Estupefatas, porem inertes, as nações europeias na segunda metade da década de 1930, presenciaram um forte programa de rearmamento da Alemanha Nazista, que mesmo apesar das limitações impostas pelo Tratado de Versalhes (assinado após o término da Primeira Guerra Mundial) avançava a largos passos. O governo alemão que era regido partido nacional socialista (Partido Nazista) e liderado pelo chanceler Adolf Hitler, começava esboçar preocupantes ambições e galgar um ousado plano de expansão territorial. O plano de rearmamento alemão estava focado desenvolvimento de novos conceitos e doutrinas militares, que combinadas com tecnologias em equipamentos, veículos e armas proveriam uma sinergia no combate terrestre com apoio aéreo (que viria a ser denominado posteriormente como Blitzkrieg). Este complexo programa, tinha como um dos principais pilares, o desenvolvimento de novos carros de combate blindados, que se caracterizavam pela combinação de velocidade, mobilidade, blindagem, controle de tiro e poder de fogo. Assim no final desta mesma década o comando do Exército Americano (US Army) ao observar este novo cenário, passava a ter plena ciência, que seus principais modelos de carros leve de combate em produção, designados como M-1 e M-2, estavam completamente obsoletos quando comparados a seus rivais alemães. Fazia-se necessário então, equiparar ou ainda superar esta nova ameaça. Esta demanda resultaria em julho de 1940 na decisão do desenvolvimento de uma nova família de carros de combate que seria designada pelo comando do Exército Americano (US Army) como M-3 Light Tank.
Para a criação deste novo carro de combate, seria definido como ponto de partida a adoção do canhão M-22 de 37 mm, com sua blindagem sendo projetada para resistir a tiros de armas antitanque do mesmo calibre de sua arma principal. Esta premissa levaria ao emprego de um novo sistema de suspensão, que fora redesenhado para assim suportar o peso excedente proveniente da nova blindagem. Para melhoria da equalização do peso, seria adicionado nas lagartas uma polia extensora traseira de maior diâmetro, aumentando assim a superfície de contato com o solo. Para abrigar a nova peça de artilharia, uma nova torre foi desenvolvida, sendo inicialmente soldada e rebitada em formato oitavado, para acelerar a produção seria decidido modificar novamente a torre, utilizando uma única chapa laminada moldada de espessura de 31,75 mm para a frente e lateral da torre sendo, esta parte do projeto em específico, alvo de diversas alterações ao longo de sua produção. O novo carro de combate M-3 foi projetado para levar uma tripulação de 4 homens, composta por motorista, comandante, municiador e auxiliar. Nos primeiros modelos produzidos, o comandante, desempenhava também a tarefa de artilheiro do canhão. Já nos modelos mais modernos a partir da adoção de periscópicos para os dois tripulantes da torre, o comandante passou a se posicionar no lado direito, cumprindo a função de municiador. Com as definições de projeto alinhadas, iniciou-se de imediato a produção em larga escala, junto as linha de montagem da Baldwin Locomotive Works American Locomotive, a fins de se atender rapidamente em grande quantidade as demandas emergenciais de reequipamento do Exército Americano (US Army) e seus possíveis aliados.

Os temores identificados por parte dos oficias do Exercito Americano (US Army), sobre as reais capacidades da força blindadas inimigas, seriam totalmente confirmados ao eclodir da Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939 durante a invasão da Polônia. Este tese seria reforçada no ano seguinte, durante a campanha da França, quando os novos carros blindados alemães dos modelos Panzer III e Panzer IV obtiveram esmagadoras vitorias em enfrentamentos com os melhores carros de combate franceses e ingleses disponíveis. No entanto em mãos norte-americanas, o M-3 Stuart, teria seu batismo de fogo em 8 de dezembro de 1941, no eventos que se sucederam a invasão das Filipinas, pelas forças do Exército Japonês. Nesta batalha os M-3 Stuart pouco contribuiriam no esforço de defesa das ilhas, com os veículos remanescentes sendo capturados após a rendição das forças norte-americanas em março do ano seguinte. Ja seu emprego contra os carros de combate alemães e italianos ocorreria em meados do ano de 1943 no deserto da Tunísia, quando vieram a sofrer pesadas perdas. Estes resultados negativos não podiam ser creditados apenas a inferioridade do equipamento, mas de maneira fundamental, pela inexperiência de suas tripulações, que se defrontaram com oponentes com vasta experiência. Os ensinamentos adquiridos em combate, obrigaram os projetistas a proceder uma série de melhorias e modificações, entre estas destaca-se a alteração do motor, pois a escassez de motores radiais a gasolina (que eram destinados com prioridade a indústria aeronáutica), obrigariam o fabricante a empregar um nova leva de motores a diesel. A insegurança sobre a efetividade operacional desta mudança de motor, definiria o emprego de grande parte destes carros somente no continente norte-americano, sendo destacados para o treinamento de tripulações. Muitos destes carros seriam ainda exportados para nações aliadas, com sua produção atingindo um total de 1.285 veículos com esta motorização.

Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a ter uma posição estratégica tanto no fornecimento de matérias primas de primeira importância para o esforço de guerra aliado, quanto no estabelecimento de pontos estratégicos para montagem bases aéreas e operação de portos na região nordeste, isto se dava, pois, esta região representava para translado aéreo, o ponto mais próximo entre o continente americano e africano. Assim, desta maneira, a costa brasileira seria fundamental no envio de tropas, veículos, suprimentos e aeronaves para emprego no teatro europeu. Como contrapartida no intuito de se promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras, que neste período estavam à beira da obsolescência em materiais, quando de doutrina militar (pois havia grande influência francesa no meio militar brasileiro pois por muitos anos o país ainda era signatário da doutrina militar francesa que fora desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. Este processo de reequipamento teria início em meados de 1941 após a adesão do governo brasileiro do presidente Getúlio Vargas ao programa norte americano denominado Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). Os termos garantidos por este acordo viriam a criar uma linha inicial de crédito ao país da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico, proporcionando ao país acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Estes materiais e equipamentos seriam vitais para que o país pudesse estar capacitado para fazer frente as ameaças do Eixo que se apresentavam no Atlântico Sul e no futuro front de batalha brasileiro nos campos da Itália.
Enquanto uma grande quantidade de equipamento seria destinado ao Exército Brasileiro no front europeu, foi definido por reforçar as defesas nacionais, sendo recebidos milhares de veículos, e em termos de carros de combate a cessão americana se concretizaria em breve, no entanto visando se antecipar ao recebimentos dos primeiros itens previstos neste acordo o governo do presidente Getúlio Vargas decidiu por realizar uma aquisição antecipada de 10 carros de combate M-3 Stuart que foram entregues no início do mês de setembro de 1941, chegando a tempo de participar do desfile da independência naquele ano. A introdução deste modelo provocaria a geração de um novo ciclo operacional em termos de carros de combate blindados, abandonando assim a doutrina militar francesa da qual o Brasil era signatário, conceitos operacionais militares estes que já estavam há ultrapassados, pois eram oriundos da experiência daquele país na Primeira Guerra Mundial. Os novos tanques substituíram nas tarefas de linha frente os carros leves italianos Fiat Ansalvo CV3-35 e alguns remanescentes franceses tanques Renault FT-17, que até então representavam o sustentáculo da força mecanizada de blindados no Brasil. Em fevereiro de 1942 seriam recebidos mais 20 carros de combate, sendo complementados por mais 200 M-3 Stuart que foram sendo entregues em lotes até fins de 1944. Até o término do conflito o exército brasileiro viria a receber um total de 437 Stuarts, sendo dispostos em várias versões, entre elas, M-3 Type 2 Stuart MK I, M-3 Type 4/5 Stuart MK I/II, M-3 Type 6/7 Stuart Hybrid, M-3 Type 8/9 Stuart Hybrid e M-3A1 Stuart MK III/IV.

Apesar de nunca ter entrado em combate no Exército Brasileiro, os carros de combate da família M-3 Stuart, se fizeram presentes como agentes de dissuasão em vários momentos de crise políticas na vida nacional como em outubro de 1945, quando a fim de forçar o fim da ditadura Vargas, conhecida como “Estado Novo”, carros de combate M-3 Stuart dos 1º e 2º Batalhões de Carros de Combate (BCC), sob ordens do comandante da Divisão Motomecanizada , ocuparam as ruas do Rio de Janeiro. Em agosto de 1954, logo após o suicídio do presidente Getúlio Vargas , os M-3A1 do 6º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (EsqRecMec), foram acionados para reprimir manifestantes na cidade de Porto Alegre - RS. Em novembro de 1955 os M-3 Stuart seriam novamente empregados quando da garantia de condições, para que o recém-eleito presidente Juscelino Kubitschek fosse empossado, assim carros de combate M-3A1 Stuart do 3º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado (EsqRecMec) foram para as ruas do Rio de Janeiro. Entre setembro de 1957 e julho de 1962 os M-3 Stuart participariam de mais crises políticas internas, entre elas a “Caravana da Liberdade”, “Renúncia do Presidente Jânio Quadros”, movimento “Cadeia da Legalidade” e por fim o “Plano de Manutenção da Ordem Pública” em julho de 1962. Porém talvez o período mais importante da participação entre março e abril de 1964 na revolução contra a ascensão da esquerda, onde os M-3 Stuart foram empregados em várias frentes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul, tendo como registro mais emblemático da crise de um M-3 do 1º Batalhão de Carros de Combate Leve (BCCL) em guarda após a ocupação do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP) em dezembro de 1968.

Em Escala.
Para representarmos o M-3 Stuart “EB11-464” fizemos uso do excelente kit da Academy na escala 1/35, lembrando que na caixa o mesmo o modelo se apresenta como M-3A1, o que na verdade não é, pois refere-se ao M-3 Type 6/7/8/9. Empregamos decais Eletric Products pertencentes ao set "Exército Brasileiro 1942 - 1982".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregados em todos os modelos dos M3/A1 Stuart operados pelo Exército Brasileiro, sendo as cores originais do fabricante denominadas “ Vitrolack Cor 7043-P-12 ” (padrão Exército Americano - US Army), sendo este esquema mantido durante toda a sua carreira.
Bibliografia
:
- O
Stuart no Brasil – Helio Higuchi, Reginaldo Bachi e Paulo R. Bastos Jr.
- M-3 Stuart Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/M3_Stuart
- Blindados
no Brasil Volume I, por Expedito Carlos S. Bastos