Jeep MB Willys Ambulância (VE)

Historia e Desenvolvimento.
No final da década de 1920, o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) intensificou esforços para transformar sua estrutura operacional, buscando acelerar a transição de uma força terrestre predominantemente hipomóvel, dependente de tração animal, para uma força mecanizada, capaz de atender às demandas de um cenário bélico moderno. Esse processo foi impulsionado pelos avanços tecnológicos da pujante indústria automotiva norte-americana, que oferecia soluções inovadoras para mobilidade e logística militar. O programa de mecanização abrangia o desenvolvimento de uma ampla gama de veículos, incluindo caminhões de carga, transportes de pessoal e, de forma prioritária, um veículo utilitário leve com tração integral 4x4. Este veículo deveria operar em ambientes fora de estrada, superar obstáculos com facilidade e transportar até quatro soldados totalmente equipados, garantindo agilidade e versatilidade em operações táticas. As iniciativas para conceber esse novo utilitário envolveram colaboração estreita entre militares e a indústria automotiva, mas enfrentaram desafios técnicos e orçamentários. O conceito definitivo começou a tomar forma no início de 1932, sob a liderança do Coronel Robert G. Howie, comandante da 7ª Companhia de Tanques, sediada em Fort Snelling, Minnesota. Como defensor fervoroso da motomecanização total da Força Terrestre, Howie possuía uma visão clara das necessidades operacionais em um novo espectro de combate. Sua experiência prática e compreensão estratégica foram fundamentais para o avanço do projeto. Sob sua supervisão, o primeiro protótipo funcional foi construído nas oficinas do Fort Sam Houston, no Texas. Submetido a rigorosos testes de campo, o veículo demonstrou resultados promissores, comprovando sua capacidade de operar em terrenos difíceis e atender às exigências táticas. Esses testes reforçaram a confiança do comando do Exército na viabilidade do conceito, levando à decisão de alocar recursos para a produção de um lote pré-série de setenta veículos. Contudo, restrições orçamentárias impostas pela Grande Depressão adiaram essa fase, interrompendo temporariamente o progresso do programa. O projeto foi retomado no final de 1936, quando o cenário econômico começou a se estabilizar e o Exército priorizou novamente a modernização. Após uma concorrência aberta, a Bantam Car Company, sediada na Pensilvânia, foi selecionada para desenvolver e produzir o lote pré-série. Conhecida por sua agilidade na fabricação de veículos leves, a Bantam entregou os primeiros utilitários a partir de meados de 1938, destinando-os ao Quartel-General do Departamento do Exército, localizado no Fort Holabird, em Baltimore, Maryland. Com uma frota inicial à disposição, o Exército ampliou a abrangência de seu programa de testes, avaliando o desempenho dos veículos em diversos terrenos e condições operacionais. Esse processo foi crucial não apenas para validar o projeto, mas também para iniciar a formatação de uma doutrina de emprego operacional para utilitários leves 4x4. Esses testes estabeleceram as bases para o desenvolvimento do que viria a ser o Jeep, um ícone militar que revolucionaria a mobilidade tática na Segunda Guerra Mundial.

No âmbito de um abrangente programa de testes de campo conduzido no final da década de 1930, o Exército dos Estados Unidos (US Army) verificou que o novo veículo utilitário leve com tração integral 4x4 apresentava um potencial excepcional para ampliar a mobilidade da Força Terrestre. Capaz de operar com eficácia em uma ampla gama de ambientes fora de estrada (off-road), o veículo demonstrou versatilidade em diversas tarefas, superando obstáculos naturais e garantindo o transporte eficiente de até quatro soldados totalmente equipados. Esses resultados consolidaram a convicção do comando do Exército de que o utilitário representava um avanço estratégico crucial para a mecanização das forças armadas, levando à decisão de adotá-lo em larga escala. Com base nos testes bem-sucedidos,  lançou-se, em 1940, uma concorrência formal para a produção em série do veículo utilitário leve 4x4. O processo foi estruturado com rigor, envolvendo a emissão de convites a mais de cem empresas da indústria automotiva norte-americana. As participantes deveriam apresentar propostas técnicas e comerciais detalhadas, acompanhadas de protótipos funcionais que atendessem às especificações. A concorrência visava assegurar que o veículo final combinasse robustez, confiabilidade e capacidade de manufatura em larga escala, alinhando-se às necessidades operacionais . O aumento das tensões geopolíticas na Europa e no Pacífico Sul, impulsionado pela ascensão da Alemanha Nazista e do Império do Japão, alterou drasticamente o contexto da concorrência. A iminência de um conflito global tornou evidente a necessidade urgente de reequipar as forças armadas norte-americanas para enfrentar potenciais ameaças. Em resposta o comando do Exército revisou o cronograma original, estabelecendo um prazo excepcionalmente curto de 49 dias para a apresentação de protótipos funcionais. Essa exigência refletia a pressão para acelerar o processo, mas também impôs desafios significativos às empresas concorrentes. Das mais de cem empresas convidadas, apenas três aceitaram o desafio de desenvolver um protótipo dentro do prazo estipulado: a Ford Motor Company, a American Bantam Car Company e a Willys-Overland Company. A American Bantam, uma pequena montadora da Pensilvânia com experiência em veículos leves, foi a única a cumprir o prazo, entregando um protótipo funcional em setembro de 1940. Denominado Bantam Reconnaissance Car (BRC), o veículo foi submetido a testes comparativos rigorosos, demonstrando desempenho excepcional em mobilidade, resistência e adequação às especificações militares. Embora o protótipo da Bantam tivesse obtido êxito nos testes, o comando do Exército, ciente da necessidade emergencial de produção em grande escala, optou por aprovar também as propostas da Ford e da Willys-Overland. Essa decisão foi motivada pela capacidade industrial limitada da Bantam, que não poderia atender sozinha à demanda militar em tempo hábil. Os testes comparativos entre os protótipos resultaram em melhorias significativas no projeto original, incorporando sugestões das três montadoras. 
O modelo pré-série Bantam BRC, desenvolvido pela American Bantam Car Company, apresentava um design traseiro que evocava os padrões estilísticos dos automóveis da década de 1930, aliado a características técnicas cuidadosamente projetadas para atender às exigências militares. Com tração 4x4, suspensão reforçada e capacidade de carga de ¼ de tonelada, o BRC foi concebido para oferecer robustez e versatilidade em operações de campo. Embora os protótipos apresentados pela Bantam, Ford Motor Company e Willys-Overland Company tenham sido inicialmente aprovados, pairavam dúvidas sobre a viabilidade dos projetos concorrentes das duas últimas empresas. Para dirimir essas incertezas, o Exército dos Estados Unidos (US Army) promoveu uma nova rodada de testes de campo, conduzida entre 27 de setembro e 16 de outubro de 1940, nos campos de prova do Quartel-General do Departamento do Exército. Durante esses ensaios, o Bantam BRC destacou-se novamente, impressionando engenheiros e militares por seu desempenho excepcional. Esse resultado levou o Exército a reconsiderar a ideia inicial de produzir três modelos distintos, inclinando-se, em um primeiro momento, a favor do projeto da Bantam. Em 31 de março de 1941, foi firmado um contrato com a American Bantam Car Company para a fabricação de 1.500 unidades do modelo BRC 40. No entanto, ficou evidente que a Bantam não dispunha da capacidade industrial nem da solidez financeira necessárias para atender à demanda de produção em larga escala exigida pelo cronograma militar. Diante dessa limitação, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos tomou uma decisão polêmica: transferir o projeto e as plantas originais do BRC 40 para a Ford Motor Company e a Willys-Overland Company. Essa medida permitiu que ambas as empresas desenvolvessem suas próprias versões do veículo utilitário, incorporando melhorias com base no protótipo da Bantam. Surpreendentemente, essa decisão, considerada arbitrária, não foi contestada pela diretoria da Bantam, possivelmente devido à frágil situação financeira da empresa à época. Como uma possível compensação, a American Bantam Car Company foi contemplada com contratos para a produção de componentes automotivos, reboques de carga e combustível T/1 de ¾ de tonelada (totalizando mais de 70 mil unidades) e também torpedos para a Marinha Real Britânica (Royal Navy). Essa estratégia assegurou a sobrevivência da empresa, ainda que sua contribuição central para o desenvolvimento do Jeep tenha sido ofuscada pelo sucesso posterior dos modelos produzidos pela Ford e Willys. Em agosto de 1941, o Exército dos Estados Unidos (US Army) assinou um novo contrato com a Willys-Overland Company para a produção de mais 16.000 veículos, designados pela montadora como MA Quad (posteriormente evoluindo para o modelo MB). 

A Willys-Overland foi selecionada para a produção em larga escala do Jeep devido à sua capacidade industrial e às melhorias incorporadas ao projeto, destacando-se o motor Willys Go-Devil, reconhecido por sua maior potência e confiabilidade. Nos meses subsequentes, novos contratos foram celebrados, mas a Ford Motor Company emergiu como a principal fornecedora, recebendo, até o final de 1945, as maiores encomendas para a fabricação do veículo. O modelo produzido pela Ford foi oficialmente designado como Ford G.P.W (General Purpose Willys, ou veículo de uso geral), compartilhando componentes e design com o Willys MB, mas fabricado em escala massiva nas instalações industriais da Ford. No Exército dos Estados Unidos (US Army), os condutores começaram a chamar o veículo pelo acrônimo “GP”, derivado de General Purpose (propósito geral), que, na pronúncia em inglês, soava como “Jeep”. Esse termo rapidamente ganhou popularidade entre os soldados, que viam no veículo um símbolo de agilidade e versatilidade. Curiosamente, a palavra “Jeep” também evocava Eugene the Jeep, um carismático personagem das tiras de quadrinhos do marinheiro Popeye, criado na década de 1930. Eugene, o animal de estimação de Olivia Palito, era conhecido por suas habilidades extraordinárias, como caminhar por paredes e tetos, o que ressoava com a robustez e a capacidade do veículo em superar desafios. Inspirados pela popularidade do desenho animado, os soldados passaram a chamar seus veículos de “Jeep”, associando-os à força e à versatilidade do personagem. A expressão “Hey, he’s a real Jeep!” (Ei, ele é um verdadeiro Jeep!) tornou-se comum para elogiar pessoas com habilidades físicas excepcionais, consolidando o termo como um ícone cultural. Assim, nasceu um dos nomes mais emblemáticos da história automotiva mundial. À medida que as montadoras intensificavam a produção, o Jeep foi incorporado em número crescente às frotas das unidades militares norte-americanas. O batismo de fogo do Ford G.P.W ocorreu em 1942, com sua introdução em operações nos teatros do Pacífico Sul e do Norte da África. No Pacífico, o Ford G.P.W foi empregado em campanhas contra as forças do Exército do Império do Japão, desempenhando papéis vitais em missões de reconhecimento, transporte de tropas e suprimentos, e até como base improvisada para armamentos leves. Um dos primeiros registros de seu uso em combate foi durante as operações nas ilhas do Pacífico, onde sua capacidade de navegar por terrenos acidentados e lamacentos provou ser indispensável. No Norte da África, durante a Operação Torch (invasão aliada em novembro de 1942), o Ford G.P.W foi amplamente utilizado pelas forças norte-americanas e britânicas, enfrentando as duras condições do deserto e contribuindo para a mobilidade das tropas em cenários desafiadores. Embora não tenham sido originalmente concebidos para atuar como ambulâncias, os Jeeps revelaram-se excepcionalmente adequados para a evacuação de soldados feridos em zonas de combate, graças a seu tamanho compacto, baixo perfil e notável capacidade de transpor terrenos acidentados. Durante a Segunda Guerra Mundial, a disponibilidade de Jeeps superava em muito a de ambulâncias tradicionais, como os modelos Dodge e International, o que levou à sua utilização improvisada para o transporte de feridos. Inicialmente, os Jeeps eram usados sem modificações significativas: macas eram posicionadas sobre as seções traseiras e capôs, fixadas da melhor forma possível, enquanto pacientes ambulatoriais se acomodavam onde havia espaço. Essa solução, embora rudimentar, demonstrou a versatilidade do veículo e sua importância para salvar vidas em condições adversas. À medida que o conflito avançava nas frentes europeia e do Pacífico, modificações realizadas em campo aprimoraram o conforto e a segurança no transporte de macas. No teatro do Pacífico, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) reconheceu rapidamente o potencial do Jeep como ambulância. Esse reconhecimento culminou em um contrato com a fábrica da General Motors-Holden, em Melbourne, Austrália, para a conversão de Jeeps em ambulâncias dedicadas. Conhecidos como “Holden Jeeps”, esses veículos foram os primeiros a serem produzidos em larga escala especificamente para essa função. As modificações incluíam uma estrutura de tubos e ferro angular para suportar um gabinete de lona, com suportes para duas macas e assentos traseiros para dois pacientes ambulatoriais. Uma pequena porta no lado esquerdo do painel traseiro facilitava o acesso, enquanto um compartimento para suprimentos médicos foi construído no lado direito da carroceria, estendendo-se até a área normalmente reservada ao passageiro dianteiro. O para-brisa foi ajustado verticalmente, e a roda sobressalente passou a ser fixada no capô, otimizando o espaço. Após o término da Segunda Guerra Mundial, os Jeeps adaptados como ambulâncias continuaram a desempenhar um papel vital durante a Guerra da Coreia (1950-1953), onde sua eficácia operacional foi novamente comprovada. Esse sucesso levou o comando do Exército dos Estados Unidos a solicitar à Willys-Overland Company o desenvolvimento de um modelo sucessor. O resultado foi o CJ-4MA-01, baseado na plataforma do M-38, mas com uma maior distância entre eixos, projetado para atender às necessidades específicas de evacuação médica. Adotado em larga escala, o CJ-4MA-01 substituiu gradualmente os veteranos Jeeps ambulância, consolidando o legado desses veículos como instrumentos indispensáveis tanto em tempos de guerra quanto na história da assistência médica em cenários de combate. Os Jeeps ambulância transcenderam sua função original, tornando-se símbolos de resiliência e inovação. Para os soldados que dependiam deles, esses veículos representavam esperança em meio ao caos, conectando a linha de frente aos cuidados médicos e salvando inúmeras vidas com sua capacidade de enfrentar os desafios mais extremos.

Emprego nas Forças Armadas Brasileiras.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

No âmbito do programa de assistência militar Lend-Lease Act, o Brasil, a partir do final de 1941, começou a receber um expressivo volume de equipamentos bélicos provenientes dos Estados Unidos, abrangendo caminhões, veículos utilitários leves, aeronaves, embarcações e armamentos. O Exército Brasileiro foi o principal beneficiário desse aporte, que representou um marco significativo na modernização de suas capacidades operacionais. Os contratos inicialmente firmados entre os governos brasileiro e norte-americano, previam o fornecimento quase dois mil veículos utilitários leves com tração 4X4 do tipo "Jeep", com estes não atendendo a nenhum critério de padronização por fabricante ou modelo, não existindo registros oficiais por parte das forças armadas brasileiras sobre a quantidade de modelos recebidos que foram produzidos pela Ford Motors Company ou pela Willys Overland Company. Os primeiros veículos utilitários desta família começariam a ser recebidos no Brasil em lotes a partir de março 1942, e mesclavam veículos novos e usados, estes oriundos da frota pertencente ao Exército dos Estados Unidos (US Army), existindo relatos de alguns modelos raríssimos como alguns Willys MA (sem registro) poucos "Slatt Grill" (grade de grelha), e até uma unidade do modelo primordial Bantam BRC-40. Salientamos que a partir de registros fotográficos, nos permitem atestar que grande parte destes carros foram fabricados durante o ano de 1941, representado assim modelos da fase inicial de produção. Com este processo atendendo ao procedimento formal de cessão de equipamento militar a aliados, priorizaria-se assim a entrega de versões mais novas e aprimoradas para as forças armadas norte-americanas, com estas repassando seus veículos usados para exportação. O advento do recebimento destes carros e sua operação no Brasil, em muito contribuiria no processo de implantação do programa de motomecanização em larga escala no Exército Brasileiro, não só por sua versatilidade, mas também pela quantidade disponível. Pois neste momento a frota de veículos utilitários leves com tração integral deste porte, se resumia a poucos e antigos veículos do modelo Vidal & Sohn Tempo G-1200 de procedência alemã que foram recebidos em 1938, porém disponíveis em um número insuficiente para se dotar sequer uma unidade operacional completa. Uma pequena parcela destes novos utilitários norte-americanos seria ainda cedida a Força Aérea Brasileira e a Marinha do Brasil para o emprego em missões administrativas, transporte de pilotos ou de remoção médica.
Em 13 de agosto de 1943, foi instituída a Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma unidade composta por cerca de 25.000 militares, estruturada para operar em sintonia com os padrões de alta mobilidade do Exército dos Estados Unidos. A FEB contava com uma organização robusta, incluindo quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para missões de ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento, uma companhia de comunicações, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia militar e, como símbolo de união e moral, uma banda de música. Para atender às exigências de mobilidade no teatro de operações italiano, a FEB foi equipada com uma frota significativa, incluindo 660 utilitários leves com tração integral 4x4, conhecidos como Jeeps. Muitos desses veículos, tanto leves quanto médios, eram “veteranos de guerra”, tendo sido intensamente utilizados em campanhas na Sicília e no Norte da África. A cessão de equipamentos usados ao Brasil, muitas vezes em condições precárias, refletia a estratégia dos Estados Unidos de priorizar recursos novos para a Operação Overlord, a invasão da França em junho de 1944, conhecida como o “Dia D”. Apesar disso, os Jeeps demonstraram resiliência e versatilidade, desempenhando um papel crucial nas operações da FEB. No âmbito do Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira (FEB) , composto por um Batalhão de Saúde e um Destacamento de Saúde, parte dessa frota de Jeeps foi destinada a missões vitais de evacuação de feridos. Essas operações seguiam uma sistemática padrão de socorro, evacuação, triagem e hospitalização, começando na linha de frente. A mobilidade era essencial nesse contexto, envolvendo padioleiros no campo de batalha e veículos para transporte imediato até os Postos de Saúde (PS). Nessas unidades, realizava-se a triagem, a estabilização inicial de feridos graves, o tratamento de lesões leves que permitissem o retorno ao combate e medidas de saúde preventiva. Alinhada à doutrina operacional norte-americana, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) empregava dois tipos de viaturas para essas missões. Os Jeeps Willys MB “Holden Jeeps”, adaptados como ambulâncias de campanha, eram responsáveis pelo transporte inicial de feridos diretamente do front até os Postos de Saúde, oferecendo agilidade em terrenos difíceis. Para casos que exigiam evacuação para Postos de Atendimento Avançados (PAAs), operados pelas Companhias de Saúde Avançadas do Batalhão de Saúde (2º Escalão), entravam em ação as ambulâncias especializadas Dodge WC-54. Essas viaturas proporcionavam maior conforto e assistência durante o transporte, garantindo cuidados mais avançados aos feridos. 

No entanto, em um contexto geral  a frota total destes utilitários leves  que fora fornecida ao Exército Brasileiro para emprego pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), se apresentavam em número inferior as necessidades de movimentação da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1º DIE), com este fato se repetindo na frota de jipes Willys MB "Holden Jeeps" Ambulância, sendo recebidos apenas nove unidades destes importantes veículos. Após o batismo de fogo das tropas brasileiras verificar-se-ia a necessidade de se contar mais carros deste tipo junto ao Serviço de Saúde e seus Batalhões de Saúde. Esta demanda levaria a improvisação, com mais pelo menos trinta jipes Willys MB 1942 sendo adaptados localmente para o emprego em tarefas de remoção médica, com estas soluções,  indo deste a configuração básica para transporte de dois feridos (sem profundas alterações na carroceria), onde se procedia a colocação de uma padiola atravessada na parte detrás da viatura com os punhos assentados nas laterais do veículo. E a versão mais customizada com um suporte próprio para esta padiola instaladas na carroceria, com seus punhos apoiados na primeira padiola e no para-brisa deitado. Neste momento estes veículos passavam a ostentar as marcações da cruz vermelha em suas carrocerias, seguindo o padrão empregado nas demais viaturas especializadas nas tarefas de remoção e aplicação de primeiros socorros durante os combates durante toda a campanha da Itália. Neste mesmo período no Brasil, os jipes dos modelos Ford GPW e Willys MB passariam a compor o esteio da frota motomecanizada do Exército Brasileiro sendo alocados por todas as unidades militares espalhadas pelo país, além de equipar também as bases da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil. Existem registros não oficiais que pelo menos cinco jipes do modelo ambulância Willys MB "Holden Jeeps" seriam recebidos no pais entre os anos de 1944 e 1945 ficando baseados nas unidades militares de infantaria sediadas no estado do Rio de Janeiro. Após o término do conflito em maio de 1945, os jipes remanescentes pertencentes a Força Expedicionária Brasileira (FEB),  bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade os veículos em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval.
Os Jeeps remanescentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), transportados de volta ao Brasil após o fim da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, foram incorporados à frota de utilitários leves já em operação no país desde 1942. Distribuídos entre as unidades operacionais do Exército Brasileiro, esses veículos reforçaram a capacidade logística e tática das Forças Armadas. A partir da segunda metade da década de 1950, o Brasil recebeu novos lotes de Jeeps classificados como “material excedente de guerra” (War Surplus), provenientes do Exército dos Estados Unidos, no âmbito do Programa de Assistência Militar (Military Assistance Program – MAP). Essa nova remessa não apenas ampliou a capacidade operacional do Exército, mas também permitiu a substituição de veículos mais antigos, promovendo maior padronização de modelos e simplificando os processos de manutenção, o que trouxe maior eficiência às operações militares. Nesse mesmo período, registros indicam a chegada de pelo menos oito Jeeps Willys MB “Holden Jeeps”, adaptados como ambulâncias, que fortaleceram o Serviço de Saúde do Exército Brasileiro. Esses veículos, projetados para evacuação médica em condições adversas, destacaram-se por sua versatilidade e continuaram a desempenhar um papel crucial nas unidades militares. Na década de 1960, o Exército Brasileiro iniciou a incorporação dos primeiros Jeeps militarizados produzidos nacionalmente, como os modelos Willys-Overland e Ford CJ-2, CJ-5 e CJ-6. Paralelamente, o país também recebeu Jeeps usados do modelo Willys M-38A1, complementando a frota. A partir de 1962, começaram a entrar em serviço as primeiras ambulâncias militares desenvolvidas com base em veículos nacionais, como os Ford Willys-Overland Rural F-75 e F-85. A produção em larga escala desses utilitários no Brasil marcou o início de um amplo processo de desativação dos Jeeps recebidos nas décadas de 1940, incluindo os modelos Willys MB e Ford GPW, que haviam sido fundamentais durante e após a Segunda Guerra Mundial. Não há registros oficiais que esclareçam o destino dos 32 Jeeps Willys MB “Holden Jeeps” que estiveram em serviço no Exército Brasileiro. É provável que, com a modernização da frota e a introdução de veículos nacionais, essas viaturas tenham sido gradualmente retiradas de operação, encerrando sua trajetória nas Forças Armadas.

Em Escala.
Para representarmos o Willys MB "Holden Jeep" ambulância pertencente ao Serviço de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, empregado na campanha da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, fizemos uso do kit produzido pela Italeri na escala 1/35. Modelo este de baixo detalhamento e qualidade relativa de injeção. Fizemos uso de decais produzidos pela Decals e Books, presentes no livro " FEB na Segunda Guerra Mundial" de Luciano Barbosa Monteiro, em conjunto com decais originais do modelo. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão de pintura empregado pelo Exército dos Estados Unidos em todos os seus veículos empregados durante a Segunda Guerra Mundial no teatro de operações da Europa, com estes Willys MB "Holden Jeep" recebendo apenas as marcações e seriais do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira. Alguns deste manteriam durante o conflito os números seriais norte-americanos ostentando o escudo do Cruzeiro do Sul. Em seu retorno ao Brasil os veículos mantiveram este padrão de pintura até sua desativação. 

Bibliografia : 
- Jeep Ford & Willys  https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
- Jeeps no Exército Brasileiro - https://jplopes.tripod.com/exbrz.htm
- FEB na segunda Guerra Mundial - Luciano Barbosa de Monteiro
- Leand & Lease Act  - Revista Tecnologia e Defesa - Edição 133.
- Serviço de Saúde na Segunda Guerra Mundial 1º Ten Al Jardel da Silva Pires e 1º Ten Al João Gabriel Mendes Morais