Dodge WC-62 e WC-63 Big Shot 6X6

História e Desenvolvimento.
No início do ano de 1900, os irmãos John Francis Dodge e Horace Elgin Dodge decidiram construir um automóvel diferente dos modelos existentes no mercado norte-americano naquele momento. Passando inicialmente a  produzir quase que artesanalmente dezenas de veículos,  este processo evoluiria para um status de produção em série a partir do ano de 1914. Agora a montadora denominada como Dodge Brothers Motors Company, logo ganharia notoriedade no mercado norte-americano de carros de passeio, passando a conquistar um importante fatia daquele mercado. Este sucesso permitiria a empresa a amealhar recursos para iniciar em meados da década seguinte, o desenvolvimento de veículos utilitários para emprego no mercado comercial civil. Infelizmente, pouco tempo depois os irmãos fundadores faleceriam, com a empresa em 1928 passando a integrar o conglomerado de empresas da Chrysler Corporation. Os primeiros modelos utilitários criados e lançados no mercado norte-americano, eram baseados nas plataformas dos veículos comerciais de passageiros desta mesma marca, resultando assim em menores investimentos para projeto e produção. Fazendo assim,  uso do mesmo ferramental e processos de manufatura, gerando assim impactos positivos em seu custo final, proporcionando uma grande competividade comercial. A exemplo dos veículos de passeio desta montadora, esta nova série de veículos alcançaria rapidamente excelentes resultados comerciais em vendas no mercado interno, provando que marca Dodge também poderia ser associada a robustez para emprego no transporte de cargas e outras atividades pesadas em ambientes fora de estrada. As vendas em constante ascensão proveriam mais recursos ainda a montadora que passaria a almejar projetos mais ousados a curto e médio prazo.  Na primeira metade da década de 1930, um preocupante cenário geopolítico começava a se avizinhar na Europa, principalmente na Alemanha com a chegada ao poder do partido Nazista capitaneado pelo chanceler Adolf Hitler. Este movimento passaria a preocupar uma série de nações entre elas o próprio Estados Unidos que apesar de sua politica aparente de neutralidade, estava sempre a antecipar possíveis ameaças futuras . Atentos a uma possível corrida armamentista em escala mundial como resposta a este cenário, a diretoria da Dodge Motors Company, resolveria direcionar seus esforços e investimentos no promissor nicho de mercado militar. Assim em 1934, fazendo uso de recursos próprios a empresa iniciaria o desenvolvimento dos primeiros projetos e protótipos conceituais de caminhões militares de porte médio e grande, tendo como base projetos anteriores de modelos produzidos para as forças armadas norte-americanas durante a Primeira Guerra Mundial. 

Em 1937, a empresa realizaria ao comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) uma apresentação oficial de seu primeiro modelo experimental,  um caminhão de 1 ½ toneladas com tração integral nas quatro rodas, designado como K-39-X-4. Este veículo seria submetido a teste de campo, com seus resultados gerando ótimas impressões junto aos militares, com este processo culminando na assinatura de um contrato de quase oitocentos caminhões. Nos meses seguintes, as primeiras entregas passariam a ser realizadas, e na sequencia seriam firmados novos contratos mais representativos, envolvendo os modelos Dodge VC-1 e VC-6 de ½ tonelada. Versões destinadas ao mercado civil seriam lançadas e comercializadas no mercado doméstico, obtendo grande sucesso comercial. Este êxito motivaria a empresa a expandir sua linha de produtos em 1938, com novos modelos,  passando a ocupar as linhas de produção de sua recém-inaugurada planta industrial em Warren Truck Assembly em Michigan, planta esta edificada especialmente para a montagem de caminhões leves e médios. No ano seguinte a montadora apresentaria uma linha completamente redesenhada de picapes e caminhões, que apresentavam uma aparência moderna com a designação de "Job-Rated" visava atender a todos os trabalhos e tarefas. Neste mesmo período ficava cada vez mais evidente que as forças armadas norte-americanas deveriam ser emergencialmente modernizadas e reequipadas, visando fazer frente as possíveis ameaças geopolíticas que se pronunciavam cada vez mais na Europa e no Pacífico. No que tange a veículos de transporte seria definido principalmente pelo exército,  um padrão a ser adotado se dividindo em cinco classes e caminhões, baseados em carga útil sendo ½ tonelada, 1 ½ tonelada, 2 ½ tonelada, 4- e 7 ½ tonelada. Em junho de 1940 o Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps) já havia testado e aprovado seus três primeiros caminhões comerciais padrão, com tração nas quatro rodas: o Dodge de 1 1⁄2 tonelada 4x4, o GMC 2 de ½ tonelada 6x6  e o  Mack ½ tonelada 6X6. Definiu-se que cada uma das principais montadoras receberia um contrato para a produção de uma classe específica de caminhões, assim no verão de 1940 a Dodge - Fargo Division da Chrysler recebeu um contrato para a entrega de quatorze mil unidades do modelo de meia tonelada com tração integral 4X4, que foi denominado pelo fabricante como série VC. Sua produção em série em larga escala teve início em novembro de 1940 e logo após o início da Segunda Guerra Mundial o modelo teve sua designação original alterada para WC (Weapons Carriers), com letra “W“ para representar o ano do início da produção (1941) e C para classificação de meia tonelada, sendo que  código C, posteriormente foi mantido para a tonelada ¾ e 1 ½ tonelada 6×6, com o primeiro modelo desta família sendo representado pela versão G-505 WC de  ½ tonelada. 
Durante o ano de 1940, a Dodge Motors Company produziria mais de seis mil caminhões leves com tração integral 4X4 do modelo Dodge WC de ½ tonelada, constantes em dois contratos celebrados com o governo norte-americano, sendo os modelos VF-401 para o VF-407 (ou motor- tecnologia tipo T-203 da Dodge G-621). Estes em suma eram variações de seus modelos predecessores experimentais pré-guerra, o RF-40 (-X) e o TF-40 (- X) (ou T-200 / T-201), ainda montado em um chassi da mesma distância entre eixos de 143 polegadas (3,63 metros). Estes novos veículos Dodge WC ½ tonelada substituíram no Exército dos Estados Unidos (US Army) os antigos caminhões Dodge VC-1 e VC-6 ½ tonelada, que também faziam parte da série original G505. Um total de oitenta e dois mil dos veículos de ½ tonelada com tração 4X4 seriam produzidos entre o final do ano de 1940 e o início de 1942, sob diversos contratos firmados com Departamento de Guerra (Departament of War) com sua produção sendo realizada não só pela Dodge Motors Company mas também pela Fargo Motor Car Company. Os modelos de WC 1 e WC-50 pertenciam a faixa de veículos de  ½ tonelada, sendo intercambiáveis em 80% em componentes de serviços dos modelos da linha de 3/4 toneladas posteriores. Em 1942, a carga útil seria atualizada, e os caminhões se tornariam o modelo G-502 mais curto, e o caminhão 3⁄4 toneladas, 4×4 (Dodge), e o mais longo de 1943, G-507, o caminhão de 1⁄2 toneladas 6x6 de pessoal e carga (Dodge), curiosamente retendo confusamente os códigos de modelo do Dodge WC. Embora as versões de 3⁄4 toneladas apresentassem melhorias significativas no design, elas mantiveram cerca de 80% de componentes intercambiáveis e peças de serviço com os modelos de 1⁄2 toneladas um requisito vital do Exército dos Estados Unidos (US Army) para a manutenção em campo e a operacionalidade dos caminhões perto da linha de frente. A família de veículos Dodge WC, atingiria a impressionante cifra de trinta e oito variantes, entre elas, transporte de tropas, carga, ambulância, carro comando, estação móvel de comunicações, canhoneiro com arma de 57 mm , oficina leve, reconhecimento, entre outros. Um ponto importante a citar era representando pelo índice de 80% de intercambialidade entre as peças de reposição de todas as versões e demais modelos produzidos por esta montadora, facilitando em muito a logística de suprimento e processos de manutenção nos diversos fronts de batalha durante a Segunda Guerra Mundial. A versatilidade desta família, motivaria o desenvolvimento de inúmeras versões especiais complementares com a cabine aberta com cobertura de lona.  

Em fins do ano de 1942 o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) viria a alterar a configuração padrão de um pelotão armado de infantaria, passando de oito para doze homens, aumentando assim além da capacidade de combate a possibilidade de sobrevivência no campo de combate. No entanto em termos de material esta nova disposição, traria problemas na capacidade de mobilidade das tropas norte-americanas, tendo em vista que doze soldados não podiam ser transportados nos modelos Dodge WC-51 e WC-52 Beep com tração integral de 4X4, que até então representavam o sustentáculo das tropas motorizadas. Para solucionar este problema, o Major General Courtney Hodges, um dos principais comandantes do exército, sugeriu a montadora o desenvolvimento de uma versão alongada dos modelos de utilitários em serviço até então, visando assim comportar a nova configuração do pelotão de infantaria. Com base neste pleito, em fevereiro de 1943, sua equipe de projetos iniciou o desenvolvimento de um novo utilitário de maior porte que fizesse uso de um sistema de tração integral 6X6. No objetivo de se buscar o aproveitamento do ferramental existente e consequente otimização do processo de produção, seria empregado como ponto de partida a plataforma e componentes do Dodge WC-51. Ao fazer uso de um chassi de maiores dimensões, seria necessário promover mudanças em componentes críticos como suspensão e transmissão, o peso extra resultando deste processo levaria a necessidade de incorporação de um motor mais potente sendo escolhido então o Dodge T-223 com 93 hp de potência. O veículo que emergiria deste conceito poderia ser classificado como um caminhão de infantaria com grande capacidade fora de estrada (off road), apresentando uma estabilidade incrível em terrenos acidentados, graças ao seu baixo centro de gravidade e banda de rodagem larga (que é a mesma, dianteira e traseira).  A tração nas seis rodas e a grande distância ao solo permitiam que o veículo superasse muitos perigos, seu bom ângulo de aproximação e saída o possibilitava subir e descer encostas íngremes sem enterrar o para-choque ou a estrutura traseira no solo. Sua distribuição de carga era feita de forma uniforme sobre os três eixos podendo operar sem maiores percalços em terrenos lamacentos ou praias. Ainda como ponto positivo, sua silhueta baixa o tornava de difícil visualização a distância, e seu consequente piso baixo da carroceria facilitava em muito os processos de carregamento e descarregamento de tropas ou carga. Os primeiros carros pré-série seriam completados até meados do mesmo sendo então submetidos a testes de aceitação pelo Quartel General do Comando do Exército dos Estados Unidos (US Army Quartermaster Corps), com estes sendo validados para emprego operacional em setembro. O modelo agora designado como Dodge WC-62  (G-507/ T-223 ) teria sua produção em série iniciada no mês de novembro, com os primeiros carros sendo entregues logo em seguida. A exemplo dos modelos anteriores da família de utilitários desta montadora, seria desenvolvida uma versão equipada com um sistema de guincho elétrico do modelo Braden MU2 com capacidade de tração de até 3.409 kg, com este veículo recebendo a denominação de WC-63. 

Após um breve período de adaptação e treinamento, estes dois modelos começaram a ser disponibilizados em grandes quantidades as forças armadas norte-americanos, passando a se faze presentes em todos os fronts de batalha ao longo do conflito. Inicialmente seu escopo de tarefas seria focado nas tarefas de transporte de tropas e cargas na linha de frente, porém em uso constante observou-se que o emprego da tração 6X6 melhoria significadamente não só na transposição de terrenos adversos, mas também em estradas normais, fazendo com que os Dodges WC-62 e WC-63 passassem a ser empregados no Exército dos Estados Unidos (US Army) em tarefas de reboque de artilharia leve antitanque, geralmente peças de 37 mm e 57 mm. Até o termino do conflito seriam produzidos cerva de quarenta e três veículos divididos entre as versões principais Dodge WC-62 e WC-63, tendo saído das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, na cidade de Detroit e da Chrysler Corporation. Estes veículos seriam inclusos também no portifólio do programa Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) sendo fornecidos a nações aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. Logo após o término da guerra uma grande parte da frota pertencente ao em operação na Europa seria abandonada, com muitos veículos sendo incorporados as forças armadas da Áustria, França e Bélgica. Em serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (US Army) os Dodges WC-62 e WC-63 voltariam a um cenário de conflagração real durante a Guerra da Coreia (1950 – 1953). A partir da segunda metade da década de 1950 estes veículos começaram a ser desativados das forças armadas norte-americanas, sendo substituídos por versões da família Dodge M-37. Este processo resultaria em um grande lote excedente de veículos que seriam repassados a nações alinhadas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos através de programas de ajuda militar, como Grécia, Irã, Nicarágua, Portugal e Suíça. 

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passaria a considerar com extrema preocupação uma possível ameaça de invasão no continente americano por parte das forças do Eixo (Alemanha – Itália – Japão). Quando a França capitulou em junho de 1940, o perigo nazista a América se tornaria claro se este país estabelecer bases operacionais nas ilhas Canárias, Dacar e outras colônias francesas. Neste contexto o Brasil seria o local mais provável de invasão ao continente pelas potencias do Eixo, principalmente devido a sua proximidade com o continente africano que neste momento também passava a figurar nos planos de expansão territorial do governo alemão. Além disso, as conquistas japonesas no sudeste asiático e no Pacífico Sul tornavam o Brasil o principal fornecedor de látex para os aliados, matéria prima para a produção de borracha, um item de extrema importância na indústria de guerra. Além destas possíveis ameaças, geograficamente o litoral do mais se mostrava estratégico para o estabelecimento de bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Assim a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego nos teatros de operações europeu e norte africano. Este cenário demandaria logo sem seguida a um movimento de maior aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em uma série de investimentos e acordo de colaboração. Entre estes estava a adesão do país ao programa de ajuda militar denominado como Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), que tinha como principal objetivo promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência tanto em termos de equipamentos, armamentos e principalmente doutrina operacional militar. Os termos garantidos por este acordo, viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de US$ 100 milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes recursos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças causadas pelas ações de submarinos alemãs a navegação civil e militar que se apresentavam no vasto litoral do país. A participação brasileira no esforço de guerra aliado seria ampliada em breve, pois Getúlio Vargas afirmou que o país não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados, e que “o dever de zelar pela vida dos brasileiros, levaria o governo  a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes simbólicos”.

A partir de fins do ano de 1941 começariam a ser recebidos no país primeiros os lotes de veículos militares destinados as forças armadas brasileiras constantes neste programa de ajuda militar, porém os primeiros veículos utilitários da família Dodge WC começariam a ser entregues somente no final do ano de 1942. Quase a totalidade destes veículos era representado por viaturas recém produzidas das linhas de montagem da Dodge’s Mound Road Truck, e Chrysler Corporation.  Fazendo parte deste lote inicial estavam os primeiros utilitários dos modelos Dodge WC-62 e WC-63  Big Shot que passariam a ser empregados nos regimentos de infantaria dispostos na cidade do Rio de Janeiro. A introdução em serviço no Exército Brasileiro destes novos utilitários com tração integral 4X4 contribuiriam fundamentalmente para elevar a doutrina operacional da força terrestre a outro patamar, não só por prover a imediata substituição de uma gama de veículos leves civis que eram inadequadamente militarizados, e que estavam em uso até então pelas unidades do Exército Brasileiro. Os modernos Dodge WC-51, WC-52, WC-62 e WC-63, substituiriam também uma pequena frota de modelos desta mesma categoria, como os antigos modelos Vidal & Sohn Tempo-Werk Tempo G1200 de procedência alemã que foram recebidos durante o ano de 1938, porém em número insuficiente para se dotar sequer uma unidade mecanizada. Neste primeiro estágio seriam recebidos algo na ordem de trezentos utilitários norte-americanos desta família de veículos, o que permitiria enfim o Exército Brasileiro a iniciar um longo processo de transição, partindo de um modal de força terrestre hipomóvel para uma moderna força mecanizada. Como esperado, o país tomaria parte em um esforço maior junto aos aliados, com está intensão sendo concretizada no dia 09 de agosto de 1943, quando através da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não divisionários. Esta força seria comandada por um general-de-divisão, Joao Batista Mascarenhas de Morais. Esta força seria composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 mm e um de calibre 155 mm); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à observação (pertencente a Força Aérea Brasileira); um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na verdade, de comunicações). A tropa além de seu próprio comando, deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e uma banda de música. 

O contingente estimado a ser enviado, seria da ordem de vinte e cinco mil soldados e dentro do conceito operacional do Exército dos Estados Unidos (US Army), a Força Expedicionária Brasileira, deveria apresentar alta capacidade de mobilidade, devendo assim ser dotada de muitos veículos de transporte de pessoal de todos os modelos, sendo os mesmos em uso nas forças aliadas naquele momento. As tropas brasileiras desembarcariam na Itália em agosto de 1944, e após um breve período de treinamento passariam a integrar os efetivos do V Corpo do Exército dos Estados Unidos sob o comando do general Mark Clark. Nesta etapa a Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia todo o seu armamento e veículos, sendo estes retirados do estoque estratégico de recomplemementação norte-americano baseado na cidade italiana de Tarquinia. No que tange a parte de viaturas, seriam disponibilizadas cento e trinta e sete unidades dispostas entre os modelos Dodge WC-62 e WC-63. O batismo de fogo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocorreria no dia 15 de setembro de 1944, quando os pracinhas brasileiros entraram em açao contra o Exército Alemão (Wermatch), empregando em seu deslocamento estes utilitários com tração integral 6X6, sendo empregados no transporte de tropas e carga. Esporadicamente estes veículos eram solicitados pelo Pelotão de Sepultamento (PS), unidade está especialmente designada para recolher, identificar e sepultar os mortos de suas forças armadas, bem como encaminhar aos familiares seus objetos e pertences, operando nestas ocasiões em conjunto com os Dodge WC-51. Seguindo o exemplo aplicado no Exército dos Estados Unidos (US Army), os Dodges WC-62 passaram a ser empregados para a tracionarem peças de artilharia leves e médias, entre elas o canhão anticarro M1 de 57 mm. Durante grande parte da campanha estes veículos  pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB) operariam sob as mais difíceis condições de terreno e climáticas, tendo destaque nas ações em Montese, Castelnuovo di Vergato, Monte Castello, Camaiore, Monte Prano, Zochia, Colechio e Fornovo.  Comprovando assim suas qualidades de adaptação junto ao campo de batalha europeu, onde qualquer manutenção ou reparo deveria ser efetuada imediatamente sem o menor suporte técnico adequado de instalações ou de ferramental.  No dia 2 de maio de 1945, ao cessarem as hostilidades na Itália com a capitulação do último corpo de Exército germânico, a divisão brasileira ocupava a cidade de Alessandria desde 30 de abril, e estabelecia ligação com o Exército francês em Susa, próximo à fronteira Franco Italiana.  

Neste mesmo mês, os utilitários remanescentes dos modelos Dodge WC-62 e WC-63 bem como os demais veículos, armas e equipamentos pertencentes ao Exército Brasileiro seriam encaminhados ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta organização os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.  Estes chegariam ao território nacional ainda a tempo de participarem do desfile da Vitória na Avenida Presidente Vargas, na cidade do Rio de Janeiro no dia 18 de julho de 1945, perfilando ao público as glorias da Força Expedicionária Brasileira (FEB).  Em serviço ativo nos pós-guerra os modelos Dodge WC-62 e WC-63  Big Shot, foram incorporados as unidades de infantaria motorizada e   também as companhias de canhões anti carro (para tracionarem os canhões M-1 de 57mm).  Estes utilitários da Dodge teriam grande papel no processo de modernização e transformação da Força Terrestre Brasileira nas duas décadas seguintes. Porém em fins da década de 1950 o status operacional da frota começaria a despertar a preocupação por parte do comando do Exército Brasileiro, tendo em vista a baixa taxa de disponibilidade destes veículos. Este cenário era causado principalmente por problemas no processo de aquisição de peças de reposição, mais notadamente referente ao motor a gasolina Dodge T-214 de seis cilindros com válvulas laterais e refrigerado a água, conjunto deste que teve sua produção descontinuada no final do ano de 1947 nos Estados Unidos. Fazia-se necessário então, buscar uma solução emergencial, com sendo desenvolvida através de negociações junto ao Departamento de Estado do governo dos Estados Unidos, visando dentro do escopo do Programa de Assistência Militar (Military Assistance  Program – MAP), visando a aquisição de um considerável lote de utilitários mais modernos da família Dodge M-37 e M-43. Estes entendimentos resultariam na aquisição e mais de trezentos utilitários usados destes modelos, que passariam a ser recebidos no Brasil a partir do ano de 1966. 

Paralelamente, seriam conduzidos estudos pela equipe técnica do Parque Regional de Motomecanização da 2º Região Militar (PqRMM/2) em São Paulo, visando a troca dos motores originais a gasolina Dodge T-214, por modelos a diesel de fabricação nacional, a exemplo dos programas em curso como os planos de remotorização dos caminhões GMC CCKW, Studebaker US6 e veículos meia lagarta White Motors M-3, M-3A1 e M-5 Half Track. Infelizmente este programa não passaria de sua fase inicial de protótipo, sendo adotado como solução paliativa, a retifica dos motores originais a gasolina de uma grande parte da frota original dos modelos Dodge WC-51 e WC-52 e  alguns poucos WC-62 e WC-63, com este processo sendo realizado pela empresa paulista Motopeças S/A. Apesar desta “sobrevida” as viaturas remanescentes começariam em fins da década de 1978 a serem gradualmente substituídos por caminhões militarizados de produção nacional, com este processo se estendendo até fins da década de 1980. Muitos destes utilitários acabariam sendo então leiloados para entusiastas ou vendidos como sucata, encerrando sua carreira no Exército Brasileiro.

Em Escala.
Para representarmos o Dodge WC-63 "FEB 330", pertencente ao 11º Regimento de Infantaria da Companhia Anti Carros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) empregamos o excelente kit da AFV Club, na escala 1/35. Modelo este que prima pelo nível de detalhamento e possibilita também a montagem da versão WC-62 (sem o guincho elétrico frontal). Incluímos em resina, artefatos que simulam a carga em formato de caixas e lonas de campanha. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes como complemento do livro "FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura tático aplicado a todos os veículos em serviço no Exército dos Estados Unidos (US Army) durante a Segunda Guerra Mundial, padrão este com os veículos foram cedidos ao Exército Brasileiro na Itália, recebendo neste momento apenas as marcações nacionais. Este esquema seria mantido durante o tempo de serviço dos Dodges WC-62 e WC-63,alterando-se apenas o padrão de matrícula, seguindo este esquema até sua desativação.



Bibliografia :

- FEB na Segunda Guerra Mundial, por Luciano Barbosa Monteiro
- Dodges WC Series - http://en.wikipedia.org/wiki/Dodge_WC_series#WC51
- Standard Catalog of U.S. Military Vehicles, 1942
- Dodge 6X6 WC-63 da  FEB, por Expedito Stephani Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/Dodge.pdf