História e Desenvolvimento.
No final da primeira metade da década de 1930 o Exército dos Estados Unidos (US Army) dispunha em seu arsenal, como arma de maior calibre, metralhadoras automáticas, do tipo .50 (12,7mm) nas unidades de infantaria. Embora já houvessem estudos em curso, nesta organização para a adoção de uma arma de maior calibre, para emprego contra veículos automotores e carros blindados, este processo ainda era tido como embrionário gerando pouco interesse por parte dos oficiais militares de alta patente norte-americanos. O eclodir da Guerra Civil Espanhola, em 17 de julho de 1936, iria descortinar uma nova realidade em termos de combate moderno. No campo das forças terrestres, o largo emprego de unidades blindadas por ambos os lados, proporcionou o ambiente necessário para o uso de artilharia contra veículos blindados e carros de combate. Neste momento, essa nova realidade levaria o comando do Exército Americano (US Army) a repensar este conceito. Vislumbrava-se a necessidade de se dispor no arsenal norte americano, de uma arma com capacidades anticarro e antitanque, com rápida cadência de fogo e boa capacidade de manobra e movimentação em campo. Assim desta maneira, esforços foram concentrados neste processo, e em janeiro de 1937, o Comitê de Artilharia do Exército Americano (US Army) recomendou o desenvolvimento de tal tipo de arma, em regime de grande urgência, visando assim modernizar as capacidades de combate nesta nova realidade bélica. Estudos preliminares, derivaram para análise de modelos de peças de artilharia leve, já disponíveis no mercado, e com base em um modelo exitoso, partir para o desenvolvimento de uma arma própria deste modelo.
Entre os canhões anticarro e antitanques selecionados para a análise estavam o canhão sueco Bofors, o japonês Tipo 94, os tchecoslovacos Vz. 34 e Vz. 37, e por fim o alemão Rheinmetall 37mm PaK 36. A decisão recairia sobre o modelo alemão, levando assim a aquisição de duas unidades deste canhão antitanque leve, com finalidades de avaliação real. Após o recebimento no Estados Unidos, estas peças foram encaminhadas ao campo de provas do Exército Americano (US Army) em Aberdeen em maio de 1937. Assim estas armas seriam empregadas em grande programa de testes de campo, e os resultados positivos aferidos neste processo, levariam a decisão de se empregar estas armas alemães como ponto de partida para o desenvolvimento de canhão antitanque com calibre de 37 mm. Este programa seria iniciado com supervisão de uma grande equipe de representantes das unidades de infantaria e artilharia do Exército Americano (US Army). Em 09 de setembro do mesmo, seria concedida dentro do orçamento militar vigente, a autorização para a construção de protótipos funcionais. Nascia assim a primeira versão de um canhão anticarro e antitanque de calibre de 37 mm, recebendo a designação oficial de T3, que era montado sobre um conjunto de transporte T1. Porém divergências, entre as linhas de pensamento diversas dos futuros usuários levariam a modificações no conjunto de transporte, com a versão aprimorada recebendo a designação de T1E1. Já nesta nova configuração os protótipos foram submetidos a um novo programa de teste no campo de provas de Aberdeen, revelando muitos defeitos, em especial a instabilidade do conjunto de transporte. Um novo redesenho levaria concepção de um novo conjunto de transporte, designado como T5, sendo este testado no verão de 1938, com a comissão de desenvolvimento chegando ao consenso que a melhor combinação para emprego envolveria o canhão T10 com conjunto de transporte T5.
A combinação ideal definida no processo de testes em Aberdeen, foi oficialmente adotada em 15 de dezembro de 1938, recebendo a designação de M3 37 mm, para o canhão e M4 para o conjunto de transporte. Os primeiros contratos de aquisição seriam assinados no inicio do ano seguinte, envolvendo uma pequena quantidade inicial a ser produzida, com o canhão sendo fabricado nas instalações do no Arsenal de Watervliet, e o conjunto de transporte reboque no Arsenal de Rock Island. Embora esta arma anticarro e antitanque, seguisse o conceito do canhão Rheinmetall 37mm PaK 36, e fosse geralmente referido com uma cópia deste, o M3 37 mm, diferia significativamente do design alemão, empregando inclusive munição diferente. O cano da arma apresentava construção forjada em uma peça única, com fuzil uniforme (12 ranhuras, torção do lado direito, um giro em 25 calibres). A extremidade da culatra foi enroscada em um anel, com seu mecanismo dispondo do tipo “deslizante vertical”, com seu cano equipado com um sistema de recuo do tipo hydrospring. O conjunto de transporte M4, apresentava o sistema do tipo “split trail”, com pneus pneumáticos, montados no eixo ao lado das rodas, dispondo de suportes escamoteáveis, que podiam assim ser baixados para fornecer mais estabilidade na posição de disparo ou levantados de modo que não impedissem o movimento da arma. A mira telescópica da versão M6 e os dois controles de elevação e de deslocamento estavam localizados no lado esquerdo, de modo que um artilheiro tinha conseguisse facilmente apontar a arma. A engrenagem transversal tinha um mecanismo de liberação que permitia o livre movimento do cano no caso de ser necessário um avanço rápido.
O canhão M3 37 mm receberia seu batismo de fogo durante a batalha pela defesa das Filipinas em dezembro de 1941, e teve destacada participação na Campanha de Guadalcanal, onde foi empregado com sucesso contra os carros de combate e a infantaria japonesa. Ao longo da campanha do Pacifico esta peça de artilharia permaneceu eficaz contra veículos japoneses, que eram pouco blindados e raramente atuavam em grandes grupos. O peso leve da arma facilitou sua movimentação por terrenos difíceis. Por exemplo, quando atacados por tanques japoneses em Betio durante a Batalha de Tarawa, nesta ocasião os fuzileiros navais norte-americanos, foram capazes de levantar o M3 37 mm sobre o paredão de 1,5 metros. Enquanto a munição do tipo “alto explosivo”, mostrou-se útil para deter ataques de infantaria do exército japonês, porém quando empregados em ataques a fortificações, foram classificados como pouco eficazes. No entanto sua eficácia geral e facilidade de uso e movimentação no campo de batalha mantiveram o M3 37 mm, em serviço no Corpo de Fuzileiros Navais (US Marine Corps) e no Exército Americano (US Army) no teatro de operações do Pacifico, até o final da guerra. Já a experiencia do modelo na Campanha do Norte da África seria completamente diferente, pois o calibre de 37 mm não era suficiente para fazer frente aos carros de combate alemães Panzer III e IV. Após a desastrosa Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, relatos de algumas das unidades envolvidas mencionaram projéteis de 37 mm, mal arranhavam os blindados alemães. Inicialmente, o comando norte americano, estava incerto, se se esses relatos refletiam a obsolescência da arma, ou ao emprego táticas não-refinadas, aliadas a falta de experiência dos artilheiros. Assim no teatro de operações europeu, os M3 37 mm passariam a ser substituídos a partir de 26 de maio de 1943, pelos canhões M1 de 57mm (a versão norte-americana da arma britânica de 6 libras).
Quando a campanha de invasão da Itália foi deflagrada, os canhões M3 37 mm, foram empregados desde os primeiros dias do desembarque na Sicília, a partir do dia 10 de julho de 1943. Naquela oportunidade, os M3 37 mm, demonstraram mais uma vez sua eficácia contra carros de combate desenvolvidos na década anterior, principalmente os tanques franceses Renault R35 que dotavam algumas unidades de defesa do Exército Italiano. Porém novamente, apresentaram a mesma incapacidade de lidar com as ameaças modernas, representada pelos modernos carros de combate alemães. Porém o teatro italiano, quando analisado pelo comando aliado, representava uma menor prioridade para o reequipamento, do que quando comparado as demandas do noroeste da Europa. Assim ainda existiam muitos canhões M3 37 mm em uso na Itália até o final do conflito, ao contrário do que o observado nos demais fronts de batalha, ou o canhão M1 57 já havia substituído seu antecessor completamente até a primavera do ano de 1944. Entre os anos de 1940 e 1943, seriam produzidos 18.702, canhões M3 37 mm, dispostos em três modelos básicos. Durante o conflito, este modelo de arma anticarro e antitanque seriam ainda as nações aliadas nos termos do programa de Leand & Lease Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos). No período pós-guerra, volumes excedentes destas armas seriam transferidos aos arsenais de nações politicamente alinhadas aos interesses do governo norte americano, se mantendo em serviço ativo nestes países, até fins da década de 1970.
Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil ao passar a representar uma posição estratégica no cenario mundial, representando um importante fornecedor de matérias primas estratégicas e detentor de um território com pontos estratégicos extremamente propícios em seu litoral nordeste para o estabelecimento de bases aérea e operações portuárias. E neste contexto o país passaria a ser agraciado com diversas contrapartidas comerciais e militares, e neste último aspecto sendo submetido a um completo processo de modernização não só em termos de doutrina operacional, mas também em termos de armamentos e equipamentos militares norte-americanos de última geração. A adesão do Brasil ao programa Leand & Lease Bill Act (Lei de Arrendamentos e Empréstimos), criaria ao país uma linha de crédito da ordem de cem milhões de dólares, para a aquisição de material bélico proporcionando acesso a modernos armamentos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. E neste cenario o Exército Brasileiro passaria a receber uma variada gama de peças de artilharia, com equipamentos variando entre os calibres de 37 mm a 305 mm, passando assim a substituir nas linhas de frente antigos canhões de campanha de origem francesa, alemã e inglesa, representando assim um grande avanço tecnológico e operacional para a artilharia da força terrestre brasileira, que até então operavam com equipamento completamente defasado e de questionável efetividade operacional quando empregados no moderno cenário de enfrentamento terrestre.
Uma pequena parte destas peças de artilharia deveriam ficar no Brasil, para assim equipar as unidades mecanizadas do Exército Brasileiro, e outra parte estava destinada a compor os efetivos da Força Expedicionária Brasileira que se preparava para lutar na Itália. Não existem registros concretos ou fotográficos sobre o real emprego dos canhões antitanque M3 e M3A1 em ações reais de combate, especula-se que, no entanto, estas peças de artilharia foram empregadas com afinco no processo de treinamento ministrado pelo Exército Americano (US Army) para os pracinhas brasileiros já em solo italiano. Outra teoria corrobora que o front italiano não estava, entre os de demanda prioritária para o recebimento de materiais e armamentos mais modernos, assim grande o V Exército Americano, comandado pelo General Mark Clark, e ao qual a Força Expedicionária Brasileira estava integrada, apresentava em seus arsenais mais canhoes M3 37mm do que os mais recentes e capazes M1 57 mm, com relatórios oficiais indicando o uso destes canhões pelo menos até fins do ano de 1944. O pesquisador norte-americano Steven j. Zaloga, em seu livro "US Anti-tank Artillery 1941-1945", cita em seu capítulo referente ao combate antitanque na Itália, que devido a topografia do país, e consequentemente os palcos de batalha terem ocorrido em terrenos acidentados ou montanhosos, as unidades antitanque norte americanas, preferiam o emprego dos canhões M3 37 mm, por serem extremamente mais leves e manobráveis em relação ao seu sucessor o M1 57 mm. Vale citar que este primeiros podiam ser facilmente tracionados por jeeps, ao contrario das demais peças que necessitavam ser rebocadas por veículos de maior porte e potência.
A exemplo da formatação original do Exército Americano (US Army) os canhões antitanque M3 37 mm, podem ter sido empregados em conjunto com os M1 57 mm, sendo operados pelo 1º Regimento de Infantaria – Sampaio, 6º Regimento de Infantaria – Ipiranga e 11º Regimento de Infantaria – Tiradentes, e também pela Companhia Anticarros. Ao término do conflito todos os canhões anticarros e antitanques M3 e M3A1 37 mm, foram despachados ao Brasil, juntamente com os demais carros e equipamentos empregados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Já recebidos no Rio de Janeiro em meados de 1945, estes canhões foram incorporados as unidades que já operavam pelo menos 48 peças recebidas no país no ano de 1942. Nos Regimentos de Infantaria (R.I.), estas peças de artilhariam eram tracionados pelos blindados M3A1 Scout Car e por também por Jeeps e Dodges WC-51 e WC-52 Beep com tração 4X4. Já em emprego constante no Exército Brasileiro, este modelo de canhão apresentava a vantagem de empregar a mesma munição dos canhões de 37 mm dos carros de combate leves M3 Stuart. Entre estes tipos de munição estavam os de treinamento (sem carga explosiva), a A.P.C. (Armor-Piercing Capped), também sem carga explosiva e a H.E. M63, com carga explosiva. Já a munição do tipo H.E. M63, possuía um projétil feito em aço, oco em seu interior, com o fundo rosqueado para a montagem do dispositivo detonador. A parte oca do projétil era preenchida com 38,5 gramas de TNT, detonadas pela espoleta de impacto M58. A carga propelente era de 222 gramas de pólvora FNH. O peso total do cartucho H.E. era de 1,419 Kg. Seu alcance máximo era de 9.500 metros com uma velocidade inicial do projétil de 2.600 pés/seg, ou 790 m/seg. A penetração em blindagem de aço chegava a cerca de 6,0 cm a 500 metros.
Apesar do canhão anticarro e antitanque M3 37mm, ser considerado uma arma ultrapassada já na década de 1950, suas boas características operacionais, como seu moderado peso por volta de 400Kg, permitia que a arma fosse rebocada até por jeeps, sua necessidade de contar com uma mínima guarnição de quatro homens, permitiram a extensão da vida útil no Exército Brasileiro dos canhões M3 37 mm por mais duas décadas. No ano de 1960, mais canhões, agora do modelo M3A1 37 mm, seriam recebidas dentro dos auspícios do programa do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos. Esta nova versão produzida a partir de 1942 diferia do original por contar com a extremidade final rosqueada para permitir a instalação de sistema de um freio de boca, acessório este que nunca chegou a ser instalado. Dispondo de mais unidades dos canhões M3 e M3A1, em seu acervo, o Exército Brasileiro aumentou a base de distribuição destas peças que até então estavam concentradas nos Regimento de Infantaria (R.I.), passando a compor também alguns Esquadrões de Reconhecimento Motorizado (RecMec). Entre estes o 4º Esquadrão de Reconhecimento Motorizado (4º RecMec), baseado na cidade de Juiz de Fora – MG, que deslocaria seus canhões M3 37mm, durante os deslocamentos de blindados para participação nos esforços de demonstração de força durante a Revolução ou Contra Revolução de 1964, movimento deflagrado no dia 31 de março deste mesmo ano.
A partir de meados do ano de 1965, ainda dentro do Acordo Militar Brasil – Estados Unidos, o Exercito Brasileiro passou a receber uma grande quantidade de materiais e equipamento bélicos modernos, entre estes estavam os novos canhões sem recuo CSR 106mm M40, dispostos nas versões A1 e A2, sendo estes destinados equipar seus principais Batalhões de Infantaria (BInf). Neste contexto os canhões anticarro e antitanque M1 57mm, passaram gradativamente a substituir todos os canhões M3 e M3A1 de 37 mm, ainda em uso. Os últimos canhões destes modelos seriam finalmente desativados em fins do ano de 1967, com muitas destas peças de artilharia sendo preservadas em unidades do Exército Brasileiro, com muitas unidades desmilitarizadas sendo vendidas para colecionadores e entusiastas a partir da década de 1990.
Em Escala.
Para representarmos o canhão antitanque M3 37 mm, fizemos uso do excelente kit produzido pela Bronco Models na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo diretamente da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão tático do Exército Americano (US Army) adotado durante a Segunda Guerra Mundial, sendo este o único esquema empregado nos canhões M3 e M3A1 de 37 mm do Exército Brasileiro durante seu serviço ativo, mantendo este padrão até sua desativação em fins da década de 1960.
Bibliografia:
- M3 AntiTank de 37mm - Militaria & Armas- http://militariaearmas.blogspot.com/
- Antigos Equipamentos do Exército Brasileiro - https://armasonline.org
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf