Historia e Desenvolvimento.
O futuro engenheiro aeronáutico, Leroy R. Grumman nasceu em Nova York no ano de 1895 e concluiu sua graduação em engenharia mecânica pela Cornell University em 1926. Entusiasta da aviação, alistou-se subsequentemente na Marinha dos Estados Unidos (US Navy), integrando a Reserva Naval. Durante esse período, foi reconhecido pelos seus superiores como um talento promissor, o que o levou a ser enviado à Universidade Columbia para se especializar em motores aeronáuticos. Após completar essa etapa de formação, foi designado para a Estação Naval de Miami, na Flórida, onde recebeu treinamento abrangente para atuar como instrutor de voo. Após sua qualificação, Leroy Grumman foi destacado a unidade, assumindo o papel de instrutor de voo para novos cadetes. Contudo, posteriormente, optou por abandonar essa função para se dedicar à pilotagem de bombardeiros na Aviação Naval. Seu desempenho excepcional em todas as atividades que foram confiadas testadas em uma indicação honrosa para ingressar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde cursou engenharia aeronáutica. Formado com distinção, passou a atuar como piloto de ensaios em voo, desempenhando a função de piloto de provas, passando a ensaiar e testar novas aeronaves para a Aviação Naval. Em março de 1927, Leroy Grumman solicitou baixa do serviço militar e ingressou na Loening Aeronautical Engineering Corporation, uma empresa da indústria aeronáutica. Nesse novo ambiente, voltou a exercer a atividade de piloto de testes, com ênfase na linha de aeronaves anfíbias produzidas pela companhia, contribuindo também para o desenvolvimento desses projetos. Sua competência o levou a uma rápida ascensão dentro da organização: inicialmente foi promovido a gerente de fábrica e, em seguida, a gerente geral, assumindo responsabilidades diretas sobre o projeto de aeronaves. Ele ocupou essa posição até 1929, quando, às vésperas da Grande Depressão, quando a Loening Aeronautical Engineering foi adquirida pela Keystone Aircraft Company. A nova direção da empresa, buscando garantir suas perspectivas econômicas, implementou um amplo processo de reestruturação. Esse esforço culminou na decisão de encerrar as operações da planta industrial em Manhattan, transferindo-as para Bristol, na Pensilvânia, como parte das medidas de adaptação ao novo contexto econômico.
Relutante em deixar Long Island para permanecer trabalhando na Keystone Aircraft Company, Leroy R. Grumman se dedica a avaliar seu futuro profissional, considerando diversas possibilidades de carreira. Seu espírito empreendedor prevaleceu, liderando-o, em parceria com os colegas Jake Swirbul e William Schwendler, a renunciar às suas cargas na empresa e fundar, em 6 de dezembro de 1929, a Grumman Aeronautical Engineering Company. Inicialmente, a nova companhia concentrou suas atividades na realização de reparos e revisões gerais de aeronaves, com ênfase em modelos fabricados pela Loening Aeronautical Engineering. O primeiro contrato de prestação de serviços foi firmado com a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que operava neste momento uma frota significativa de aeronaves anfíbias. Os recursos gerados por essa atividade possibilitaram, a partir de 1931, que a empresa expandisse suas operações para o projeto e desenvolvimento de aeronaves destinadas a transporte, treinamento e combate, com foco em atender às demandas da aviação naval. Atendendo às necessidades da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), que buscava incorporar aeronaves equipadas com trem de pouso retrátil, Leroy Grumman desenvolveu e patenteou, em 1932 (Registro nº 1.859.624), o inovador “Sistema de Trem de Pouso Retrátil para Aviões”. Essa tecnologia foi integrada ao seu primeiro projeto de aeronave de combate naval, o Grumman FF-1, financiado com recursos próprios da companhia. Após o voo bem sucedido do protótipo, as características inovadoras do modelo, especialmente o trem de pouso retrátil, atraíram a atenção das autoridades navais norte-americanas, resultando na assinatura do primeiro contrato de produção significativo da empresa. Esse marco foi seguido por outros contratos de grande porte, consolidando a Grumman Aircraft Engineering Corporation como principal fornecedora de aeronaves de caça para a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) nas cinco décadas subsequentes. Além disso, Leroy Randle "Roy" Grumman foi responsável pela concepção e desenvolvimento do sistema “Sto-Wing”, uma solução revolucionária de desdobramento de asas que otimizou o armazenamento e o envolvimento de aeronaves em porta-aviões. Esse mecanismo foi implementado pela primeira vez na caça Grumman F4F Wildcat, reforçando o legado de inovação da empresa no campo da aviação naval.

O sucesso comercial da Grumman G-21 Goose chamou a atenção do setor militar, levando o comando da Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) a consultar a Grumman Aircraft Engineering Corporation sobre uma possível versão militarizada. Em resposta, a empresa apresentou a proposta do Grumman G-21B Goose, cuja principal distinção era a capacidade de incorporar uma artilharia Browning calibre .30, montada em uma bolha traseira, e de transportar até duas bombas de 45 kg. O protótipo dessa versão foi avaliado entre abril e maio de 1938, resultando na assinatura de um contrato para a aquisição de trinta unidades. Posteriormente, a Grumman Aircraft conquistou a sua primeira venda de exportação, fornecendo duas aeronaves para a Aviação Naval Portuguesa. Um segundo contrato internacional foi firmado com a Força Aérea Real Canadense (Royal Canadian Air Force), contemplando a entrega de vinte unidades. O desempenho notável do Grumman G-21B junto à Guarda Costeira incentivou o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a contratar, no início de 1939, a produção de dez aeronaves para missões de transporte e ligação, designadas como OA-9. Após 1941, mais unidades sessenta da variante Grumman OA-13A foram incorporadas ao serviço. Buscando atender à crescente demanda no mercado militar, a Grumman Aircraft deu início, em 1939, a estudos para o desenvolvimento de uma versão simplificada, de menor porte e custo reduzido, que pudesse ser produzida em larga escala com agilidade. Esse esforço culminou no Grumman G-44 Widgeon, cujo protótipo foi realizado seu primeiro voo em 22 de julho de 1940. Equipado com dois motores na linha Ranger L-4405, cada um com 200 cv, o modelo apresentava custos de aquisição e operação significativamente inferiores aos dos motores radiais Pratt & Whitney R-985 Wasp do G-21 Goose. O G-44 Widgeon poderia ser armado com uma artilharia Browning calibre .30 e disparado de cabines subalares para até duas bombas ou cargas de profundidade de 50 kg. Embora ofereça potência e desempenho inferiores ao G-21B Goose, o baixo custo do Grumman Widgeon permitiu a ampliação do número de aeronaves em serviço, aumentando a cobertura de áreas de patrulha marítima e liberando modelos de maior capacidade para operações em alto-mar. Mais uma vez, a Guarda Costeira dos Estados Unidos (USCG) tornou-se a primeira instituição militar a adotar o modelo, encomendando vinte e cinco unidades da versão Grumman J4F-1, destinadas a missões de patrulha, guerra antissubmarino (ASW) e busca e salvamento (SAR).

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. Esta ameaça começaria a ser combatida pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) com o estabelecimento de bases de operação no litoral brasileiro, de onde seus esquadrões de patrulha começariam a operar.
Nesse período, realizaram os primeiros confrontos contra submarinos alemães e italianos, envolvendo não apenas forças norte-americanas, mas equipes da Força Aérea Brasileira (FAB), que iniciaram suas primeiras missões desse tipo. Nesse contexto, surgiu a necessidade de empregar aeronaves anfíbias em operações de busca e salvamento, voltadas ao resgate de pilotos abatidos ou náufragos, resultando em naufrágios causados por submarinos inimigos. No entanto, as poucas aeronaves anfíbias disponíveis no inventário da recém-criada arma aérea nacional, provenientes das décadas de 1920 e 1930, eram consideradas obsoletas e convenientes para operações em alto-mar. Embora a Força Aérea Brasileira (FAB) tenha recebido recentemente aeronaves Consolidated PBY-5 e PBY-5A Catalina, estas foram priorizadas para missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW) operando em missões de escolta de comboios. Diante disso, o Ministério da Aeronáutica (MAer) solicita ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) a cessão de aeronaves específicas para busca e salvamento. Em resposta, foi autorizada a transferência imediata nos termos do programa Lend-Lease Act, de quatorze células novas do modelo Grumman J4F-2 Widgeon, originalmente destinadas à Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Essas aeronaves foram transladas ao Brasil em voo a partir do segundo semestre de 1942, em pares, por tripulações norte-americanas. As duas últimas aeronaves chegaram à Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1943. Na Força Aérea Brasileira (FAB), o modelo foi inicialmente designado como Grumman UCF-4F2 Widgeon, recebeu matrículas de FAB 2001 a FAB 2014, com marcações visuais na cauda e no nariz registrar os registros "FAB 1" a "FAB 14". Concentradas na Base Aérea do Galeão no Rio de Janeiro, estas aeronaves foram objeto de um programa de treinamento e conversão ministradas por instrutores norte-americanos para militares da 2ª Esquadrilha de Adestramento Militar (2ª EAM), uma unidade derivada da antiga estrutura da Aviação Naval da Marinha do Brasil. Posteriormente, essa esquadrilha foi reorganizada, transformando-se no 2º Grupo da Unidade Volante, que passou a operar quatro Grumman J4F-2 Widgeon. As demais unidades foram distribuídas entre as Bases Aéreas de Belém, Florianópolis e Santa Cruz, bem como a Seção de Aviões de Comando, também localizada no Rio de Janeiro.


Em Escala.
Para a representação do Grumman J4F-2 Widgeon, registrado como “FAB 14”, foi selecionado o kit descontinuado da Classic Airframes na escala 1/48, reconhecido por seu elevado nível de detalhamento e pela inclusão de diversas peças em resina. Não são necessárias modificações para retratar a versão utilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB), permitindo a montagem direta do modelo conforme fornecido na caixa. Dada a ausência de um conjunto de decalques específicos para essa composição, foram usados decais variados provenientes de conjuntos da FCM Decals, complementados pelos decalques exclusivos incluídos no kit.
O esquema de núcleos está em conformidade com o padrão Federal Standard (FS), descrito a seguir, corresponde ao padrão tático naval adotado pela Marinha dos Estados Unidos (US Navy) para aeronaves anfíbias durante a Segunda Guerra Mundial, com a adição exclusiva das marcas da Força Aérea Brasileira (FAB). Esse padrão foi interrompido após realização da primeira revisão geral das células, momento em que as aeronaves passaram a ser pintadas integralmente em cor de metal natural, com o leme nas cores verde e amarelo e as marcações nacionais aplicadas.
Bibliografia :
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916/ 2016 – Jackson Flores Jr
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aviação Militar Brasileira 1916 / 1984 - Francisco C. Pereira Netto