História e Desenvolvimento.
No início do século XX, em 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge embarcaram em um ambicioso empreendimento: criar um automóvel que se destacasse dos modelos disponíveis no mercado norte-americano. Inicialmente, a produção era quase artesanal, com a fabricação de poucas dezenas de veículos. Contudo, a partir de 1914, esse processo evoluiu para uma produção em série, marcando o nascimento da Dodge Brothers Motor Company. Rapidamente, a empresa conquistou prestígio no competitivo mercado de automóveis de passeio dos Estados Unidos, alcançando uma significativa participação nesse setor. O êxito comercial proporcionou à Dodge recursos financeiros que viabilizaram, na década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários voltados para o mercado comercial civil. A entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial levaria a montadora a fornecer milhares de veículos militarizados a Força Expedicionária Americana (AEF), se destacando o Dodge Light Repair Truck e a Dodge Ambulance. Infelizmente, a trajetória dos irmãos fundadores foi interrompida por seu falecimento precoce (ambos no ano de 1920), e neste momento as viúvas dos irmãos, Matilda Dodge e Anna Dodge, assumiram o controle acionário da empresa. No entanto, sem a liderança direta dos fundadores, a Dodge Brothers Motor Company foi vendida em 1928 para a Chrysler Corporation, marcando o início de uma nova fase sob o conglomerado. Os primeiros modelos utilitários lançados no mercado norte-americano foram desenvolvidos com base nas plataformas dos veículos de passageiros da Chrysler, o que reduziu os custos de projeto e produção. A utilização compartilhada de ferramental e processos de manufatura resultou em preços competitivos, conferindo à Dodge uma forte vantagem comercial. Assim como os automóveis de passeio, os novos veículos utilitários da Dodge alcançaram expressivo sucesso de vendas no mercado interno, consolidando a reputação da marca como sinônimo de robustez e versatilidade, especialmente em atividades pesadas e em ambientes fora de estrada. O crescimento contínuo das vendas gerou recursos adicionais, permitindo que a empresa planejasse projetos ainda mais ambiciosos a curto e médio prazo. Na primeira metade da década de 1930, o cenário geopolítico global começou a se tornar preocupante, especialmente na Europa, com a ascensão do Partido Nazista na Alemanha, liderado pelo chanceler Adolf Hitler. Esse contexto gerou inquietação em diversas nações, incluindo os Estados Unidos, que, embora adotassem uma postura de neutralidade, permaneciam atentos a possíveis ameaças futuras. Diante da possibilidade de uma corrida armamentista global, a diretoria da Dodge Motor Company vislumbrou uma oportunidade estratégica no mercado militar. Assim, em 1934, a empresa passou a investir recursos próprios no desenvolvimento de projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de médio e grande porte, aproveitando a expertise adquirida em projetos anteriores para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial.
Em 1937, a Dodge Brothers Motor Company, já integrada à Chrysler Corporation, alcançou um marco significativo ao apresentar ao Exército dos Estados Unidos (US Army) seu primeiro modelo experimental de caminhão militar: o K-39-X-4, um veículo de 1 ½ toneladas equipado com tração integral nas quatro rodas. Submetido a rigorosos testes de campo, o protótipo impressionou os militares , culminando na assinatura de um contrato para a produção de 800 unidades. Nos meses subsequentes, as primeiras entregas foram realizadas, e a confiança depositada no modelo levou à celebração de novos contratos, desta vez envolvendo os caminhões Dodge VC-1 e VC-6, de ½ tonelada, que se tornariam peças-chave no portfólio da empresa. Paralelamente, a Dodge lançou versões civis desses veículos no mercado norte-americano, que alcançaram notável sucesso comercial. Esse êxito incentivou a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, introduzindo novos modelos que passaram a ser fabricados na recém-inaugurada planta industrial Warren Truck Assembly, em Michigan. Projetada especificamente para a produção de caminhões leves e médios, essa fábrica marcou um avanço estratégico na capacidade produtiva da companhia. No ano seguinte, em 1939, a Dodge apresentou uma linha completamente renovada de picapes e caminhões, caracterizada por um design moderno e pela designação “Job-Rated”, que prometia atender às mais diversas demandas de trabalho, consolidando a reputação da marca por versatilidade e inovação. Enquanto isso, o cenário geopolítico global tornava-se cada vez mais tenso, com ameaças emergindo na Europa e no Pacífico. Diante da necessidade urgente de modernizar e reequipar as forças armadas norte-americanas, o Exército dos Estados Unidos definiu um padrão para veículos de transporte, categorizando-os em cinco classes com base na capacidade de carga: ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ toneladas, 4 toneladas e 7 ½ toneladas. Em junho de 1940, o Quartel-General do Comando de Intendência do Exército (US Army Quartermaster Corps) aprovou três modelos de caminhões comerciais com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 ½ tonelada 4x4, o GMC de 2 ½ toneladas 6x6 e o Mack de ½ tonelada 6x6. Nesse contexto, a Dodge-Fargo Division da Chrysler assegurou um contrato significativo no verão de 1940 para a produção de 14.000 unidades do modelo de ½ tonelada com tração integral 4x4, designado como série VC. A produção em larga escala teve início em novembro do mesmo ano, e, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o modelo foi redesignado como série WC (Weapons Carriers).Ao longo de 1940, a Dodge Motor Company consolidou sua relevância ao produzir mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4x4, pertencentes à série Dodge WC de ½ tonelada. Esses novos caminhões substituíram os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada, também pertencentes à série original G-505, no arsenal do Exército dos Estados Unidos (US Army). Entre o final de 1940 e o início de 1942, a Dodge, em colaboração com a Fargo Motor Car Company, produziu um total de 82.000 veículos de ½ tonelada com tração 4x4.

Em janeiro de 1951, a Dodge Motors Company iniciou a produção em série de seu novo utilitário comercial com tração integral 4x4, que rapidamente conquistou uma fatia expressiva do mercado civil graças à sua durabilidade, versatilidade e a herança confiável dos modelos militares da família WC. Esse sucesso refletia a capacidade da Dodge de adaptar sua expertise militar às demandas do mercado pós-guerra, oferecendo veículos robustos que atendiam às necessidades de trabalho em condições desafiadoras. Paralelamente, o Exército dos Estados Unidos (US Army), ciente do envelhecimento da frota de Dodge WC-51 e WC-52 Beep, em serviço desde o início da década de 1940, deu início a estudos preliminares para a aquisição de um novo utilitário de porte médio, visando a modernização gradual de sua capacidade logística. Antes mesmo da abertura de uma concorrência formal, a Dodge apresentou a versão militar de seu novo utilitário, o Dodge M-37, uma evolução direta dos modelos WC. A escolha do M-37 foi natural, pois ele compartilhava similaridades significativas com seus antecessores em termos de manutenção e peças de reposição, garantindo continuidade e eficiência logística. Em abril de 1951, foi celebrado o primeiro contrato de produção, contemplando um modelo equipado com o confiável motor a diesel Dodge T-245, de 78 hp, acoplado a uma caixa de mudanças manual Model 88950 4x2. Esse conjunto motriz conferia ao M-37 uma velocidade máxima de 89 km/h e uma autonomia de 362 km, superando o desempenho dos antigos WC-51 e WC-52, e reforçando sua adequação às demandas operacionais modernas. Ainda em 1951, o Exército dos Estados Unidos (US Army) recebeu 11.000 unidades do M-37, que imediatamente começaram a substituir as viaturas mais antigas. O batismo de fogo do modelo ocorreu durante a Guerra da Coreia (1950–1953), com as primeiras unidades enviadas à península coreana em maio de 1952. Operando ao lado dos Dodge WC-51 e WC-52, o M-37 demonstrou sua robustez e versatilidade em condições de combate, consolidando sua importância estratégica. A demanda gerada por novos contratos com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) manteve as linhas de produção da Dodge em plena atividade, resultando na fabricação de mais 52.000 viaturas até meados de 1954. Além da versão básica de picape, a Dodge desenvolveu modelos especializados para atender a diversas necessidades militares, incluindo o M-42 Carro de Comando, M-43 Ambulância, M-56 Oficina, M-B2 Bombeiro e R-2 Veículo de Resgate de Aeroporto. Em 1958, o projeto original passou por estudos de aprimoramento mecânico e modificações de design, culminando no lançamento do M-37B1. Essa nova versão foi empregada nas fases iniciais da Guerra do Vietnã, servindo tanto o Exército dos Estados Unidos quanto o Exército da República do Vietnã (ARV), demonstrando sua capacidade de adaptação a novos cenários de conflito. Até o final de 1968, foram produzidas mais 47.000 viaturas, abrangendo modelos como o M-37B1, M-201V41 Veículo de Manutenção Telefônica, M-283 Veículo de Carga (LWB), M-596 Veículo de Transporte de Peróxido de Hidrogênio (projeto Redstone) e V-126 Plataforma Móvel para o Sistema de Radar AN/MPX-7.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No alvorecer da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a contemplar com profunda preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo — Alemanha, Itália e Japão. A capitulação da França, em 1940, intensificou essas inquietações, ao expor o risco de bases nazistas serem estabelecidas em territórios coloniais franceses, como as Ilhas Canárias ou Dacar. Nesse contexto, o Brasil emergiu como o ponto mais vulnerável e estratégico para uma potencial ofensiva, devido à sua proximidade geográfica com o continente africano, que também estava na mira das ambições expansionistas alemãs. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex, matéria-prima indispensável para a produção de borracha, essencial à indústria bélica aliada. A relevância estratégica do Brasil foi ainda mais acentuada pela posição privilegiada de seu litoral nordeste, ideal para a instalação de bases aéreas e portos militares. Essa região, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano, tornou-se uma ponte logística vital para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves aos teatros de operações na Europa e no norte da África. Diante desse cenário, intensificou-se uma aproximação política e econômica entre Brasil e Estados Unidos, culminando na adesão do país ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Esse acordo garantiu ao Brasil uma linha de crédito inicial de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de equipamentos bélicos modernos, incluindo armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate, marcando um passo decisivo na modernização das Forças Armadas Brasileiras. A partir do final de 1941, o Brasil começou a receber um expressivo volume de equipamentos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro, principal beneficiário desse aporte, experimentou uma transformação significativa em suas capacidades operacionais. Entre os veículos fornecidos, destacaram-se os utilitários Dodge WC-51 e WC-52, com tração integral 4x4, cuja entrega teve início no final de 1942. Esses foram seguidos por outros modelos da família WC, incluindo os carros de comando WC-53, WC-56 e WC-57, a ambulância WC-54, e os utilitários WC-62 e WC-63. Quase todos os lotes destinados ao Brasil eram compostos por veículos novos, recém-fabricados pelas linhas de produção da Dodge Motors Company e da Fargo Motor Car Company, garantindo qualidade e confiabilidade. A incorporação desses utilitários representou um marco na doutrina operacional da Força Terrestre brasileira. Os Dodge WC-51, WC-52, WC-53, WC-54, WC-56, WC-57, WC-62 e WC-63 substituíram uma frota obsoleta de veículos civis, inadequadamente adaptados para uso militar, e um pequeno número de modelos importados, como os Vidal & Sohn Tempo-Werk G1200, de origem alemã, adquiridos em 1938, mas insuficientes para equipar uma unidade mecanizada. A chegada desses modernos utilitários com tração 4x4 não apenas elevou a capacidade logística e operacional do Exército, mas também simbolizou o compromisso do Brasil em alinhar-se aos esforços aliados, fortalecendo sua defesa contra as ameaças do Eixo e preparando o terreno para sua participação ativa no conflito.
Para equipar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que combateu heroicamente na campanha italiana durante a Segunda Guerra Mundial, foram destinadas 148 unidades do Dodge WC-51 e 30 unidades do Dodge WC-52, veículos essenciais para a mobilidade e logística das tropas em terrenos desafiadores. Registros históricos indicam que pelo menos três WC-51 foram cedidos à Força Aérea Brasileira (FAB), onde desempenharam funções cruciais no transporte de pilotos e cargas, apoiando as missões do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) e da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO). Até meados de 1945, as Forças Armadas Brasileiras receberam um total de 954 viaturas desses modelos, consolidando sua relevância operacional. No período pós-guerra, essas viaturas, carinhosamente apelidadas de “Dodge Japão” pelos militares brasileiros, foram distribuídas gradualmente a diversas unidades espalhadas pelo território nacional. Por muitos anos, prestaram serviços inestimáveis ao Exército Brasileiro, à FAB e à Marinha do Brasil, destacando-se por sua robustez e versatilidade em tarefas administrativas, logísticas e operacionais. Esses veículos não apenas facilitaram a modernização das Forças Armadas, mas também se tornaram símbolos da resiliência dos “pracinhas” que os operaram. Entretanto, a partir de meados da década de 1950, a frota de Dodge WC-51 e WC-52 começou a apresentar um preocupante declínio em sua disponibilidade operacional. A principal causa era a dificuldade em obter peças de reposição no mercado internacional, uma vez que a produção desses modelos havia sido descontinuada pela Dodge Motors Company em 1946. Esse cenário, que se agravava ano após ano, gerou grande inquietação no comando do Exército Brasileiro, comprometendo a mobilidade e a eficácia da Força Terrestre. Diante disso, iniciaram-se estudos para encontrar soluções de curto prazo que atendessem a essa demanda crítica, compartilhada também pela FAB e pela Marinha. A primeira alternativa considerada foi a aquisição de viaturas novas da família sucessora, composta pelos modelos Dodge M-37, M-43 e M-43 (M-615), projetados para substituir os antigos WC. Contudo, essa opção revelou-se economicamente inviável, pois a substituição de cerca de 1.300 viaturas — incluindo os modelos WC-51, WC-52, WC-53, WC-54, WC-56 e WC-57 — exigiria um investimento que ultrapassava a dotação orçamentária do Ministério do Exército destinada à renovação da frota. A mesma limitação financeira afetava os outros ramos das Forças Armadas, que enfrentavam desafios semelhantes. Nesse contexto, duas estratégias foram avaliadas: a repotenciação de parte da frota existente e a aquisição de veículos militarizados produzidos pela nascente indústria automotiva nacional. A primeira alternativa foi conduzida pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, que estudou a substituição dos motores a gasolina Dodge T-214 por modelos a diesel fabricados no Brasil. Apesar do potencial dessa iniciativa, o projeto não avançou além da fase de protótipo devido a limitações técnicas e logísticas. Como medida paliativa, optou-se pela retífica dos motores originais a gasolina, um esforço que abrangeu uma parcela significativa da frota dos WC-51, WC-52, além de algumas dezenas de WC-56 e WC-57. Essa solução, embora temporária, permitiu que esses veículos continuassem a servir com dedicação, prolongando seu legado de serviço às Forças Armadas Brasileiras

A chegada dos utilitários Dodge M-37, M-56 e M-43 ao Brasil, no âmbito do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos (MAP), marcou um capítulo significativo na modernização das Forças Armadas Brasileiras a partir de meados da década de 1960. Esses veículos, cuidadosamente descarregados nos portos brasileiros, eram imediatamente organizados por destino, refletindo um planejamento estratégico para atender às necessidades dos três ramos das Forças Armadas: o Exército Brasileiro, a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha do Brasil. O Exército, como principal beneficiário, recebeu a maior quantidade dessas viaturas, que foram prontamente distribuídas a unidades de infantaria e médicas ainda equipadas com os veteranos Dodge WC-51, WC-52 e WC-54 Ambulância, cuja operacionalidade estava comprometida pela escassez de peças de reposição. A escolha dos Dodge M-37 foi motivada, em grande parte, pelo alto índice de intercambialidade de componentes com os modelos WC, uma característica que assegurava maior eficiência na manutenção e maximizava a disponibilidade operacional. No Exército Brasileiro, essas viaturas receberam designações específicas que refletiam suas funções: Viatura de Transporte de Pessoal Comando 3/4 ton 4x4 (M-37), Viatura Especializada Comunicações 3/4 ton 4x4 (M-56), Viatura Especializada Ambulância 3/4 ton 4x4 (M-43) e Viatura de Transporte Não Especializado 3/4 ton 4x4 (M-37). Equipados com o confiável motor Dodge T-245, um seis cilindros a gasolina de 78 hp, acoplado a uma transmissão manual Model 88950 de quatro marchas, esses veículos alcançavam uma velocidade máxima de 89 km/h e ofereciam uma autonomia de 362 km. Comparados aos seus antecessores, os M-37 destacavam-se por um desempenho superior, maior capacidade de carga (¾ tonelada) e um design otimizado para operações táticas, tornando-se ferramentas indispensáveis para a Força Terrestre. No dia a dia, seja em operações rotineiras ou em exercícios militares, os Dodge M-37 rapidamente demonstraram suas qualidades excepcionais, superando em muitos aspectos os modelos WC. Sua robustez em terrenos acidentados, aliada à versatilidade em funções como transporte de tropas, suporte logístico e evacuação médica, consolidou sua reputação entre os militares brasileiros. Curiosamente, embora relatos orais sugiram a presença de unidades do M-37 equipadas com o guincho hidráulico Braden LU-4 PTO, registros fotográficos da época não confirmam sua existência no Brasil, deixando essa questão como um intrigante mistério histórico. A Força Aérea Brasileira também se beneficiou desses veículos, recebendo pelo menos dez M-37 e cinco M-43 no mesmo acordo de fornecimento. Essas viaturas foram destinadas a bases aéreas, comandos regionais e hospitais da Aeronáutica, onde desempenharam funções orgânicas, como transporte de pessoal, equipamentos e atendimento médico. Sua confiabilidade e capacidade de operar em diferentes condições reforçaram a eficiência logística da Força Aérea Brasileira (FAB) complementando o esforço de modernização das Forças Armadas.

A partir de 1968, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN) recebeu pelo menos três dezenas de utilitários Dodge M-37, marcando um avanço significativo na capacidade de mobilidade dos batalhões de infantaria da Força de Fuzileiros de Esquadra (FFE). Esses veículos, equipados com tração integral 4x4 e o confiável motor Dodge T-245 de 78 hp, ofereceram robustez e versatilidade, permitindo aos fuzileiros navais operar em terrenos desafiadores com maior eficiência. A introdução dos M-37 representou um salto qualitativo, substituindo viaturas mais antigas e reforçando a prontidão do CFN para missões anfíbias e terrestres. Em 1971, a Marinha do Brasil incorporou o navio de desembarque de carros de combate NDCC Garcia D’Avila (G-28), um navio da classe LST 511–1152 adquirido dos Estados Unidos. Essa embarcação foi a primeira da esquadra brasileira capaz de realizar desembarques diretos de veículos sobre rodas nas praias, ampliando o papel operacional dos Dodge M-37 em missões anfíbias. Essa capacidade foi colocada à prova em abril de 1974, durante a Operação Dragão IX, um exercício militar que simulou um desembarque em um teatro de operações fictício. Nesse cenário, os M-37, transportados pelo NDCC Garcia D’Avila, demonstraram sua eficácia ao desembarcar rapidamente e operar em condições adversas, consolidando sua importância para as operações anfíbias do CFN. Os Dodge M-37 permaneceram em serviço no Corpo de Fuzileiros Navais até meados da década de 1980, quando foram gradualmente substituídos pela versão militarizada do Toyota Bandeirante, um veículo nacional que refletia o crescente investimento na indústria automotiva brasileira. Mesmo com sua desativação, os M-37 deixaram um legado de confiabilidade e versatilidade, fortalecendo a capacidade operacional do CFN em um período de modernização. No Exército Brasileiro, os Dodge M-37, carinhosamente apelidados de “Pata Choca” pela tropa, tornaram-se ícones de robustez e dedicação. Utilizados intensivamente nas décadas de 1970 e 1980, esses veículos desempenharam papéis variados, desde o transporte de pessoal e suprimentos até o apoio logístico em exercícios militares e operações de patrulhamento. As variantes M-43 (M-615), destinadas a funções de ambulância, e M-56, voltadas para manutenção de telecomunicações, foram as primeiras a serem retiradas do serviço ativo, substituídas por viaturas nacionais que atendiam às novas demandas operacionais. De maneira notável, no final da década de 1980, os Dodge M-37 ganharam uma sobrevida no Exército Brasileiro por meio de um programa de repotenciação. Algumas dezenas de viaturas foram equipadas com o motor diesel Perkins OM4236 (Q20B), de fabricação nacional, acoplado a uma caixa de mudanças Clark com cinco marchas à frente e uma à ré. Essa modernização, realizada com engenhosidade pelas equipes técnicas do Exército, estendeu a vida útil desses veículos até meados da década de 1990, quando foram finalmente substituídos pelos modernos Engesa EE-34.
Em Escala.
Para representarmos o Dodge M-37 pertencente ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil (CFN), empregamos o kit da Roden na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão com o guincho mecânico frontal. Fizemos uso de decais confeccionados pela Decals e Books presentes no set " Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o último padrão de pintura tático empregado nos veículos leves e médios do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Inicialmente estes, bem como as viaturas destinadas as demais Forças Armadas, seriam recebidas no esquema padrão do Exército dos Estados Unidos (US Army). Ao longo dos anos seguintes os Dodge M-37, M-43 e M-56 em serviço no Exército Brasileiro e na Força Aérea Brasileira receberiam padrões distintos de pintura e marcações.
Bibliografia :
- Dodge M-37 – Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series
- Manual Técnico – Exército Brasileiro 1951
- Características Gerais de Veículos do Exército Brasileiro – Ministério da Guerra 1947
- Revista da FFE – Edição Comemorativa de aniversário da Força de Fuzileiros da Esquadra