FT-17 Renault M1917 (CCL)

História e Desenvolvimento.
Em 15 de setembro de 1916, a história militar mundial testemunharia um marco sem precedentes: o emprego do primeiro carro de combate em uma frente de batalha, no norte da França. A estreia coube ao tanque britânico Mark I, conduzido pelo Capitão H. W. Mortimore, da Marinha Real Britânica, durante a sangrenta Batalha do Somme, nas imediações de Delville Wood. Naquele cenário devastado pela guerra de trincheiras, alemães e aliados se enfrentavam há semanas em uma linha de frente que se estendia por mais de quarenta quilômetros, caracterizada por enormes perdas humanas e mínimas conquistas territoriais. Na manhã daquele dia histórico, os soldados alemães aguardavam mais um ataque convencional da infantaria britânica, semelhante aos que vinham repelindo com metralhadoras e artilharia. Entretanto, ao longe, surgiram figuras metálicas movendo-se lentamente pelo campo lamacento — muitos acreditaram, a princípio, tratar-se de tratores agrícolas. Em pouco tempo, contudo, compreendeu-se que se tratava de algo inédito: “monstros de aço” que avançavam impassíveis sobre crateras, trincheiras e cercas de arame farpado, superando obstáculos que até então ceifavam milhares de vidas. O impacto psicológico foi imediato. As tropas alemãs, surpresas e desorganizadas, assistiram aos primeiros “tanques de guerra” rompendo suas defesas e alterando o paradigma do combate terrestre. Apesar de revolucionários, os primeiros blindados apresentavam severas limitações técnicas — deslocavam-se a pouco mais de seis quilômetros por hora, eram extremamente pesados e difíceis de manobrar, e sofriam constantes falhas mecânicas. Dos 49 tanques Mark I empregados naquela ofensiva inicial, apenas uma fração conseguiu retornar às linhas de origem. Muitos foram abandonados devido a pane no motor, rompimento das esteiras ou atolamento nos terrenos encharcados, enquanto nove foram destruídos pela artilharia alemã durante os combates. O sucesso simbólico, porém, já estava garantido. A introdução do carro de combate demonstrou que a tecnologia poderia romper o impasse das trincheiras e modificar profundamente a natureza da guerra. Inspirada por esse avanço, a França rapidamente iniciou seu próprio programa de desenvolvimento de tanques, sob a liderança visionária do coronel Jean-Baptiste Eugène Estienne, frequentemente lembrado como o “pai da arma blindada francesa”. Em julho de 1915, Estienne reuniu-se com Louis Renault, buscando que a renomada fabricante projetasse um modelo leve de lagartas inspirado no trator Holt americano. A proposta, entretanto, foi inicialmente recusada: a Renault alegava estar sobrecarregada na produção bélica e carecia de experiência técnica em veículos deste tipo. Determinado a levar adiante o conceito, Estienne apresentou o projeto à empresa Schneider, que aceitou o desafio. O resultado foi o Schneider CA, o primeiro carro de combate operacional francês moderno, introduzido em 16 de abril de 1917 na frente ocidental, consolidando o papel da França como pioneira no desenvolvimento e emprego tático de blindados no campo de batalha.

Embora Louis Renault tenha inicialmente recusado a proposta de projetar um carro de combate, a ideia não lhe saiu da mente. Movido por sua curiosidade técnica e visão industrial, ele passou a estudar, por conta própria, as possibilidades de conceber um tanque leve, que fosse simples de fabricar, confiável e eficiente no campo de batalha. Ao analisar o contexto tecnológico da época, Renault identificou uma limitação crucial: os motores disponíveis ainda não ofereciam a relação potência-peso necessária para permitir que veículos blindados atravessassem, com segurança, trincheiras, crateras de artilharia e outros obstáculos típicos da guerra de posições. Ciente disso, impôs a si mesmo uma restrição — o veículo não deveria ultrapassar sete toneladas, garantindo assim a mobilidade essencial a seu propósito. Em julho de 1916, o coronel Jean-Baptiste Eugène Estienne, já convencido de que tanques menores e mais ágeis poderiam atuar de forma mais eficaz que os pesados e lentos modelos então em uso, voltou a se reunir com Renault. Ambos compartilhavam agora a mesma convicção: o futuro do combate blindado passaria por veículos leves, rápidos e de fácil produção em série. O apoio de Estienne foi decisivo, mas Renault ainda enfrentaria resistência política e institucional. O ministro das Munições, Albert Thomas, e o Alto Comando francês mostravam-se céticos quanto à utilidade de um tanque tão pequeno. Após semanas de insistência e intensas negociações, Renault obteve autorização e recursos para construir um protótipo experimental. Trabalhando ao lado de seu engenheiro-chefe, o talentoso Rodolphe Ernst-Metzmaier, Renault transformou suas ideias em realidade. Para atender às exigências de desempenho, desenvolveu-se um novo motor Renault de 4 cilindros e 4,5 litros, refrigerado a água, capaz de produzir 32 hp. O propulsor foi projetado para operar sob inclinações extremas, mantendo a potência mesmo em terrenos acidentados  uma inovação essencial para o sucesso do projeto. Outro avanço notável foi o sistema de ventilação interna, concebido para proteger a tripulação do calor e dos gases do motor. Um ventilador instalado junto ao radiador aspirava o ar pela dianteira do veículo e o expelia pela traseira, garantindo uma circulação constante dentro do compartimento. O resultado foi um design revolucionário que estabeleceu as bases para todos os carros de combate posteriores. Pela primeira vez, um tanque incorporava uma torre totalmente giratória, elemento que se tornaria padrão em blindados modernos. Essa inovação permitiu que o pequeno veículo utilizasse uma única arma com liberdade total de rotação, dispensando as múltiplas metralhadoras fixas dos tanques anteriores, que possuíam campos de tiro muito limitados. O novo tanque, que mais tarde seria conhecido como Renault FT, podia ser armado com um canhão Puteaux SA 18 de 37 mm ou, alternativamente, com uma metralhadora Hotchkiss de 7,92 mm. 
Compacto, versátil e engenhosamente projetado, o FT representava uma verdadeira revolução na engenharia militar, marcando a transição do improviso da Primeira Guerra Mundial para o conceito moderno de carro de combate — um veículo com mobilidade, proteção e poder de fogo integrados em perfeita harmonia. Este projeto também estabeleceria um marco conceitual na história da engenharia militar, ao definir a disposição estrutural que se tornaria padrão em praticamente todos os carros de combate modernos: o motor instalado na parte traseira e o posto do motorista localizado na seção frontal do veículo. A combinação dessas inovações, somada à adoção de uma torre totalmente giratória, tornava o novo tanque uma ruptura completa com os modelos franceses anteriores, como o Schneider CA1 e o Saint-Chamond, que mais se assemelhavam a tratores pesadamente blindados do que a veículos de combate verdadeiramente funcionais. Os ensaios de campo do protótipo tiveram início em abril de 1917, revelando resultados promissores e conduzindo a um processo de aperfeiçoamento contínuo ao longo da segunda metade daquele ano. O modelo final recebeu a designação oficial de Renault FT-17, consolidando o nome que ficaria registrado na história como o primeiro carro de combate moderno. Apesar das qualidades notáveis evidenciadas durante as avaliações, o projeto enfrentou resistências iniciais dentro do Alto Comando francês. Muitos oficiais ainda defendiam a doutrina tradicional de que tanques pesados e fortemente blindados — como os Schneider e Saint-Chamond — seriam mais eficazes do que veículos leves produzidos em maior número. A mudança de mentalidade exigiu persistência e influência política, papel que seria novamente desempenhado com maestria pelo coronel Jean-Baptiste Eugène Estienne, considerado o “pai dos blindados franceses”. Convencido da importância estratégica do Renault FT-17, Estienne enviou um memorando pessoal ao comando francês, defendendo com veemência a adoção imediata e a produção em massa do novo modelo. O apelo de Estienne surtiu efeito. Um primeiro contrato de produção foi firmado ainda em 1917, e até o final daquele ano oitenta unidades já haviam sido entregues ao Exército Francês (Armée de Terre). A partir de 1918, com a intensificação dos combates e a necessidade de maior mobilidade no campo de batalha, a produção foi significativamente ampliada, e o FT-17 começou a equipar diversas unidades de linha de frente, especialmente na Frente Ocidental. O batismo de fogo do Renault FT-17 ocorreu em 31 de maio de 1918, nas imediações da Floresta de Retz, entre Ploisy e Chazelles, durante a Segunda Batalha do Marne. Ali, atuando sob o comando do 10º Exército francês, o pequeno blindado teve papel decisivo na contenção da ofensiva alemã rumo a Paris, marcando sua estreia triunfante no campo de batalha.

A partir dessa experiência, o Renault FT-17 passou a ser empregado em conjunto com os tanques mais pesados, como o Schneider CA1 e o Saint-Chamond, estabelecendo as bases da motomecanização do combate. Em meio à crescente mobilidade da guerra, o FT-17 demonstrou sua versatilidade e capacidade de adaptação, sendo frequentemente transportado por caminhões pesados ou reboques especiais, o que lhe conferia maior rapidez e segurança em deslocamentos. Essa prática se tornaria comum, sobretudo durante a Ofensiva dos Cem Dias (agosto a novembro de 1918), quando o modelo desempenhou um papel fundamental nas operações finais que conduziriam ao fim da Primeira Guerra Mundial. Quando os Estados Unidos ingressaram na Primeira Guerra Mundial, em abril de 1917, o país se deparou com uma realidade preocupante: o seu Exército não possuía carros de combate. Enquanto as potências europeias já haviam desenvolvido e testado diversos modelos, os norte-americanos ainda não dispunham de experiência prática nesse campo. Diante dessa lacuna tecnológica e operacional, decidiu-se que a forma mais rápida e eficiente de equipar as forças terrestres seria mediante a produção sob licença de um modelo estrangeiro já comprovadamente eficaz. A escolha natural recaiu sobre o Renault FT-17, cuja concepção inovadora havia transformado a guerra mecanizada. Assim, foi iniciado o desenvolvimento de uma versão norte-americana do tanque, que receberia a designação oficial de M1917. O plano original previa a produção em larga escala, ultrapassando a marca de quatro mil unidades, em um regime de urgência destinado a atender o recém-criado corpo blindado do Exército dos Estados Unidos (US Army). Entretanto, o programa enfrentou sérios obstáculos industriais. As fábricas norte-americanas, já sobrecarregadas pelo esforço de guerra e dedicadas à produção de armamentos, munições e veículos logísticos, não dispunham de capacidade ociosa suficiente para iniciar uma nova linha de montagem de blindados. Essa limitação levaria ao adiamento e, posteriormente, à suspensão temporária do programa M1917. Com o objetivo de suprir essa carência imediata, o governo francês cedeu aos Estados Unidos, em regime de comodato, um total de 144 tanques Renault FT-17. Essa frota permitiria a organização completa de dois batalhões blindados, possibilitando o treinamento e a formação das primeiras unidades norte-americanas de carros de combate. Contudo, nenhum desses veículos seria empregado em combate real pelas forças da American Expeditionary Force (AEF) antes do término do conflito em novembro de 1918. Enquanto isso, os Aliados planejam uma massiva expansão de suas forças blindadas. A França, em especial, tinha a ambiciosa meta de produzir mais de 12 mil tanques FT-17 (incluindo as versões M1917 norte-americanas) até o final de 1919. Contudo, o fim da guerra com o Armistício de 11 de novembro de 1918 interromperia esses planos, deixando a meta inatingida.



Ainda assim, o Renault FT-17 desempenhou um papel decisivo e duradouro nas operações finais da guerra. Amplamente empregado nas frentes ocidentais, participou de mais de quatro mil combates, com 746 unidades perdidas em ação. Até o Armistício, o Exército Francês (Armée de Terre) havia recebido 2.697 exemplares do modelo, cerca de metade deles produzidos diretamente nas instalações da Renault em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris. O restante foi subcontratado a outras empresas, o que permitiu à França atingir um ritmo de produção sem precedentes para a época. No período pós-guerra, os contratos remanescentes foram reorganizados, impulsionados pelos resultados extraordinários obtidos em combate. Assim, a produção total alcançaria 7.280 unidades, divididas entre os fabricantes Renault (52%), Somua-Schneider & Cie (23%), Berliet (23%) e Delaunay-Belleville (8%). Em um gesto notável de patriotismo e cooperação industrial, Louis Renault renunciou aos royalties de patente, permitindo que todos os fabricantes franceses pudessem produzir livremente o tanque.A partir de meados de 1919 uma grande quantidade seria exportada, passando a equipar as forças armadas Bélgica, Brasil, Checoslováquia, Estônia, Finlândia, Irã, Japão, Lituânia, Holanda, Polônia, Romênia, Espanha, Suíça, Turquia, Uniao Soviética e Iugoslávia. E durante os anos seguintes se manteria como o esteio da força blindada do Exército dos Estados Unidos (US Army). Os Renault FT-17 veriam açao real ainda em muitas ocasiões como Guerra Civil Russa, a Guerra Polaco-Soviética, a Guerra Civil Chinesa, a Guerra Rif, a Guerra Civil Espanhola e a Guerra da Independência da Estónia. Sua longevidade seria notória, com milhares de modelos permanecendo em serviço ativo nas unidades de primeira linha em diversos países até o final da década de 1930. No início do ano de 1940, o exército francês ainda dispunha de oito batalhões, cada um equipado com sessenta e três Renaut FT-17, além de três divisões independentes, cada uma com dez blindados, com uma força orgânica totalizando quinhentos e trinta e quatro veículos, todos equipados com metralhadoras. Além destes havia ainda uma grande quantidade mantida como reserva técnica. Os efeitos da devastadora campanha Blitzkrieg reduziria rapidamente a frota de modernos carros de combate franceses, levando a reativação os Renault FT-17 que se encontravam na reserva, porém pouco podiam fazer para deter o avanço alemão. Com a queda da França, o Exército Alemão capturaria mil e setecentos Reunault FT-17, com uma grande parte destes sendo redistribuídos em toda a Europa ocupada, para serem empregados na defesa de bases aéreas e campos de prisioneiros da Força Aérea Alemã (Luftwaffe). Pelo menos quinhentos destes seriam empregados pelas forças armadas francesas de Vichy dispostas no norte da África. Estes seriam empregados contra as forças norte-americanas e britânicas durante os desembarques decorrente da Operação Tocha no Marrocos e na Argélia no final do ano de 1942. No entanto não seriam páreo para os carros de combate M-3 Lee, M-3 Stuart e M-4 Sherman, sendo facilmente destruídos.

Emprego no Exército Brasileiro
Durante a primeira metade de século XX, os sistemas militares alemães, franceses e norte-americanos influíram no Exército Brasileiro. Cada qual teve o seu período: os alemães antes da Primeira Guerra Mundial, os franceses nos anos entre os dois grandes conflitos mundiais e os norte-americanos durante e após a Segunda Guerra. O fascínio pela modernização (às vezes confundido com europeização) levou o Exército Brasileiro a buscar assistência externa. Após a administração de João Nepomuceno de Medeiros Mallet (Ministro da Guerra entre 1898 e 1902), quando foram equacionados os aspectos essenciais à vitalidade da nossa força terrestre, completou-se uma etapa de transformações de base com a lei de 4 de agosto de 1908. Foi quando se criou, entre outras coisas, o alistamento e o serviço militar obrigatórios e ainda, a organização militar regional, calcada na existência de grandes unidades permanentes, dando aos oficiais gerais a oportunidade de exercerem o comando e a administração. Em paralelo, armamentos e equipamentos foram sendo adquiridos, renascendo o entusiasmo entre os oficiais, estimulando os estudos e debates em torno desses meios e de novas ideias. As potências europeias e, mais tarde, os norte-americanos, passaram a ver as missões militares de instrução como parte de sua política externa, pois incentivavam a aquisição de equipamentos e armas semelhantes às usadas pelos instrutores, o que aumentava o seu comércio exterior e atraía as nações atendidas para as suas esferas de influência, o que prevalece até hoje. Entretanto, os brasileiros foram mais bem sucedidos que os chilenos, turcos, tchecos ou poloneses, à medida que conseguiram preservar a sua integridade de comando. Enquanto esses quatro exércitos, em determinadas épocas, estiveram sob as ordens de alemães e franceses, os brasileiros mantiveram suas forças sob controle próprio e limitaram a ação dos oficiais estrangeiros às funções de instrutores e assessores. Durante a Primeira Guerra Mundial, o Ministério da Guerra do Brasil incluiu em seu programa de intercâmbio militar o envio do 1.º Tenente de Cavalaria José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque à França, com o objetivo de capacitar oficiais brasileiros nas novas especialidades de motorização e mecanização. Na Escola de Carros de Combate de Versalhes, o tenente aprofundou conhecimentos técnicos e doutrinários que, ao cabo da experiência, seriam decisivos para a futura organização blindada do Exército Brasileiro. Em abril de 1919, no âmbito desse mesmo programa, José Pessoa foi designado observador no 503.º Regimento de Artilharia de Carros-de-Assalto, oportunidade em que teve contato direto com a rotina operacional e os procedimentos de emprego dos carros de combate Renault FT-17. A vivência em linha e a observação das táticas ali empregadas providenciaram-lhe um repertório prático raro naqueles anos, combinação de técnica e reflexão que marcaria toda a sua trajetória subsequente. 

Ao retornar ao Brasil, a experiência do tenente exerceu influência significativa sobre o Alto Comando do Exército, contribuindo para a decisão política e técnica de adquirir blindados para a Força Terrestre. Embora a escolha oficial tenha recaído sobre o Renault FT-17 — em parte motivada pela aproximação técnico-militar com a França — o próprio José Pessoa manifestou reservas quanto à total adequação daquele modelo às condições e necessidades brasileiras. Ainda assim, seu empenho intelectual e institucional foi notório: em 1921, publicou no Rio de Janeiro o estudo Os “Tanks” na Guerra Europeia, tratado pioneiro em língua portuguesa que analisava o desenvolvimento e o emprego dos veículos blindados no teatro europeu.  A contribuição de José Pessoa à modernização do Exército brasileiro não se limitou à doutrina. Foi um dos idealizadores da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ), e fundador do Centro de Instrução de Artilharia de Costa, unidade que viria a ser elevada à categoria de escola em 1942, reforçando seu legado na formação e institucionalização do ensino militar técnico no país. A negociação para aquisição dos blindados precedeu a chegada dos técnicos da Missão Militar Francesa, contratada para a modernização das Forças Armadas brasileiras. Em conformidade com o cronograma contratual, em abril de 1920 desembarcaram no porto do Rio de Janeiro doze veículos Renault FT-17, frescos das linhas de montagem da Delaunay-Belleville. A composição desse lote refletia a diversidade de necessidades operacionais: seis unidades foram entregues com a torre fundida Berliet, armadas com o canhão Puteaux de 37 mm; cinco apresentavam a torre octogonal rebitada Renault, equipada com metralhadoras Hotchkiss de 7 mm; e uma unidade foi destinada à Telegrafia sem Fio (TSF), desprovida de torre giratória e preparada como veículo-estação de comunicações para emprego conjunto com as forças de ataque. Para que os novos veículos blindados de combate Renault FT-17 pudessem ser operados de maneira eficiente e sistemática, o Exército Brasileiro instituiu, por meio do Decreto nº 15.235, de 31 de dezembro de 1921, a Companhia de Carros de Assalto, sediada na Vila Militar, no então Distrito Federal (Rio de Janeiro). Com essa iniciativa, o Brasil tornou-se pioneiro na introdução da arma blindada na América do Sul, ainda que a unidade já viesse operando informalmente antes de sua oficialização. Apesar de seu caráter inovador, a nova companhia enfrentava sérias limitações estruturais e operacionais. Conforme relatado no Boletim nº 55, de 7 de dezembro de 1921, o seu comandante, Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, comunicou diretamente ao Ministro da Guerra que o efetivo disponível era de apenas sete oficiais e cento e vinte e três praças, sendo que metade destes estava prestes a ser licenciada. 
Tal condição comprometia significativamente a capacidade de instrução, manutenção e, sobretudo, a operacionalidade bélica da unidade recém-criada. Um aspecto digno de nota é o longo intervalo entre a aquisição dos blindados e o início efetivo de suas atividades. Os Renault FT-17 haviam sido entregues ao chefe da Missão Militar Brasileira em Paris, em maio de 1919, e chegaram ao Brasil no início do ano seguinte. Contudo, permaneceram armazenados no 1º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro, até 28 de setembro de 1921, quando foram finalmente disponibilizados ao Capitão José Pessoa. Poucos dias depois, em 1º de outubro, o Boletim nº 223 oficializou o início da organização da Companhia de Carros de Assalto, marco institucional que simbolizava o ingresso definitivo do Exército Brasileiro na era da mecanização militar. Entretanto, a introdução dos blindados encontrou resistência entre oficiais mais antigos, habituados a uma doutrina fortemente calcada em tradições da cavalaria e da infantaria convencional. Essa reticência doutrinária dificultou a assimilação do novo conceito de guerra mecanizada, gerando deficiências estruturais e culturais que se perpetuariam por anos. Tal quadro explicaria, em parte, o limitado emprego da Companhia de Carros de Assalto durante as crises políticas e militares das décadas de 1920 e 1930, período marcado por levantes e revoluções internas que, em tese, poderiam ter se beneficiado do uso mais efetivo desses meios. O primeiro exercício prático com carros de combate no pais ocorreu em 3 de novembro de 1921, na colina Boscosa, na Vila Militar, em operação conjunta com a Aviação Militar do Exército. A manobra, realizada no então Distrito Federal, marcou simbolicamente o nascimento da era blindada no Brasil, representando não apenas um avanço tecnológico, mas também o início de uma nova concepção de mobilidade e poder de fogo no campo de batalha nacional. Em 3 de novembro de 1921, seria realizado o primeiro exercício de carros-de-combate, operando em conjunto com Aviação Militar no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, na colina Boscosa, na Vila Militar. Sua primeira aparição pública se daria em 25 de agosto de 1922, quando toda a Companhia se apresentou no Campo de São Cristóvão, Rio de Janeiro, ocasião em que recebeu o Pavilhão Nacional e foi aberta à visitação pública, gerando grande interesse por parte da população em conhecer a novidade chamada de “carros de combate”. Em registros fotográficos de época, observa-se sempre no máximo seis carros operacionais, nunca mais do que isso o que pode denotar uma frequente baixa disponibilidade. Sobre o modelo de Telegrafia Sem Fio (TSF), tudo indica que nunca foi totalmente operacional, tendo sido retirado do serviço ativo em 1925 e armazenado pelo menos até o ano de 1932. Seu primeiro emprego operacional efetivo ocorreria durante os eventos da Revolução de 1924, quando a Companhia de Carros de Assalto foi designada para ocupar a cidade de São Paulo, logo após a retirada das forças rebeldes. Essa operação marcou a estreia prática do uso de blindados pelo Exército Brasileiro em território nacional, ainda que em um contexto limitado e de caráter essencialmente simbólico. O episódio representou, contudo, um marco histórico, demonstrando o potencial dos carros de combate Renault FT-17 como instrumentos de apoio tático em missões de restabelecimento da ordem interna, num período de intensas transformações políticas e militares no país.

Em 18 de maio de 1925, o aviso nª 254, mudou a designação para Companhia de Carros-de-Combate, porém ainda o emprego dos Renault FT-17 ainda não havia conseguido motivar a oficialidade da Força Terrestre, com os carros de combate sendo negligenciados não só na operação, mas também nos processos de manutenção. Assim em 21 de janeiro de 1932, o Decreto nª 20.986, de 21 de janeiro de 1932, extinguiria oficialmente a Companhia de Carros-de-Combate; com seus veiculos em precário estado de conservação sendo transferidos para o Batalhão Escola de Infantaria. Meses mais tarde, estes seriam recolocados em operação para serem empregados em virtude da eclosão da Revolução Constitucionalista levada a cabo por São Paulo em 9 de julho. Vale ressaltar que alguns foram recuperados na Oficina Ferroviária de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde também modelo de Telegrafia sem Fio (TSF) seria incluso neste processo, porém estranhamente não seria reincorporado ao serviço ativo. Estes veículos, provavelmente meia dúzia deles, foram empregados separadamente ou em duplas, em alguns setores onde ocorreram combates entre tropas rebeldes e legalistas, sendo usados para manter pontes, atacar ninhos de metralhadoras e em locais montanhosos, como a divisa de Minas Gerais com São Paulo. Estes cenários de emprego, no entanto não eram apropriados para seu uso e desta forma não foram decisivos como instrumento para definir a superioridade e até mesmo garantir a vitória das forças legalistas naquele conflito.  Em 1935, por meio do Aviso nº 248, de 22 de abril, foi criada a Seção de Carros de Combate no Batalhão de Guardas, a qual passou a empregar os veículos blindados remanescentes do Batalhão Escola de Infantaria. Na mesma ocasião, instituiu-se também a Seção de Motomecanização no Estado-Maior do Exército, sob influência direta do chefe da Missão Militar Francesa, General Paul Noël, cuja atuação foi determinante para o avanço da modernização do Exército Brasileiro naquele período. De modo geral, a criação da Companhia de Carros de Assalto, idealizada pelo Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, representou um esforço pioneiro e visionário no campo da mecanização do Exército. Contudo, tal iniciativa acabou por ser negligenciada, vítima da resistência da antiga oficialidade, ainda presa a concepções tradicionais de guerra e pouco receptiva à introdução de novas tecnologias e doutrinas operacionais. Essa falta de continuidade retardou o amadurecimento da doutrina blindada nacional, evidenciando a necessidade de uma mudança de mentalidade dentro da Força Terrestre. Esse quadro começaria a se modificar alguns anos depois, em 1938, quando o General Waldomiro Castilho de Lima, após observar de perto o emprego de forças mecanizadas italianas na campanha da Abissínia, trouxe novamente o tema da motomecanização à pauta do Ministério da Guerra. A partir dessas observações, decidiu-se pela substituição dos já obsoletos Renault FT-17, que datavam da Primeira Guerra Mundial, por modernos carros de combate Fiat-Ansaldo CV-3/35 II, então considerados avançados e de comprovada eficácia nas operações em terrenos montanhosos da Guerra Civil Espanhola e nas regiões áridas da Etiópia. 
Assim, as ideias originais de José Pessoa encontrariam nova vida pelas mãos do Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves, um dos principais entusiastas da modernização da Força Terrestre. Seus esforços culminaram na consolidação da Arma Blindada no Brasil. Em 25 de maio de 1938, por meio do Aviso nº 400, foi criado o Esquadrão de Autometralhadoras do Centro de Instrução de Motorização e Mecanização, no Rio de Janeiro. Essa nova unidade incorporava não apenas os veículos recém-adquiridos na Itália, mas também o pessoal e os equipamentos anteriormente pertencentes à Seção de Carros de Combate do Batalhão de Guardas, marcando o renascimento efetivo das forças blindadas brasileiras e o início de uma nova era na história militar nacional. A introdução dos novos carros de combate italianos Fiat-Ansaldo CV-3/35 II não representaria, de imediato, a completa desativação dos veteranos Renault FT-17 no Exército Brasileiro. Os últimos cinco exemplares desse modelo seriam incorporados à Seção de Carros de Combate do Batalhão de Guardas, unidade que, à época, passaria a concentrar a operação dos blindados remanescentes. Apesar disso, tais veículos continuariam enfrentando sérias limitações operacionais, em grande parte decorrentes da escassez de peças de reposição e da manutenção inadequada, fatores que comprometiam sua disponibilidade e eficiência em instruções e exercícios militares. Em 1941, o estreitamento das relações diplomáticas e militares entre o Brasil e os Estados Unidos proporcionaria um salto qualitativo no processo de modernização das Forças Armadas. A adesão ao programa Lend & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos) abriria caminho para o reequipamento de diversas unidades com material moderno de fabricação norte-americana. Antes mesmo da formalização desse acordo, o Exército já havia recebido, em agosto de 1941, os primeiros dez carros de combate leves M3 Stuart, que representavam um avanço significativo em termos de mobilidade, potência de fogo e confiabilidade mecânica. Pouco tempo depois, o Decreto-Lei Reservado nº 4.130, de 26 de fevereiro de 1942, transformaria o Pelotão de Carros de Combate do Centro de Instrução de Motorização e Mecanização na Companhia Escola de Carros de Combate, consolidando o processo de renovação da força blindada nacional. Nesse contexto, ocorreria a desativação definitiva dos últimos Renault FT-17 operacionais, os quais seriam substituídos pelos modernos M-3 e M-3A1 Stuart, encerrando assim um importante ciclo histórico da mecanização militar brasileira.Os blindados remanescentes seriam posteriormente armazenados e preservados como patrimônio histórico do Exército.  Décadas mais tarde, em 2011, uma iniciativa conjunta entre o Centro de Instrução de Blindados (CIBld) e o Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar, sediado em Santa Maria (RS), resultaria na restauração completa de um desses exemplares, que foi devolvido à condição operacional.

Em Escala.
Para representarmos o carro de combate leve Renault FT-17, fizemos uso do excelente kit da Meng  na escala 1/35, modelo este que prima pelo detalhamento, apresentando set em photo etched para refinamento. Não há necessidade de se promover nenhuma alteração para se representar a versão empregada pelo Exército Brasileiro, podendo se optar pela versão armada com canhão Puteaux de 37 mm ou equipada com metralhadoras Hotchkiss de calibre 7 mm. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura aplicado aos Renault FT-17, inicialmente os carros foram recebidos em um esquema na cor marrom terra (Flat Earth), momento no qual receberam algumas identificações especificas. Este padrão se manteria até o ano de 1925, quando foram repintados nas cores normativas adotadas pelo Exército Brasileiro naquele período, mantendo este esquema até sua desativação em 1942.

Bibliografia :
- O Brasil na Era dos Blindados  por Expedito Carlos S. Bastos - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/DC2.PDF
- Renault Ft-17 O Primeiro Carro De Combate Do Exército Brasileiro - por Expedito Carlos S. Bastos
- Consolidação dos Blindados no Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos - www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/DC3.PDF