Krupp Flak 88 mm C/56 Modelo 18

Historia e Desenvolvimento.
A maioria das armas antiaéreas empregadas na Primeira Guerra Mundial foram desenvolvidas mediantes a adaptações de armas de médio calibre, que seriam montadas da maneira que fosse possível utilizá-las com um amplo ângulo de ataque. Em açao durante o conflito, obteriam certa eficácia contra os aviões lentos e vulneráveis da época, porém o rápido desenvolvimento da tecnologia aeronáutica observada no pós-guerra, melhoraria em muito a performance das aeronaves. E neste novo cenário, e os canhões antiaéreos em operação já não possuíam a cadência de tiro rápida o suficiente e nem eram nem capazes de alcançar a altitude em que os novos aviões militares voavam. Desta maneira todas as defesas antiaéreas existentes até então, passariam a ter pouca efetividade contra-ataques aéreos em hipotéticos novos conflitos que poderiam se avizinhar no futuro. Este movimento levaria as nações vencedoras do conflito a iniciar o desenvolvimento de uma nova geração de canhões antiaéreos que pudesse novamente rivalizar com as ameaças aérea. Em fins da década de 1920 a Alemanha ainda estava impedida pelo Tratado de Versalhes, de desenvolver e fabricar armas em grandes quantidades ou de capacidade ofensiva superior, passaria secretamente a esboçar os primeiros estudos e passos para iniciar um novo processo de rearmamento, sobre a égide da República de Weimar.  Buscando contornar as limitações impostas por este tratado, o governo alemão demandaria a suas indústrias de defesa alternativas para a implementação deste programa. Atendendo a esta demanda empresa Friedrich Krupp AG, se associaria a sueca AB Bofors (que detinha participação majoritária na empresa alemã) em um acordo de cooperação, para a criação de uma nova geração de canhões antiaéreos que apresentassem com grande cadência de disparos e projéteis de alta velocidade, capazes de atingirem altas altitudes. Curiosamente este projeto deveria prever também o emprego da mesma plataforma para o emprego antitanque ou anticarro, criando assim um sistema de armas de baixo custo de produção e manutenção. Ao ser desenvolvido do “zero” a partir do ano de 1926, esta nova arma romperia com conceitos canhoes antiaéreos, criando soluções até então não exploradas, resultando em um projeto inovador e muito eficiente.     

Durante a fase de início da produção os protótipos apresentavam a configuração com calibre de 75 mm, no entanto os militares alemães almejavam uma arma com capacidade superior, levando assim ao redesenho do projeto que culminaria no emprego do calibre de 88 mm. Em abril de 1928 seria concluído o primeiro protótipo, apresentando um cano de peça única com um comprimento de 56 calibres, gerando assim a designação de modelo 18 L/56.  Em maio de 1928, os primeiros canhões Flak Modelo 18 (Flugzeugabwehrkanone canhão de defesa de aeronaves), começariam a entrar e serviço no Exército Alemão (Reichsheer). Estes novos canhões antiaéreos tinham seu canhão de 88 mm montado sob uma estrutura base tipo cruciforme fixa com ângulo de giro de 360º apresentando uma elevação de - 3º á + 85º, sendo assim capaz de atacar alvos tanto em terra quanto no ar. Em casos especiais, poderia ainda efetuar disparos sobre sua base de transporte sobre rodas, porém sem a mesma precisão. Como principal diferencial em relação a armas de perfil similar, possuía um sistema de carregamento "semiautomático", simples de operar que ejetava os cartuchos vazios disparados, permitindo que ele fosse recarregado simplesmente inserindo um novo cartucho em uma bandeja e após na câmera que engataria e reacionária a arma. Este processo resultaria em taxas de disparos da ordem de dez a vinte tiros por minuto, apresentando resultados mais eficientes do que qualquer outro canhão em uso naquele período. Podia fazer uso de uma variada gama de munições, como contra aeronaves, pessoal, carros de combate e veículos blindados em geral, empregando projeteis altamente explosivos de carga 10,4 kg, ou perfurantes de carga 9,2 kg, estas últimas atingindo uma velocidade na boca do cano a 820 metros por segundo, sendo capazes de penetrar a couraça de qualquer blindado em serviço naquela época.  Em fevereiro de 1933 o atentado a sede do governo alemão Reichstag, traria o cenário e a motivação ideal para que Chanceler Adolf Hitler, iniciasse o movimento de ascensão do partido Nazista em direção ao total controle do governo alemão, que se concretizaria após a morte do presidente Paul von Hindenburg em 1934. Iniciava-se assim um ousado processo de rearmamento das forças armadas alemães, visando garantir as condições bélicas para os planos futuro do novo governo alemão.  
Neste momento diversos programas de sistemas de armas seriam acelerados entre estes o canhão antiaéreo Flak Modelo 18, com algumas centenas de peças estando em operação quando da intervenção da Alemanha na Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939). Em combate real neste conflito contra as forças republicanas, este canhão se mostraria como a melhor arma antiaérea disponível na época, provando também ser preciso e versátil como uma excelente arma anti-veículo e anti-bunker de longo alcance. A experiencia obtida durante este conflito regional, revelaria, no entanto, a ocorrência de vários problemas técnicos de pequena ordem, porém apresentariam grandes oportunidades de potenciais de melhoria de projeto. Em 1939 surgiria a versão aprimorada denominada Flak Modelo 36, ao contrário de seu antecessor que possuía o cano do canhão em peça única, novo modelo apresentava o sistema de multi seção, com um cano de duas peças, para assim facilitar a substituição de componentes desgastados.  Também possuía uma nova estrutura base tipo cruciforme que era mais robusta e pesada e passava a ser equipada com pneus duplos na frente e atrás, possibilitando assim uma melhor precisão quando da necessidade de operação em regime de emergência sob rodas, com canhão podendo ser disparado na posição de transporte, logo após de ser separado de seus rebocadores meia lagarta SdKfz 7. A alteração do sistema de fixação permitia que a arma estive pronta para a operação em dois minutos e meio, o que favorecia o modelo em operações rápidas dentro do conceito Blitzkrieg (guerra relâmpago). Visualmente o modelo Flak 36 podia ser identificado pela adoção de um escudo blindado que proporcionava proteção limitada para os artilheiros, salientando que este acessório podia ser instalado também na versão anterior. Em seguida seria desenvolvida também a versão Flak 37, que estava equipada com novos indicadores de mira seriam acoplados ao controlador central para cada uma das quatro armas de uma bateria, permitindo o fogo coordenado. Visando manter o nível de operacionalidade no campo de batalha, diversos componentes críticos era intercambiáveis entre as versões Flak 18, Flak 36 e Flak 37. 

Já em 1939, o comando da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) solicitaria o desenvolvimento de novas armas para a defesa antiaérea, principalmente para atuar contra bombardeiros de alta altitude. Neste momento a produção dos Flak 88 mm estava sob responsabilidade da empresa Rheinmetall AG, que rapidamente responderia a esta demanda com uma nova versão, que passava a apresentar canos e cartuchos mais longos. Seu protótipo designado como Flak 41 seria entregue para testes em março de 1941, disparando projeteis de 9,4 kg a uma velocidade de focinho de 1.000 m/s (3.280 pés/s), dando-lhe um teto efetivo de 11.300 metros (37.100 pés) e um máximo de 14.700 metros (48.200 pés). O grande êxito obtido pela Legião Condor na Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) onde sua utilidade como arma antitanque e peça de artilharia de campo excederia seu papel como arma antiaérea, seria novamente comprovado durante a batalha da França em 1940. Neste momento seu emprego seria devastador contra os carros de combate franceses Char B1 Bis e ingleses Matilda II. Neste momento seria introduzido no Exército Alemão (Wehrmacht) de canhões Flak 18 montados em veículos meia lagarta pesados Sd.Kfz. 8, recebendo nesta configuração a denominação de "Bunkerknacker". A capacidade da sua munição em penetrar mais de 84 mm de armadura a um alcance de 2 km, o tornaria uma arma antitanque incomparável durante os primeiros dias da guerra e ainda formidável contra todos, exceto os tanques mais pesados no final. Na campanha da Africa do Norte, as forças alemãs do Afrika Korps, sob o comando do general Erwin Rommel, os Flak 88 mm seriam empregados com maestria, quando Panzers em movimento de aparente retirada, atrairiam os carros de combate britânicos do Oitavo Exército Britânico para uma armadilha, sendo destruídos mais de duzentos e cinquenta tanques inimigos.  A repetida perda de tanque de canhões Flak 88 mm bem-posicionados nas batalhas do Halfaya Pass lhes renderia o apelido de "Hellfire Pass" (Passe do Fogo do Inferno), criando assim um mito, que passaria a ser muito temido por seus adversários. Já durante a operação  Barbarossa, a invasão da União Soviética, os Flak 88 seriam largamente usados na frente oriental obtendo grande êxito na primeira fase da campanha. No entanto a introdução dos novos carros de combate T-34 e KV trariam os primeiros revezes em combate contra a blindagem dos tanques soviéticos, sendo eficientes contra estes somente a uma distância de 200 metros. 
Os canhões Flak 88 teriam destacada participação no esforço de defesa antiaérea do Reich, com suas baterias estrategicamente posicionadas fazendo uso do sistema Kommandogerät, um computador de artilharia analógico.  Este permitia disparos extremamente precisos, levando em conta a distância entre as armas umas das outras e da tripulação de mira, anulando o deslocamento e apontando todas as armas no mesmo ponto. Isso permitiu que várias armas fossem apontadas precisamente para o mesmo alvo por uma única tripulação de comando de cinco homens, em vez de exigir tripulações treinadas em cada arma. Sistemas de mira por radar também foram desenvolvidos para complementar esses sistemas. A série de radares de Würzburg foi produzida aos milhares e amplamente utilizada. Ele permitia fogo de área geral sem linha de visão, mas tinha baixa precisão em comparação com os sistemas visuais. O intensificar da campanha de bombardeio estratégico aliado levaria a priorização da produção de armas antiaéreas comprometendo quase 45% do orçamento de defesa alemão. A Força Aérea Alemã (Luftwaffe) em agosto do ano de 1944, chegaria a dispor de mais de dez mil canhoes Flak 88 mm em serviço para a defesa antiaérea internamente no país. Além das forças armadas alemães os canhões Flak 88 seriam adquiridos novos de fábrica pela Itália, Espanha, Grécia, China Nacionalista, Brasil e Finlândia. Centenas de peças de artilharia desta família seria capturadas e empregadas pelas Forças Francesas Livres, Grécia, Iugoslávia e temporariamente pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) pelos 79º e 244º Batalhões de Artilharia de Campanha, durante o auge de escassez de munição. Estas armas de artilharia antiaérea, ainda veriam combate real durante a Guerra do Vietnã, quando peças fornecidas pela Uniao Soviética a partir do ano de 1954, foram empregadas contra aeronaves norte-americanas no início daquele conflito. Registra-se que as últimas unidades destas armas foram retiradas do serviço militar ativo somente no ano de 1977. Entre 1933 e 1945 seriam produzidos 26.616  canhões Flak 88 mm dispostas em sete versões. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A adoção de modernos canhões no Exército Brasileiro, teve início no ano de 1905 com a implementação da “Reforma Hermes”, um ousado programa de modernização da Força Terrestre, que compreendia além de um processo de reestruturação, a aquisição de grandes quantidades armamentos modernos.  Este movimento traria os resultados esperados, elevando o patamar operacional das forças brasileiras semelhante ao dos melhores exércitos europeus, no entanto este panorama seria mantido pôr no máximo vinte e cinco anos, principalmente face ao rápido desenvolvimento tecnológico observados após o término da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Desta maneira, durante a segunda metade da década de 1930, o Exército Brasileiro, encontrava-se em uma situação preocupante em termos de efetividade operacional. Conflitos em vários locais mostravam claramente uma tendência de insegurança reinante no mundo e muitos países sul-americanos possuíam equipamentos bélicos superiores aos do Brasil. Relatórios confidenciais do Estado-Maior das Forças Armadas revelavam que a Argentina e o Chile contavam com armamento muito mais moderno e numeroso, tanto aéreo, como terrestre e naval, e constatavam que o Brasil estava totalmente despreparado contra ameaças externas. Em um caso hipotético de hostilidades contra seus principais vizinhos do Sul, somente haviam condições de defesa por um breve período, podendo até em menos de trinta dias perder o domínio do Estado do Rio Grande do Sul. Dentre as principais deficiências que o Exército Brasileiro tinha, era a completa obsolescência de seus equipamentos de artilharia. Para resolver esta perigosa deficiência em abril de 1936, o general Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, determinaria a criação de uma comissão de compras com sede na Europa, com esta equipe sendo responsável por analisar e recomendar novos equipamentos para o reaparelhamento das Forças Armadas. Após serem elencados os potenciais fornecedores, seria formulado e enviado um edital as empresas Schneider et Compagnie, Societa Giovanni Ansaldo & Compagnia, Friedrich Krupp AG e Rheinmetall AG, apresentando demandas e questionamentos sobre tomada de preços e condições de pagamento de seus produtos e principalmente opções e modalidades de financiamento. Para adquirir essas novas armas seria disponibilizada uma verba de um milhão e quinhentos mil contos de réis ao longo de dez anos, provenientes de uma reserva de recursos financeiros. As transações seriam feitas em libra esterlina, a moeda forte da época. Além disso, o Brasil assinaria um acordo comercial com a Alemanha, que na época despontava com um parque industrial de tecnologia de ponta, permitindo compras em marcos alemães de compensação, através de exportações brasileiras de produtos agrícolas.  

Dessa forma, em 19 de março de 1937, seria celebrado um contrato envolvendo a aquisição cem canhões de 75 mm C/26 e acessórios da Fried Krupp AG, para equipar as unidades de cavalaria que guarneciam as fronteiras do Sul e Oeste do Brasil. Eram peças de tração animal, pois existiam poucas estradas de rodagem, sendo o uso de veículos automotores predominante nos centros urbanos. O material militar seria recebido entre agosto de 1938 e fevereiro de 1939, com distribuição prevista para operação em vinte e cinco baterias de artilharia. Excetuando uma bateria que seria destinada à Escola Militar do Realengo na cidade do Rio de Janeiro, a fim realizar a instrução básica e elaboração de manuais de operação e manutenção. O restante seria distribuído em três divisões de cavalaria no Estado do Rio Grande do Sul e uma no Estado do Mato Grosso. Este primeiro movimento garantiria a retomada da capacidade mínima da artilharia de campanha do Exército Brasileiro, porém ainda havia necessidades a ser preenchidas principalmente no que tange a estruturação de um sistema básico de defesa antiaérea.  Em atendimento a estas demandas, em 25 de março de 1938, seriam assinados diversos contratos com a empresas alemães como a Daimler Benz, Kraus Maffei, Fried Krupp AG. AG Matra Werke, Bussing-NAG, Henschel & Sohn, Car Zeiss e Eletroacoustic GmBh, resultando na compra de uma quantidade substancial de material militar. O fornecedor principal nesta fase, novamente, seria a Fried Krupp AG, se destacando pelo volume de negócios celebrados com esta, assim por este motivo este acordo passaria a ser conhecido como “ O Grande Contrato Krupp¨. Nestes termos seriam adquiridos nada menos do que 1.180 peças, desde canhões de campanha de 75 mm, a até obuseiros de 150 mm, um substancial quantidade de munição e acessórios, incluindo 644 veículos automotores, 50 reboques-oficina, equipamentos para direção de tiro e de localização de som.  O pacote global totalizaria um investimento de  8.281.383 milhões  de libras esterlinas, com um depósito inicial de 15% nesta moeda, e o restante em até 25 parcelas, em marcos de compensação (aliás, dependendo do material, a quitação deveria ser feita entre 8  e 15 parcelas).  Assim, o “Grande Contrato Krupp” previa a aquisição de material dedicado a defesa área, como equipamentos de comando e direção de tiro (Preditores) WIKOG 9SH, fabricados pela Carl Zeiss e destinados às baterias antiaéreas de 88 mm; equipamentos de localização de som ELASCOPORTHOGNOM, fabricados pela Electroacoustic GmbH, para as baterias antiaéreas, e que era utilizado previamente à adoção de radares móveis, visando direcionar a artilharia contra aviões inimigos, orientando pelo som. 
O contrato contemplava também os desenhos, o ferramental e os direitos de produção de todos os componentes das munições empregadas pelas peças adquiridas, buscando tornar o país autossuficiente nisso, exceção feita à espoleta mecânica de duplo efeito, não cedida . Em setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Imediatamente, em apoio aos poloneses, a França e a Inglaterra declararam guerra contra a Alemanha. Embora o Brasil fosse neutro, suas encomendas foram prejudicadas pelo bloqueio naval imposto pela Royal Navy, impedindo que embarcações estrangeiras chegassem a portos alemães. A solução encontrada foi despachar o material a partir de Gênova, na Itália. A primeira remessa, composta de quatro canhões antiaéreos 88 mm junto com munição, foi embarcada num navio mercante de bandeira brasileira. Depois disso, e para evitar que o material completo fosse apreendido pelo bloqueio naval inglês, as remessas foram enviadas em partes, ou seja, os tubos dos canhões foram remetidos em um navio, e os reparos em outro, e em datas distintas. Com a ocupação alemã da França e a adesão da Itália ao Eixo, o bloqueio inglês se expandiu e alcançou o Mar Mediterrâneo. A comissão brasileira que recebia o material produzido em Essen, passou utilizar como local de embarque a cidade de Lisboa, em Portugal, país que permaneceu neutro até o final das hostilidades. m novembro de 1940, o mercante “Siqueira Campos” carregado de parte da encomenda, foi apresado por navios ingleses e escoltado até Gibraltar. O fato, conhecido como “Incidente do Siqueira Campos”, gerou forte reação antibritânica nos oficiais brasileiros, e o general Dutra e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, solicitaram aos Estados Unidos que intercedessem na questão. O governo de Washington estava preocupado com a defesa do continente e buscava soluções para prover os países latinos com armamento, ao mesmo tempo em que enfrentava dificuldades para atender à sua própria demanda e ajudar aos que já combatiam o Eixo. Intervir a favor do Brasil iria resolver parcialmente, inclusive, a necessidade de armamento, para a defesa da costa nordestina contra uma eventual invasão alemã.  Diante de um pedido pessoal do chefe do Estado-Maior do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, o general George Marshall, os britânicos permitiram que a carga fosse embarcada em um mercante norte-americano, levada até Nova York e transferida para um navio brasileiro. O mesmo procedimento se deu no segundo semestre de 1941, com outra carga já a bordo do navio brasileiro “Bagé”.  Essas foram as últimas remessas que chegaram ao País, referentes ao “Grande Contrato Krupp”. Parte dos materiais, já aprovada e recebida pela comissão brasileira, estocadas em depósitos da Alemanha, França e Portugal aguardando um meio diplomático para ser remetida ao Brasil, acabaria sendo requisitada pelo Exército Alemão (Wehrmacht).

Caso o Brasil tivesse recebido a totalidade da encomenda, teria se transformado, na ocasião, na nação latino-americana mais equipada em termos de artilharia. Especificamente em termos a estruturada de defesa antiaérea, seriam recebidos somente 28 peças do Flak 88 mm C/56 Modelo 18, 06 preditores Carl Zeiss WIKOG 9SH e 18 aparelhos de localização pelo som Electroacoustic GmbH ELASCOPORTHOGNOM. Embora a quantidade do material recebido fosse muito menor do que a encomendada, ainda foi possível organizar três regimentos: o 1º Grupo do 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé) no Rio de Janeiro - RJ, seria a primeira unidade a receber o material, em 04 de fevereiro de 1941, quando chegaram 12 peças para equipar três baterias, dois aparelhos de escuta ELASCOPORTHOGNOM, e uma bateria de projetor antiaéreo 60’’ SPERRY M-1939. Em outubro do mesmo ano, a unidade realizou o primeiro exercício de tiro real, utilizando alvos rebocáveis, bem como todos os equipamentos que equipavam as baterias, tais como telêmetros, preditores WIKOG 9SH, aparelhos para localização pelo som, projetores, dois tratores Sd.Kfz. 7. Durante 1943, o regimento foi reforçado por uma bateria de canhões automáticos antiaéreos de 37mm M-2A2, de origem norte-americana, 1º Grupo do 2º Regimento de Artilharia Antiaérea (I/2ºRAAAé) sediado na cidade de Osasco – SP, seria equipada com duas baterias de quatro 88 mm cada, e todos os equipamentos auxiliares, como dois tratores Sd.Kfz. 7 e por fim o 1°Grupo do 3° Regimento de Artilharia Antiaérea (I/3° RAAAé) sediando na cidade de Natal – RN, que receberia recebeu os oito 88mm restantes, perfazendo duas baterias e equipamentos acessórios e um trator meia-lagarta Sd.Kfz. 7. Sua missão era proteger a área de Natal (RN), tanto contra ataques aéreos à Base Aérea de Parnamirim, como para defesa do litoral. Assim, uma bateria seria estacionada ao largo daquela base aérea, apoiada por uma bateria de projetores SPERRY M-1939, e a outra foi para a região de Ponta de Santa Rita (Genipabu). Esta bateria seria acionada para um ataque real, no dia 18 de dezembro de 1942, as 7:00 horas da manhã, quando disparos foram efetuados contra a vela de um submarino não identificado, detectado a 2.600 metros da costa, não havendo registros oficiais sobre possíveis impactos. 
A partir do ano de 1942, seriam recebidos uma grande quantidade de material militar norte-americano, incluindo uma variada gama de sistemas de defesa antiaérea englobando centenas de  canhões M-2A2 AA de 37 mm, M-3 AA de 76 mm e por fim M-1A3 AA de 90 mm.  Apesar deste fato, os canhões alemães Krupp Flak 88 mm C-56 Modelo 18 se manteriam plenamente em atividade durante toda a Segunda Guerra Mundial. Junto ao 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé), estas armas seriam empregadas até novembro de 1954, quando foram substituídos por canhões antiaéreos de 90 mm M-1 (M-117), também norte-americanos, e sua denominação passou a ser 1º Grupo de Canhões 90 Antiaéreos (1º G Can 90 AAe). Os canhões pertencentes ao 1º Grupo do 2º Regimento de Artilharia Antiaérea (I/2ºRAAAé) que se encontravam no arquipélago de Fernando de Noronha, seriam novamente concentrados na cidade de Osasco, se mantendo em operação até o ano de  1955, quando o grupo já havia sido renomeado como 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (2º GAAAe), Grupo José Bonifácio e Fernando de Noronha, com sede em Praia Grande (SP). Por fim os Krupp Flak 88 mm C-56 Modelo 18 pertencentes ao 1° Grupo do 3° Regimento de Artilharia Antiaérea (I/3° RAAAé), seriam as últimas peças a serem retiradas de serviço no ano de 1956. Salienta-se que este processo se daria somente pela escassez de munição, pois operacionalmente superavam em muitos aspectos os seus pares norte-americanos. Hoje, restam preservadas pelo menos seis desses canhões: na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende/RJ; na entrada do 1º Grupo de Artilharia Antiaérea (1º GAAAe), junto com um refletor SPERRY, na Vila Militar, Rio de Janeiro/RJ; duas peças no Monumento Nacional dos Mortos da Segunda Guerra Mundial (MNMSGM), no aterro do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ; no Museu Militar Conde de Linhares (MMCL), que também possui um preditor WIKOG 9SH, no Rio de Janeiro/RJ; e no Museu de Armas, Veículos e Máquinas André Matarazzo, em Bebedouro/SP. 

Em Escala.
Para representarmos o Krupp Flak 88 mm Modelo 18 C/56", pertencente ao 1º Regimento de Artilharia Antiaérea (1/1º RAAAé), fizemos uso do excelente kit produzido pela  AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal, borracha e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, basta apenas descartar o escudo blindado de proteção dos artilheiros. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura que pode ter sido empregado nos canhões Krupp Flak 88 mm Modelo 18 C/56 e demais peças de artilharia de origem alemã recebidos pelo Brasil. Com este esquema se baseando no esquema adotado no Exército Alemão (Wehrmacht) em fins da década de 1930.  




 Bibliografia: 

- 1º Grupo de Artilharia Antiaérea  https://www.1gaaae.eb.mil.br/2016-02-10-19-06-22 

- Flak de 88 mm 18/36/37/41 Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/8.8_cm_Flak_18/36/37/41  

- Canhões antiaéreos Krupp 88 mm no EB – Helio Higuchi e Paulo R. Bastos Jr – Tecnologia & Defesa 

- O Nordeste na II Guerra Mundial - Editora Record, 1971 

- O Duplo Jogo de Vargas GAMBINI, Roberto - Editora Símbolo, 1977