História e Desenvolvimento.
A North American Aircraft foi fundada em 6 de dezembro de 1928, em Los Angeles, Califórnia, por iniciativa do empresário Clement Melville Keys, figura influente no setor de transporte aéreo norte-americano. Em sua fase inicial, a empresa atuou sobretudo como uma holding corporativa, cujo propósito era facilitar a aquisição, reorganização e negociação de participações em companhias aéreas e em outras empresas vinculadas ao emergente mercado da aviação civil nos Estados Unidos. Era um período de intensa expansão do setor, marcado tanto por otimismo quanto por elevada especulação. Esse modelo de negócios, contudo, seria profundamente abalado a partir de 1934, quando a promulgação da controversa “Lei Federal do Correio Aéreo” (Air Mail Act) desencadeou uma crise institucional no sistema de contratos de correio aéreo. O novo marco regulatório provocou o colapso de várias holdings e conglomerados aeronáuticos, entre as quais a própria North American Aircraft. O impacto foi tão significativo que forçou a empresa a reavaliar completamente sua estratégia de atuação. Aproveitando a reputação acumulada no setor e sua rede de relacionamentos, a North American iniciou então uma nova etapa de sua trajetória, agora direcionada para a produção direta de aeronaves e componentes. Foi nesse contexto de reestruturação que James H. “Dutch” Kindelberger assumiu a liderança da companhia. Oriundo da Douglas Aircraft Company, Kindelberger trazia consigo vasta experiência em engenharia, organização industrial e gestão de programas aeronáuticos, além de contar com suporte financeiro proveniente de fundos ligados à Eastern Air Lines. Sua chegada marcaria profundamente o futuro da empresa. Em 1935, a General Motors Corporation adquiriu o controle acionário da North American Aviation — nome que passou a englobar a companhia — por meio de uma fusão com sua divisão aeronáutica, a General Aviation Manufacturing Corporation. Ainda naquele ano, buscando condições mais favoráveis para ensaios de voo e uma logística industrial mais eficiente, decidiu-se pela transferência da planta fabril de Dundalk, em Maryland, para Los Angeles. O clima ameno da Califórnia, que permitia operações de teste durante todo o ano, seria um fator estratégico para os projetos futuros. A partir dessa reorganização, a North American passou a concentrar seus esforços no desenvolvimento de aeronaves leves destinadas ao treinamento militar um nicho com menor concorrência e que oferecia oportunidades significativas à medida que o país começava a expandir suas capacidades aéreas em meio ao cenário internacional de crescente tensão pré-Segunda Guerra Mundial. Dessa orientação surgiram projetos fundamentais para a consolidação técnica da empresa, como o North American GA-16, voltado ao treinamento básico, e o GA-15, projetado para missões de observação e reconhecimento. Ambos os modelos derivavam de propostas originalmente elaboradas pela General Aviation Manufacturing Corporation e que, até então, permaneciam arquivadas. Retomados e aperfeiçoados sob a direção de Kindelberger, os protótipos realizaram seus primeiros voos em janeiro de 1935, sendo posteriormente submetidos a extensos programas de ensaios que culminaram em sua homologação ainda no mesmo ano. O desenvolvimento desses primeiros modelos seria o ponto de partida para a ascensão da North American como um dos mais importantes fornecedores de aeronaves militares das Forças Armadas dos Estados Unidos. Era apenas o início de uma trajetória que, nos anos seguintes, daria origem a ícones como o BT-9, o T-6 Texan, o B-25 Mitchell e, mais tarde, o lendário P-51 Mustang.
Após sua apresentação oficial, o North American GA-16 recebeu a designação militar “NA-18”, dando início a um rigoroso ciclo de ensaios em voo conduzido pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). A instituição buscava, à época, modernizar sua frota de aeronaves de instrução, substituindo os modelos biplanos ainda em uso por um treinador monoplano mais alinhado às demandas da aviação militar em transformação. O NA-18 representava justamente essa transição. Construído com estrutura metálica revestida em tela aeronáutica e dotado de trem de pouso fixo, o modelo incorporava avanços importantes para sua categoria. Era impulsionado pelo confiável motor radial Wright R-975, capaz de desenvolver 400 hp, o que lhe conferia desempenho adequado às necessidades básicas de instrução. Contudo, os ensaios iniciais evidenciaram a necessidade de aperfeiçoamentos, resultando na reformulação do projeto e na criação da versão NA-19, posteriormente adotada oficialmente como BT-9 Advanced Trainer. Em outubro de 1935, o Exército dos Estados Unidos firmou o primeiro contrato de produção, encomendando quarenta e duas células, com entregas previstas para o início do ano seguinte. Pouco depois, um segundo lote foi contratado para a nova variante BT-9A, equipada com duas metralhadoras calibre .30 — uma instalada na asa direita e outra sincronizada com a hélice sob o capô — refletindo a crescente preocupação em treinar pilotos para o emprego de armamento aéreo. Ambos os lotes foram encaminhados aos principais centros de formação do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC)., onde passaram a integrar o currículo de instrução básica e avançada. O programa avançou rapidamente. O modelo BT-9B, que somou cento e dezessete unidades, foi seguido pelo BT-9C, com noventa e sete aeronaves que incorporavam melhorias significativas nos sistemas elétricos e de navegação. A experiência acumulada pelos instrutores e pelos próprios alunos consolidou a reputação do novo treinador, despertando o interesse da Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). A partir de negociações específicas, foi desenvolvida uma versão adaptada às necessidades navais. Seu protótipo, que voou pela primeira vez em maio de 1936, demonstrou desempenho satisfatório, resultando na encomenda de quarenta unidades designadas North American NJ-1. Apesar do sucesso obtido, tornava-se claro que a rápida evolução da aviação militar colocaria aqueles modelos em breve obsolescência. Aeronaves de combate emergiam com estruturas totalmente metálicas, trem de pouso retrátil e velocidades cada vez maiores. Para preparar seus futuros pilotos adequadamente, o USAAC reconhecia a necessidade de um treinador mais moderno, cuja performance se aproximasse das aeronaves de caça em desenvolvimento. Assim, estabeleceu-se o requisito de um sucessor dotado de superfícies metálicas e sistemas retráteis, abandonando definitivamente o tradicional revestimento em tela aeronáutica. Esse movimento marcaria o início de uma nova fase na história da North American Aviation, que ao longo dos anos seguintes consolidaria sua posição como um dos principais fabricantes de aviões militares dos Estados Unidos.
Diferentemente do processo anterior, o novo projeto evoluiu em meio a um ambiente internacional crescentemente instável. O agravamento das tensões políticas na Europa, que já prenunciava a possibilidade de uma corrida armamentista e de um conflito em larga escala, levou o governo dos Estados Unidos a adotar um ambicioso programa emergencial de rearmamento. Nesse cenário, o Corpo Aéreo do Exército (USAAC) lançou a concorrência oficialmente denominada USAAC Basic Combat (Treinador Combate Básico) um processo que atraiu amplo interesse da indústria aeronáutica, resultando na apresentação de mais de uma dezena de propostas. Entre elas, destacou-se a da North American Aviation, que submeteu à avaliação o projeto NA-26, uma evolução direta da aeronave NA-19 BT-9. Embora mantivesse a essência estrutural do treinador anterior, o NA-26 incorporava um conjunto de melhorias substanciais: fuselagem ampliada, asas redesenhadas, revestimento metálico integral em alumínio e a inclusão de trem de pouso retrátil, características que refletiam o avanço tecnológico característico da segunda metade da década de 1930. O modelo também recebeu novos sistemas de navegação e comunicação, além de ser equipado com o motor radial Pratt & Whitney R-985-25 Wasp Jr., capaz de desenvolver 450 hp, garantindo desempenho superior ao de seus predecessores. Após uma fase criteriosa de análises comparativas e ensaios em voo, o projeto da North American Aviation foi declarado vencedor da concorrência. Em abril de 1938, formalizou-se o contrato que previa a produção inicial de 251 aeronaves para o Corpo Aéreo do Exército (USAAC), das quais 36 seriam configuradas especificamente para instrução em voo por instrumentos. A nova aeronave recebeu a designação militar BC-1 (Basic Combat), e suas primeiras unidades foram entregues às escolas de formação de pilotos militares a partir de setembro do mesmo ano. O desempenho demonstrado pelo BC-1 rapidamente chamou atenção. Sua combinação de robustez estrutural, comandos harmoniosos e características de voo compatíveis com as exigências do treinamento avançado de combate tornou-o uma plataforma ideal para preparar pilotos destinados às futuras aeronaves de caça. Tais qualidades despertaram o interesse do Ministério do Ar Britânico, que, diante da iminente eclosão de um conflito europeu, conduzia um programa emergencial de reequipamento da Royal Air Force (RAF). Como resultado, foi firmado um pedido de exportação de 400 aeronaves, que receberam na Grã-Bretanha a designação Harvard Mk I. Pouco depois, a Marinha dos Estados Unidos (US Navy) também decidiu incorporar a nova plataforma de treinamento, adquirindo dezesseis unidades adaptadas para operações navais, designadas SNJ-1. Com isso, o BC-1 consolidou-se como um treinador militar de destaque internacional e estabeleceu as bases para aquela que se tornaria uma das mais bem-sucedidas famílias de aeronaves de instrução da história: a linhagem que culminaria no lendário North American T-6 Texan. A evolução do treinador da North American Aviation avançou significativamente com o surgimento da variante NA BC-1A, que incorporava os aprimoramentos introduzidos no SNJ-1, consolidando-se como a plataforma que daria origem à célebre família T-6. Este modelo marcou um ponto de maturidade técnica no programa, ao reunir melhorias de desempenho, refinamentos estruturais e atualizações operacionais demandadas durante a segunda metade da década de 1930 um período em que as forças armadas norte-americanas buscavam modernizar seus meios de instrução aeronáutica diante de um cenário internacional cada vez mais tenso. O Exército dos Estados Unidos (US Army) foi o primeiro a reconhecer o potencial da aeronave, firmando contrato para o fornecimento de 177 unidades do BC-1A. Pouco tempo depois, a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) aderiu ao programa, adquirindo 61 aeronaves, oficialmente designadas SNJ-2. Em paralelo, versões destinadas ao mercado externo foram desenvolvidas para atender as necessidades de treinamento da Força Aérea Real (RAF) e da Real Força Aérea Canadense (RCAF), recebendo a designação Harvard Mk. II. Ao todo, 1.173 exemplares foram empregados por forças britânicas, operando principalmente no Canadá e na Rodésia, no âmbito do ambicioso Empire Air Training Scheme, iniciativa que formou dezenas de milhares de tripulantes aliados às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Nesse mesmo período, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) promovia uma profunda reorganização institucional e doutrinária. Entre as áreas reformuladas, destacava-se o sistema de formação de pilotos militares um processo que passava a ser gradualmente padronizado e centralizado para atender à crescente demanda por aviadores. Como parte dessa reestruturação, a tradicional etapa de instrução conhecida como Basic Combat foi redefinida e renomeada como Advanced Trainer, refletindo melhor o nível de complexidade e as habilidades exigidas dos cadetes. Em decorrência dessas mudanças administrativas e curriculares, as aeronaves BC-1A passaram a ser oficialmente classificadas como AT-6, inaugurando uma nomenclatura que marcaria época. A difusão internacional do projeto também produziu desdobramentos notáveis. Na Austrália, a Commonwealth Aircraft Corporation fabricou sob licença uma variante local, batizada Wirraway. Embora concebida primariamente como aeronave de treinamento e cooperação geral, o Wirraway entrou em combate em situações emergenciais. Em um episódio singular registrado em 26 de dezembro de 1942, sobre a Nova Guiné, um Wirraway conseguiu abater um caça japonês — oficialmente identificado como um Mitsubishi A6M Zero, embora algumas versões sugiram tratar-se de um Kawasaki Ki-43 Oscar. Tal feito conferiu ao modelo o raro destaque de ser o único derivado da família de treinadores norte-americanos a obter uma vitória aérea confirmada. A evolução técnica prosseguiu com o desenvolvimento do AT-6A, designado SNJ-3 quando destinado à Marinha dos Estados Unidos. Entre suas melhorias constavam o novo leme de contorno triangular substituindo o tradicional formato arredondado e pontas de asas redesenhadas com extremidades retas, conferindo maior estabilidade e refinamento aerodinâmico. Equipado com o robusto motor radial Pratt & Whitney R-1340-49 Wasp, o modelo também podia receber armamento leve, consistindo em duas metralhadoras calibre .30 polegadas, uma fixa no lado direito da capota do motor e outra móvel na cabine traseira, ampliando sua utilidade como treinador avançado de combate. A produção alcançou números expressivos: 1.549 unidades do AT-6A e 270 exemplares do SNJ-3 foram entregues nos Estados Unidos. No Canadá, a Noorduyn Aviation fabricou sob licença 1.500 aeronaves AT-16 para as forças armadas americanas e outras 2.485 unidades Harvard Mk. IIB destinadas à RAF, consolidando a família como um dos mais difundidos e influentes treinadores militares do século XX.

Embora concebido essencialmente como treinador avançado, destinado à formação de pilotos militares nas fases mais complexas do currículo de voo, o North American AT-6, em suas diversas derivações, acabou por desempenhar papéis operacionais durante a Segunda Guerra Mundial. O episódio mais célebre e historicamente reconhecido ocorreu em 26 de dezembro de 1942, na região montanhosa da Nova Guiné, quando um CAC Wirraway versão australiana produzida sob licença do AT-6 alcançou aquela que seria considerada a primeira, e virtualmente única, vitória aérea obtida por um derivado direto da família T-6. O Wirraway, pilotado pelo Suboficial John S. “Jack” Archer, do Esquadrão Nº 4 da Royal Australian Air Force (RAAF), encontrava-se em missão de reconhecimento armado quando foi subitamente surpreendido por uma aeronave japonesa. O inimigo, tradicionalmente identificado como um Mitsubishi A6M Zero, realizava patrulha sobre posições aliadas. Embora algumas fontes posteriores sugiram que a aeronave abatida poderia ter sido um Kawasaki Ki-43 Oscar, o feito permanece indiscutível como a única vitória aérea confirmada obtida por um treinador derivado do AT-6/T-6 em combate real. Contudo, esse episódio não representa um emprego isolado. Durante os períodos iniciais da guerra no Pacífico especialmente nos ataques japoneses contra bases aliadas nas Filipinas, Malásia e Indonésia aeronaves de treinamento avançado, incluindo variantes do T-6, foram utilizadas improvisadamente em tarefas de observação, ligação, evacuação e até ações de ataque leve, em um esforço desesperado para compensar a escassez de aeronaves de primeira linha. A variante AT-6B foi equipada com o motor radial Pratt & Whitney R-1340-AN-1, estabelecido como padrão para as versões posteriores. Destinada principalmente ao treinamento de metralhadores, esta versão possuía o assento traseiro configurado em posição invertida, voltado para trás. A produção majoritária ocorreu nas instalações da North American Aviation em Dallas, Texas, o que conferiu à série o nome “Texan”. A versão AT-6C, também designada SNJ-4 para a Aviação Naval dos Estados Unidos e Harvard Mk. IIA para a Força Aérea Real (RAF), representou um marco na produção em larga escala. Foram fabricadas 2.970 unidades do AT-6C, 2.400 do SNJ-4 e 726 do Harvard Mk. IIA. Uma subvariante, a SNJ-4C, com 85 unidades produzidas, foi equipada com um gancho de parada, possibilitando operações em porta-aviões. A variante AT-6D, correspondente à SNJ-5 para a Marinha americana e Harvard Mk. III para as forças britânicas, introduziu melhorias significativas no sistema elétrico. A produção totalizou 3.713 unidades do AT-6D, 1.357 do SNJ-5 e 915 do Harvard Mk. III. Similarmente à SNJ-4C, a subvariante SNJ-5C, com 80 unidades fabricadas, foi adaptada para uso em porta-aviões. Já a variante AT-6F, também conhecida como SNJ-6, eliminou as provisões para armamento, reforçando sua função exclusiva de treinamento. A hélice desta versão incluía um cubo, frequentemente removido em serviço devido a complicações de manutenção. Na década de 1950, a empresa canadense Canada Car and Foundry desenvolveu a variante Harvard 4, designada T-6J. Esta versão foi amplamente empregada por forças aéreas de nações como Canadá, França, Itália, Bélgica e Alemanha, consolidando a versatilidade da plataforma T-6.
Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos passou a encarar com crescente apreensão a possibilidade de uma ofensiva inimiga contra o continente americano. A ameaça, antes considerada remota, ganhou contornos alarmantes a partir de junho de 1940, quando a França capitulou diante da Alemanha Nazista. Com esse desfecho, abriu-se a possibilidade de que o Eixo, especialmente a Alemanha, utilizasse bases estratégicas nas Ilhas Canárias, em Dacar ou em outros territórios sob domínio francês para projetar poder militar sobre o Atlântico. Tal cenário reforçou, de forma contundente, a percepção de vulnerabilidade no Hemisfério Ocidental. Nesse contexto, o Brasil assumiu papel central nas preocupações geopolíticas norte-americanas. Sua proximidade com o continente africano região que, à época, figurava nos planos expansionistas da Alemanha transformava o país em potencial porta de entrada para uma ofensiva contra as Américas. Em paralelo, as conquistas do Japão no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul interromperam o fluxo de látex para os Aliados, conferindo ao Brasil a condição de principal fornecedor mundial dessa matéria-prima. Como a borracha natural era insumo estratégico para a produção de pneus, vedantes, mangueiras e uma infinidade de componentes essenciais ao esforço bélico, a preservação da capacidade produtiva brasileira tornou-se vital. Somavam-se a isso as vantagens geográficas do litoral nordestino. A região, especialmente a cidade de Recife, representava o ponto atlântico mais próximo entre os continentes americano e africano, constituindo-se em posição ideal para o estabelecimento de bases aéreas, navais e logísticas. Assim, além de sua importância como possível fronteira de defesa hemisférica, o Brasil oferecia condições excepcionais para a instalação de rotas de ferrying — linhas aéreas militares utilizadas no traslado de aeronaves, tropas e suprimentos destinados aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse conjunto de fatores, consolidou-se, em pouco tempo, um processo de estreitamento diplomático, econômico e militar entre Brasil e Estados Unidos. Entre as iniciativas mais significativas destacou-se a adesão brasileira ao Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), instrumento essencial da política externa norte-americana para fortalecer aliados estratégicos. Pelo acordo, o Brasil recebeu uma linha inicial de crédito de 100 milhões de dólares, destinada à modernização de suas Forças Armadas. Esse montante permitiu a aquisição de armamentos modernos, aeronaves de última geração, veículos blindados e carros de combate, elevando substancialmente a capacidade operacional do país. Os investimentos revelaram-se decisivos diante da escalada de ataques submarinos alemães no Atlântico Sul. As ações dos U-boote passaram a representar sério risco à navegação mercante e ao comércio exterior brasileiro, comprometendo inclusive o transporte diário de matérias-primas vitais à indústria de guerra norte-americana.
Assim, o alinhamento entre Brasil e Estados Unidos não apenas redimensionou o papel geopolítico brasileiro durante o conflito, como também consolidou uma parceria estratégica que marcaria a história militar e diplomática das duas nações ao longo do século XX. O programa de reequipamento da recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB), instituída em 1941, assumiu papel decisivo na adequação das capacidades operacionais e doutrinárias da nova Arma aos desafios estratégicos impostos pela Segunda Guerra Mundial. No momento de sua formação, o Ministério da Aeronáutica (MAer) herdou da Aviação Militar do Exército e da Aviação Naval da Marinha do Brasil um acervo de aeronaves profundamente heterogêneo e, em grande parte, obsoleto. Esses equipamentos, concebidos para um cenário pré-guerra, mostravam-se insuficientes para enfrentar as ameaças emergentes, sobretudo a intensa atividade de submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira. À época, o inventário mais moderno disponível consistia em um número reduzido de aeronaves North American NA BT-13 e NA-72, complementadas pelos já ultrapassados biplanos Vought V-65B Corsair. Embora empregados em missões de presença e patrulha, esses vetores careciam de desempenho, autonomia e equipamentos adequados para operações eficazes contra unidades navais inimigas. Assim, tornou-se evidente que a modernização urgente da frota era não apenas desejável, mas absolutamente necessária para garantir a defesa do litoral e proteger o tráfego marítimo vital para o esforço aliado. A partir do final de 1941, essa necessidade começou a ser suprida por meio do programa de assistência militar norte-americano, oriundo do Lend-Lease Act. Nesse contexto, foram transferidas ao Brasil as primeiras aeronaves destinadas à FAB, entre elas dez unidades do North American AT-6B Texan. Registradas inicialmente como FAB 01 a FAB 10 — e posteriormente redesignadas FAB 1223 a FAB 1232 — essas aeronaves marcaram um ponto de inflexão na capacidade de instrução e operação da Força Aérea nascente. Após o recebimento das aeronaves e a formação inicial de suas tripulações, os AT-6B foram destacados para a Base Aérea de Fortaleza, onde passaram a integrar o Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA). Essa organização desempenhava um papel crucial na etapa final do treinamento de pilotos militares brasileiros, então realizada sob supervisão direta de instrutores do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC). Os aviadores, que haviam iniciado sua formação em aeronaves Fairchild PT-19, eram submetidos neste estágio avançado a um programa intensivo que abrangia táticas modernas de combate aéreo, navegação militar, tiro aéreo e, sobretudo, doutrinas de guerra aeronaval área de especial importância, dada a ameaça concreta imposta pelos submarinos do Eixo, responsáveis por ataques constantes a navios mercantes e comboios brasileiros e aliados.te fornecidos pelos Estados Unidos.

Com o agravamento da ofensiva submarina alemã e italiana no Atlântico Sul, e diante dos atrasos na entrega de aeronaves especificamente projetadas para patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), o Agrupamento de Aviões de Adaptação viu-se compelido a adaptar suas capacidades de forma emergencial. Assim, os AT-6B Texan originalmente concebidos e enviados ao Brasil como treinadores avançados foram temporariamente empregados em missões de vigilância costeira e apoio operacional, suprindo a carência de meios especializados. Embora limitados em alcance e poder ofensivo, desempenharam papel fundamental na primeira linha de defesa aérea brasileira enquanto o país aguardava a chegada de vetores mais apropriados, como os bombardeiros e patrulheiros de longo alcance posteriormente fornecidos pelos Estados Unidos.O emprego dos North American AT-6B Texan em missões de patrulha marítima pela Força Aérea Brasileira (FAB) durante a Segunda Guerra Mundial representou uma adaptação necessária às circunstâncias estratégicas do período. Seu principal escopo operacional se baseava na vigilância costeira contínua entre o Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, reconhecimento visual de navios suspeitos ou embarcações à deriva, escolta inicial de comboios e navios isolados na costa nordestina e apoio aéreo às estações-rádio e postos de observação do litoral. Para essas operações, as aeronaves eram equipadas com quatro bombas de uso geral de 45 kg e contavam com uma tripulação composta por um piloto e um observador, este último responsável por operar uma metralhadora Browning calibre .30. Embora a capacidade de causar danos significativos a submarinos alemães e italianos fosse limitada, os voos de patrulha realizados pelos AT-6B demonstraram eficácia ao exercerem um efeito psicológico dissuasório, inibindo ações hostis dos submersíveis do Eixo nas áreas patrulhadas. Os voos eram realizados frequentemente em condições precárias: as tripulações tinham experiência limitada, os equipamentos de navegação eram rudimentares e a autonomia da aeronave restringia os setores de patrulha a pequenas faixas do litoral. Ainda assim, o AT-6 tornou-se a principal ferramenta da Força Aérea Brasileira (FAB) para garantir presença aérea imediata enquanto os meios mais robustos não chegavam. Apesar do relativo êxito alcançado em suas primeiras ações, o Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA) unidade criada em caráter emergencial para suprir as lacunas operacionais da recém-estruturada Força Aérea Brasileira (FAB) teve existência breve. Em junho de 1942, após poucos meses de atividade, o agrupamento foi oficialmente desativado. As aeronaves North American AT-6B Texan, que até então desempenhavam simultaneamente funções de instrução avançada e patrulha costeira, foram redistribuídas para importantes bases aéreas do esforço de guerra brasileiro: Belém, Natal, Recife e Salvador.
A dissolução do Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA) coincidiu com uma mudança substancial no panorama estratégico da América do Sul. Àquela altura, já se encontrava prevista a chegada de aeronaves concebidas especificamente para missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW), entre as quais se destacava o Lockheed A-28A-LO Hudson. A incorporação desses vetores especializados permitiu que os AT-6 fossem gradualmente liberados de suas funções operacionais de caráter provisório e retornassem ao papel para o qual originalmente haviam sido destinados: a formação avançada de pilotos militares. No início de 1943, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu novas remessas da família Texan, agora nas versões modernizadas AT-6C e AT-6D. A incorporação desses modelos, iniciada no mês seguinte, marcou uma fase de reorganização estrutural no Comando da Aeronáutica, ampliando a distribuição das aeronaves para bases situadas também nas regiões Sul e Sudeste do país. Nesse contexto, os modelos AT-6B, AT-6C e NA-72 passaram a equipar o Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), sediado na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. Essa unidade logo se consolidou como centro de excelência para o treinamento e conversão dos pilotos designados para operar os caças-bombardeiros Curtiss P-40 Warhawk, então o principal vetor de defesa aérea do Brasil. Até novembro de 1943, a Força Aérea Brasileira (FAB) havia recebido setenta unidades do AT-6C, registradas sob as matrículas FAB 1233 a FAB 1302, além de uma célula adicional incorporada em 1944, sob o registro FAB 1508. O significativo aumento da frota possibilitou uma redistribuição estratégica das aeronaves, que passaram a operar regularmente nas bases de Recife, Fortaleza, Natal e Belém. Nessas regiões particularmente no Norte e Nordeste, onde a ameaça submarina se mantinha presente os AT-6 continuaram a ser empregados, embora de forma pontual, em missões de patrulha e reconhecimento marítimo ao longo da costa. A partir de 1944, o cenário operacional mudou de forma definitiva. A chegada em maior escala de aeronaves plenamente especializadas em patrulha marítima e guerra antissubmarino, como os Lockheed PV-1 Ventura, A-28 Hudson, B-34 Harpoon e North American B-25J Mitchell, permitiu que a Força Aérea Brasileira direcionasse integralmente os modelos AT-6B e AT-6C para sua vocação mais nobre: a formação de pilotos de combate. Nesse novo ambiente, o Texan consolidou-se como instrumento indispensável no adestramento das gerações de aviadores que serviriam o país durante o restante do conflito e nas décadas posteriores.

Entre o final de 1944 e o ano de 1945, a Força Aérea Brasileira (FAB) recebeu um total de 45 unidades do North American AT-6D. Muitas dessas aeronaves foram destinadas aos Cursos de Formação de Oficiais da Reserva (CPOR), sediados na Base Aérea de Cumbica, em Guarulhos, São Paulo, reforçando o treinamento de novos pilotos militares. A trajetória dos North American AT-6 na Força Aérea Brasileira (FAB) ilustra sua versatilidade em contextos operacionais diversos, desde missões improvisadas de patrulha até o treinamento especializado de pilotos. A incorporação de versões modernizadas e a reorganização de sua distribuição geográfica refletem o esforço da Força Aérea Brasileira (FAB)para fortalecer suas capacidades operacionais e de instrução, contribuindo significativamente para a consolidação de sua estrutura durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após o término do conflito ainda estavam disponíveis no pai aproximadamente 120 aeronaves da família AT-6 em condições operacionais. Contudo, a maioria dessas células apresentava elevado desgaste estrutural, decorrente da intensa utilização durante o conflito. Essa condição representava um risco potencial para a continuidade do processo de formação de pilotos a médio prazo. Adicionalmente, a crescente demanda por treinamento exigia a ampliação da frota de aeronaves destinadas a essa finalidade. Para atender a essas necessidades, de recomplementaçao da frota, o Ministério da Aeronáutica (MAer) implementou três estratégias principais entre 1946 e 1951, envolvendo a produção de 81 aeronaves sob licença na Fábrica de Aviões de Lagoa Santa, em Minas Gerais, aquisição de células usadas dispostas no termos do programa American Republics Project (ARP) e por fim em 1951 a implementação de um programa de revitalização e modernização de 28 células dos modelos AT-6B e AT-6C, com estas sendo atualizadas ao modelo T-6G, com estes trabalhos sendo realizados nas instalações do Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa (PAMA-LS). A maioria desta aeronaves modernizada se manteriam em serviço ativo até meados da década de 1960, quando foram gradualmente desativadas. É digno de nota que os contratos iniciais de fornecimento, firmados sob os termos do Lend-Lease Act (Lei de Arrendamento e Empréstimo), previam a entrega de 14 aeronaves AT-6B. Contudo, quatro dessas unidades foram perdidas em acidentes durante o traslado, ocorridos na Venezuela em 12 de abril de 1942.
Em Escala.
Para representarmos o North American AT-6B " FAB 03" quando em uso pelo Agrupamento de Aviões de Adaptação (AAA), empregamos o antigo kit da Monogram na escala 1/48. Modelo este que apresenta linhas em alto relevo e nível médio de detalhamento, porém com ampla facilidade de montagem. Para se configurar a versão “Bravo”, temos de descartar a parte traseira do canopy, adaptando a instalação de uma metralhadora calibre .50. Fizemos uso de decais confeccionados pela FCM Decals, presentes em diversos sets do fabricante.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o primeiro padrão, em que algumas células foram recebidas a partir de 1942, a maioria das aeronaves estava pintada no esquema total em verde oliva, ostentando ainda marcações seriais do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC), indicando serem células retiradas de unidades operativas daquela arma aérea. Conforme estas aeronaves foram sendo submetidas as revisões em âmbito de parque, passaram a ser configuradas no esquema de pintura das aeronaves de instrução a serviço da Escola de Aeronáutica (EAer).
Bibliografia:
- Revista ASAS nº 60 " North American T-6 na FAB ( 1942 - 1963 ) - Aparecido Camazano Alamino
- História da Força Aérea Brasileira , Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores Jr





