M-3 e M-3A1 Anticarro (37 mm)

História e Desenvolvimento.
No início da década de 1930, as unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) contavam com metralhadoras de calibre .50 (12,7 mm) como suas armas de maior potência. Embora estudos já estivessem em andamento para desenvolver uma arma de maior calibre, capaz de neutralizar veículos automotores e carros blindados contudo, os estudos iniciais eram embrionários e enfrentavam resistência de oficiais de alta patente, que viam o desenvolvimento de novas armas como uma prioridade secundária.  Embora já houvessem estudos em curso, nesta organização para a adoção de uma arma de maior calibre, para emprego contra veículos automotores e carros blindados, este processo ainda era tido como embrionário gerando pouco interesse por parte dos oficiais militares de alta patente norte-americanos. O eclodir da Guerra Civil Espanhola, em 17 de julho de 1936, levou ao largo emprego de unidades blindadas por ambos os lados, proporcionou o ambiente necessário para o uso de artilharia contra veículos blindados e carros de combate. Neste momento seria revelada  a eficácia de canhões leves anticarro, como o alemão PaK 35/36 de 37 mm, levando o Comitê de Material Bélico do Exército americano, em janeiro de 1937, a recomendar urgentemente o desenvolvimento de uma arma semelhante. Vislumbrava-se a necessidade de se dispor no arsenal norte americano, de uma arma com capacidades anticarro e antitanque, com rápida cadência de fogo e boa capacidade de manobra e movimentação em campo. Em janeiro de 1937 seriam iniciados os estudos preliminares, derivando para análise de modelos de peças de artilharia leve, já disponíveis no mercado, e com base em um modelo exitoso, partir para o desenvolvimento de uma arma própria deste modelo.  Para isso, foram adquiridas duas unidades do canhao alemão  Panzerabwehrkanone 36 (PaK 36) de calibre 37 mm para análise no campo de provas de Aberdeen, servindo assim como base para o desenvolvimento deste projeto. Este programa seria iniciado com supervisão de uma grande equipe de representantes das unidades de infantaria e artilharia do Exército dos Estados Unidos (US Army). Os estudos iniciais descartaram calibres maiores, priorizando uma arma leve e manobrável, operável por uma tripulação, o que resultou na escolha do calibre 37 mm, já popular entre canhões anticarro da época, como o sueco Bofors e o tchecoslovaco vz. 37. Em  09 setembro de 1937, foi autorizada a construção de protótipos, começando com o canhão T3 montado no reboque T1.  Porém divergências, entre as linhas de pensamento diversas dos futuros usuários e a instabilidade conjunto  do levariam a modificações no conjunto de transporte, com a versão aprimorada recebendo a designação de T1E1. 

Já nesta nova configuração os protótipos foram submetidos a um novo programa de teste no campo de provas de Aberdeen, revelando muitos defeitos, em especial a instabilidade do conjunto de transporte. Um novo redesenho levaria concepção de um novo conjunto de transporte, designado como T5, sendo este testado no verão de 1938, com a comissão de desenvolvimento chegando ao consenso que a melhor combinação para emprego envolveria o canhão T10 com conjunto de transporte T5. A combinação ideal definida em novo processo de testes  de campo em Aberdeen. Assim foi oficialmente adotada em 15 de dezembro de 1938, recebendo a designação de M-3 37 mm, para o canhão e M-4 para o conjunto de transporte. Os primeiros contratos de aquisição seriam assinados no inicio do ano seguinte, envolvendo uma pequena quantidade inicial a ser produzida, com o canhão sendo fabricado nas instalações do no Arsenal de Watervliet, e o conjunto de transporte reboque no Arsenal de Rock Island. A aceleração ocorreu em agosto de 1941, após as Manobras da Louisiana e Carolina, onde algumas unidades ainda usaram maquetes de madeira devido à demora na entrega. Embora o M-3 seguisse o conceito do canhão Rheinmetall 37mm PaK 36, e fosse geralmente referido com uma cópia deste, em suma tratava-se algo novo, diferindo significativamente do design alemão, empregando inclusive munição diferente. Seu peso total era de apenas 400 kg, e o cano da arma apresentava construção forjada em uma peça única, com fuzil uniforme (12 ranhuras, torção do lado direito, um giro em 25 calibres).  A extremidade da culatra foi enroscada em um anel, com seu mecanismo dispondo do tipo “deslizante vertical”, com seu cano equipado com um sistema de recuo do tipo hydrospring. O conjunto de transporte M-4, fazia uso do sistema do tipo “split trail”, com pneus pneumáticos, montados no eixo ao lado das rodas, dispondo de suportes escamoteáveis, que podiam assim ser baixados para fornecer mais estabilidade na posição de disparo ou levantados de modo que não impedissem o movimento da arma. A mira telescópica da versão M-6 e os dois controles de elevação e de deslocamento estavam localizados no lado esquerdo, de modo que um artilheiro tinha conseguisse facilmente apontar a arma. A engrenagem transversal tinha um mecanismo de liberação que permitia o livre movimento do cano no caso de ser necessário um avanço rápido. Graças ao seu porte leve, o M-3 podia ser facilmente tracionado por utilitários como os jipes Willys MB e Ford GPW, consolidando-se rapidamente como a arma anticarro padrão da infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), refletindo uma solução prática e eficaz para as demandas iniciais da Segunda Guerra Mundial.
O canhão M-3 de 37 mm foi introduzido pelo Exército dos Estados Unidos em 1940 como uma arma anticarro leve e foi amplamente utilizado nas primeiras fases da Segunda Guerra Mundial. Na defesa das Filipinas, que começou com o ataque japonês em 8 de dezembro de 1941 (horário local), o M-3 foi empregado pelas forças americanas e filipinas, principalmente pela Força de Defesa das Filipinas (Philippine Scouts) e unidades do Exército dos EUA estacionadas na região, como parte da Força de Luzão. Essas unidades foram surpreendidas pela invasão japonesa, e o M-3 foi uma das principais armas anticarro disponíveis para conter os tanques leves japoneses, como o Type 95 Ha-Go e o Type 97 Te-Ke. O emprego do M-3 nas Filipinas ocorreu em batalhas como a de Lingayen Gulf e nas defesas de Manila e Bataan. Inicialmente, o canhão demonstrou eficácia contra os tanques japoneses, cuja blindagem frontal variava de 6 a 25 mm, permitindo penetração a distâncias de até 500 metros com munição perfurante (AP). No entanto, sua mobilidade — sendo rebocado por jipes ou transportado manualmente por uma tripulação de seis homens — foi prejudicada pelas condições de terreno e pela rápida ofensiva japonesa. Relatos da época destacam seu uso em emboscadas e posições defensivas fixas, mas a falta de munição adequada e a superioridade numérica e logística japonesa limitaram seu impacto. Com o avanço japonês, especialmente na Península de Bataan, os M-3 foram usados também como apoio de infantaria, disparando projéteis de alto explosivo (HE) contra fortificações e tropas inimigas. Apesar disso, a queda de Corregidor em maio de 1942 marcou o colapso da defesa filipina, e muitos M-3 foram capturados ou destruídos.  Os relatos de combate indicam que, embora o canhão tenha recebido elogios por sua portabilidade e manuseio, sua incapacidade de enfrentar tanques mais robustos e a escassez de suprimentos o tornaram insuficiente para alterar o curso da campanha. Os canhoes anticarro seriam ainda extensivamente empregados a invasão da África, especificamente na Operação Tocha (8 de novembro de 1942), durante os desembarques  desembarques aliados em Marrocos e Argélia, enfrentando forças do Eixo, principalmente francesas de Vichy e algumas unidades alemãs e italianas, como parte da campanha para abrir uma frente no Mediterrâneo. Os M-3 foram amplamente utilizados pelas forças americanas, incluindo a 1ª Divisão de Infantaria e a 3ª Divisão de Infantaria, destacando-se nas praias de Casablanca, Oran e Argel

Neste cenário de conflagração o  canhão M-3 ofereceu mobilidade essencial para as unidades em terrenos variados, como dunas e áreas urbanas. Inicialmente, o M-3 demonstrou eficácia contra os tanques leves franceses, como os Renault R-35 e Hotchkiss H-35, cuja blindagem frontal variava de 25 a 40 mm, permitindo penetração a até 500 metros com munição perfurante (APHE). Durante os combates em Port Lyautey e Safi, os M-3 foram posicionados em emboscadas e defesas de linha, contribuindo para neutralizar os blindados inimigos e apoiar a infantaria. No entanto, sua efetividade declinou a partir de 1943, com a  chegada de reforços alemães, incluindo tanques Panzer III e IV, expôs as limitações do M-3. Sua capacidade de penetração era insuficiente contra blindagens frontais mais espessas (50-80 mm), forçando os artilheiros a mirar em flancos ou a distâncias muito curtas (menos de 100 metros), o que aumentava a vulnerabilidade da tripulação de seis homens. Em resposta, os M-3 foram complementados por táticas de emboscada e uso de munição de alto explosivo (HE) contra fortificações e infantaria, como nas batalhas ao redor de Túnez em 1943. Com o avanço da campanha, especialmente após a Batalha de Kasserine (fevereiro de 1943), onde tanques mais robustos do Eixo dominaram, o M-3 foi gradualmente substituído por canhões de 57 mm (M-1) e tanques Sherman. Ainda assim, sua mobilidade e simplicidade o mantiveram em uso secundário até o fim da campanha da Tunísia em maio de 1943, destacando-se como uma ferramenta inicial valiosa, mas rapidamente superada pelas demandas do conflito. Durante a invasão da Sicília  conhecida como Operação Husky (10 de julho de 1943), os canhões M-3 foram desembarcados pelas forças americanas, principalmente pela 1ª e 9ª Divisões de Infantaria, nas praias do setor ocidental da Sicília, como Gela e Licat. Inicialmente, o canhão foi eficaz contra tanques leves italianos, como o Fiat M-13/40 e o L6/40, com blindagens de até 40 mm, permitindo penetrações a distâncias de até 500 metros com munição perfurante (APHE). Em Gela, os M-3 desempenharam um papel crucial na defesa contra contra-ataques italianos no primeiro dia, apoiando a infantaria ao neutralizar blindados e fortificações leves. No entanto, a chegada de reforços alemães, incluindo tanques Panzer IV e o recém-introduzido Tiger I, expôs as limitações do M-3. A blindagem frontal do Tiger (até 100 mm) tornava o canhão ineficaz a menos de 100 metros, mesmo com disparos angulados, resultando em perdas significativas para as tripulações de seis homens.  Porém o teatro italiano, quando analisado pelo comando aliado, representava uma menor prioridade para o reequipamento, do que quando comparado as demandas do noroeste da Europa. Assim ainda existiam muitos canhões M-3 37 mm em uso na Itália até o final do conflito, ao contrário do que o observado nos demais fronts de batalha, ou o canhão M-1 57 mm  já havia substituído seu antecessor completamente até a primavera do ano de 1944.
Durante a invasão da Normandia, em 6 de junho de 1944, o canhão antitanque M-3 de 37 mm desempenhou um papel relevante, embora limitado, nas operações das forças aliadas. Utilizado principalmente por unidades de infantaria dos Estados Unidos, este armamento foi empregado em funções secundárias, oferecendo suporte contra alvos leves, como bunkers, ninhos de metralhadoras e veículos com blindagem menos robusta. Unidades aerotransportadas, como as divisões 82ª e 101ª, fizeram uso do M-3 devido à sua notável portabilidade, uma vez que era uma arma leve e podia ser desmontada para transporte em planadores. Nessas circunstâncias, o canhão foi empregado, por exemplo, na defesa de posições contra contra-ataques alemães com veículos menos blindados, além de proporcionar apoio direto às tropas de infantaria. Entretanto, em 1944, o M-3 de 37 mm já era considerado obsoleto contra os tanques alemães mais avançados, como os Panzer IV, Panther e Tiger, cuja blindagem excedia a capacidade de penetração do canhão. Essa limitação levou muitas unidades a preferirem armamentos alternativos, como bazucas ou canhões de maior calibre, para enfrentar blindados alemães. Apesar disso, a mobilidade e a facilidade de operação do M-3 garantiram sua utilidade em combates urbanos e em terrenos onde tanques pesados eram menos predominantes, como em algumas áreas da Normandia. No teatro do Pacífico, o M-3 de 37 mm demonstrou maior eficácia contra tanques japoneses, como os Type 95 Ha-Go e Type 97 Chi-Ha, que possuíam blindagens mais finas. Sua mobilidade foi particularmente vantajosa em terrenos tropicais, como nas batalhas de Guadalcanal e Leyte, onde o canhão pôde ser rapidamente reposicionado para responder às táticas japonesas. Entre 1940 e 1943, foram produzidos 18.702 canhões M3 de 37 mm, divididos em três modelos principais. Durante a Segunda Guerra Mundial, este armamento foi amplamente distribuído entre as nações aliadas por meio do programa Lend-Lease (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), fortalecendo os arsenais de países alinhados aos Estados Unidos. No período pós-guerra, excedentes desses canhões foram transferidos para nações politicamente alinhadas com os interesses do governo norte-americano, permanecendo em serviço ativo em alguns países até o final da década de 1970. O canhão M-3 de 37 mm, embora superado por armamentos mais modernos ao longo do conflito, deixou um legado significativo como uma arma versátil e adaptável, especialmente em cenários onde sua leveza e facilidade de uso eram cruciais.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, impulsionada pelo programa norte-americano Lend-Lease Act. A partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em  Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados.  A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música.  Após desembarcar em Nápoles e realizar treinamento com instrutores americanos, a artilharia da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi posicionada para apoiar as operações do V Exército dos Estados Unidos  contra as linhas defensivas alemãs, como a Linha Gustav e a Linha Gótica. Não há registros documentais ou fotográficos precisos que confirmem o uso efetivo dos canhões antitanque M-3 e M-3A1 em combates reais pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a campanha na Itália. Contudo, há indícios de que essas peças de artilharia desempenharam um papel significativo no treinamento conduzido pelo Exército dos Estados Unidos (US Army) para os soldados brasileiros, conhecido como "pracinhas", já em território italiano. Esse treinamento visava preparar as tropas da FEB para as exigências do front europeu, familiarizando-as com o manejo e a operação dessas armas.
Outra hipótese sugere que o teatro de operações italiano não era considerado prioritário para o recebimento de armamentos mais modernos, como o canhão M-1 de 57 mm, que apresentava maior capacidade contra blindados. Assim, o V Exército Americano, sob o comando do General Mark Clark, ao qual a Força Expedicionária Brasileira (FEB) estava subordinada, contava em seu arsenal com uma quantidade significativa de canhões M-3 de 37 mm, em detrimento de modelos mais avançados. Relatórios oficiais indicam que esses canhões permaneceram em uso pelo menos até o final de 1944, refletindo as limitações logísticas e estratégicas enfrentadas pelas forças aliadas na Itália. Em sua obra US Anti-tank Artillery 1941–1945, o renomado pesquisador norte-americano Steven J. Zaloga destaca, no capítulo dedicado ao combate antitanque na Itália, a influência da topografia acidentada e montanhosa do país nas escolhas táticas das unidades antitanque dos Estados Unidos. A natureza do terreno, caracterizada por relevos irregulares e áreas de difícil acesso, favoreceu o uso do canhão antitanque M-3 de 37 mm, que se destacava por sua leveza e facilidade de manobra em comparação com seu sucessor, o M-1 de 57 mm. Zaloga enfatiza que a portabilidade do M-3 permitia sua tração por veículos leves, como jipes, o que conferia às unidades maior agilidade em deslocamentos por terrenos desafiadores. Em contrapartida, o M-1 de 57 mm, embora mais potente, exigia veículos de maior porte e potência para reboque, o que limitava sua mobilidade em cenários montanhosos. Essa característica tornou o M-3 uma escolha preferencial para as unidades norte-americanas no teatro italiano, onde a capacidade de posicionar rapidamente as peças de artilharia era essencial para responder às demandas táticas do combate. A exemplo da formatação original do Exército dos Estados Unidos (US Army) os canhões antitanque M-3 de 37 mm, podem ter sido empregados em conjunto com os M-1 57 mm, sendo operados pelo 1º Regimento de Infantaria – Sampaio, 6º Regimento de Infantaria – Ipiranga e  11º Regimento de Infantaria – Tiradentes, e também pela Companhia Anticarros.  A análise de Zaloga sublinha, portanto, como as condições geográficas da Itália moldaram as estratégias de defesa antitanque, evidenciando a relevância do M-3 de 37 mm como um instrumento versátil e adaptado às particularidades daquele front, apesar de suas limitações contra blindados mais modernos.  Com o fim do conflito, em maio de 1945, os M-1 155 mm e outros equipamentos utilizados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram transferidos ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos, sediado em Roma. Nesse processo, os itens em melhores condições incluindo os  canhões anticarros  M-3 e M-3A1 37 mm, foram cuidadosamente selecionados, acondicionados e enviados ao Brasil por via marítima.  

Logo após sua chegada ao Brasil, em julho de 1945 , os canhões antitanque M-3 e M-3A1 de 37 mm pertencentes a  Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram prontamente distribuídos aos Regimentos de Infantaria (R.I.) do Exército Brasileiro. Esses regimentos já operavam pelo menos 48 peças recebidas nos termos do programa Leand & Lease Act, integrando-as às suas unidades operativas. A mobilidade dessas armas era assegurada por veículos como os blindados  White M-3A1 Scout Car, os jipes Willys MB, Ford GPW e os utilitários médios Dodge WC-51 e WC-52, conhecidos como "Beep", que garantiam o transporte eficiente em diferentes terrenos. No contexto do Exército Brasileiro, o canhão M-3 apresentava uma vantagem significativa: utilizava a mesma munição de 37 mm empregada nos canhões dos carros de combate leves CCL M-3 Stuart, o que facilitava a logística de suprimento. Entre os tipos de munição disponíveis estavam os projéteis de treinamento (sem carga explosiva), os A.P.C. (Armor-Piercing Capped), também sem carga explosiva, projetados para perfurar blindagens, e os H.E. M63, com carga explosiva, destinados a alvos mais leves ou fortificações. O cartucho H.E. M-63, em particular, era composto por um projétil de aço oco, com o interior preenchido por 38,5 gramas de TNT, detonado por uma espoleta de impacto M-58. A carga propelente, composta por 222 gramas de pólvora FNH, conferia ao projétil uma velocidade inicial de 790 metros por segundo (ou 2.600 pés por segundo). Com um peso total de 1,419 kg, o cartucho H.E. alcançava um alcance máximo de 9.500 metros e era capaz de penetrar até 6 cm de blindagem de aço a uma distância de 500 metros. Embora o canhão M-3 de 37 mm já fosse considerado tecnologicamente obsoleto na década de 1950, suas características operacionais, como o peso moderado de aproximadamente 400 kg e a possibilidade de ser rebocado por veículos utilitários leves, garantiram sua longevidade no Exército Brasileiro. A arma exigia uma guarnição mínima de apenas quatro homens, o que a tornava prática e versátil. Essas qualidades permitiram que o M3 permanecesse em serviço ativo por mais duas décadas, até o final dos anos 1960. Em 1960, o Exército Brasileiro recebeu um novo lote de canhões em condiçoes extremamente vantajosas, agora do modelo M-3A1, no âmbito do Acordo Militar Brasil–Estados Unidos. Produzida a partir de 1942, a versão M-3A1 distinguia-se do modelo original por apresentar a extremidade do cano rosqueada, projetada para a instalação de um freio de boca, acessório que, no entanto, nunca foi utilizado no Brasil.
Com a chegada de novas unidades do canhão antitanque M3A1 no início da década de 1960, no âmbito do Acordo Militar Brasil–Estados Unidos, o Exército Brasileiro ampliou significativamente a distribuição dos canhões M-3 e M-3A1. Inicialmente restritos aos Regimentos de Infantaria (R.I.), esses armamentos passaram a equipar também os Esquadrões de Reconhecimento Motorizado (RecMec), expandindo sua presença nas estruturas operativas do Exército. Um exemplo emblemático foi o 4º Esquadrão de Reconhecimento Motorizado (4º RecMec), baseado em Juiz de Fora, Minas Gerais. Essa unidade fez uso dos canhões M-3 de 37 mm durante deslocamentos de blindados, particularmente em operações de demonstração de força no contexto da Revolução de 1964, também referida como Contra-Revolução, movimento iniciado em 31 de março daquele ano. Essas ações refletiram o papel estratégico do Exército Brasileiro em um período de intensas transformações políticas no país, com os canhões M-3 desempenhando uma função de apoio em operações de caráter dissuasório. A partir de meados de 1965, ainda sob os auspícios do Acordo Militar Brasil–Estados Unidos, o Exército Brasileiro começou a receber uma quantidade significativa de equipamentos bélicos modernos, marcando uma nova fase na modernização de seu arsenal. Entre os novos armamentos destacavam-se os canhões sem recuo CSR M-40 de 106 mm, nas versões A1 e A2, destinados a equipar os principais Batalhões de Infantaria (BInf). Esses canhões, mais avançados e eficazes contra blindagens modernas, representaram um salto tecnológico em relação aos modelos anteriores. Nesse contexto, os canhões antitanque M1 de 57 mm passaram a substituir gradativamente os M-3 e M-3A1 de 37 mm, que, apesar de sua versatilidade e mobilidade, já eram considerados obsoletos frente às demandas táticas da época. O processo de substituição culminou na desativação definitiva dos canhões M-3 e M-3A1 até o final de 1967. Muitas dessas peças de artilharia foram preservadas em unidades do Exército Brasileiro como parte de seu acervo histórico, testemunhando a trajetória de modernização militar do país. A partir da década de 1990, algumas unidades desmilitarizadas foram vendidas a colecionadores e entusiastas de história militar, garantindo que o legado dos canhões M-3 e M-3A1 continuasse vivo em acervos privados e museus. Essa transição reflete não apenas a evolução tecnológica do Exército Brasileiro, mas também o esforço contínuo de adaptação às necessidades estratégicas de um país em transformação, marcado por desafios internos e compromissos internacionais. Os canhões M-3 e M-3A1, embora superados por armamentos mais modernos, deixaram uma marca indelével na história militar brasileira, simbolizando a resiliência e a capacidade de adaptação das Forças Armadas em um período de mudanças significativas.

Em Escala.
Para representarmos o canhão anticarro M-3 37 mm, fizemos uso do excelente kit produzido pela Bronco Models na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal e photo etched. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não há necessidade de se realizar nenhuma alteração, bastando montar o modelo diretamente da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão tático do Exército dos Estados Unidos (US Army) adotado durante a Segunda Guerra Mundial, sendo este o único esquema empregado nos canhões M-3 e M-3A1 de 37 mm do Exército Brasileiro durante seu serviço ativo, mantendo este padrão até sua desativação em fins da década de 1960.


Bibliografia: 
- M3 AntiTank de 37mm - Militaria & Armas- http://militariaearmas.blogspot.com/
- Antigos Equipamentos do Exército Brasileiro -  https://armasonline.org
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf