História e Desenvolvimento
A Segunda Guerra Mundial foi marcada pela introdução de uma dinâmica inovadora nos campos de batalha, caracterizada pela alta mobilidade da infantaria, que impôs às demais armas terrestres a necessidade de se adaptarem a uma nova filosofia de combate. O principal protagonista dessa transformação foi o Exército Alemão (Wehrmacht), que, por meio da tática Blitzkrieg, revelou ao mundo uma abordagem revolucionária para o enfrentamento em conflitos armados. Para combinar mobilidade com capacidade ofensiva, os alemães investiram não apenas em tanques e infantaria transportada por veículos blindados, mas também em artilharia autopropulsada. Exemplos emblemáticos incluem os canhões autopropulsados Hanomag Sd.Kfz. 165 Hummel, equipados com um canhão de 150 mm, o Sturmtiger 606/4, dotado de um canhão de 380 mm, e os carros de assalto Sturmgeschütz (StuG III). Testemunhando os desdobramentos do conflito, o Exército dos Estados Unidos (US Army) reconheceu a relevância estratégica de incorporar ao seu arsenal veículos de artilharia autopropulsada capazes de sustentar operações blindadas com potência de fogo adequada. Os primeiros testes bem-sucedidos foram realizados com plataformas adaptadas de veículos blindados meia-lagarta da família M-3 Half Track, culminando no desenvolvimento do T-19 Howitzer Motor Carriage, armado com um canhão de 105 mm. O êxito dessas experiências confirmou a viabilidade de projetar um veículo totalmente blindado sobre esteiras, resultando em fevereiro de 1942 na introdução do M-7 Priest. Esse obuseiro autopropulsado, equipado com um canhão de 105 mm, foi inicialmente construído sobre a plataforma do tanque médio M-3 Lee e, posteriormente, utilizou o chassi do M-4 Sherman. Seu batismo de fogo ocorreu durante a Segunda Batalha de El Alamein (23 de outubro a 11 de novembro de 1942). Ao todo, foram fabricadas 4.315 unidades até 1945, sendo amplamente empregadas pelos Aliados em todas as frentes da Segunda Guerra Mundial, onde demonstraram notável eficácia e versatilidade no apoio às operações militares. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os obuseiros autopropulsados M-7 Priest, ao lado dos M-37, voltaram a desempenhar um papel significativo durante a Guerra da Coreia (1950-1953). Embora tenham cumprido com eficiência a maioria das missões a que foram designados, uma limitação crítica foi identificada: a elevação máxima de 35º do canhão dificultava o engajamento de alvos situados em terrenos elevados, como as montanhas coreanas, comprometendo sua eficácia tática em certas situações. Esse obstáculo tornou evidente a necessidade de desenvolver um novo obuseiro autopropulsado de maior porte, capaz de superar as deficiências observadas nos modelos até então utilizados. A experiência adquirida na Guerra da Coreia (1950-1953) revelou limitações nos obuseiros autopropulsados em uso, como o M-7 Priest e o M-52, especialmente em terrenos montanhosos, onde a elevação limitada dos canhões comprometia a eficácia tática. Para superar essas deficiências, o Exército dos Estados Unidos (US Army) buscou desenvolver uma nova geração de artilharia autopropulsada, mais adaptada às demandas da Guerra Fria.
Em 1953, o M-52 foi introduzido, utilizando o chassi do tanque M-41 Walker Bulldog. Apesar de avanços na elevação do canhão (de +65º a -10º), o modelo apresentou problemas técnicos que levaram ao cancelamento de sua produção. Em resposta, o Exército abriu uma nova concorrência em 1959, delegando o projeto à Cadillac Motor Car Division, da General Motors, em parceria com o Detroit Arsenal Tank Plant. O programa visava criar dois obuseiros: um de 105 mm (M-108) e outro de 155 mm (M-109), baseados em um chassi comum para reduzir custos logísticos. O M-108, designado T-195 durante o desenvolvimento, aproveitou o chassi do M-41 Walker Bulldog, mas com modificações para maior robustez. Em 1960, um mock-up de cada modelo foi apresentado, seguido pela construção de cinco protótipos, que passaram por extensos testes no segundo semestre daquele ano. EsteS novos blindados apresentavam as seguintes características: Armamento: Equipado com um obus M-103 de 105 mm para o M-108 e um obus M-126 de 155 mm para M-109, capazes de disparar uma variedade de munições, incluindo alto explosivo (HE), fumígenos e anticarro podendo fazer uso da munição de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com um alcance inicial de 14.600 metros no M-109, com este parâmetro podendo ser estendido com o uso de munições assistidas por foguetes). A capacidade de transportar até 28 munições de 155 mm internamente assegurava autonomia operacional. - Blindagem: Contava com uma torre totalmente fechada, construída em alumínio para reduzir peso, oferecendo proteção contra estilhaços e fogo de armas leves, embora limitada contra impactos diretos de artilharia ou mísseis anticarro. - Chassi: Compartilhavam o mesmo chassi, garantindo alta padronização de componentes, como suspensão por barras de torção e esteiras largas, adequadas para diferentes tipos de terreno. - Tripulação: Operado por uma equipe de cinco membros (comandante, artilheiro, carregador, motorista e operador de rádio), assegurando eficiência em combate. Propulsão: movido por um motor Detroit Diesel 8V-71T de 405 hp, acoplado a uma transmissão Allison XTG-411-4A, garantindo mobilidade em terrenos variados e velocidade máxima de cerca de 56 km/h. Por ser disponibilizado primeiramente seria decidido implantar o M-108 no teatro de operações no Vietnã, com o 6º Regimento de Artilharia de Campo (6th Field Artillery Regiment) em 1965 sendo posicionado Pleiku, na região central do Vietnã, para apoiar operações contra forças do Vietnã do Norte e do Vietcong. Posteriormente, em outubro do mesmo ano, o modelo foi integrado às operações dos 1º e 40º Regimentos de Artilharia de Campo, sediados na base dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marines Corps) em Đông Hà, onde enfrentaram combate real na região de Đông Hà ainda naquele mês.

Sua mobilidade permitia reposicionamento rápido, diferentemente da artilharia rebocada convencional, sua capacidade de rotação do canhão em 360 graus conferia grande eficácia na sustentação de posições de fogo, especialmente em cenários sujeitos a ataques de múltiplas direções. Já o M-109 seria implantado naquele teatro de operações em meados do ano de 1966, substituindo os obuseiros rebocados, como o M-114 de 155 mm, integrando batalhões de artilharia de campanha, como a 1ª Divisão de Infantaria e a 25ª Divisão de Infantaria. Sua função principal era fornecer fogo de supressão, apoio à infantaria e bombardeio de posições inimigas, durante seu batismo de fogo, o M-109 foi empregado principalmente em missões de apoio às bases de fogo e de supressão e interdição. Neste último escopo eram disparadas munições de alto explosivo (HE), fumaça e, em alguns casos, munições iluminativas, sendo eficaz contra bunkers, posições fortificadas e concentrações de tropas inimigas. Durante a Ofensiva do Tet (1968), por exemplo, os M-109 foram cruciais na defesa de cidades como Huế e Saigon, onde forneceram fogo contínuo para conter os ataques surpresa do Viet Cong. Neste contexto o M-109 se mostrava muito superior ao M-108, que por sua vez apresentava limitações operacionais significativas. O canhão de 105 mm, embora preciso, possuía uma cadência de tiro limitada e um poder de destruição insuficiente para neutralizar alvos fortificados, como bunkers, frequentemente encontrados no teatro de operações do Vietnã. Desta maneira em meados do ano de 1976 seria decidido que os novos M-109 gradualmente passassem a substituir no Vietnã os M-108, ser tornando a plataforma predominante naquele conflito. No entanto seu intenso emprego também descortinaria a necessidade melhorias, com destaque para o limitado alcance do canhão M-126, que era inferior a algumas peças de artilharia soviéticas usadas pelo EVN, como o obuseiro D-30 de 122 mm. Isso exigia que as bases de fogo fossem posicionadas mais próximas das linhas inimigas, aumentando a vulnerabilidade a ataques. O desempenho do M-109 no Vietnã consolidou sua importância como uma plataforma de artilharia versátil, capaz de operar em cenários de contra insurgência e guerra convencional. Sua capacidade de fornecer fogo de apoio contínuo, mesmo em condições adversas, foi fundamental para salvar vidas de soldados americanos e aliados. A experiência no Vietnã também destacou a necessidade de melhorias, que originariam o desenvolvimento do M-109A1, que passava a ser equipado com a nova versão do motor Detroit Diesel Model 8V-71T acoplado a uma transmissão cross-drive Allison Transmission XTG-411-4A. A principal evolução estava baseada na introdução do novo canhão M-185 de calibre 39 mm, que apresentava um perfil mais longo, estendendo seu alcance para 18.100 metros com munição convencional e até 24.000 metros com munição assistida por foguete. O obuseiro autopropulsado M-109, um marco da artilharia moderna, teve sua trajetória de desenvolvimento marcada por inovações contínuas e adaptações às exigências dos campos de batalha.
Seu batismo de fogo ocorreu em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, quando as Forças de Defesa de Israel (Tzavá Haganá le-Israel) empregaram a versão M-109A1 em combates intensos contra forças sírias e egípcias. Essa estreia em um conflito de alta intensidade demonstrou a capacidade do M-109 de fornecer fogo de artilharia preciso e móvel, consolidando sua relevância em cenários de guerra convencional. A evolução subsequente do M-109 trouxe melhorias significativas. A versão M-109A2, introduzida na década de 1970, incorporou avanços em confiabilidade, disponibilidade e manutenção (RAM), além de proteção balística reforçada para o telescópio panorâmico, dispositivo de alinhamento de visão M-140 e sistemas de visão noturna. A capacidade de armazenamento de munição foi ampliada de 28 para 36 cartuchos, aumentando a autonomia operacional. Paralelamente, uma variante simplificada para exportação, a M-109A1B, foi desenvolvida, com diferenças externas mínimas e a remoção do kit de flutuação do casco, atendendo às demandas de mercados internacionais. Nas décadas seguintes, novas versões continuaram a aprimorar o sistema. Os modelos M-109A3, M-109A3B e M-109A4 introduziram sistemas de proteção contra ameaças nucleares e biológicas, refletindo as preocupações da Guerra Fria. Em 1985, o M-109A5 marcou um avanço significativo com a adoção do canhão M284 de calibre 39, que permitia alcances de 22.000 metros com projéteis convencionais e até 30.000 metros com munições assistidas por foguete, ampliando consideravelmente sua capacidade operacional. Em 1991, a versão M-109A6 Paladin representou um salto tecnológico. Com um chassi redesenhado, incluindo blindagem adicional com revestimento interno de kevlar, o M-109A6 integrou o canhão M-284 aprimorado com o suporte M-182A1, além de um novo layout interno para armazenamento seguro de munição e equipamentos. Pela primeira vez, incorporou um sistema de navegação inercial e sensores para alinhamento automático do canhão, aliados a um sistema de comunicação digital criptografado com capacidades de contramedidas eletrônicas (ECM). Essas inovações permitiam à tripulação receber missões de fogo, calcular dados de alvos, posicionar-se, disparar e deslocar-se sem assistência externa, alcançando uma primeira salva em menos de 60 segundos e uma cadência de até quatro disparos por minuto a alcances de 30 quilômetros. A produção inicial, conduzida pela BAE Systems, entregou 164 unidades até o final de 1992, com operacionalidade declarada em abril de 1993. Até 25 de junho de 1999, foram produzidos 950 veículos, encerrando o ciclo de fabricação do M109A6. A versão mais recente, o M-109A7 (anteriormente conhecido como M-109A6 PIM – Paladin Integrated Management), teve seu protótipo apresentado em 2007. Submetido a um extenso programa de testes, o M-109A7 incorpora melhorias em mobilidade, sistemas eletrônicos e sobrevivência, mantendo o M-109 como uma das plataformas de artilharia mais avançadas e confiáveis do mundo.
Essas evoluções refletem o compromisso contínuo com a modernização, garantindo que o M-109 permaneça relevante em cenários de combate contemporâneos, combinando potência de fogo, precisão e independência operacional. Em 2013 o programa foi aprovado com a empresa BAE Systems, recebendo um contrato para atualização dos primeiros carros M-109A6 para o padrão M-109A7. Este novo modelo passou a deter maior peso de deslocamento que seu antecessor, passando proporcionará maior precisão, melhor mobilidade e velocidade de deslocamento. As entregas iniciais ao Exército dos Estados Unidos (US Army) tiveram início em 2015, com o programa devendo atingir 580 carros modernizados ao longo dos próximos anos. Ao longo de mais de cinco décadas de serviço, os obuseiros autopropulsados da família M109 estabeleceram-se como um pilar da artilharia moderna, participando de diversos conflitos globais, incluindo as guerras do Vietnã, Yom Kippur, Irã-Iraque, Saara Ocidental, Golfo Pérsico, Iraque, Guerra Civil Iraniana, Guerra Civil Iemenita e Síria. Sua versatilidade e capacidade de adaptação a diferentes cenários de combate consolidaram sua reputação como uma das plataformas de artilharia mais confiáveis e amplamente utilizadas no mundo. Com uma produção total superior a 7.700 unidades, distribuídas em treze versões distintas, o M-109 foi fabricado nos Estados Unidos pelas empresas General Motors Co. e BAE Systems, além de produzido sob licença pela Samsung Techwin, na Coreia do Sul. Além de seu país de origem, o M-109 foi adotado pelas forças armadas de mais de 30 nações, incluindo Líbia, Djibouti, Etiópia, Grécia, Emirados Árabes Unidos, Irã, Kuwait, Marrocos, Omã, Peru, Suíça, Alemanha, Arábia Saudita, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Egito, Espanha, Itália, Jordânia, Noruega, Países Baixos, Paquistão, Portugal, Tunísia, Áustria, Canadá, Chile, Filipinas, Iraque, Israel, Tailândia, Reino Unido e Coreia do Sul. Essa ampla adoção reflete a robustez e a flexibilidade do sistema, capaz de operar em diversos climas e terrenos. Em 1982, uma variante especializada foi desenvolvida: o M-992A2 FAASV (Field Artillery Ammunition Supply Vehicle), um veículo de transporte de munição baseado na plataforma do M109. Projetado para apoiar operações de artilharia, o M-992A2 garantiu maior eficiência logística, permitindo o reabastecimento rápido de obuseiros em campo. Embora países como Alemanha e Reino Unido estejam desativando seus M-109, substituindo-os por sistemas mais modernos, como o Panzerhaubitze 2000, nos Estados Unidos a família M-109 permanece em serviço ativo. Projeções indicam que o obuseiro continuará operacional por pelo menos mais duas décadas, até a introdução do M-1299, um sistema de artilharia de alcance estendido. Contudo, vale notar que o programa M-1299 foi cancelado em 2024 devido a problemas técnicos, como desgaste excessivo do tubo, reforçando a relevância contínua do M-109A7 e do futuro M-109A52 como pilares da artilharia norte-americana.
Emprego no Exército Brasileiro.
A artilharia brasileira tem raízes no período colonial, com mobilizações de brasileiros em conflitos como as Batalhas de Guararapes (1648-1649), consideradas o marco inicial do Exército Brasileiro. Ao longo dos aos anos a artilharia era uma das armas mais prestigiadas, exigindo formação completa na Academia Militar do Império, ao contrário da infantaria e cavalaria, que requeriam menos anos de estudo. No início do século XX, a artilharia de campanha ainda dependia de equipamentos como os canhões Krupp de 75 mm, de tração animal, durante a Segunda Guerra Mundial (1942-1945), a Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do General Cordeiro de Farias, destacou-se na Campanha da Itália. A precisão e a rapidez dos fogos brasileiros foram cruciais nas conquistas de Monte Castelo (1945) e Montese, recebendo elogios do comandante da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes, que afirmou que os artilheiros “elevaram bem alto as nobres tradições da Artilharia de Mallet”. A atuação da artilharia de campanha da FEB foi amplamente reconhecida pelos comandantes aliados. O General Mark Clark, comandante do V Exército Americano, destacou a eficiência e a coragem dos brasileiros. Além disso, a defesa de Fernando de Noronha (1942-1945) demonstrou a capacidade da artilharia brasileira em organizar dispositivos defensivos em condições adversas, utilizando unidades de artilharia de costa e antiaérea para proteger o arquipélago contra possíveis ataques navais ou aéreos. No âmbito do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952, e do Military Assistance Program (MAP), a Força Terrestre Brasileira foi contemplada com um amplo processo de modernização de seu arsenal. A partir de agosto de 1960, o Exército Brasileiro passou a receber um número significativo de carros de combate, veículos blindados de transporte de tropas e caminhões de diversos modelos, em uma iniciativa que se prolongou pelos anos subsequentes. Esse esforço fortaleceu a capacidade operacional do Exército em um cenário global marcado por crescentes desafios estratégicos, consolidando sua prontidão para atuar em defesa dos interesses nacionais. Em 1970, como parte desse acordo, o Exército Brasileiro foi agraciado com a cessão de 72 obuseiros autopropulsados M-108 Howitzer. A entrega destes blindados ao Brasil teve início no começo de 1972, ocasião em que as viaturas receberam a designação oficial de Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBCOAP) M-108. Por se tratar de um sistema de armas inédito na Força Terrestre, sua incorporação exigiu uma reestruturação organizacional significativa. Anteriormente em dezembro de 1971, o Exército Brasileiro deflagrou a criação de quatro Grupamentos de Artilharia de Campanha Autopropulsados (GAC Ap), transformando unidades de artilharia rebocada para operar exclusivamente essas viaturas modernas.
No final da década de 1980, o comando do Exército Brasileiro deu início ao programa Força Terrestre 90 (FT-90), uma iniciativa estratégica concebida pelo Estado-Maior do Exército (EME) com o objetivo de modernizar suas estruturas, equipamentos e doutrinas operacionais, com especial foco na arma blindada. Movido pela necessidade de superar a obsolescência de seus sistemas e preparar a Força Terrestre para os desafios do século XXI, o FT-90 representou um marco na transformação da artilharia autopropulsada brasileira, alinhando-a às demandas de um cenário global em constante evolução. O programa priorizou a modernização da cavalaria blindada e da artilharia de campanha, reconhecendo o papel estratégico dessas armas em um contexto geopolítico marcado pela rivalidade com a Argentina e pela crescente importância da Amazônia como região de interesse nacional. Nesse esforço, o Exército optou por aquisições de oportunidade, focando na compra de equipamentos usados, porém em bom estado de conservação. Destacaram-se, nesse período, a incorporação das Viaturas Blindadas de Combate Carro de Combate (VBCCC) alemães Leopard 1A1 e norte-americanas M-60A3 TTS, que fortaleceram significativamente a capacidade operacional da Força. No âmbito da artilharia de campanha, o cenário até então era caracterizado pelo uso de obuseiros convencionais, como os modelos rebocados M-101 de 105 mm e M-102 de 155 mm, além de setenta e dois obuseiros autopropulsados M-108 VBC OAP, incorporados em 1972. Esses equipamentos, empregados pelos Grupamentos de Artilharia de Campanha Autopropulsados (GAC AP), já não atendiam plenamente às exigências modernas, demandando a aquisição de um modelo mais avançado principalmente de maior calibre. Contudo, as restrições orçamentárias impostas ao Exército Brasileiro limitavam a possibilidade de aquisição de veículos novos, levando à formação de uma comissão dedicada a prospectar oportunidades de compra de obuseiros autopropulsados M-109, amplamente utilizados por mais de trinta países na época. Entre as opções avaliadas, destacou-se a proposta apresentada pelo comando das Forças Armadas Belgas (La Défense), que manifestou interesse em vender até quarenta unidades do modelo M-109A3, recentemente desativadas em razão da substituição por versões mais modernas da mesma família. A oferta incluía, ainda, um programa de revisão e modernização conduzido pela empresa Sabiex Internacional, que elevaria esses obuseiros a um padrão operacional e tecnológico compatível com as necessidades do Exército Brasileiro à época, assegurando maior eficácia e adequação às demandas do contexto estratégico. Após a conclusão das negociações formais com o governo Belga, o Exército Brasileiro enviou uma comitiva de oficiais à Bélgica para avaliar e selecionar os trinta e sete obuseiros autopropulsados M-109A3 em melhores condições de conservação.
Esses veículos, pertencentes à versão A3, haviam passado por um programa de modernização iniciado em 1980, a partir da base M-109A2, incorporando mais de vinte e sete melhorias significativas. Entre elas, destacavam-se a adoção do canhão M-185 de 155 mm com cano longo, montado na nova armação M-178, além de maior capacidade de transporte de munição e proteção balística aprimorada para o sistema de telescópio panorâmico. Os obuseiros selecionados foram transportados para as instalações da Sabiex Internacional, em Tournai, onde passaram por um rigoroso processo de revisão e atualização, garantindo sua adequação às necessidades operacionais do Exército Brasileiro. Oficialmente designados como Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBCOAP) M-109A3, os primeiros seis veículos foram recebidos em 6 de outubro de 1999, seguidos por lotes adicionais: doze em 26 de maio de 2000, outros doze em 24 de outubro de 2000 e, por fim, sete em 23 de abril de 2001. A distribuição dos M-109-A3 foi estrategicamente planejada, com doze unidades alocadas ao 15º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado (GACAp), em Lapa, RS; doze ao 16º GACAp, em São Leopoldo, RS; doze ao 29º GACAp, em Cruz Alta, RS; e uma unidade destinada à Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, RJ, posteriormente transferida ao Centro de Instrução de Blindados (CI Bld). A incorporação desses obuseiros marcou um avanço significativo, conferindo ao Exército Brasileiro maior mobilidade e poder de fogo, superando as limitações dos antigos M-108. No entanto, ao final da primeira década do século XXI, tornou-se evidente que os M-109A3 apresentavam obsolescência em seus sistemas de direção de tiro, enquanto os M-108, ainda em uso, enfrentavam um desgaste ainda mais pronunciado. Esse cenário impulsionou um novo programa de modernização, que culminou, em 2012, na aquisição de quarenta unidades do M-109A5, doadas pelo governo norte-americano por meio do programa Foreign Military Sales (FMS), classificadas como Excess Defence Articles (EDA). Embora os M-109A5 fossem mais avançados, identificou-se a oportunidade de modernizá-los para equipará-los aos padrões do Exército dos Estados Unidos (US Army). Assim, foi firmado um contrato de US$ 54 milhões com a BAE Systems para a atualização de trinta e dois veículos, elevando-os à versão M-109A5+ BR. As melhorias incluíram o aumento da potência do motor, de 405 hp (A3) para 440 hp (A5, com motor Low Heat Rejection); ampliação do alcance dos disparos com munição assistida (de 14.600 m para 18.000 m com carga 7; de 18.000 m para 22.000 m com carga 8; e de 23.500 m para 30.000 m com carga 8 HE M549); e a incorporação do sistema VFPS (Ventilated Face Piece System), que proporciona à tripulação ar filtrado e climatizado, essencial para operações em ambientes com ameaças químicas, biológicas ou nucleares (QBN).
No campo da eletrônica embarcada, foram integrados componentes avançados, muitos deles presentes na versão M-109A6, como o sistema de posicionamento global (GPS) aliado ao Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS), navegação inercial, telas sensíveis ao toque para comando, sistema eletrônico de pontaria com computador balístico e o rádio Harris Falcon III. Além disso, a segurança da tripulação foi reforçada com a adição de um sistema de controle remoto para o bloqueio de viagem do tubo, permitindo ao motorista operar o desbloqueio e bloqueio diretamente de seu compartimento, sem exposição externa. Essa modernização consolidou a artilharia de campanha do Exército Brasileiro como uma força mais ágil, precisa e preparada para os desafios contemporâneos, reforçando seu papel estratégico na defesa nacional. A alocação dos obuseiros M-109A5+ BR foi estrategicamente planejada para reforçar a capacidade operacional da artilharia de campanha do Exército Brasileiro. Os veículos foram distribuídos entre duas unidades de destaque: o 3º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado (3º GAC Ap), conhecido como Regimento Mallet, integrante da 6ª Brigada de Infantaria Blindada (6ª Bda Inf Bld), sediada em Santa Maria, RS; e o 5º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado (5º GAC Ap), vinculado à 5ª Brigada de Cavalaria Blindada (5ª Bda Cav Bld), em Curitiba, PR. Essa distribuição visou otimizar a prontidão e a eficácia dessas unidades em cenários operacionais diversos. Um marco significativo ocorreu em 18 de novembro de 2019, quando o primeiro tiro real com um M-109A5+ BR foi disparado por um veículo do 3º GAC Ap, simbolizando a plena integração desses obuseiros modernizados às operações do Exército Brasileiro. Esse evento reforçou o compromisso da instituição com a modernização de seus meios, assegurando maior precisão e poder de fogo à artilharia de campanha. Em 2018, por meio do programa Foreign Military Sales (FMS), o Exército Brasileiro negociou a aquisição de quarenta viaturas blindadas de esteiras M-992A2 FAASV (Field Artillery Ammunition Supply Vehicle). Classificadas no Brasil como Viatura Blindada de Transporte Especial Remuniciadora (VBTE Remun), essas viaturas foram essenciais para garantir o suporte logístico necessário ao pleno emprego dos M-109A5+ BR no campo de batalha, assegurando o reabastecimento eficiente de munição em operações prolongadas. No mesmo ano, o Exército Brasileiro consolidou a padronização do modelo M-109A5 como o principal obuseiro autopropulsado de sua artilharia de campanha, com a aquisição de mais sessenta unidades da versão M-109A5, também por meio do programa FMS.
Após o desembarque no porto de Paranaguá, PR, em 8 de março de 2018, os obuseiros M-109A5 foram transportados para o Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (Pq R Mnt/5), em Curitiba. Nesse local, as viaturas passaram por revisões minuciosas de 3º escalão, um processo essencial para assegurar sua plena conformidade com as exigências operacionais do Exército Brasileiro antes de sua distribuição às unidades de artilharia. A alocação dos novos M-109A5 foi estrategicamente planejada para fortalecer os Grupos de Artilharia de Campanha Autopropulsado (GAC Ap), ampliando a capacidade operacional da artilharia brasileira. Quatro unidades foram destinadas à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, RJ, onde foram integradas ao Curso de Artilharia. Essa iniciativa permitiu aos cadetes uma formação prática com equipamentos modernos. A ampliação da frota de M-109A5 consolidou a padronização da artilharia autopropulsada do Exército Brasileiro, promovendo maior interoperabilidade, eficiência e capacidade de resposta em cenários operacionais diversos. Um dos avanços mais significativos da versão modernizada M-109A5+BR foi a incorporação do Advanced Field Artillery Tactical Data System (AFATDS), adaptado no Brasil sob a designação Sistema Digitalizado de Artilharia de Campanha (SISDAC). Esse sistema revolucionou a integração entre os elementos da artilharia, automatizando as comunicações entre os subsistemas, incluindo busca de alvos, controladores de apoio de fogo, centrais de tiro e linhas de fogo. O SISDAC permite a execução simultânea de múltiplas missões de tiro por uma mesma linha de fogo, elevando significativamente a capacidade operacional da artilharia de campanha. Essa integração tecnológica reforça a precisão, a rapidez e a coordenação das operações, posicionando o Exército Brasileiro em um novo patamar de eficiência tática. Em 23 de abril de 2024, o Exército Brasileiro publicou a Portaria nº 1.300-EME/C Ex,, que aprova a diretriz de implantação do projeto de revitalização das viaturas blindadas de combate obuseiro autopropulsado (VBCOAP) M-109A3 ), dentro do Subprograma Sistema de Artilharia de Campanha (SPrg SAC), agora parte integrante do Programa Estratégico do Exército ASTROS (Prg EE ASTROS). O objetivo do projeto é restaurar as capacidades operacionais e prolongar a vida útil de 27 VBCOAP M-109A3 (fabricadas em 1978 e 37 adquiridas usadas do Exército Belga no final do século passado), integrando-as ao subsistema Linha de Fogo e os demais subsistemas da Artilharia de Campanha, ser integrada ao Sistema Digitalizado de Artilharia de Campanha (SISDAC), e permitir que atuem em conjunto com os sistemas mais modernos da Força Terrestre, incluindo as futuras VBCOAP SR ATMOS, com a utilização de munições modernas.
Em Escala.
Para representar o obuseiro autopropulsado VBC OAP M-109A3, identificado com o número de registro "EB-6057" do Exército Brasileiro, foi utilizado o kit na escala 1/35 produzido pela Italeri. Esse modelo, embora detalhado, foi projetado para retratar as variantes anteriores M-109A1 e M-109A2, exigindo diversas modificações para corresponder às especificidades da versão A3 empregada pelo Exército Brasileiro. As modificações realizadas no kit incluíram ajustes para incorporar características distintivas do M-109A3, como o canhão M-185 de 155 mm com cano longo e a armação M-178, além de melhorias na proteção balística do sistema de telescópio panorâmico, que são marcas dessa versão modernizada. Para garantir a autenticidade das marcações e insígnias do Exército Brasileiro, foram utilizados decais do conjunto "Forças Armadas do Brasil 1983 – 2002", produzido pela Decal & Books.
A partir de 1983, o Exército Brasileiro adotou um esquema de pintura tático camuflado em dois tons, conforme as especificações do padrão de cores Federal Standard (FS), para todos os seus blindados de combate. Esse padrão, projetado para otimizar a dissimulação em diferentes ambientes operacionais, foi aplicado de maneira consistente às viaturas blindadas, incluindo os obuseiros autopropulsados VBC OAP M-109A3 e, posteriormente, às viaturas modernizadas para a versão M-109A5+ BR, bem como aos lotes adicionais do modelo M-109A5 recebidos por meio do programa Foreign Military Sales (FMS). A aplicação desse padrão às viaturas M-109A5 e M-109A5+ BR reforça a padronização estética e operacional da artilharia autopropulsada brasileira.
Bibliografia
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Obuseiro Autopropulsado M109-A3 - Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/M109.pdf
- M109 A5+BR Uma nova Forma de Atuar da Artilharia do Exército Brasileiro – www.defesanet.com.br
- M109 Howtizer - Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/M109_howitz
- Exército irá revitalizar seus obuseiros autopropulsados M109A3 - https://tecnodefesa.com.br/exercito-ira-revitalizar-seus-obuseiros-autopropulsados-m109a3