UC-SR10 Stinson SR-10E Reliant

História e Desenvolvimento.
A Stinson Aircraft Company foi fundada em 1920 na cidade de Dayton, Ohio, o berço histórico da aviação norte-americana, local do primeiro voo dos Irmãos Wright em 1903. Seu criador, Edward "Eddie" Stinson, era um empreendedor visionário e aviador apaixonado, irmão da célebre Katherine Stinson, a quarta mulher dos Estados Unidos da América a obter uma licença de piloto e a primeira aviadora a realizar voos para o Serviço Postal do país. Nos seus primórdios, a empresa dedicou-se à fabricação quase artesanal de aeronaves de pequeno porte, voltadas para o turismo e o treinamento de pilotos. Contudo, a produção inicial enfrentava desafios: o ritmo lento de fabricação limitava as vendas, frustrando clientes que buscavam entregas mais ágeis, o que resultava em oportunidades perdidas para a companhia. Determinado a superar essas dificuldades e expandir seus horizontes, Eddie Stinson vislumbrou, no final de 1924, a cidade de Detroit como o palco ideal para o crescimento da empresa. A vibrante atmosfera industrial da região, aliada à disponibilidade de mão de obra qualificada e acesso a linhas de financiamento, tornava-a estratégica para seus planos de empreender no segmento aeronáutico. Ao se estabelecer em Detroit, Stinson rapidamente se conectou à comunidade empresarial local, conquistando apoio para sua visão. Seu empenho rendeu frutos em agosto de 1925, quando um grupo de investidores, membros do Comitê de Aviação do Conselho de Comércio de Detroit, decidiu respaldar sua iniciativa. Assim nasceu a Stinson Aircraft Syndicate, uma empresa de porte médio instalada na zona industrial sudoeste de Detroit, nas proximidades do Aeroporto Metropolitano Wayne County. Com um investimento inicial de aproximadamente US$ 25.000, a nova empreitada focou no desenvolvimento de uma aeronave monomotora de pequeno porte, destinada ao mercado civil de transporte e turismo. O projeto ganhou vida rapidamente, culminando na criação do modelo Stinson SBM-1 Detroiter. Em 25 de janeiro de 1926, sob o rigoroso inverno de Detroit, a aeronave realizou seu voo inaugural, enfrentando condições adversas com notável desempenho surpreendendo a todos os presentes naquele dia. Para garantir a segurança em um terreno escorregadio, o avião foi equipado com correntes nas rodas, uma solução prática que assegurou decolagens e pousos sem incidentes. O SBM-1 Detroiter um monoplano de asa alta, com suportes de sustentação (strut-braced), construída com tubos de aço ao cromo-molibdênio, revestida com tecido (entoilada), destacou-se não apenas por sua capacidade de transportar até quatro passageiros, mas também por incorporar inovações pioneiras para a época. Entre suas características estavam o aquecimento interno da cabine, freios de roda individuais fabricados pela Harley-Davidson Inc. e um sistema de partida elétrica para o motor Curtiss-Wright J-5 Whirlwind, de 220 cv -164 kW (Algumas unidades posteriores foram equipadas com o Wright J-6 de 300 hp). 

Essas inovações representaram um avanço significativo no design de aeronaves de pequeno porte, consolidando a Stinson Aircraft Syndicate como uma referência em engenhosidade e visão no cenário da aviação civil. O SBM-1 Detroiter, após passar por um exigente programa de ensaios em voo, recebeu a certificação dos órgãos reguladores norte-americanos, obtendo a autorização para sua produção em série. Suas características inovadoras, aliadas a um design avançado e funcionalidades técnicas pioneiras, como o aquecimento de cabine, freios Harley-Davidson e partida elétrica, rapidamente conquistaram o mercado. Em 1926, a venda de dez unidades marcou um feito notável para a época, consolidando o modelo como um sucesso comercial e atraindo a atenção de operadores privados e entusiastas da aviação. Inspirada por esse êxito inicial, a Stinson Aircraft Syndicate, liderada pela visão de Edward "Eddie" Stinson, decidiu aprimorar o projeto. O resultado foi o SM-1D Detroiter, um monoplano de asa alta com capacidade para até seis passageiros, que trouxe ainda mais sofisticação e conforto. Esse novo modelo reforçou o sucesso da empresa, alcançando vendas expressivas e elevando a reputação da marca no mercado aeronáutico. O êxito comercial do SM-1D permitiu a captação de US$ 150.000 em capital público, um marco que culminou na fundação da Stinson Aircraft Corporation em 4 de maio de 1926. Esse momento representou não apenas o crescimento da empresa, mas também a realização do sonho de Eddie Stinson, cuja paixão pela aviação o impulsionava a buscar inovações constantes. Além de sua dedicação como empreendedor, Eddie Stinson era um aviador talentoso, atuando nas horas vagas como piloto dublê. Essa atividade, que lhe rendia cerca de US$ 100.000 anuais, fornecia recursos adicionais para reinvestir na empresa, fortalecendo sua capacidade de inovação. A partir de 1928, o SBM-1 Detroiter passou a integrar as frotas de companhias aéreas emergentes, como a Braniff Air Lines, de Paul Braniff, e a Northwest Airways, marcando a entrada da Stinson no competitivo mercado de transporte aéreo. Em 1929, a empresa entregou 121 aeronaves, um testemunho do crescimento contínuo e da confiança depositada em seus produtos. Nesse mesmo ano, em setembro, a Stinson Aircraft Corporation recebeu um impulso significativo com a aquisição de 60% de suas ações por Errett Lobban (E.L.) Cord, um magnata da indústria automotiva e proprietário da Cord Corporation. Essa parceria injetou capital e expertise, permitindo à empresa oferecer preços mais competitivos e investir em novos projetos. Nos três anos subsequentes, a Stinson lançou quatro novos modelos, incluindo o SM-2 Junior, voltado ao mercado de proprietários privados. Cada lançamento foi recebido com entusiasmo, alcançando resultados de vendas expressivos e consolidando a posição da empresa no setor aeronáutico. 
Esses recursos financeiros possibilitaram melhorias estruturais, pavimentando o caminho para o desenvolvimento de um dos maiores sucessos comerciais da Stinson, que marcaria sua trajetória como uma referência em inovação e qualidade. No auge da Grande Depressão, em 1930, a Stinson Aircraft Corporation consolidava sua posição no mercado aeronáutico norte-americano, oferecendo uma linha diversificada de seis modelos de aeronaves, que variavam do compacto SM-2 Junior, com capacidade para quatro ocupantes, ao imponente trimotor Stinson 6000 Airliner, conhecido como Stinson Trimotor ou Model T. Contudo, um evento trágico marcou a trajetória da empresa: em 26 de janeiro de 1932, Edward "Eddie" Stinson, fundador e coração da companhia, faleceu em um acidente aéreo em Chicago, Illinois, durante uma viagem de vendas. Sua perda, além de abalar profundamente a comunidade aeronáutica, acelerou a integração da Stinson Aircraft Corporation em estruturas corporativas maiores. Inicialmente adquirida pela Cord Corporation, a empresa passou, posteriormente, para o controle da Aviation Corporation (AVCO) e, por fim, foi incorporada pela Consolidated Vultee Company. Sob a gestão da Consolidated Vultee, a Stinson Aircraft Corporation passou a operar como uma divisão aeronáutica independente.  A estratégia da empresa, nesse período, concentrou-se na ampliação de seu portfólio de aeronaves leves, com capacidade para dois ou três ocupantes, destinadas ao mercado civil para funções de ligação e treinamento básico.  Em maio de 1933, os engenheiros Robert W. Ayer e C.R. "Jack" Irvine projetaram o  Reliant (SR-1), um monoplano de asa alta com trem de pouso fixo, equipado inicialmente com um motor radial Lycoming R-680 de 215 hp (160 kW). O preço acessível de cerca de US$ 3.995 o tornou competitivo em relação a rivais, e sua capacidade para três passageiros além do piloto atendeu à demanda por aviões de negócios e utilitários. Este modelo recebeu a designação de Stinson SR Reliant, com seu primeiro protótipo alçando voo em julho de 1933, e logo seria envolvido em um programa de ensaios de voo pelo fabricante. Próximo ao termino deste mesmo ano,  a aeronave receberia da Administração Federal de Aviação (FAA), sua certificação para operação civil. Em dezembro de 1933 seria lançado oficialmente no mercado mercado, e rapidamente conquistou notoriedade entre potenciais compradores, resultando em expressivas vendas. As versões subsequentes, como o Reliant SR-1, SR-2 e SR-3, consolidaram uma carteira de vendas superior à de qualquer outra aeronave de sua categoria nos Estados Unidos naquele período.​ Essas versões iniciais tinham asas de corda constante e espessura uniforme, suportadas por dois estrutos por lado com reforços adicionais. Eram mais simples e robustos, ideais para operações em terrenos irregulares. O modelo Reliant SR-4 foi equipado com o motor de pistão radial Wright R-760-E de 250 hp (186 kW), mais potente que os das versões anteriores, ampliando sua participação no mercado. O SR-5, por exemplo, foi usado por celebridades como a atriz Ruth Chatterton, a primeira a possuir e pilotar seu próprio avião.

A partir de 1936, introduziu-se a asa cônica dupla (gull-wing), com maior corda e espessura no meio da envergadura, borda de fuga inclinada para frente nas pontas e um corte arredondado na raiz da borda de ataque, suportada por um único estruto por lado. Essa mudança melhorou a aerodinâmica, a visibilidade e o desempenho, tornando os modelos mais elegantes e eficientes. Em meados de 1938, a empresa lançou o SR-8E, com capacidade para cinco ocupantes melhorando suas vendas neste segmento. Já o Stinson SR-10, introduzido em 1938, representaria o ápice comercial, com interiores luxuosos (couro, painéis de nogueira e janelas retráteis como em automóveis), motores mais potentes (até 300 hp) e velocidade de cruzeiro de cerca de 150 mph (241 km/h), com alcance de 800 milhas (1.287 km). Deste modelo seriam comercializadas e entregues 120 aeronaves no mercado civil norte-americano. Em suma,  a produção desta família de aeronaves totalizaria 1.327 unidades entre 1933 e 1941, podendo ser dividida em dois tipos distintos: os Reliant de asa reta (todos os modelos até o SR-6) e os Reliant de asa de gaivota (todos os modelos do SR-7 em diante). O modelo Stinson SR-10 serviu como base para o desenvolvimento da versão militar AT-19, uma aeronave projetada para missões de treinamento intermediário. Tal versão foi concebida inicialmente para atender a um contrato envolvendo a produção de 500 unidades destinadas à Força Aérea Real (Royal Air Force) e à Marinha Real Britânica (Royal Navy), sendo fornecidas no âmbito do programa de ajuda militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Os SR-10 Reliants foram fornecidos aos britânicos a partir de 1942, recebendo a designação local de  Reliant I para as versões de transporte de cinco lugares, e T-19A (treinador de instrumentos com três lugares), AT-19B (observação e fotografia aérea) e AT-19C (carga). Na Marinha Real (Royal Navy) seriam empregados principalmente em tarefas de treinamento junto aos esquadrões No. 730, 748 e 886 Naval Air Squadrons (NAS), para formar navegadores e operadores de rádio. A variante AT-19A, com configuração de três lugares, era ideal para treinamento de instrumentos, permitindo voos em condições adversas e prática de navegação por rádio. Já na Força Aérea Real (RAF) foram utilizados em unidades especializadas em comunicações e transporte VIP, como o No. 510 Squadron RAF, No. 24 Squadron RAF e 1 Communications Unit, aproveitando sua confiabilidade em operações de curto alcance e terrenos variados.  Neste contexto seriam utilizados em tarefas de ligação e transporte leve, focando em  em comunicações e suporte logístico, usando o avião em missões na Europa ocupada e no Reino Unido. Após o fim da guerra, cerca de 350 dos 500 Reliants britânicos foram devolvidos ao governo dos Estados Unidos, onde foram vendidos no mercado civil como V-77, muitos adaptados para operações "bush" no Canadá e Alasca (equipados com flutuadores ou skis). Na Força Aérea Real (RAF), os remanescentes foram desativados rapidamente, com sobreviventes vendidos ou sucateados. Hoje, poucos exemplares originais britânicos sobrevivem, como o FK887 (agora N69996, exibido no War Eagles Air Museum, nos Estados Unidos).
Durante o ano de 1941, à medida que as tensões na Europa se intensificavam e o Pacífico fervilhava com o expansionismo japonês, os Estados Unidos anteviam sua inevitável entrada em um conflito mundial. Nesse panorama de incertezas e preparativos, o governo americano, priorizou a expansão das forças armadas, incluindo a criação de uma robusta infraestrutura de aviação para treinamento de pilotos e missões de ligação. Como parte desse esforço, foi lançado um programa nacional de requisição e adaptação de aeronaves civis para uso militar, refletindo a urgência de mobilizar recursos em tempo de crise e preparar milhares de jovens aviadores para os desafios da guerra. Nesse contexto inicial, dois exemplares do Stinson Reliant SR-8B foram convertidos para a designação UC-81, entrando em serviço no Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) em setembro de 1941.  No ano seguinte, em 1942, aproximadamente 91 aeronaves Stinson Reliant de origem civil foram incorporadas ao arsenal militar americano, sendo reclassificadas de acordo com suas variantes específicas nas designações UC-81B, UC-81C, UC-81E, UC-81F, UC-81G, UC-81H, UC-81J, UC-81K, UC-81L, UC-81M e UC-81N. Essas conversões incluíam reforços estruturais e modificações para maior durabilidade em condições adversas, permitindo que esses aviões realizassem missões essenciais de transporte de pessoal, comunicações e treinamento em diversos teatros de operação. Dentre as inovações notáveis, destaca-se o modelo experimental Stinson XC-81D, desenvolvido especificamente para a remoção de planadores do campo de batalha após a aterrissagem. Equipado com um motor mais potente Pratt & Whitney R-985 de 450 hp, mecanismo de liberação aerodinâmico e trem de pouso reforçado, esse variante único foi testado em 1943 e provou sua utilidade no teatro europeu, auxiliando na recuperação de planadores como o Waco CG-4A durante operações aliadas, incluindo preparativos para o Dia D em 1944. Com o fim do conflito em 1945, a produção civil do Reliant foi retomada  com o lançamento do modelo V-77. Essa versão, mais espartana, incorporando o motor radial Lycoming R-680-E3B de 300 hp, uma única porta lateral à esquerda para facilitar o acesso em operações rápidas, e uma carenagem lisa e simplificada no lugar do tradicional capô saliente ("bump"). A estrutura interna foi substancialmente reforçada em comparação aos modelos comerciais pré-guerra, com adições como um contrapeso triangular no leme para melhorar a estabilidade em voo. Nesse período pós conflito, um grande contingente dessas aeronaves militarizadas foi declarado "excedente militar" pelo governo dos Estados Unidos, sendo disponibilizado ao mercado civil por meio de leilões e vendas diretas, o que permitiu a reconversão para usos pacíficos como transporte executivo e operações em regiões remotas. Uma porção significativa dessa frota foi destinada a forças armadas de nações aliadas ou alinhadas aos interesses estratégicos americanos durante a nascente Guerra Fria, incluindo Argentina, Uruguai, Austrália, El Salvador, México e Noruega.

Emprego na Força Aérea Brasileira.
A história do uso do Stinson SR-10E Reliant  em contexto militar no Brasil está intrinsecamente ligada ao conturbado cenário político da segunda metade da década de 1930, um período marcado por transformações profundas e tensões que moldaram o futuro do país. Durante esse tempo, a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, com o apoio das forças militares, marcou o fim da política do "café com leite", caracterizada pela alternância de poder entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Governando inicialmente como presidente provisório até 1934, Vargas consolidou sua liderança sob a nova Constituição, assumindo a presidência constitucional. Contudo, a insurreição comunista de 1935 intensificou especulações sobre um possível autogolpe, enquanto o país se preparava para as eleições presidenciais de 1938. Com a impossibilidade de concorrer a um novo mandato em 1938, Vargas e seus aliados articularam um movimento para manter sua influência no poder. Em 18 de setembro de 1937, os preparativos para o golpe ganharam força com a divulgação do Plano Cohen, um documento fraudulento utilizado por oficiais superiores militares para justificar a declaração de estado de guerra pelo Congresso Nacional. Na manhã de 10 de novembro de 1937, forças militares cercaram o Congresso, e Vargas, em um discurso transmitido pelo rádio, proclamou o Estado Novo, um regime autoritário que suspendeu liberdades individuais, dissolveu o Congresso e estabeleceu uma nova constituição corporativa. O mandato presidencial foi estendido por seis anos, posteriormente ampliado para oito, enquanto o poder dos estados foi drasticamente reduzido, centralizando a autoridade no governo federal. Apesar do forte apoio ao regime, a oposição, embora fragmentada, persistia em diversos redutos pelo país, representando uma ameaça potencial à consolidação do Estado Novo. Para assegurar a continuidade de seu governo, Vargas priorizou a neutralização dessas resistências, tanto no âmbito civil quanto militar, buscando formar um núcleo coeso em torno de sua liderança. Uma das estratégias adotadas foi a nomeação de interventores federais nos estados, que assumiram as funções antes exercidas por governadores eleitos. A partir de 1937, todos os estados da federação passaram a ser governados por esses interventores, leais ao governo central, com frequentes trocas ao longo dos anos para manter o controle político. Com a instauração do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, São Paulo viu a substituição de seus governadores eleitos por interventores federais. O primeiro a assumir o cargo foi Joaquim Cardoso de Melo Neto, que governou de 11 de novembro de 1937 a 25 de abril de 1938. Sua gestão foi sucedida pela breve passagem do general Francisco Silva Júnior, comandante da 2ª Região Militar, que permaneceu no cargo por apenas três dias, de 25 a 27 de abril de 1938, deixando a posição por motivos pessoais.

A brevidade de sua gestão evidenciou a urgência do governo federal em estabilizar a administração do estado, que era um pilar econômico e político do Brasil. Em 27 de abril de 1938, Adhemar Pereira de Barros, médico, político e veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, foi nomeado interventor federal por indicação de Benedito Valadares e Filinto Müller, com a chancela do presidente Getúlio Vargas. Nascido em uma influente família de cafeicultores de São Manuel, no interior paulista, Adhemar trouxe à interventoria uma combinação de visão progressista e entusiasmo pessoal pela aviação. Tendo obtido seu brevê de piloto na Europa na década de 1920, ele via na aviação civil e esportiva uma ferramenta de modernização e integração, capaz de impulsionar a administração pública e conectar as diversas regiões do estado. Entre as prioridades de Adhemar Pereira de Barros como interventor estava a modernização da infraestrutura aeronáutica do estado de  São Paulo, com foco na renovação da frota de aeronaves utilizada pelos gabinetes administrativos do governo estadual. Essa iniciativa culminou na aquisição de diversos modelos de aeronaves novas de fábrica, entre estas estava uma célula do modelo Stinson SR-10E Reliant, que foi importado diretamente do fabricante no final do ano de 1939, sendo logo em seguida transladada em voo para o Brasil, acompanhada de outros aviões adquiridos, chegando à capital paulista em  29 de janeiro de 1940.  Após sua chegada, foi oficialmente registrada no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) em 19 de janeiro de 1940, recebendo a matrícula civil PP-EAC.  Com uma velocidade máxima de 262 km/h,  alcance de 1200 km  e teto de serviço de 3.962 metros (13.000 pés), o SR-10E Reliant  era ideal para as necessidades do governo estadual.  Incorporado à frota esta aeronave foi intensivamente utilizado em missões de transporte de autoridades e funcionários públicos, desempenhando funções de ligação e transporte leve em todo o estado. Ocasionalmente, a aeronave também realizava voos para a Capital Federal, no Rio de Janeiro, conectando a administração paulista ao governo central. Sua versatilidade e confiabilidade tornaram-no uma ferramenta essencial para a gestão de Adhemar, que via na aviação um meio de agilizar a comunicação e fortalecer a administração pública em um período de centralização política. A gestão de Adhemar Pereira de Barros reflete não apenas seu compromisso com a modernização, mas também sua paixão pessoal pela aviação, que encontrou eco nas iniciativas de fortalecimento da infraestrutura aeronáutica do estado.
Desta maneira , o Stinson SR-10E Reliant, registrado como PP-EAC, desempenhava com eficiência suas funções a serviço do governo do Estado de São Paulo, conectando autoridades e facilitando a administração estadual. Contudo, sua trajetória nesse papel foi breve, pois a aeronave logo seria destinada a uma nova missão, integrando o meio militar. Em outubro de 1941, em meio ao turbulento contexto da Segunda Guerra Mundial – quando o Brasil, sob o regime do Estado Novo de Getúlio Vargas, ainda mantinha uma neutralidade precária perante o conflito global iniciado com a invasão alemã à Polônia em 1939 –, o interventor federal Adhemar Pereira de Barros, um médico, aviador e empresário visionário nomeado por Vargas para governar São Paulo desde 1938, tomou a iniciativa de doar uma aeronave Stinson SR-10E Reliant ao recém-criado Ministério da Aeronáutica (MAer). Essa doação, que refletia o espírito patriótico e o interesse pessoal de Adhemar pela aviação – ele próprio um piloto civil que utilizava aeronaves para supervisionar obras e projetos em seu estado –, visava integrar o avião à nascente Força Aérea Brasileira (FAB), fortalecendo sua frota incipiente. A ação ecoava uma contribuição similar ocorrida no início de 1940, quando um Stinson 105 Voyager fora doado à Aviação Naval da Marinha do Brasil, destacando o esforço coletivo para modernizar as forças armadas nacionais em um período de crescentes tensões internacionais, incluindo os ataques de submarinos alemães às costas brasileiras que culminariam na declaração de guerra aos Países do Eixo em agosto de 1942. Supõe-se que um dos termos dessa generosa doação estipulava que a aeronave permanecesse baseada em uma instalação aérea no estado de São Paulo, garantindo assim que o equipamento continuasse a servir aos interesses locais enquanto contribuía para a defesa nacional. O Stinson SR-10E Reliant, um modelo de asa alta e monomotor que representava o auge da engenharia aeronáutica americana da década de 1930, destacava-se por sua robustez e versatilidade, características que o tornavam ideal para missões de ligação e transporte em um país de vastas distâncias como o Brasil. Equipado com o motor radial a pistão Wright R-760E-1 Whirlwind de sete cilindros – um propulsor confiável que gerava 320 hp (239 kW) a 2.200 RPM ao nível do mar –, o avião oferecia um desempenho notável para a época, incluindo uma velocidade de cruzeiro de cerca de 241 km/h e um alcance de até 1.287 km, permitindo voos eficientes entre capitais regionais e simbolizando o progresso tecnológico que inspirava jovens aviadores brasileiros em uma era de transformação.

O processo de transferência foi concluído em dezembro de 1941, nesse momento, a matrícula civil PP-EAC foi cancelada, e o avião passou a ostentar inicialmente o registro militar "2", posteriormente alterado para "FAB 2653". Em março de 1942, redesignado como UC-SR10 Stinson – uma adaptação militar inspirada nas variantes usadas pelos Aliados –, foi alocado à Base Aérea de São Paulo (BASP), ficando à disposição do Quartel-General da 4ª Zona Aérea. Durante a Segunda Guerra Mundial, período em que a FAB se envolveu ativamente na patrulha antissubmarino no Atlântico Sul e enviou esquadrões para o teatro europeu, incluindo a participação heroica do 1º Grupo de Aviação de Caça na Itália em 1944-1945, essa aeronave operou em conjunto com outros modelos de transporte, executando missões orgânicas essenciais, como o deslocamento de oficiais e suprimentos, em benefício daquela unidade, contribuindo para o esforço de guerra que uniu a nação em torno de ideais de soberania e aliança internacional. Houve especulações sobre a incorporação de uma segunda aeronave do mesmo modelo à frota da FAB, que teria recebido inicialmente a matrícula militar "1" e, em seguida, "FAB 2652". No entanto, investigações posteriores revelaram que se tratava, na verdade, de uma célula do modelo Stinson 105 Voyager, erroneamente classificada como UC-SR10, o que gerou controvérsias nos registros históricos e ilustra as desafios de documentação em tempos de guerra, quando a urgência frequentemente superava a precisão burocrática. Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, marcado pela rendição incondicional da Alemanha em maio e do Japão em setembro, a Força Aérea Brasileira iniciou um amplo processo de reorganização de suas unidades e meios materiais, alinhando-se ao bloco ocidental durante os primórdios da Guerra Fria e adotando tecnologias mais avançadas, como os primeiros jatos Gloster Meteor na década de 1950. Apesar dessas mudanças, o Stinson SR-10E Reliant permaneceu alocado ao Quartel-General da 4ª Zona Aérea, continuando a desempenhar missões de ligação e transporte leve em benefício de oficiais e autoridades daquela unidade. ​Durante sua operação na Força Aérea Brasileira (FAB), a aeronave Stinson SR-10E Reliant, designada como "FAB 2653", demonstrou notável disponibilidade, realizando frequentemente missões para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte sem registros de falhas mecânicas, hidráulicas ou elétricas.  ​A manutenção do Stinson SR-10E era conduzida com rigor pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo (PqAerSP, posteriormente redesignado como Parque de Material Aeronáutico de São Paulo – PAMA-SP), responsável pela revisão de seu motor radial Wright R-760E-2 Whirlwind de 320 hp (239 kW). 
Este motor, amplamente utilizado em outras aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB),, como o Beechcraft Staggerwing e os modelos Waco CSO e CSJ, era conhecido por sua durabilidade e eficiência, características essenciais para operações em um país de dimensões continentais como o Brasil. Com o advento da segunda metade da década de 1950, a FAB enfrentava um período de renovação de sua frota, impulsionado pela aquisição de aeronaves mais modernas, como os caças a jato Gloster Meteor e os treinadores North American T-6 Texan, que refletiam a transição para uma era de maior sofisticação tecnológica e alinhamento com os padrões da Guerra Fria. Nesse cenário, constatou-se que as funções desempenhadas pelo Stinson SR-10E – missões de ligação, transporte de oficiais e tarefas administrativas – podiam ser realizadas por modelos mais novos, disponíveis em maior quantidade e com custos operacionais mais acessíveis. A operação de uma única célula do Reliant, embora confiável, tornou-se economicamente inviável devido aos elevados custos de manutenção de um modelo singular, que exigia peças específicas e cuidados técnicos especializados. Após sua última revisão geral, realizada com meticulosidade nas oficinas do PAMA-SP em março de 1957, a aeronave acumulou aproximadamente 400 horas de voo em apoio ao Quartel-General da 4ª Zona Aérea, desempenhando tarefas que incluíam o transporte de autoridades e a entrega de documentos críticos entre bases regionais. Em novembro de 1960, com a frota da FAB em plena modernização, a decisão foi tomada de desativar o Stinson SR-10E. A aeronave foi enviada de volta ao PAMA-SP, onde foi formalmente retirada do inventário do Ministério da Aeronáutica. Posteriormente, foi vendida a um operador particular e registrada no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) com a matrícula PT-BRT. Sob essa nova designação, o Reliant continuou a voar ativamente até o final da década de 1960, sendo utilizado em operações civis, possivelmente em serviços de táxi aéreo ou transporte executAnos mais tarde, reconhecendo o valor histórico do Stinson SR-10E como um dos primeiros aviões a integrar a frota da FAB e sua relevância para a memória aeronáutica nacional, a Força Aérea Brasileira readquiriu a aeronave com o propósito de preservá-la no acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), localizado no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, até ser desativado e armazenado no Aeroporto de Campo de Marte, em São Paulo. Um meticuloso processo de restauração foi empreendido para devolver o Stinson UC-SR10, novamente designado como "FAB 2653", à sua configuração militar original, passando a  integrar o acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL) no Rio de Janeiro. 

Em Escala.
Para representar com fidelidade o Stinson SR-10E Reliant UC-SR10 “FAB 2653”, optou-se pela utilização do único kit disponível no mercado referente a este modelo, produzido pela fabricante AMT na escala 1/48. Contudo, por tratar-se originalmente da versão SR-9, foi necessário realizar adaptações em scratch build para adequar a miniatura à configuração utilizada pela Força Aérea Brasileira. Dentre essas modificações, destaca-se a remoção do radiador de óleo, procedimento essencial para compor corretamente a variante aqui empregada. Adicionalmente, considerando a inexistência de um conjunto específico de decalques para este modelo, recorreu-se à aplicação de decalques provenientes de diferentes sets fornecidos pela FCM Decais, garantindo uma representação visual precisa da aeronave.
O esquema de cores (FS) descrito a seguir corresponde ao padrão de pintura civil originalmente aplicado à aeronave no momento em que foi doada pelo Governo do Estado de São Paulo ao Ministério da Aeronáutica (MAer), em 1941. Este padrão foi mantido ao longo de toda a sua vida útil operacional, até sua desativação em novembro de 1960. Atualmente, a aeronave encontra-se preservada no acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, ostentando este mesmo esquema de pintura, fielmente reproduzido durante o processo de restauração.

Bibliografia :
Stinson Reliant Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Stinson_Reliant
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
Aviação Militar Brasileira 1916 – 1984 Francisco C.  Pereira Neto