Lockheed A-28A Hudson no Brasil

História e Desenvolvimento.
A Lockheed Aircraft Manufacturing Company, empresa norte-americana de aeronáutica, teve sua gênese em 1912, quando Allan Lockheed e seu irmão Malcolm Lockheed fundaram uma pequena empresa especializada na cidade São Diego no estado da Califórnia. Inicialmente se especializaria no desenvolvimento e produção de pequenas aeronaves turísticas. Apesar da empresa apresentar um bom índice de crescimento em vendas nos anos seguintes, o termino da Primeira Guerra Mundial em novembro de 1918, iria provocar um fator adverso sobre o mercado, pois milhares de aeronaves com pouco uso seriam retiradas de serviço militar, inundando o mercado mundial da aviação civil. Isso geraria uma crise sem precedentes na comercialização de aeronaves novas, levando assim ao encerramento das atividades de um grande número de fabricantes aeronáuticos, entre estes a própria Lockheed Aircraft Manufacturing Company. Desde então os irmãos Alan e Malcon passaram a empreender em segmentos diferentes de mercado, visando assim sua subsistência empresarial. Em 1926, Allan Lockheed, John Northrop, Ken Kenneth Kay e Fred Keeler se uniram em um novo empreendimento, logrando êxito em obter fundos juntos a investidores, para assim fundar a Lockheed Aircraft Company , que teria sua sedena cidade de  Hollywood no estado da Califórnia. Esta nova empresa faria uso da mesma tecnologia desenvolvida para o Modelo S-1 produzido na organização anterior, para a concepção de seu novo modelo, que seria batizado agora como Lockheed Vega. Rapidamente o sucesso comercial se mostraria presente, levando 1928, a empresa a mudar sua sede para a cidade de Burbank no mesmo estado, e no final deste mesmo ano reportaria vendas superiores a um US$ 1.000.000,00 milhão de dólares. Neste mesmo período, seriam produzidas centenas de aeronaves, empregando mais de trezentos trabalhadores, em uma linha de produção que chegava a completar cinco aeronaves por semana. Em julho de 1929, o acionista majoritário Fred Keeler venderia 87% dos negócios da empresa para a companhia Detroit Aircraft Corporation, permitindo assim um ousado programa de expansão em termos de portfolio futuro. No entanto a “Grande Depressão” de 1929 abalaria o mercado de construção aeronáutica, levando esta empresa a um estado falimentar. Em 1932 durante seu processo de liquidação judicial, a empresa seria adquirida por grupo de investidores liderados agora pelos irmãos Robert e Courtland Gross, e Walter Varney, que ao assumirem a gestao, traria nesta mesma década uma nova vida a esta companhia.

A partir de meados de  1934, uma grande oportunidade se descortinaria para a Lockheed Aircraft Corporation, pois já ficava evidente para muitos governos europeus que a eclosão de um novo conflito no velho mundo, seria só uma questão de tempo. Para fazer frente aos vastos programas de rearmamentos iniciados pela Alemanha e Itália, países como a  França e o Reino Unido, e de forma mais tímida, a Bélgica e a Holanda começariam tardiamente a modernizar e ampliar suas forças armadas. Porém as industrias de defesas destas nações, simplesmente não estavam prontas para atender as necessidades de suas respectivas forças armadas dentro de espaço de tempo existente, em consequência, esses e outros países europeus não alinhados com a Alemanha e Itália optaram por buscar material de defesa produzido no novo mundo. Neste contexto, o governo da Grã Bretanha era a nação mais empenhada neste processo, e emergencialmente buscava renovar sua frota de aeronaves de combate, entre elas os já obsoletos bimotores Avro Anson que eram dedicados a missões de patrulhamento marítimo e reconhecimento. Esta demanda seria percebida pelos diretores da Lockheed Aircraft Corporation, que em fevereiro de 1938 autorizariam com recursos próprios iniciar o desenvolvimento de uma aeronave militar com foco a realização de a missões de reconhecimento, patrulha e bombardeio. Visando agilizar o projeto e otimizar investimento, este projeto seria baseado originalmente na plataforma do modelo civil Lockheed Model 14 Super Electra. Este programa receberia a designação de Lockheed Model B-14, e logo seriam iniciados os trabalhos de construção do mock up em madeira, quando este processo estava em um estágio avançado, a empresa receberia a visita de uma comissão britânica de compras aos Estados Unidos. Assim uma completa apresentação seria realizada a estes delegados, com a proposta da aeronave agradando em muito os oficiais britânicos, gerando assim um convite para a diretoria da empresa realizar uma visita formal a Inglaterra para melhor discussão do projeto.
Para se adequar ao novo perfil operacional, a plataforma do Lockheed Model 14 Super Electra, sofreria consideráveis modificações, a fim de receber um compartimento ventral de bombas, e poder suportar duas torres de metralhadoras elétricas para autodefesa. O modelo B-14 ao ser apresentado ao comando da Força Aérea Real (Royal Air Force), receberia uma grande gama de solicitações para implementação de modificações e melhorias, dentre esta a mais visível era representada pela remoção do navegador de sua estação, na seção traseira da fuselagem, optando por desloca-lo para a parte frontal da aeronave. Assim o nariz seria modificado para assim abrigar este tripulante, prevendo ainda a possibilidade de  instalação de armas para uso em missões de ataque a alvos no solo, curiosamente em função do atendimento do cronograma contratual, a aeronave manteria as janelas laterais da versão civil.  Em 10 de outubro de 1938, seria apresentado aos britânicos o primeiro protótipo desta célula já apresentando as modificações solicitadas, recebendo a designação de Lockheed Model B-14. Esta aeronave seria submetida a um rápido programa de ensaios em voo, recebendo logo em seguida a homologação para produção em série, com a aeronave recebendo a designação local de Hudson MKI. Um contrato seria celebrado em dezembro do mesmo ano, prevendo a aquisição de duzentas aeronaves, com as primeiras células sendo entregues no início de fevereiro do ano seguinte ao 224º Esquadrão de Bombardeio, baseado na Escócia. Durante as fases iniciais do conflito, mais de oitocentas aeronaves seriam adquiridas pela Força Aérea Real (Royal Air Force), sendo divididas nas versões Hudson MK.II, Hudson MK.III, Hudson MK.IV, Hudson MK.V e Hudson MK.VI. Esta família de aeronaves seria ainda incluída no programa de Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Leand & Lease Act Bill), sendo fornecida as forças armadas da Austrália, África do Sul, Canada, Birmânia, França Livre e Nova Zelândia, onde seriam empregadas em missões de patrulha, ataque, transporte e antissubmarino (ASW), durante todo o conflito.

A entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial em 07 de dezembro de 1941, levaria a empresa Lockheed Aircraft Corporation, a se tornar rapidamente um dos mais importantes fornecedores estratégicos das forças armadas norte-americanas, com vários de seus produtos obtendo posição de destaque no esforço guerra aliado. Entres estes o bombardeiro bimotor A-28 Hudson, que seria disposto em várias versões que passariam a operar em larga escala junto ao Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e a Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy). Inicialmente, grande parte destas células seriam retiradas dos lotes de produção de exportação destinados a Força Aérea Real (Royal Air Force), com esta decisão emergencial sendo tomada com o objetivo de se reforçar os efetivos aéreos dispostos nas bases militares localizadas na costa oeste e nas ilhas do oceano pacífico, com este movimento ocorrendo logo após o ataque a base naval em Pearl Harbour no Havaí. Nas fases iniciais da participação americana no conflito os Lockheed A-28 Hudson foram fundamentais nas missões de patrulha marítima e guerra antissubmarino (ASW) operando tanto na Europa quanto no Pacifico em conjunto com os aerobotes  Consolidated PBY5 Catalina. Cabe a aeronave ainda o mérito de ser a primeira aeronave desenhada e produzida nos Estados Unidos a derrubar um avião inimigo em combate durante a Segunda Guerra Mundial, um hidroavião Dornier 18 da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) no dia 8 de outubro de 1939, em missão de patrulha no Mar do Norte. Seria também a primeira aeronave da Força Aérea Real (Royal Air Force), a enfrentar e afundar com cargas de profundidade um submarino alemão, o U-656 em 27 de agosto de 1941. Ainda a versão naval Lockheed PBO-1 Hudson seria responsável pela destruição dos dois primeiros submarinos alemães em ataques desferidos por aeronaves de bandeira norte-americana, e também pelo uso pioneiro e exclusivo de foguetes não guiados para este tipo de emprego. Além de Estados Unidos e Grã-Bretanha aeronaves desta família seriam cedidas a mais países aliados nos termos do programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os modelos B-414, equipados com motores Pratt&Whitney Twin Wasp, foram designados pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) como A-28 e A-28A; aqueles equipados com motores Wright Cyclone receberam as designações A-29 e A-29A.
A partir de fins do ano de 1942, começariam a entrar em serviço nas forças armadas norte-americanas e aliadas os novos modelos de aeronaves dedicadas a este espectro de missão como os Lockheed-Vega PV-1 Ventura B-34 e posteriormente os Lockheed-Vega PV-2 Harpoon B-34A, vetores estes de melhor desempenho e capacidade de emprego em missões especializadas, passando assim a substituir na linha de frente os Lockheed A-28 Hudson. Até o mês de maio de 1943 haviam sido produzidos quase três mil aeronaves, e ainda restavam um grande número de células em bom estado em operação, e este cenario levaria inicialmente ao comando da Força Aérea Real (Royal Air Force) a optar pelo emprego de um grande número destas aeronaves em tarefas de transporte de pessoal e de carga. Estes aviões seriam convertidos localmente, sendo retirados seus sistemas defensivo e ofensivo de armas, bem como blindagem e os conjuntos eletrônicos dedicados as missões de patrulha e guerra antissubmarino (ASW). Assim logo em fins do ano de 1943 as primeiras aeronaves customizadas começariam ser colocadas em operação. Este exemplo seria seguido pelo Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) e Aviação Naval da Marinha dos Estados Unidos (US Navy), onde passariam a operar com os Lockheed Model 18 C-60 e C-66Lodestar, aeronaves já dedicadas as missões de transporte de carga e pessoal, com seu uso sendo potencializado pelo emprego comum de componentes de reposição. Logo após o término do conflito em setembro de 1945 a frota destas aeronaves norte-americanas e britânicas remanescentes seriam retiradas do serviço ativo e repassadas ao mercado civil onde seriam empregados em tarefas de transporte de passageiros e aerofotogrametria pelo menos até fins da década de 1960. O Lockheed A-28 Hudson em versões de transporte militar ainda veria uso militar no pós-guerra sendo operado pelas forças armadas do Brasil, Austrália, Holanda, Israel, Trindade e Tobago e Portugal, com as últimas células sendo retiradas do serviço ativo em meados da década de 1950.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano estava preocupado com uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo. Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornou claro. Se a Alemanha pudesse obter bases nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas, o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na guerra.  Além deste aspecto, geograficamente o país era estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano, assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. A ameaça representada pela ação dos submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira começou a ser enfrentada após a declaração de guerra aos países do Eixo em agosto e 1942, quando a Marinha Americana (US Navy) começou a operar esquadrões antissubmarino a partir de bases principalmente no litoral do nordeste. Neste mesmo período a recém-criada Força Aérea Brasileira não dispunha de treinamento ou meios aéreos adequados a realização destas missões especializadas, e estava equipada com uma frota herdada das aviações Militar e Naval, que era composta em sua grande maioria por aeronaves obsoletas, com mais modernas representadas pelos modelos Vultee V-11 e Focke-Wulf FW-58 Weihe, sendo completamente inadequados as tarefas de patrulha marítima. Missões estas que deveriam compor o imediato esforço de guerra nacional, direcionado principalmente as atividades relacionadas a busca e destruição de submarinos do Eixo, que até então representavam uma grave ameaça a navegação militar e civil nas costas do mar territorial brasileiro. Era necessário assim, um esforço emergencial para a modernização dos meios de patrulha da Força Aérea Brasileira, com este movimento começando a tomar forma com a criação da Comissão de Compras de Material Aeronáutico, sediada nos Estados Unidos, para que esta viesse a selecionar e adquirir os meios necessários a este processo de modernização. 

A adesão do governo brasileiro ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), estariam garantidos termos que viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos, seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha nos campos da Itália. No entanto apesar deste processo ser priorizado, o rápido intensificar das operações de ataque por parte de submarinos alemães e italianos na costa brasileira, levaria a Força Aérea Brasileira a compor missões de patrulhas marítimas, ainda que com aeronaves totalmente inadequadas para tais missões como caças monomotores Curtiss P-36A e P-40E, ao mesmo tempo que aguardava o recebimento de aeronaves especializadas. Já as primeiras missões de combate antissubmarino seriam realizadas precariamente pelos bombardeiros North-American B-25B Mitchell, com o primeiro embate ocorrendo no dia 22 de maio de 1942, antes mesmo de o Brasil entrar em guerra, ocorreria o primeiro ataque de uma aeronave da Força Aérea Brasileira a um submarino alemão, o qual, ao localizar a aeronave brasileira, abriu fogo com sua artilharia antiaérea. A frota de aeronaves dedicadas a este tipo de missão seria reforçada a partir de dezembro do mesmo ano quando seriam recebidas as primeiras dez células do modelo Lockheed A-28A-LO Hudson, com mais dezesseis aeronaves chegando no mês seguinte. Estes aviões originalmente pertenciam a um lote destinado a Royal Air Force (Força Aérea Real), sendo desviadas a Força Aérea Brasileira, devido a necessidade emergencial em se dotar este novo aliado com o mínimo e equipamento necessário ao esforço de guerra.  A primeira unidade a receber o modelo foi o Grupo de Aviões Bimotores (GAB) da Unidade Volante, que fora estabelecido em Natal no Rio Grande do Norte, iniciando assim em dezembro do mesmo ano, sua carreira operacional, atendendo a missões de patrulhamento marítimo para proteção de comboios. Em termos distribuição das aeronaves, a próxima unidade a receber os A-28 Hudson seria a Base Aérea de Salvador que receberia uma dotação de sete células. Também o 2º Grupo de Bombardeio Médio (2ºGBM) seria ativado em Salvador (BA) em 17 de agosto de 1944 para cumprir missões de cobertura de comboios, antissubmarino e de bombardeio, e seria dotado com cinco unidades deste modelo. 
Ao longo do conflito os Lockheed A-28A Hudson seriam também operados pelo 4º Grupo de Bombardeio Médio (4ºGBM), pela  Unidade Volante do Galeão, pelo 3º Grupo de Bombardeio Médio (3ºGBM), Grupo de Aviões Bimotores do 6º RAv (GAB-6ºRAv), e pelo 1º Grupo de Bombardeio Médio (1ºGBM), Base Aérea de Canoas e Base Aérea de Santa Cruz, travando acirrados combates contra submarinos alemães e italianos ao longo da costa brasileira. Ao executar elaborados padrões de varredura e acompanhamento em tornos dos grandes comboios marítimos (que chegavam a totalizar dezenas de navios mercantes) que diariamente faziam a ligação entre o Brasil e os Estados Unidos, os A-28A Hudson tratavam de garantir a segurança dos navios sob sua guarda até eles abandonarem a área de cobertura de sua responsabilidade. Durante essas missões, ocorreram os seguintes ataques confirmados a submarinos inimigos: 5 de abril de 1943: um A-28A Hudson, de Salvador, pilotado pelo 1º Ten.-Av. Ivo Gastaldoni – ataque com cargas de profundidade a submarino localizado a sessenta quilômetros de Aracaju, observados debris e larga mancha de óleo no mar após o ataque, 3 de julho: A-28A Hudson, de Santa Cruz, pilotado pelo Ten.-Av. Clóvis Labre de Lemos – ataque ao U-199, sem danos, 31 de julho: Às primeiras horas da manhã de 31 de julho de 1943, um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 (USN), baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino alemão tipo IXD-2 U-199. O U-199 foi danificado, mas não afundou, e permaneceu atirando com suas peças de artilharia antiaérea no PBM-3C. As defesas brasileiras já então haviam sido alertadas e um Hudson brasileiro imediatamente levantou vôo do Rio de Janeiro, pilotado pelo Asp.-Av. Sergio Cândido Schnoor. Ele atacou o U-199 com duas cargas de profundidade Mk. 17 as quais caíram perto do submarino; efetuando um segundo ataque, o Asp.-Av. Schnoor metralhou o U-199 com as metralhadoras localizadas no nariz do Hudson, o que incapacitou alguns dos marinheiros alemães que manejavam a artilharia antiaérea do submarino. O Hudson deixou então a área e o U-199 acabou sendo atacado e afundado por um PBY-5 brasileiro, pilotado pelo Asp.-Av. Alberto Martins Torres, o qual estava em patrulha próximo ao local. Após o segundo semestre de 1943, as atividades de submarinos alemães e italianos caíram gradativamente no Atlântico Sul, mesmo assim ainda representavam uma séria ameaça aos comboios e a navegação marítima em geral, ao transitar ao largo do litoral brasileiro. Consequentemente para os A-28A Hudson, as missões de escolta e cobertura de comboios continuaram, regularmente pontilhadas por surtidas de esclarecimento marítimo, quando estações de terra captavam transmissões oriundas de submarinos inimigos.

Vale citar que em termos operacionais, as células brasileiras eram originalmente destinadas aos britânicos, possuindo assim algumas peculiaridades técnicas que os distinguiam das demais aeronaves produzidas para as forças armadas norte-americanas. Um exemplo era o sistema de frenagem do trem principal, que ao contrário do sistema original, em que a aplicação de intensidade e o diferencial de frenagem concentravam-se  nos pedais, exigindo o emprego conjugado dos pedais e de uma espécie de freio de mão, levando este diferença a causar acidentes de pequena monta, com danos leves as células. Mesmo sendo aeronaves pertencentes ao mesmo lote de trezentos e cinquenta células, os primeiros Lockheed A-28A Hudson recebidos no país, dispunham de uma torre dorsal Bounton Paul, enquanto as demais contavam com um simples, mas volumoso defletor avante da metralhadora dorsal. Esta última característica aerodinâmica resultava na pouca autoridade dos lemes de direção quando a aeronave se encontrava com velocidade reduzida, o que era especialmente evidente durante o pouso e a decolagem. Possivelmente esta faceta, aliada ou não a outras particularidades do modelo levaria a ocorrência de acidentes, com dois registros fatais ocorrendo entre os meses de junho e novembro de 1943, com aeronaves pertencentes ao 2º Grupo de Bombardeio Médio (2ºGBM). Logo em seguida uma aeronave alocada junto ao Unidade Volante do Galeão se acidentaria com graves danos estruturais, também um quarto A-28A Hudson foi dado como perdido em acidente na cidade de Canavieiras na Bahia. Entre fins de 1943 e início de 1944, a Força Aérea Brasileira receberia um considerável reforço de aviões de patrulha e guerra antissubmarino dos modelos Consolidated PBY-5A Catalina, North American B-25J Mitchel e Lockeeds PV-1 Ventura e PV-2 Harpoon. No então esta diversidade de modelos acarretaria inconveniências logísticas e de manutenção na tarefa de se manter aeronaves de vários tipos distribuídos em quatro unidades áreas. A busca por otimização de recursos resultaria em uma mudança organizacional, oficializada em 20 de dezembro de 1944, por meio de um boletim reservado da Diretoria de Material Aeronáutico (DIRMA), que determinaria que todas as células dos Lockheed A-28A Hudson remanescentes, fossem concentrados no 4º Grupo de Bombardeio Médio (4ºGBM) sediado na Base Aérea de Fortaleza, com o objetivo de facilitar e padronizar tanto a operação quanto a manutenção. Curiosamente a derradeira célula do modelo entregue as autoridades brasileiras nos Estados Unidos, permaneceria naquele país, prestando apoio as atividades dos oficiais brasileiros que se encontravam destacados no San Antonio Air Depot, organização esta que era o maior centro de manutenção e logistica da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e habitual ponto de partida dos aviões que seriam transladados ao Brasil.
Curiosamente a derradeira célula do modelo entregue as autoridades brasileiras nos Estados Unidos, permaneceria naquele país, prestando apoio as atividades dos oficiais brasileiros que se encontravam destacados no San Antonio Air Depot, organização esta que era o maior centro de manutenção e logistica da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) e habitual ponto de partida dos aviões que seriam transladados ao Brasil. Encerrada o conflito em maio de 1945, iniciou-se um novo período para os Lockheed A-28A Hudson, onde o 4º Grupo de Bombardeio Médio (GBM) dedicou-se a manter seu nível de operacionalidade conquistado durante todos os anos da guerra. No início de 1947, começou a implementação do plano de reorganização da Força Aérea Brasileira, entre diversas medidas efetivadas, decidiu-se pela extinção de todos os grupos de bombardeios leve, médio e picado, grupos de caça, grupos de patrulha e regimentos de aviação.  Em substituição seriam criados vários grupos de aviação, neste processo este grupo seria transformado no 1º/4º Grupo de Aviação (1º/4º GAv), passando em maio de 1948 a operar também os recém recebidos North American B-25J Mitchel, levando rapidamente este modelo a ser o principal vetor da unidade. Neste estágio a frota de Lockheed A-28A Hudson, já se encontrava bem reduzida devido as perdas operacionais em acidentes, com sua disponibilidade ainda sendo agravada por problemas no fluxo de peças de reposição principalmente no que tange aos motores radiais Pratt & Whitney R-1830-67. As poucas aeronaves remanescentes se manteriam em voo graças aos esforços do pessoal técnico do Núcleo de Parque de Aeronáutica de Recife (NPqAerRF). Porém em 1950 seriam identificados problemas estruturais graves o que levaria a condenação de muitas células ao sucateamento, durante este processo de inspeção seriam selecionadas três aeronaves que se encontravam em melhor estado de conservação, decidindo-se por sua conversão para aeronaves de transporte de carga e pessoal. 

Em Escala.
Para representarmos o Lockheed A-28A Hudson “FAB 72” (número de série4 14-7172 aeronave que foi doada ao Ministério da Aeronáutica pela Fraternidade do Fole), empregamos o kit da Classic Airframes na escala 1/48. Para compormos a versão brasileira tivemos de construir em scratch o posto do metralhadora dorsal (estrutura, assento do operador e armamento), pois o kit vem originalmente equipado com a torre elétrica Bounton Paul. Fizemos uso de decais impressos artesanalmente sob encomenda em conjunto com  decais pertencentes a diversos sets da FCM Decals.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático empregado pela Força Aérea Real (Royal Air Force) durante a Segunda Guerra Mundial. Vale citar que mesmo após receberem as marcações nacionais, estas aeronaves mantiveram durante algum tempo a identificação da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) nas partes inferiores das asas. Após o término do conflito os Lockheeds A-28 Hudsons receberiam um novo esquema de pintura em verde oliva e cinza, com este perdurando até o ano de 1947, quando as aeronaves remanescentes passaram a ostentar uma pintura em metal natural, com este esquema se mantendo até sua desativação.

Bibliografia :

- Bombardeiros Bimotores da FAB, Aparecido Camazano Alamino - C&R Editorial
- Lockheed Hudson – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_Hudson
- História da Força Aérea Brasileira, Prof Rudnei Dias Cunha - http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/index.html
- Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015  - Jackson Flores Jr