Citroen 2 CV Charleston


Historia e Desenvolvimento
André Gustave Citroën, engenheiro e empresário francês de ascendência judaica holandesa e polonesa, é reconhecido como uma figura seminal na história da indústria automotiva, tanto na França quanto no cenário internacional. Sua genialidade, marcada pela invenção das engrenagens bi-helicoidais, conhecidas como "espinha de peixe", pavimentou o caminho para inovações que transformariam o setor. Sua trajetória industrial teve início em 1912, com a fundação de uma modesta metalúrgica voltada à produção de armamentos leves para a infantaria. O advento da Primeira Guerra Mundial, em 1914, trouxe um impulso significativo aos seus negócios, posicionando sua empresa como um fornecedor estratégico para o governo francês. Durante o conflito, a metalúrgica expandiu sua produção, fabricando uma ampla gama de peças e componentes essenciais para a indústria de defesa nacional. Com o término da guerra em 1918, a empresa de Citroën enfrentou um desafio crucial: a drástica redução das encomendas militares deixou sua robusta capacidade produtiva ociosa. Demonstrando notável visão empreendedora, Citroën reorientou seus esforços para o mercado automotivo, lançando, no segundo semestre de 1919, o modelo Type A, seu primeiro automóvel de passeio. Este veículo, caracterizado por sua robustez e custo acessível, alcançou êxito imediato, conquistando o público francês. Contudo, a concorrência logo se adaptou, abandonando as tradicionais estruturas de madeira em favor de designs mais modernos, o que tornou os modelos iniciais da Citroën visualmente obsoletos. Determinado a manter a competitividade, André Citroën voltou-se à inovação. Em 1928, tornou-se pioneiro na Europa ao introduzir veículos inteiramente construídos em metal, um avanço técnico significativo. Esse marco foi seguido pelo lançamento do icônico Traction Avant, um automóvel revolucionário que incorporava três inovações fundamentais: a estrutura monobloco, a suspensão independente nas rodas dianteiras e a tração frontal. Essas características, sem paralelos na época, estabeleceram um novo padrão para a indústria automotiva, influenciando modelos icônicos como o Mini e o Volkswagen Golf décadas mais tarde, e permanecem presentes na maioria dos veículos modernos. Apesar de seu sucesso técnico, o desenvolvimento do moderno Traction Avant demandou investimentos vultosos, que comprometeram a saúde financeira da empresa. Em 1934, enfrentando dificuldades insustentáveis, a Citroën declarou falência e foi adquirida por seu principal credor, a fabricante de pneus Michelin. Felizmente, o Traction Avant foi calorosamente recebido pelo mercado, gerando resultados expressivos em vendas e rentabilidade. Esse sucesso não apenas revitalizou a marca, mas também consolidou sua presença no mercado francês e expandiu sua influência por toda a Europa..   

O Citroën 2CV foi oficialmente apresentado ao público no Salão do Automóvel de Paris, em 1948, trazendo um conceito que unia simplicidade, economia e funcionalidade. Equipado com um motor bicilíndrico de 375 cm³, refrigerado a ar, que desenvolvia modestos 9 cavalos de potência, o veículo causou impacto inicial não apenas por sua proposta inovadora, mas também por seu design peculiar. Um jornalista norte-americano, ao deparar-se com o 2CV, teria questionado, com humor, “onde está o abridor de latas?”, refletindo a surpresa que o estilo espartano do carro provocava. Contudo, a combinação de economia, simpatia e praticidade logo conquistou o público europeu, transformando o 2CV em um ícone cultural. Com um peso de apenas 560 kg, o 2CV compensava sua potência limitada com uma leveza que assegurava um desempenho adequado para sua proposta. A nomenclatura “deux chevaux” (dois cavalos, em francês) referia-se à potência fiscal, uma classificação que enquadrava o veículo em políticas governamentais francesas de incentivo fiscal a carros populares. Essa estratégia tornou o 2CV uma opção acessível, especialmente em um continente em reconstrução após a Segunda Guerra Mundial. Respondendo às crescentes demandas do mercado por maior desempenho, a Citroën lançou, em 1954, uma versão aprimorada com um motor de 425 cm³, que entregava 12 cavalos de potência e permitia ao veículo atingir uma velocidade máxima de 80 km/h. No mesmo período, a empresa introduziu a versão furgão do 2CV, projetada para o transporte de pequenas cargas em ambientes urbanos. A versatilidade dessa variante impulsionou sua popularidade, levando a Citroën a expandir sua produção a partir de 1957, com linhas de montagem estabelecidas em subsidiárias no Camboja e na Espanha. Em 1958, a Citroën apresentou o modelo Sahara, uma versão ousada equipada com dois motores de 425 cm³, tração nas quatro rodas e 24 cavalos de potência, capaz de alcançar 100 km/h. Embora sua produção tenha começado apenas em 1960, estendendo-se até 1966 com cerca de 700 unidades fabricadas, o Sahara destacou-se por sua robustez em terrenos desafiadores. A expansão global do 2CV continuou, com sua produção iniciada em Portugal em 1964 e, posteriormente, na América do Sul, por meio de acordos de montagem no regime CKD (completely knocked down) em países como Paraguai, Uruguai e Equador. O preço competitivo do 2CV foi um fator determinante para seu sucesso. Na Alemanha Ocidental, durante a década de 1950, o modelo era comercializado por aproximadamente metade do valor de um Volkswagen Fusca, consolidando sua posição no mercado de carros econômicos. Contudo, a partir da mesma década, a concorrência nesse segmento intensificou-se com a chegada de modelos como o alemão Messerschmitt KR175 e o italiano Isetta, desafiando a liderança da Citroën. Apesar disso, a combinação de acessibilidade, durabilidade e carisma assegurou ao 2CV um lugar especial no coração dos consumidores e um legado duradouro na história automotiva.
O modelo só seria oficialmente apresentado no Salão de Paris de 1948, com um motor bi cilíndrico de 375 cm3 que desenvolvia 9 cv de potência, refrigerado a ar. Inicialmente, o estilo seria considerado polêmico, segundo relatos, um jornalista norte-americano ao ver pela primeira vez o Citroën 2CV, perguntou: "E onde está o abridor de latas? Porém sua economia, simpatia e praticidade acabaram prevalecendo e conquistando o público. Embora a potência fosse contida, o veículo era extremamente leve pesando apenas 560 kg, não comprometendo tanto seu desempenho. Conforme citado anteriormente, a nomenclatura oficial do modelo de “deux chevaux”, que significa dois cavalos, fazia referência a potência do veículo, buscando assim enquadramento em políticas governamentais de redução de impostos para carros populares. Apesar do desempenho dentro do mínimo aceitável, o mercado consumidor naquele período exigia cada vez maior potência, levando a empresa em 1954 a adotar um novo motor de 425 cm3 com 12 cavalos de potência, elevando assim a velocidade máxima a 80 km/h.  Neste momento seria lançada também a versão furgão, destinada ao transporte e entrega de pequenas cargas, principalmente em ambiente urbano. O sucesso desta nova versão, faria a montadora a expandir sua produção a partir do ano de 1957, passando a montar seus modelos em subsidiarias no Camboja e na Espanha. Ainda em 1958, a montadora apresentaria a versão Sahara, com dois motores de 425 cm3, 24 cv de potência e tração nas quatro rodas, chegando a alcançar 100 km/h, mas sua produção só seria iniciada dois anos mais tarde, em 1960 perdurando até o ano de 1966 com quase setecentas unidades completadas. No ano de 1964 a família Citroen 2CV passaria a ser produzido em Portugal, e sete anos depois desembarcaria na América do Sul através de acordos de montagem no regime CKD (completely knocked down) Paraguai, Uruguai e Equador. O preço de venda do Citroen 2CV era baixo em relação à concorrência, na Alemanha Ocidental durante a década de 1950 por exemplo, ele custava cerca de metade do preço de um Volkswagen Sedan “Fusca”. Porém a partir da primeira metade desta mesma década, o mercado de carros econômicos na Europa estava em ampla expansão, gerando um aumento da concorrência que seria representado principalmente pelo alemão Messerschmitt KR175 e o italiano Isetta, passando a ameaçar assim a liderança francesa neste mercado. 

Na década de 1960, o Citroën 2CV enfrentou desafios significativos no mercado automotivo europeu, à medida que competidores como o Simca 100, baseado em tecnologia licenciada pela Fiat, e o hatchback Renault 4 ganharam popularidade, especialmente no mercado francês. 
Esses modelos, juntamente com os chamados “microcarros” — como o Messerschmitt KR175 e o Isetta —, começaram a atrair consumidores devido a seus preços mais acessíveis, apesar de oferecerem desempenho e capacidade de transporte inferiores ao 2CV. Mesmo diante dessa concorrência crescente, o 2CV manteve sua relevância, sustentado por sua robustez, economia e carisma, qualidades que o tornaram um ícone duradouro. Além de seu sucesso comercial, o Citroën 2CV encontrou um nicho inesperado no campo militar, demonstrando sua versatilidade e confiabilidade. Em 1961, a Marinha Real Britânica (Royal Navy) adquiriu 65 unidades do modelo, incluindo versões padrão e picape, para uso pelos Regimentos de Comandos dos Fuzileiros Reais (Royal Marines). A escolha do 2CV foi motivada por sua leveza — com apenas 560 kg — e robustez, características ideais para operações em ambientes desafiadores, como selvas, onde o veículo podia ser transportado por helicóptero a partir de porta-aviões. Sua performance em condições adversas rendeu elogios e abriu portas para adoções adicionais. O sucesso do 2CV no cenário militar britânico inspirou as Forças Armadas Francesas a incorporá-lo em diversas funções. O Exército Francês (Armée de Terre), a Força Aérea Francesa (Armée de l’Air) e a Marinha Nacional (Marine Nationale) adotaram o modelo em versões como transporte de pessoal, furgão utilitário e ambulância. Muitas unidades foram adaptadas para missões específicas, incluindo configurações para reconhecimento armado equipadas com metralhadoras Browning M-2 calibre .50, veículos de comando com rádio e até mesmo plataformas para canhões sem recuo de 106 mm. Essa versatilidade reforçou a reputação do 2CV como um veículo excepcionalmente adaptável. No final da década de 1970, o Exército Francês solicitou à Citroën o desenvolvimento de uma versão militar com tração nas quatro rodas, resultando no Citroën Méhari 4x4. Este utilitário leve, projetado para operações cross-country, contava com uma carroceria metálica e era equipado com um motor bicilíndrico de 652 cm³, refrigerado a ar, com ignição eletrônica integral. O motor entregava uma potência máxima de 34 cv a 5.750 rpm e um torque de 36 lb.ft a 3.500 rpm, oferecendo desempenho confiável em terrenos variados. Aproximadamente 400 unidades do Méhari 4x4 foram adquiridas pelas Forças Armadas Francesas, permanecendo em serviço ativo até meados da década de 1990. 
Nas décadas de 1960 e 1970, o Citroën 2CV consolidou sua versatilidade ao ser adotado por diversas forças armadas, especialmente em nações africanas, muitas das quais eram ex-colônias francesas. Esses veículos, valorizados por sua robustez e adaptabilidade, foram empregados em uma ampla gama de funções, desde transporte de pessoal até operações táticas, demonstrando sua capacidade de atender às demandas de contextos desafiadores. A produção do 2CV, iniciada em 1948, perdurou até julho de 1990, quando a última unidade deixou a linha de montagem da fábrica portuguesa da Citroën, em Mangualde, em uma cerimônia que marcou o fim de uma era. Ao longo de mais de quatro décadas, a família 2CV alcançou a impressionante marca de mais de cinco milhões de unidades produzidas, consagrando-se como o modelo mais popular da história da Citroën e um dos mais emblemáticos da indústria automotiva. Uma variante notável, o Citroën Méhari, foi produzida sob licença pela Nordex no Uruguai, com adaptações que refletiam as necessidades locais. Equipado apenas com tração dianteira, o Méhari uruguaio utilizava componentes mecânicos fornecidos pela Citroën Argentina e uma carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro, uma solução prática que dispensava os complexos processos de moldagem por injeção usados na França. Essa versão destacou a capacidade da Citroën de adaptar seus projetos a diferentes realidades, mantendo a essência de funcionalidade e acessibilidade do 2CV. O Citroën 2CV transcendeu sua função como veículo utilitário para tornar-se um símbolo cultural, especialmente na Europa das décadas de 1950 e 1960. Sua popularidade foi eternizada nas páginas de As Aventuras de Tintim, do renomado quadrinista Hergé, onde o 2CV apareceu em O Caso Girassol, conduzido pelos icônicos detetives Dupond e Dupont. O carisma do modelo também foi celebrado em uma edição especial dos chocolates Côte d’Or, que uniu personagens de Tintim a diversos modelos da Citroën, reforçando seu lugar na história automotiva e na cultura popular. Concebido inicialmente como um veículo popular para atender às necessidades do pós-guerra, o 2CV revelou-se um ícone de resiliência, inovação e simpatia. Sua capacidade de se adaptar a cenários tão diversos quanto o mercado civil e o setor militar, aliada à sua simplicidade e durabilidade, garantiu-lhe um legado singular. O Citroën 2CV não foi apenas um automóvel, mas uma expressão do espírito visionário da Citroën, que, com criatividade e determinação, superou desafios para criar um veículo que marcou gerações e permanece vivo na memória coletiva.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
O Citroën 2CV, um ícone de simplicidade e versatilidade, teve um papel inesperado no cenário militar brasileiro, com sua utilização temporária pelo Exército Brasileiro e pela Força Aérea Brasileira durante a década de 1950. Essa participação foi diretamente influenciada por eventos históricos desencadeados pela nacionalização do Canal de Suez, anunciada pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em julho de 1956. A decisão de Nasser foi uma resposta à recusa dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha em financiar a construção da Barragem de Aswan, após preocupações com a crescente aproximação do Egito a nações comunistas, como a União Soviética e a Tchecoslováquia. Esse episódio marcou um momento crucial na história do Oriente Médio e da geopolítica global, com reflexos que alcançaram até mesmo o uso do modesto 2CV em operações militares. O Canal de Suez, com seus 163 quilômetros conectando o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, foi construído entre 1859 e 1869, a um custo humano devastador: mais de 120 mil egípcios perderam a vida, muitos devido à cólera. Propriedade conjunta do Egito e da França, o canal era uma artéria vital para o comércio global, permitindo que embarcações viajassem da Europa à Ásia sem contornar o continente africano pelo Cabo da Boa Esperança. Em 1879, pressionado por dívidas externas, o Egito vendeu sua participação à Grã-Bretanha, que, em 1882, enviou tropas para proteger seu novo ativo estratégico, consolidando sua influência na região. No século XX, o nacionalismo árabe, ou “arabismo”, emergiu como uma força poderosa, defendendo a união dos povos árabes, do Marrocos ao Golfo Pérsico, sob uma única nação. Embora utópica, essa ideia ganhou força significativa nas décadas de 1950 e 1960, especialmente sob a liderança carismática de Nasser. Utilizando o rádio portátil como ferramenta de comunicação, Nasser disseminou a mensagem do arabismo, alcançando até os rincões mais remotos do mundo árabe. Seu discurso, centrado no arabismo, na justiça social e na luta contra Israel, desafiou líderes regionais associados às potências coloniais, enfraquecendo sua influência. A nacionalização do Canal de Suez intensificou as tensões, alinhando Grã-Bretanha, França e Israel contra o Egito. Para o mundo árabe, a criação de Israel era vista como um legado do colonialismo, e a luta contra o país tornou-se uma causa central do nacionalismo árabe. Contudo, a ambição de Nasser, embora inicialmente galvanizadora, contribuiu para sua queda, à medida que a Crise do Suez e os conflitos subsequentes expuseram as fragilidades de sua visão.

A nacionalização do Canal de Suez, anunciada pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em julho de 1956, desencadeou uma das crises mais marcantes do século XX, com consequências que ecoaram globalmente. Em resposta à recusa de Estados Unidos e Grã-Bretanha em financiar a Barragem de Aswan, Nasser declarou lei marcial na região do canal e assumiu o controle da Companhia do Canal de Suez, apostando que as receitas dos pedágios financiariam a construção da represa em cinco anos. Essa decisão alarmou Grã-Bretanha e França, que temiam o fechamento do canal e a interrupção do fornecimento de petróleo do Golfo Pérsico para a Europa, uma artéria vital para suas economias. Frustradas as tentativas diplomáticas de resolver o impasse, Grã-Bretanha, França e Israel planejaram uma operação militar surpresa em outubro de 1956. Forças israelenses invadiram o Egito, seguidas pelo desembarque de tropas britânicas e francesas em portos egípcios em novembro. A campanha, no entanto, enfrentou forte resistência, tanto interna — com protestos nos dois países europeus — quanto internacional, sob a ameaça de intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Soviética. Esse conflito, conhecido como a Crise do Canal de Suez, marcou um momento de inflexão na geopolítica global. Nesse contexto, a ONU criou, em 1956, sua primeira Força de Paz, a Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez, ou FENU-Suez, em português), com o objetivo de mediar a crise e restaurar a estabilidade na região. O Brasil, como membro da ONU, foi convocado a integrar a comissão internacional de estudos sobre o conflito, desempenhando um papel significativo nos esforços diplomáticos. Em dezembro de 1956, as forças da ONU supervisionaram a evacuação das tropas britânicas e francesas, enquanto as forças israelenses se retiraram em março de 1957, em um processo que representou uma derrota humilhante para as potências invasoras. Além de sua contribuição diplomática, o Brasil enviou um contingente militar ao Oriente Médio, demonstrando seu compromisso com a paz internacional. Esse grupamento, formado por militares de diversas regiões do país, incluiu uma participação notável do estado do Rio Grande do Sul, historicamente reconhecido por sua tradição militar. Três dos vinte contingentes que compuseram o Batalhão de Infantaria, conhecido como Batalhão Suez, foram fornecidos por esse estado, refletindo sua relevância na formação dessa força. O Batalhão Suez, integrado à UNEF, simbolizou o esforço brasileiro em promover a estabilidade em um cenário de tensões globais.
Entre janeiro de 1957 e julho de 1967, o Brasil desempenhou um papel significativo na Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez), enviando um total de vinte contingentes militares para o Egito como parte de uma missão multinacional de paz. As primeiras tropas do Exército Brasileiro chegaram ao teatro de operações em fevereiro de 1957, integrando uma força composta por militares de dez nações: Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Finlândia, Índia, Indonésia, Iugoslávia, Noruega e Suécia. Esses efetivos, formados integralmente em unidades militares nacionais, foram equipados com uma variedade de veículos e armamentos fornecidos por diferentes países, refletindo a colaboração internacional da missão. Entre os equipamentos utilizados, destacaram-se veículos de origem norte-americana, como os blindados Ford M-8 Greyhound, Ford M-20 Command Car, Jeeps Willys MB, Ford GPW, Dodge WC-52, WC-53, WC-56 e Ford M-151 Mutt, além de caminhões britânicos Bedford e carros de reconhecimento Coventry Armoured Car Mk.I. O Brasil contribuiu com caminhões FNM D-11000 e picapes Volkswagen Kombi, enquanto a França forneceu veículos da família Citroën 2CV, incluindo carros, picapes e ambulâncias. A comissão de material das Nações Unidas selecionou o Citroën 2CV Charleston como veículo principal para tarefas administrativas, com noventa unidades cedidas pelo governo francês, provenientes dos estoques do Exército Francês (Armée de Terre). Esses veículos foram distribuídos entre os dez países participantes da UNEF-Suez, com o comando militar brasileiro recebendo seis sedans, uma ambulância e duas picapes do modelo Citroën 2CV. Dessas viaturas, duas foram destinadas à Polícia do Exército (PE), cinco ao Exército Brasileiro e uma à Força Aérea Brasileira, que manteve um destacamento administrativo permanente na região. Esse destacamento desempenhou um papel crucial na logística, especialmente na manutenção de uma ponte aérea de correio entre o Brasil e o Egito, assegurando a comunicação e o suporte às tropas. Embora não haja registros oficiais confirmando o uso de ambulâncias Citroën 2CV, a versatilidade e a confiabilidade do modelo o tornaram ideal para as necessidades da missão. A presença do 2CV em um cenário tão exigente quanto o da Crise do Suez reflete sua capacidade de adaptação, indo além de sua concepção original como veículo popular para o público civil. A participação brasileira na UNEF-Suez, apoiada por esses veículos, simboliza o compromisso do país com a paz internacional e sua habilidade de atuar em contextos desafiadores com determinação e solidariedade. O Citroën 2CV, com sua simplicidade e robustez, tornou-se não apenas um meio de transporte, mas também um emblema da resiliência que marcou essa missão histórica.
O Citroën 2CV Charleston, com seu design singular e desprovido de paralelos com os veículos disponíveis no Brasil na década de 1950, despertou imediata curiosidade entre os militares brasileiros que participaram da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-Suez). Sua estética incomum, aliada à simplicidade de condução, conquistou os oficiais, que, apesar da modesta potência de seu motor, elogiaram sua funcionalidade. Um dos destaques do modelo era seu teto removível de lona, que oferecia praticidade e ventilação em um ambiente tão hostil quanto o deserto egípcio. A robustez do 2CV, equipado com um confiável motor boxer refrigerado a ar, revelou-se ideal para as condições desafiadoras da região, com poucos registros de falhas mecânicas, comprovando sua adequação às exigências do teatro de operações. Durante quase uma década, de 1957 a 1967, os Citroën 2CV Charleston e suas variantes — incluindo sedans, picapes e ambulâncias — serviram às forças brasileiras na UNEF-Suez, desempenhando tarefas administrativas essenciais para o funcionamento da missão multinacional de paz. Embora seu papel fosse modesto, esses veículos contribuíram significativamente para a logística da operação, apoiando os esforços de uma força composta por dez nações em um período de grande instabilidade no Oriente Médio. Os militares brasileiros, conhecidos como “boinas azuis”, enfrentaram condições extremas na Faixa de Gaza, incluindo calor escaldante, tempestades de areia e a constante ameaça de minas terrestres, enquanto patrulhavam incansavelmente as fronteiras entre Israel e Egito. Em meio a tamanha tensão, o 2CV se destacou como um aliado confiável, facilitando a mobilidade e a comunicação em um cenário de incertezas. Ao término da participação brasileira na missão, em julho de 1967, os Citroën 2CV, assim como os demais equipamentos utilizados pelas nações envolvidas, foram deixados no Egito. Não há registros oficiais que esclareçam seu destino final — se foram incorporados às forças armadas egípcias ou simplesmente abandonados. Contudo, o legado desses veículos transcende sua presença física. O 2CV, inicialmente projetado como um carro popular para o público civil, revelou-se um símbolo de resiliência e adaptabilidade, desempenhando um papel humilde, mas valioso, em uma missão dedicada a promover lampejos de paz em uma região marcada por conflitos. A história do Citroën 2CV na UNEF-Suez reflete não apenas a versatilidade de um ícone automotivo, mas também o compromisso brasileiro com a cooperação internacional e a busca por estabilidade em um mundo dividido.

Em Escala.
Para representarmos o Citroen 2CV Charleston em serviço ao Exército Brasileiro durante sua participação na FENU- SUEZ (Força de Emergência das Nações Unidas), empregamos o excelente kit da Revell presente na escala 1/24. Não há necessidade de se proceder nenhuma alteração para se  compor a versão utilizada pelo Brasil. Empregamos decais na escala 1/35 confeccionados sob encomenda pela Eletric Products , presentes no Set “Suez - 1957 / 1967".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura padrão empregado em todos os veículos participantes das Forças de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas), durante a crise do Canal de Suez. Somente os carros pertencentes a Policia Militar do Exército Brasileiro (PE) apresentavam diferenças sutis neste esquema de pintura.



Bibliografia: 
- Citroën 2 CV vai completar 70 anos - https://jornaldocarro.estadao.com.br
- Citroen 2 CV Wikipédia - https://en.wikipedia.org/wiki/Citro%C3%ABn_2CV
- Citroen 2 Cv  – http://www.citroenet.org.uk/
- Batalhão Suez -   http://www.batalhaosuez.com.br