M-108 (VBC OAP) 105 MM

História e Desenvolvimento.
A Segunda Guerra Mundial foi marcada pela introdução de uma dinâmica inovadora nos campos de batalha, caracterizada pela alta mobilidade da infantaria, que impôs às demais armas terrestres a necessidade de se adaptarem a uma nova filosofia de combate. O principal protagonista dessa transformação foi o Exército Alemão (Wehrmacht), que, por meio da tática Blitzkrieg, revelou ao mundo uma abordagem revolucionária para o enfrentamento em conflitos armados. Para combinar mobilidade com capacidade ofensiva, os alemães investiram não apenas em tanques e infantaria transportada por veículos blindados, mas também em artilharia autopropulsada. Exemplos emblemáticos incluem os canhões autopropulsados Hanomag Sd.Kfz. 165 Hummel, equipados com um canhão de 150 mm, o Sturmtiger 606/4, dotado de um canhão de 380 mm, e os carros de assalto Sturmgeschütz (StuG III). Testemunhando os desdobramentos do conflito, o Exército dos Estados Unidos (US Army) reconheceu a relevância estratégica de incorporar ao seu arsenal veículos de artilharia autopropulsada capazes de sustentar operações blindadas com potência de fogo adequada. Os primeiros testes bem-sucedidos foram realizados com plataformas adaptadas de veículos blindados meia-lagarta da família M-3 Half Track, culminando no desenvolvimento do T-19 Howitzer Motor Carriage, armado com um canhão de 105 mm. O êxito dessas experiências confirmou a viabilidade de projetar um veículo totalmente blindado sobre esteiras, resultando em fevereiro de 1942 na introdução do M-7 Priest. Esse obuseiro autopropulsado, equipado com um canhão de 105 mm, foi inicialmente construído sobre a plataforma do tanque médio M-3 Lee e, posteriormente, utilizou o chassi do M-4 Sherman. Seu batismo de fogo ocorreu durante a Segunda Batalha de El Alamein (23 de outubro a 11 de novembro de 1942). Ao todo, foram fabricadas 4.315 unidades até 1945, sendo amplamente empregadas pelos Aliados em todas as frentes da Segunda Guerra Mundial, onde demonstraram notável eficácia e versatilidade no apoio às operações militares. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os obuseiros autopropulsados M-7 Priest, ao lado dos M-37, voltaram a desempenhar um papel significativo durante a Guerra da Coreia (1950-1953). Embora tenham cumprido com eficiência a maioria das missões a que foram designados, uma limitação crítica foi identificada: a elevação máxima de 35º do canhão dificultava o engajamento de alvos situados em terrenos elevados, como as montanhas coreanas, comprometendo sua eficácia tática em certas situações. Esse obstáculo tornou evidente a necessidade de desenvolver um novo obuseiro autopropulsado de maior porte, capaz de superar as deficiências observadas nos modelos até então utilizados. Nesse contexto, o Exército dos Estados Unidos (US Army) empreendeu esforços para modernizar sua artilharia autopropulsada, buscando uma nova geração de veículos que combinasse maior proteção, mobilidade e capacidade de operar em cenários de guerra contemporâneos, especialmente diante das ameaças emergentes da Guerra Fria.

A experiência adquirida na Guerra da Coreia (1950-1953) revelou limitações nos obuseiros autopropulsados em uso, como o M-7 Priest e o M-52, especialmente em terrenos montanhosos, onde a elevação limitada dos canhões comprometia a eficácia tática. Para superar essas deficiências, o Exército dos Estados Unidos (US Army) buscou desenvolver uma nova geração de artilharia autopropulsada, mais adaptada às demandas da Guerra Fria. Em 1953, o M-52 foi introduzido, utilizando o chassi do tanque M-41 Walker Bulldog. Apesar de avanços na elevação do canhão (de +65º a -10º), o modelo apresentou problemas técnicos que levaram ao cancelamento de sua produção. Em resposta, o Exército abriu uma nova concorrência em 1959, delegando o projeto à Cadillac Motor Car Division, da General Motors, em parceria com o Detroit Arsenal Tank Plant. O programa visava criar dois obuseiros: um de 105 mm (M-108) e outro de 155 mm (M-109), baseados em um chassi comum para reduzir custos logísticos. O M-108, designado T-195 durante o desenvolvimento, aproveitou o chassi do M-41 Walker Bulldog, mas com modificações para maior robustez. Em 1960, um mock-up foi apresentado, seguido pela construção de cinco protótipos, que passaram por extensos testes no segundo semestre daquele ano. As melhorias implementadas culminaram na versão final, adotada em 1963. Este novo blindado apresentava as seguintes características :  Armamento: Equipado com um obus M-103 de 105 mm, capaz de disparar uma variedade de munições, incluindo alto explosivo (HE), fumígenos e anticarro podendo fazer uso da munição de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com um alcance máximo de aproximadamente 11,5 km, dependendo do tipo de munição (podendo ainda fazer uso de munições assistidas por foguetes).  - Blindagem: Contava com uma torre totalmente fechada, construída em alumínio para reduzir peso, oferecendo proteção contra estilhaços e fogo de armas leves, embora limitada contra impactos diretos de artilharia ou mísseis anticarro. - Chassi: Compartilhava o chassi com o M-109, garantindo alta padronização de componentes, como suspensão por barras de torção e esteiras largas, adequadas para diferentes tipos de terreno. - Tripulação: Operado por uma equipe de cinco membros (comandante, artilheiro, carregador, motorista e operador de rádio), assegurando eficiência em combate. Propulsão: Alimentado por um motor a diesel Detroit Diesel 8V-71T de 8 cilindros com turbo compressor, refrigerado a líquido de 405 hp. Este conjunto mecânico levava o T-195 alcançava velocidades de até 56 km/h e tinha uma autonomia de cerca de 350 km, garantindo mobilidade compatível com unidades mecanizadas.
Após a realização de ajustes técnicos, o Exército dos Estados Unidos (US Army) celebrou, em 1962, o primeiro contrato de aquisição do M-108 Howitzer, designando a Pacific Car and Foundry Company como a principal fabricante. A produção teve início no mesmo ano, e, a partir de abril de 1963, as primeiras unidades do M-108 começaram a ser entregues às unidades operativas de artilharia de campanha do Exército. Esse obuseiro autopropulsionado foi projetado para integrar uma nova geração de artilharia de curto alcance, substituindo gradualmente os modelos de gerações anteriores e reforçando a capacidade de apoio tático das forças armadas. Este sistema de artilharia ao ser equipado com um canhão de 105 mm, montado em uma torre com rotação de 360 graus, o que lhe conferia uma vantagem significativa sobre a artilharia rebocada convencional. Essa capacidade permitia que a equipe respondesse rapidamente a ameaças de qualquer direção, um fator crucial em cenários de combate dinâmicos. O canhão podia ser ajustado em elevações de +75º a -6º, possibilitando atingir alvos em terrenos variados, desde áreas elevadas até posições em declives. A tripulação padrão do M-108 consistia em cinco membros: comandante, artilheiro, carregador, motorista e operador de rádio. Esses militares trabalhavam em conjunto para realizar tarefas como cálculo de trajetórias, ajuste do canhão, carregamento de munições e comunicação com outras unidades. O treinamento das equipes do M-108 era intensivo, exigindo proficiência em diversas áreas, incluindo balística, operação de equipamentos, manutenção do veículo e coordenação tática. Os artilheiros eram treinados para calcular rapidamente ângulos de tiro e ajustar o canhão com base em dados fornecidos por observadores avançados ou centros de comando. O treinamento também incluía simulações de combate para preparar as tripulações para condições adversas, como ataques surpresa ou operações em terrenos acidentados. O M-108 teve sua estreia operacional durante a Guerra do Vietnã, com sua implantação em 1965. O treinamento e o processo de adaptação das tripulações às condições do Vietnã foram graduais, envolvendo ajustes às táticas de combate e à logística em um ambiente hostil. Em 17 de junho de 1966, os M-108 pertencentes ao 6º Regimento de Artilharia de Campo (6th Field Artillery Regiment) foram posicionados em Pleiku, na região central do Vietnã, para apoiar operações contra forças do Vietnã do Norte e do Vietcong.. Posteriormente, em outubro do mesmo ano, o modelo foi integrado às operações dos 1º e 40º Regimentos de Artilharia de Campo, sediados na base dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marines Corps) em Đông Hà, onde enfrentaram combate real na região de Đông Hà ainda naquele mês. Sua mobilidade permitia reposicionamento rápido, diferentemente da artilharia rebocada convencional, sua capacidade de rotação do canhão em 360 graus conferia grande eficácia na sustentação de posições de fogo, especialmente em cenários sujeitos a ataques de múltiplas direções.   
O obuseiro autopropulsado M-108, equipado com um canhão de 105 mm, destacava-se pela sua capacidade de operar com elevações que variavam de +75º a -6º, permitindo atingir alvos em diferentes níveis de terreno com notável precisão. Este veículo demonstrou ser particularmente eficaz em missões de apoio próximo, desempenhando um papel crucial na supressão de posições inimigas e na proteção de avanços das tropas aliadas. Além disso, o M-108 contava com uma metralhadora pesada M-2HB de 12,7 mm, geralmente montada na torre, que proporcionava meios eficazes de autodefesa contra ameaças aéreas e terrestres. Frequentemente empregado em bases de fogo fortificadas, o obuseiro oferecia suporte de artilharia indispensável às unidades em operações de campo, reforçando sua relevância tática. Apesar de suas qualidades, o M-108 apresentava limitações operacionais significativas. O canhão de 105 mm, embora preciso, possuía uma cadência de tiro limitada e um poder de destruição insuficiente para neutralizar alvos fortificados, como bunkers, frequentemente encontrados no teatro de operações do Vietnã. Em comparação com o M-109, equipado com um canhão de 155 mm, o M-108 revelava-se menos eficaz em missões que demandavam maior impacto explosivo. Adicionalmente, a blindagem leve do veículo o tornava vulnerável a ataques diretos, especialmente em combates de curta distância, o que restringia seu uso às linhas de retaguarda. Assim, a partir de meados de 1976, os batalhões de artilharia equipados com o M-108 foram gradualmente retirados do Vietnã, sendo substituídos pelo M-109, que oferecia maior alcance, potência e versatilidade, atendendo melhor às exigências operacionais do Exército dos Estados Unidos (US Army). Nos Estados Unidos, nesse mesmo período, iniciou-se a transferência dos M-108 dos Regimentos de Artilharia de Campo para a Guarda Nacional (National Guard). Em bases como Camp Atterbury, em Indiana, e Fort Sill, em Oklahoma, esses obuseiros foram utilizados em exercícios de treinamento, permitindo aos artilheiros familiarizarem-se com sistemas autopropulsados, incluindo a operação do canhão, a manutenção do veículo e a coordenação tática. Embora o M-108 compartilhasse componentes com o M-109, sua manutenção específica representava um desafio para as unidades da Guarda Nacional, que frequentemente dispunham de recursos limitados. A padronização com o M-109, por sua vez, simplificava a logística, reduzindo o interesse no uso contínuo do M-108. Os veículos excedentes, não modernizados, foram revisados e armazenados, sendo posteriormente fornecidos a nações aliadas, como Bélgica, Brasil, Espanha, China, Turquia e Tunísia, no âmbito de acordos bilaterais de defesa. A produção do obuseiro M-108 foi oficialmente encerrada em setembro de 1963, com um total aproximado de 950 unidades entregues, além de 230 veículos da variante especializada M-992, destinada ao transporte de munição.

Emprego no Exército Brasileiro.
A artilharia brasileira tem raízes no período colonial, com mobilizações de brasileiros em conflitos como as Batalhas de Guararapes (1648-1649), consideradas o marco inicial do Exército Brasileiro. Contudo, a artilharia de campanha, como ramo organizado, começou a se estruturar após a Independência do Brasil, em 1822. Durante o Império, a artilharia era uma das armas mais prestigiadas, exigindo formação completa na Academia Militar do Império, ao contrário da infantaria e cavalaria, que requeriam menos anos de estudo. Um dos maiores destaques desse período foi a atuação na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), sob a liderança do Marechal Emílio Luís Mallet, patrono da Arma de Artilharia. Na Batalha de Tuiuti (1866), a maior batalha campal da América do Sul, a artilharia brasileira, apelidada de “Artilharia Revólver” devido à sua precisão e rapidez, foi decisiva. A construção de um fosso profundo para proteger as peças de artilharia tornou-se um marco tático, eternizando a frase “Eles que venham! Por aqui não passam!”. Mallet, nascido na França em 1801 e naturalizado brasileiro, comandou com destreza, sendo promovido a brigadeiro por mérito e agraciado com o título de Barão de Itapevi em 1878, ascendendo a marechal em 1885. Durante o século XIX, a artilharia de campanha era predominantemente composta por canhões e obuseiros de calibre médio, transportados a cavalo, sendo conhecida como “artilharia montada”. Sua função era acompanhar a infantaria, fornecendo apoio de fogo para neutralizar ou suprimir alvos inimigos. Com a Proclamação da República em 1889, o Exército Brasileiro passou por reorganizações, e a artilharia continuou a desempenhar um papel central. No início do século XX, a artilharia de campanha ainda dependia de equipamentos como os canhões Krupp de 75 mm, de tração animal, que predominavam até a Segunda Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra Mundial (1942-1945), a Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do General Cordeiro de Farias, destacou-se na Campanha da Itália. A precisão e a rapidez dos fogos brasileiros foram cruciais nas conquistas de Monte Castelo (1945) e Montese, recebendo elogios do comandante da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes, que afirmou que os artilheiros “elevaram bem alto as nobres tradições da Artilharia de Mallet”. A atuação da artilharia de campanha da FEB foi amplamente reconhecida pelos comandantes aliados. O General Mark Clark, comandante do V Exército Americano, destacou a eficiência e a coragem dos brasileiros. Além disso, a defesa de Fernando de Noronha (1942-1945) demonstrou a capacidade da artilharia brasileira em organizar dispositivos defensivos em condições adversas, utilizando unidades de artilharia de costa e antiaérea para proteger o arquipélago contra possíveis ataques navais ou aéreos.

No âmbito do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952, e do Military Assistance Program (MAP), a Força Terrestre Brasileira foi contemplada com um amplo processo de modernização de seu arsenal. A partir de agosto de 1960, o Exército Brasileiro passou a receber um número significativo de carros de combate, veículos blindados de transporte de tropas e caminhões de diversos modelos, em uma iniciativa que se prolongou pelos anos subsequentes. Esse esforço fortaleceu a capacidade operacional do Exército em um cenário global marcado por crescentes desafios estratégicos, consolidando sua prontidão para atuar em defesa dos interesses nacionais. Em 1970, como parte desse acordo, o Exército Brasileiro foi agraciado com a cessão de 72 obuseiros autopropulsados M-108 Howitzer. Para assegurar a qualidade das viaturas, foi constituída uma comissão de oficiais brasileiros que se deslocou aos Estados Unidos com a missão de selecionar, junto à reserva técnica da Guarda Nacional (National Guard), os veículos em melhor estado de conservação. As avaliações iniciais da equipe revelaram que os blindados, produzidos entre 1963 e 1964, apresentavam baixo desgaste, tendo operado por, no máximo, quatro a cinco anos antes de serem substituídos pelos obuseiros M-109 nos regimentos de artilharia de campo do Exército dos Estados Unidos (US Army). Após essa substituição, as viaturas foram armazenadas, mantendo-se em condições adequadas para reutilização. O pacote de cessão incluía um expressivo lote de munições do tipo HE (High Explosive – munição explosiva detonada por espoleta após o impacto), modelo M1 ou equivalentes, ideais para as missões de apoio de fogo típicas da artilharia de campanha. Além disso, o acordo contemplava o fornecimento de peças de reposição e kits de flutuação, que permitiam a travessia de rios e cursos d’água, ampliando significativamente a versatilidade operacional das viaturas em terrenos variados. Antes de serem enviadas ao Brasil, todas as viaturas selecionadas passaram por uma revisão mecânica completa, realizada por uma empresa terceirizada nos Estados Unidos, garantindo que estivessem plenamente aptas para integrar as operações do Exército Brasileiro. A entrega dos M-108 ao Brasil teve início no começo de 1972, ocasião em que as viaturas receberam a designação oficial de Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBCOAP) M-108. Por se tratar de um sistema de armas inédito na Força Terrestre, sua incorporação exigiu uma reestruturação organizacional significativa. Essa reorganização marcou um avanço estratégico, alinhando a artilharia brasileira às demandas de maior mobilidade e potência de fogo no contexto militar da época.
Em dezembro de 1971, o Exército Brasileiro deflagrou a criação de quatro Grupamentos de Artilharia de Campanha Autopropulsados (GAC Ap), transformando unidades de artilharia rebocada para operar exclusivamente essas viaturas modernas. Prestes a entrar em serviço no Exército Brasileiro este modelo receberia a designação de Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBCOAP) M-108, cabendo a Diretoria de Material do Exército (DMat), a elaboração e divulgação do "Manual de Campanha Artilharia - Obus 105 mm, M-108, autopropulsado". Assim em abril de 1972 o 5º Grupamento de Artilharia de Campanha Autopropulsado, sediado em Curitiba (PR), foi a primeira unidade a receber o M-108 VBC OAP. Em maio do mesmo ano seria a vez do 3º GAC Ap, sediado Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul a receber o modelo, e até o inicio do ano de 1973 o M-108 VBC OAP passaria a dotar o 6º GAC Ap, sediado no Rio de Janeiro e o 16º GAC Ap baseado na cidade de São Leopoldo no Rio Grande do Sul. Cada Grupamento de Artilharia de Campanha Autopropulsado foi estruturado com baterias de tiro, geralmente compostas por seis viaturas M-108 VBC OAP , organizadas para maximizar a mobilidade e o apoio de fogo em operações de campanha. A concentração de três dos quatro grupamentos na região Sul do Brasil refletia a relevância estratégica dessa área, especialmente diante da rivalidade histórica com a Argentina, um potencial adversário na época. Por fim  duas viaturas M-108 foram destinadas à Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, para fins de treinamento e capacitação de artilheiros e técnicos na operação e manutenção do equipamento. A adoção das Viaturas Blindadas de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBC OAP) M-108, proporcionariam uma grande evolução na doutrina operacional das unidades de artilharia de campanha, trazendo grande mobilidade e prontidão de resposta. Seu  canhão M-103 de 105 mm, com tubo de 30 calibres, permitia uma cadência de tiro de cerca de 10 disparos por minuto em rajadas curtas, embora limitada a cerca de 3 disparos por minuto em fogo sustentado, seu  alcance máximo de 11,5 km com munição HE era suficiente para missões de apoio próximo.  A munição HE, com peso aproximado de 15 kg por projétil, era transportada em quantidades limitadas no M-108 (cerca de 86 projéteis, dependendo da configuração), exigindo apoio logístico para reabastecimento em operações prolongadas.  A ausência de um veículo transportador blindado, como o M-992 Field Artillery Ammunition Support Vehicle, criava uma lacuna preocupante no reabastecimento de munição. Durante operações prolongadas, as baterias dependiam de caminhões  para transportar projéteis e cargas propelentes. Essa vulnerabilidade expunha as linhas de suprimento a ataques, exigindo escoltas e planejamento logístico meticuloso.

Embora o Brasil tenha recebido munições de 105 mm como parte do Military Assistance Program (MAP) na década de 1970, a produção local de munições foi gradualmente desenvolvida pela indústria de defesa brasileira, especialmente pela Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil). A Imbel fabrica munições de 105 mm, incluindo HE e de treinamento, garantindo autossuficiência parcial e reduzindo a dependência de importações. O fornecimento inicial de munições HE com o M-108 foi complementado por aquisições posteriores de outros tipos, como iluminantes e de fumaça, para atender às necessidades operacionais. Os M-108 VBC OAP ao longo dos anos prestariam excelentes serviços, no entanto a partir de meados da década de 1970, o Exército Brasileiro começaria a enfrentar dificuldades na gestão do fluxo de peças de reposição, mais notadamente os componentes críticos do Detroit Diesel 8V71T, resultando nos primeiros problemas de disponibilidade da frota.  Este cenário seria agravado a partir de março de 1977 após o rompimento do Acordo Militar Brasil - Estados Unidos, com este evento determinaria a interrupção de toda financeira e linhas de abastecimentos de peças de reposição para os veículos militares em uso nas Forças Armadas Brasileiras, com o Exército Brasileiro sendo profundamente afetado, e por consequência a frota dos obuseiros autopropulsados M-108 VBC OAP. Buscando restaurar a capacidade operacional destes veículos, seriam desenvolvidos estudos para nacionalização do maior índice possível de componentes críticos, este processo se materializaria em um programa de modernização proposto pela empresa paulista Motopeças S/A. Neste escopo, a principal alteração consistia na remoção do motor de origem norte-americana, e sua substituição por um motor nacional fabricado pela Scania do modelo DS-14 com 385 cv.  Esta mudança implicaria em alterações, que foram aplicadas no sistema de acionamento dos ventiladores de arrefecimento, que passou a ser feito por correias, no lugar do caro e complicado sistema de transmissão angular. Outros itens críticos foram também nacionalizados neste processo. Este programa trouxe aos M-108 VBC OAP um conjunto motriz de robustez superior ao original, resultando em uma maior vida útil, reduzindo muito os custos de manutenção e as frequentes paradas para reparo, prolongado a vida do veículo. Esse processo demandou não apenas expertise técnica, mas também a colaboração entre militares e engenheiros civis, que trabalharam incansavelmente para adaptar o M-108 VBC OAP às realidades brasileiras.
No final da década de 1980, o Exército Brasileiro lançou o programa Força Terrestre 90 (FT-90), uma iniciativa visionária do Estado-Maior do Exército (EME) para modernizar suas estruturas, equipamentos e doutrinas, com especial atenção à arma blindada. Inspirado pela necessidade de superar a obsolescência de seus sistemas e preparar a Força Terrestre para os desafios de um novo século, o FT-90 marcou o início de uma transformação que redefiniu a artilharia autopropulsada brasileira.  O FT-90 priorizou a modernização da cavalaria blindada e da artilharia, reconhecendo a importância estratégica dessas armas em um contexto geopolítico marcado pela rivalidade com a Argentina e pela crescente relevância da Amazônia. Um marco significativo ocorreu em 1999, quando o Exército incorporou 37 obuseiros autopropulsados M109A3, adquiridos como parte do programa. Pela primeira vez, a Artilharia de Campanha Autopropulsada do Brasil tornou-se completa, combinando peças de 105 mm (M-108) e 155 mm (M-109A3), oferecendo maior poder de fogo e flexibilidade tática. A introdução do M-109A3VBC OAP  representou um salto qualitativo. Com um canhão de 155 mm capaz de atingir até 18 km com munição convencional e maior capacidade de armazenamento de projéteis, o M-109 complementava o M-108, que, embora confiável, começava a mostrar sinais de obsolescência. A partir de 2013, o Exército intensificou esforços para substituir o M-108 VBC OAP , culminando na celebração de um contrato sob o programa Foreign Military Sales (FMS) para a aquisição e modernização de um lote de obuseiros M-109A5VBC OAP . As primeiras viaturas novas começaram a ser recebidas em 2016, iniciando um processo gradual de substituição. A frota remanescente de M-108 VBC OAP foi concentrada nos 3º e 22º Grupamentos de Artilharia de Campanha Autopropulsados, sediados na região Sul.  Em 29 de março de 2017, o Exército Brasileiro formalizou a desativação do M-108 VBC OAP por meio da Portaria nº 193-EME. Os últimos disparos operacionais ocorreram em 11 de setembro de 2019, realizados pelo 3º GAC Ap em Uruguaiana (RS). Logo a seguir o Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMM/5) liderou um programa inovador para transformar alguns M-108 em viaturas especializadas de transporte e reabastecimento de munição, uma solução que prometia conferir mobilidade tática e proteção blindada às unidades de artilharia. Um protótipo foi desenvolvido e testado, apresentando resultados promissores. No entanto, em 2018, o projeto foi interrompido com a aquisição de 40 Viaturas Blindadas de Transporte Especial Remuniciadora (VBTE Rem) M992A2 FAASV, projetado especificamente para reabastecer obuseiros de 155 mm. O destino dos M-108 brasileiros ganhou um capítulo inesperado em 2019, quando o Ministério da Defesa do Uruguai expressou interesse em adquirir as viaturas remanescentes. Após negociações, o Congresso Nacional brasileiro aprovou, em 4 de agosto de 2022, a doação de dez M-108, acompanhados de peças de reposição.

Em Escala.
Para representar o M-108 VBC OAP "EB12-912" pertencente ao 3º Grupamento de Artilharia de Campanha Autopropulsado (3º GAC AP) com fidelidade, foi utilizado o único kit disponível na escala 1:35, fabricado pela  Italeri. Esse modelo, projetado com detalhes precisos, captura a essência do M-108 tal como operado pelo Exército Brasileiro, dispensando a necessidade de modificações significativas, podendo a montagem ser feita no modo "out of the box". A personalização do modelo foi alcançada com a aplicação de decais do conjunto "Veículos Militares Brasileiros 1944-1982", produzido pela Eletric Products. 
O esquema de cores adotado pelo Exército Brasileiro desde a Segunda Guerra Mundial, e mantido até dezembro de 1982, baseava-se em um padrão monocromático de verde-oliva, frequentemente associado ao Federal Standard (FS) 34087, um tom escuro e fosco projetado para camuflagem em ambientes variados, como florestas, campos e áreas urbanas.  Em 1982, o Exército Brasileiro introduziu um novo padrão de pintura tático em dois tons, com todos os M-108 VBC OAP passando a partir do ano seguinte a ostentar este esquema.


Bibliografia 
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume I , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- Blindados no Brasil - Um Longo e Árduo Aprendizado - Volume II , por Expedito Carlos Stephani Bastos
- M108 105 mm Self-Propelled Howitzer http://www.military-today.com/artillery/m108.htm
- M108 Howitzer – Wikipedia https://en.wikipedia.org/wiki/M108_howitzer