tanto projéteis explosivos quanto inertes. Na Europa, a Prússia e a França lideraram o desenvolvimento de canhões de 155 mm, com destaque para os obuses de campanha pesada, que se tornaram padrão em muitos exércitos europeus na década de 1890. Os canhões de 155 mm foram fundamentais para moldar as táticas da Primeira Guerra Mundial. Sua capacidade de causar destruição em larga escala alterou a natureza do combate, forçando exércitos a investir em fortificações mais robustas, como bunkers de concreto. Na Batalha de Passchendaele (1917), por exemplo, obuses de 155 mm foram usados intensivamente para tentar romper as linhas alemãs, embora a lama e as condições adversas limitassem seu impacto. A introdução de projéteis especializados, como granadas de gás (químicas) e shrapnel (para atingir tropas expostas), ampliou a letalidade dessas armas
Os Estados Unidos, ao entrarem no conflito em 1917, enfrentaram uma carência de artilharia moderna. Até então, o Exército dos Estados Unidos (US Army) dependia de equipamentos obsoletos ou importados, especialmente de aliados como a França. O canhão de 155 mm 155 C Modelo 1917 Schneider, projetado pelo coronel francês Louis Filloux, era uma peça de artilharia pesada de longo alcance, amplamente utilizada pelo exército francês. Sua eficácia em bombardeios de longo alcance e operações contra-bateria impressionou os americanos, que decidiram adotá-lo e adaptá-lo para suas necessidades, resultando no M-1918. Sua produção em massa começou em 1918, mas enfrentou atrasos devido à falta de experiência industrial americana em fabricar artilharia pesada. No período entre guerras, após a Primeira Guerra Mundial, o Exército dos Estados Unidos reconheceu a necessidade de modernizar sua artilharia pesada para acompanhar os avanços tecnológicos europeus. O M-1918 de 155 mm, era eficaz, mas sua mobilidade e alcance eram limitados para as exigências de um conflito moderno. Assim, na década de 1920, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos iniciou estudos para desenvolver um novo canhão de 155 mm que combinasse maior alcance, mobilidade e potência de fogo. O desenvolvimento do M-1 de 155 mm começou oficialmente em 1920, sob a liderança do Westervelt Board, uma comissão criada para revisar as necessidades de artilharia do Exército americano. O objetivo era criar uma peça de artilharia pesada que superasse as limitações do M-1918 e pudesse ser transportada com maior eficiência. Inspirado no M-1918 e no francês GPF, o M-1 foi projetado para maximizar o alcance e a precisão, utilizando um cano mais longo (45 calibres, ou seja, 6,97 metros) para aumentar a velocidade inicial do projétil. O projeto incorporou um sistema de recuo hidropneumático avançado, baseado em modelos franceses, que absorvia o impacto do disparo, permitindo maior cadência de tiro sem reposicionamento. A carreta foi redesenhada para ser dividida em duas partes (cano e base) para transporte, utilizando pneus de borracha e suspensão reforçada, adequando-se às condições de terrenos variados. Os primeiros protótipos, designados T4, apresentavam um cano alongado de 20 calibres e um novo mecanismo de culatra, sendo testados na década de 1920, mas enfrentaram problemas de estabilidade e peso excessivo. Excepcionalmente, este seria o único sistema que empregava um mecanismo de parafuso interrompido por 'cone lento' a entrar no serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) após a década de 1920, isto significava que dois movimentos separados eram necessários para abrir a culatra, contra o movimento único do mecanismo de "cone íngreme" que girava e retirava simultaneamente a culatra. No entanto, a Grande Depressão, desencadeada pela crise econômica de 1929, impôs severas restrições orçamentárias, limitando os recursos disponíveis para pesquisa, desenvolvimento e produção. A falta de financiamento atrasou este e outros projetos, com seu modelo final sendo aprovado somente em 1938.

O M-1 Howitzer 155 mm também se fariam presentes também na Guerra da Coreia, quando o Exército do Povo da Coreia do Norte (socialista) invadiu o território do sul em todo o 38º Paralelo na data de 25 de junho de 1950. Neste período o Exercito dos Estados Unidos (US Arny) estava passando por um período de desmobilização e não dispunha dos mesmos efetivos para artilharia de campanha, a exemplo do que possuía no final da Segunda Guerra Mundial. Assim desta maneira somente 21 obuseiros M-1 155 mm foram empregados nas primeiras fases do conflito. Apesar de serem reforçados por novas peças de artilharia , muitas destas se perderam em combate, sendo abandonadas perante o avanço das forças inimigas. Mesmo assim este modelo de obuseiro provaria novamente seu valor no campo de batalha. Introduzido como uma peça de artilharia pesada de longo alcance, o M-1 desempenhou um papel crucial no apoio às tropas terrestres, especialmente em combates intensos como a Batalha do Rio Imjin e a defesa do perímetro de Pusan. Sua capacidade de disparar projéteis a até 23,5 km, com precisão e poder destrutivo, foi essencial para neutralizar posições fortificadas norte-coreanas e chinesas. A partir de 1962 o modelo seria renomeado atendendo ao nova padrão de designação do Exercito dos Estados Unidos (US Arny), passando a ser conhecido como M-114, época no qual passaram a dotar também os grupos de artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Estados Unidos (US Marine Corps). Ao final da década de 1960, dentro dos esforços de apoio à Coreia do Sul, o obuseiro M-114A1 passou a ser produzido sob licença pela Kia Machine Tool, atualmente conhecida como Hyundai Wia, contribuindo significativamente para o fortalecimento do arsenal de artilharia daquele país. Essa iniciativa, iniciada nas décadas de 1970 e 1980, visava equipar o Exército da Coreia do Sul com uma capacidade de fogo capaz de rivalizar com seu principal adversário, a Coreia do Norte. A versão local, designada KM114-A1, foi adaptada para disparar munições de alcance estendido (RAP), alcançando até 19,5 km, e representou um marco no desenvolvimento da indústria de defesa sul-coreana, alinhando-se às necessidades estratégicas de defesa contra as ameaças regionais. O início da Guerra do Vietnã, que se intensificou a partir de 1959 e se estendeu até 1975, marcou o retorno do obuseiro M-114 e sua variante M-114A1 à ação real, consolidando-se como a peça de artilharia padrão de calibre 155 mm para operações de médio alcance. Esses obuseiros, amplamente utilizados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), foram fornecidos em grande quantidade ao Vietnã do Sul como parte do apoio militar americano para conter o avanço comunista liderado pelo Vietnã do Norte e seus aliados. A M-114A1, com alcance aprimorado e capacidade de disparar munições de carregamento separado, incluindo projéteis explosivos e iluminantes, tornou-se uma ferramenta essencial no suporte às forças do Exército da República do Vietnã (ARVN), especialmente em combates contra a guerrilha do Viet Cong e as forças do Exército Popular do Vietnã (PAVN).

Com o término do conflito em 30 de abril de 1975, após a queda de Saigon e a unificação do país sob a República Socialista do Vietnã, um número significativo de M-114 capturados pelas forças vitoriosas do norte passou a integrar o arsenal dessa nova nação. Apesar de serem equipamentos de origem americana, os obuseiros foram adaptados e mantidos em uso pela República Socialista do Vietnã ao longo da década de 1980. Esse período incluiu operações como a invasão do Camboja em 1978-1979 para derrubar o regime Khmer Vermelho, onde a artilharia de 155 mm desempenhou um papel estratégico. Além das versões tradicionais do obuseiro M-114, foram conduzidos experimentos com versões autopropulsadas ao longo da evolução da artilharia americana, refletindo a busca por maior mobilidade em combate. Um dos projetos iniciais foi o 155 mm Howitzer Motor Carriage T-64, desenvolvido em dezembro de 1942, que utilizava o chassi do tanque leve M-5 Stuart. Contudo, o projeto foi abandonado após a construção de um único protótipo, dando lugar ao T-64E1, que adotou o chassi alongado do tanque leve M-24 Chaffee, mais avançado e versátil. Esse design foi padronizado como M-41 Howitzer Motor Carriage, apelidado de "Gorilla", e entrou em produção em 1945, embora apenas 85 das 250 unidades planejadas tenham sido concluídas antes do cancelamento do pedido devido ao fim da Segunda Guerra Mundial. Ao final da década de 1960, seriam iniciados os estudos para o desenvolvimento de um obuseiro de 155 ml, destinado a substituir os M-114 no Exército e no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Projetado no Rock Island Arsenal a partir de 1969, com testes de tiro iniciados em 1970, o novo M-198 entrou em produção em 1978. A nova arma apresentava um peso inferior a 7.300 kg, o que permitia transporte por helicópteros CH-53E Super Stallion ou CH-47 Chinook e lançamento por paraquedas. Seu alcance máximo é de 18,1 km com munições padrão e até 30 km com projéteis assistidos por foguete (RAP), proporcionam um desempenho muito superior ao seu antecessor. O M-198 155 mm passaria a ser distribuído aos regimentos de artilharia no ano seguinte onde passariam a substituir inicialmente as peças mais degastadas. Uma pequena parcela do acervo seria transferida as unidades de reserva da Guarda Nacional, onde permaneceria em serviço até meados da década de 1980. O processo de desativação dos M-114 junto as forças armadas norte-americanas durante o final da década de 1970, proporcionaria um volume excedente, com estes passando a ser cedidos a nações alinhadas aos objetivos geopolíticos dos Estados Unidos, atingindo neste processo um total de 46 países. Atualmente o M-114 ainda se encontra em uso no Afeganistão, Argentina, Tunísia, Brasil, Camarões, Chipre, Chile, Equador, Irã, Coreia do Sul, Laos, Líbano, Marrocos, Paquistão, Peru, Filipinas, Portugal, Taiwan, Tailândia, Turquia, Uruguai, Venezuela, Vietnã e Indonésia, e existem indícios que muitos países ainda devem manter este obuseiro em uso pelas próximas décadas.
Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças, envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.
Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, impulsionada pelo programa norte-americano Lend-Lease Act. A partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados. A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música. Após desembarcar em Nápoles e realizar treinamento com instrutores americanos, a artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi posicionada para apoiar as operações do V Exército dos Estados Unidos contra as linhas defensivas alemãs, como a Linha Gustav e a Linha Gótica. O batismo de fogo ocorreria no dia 16 de setembro de 1944, no sopé do Monte Bastione, ao norte da cidade italiana de Lucca, na Toscana, um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno próximo. Precisamente às 14 horas e 22 minutos foi lançado contra o inimigo nazista o primeiro tiro jamais disparado pela artilharia brasileira fora do continente sul-americano, atingindo com precisão o objetivo previsto: Massarosa. Ao longo da campanha, os M-1 155 mm foram usados para bombardear posições alemãs, neutralizar contra-ataques e proteger flancos aliados, demonstrando precisão e confiabilidade em combates prolongados. Neste cenário durante seus deslocamentos seriam tracionados por tratores de esteira M-5.

Durante a guerra mais obuseiros deste modelo seriam recebidos no Brasil , passando a dotar pelo menos mais grupo de Artilharia Divisionária constituída por três grupos de M-2A1 105 mm e um de M-1 155 mm todos sediados no Rio de Janeiro. Com o fim do conflito, em maio de 1945, os M-1 155 mm e outros equipamentos utilizados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram transferidos ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, sediado em Roma. Nesse processo, os itens em melhores condições foram cuidadosamente selecionados, acondicionados e enviados ao Brasil por via marítima, logo após serem recebidos no pais, seriam distribuídos aos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC), onde seriam tracionos pelos tratores de esteira M-4 e M-5. No final da década de 1960, o Brasil intensificou seus esforços para modernizar suas Forças Armadas, consolidando parcerias estratégicas iniciadas durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) por meio do programa Leand & Lease Bill Act. Um marco significativo nesse processo foi o Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952, que facilitou a transferência de equipamentos militares americanos para o Exército Brasileiro e o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Neste momentos seriam recebidos pelo menos mais 90 unidades da versão mais atual o M114A2 AR 155 mm, que apresentavam sensíveis melhorias, sendo estes de fabricação sob licença sul-coreana. Estas novas peças, tinham por missão substituir os conjuntos mais desgastados e permitir a realocação das demais unidades do M-114 55mm, que eram oriundas da produção da década de 1940. Desta maneira os novos 114A2 155 mm foram direcionados principalmente ao 13º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) – Grupo General Polidoro e ao 11 º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) - Grupo Montese. Neste período os tratores sobre esteiras M-4 e M-5 passaram a ser substituídos pelos novos caminhões Mercedes Benz – Engesa LG-1519 & LG-1819 6×6 Mamute, para assim tracionar estas peças no campo de batalha. Uma pequena quantidade destes obuseiros também seria incorporada na década de 1970 ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), sendo destinadas ao Batalhão de Artilharia do Corpo de Fuzileiros Navais, fortalecendo a capacidade de apoio de fogo das operações anfíbias e terrestres da Marinha. Este obuseiros foram organizados em baterias, geralmente com duas peças cada, tracionadas por veículos como caminhões REO M-35 , compatíveis com as demandas logísticas das operações anfíbias.
Ao longo dos anos a munição de 155 mm seria nacionalizada por empresas como a Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL), a Mac Jee, a CSD - Componentes e Sistemas de Defesa SA e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON). A IMBEL, com sua Fábrica de Juiz de Fora, nacionalizou o processo produtivo do Tiro 155 mm M107, entregando em 2022 componentes como o corpo da granada e cargas de projeção 100% nacionais, com capacidade para atender às demandas do Exército Brasileiro. Essa produção reflete um esforço para reduzir a dependência externa e fortalecer a Base Industrial de Defesa. Os obuseiros M-114 AR 155 mm e M-114A2 AR 155 mm permanecem em operação até os dias atuais no Exército Brasileiro, integrando a dotação dos Grupos de Artilharia de Campanha (GAC) orgânicos à Artilharia Divisionária. Apesar de constituírem um equipamento de concepção antiga, esses obuseiros ainda apresentam qualidades apreciáveis, como simplicidade e robustez, características que se revelam particularmente valiosas em operações defensivas. Seu poder de fogo elevado, sustentado pela ampla variedade de munições de 155 mm disponíveis no país — muitas delas produzidas nacionalmente —, continua a ser um ativo significativo. Os sistemas de orientação da artilharia de 155 mm no Exército Brasileiro (EB) têm evoluído ao longo do tempo, refletindo a necessidade de modernização e integração com tecnologias contemporâneas. Atualmente, os obuseiros de 155 mm, como o M-114 AR e o M-109 A5+BR, contam com sistemas que aprimoram a precisão e a eficiência no apoio de fogo. O principal avanço nesse campo é o Sistema de Controle de Tiro Gênesis, desenvolvido pela IMBEL, que digitaliza os processos de direção e coordenação de tiro a nível de brigada. Esse sistema substitui métodos tradicionais, integrando dados topográficos, busca de alvos e observação, permitindo ajustes em tempo real e maior precisão nos disparos. Contudo, esses obuseiros enfrentam desafios consideráveis. O peso elevado de deslocamento, que alcança 5.700 kg, impõe uma carga substancial às viaturas tratoras, comprometendo a mobilidade em campo. Além disso, seu grande porte resulta em dificuldades logísticas, prolongando o tempo necessário para posicionamento e retirada de combate. Outro ponto crítico é o alcance insuficiente, o que limita a capacidade de aprofundar o combate, executar fogos de contrabateria e assegurar a sobrevivência em cenários modernos de batalha. A principal deficiência, no entanto, reside no tubo de apenas 24 calibres, um fator que impede o uso de munições de tecnologia avançada, geralmente projetadas para tubos mais longos, restringindo sua eficiência operacional. Como solução paliativa, foi proposto o programa de modernização para o RDM de 155 mm de 30 calibres, que prometia aumentar significativamente o alcance da peça. Contudo, apenas uma unidade desse modelo foi adquirida pelo Exército Brasileiro, encontrando-se atualmente desativada e preservada como monumento, o que reflete os limites de recursos e prioridades para a renovação desse equipamento.

Apesar dos 92 M-114 AR e M-114A2 AR 155 mm pertencentes ao Exército Brasileiro apresentarem plena disponibilidade operacional muito em função de serem submetidos a manutenções frequentes e processos de atualização técnica que contam inclusive ainda com a produção local de peças de reposição, fica notório que este equipamento não atende mais as às necessidades de mobilidade, alcance e amplitude de campo de tiro exigidas no combate moderno. Assim desta maneira em 2018 o Ministério da Defesa iniciaria estudos visando a substituição dos M-114 na Força Terrestre, com esta solução derivando para a adoção de duas opções. Uma vertente prevê a adoção de até um sistema de sistema de artilharia autopropulsada de 155 mm "VBCOAP 155 SR", com este objeto constante no Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas (Prg EE F Bld), visando adquirir inicialmente duas viaturas iniciais para avaliação no Centro de Avaliações do Exército. Posteriormente, mais 34 sistemas devem ser adquiridos para armar três grupos de artilharia. Este programa resultaria em uma concorrência internacional, e em 29 de abril de 2024, o Exército Brasileiro (EB), por meio do Comando Logístico/Chefia de Material (CoLog/Ch Mat), anunciou que a o ATMOS, do grupo israelense Elbit Systems, foi o vencedor da concorrência internacional para o projeto de obtenção de 36 viaturas blindadas de combate obuseiro autopropulsado 155mm sobre rodas (VBCOAP 155mm SR). A segunda vertente integra o subprograma do Programa de Artilharia de Campo do Programa Estratégico do Exército para ‘Obtenção de Capacidade Operacional Plena’, o esforço é planejado para reestruturar o portfólio de artilharia de campo e fornecer tropas terrestres com poder de fogo adequado e preciso até 2031. Neste contexto passaria a ser avaliada a aquisição de até 80 obuseiros usados M-198 de 155 mm oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army) através dos termos do programa Excess Defense Articles (Artigos Excedentes de Defesa). Contudo, não há informações oficiais atualizadas até julho de 2025 confirmando a conclusão da aquisição, o número exato de unidades ou se o plano foi plenamente executado, sugerindo que o processo pode ter enfrentado atrasos ou reavaliações devido a questões orçamentárias ou estratégicas. Após a aquisição destes sistemas, será permitido gradualmente retirar os M-114, encerrando assim gloriosa história que teve inicio em 1944 nos campos a Itália.
Para representarmos o M-114 L/23 155 mm fizemos uso do excelente kit da Bronco Models na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo direto da caixa. O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão de pintura empregado desde o recebimento das primeiras peças em 1942 e nos lotes subsequentes, após o ano de 1983 os M114 AR e M114A2 AR 155 passaram a ostentar o novo esquema de camuflagem tática em dois tons, mantendo este padrão até a atualidade.
Bibliografia:
- M114 Howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M114_155_mm_howitzer
- M114A2 Towed 155mm Howitzer - https://www.hmdb.org/
- M114 Weapons Systems - http://weaponsystems.net/weaponsystem/DD03%20-%20M114.html
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti
- http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf