História e Desenvolvimento.
A Stinson Aircraft Company foi constituída em 1920 na cidade de Dayton, estado de Ohio, berço da aviação nos Estados Unidos, seu fundador, o empreendedor e aviador Edward "Eddie" Stinson, era irmão da renomada aviadora Katherine Stinson famosa por ser a quarta norte-americana a conseguir licença de voo e a primeira aviadora a voar a serviço Serviço Postal dos Estados Unidos. Inicialmente, a empresa concentrou-se na produção quase artesanal de aeronaves de pequeno porte destinadas a transporte para turismo e treinamento. Nos primeiros anos, as vendas foram limitadas, em grande parte devido ao lento processo de fabricação, que não atendia às expectativas de clientes que demandavam entregas rápidas, fato este levava a perda de vendas para a companhia. Determinado a expandir seus negócios, Edward "Eddie" Stinson identificou, no final de 1924, a cidade industrial de Detroit como um local estratégico para o crescimento da empresa, buscando além de mão obra, linhas para financiamentos. Após se estabelecer nesta cidade "Eddie" Stinson, passou a interagir com a comunidade empresarial local, obtendo uma recepção favorável para seus planos de expansão. Seus esforços logo dariam resultado, pois em agosto de 1925, um grupo de empresários, membros do Comitê de Aviação do Conselho de Comércio de Detroit, decidiu apoiar a iniciativa do empreendedor. Desta maneira seria a Stinson Aircraft Syndicate, uma empresa de porte médio instalada na zona industrial sudoeste da cidade de Detroit, próxima ao Aeroporto Metropolitano Wayne County. Esse empreendimento alavancaria um investimento de aproximadamente US$ 25.000,00, e dentro dos projetos na mesa, seria escolhido o desenvolvimento de uma aeronave monomotora de pequeno porte voltado para o mercado civil de transporte e turismo. O projeto foi prontamente iniciado, resultando na concepção e construção do modelo SBM-1 Detroiter, com primeiro voo dessa aeronave ocorrendo em 25 de janeiro de 1926, sob condições atmosféricas desafiadoras devido ao rigoroso inverno da região. Para enfrentar o terreno escorregadio, o avião foi equipado com correntes nas rodas, garantindo segurança durante a decolagem e o pouso, e apesar das intempéries a aeronave se sairia muito bem. O SBM-1 Detroiter destacava-se por sua capacidade de transportar até quatro pessoas e por incorporar inovações até então inéditas, como aquecimento interno da cabine, freios de roda individuais fabricados pela Harley-Davidson Inc e um sistema de partida elétrica para o motor Curtiss-Wright J-5 Whirlwind, de 220 cv (164 kW). Essas características marcaram um avanço significativo no design de aeronaves de pequeno porte da época.
Nesse contexto, o SBM-1 Detroiter foi submetido a um rigoroso programa de ensaios em voo, obtendo, em seguida, sua certificação pelos órgãos competentes norte-americanos e a subsequente autorização para produção em série. As notáveis características da aeronave aliadas a suas inovações técnicas e desing, rapidamente elevariam o modelo a um sucesso comercial, com dez unidades vendidas ainda em 1926 (um resultado relevante para aquele período). Esse êxito e os recurso amealhados pelas vendas, incentivou a diretoria da empresa a desenvolver uma versão aprimorada, um monoplano, agora apresentando um perfil de asa alta com capacidade para até seis passageiros, designado comercialmente como SM-1D Detroiter. Novamente a empresa conquistaria um novo sucesso em vendas que renderia a companhia grande notoriedade, permitindo a Edward "Eddie" Stinson captar US$ 150.000,00 em capital público para novos investimentos em estrutura e desenvolvimento de novos modelos, com este momento culminando na fundação da Stinson Aircraft Corporation em 4 de maio de 1926. Apaixonado pela aviação, "Eddie" Stinson também atuava nas horas disponiveis como piloto dublê, atividade que lhe rendia cerca de US$ 100.000,00 anuais, proporcionando recursos adicionais para seus investimentos na empresa. A partir de 1928, além de atender a operadores privados, os SBM-1 Detroiter passaram a integrar as frotas de companhias de transporte aéreo, como a Braniff Air Lines, de Paul Braniff, e a Northwest Airways. O crescimento constante dos negócios foi evidenciado pela entrega de 121 aeronaves em 1929 pela Stinson Aircraft Corporation. Em setembro de deste mesmo ano, Errett Lobban (E.L.) Cord, magnata da indústria automotiva e proprietário da Cord Corporation, adquiriu 60% das ações da Stinson Aircraft Corporation. Essa aquisição injetou capital e expertise, permitindo à empresa oferecer preços mais competitivos e, ao mesmo tempo, prosseguir com o desenvolvimento de novos projetos, fortalecendo sua posição no mercado aeronáutico. Nos três anos seguintes, a empresa lançou quatro novos modelos, incluindo o SM-2 Junior, voltado ao mercado de proprietários privados, todos alcançando expressivos resultados de vendas. Esses recursos financeiros possibilitaram a implementação de melhorias significativas, pavimentando o caminho para o desenvolvimento de um dos maiores sucessos comerciais da companhia.
Durante o auge da Grande Depressão, em 1930, a Stinson Aircraft Corporation oferecia ao mercado norte-americano uma gama de seis modelos de aeronaves, variando desde o SM-2 Junior, com capacidade para quatro ocupantes, até o trimotor Stinson 6000. O falecimento de Edward "Eddie" Stinson, ocorrido em 26 de janeiro de 1932, em um acidente aéreo em Chicago, Illinois, durante uma viagem de vendas, acelerou a incorporação da Stinson Aircraft Corporation por conglomerados corporativos maiores: inicialmente pela Cord Corporation, posteriormente pela Aviation Corporation (AVCO) e, finalmente, pela Consolidated Vultee Co. Sob a égide desta última, a Stinson Aircraft Corporation tornou-se uma divisão aeronáutica dentro dessa ampla corporação. A estratégia da empresa, nesse período, concentrou-se na ampliação de seu portfólio de aeronaves leves, com capacidade para dois ou três ocupantes, destinadas ao mercado civil para funções de ligação e treinamento básico. Esses esforços materializaram-se em maio de 1933, quando os engenheiros Robert W. Ayer e C. R. “Jack” Irvine desenvolveram um monomotor de asa alta, capaz de acomodar um piloto e três passageiros. Este modelo recebeu a designação de Stinson SR Reliant e estava inicialmente equipado com um motor radial Lycoming R-680 de 215 hp (160 kW). O protótipo realizou seu voo inaugural em julho de 1933 e, após concluir o programa de ensaios em voo, obteve certificação para operação civil ainda no mesmo ano. Lançado oficialmente no mercado norte-americano no final de 1933, o SR Reliant rapidamente conquistou notoriedade entre potenciais compradores, resultando em expressivas vendas. As versões subsequentes, como o Reliant SR-1, SR-2 e SR-3, consolidaram uma carteira de vendas superior à de qualquer outra aeronave de sua categoria nos Estados Unidos naquele período. O modelo Reliant SR-4 foi equipado com o motor de pistão radial Wright R-760-E de 250 hp (186 kW), mais potente que os das versões anteriores, ampliando sua participação no mercado. Em meados de 1938, a empresa lançou o SR-8E, com capacidade para cinco ocupantes. A versão final destinada ao mercado civil, o Reliant SR-10, foi introduzida em setembro de 1938, com 120 unidades comercializadas. A produção desta família de aeronaves pode ser dividida em dois tipos distintos: os Reliant de asa reta (todos os modelos até o SR-6) e os Reliant de asa de gaivota (todos os modelos do SR-7 em diante). O modelo Stinson SR-10 serviu como base para o desenvolvimento da versão militar AT-19, uma aeronave projetada para missões de treinamento intermediário. Tal versão foi concebida inicialmente para atender a um contrato envolvendo a produção de 500 unidades destinadas à Força Aérea Real (Royal Air Force) e à Marinha Real Britânica (Royal Navy), sendo fornecidas no âmbito do programa de ajuda militar conhecido como Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos).


Emprego na Força Aérea Brasileira.
A história do emprego do único Stinson SR-10E Reliant em uso militar no Brasil remonta a conturbada segunda metade da década de 1930, pois o presidente Getulio Vargas após ter chegado ao poder em 1930 com o apoio dos militares, encerraria a política do café com leite, caracterizada pela alternância de uma mesma oligarquia no poder. Vargas governou como presidente em exercício até as eleições da Assembleia Nacional Constituinte, em 1934. Sob uma nova constituição, tornou-se o presidente constitucional do Brasil, mas após uma insurreição comunista em 1935, as especulações aumentaram sobre um possível autogolpe. Os candidatos para a eleição presidencial de 1938 anunciaram suas candidaturas já no final de 1936. Vargas não pôde concorrer a um novo mandato, mas ele e seus aliados não estavam dispostos a abandonar o poder. Com o início oficial dos preparativos para o golpe em 18 de setembro de 1937, oficiais superiores militares utilizaram o Plano Cohen, um documento fraudulento, para provocar o Congresso Nacional a declarar o estado de guerra. Na manhã de 10 de novembro de 1937, os militares cercaram o Congresso Nacional. O ministério expressou a aprovação para a nova constituição corporativa, e um discurso na rádio de Vargas proclamou o novo regime, o Estado Novo. Como consequência do golpe um estado autoritário foi instalado no pais, as liberdades e direitos individuais foram retirados, o mandato de Vargas foi prolongado por seis anos, que passou a oito, e o poder dos estados evaporou-se. Apesar deste forte movimento de apoio a ditatura Vargas, havia diversos redutos de oposição espalhados pelo país que se fortaleciam gradativamente e podiam gerar ameaças de curto e médio prazo a homogenia do governo. Assim para que este processo se consolidasse e fosse duradouro, seria prioritário eliminar as resistências existentes nos meios civis e militares, formando um núcleo coeso em torno da ideia da continuidade de Vargas no poder. Uma das ferramentas adotadas por este governo foi o de estabelecer a prática do emprego de interventores federais nos estados, com estes assumindo as atividades exercidas pelos governadores outrora eleitos, mantendo em seus estados uma postura completamente a favor do governo federal. Todos os estados da federação passariam a contar com interventores federais a partir de 1937, havendo grande troca de interventores aos longos dos anos.
No estado de São Paulo, o primeiro interventor federal a assumir o governo foi Joaquim Cardoso de Melo Neto, que ocupou o cargo entre 11 de novembro de 1937 e 25 de abril de 1938. Sucedeu-o o general Francisco Silva Júnior, comandante da 2ª Região Militar, cuja gestão, contudo, foi breve ficando no cargo por apenas três dias, deixando o cargo por motivos particulares. Desta maneira a condução o mais importante estado da Federação se tornaria uma prioridade do governo federal. Nesse contexto, em 27 de abril de 1938, Adhemar Pereira de Barros, médico, político paulista e veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, foi indicado ao cargo de interventor federal por Benedito Valadares e Filinto Müller, sendo nomeado assim pelo presidente Getúlio Vargas. Proveniente de uma tradicional família de cafeicultores de São Manuel no interior do estado, Adhemar, que futuramente se destacaria como notável servidor público, demonstrava um entusiasmo singular pela aviação civil e esportiva, tendo obtido seu brevê de piloto na Europa em meados da década de 1920. Ao assumir a interventoria, Adhemar Pereira de Barros direcionou significativa atenção às iniciativas relacionadas à aviação civil no estado de São Paulo. Entre suas prioridades estava a modernização da pequena frota de aeronaves disponível para os gabinetes administrativos do governo estadual, o que resultou na aquisição e importação de diversos modelos de aeronaves. Entre estas estava uma célula do modelo Stinson SR-10E Reliant, que foi importado diretamente do fabricante no final do ano de 1939, sendo em seguida transladado em voo para o Brasil juntamente com outras duas aeronaves, chegando na capital paulista em janeiro do ano seguinte. Já incorporada a frota do governo estadual, esta aeronave seria inscrita no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), em 19 de janeiro de 1940, recebendo a matrícula civil PP-EAC. Em operação, este Stinson SR-10E Reliant foi inicialmente empregado de maneira intensiva em missões de transporte de autoridades e funcionários públicos a serviço do governo de São Paulo, desempenhando funções de ligação e transporte leve entre todo o estado, e eventualmente sendo empregado em rotas para a Capital Federal no Rio de Janeiro . A gestão de Adhemar Pereira de Barros nesse período reflete seu compromisso em fortalecer a infraestrutura aeronáutica civil do estado, alinhando-se aos seus interesses pessoais e à visão de modernização administrativa.

Em outubro de 1941, o interventor federal Adhemar Pereira de Barros, representando o Governo do Estado de São Paulo, decidiu doar a aeronave Stinson SR-10E Reliant ao recém criado Ministério da Aeronáutica (MAer) para ser incorporada Força Aérea Brasileira (FAB) a fim de compor sua frota. Essa iniciativa refletia uma ação semelhante ocorrida no início de 1940, quando um Stinson 105 Voyager foi doado à Aviação Naval da Marinha do Brasil. Supõe-se que um dos termos desta doação previa que a aeronave permanecesse sediada em uma base aérea no estado de São Paulo. O Stinson SR-10E Reliant destacava-se por sua modernidade e estava equipado com o confiável motor radial a pistão Wright R-760E-1 Whirlwind de sete cilindros, capaz de gerar 320 hp (239 kW) a 2.200 RPM ao nível do mar, proporcionando desempenho notável para a época. O processo de transferência foi concluído em dezembro de 1941, quando sua matrícula civil PP-EAC foi cancelada, passando a ostentar inicialmente o registro militar "2", posteriormente alterado para "FAB 2653". Em março de 1942, a aeronave, agora designada como UC-SR10 Stinson, foi alocada à Base Aérea de São Paulo (BASP), ficando à disposição do Quartel-General da 4ª Zona Aérea. Durante a Segunda Guerra Mundial, este avião operou em conjunto com outras aeronaves de transporte, realizando missões orgânicas em benefício daquela unidade. Houve especulações sobre a incorporação de uma segunda aeronave do mesmo modelo à frota da Força Aérea Brasileira (FAB), que teria recebido inicialmente a matrícula militar "1" e, posteriormente, "FAB 2652". Contudo, verificou-se que se tratava de uma célula do modelo Stinson 105 Voyager, erroneamente designada como UC-SR10, o que gerou a controvérsia. Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou um amplo processo de reorganização de unidades e meios. Apesar disso, o Stinson SR-10E Reliant permaneceu alocado ao Quartel-General da 4ª Zona Aérea, continuando a desempenhar missões de ligação e transporte leve em benefício dos oficiais e autoridades daquela unidade. Durante todo este período a aeronave apresentaria grande índice de disponibilidade, se deslocando frequentemente em missões para Rio de Janeiro e Belo Horizonte, não sendo registrado em seu prontuário nenhuma ocorrência de falha mecânica, hidráulica ou elétrica.

Em Escala.
Para representar com fidelidade o Stinson SR-10E Reliant UC-SR10 “FAB 2653”, optou-se pela utilização do único kit disponível no mercado referente a este modelo, produzido pela fabricante AMT na escala 1/48. Contudo, por tratar-se originalmente da versão SR-9, foi necessário realizar adaptações em scratch build para adequar a miniatura à configuração utilizada pela Força Aérea Brasileira. Dentre essas modificações, destaca-se a remoção do radiador de óleo, procedimento essencial para compor corretamente a variante aqui empregada. Adicionalmente, considerando a inexistência de um conjunto específico de decalques para este modelo, recorreu-se à aplicação de decalques provenientes de diferentes sets fornecidos pela FCM Decais, garantindo uma representação visual precisa da aeronave.
O esquema de cores (FS) descrito a seguir corresponde ao padrão de pintura civil originalmente aplicado à aeronave no momento em que foi doada pelo Governo do Estado de São Paulo ao Ministério da Aeronáutica (MAer), em 1941. Este padrão foi mantido ao longo de toda a sua vida útil operacional, até sua desativação em novembro de 1960. Atualmente, a aeronave encontra-se preservada no acervo do Museu Aeroespacial (MUSAL), no Rio de Janeiro, ostentando este mesmo esquema de pintura, fielmente reproduzido durante o processo de restauração.
Bibliografia :
Stinson Reliant Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/Stinson_Reliant
Aeronaves Militares Brasileiras 1916 – 2015 – Jackson Flores
Aviação Militar Brasileira 1916 – 1984 Francisco C. Pereira Neto