Contratorpedeiros Classe Fletcher

História e Desenvolvimento.
No final da década de 1930, o intensificar das tensões na Europa e na Ásia, já denunciavam claramente o que estava por vir, levando o governo norte americana a antecipar estudos visando programas de modernização de suas forças armadas. No tocante aos meios navais, esta seria uma das maiores preocupações tendo em vista principalmente o expansionismo da armada imperial japonesa. Neste período concentrava se muita ênfase no emprego de navios da classificação “Destroier” tipo este tinha por missão empregar sua alta velocidade e manobrabilidade para proporcionar escolta a embarcações de maior porte da frota, comboio ou grupo de batalha e defendê-las contra poderosos atacantes de curto alcance. Na marinha norte americana este papel era representando pelos destroiers das classes Porter e Somers, ocorre porem que desde a incorporação desses navios o comando da Marinha Americana (US Navy) já apresentava grande insatisfação quanto ao seu desempenho, isto levaria a solicitação para o desenvolvimento de uma nova classe de navios. Os parâmetros iniciais exigiam que a nova belonave possuísse alta velocidade e raio e alcance estendido, sendo capaz de realizar além da missão normal de escolta antissubmarino, proteção antiaérea e até combate na superfície. Estas exigências levariam a criação de um navio de porte e deslocamento muito maior que seus predecessores, além de contarem com sistemas de defesa antiaérea mais numerosos e eficazes, sendo esta a primeira classe de navios destroiers projetada após a retirada dos limites impostos pelos tratos navais após o fim da primeira guerra mundial. 

Com o projeto finalizado em meados de 1939 após todas a aplicação de todas as alterações solicitadas pelo Escritório do Chefe de Operações Navais (Office of the Chief of Naval Operations), que incluíam o atendimento do requisito de velocidade  deviam variar  de 35 a 38 kn (40 a 44 mph; 65 a 70 km / h), que levariam a alteração do desing ampliando o raio do casco em 46 cm para assim evitar a inclusão precisavam de lastro de chumbo para corrigir eventuais desequilíbrios, como observado nas classes anteriores. Desta maneira suas dimensões 114.8 m de comprimento, 12 m de boca e 5.5 m de cal ado, representando assim um deslocamento: 2.050 ton (padrão), 3.050 ton (carregado). Todos estes conjuntos era propulsionado por 4 caldeiras Babcock & Wilcox de 39.8 kg/cm2 a 454º C; 2 turbinas a vapor G.E., gerando 60.000 shp, acoplados a dois eixos e dois hélices, contando ainda com 2 turbo-geradores G.E. de 350 Kw, 1 gerador diesel de emergência General Eletric. de 100 Kw de potencia. Como citado esta classe era muita mais pesada que as anteriores, permitindo que a posteriormente fossem incorporados, pacotes de armamentos ofensivos e defensivos sem necessidade de grandes adaptações, seu projeto de fácil e rápida construção o classificariam como o modelo de desing para destroiers o que nortearia as classes seguintes a serem projetadas como os Sumner e Gearing. Construído para portar um representativo sistema de armas, estes navios seriam dotados com 5 canhões de 5 polegadas (127 mm) em cinco torres  do tipo MK-30 singelas, como armamento principal, acompanhado por 6 canhões Bofors L/60 de 40 mm em três reparos duplos MK1, 1 lançador quíntuplo MK 15 de torpedos de 21 polegadas; 2 lançadores de bombas granadas A/S (LBG) MK 10; 1 calha de cargas de profundidade MK 3 e 2 lançadores triplos MK 32 de torpedos antissubmarino de 324 mm.
Esta nova classe recebeu o batismo de “Fletcher Class” em homenagem ao Almirante Frank F. Fletcher, com os contratos de aquisição dimensionando a construção de 188 unidades a um custo unitário de US$ 6 milhões, que seriam produzidas com prioridade total pelos estaleiros norte-americanos Federal Shipbuilding and Drydock Company, Kearny, New Jersey, Bath Iron Works, Bath, Maine, Boston Navy Yard, Charleston Navy Yard,Consolidated Steel Corporation, Orange, Texas, Gulf Shipbuilding Corporation, Chickasaw, Alabama, Bethlehem Steel Corporation, Staten Island, New York, Bethlehem Shipbuilding Corporation, San Francisco, California, Bethlehem Steel Company, San Pedro, California, Terminal Island, Seattle-Tacoma Shipbuilding Corporation, Seattle, Washington, Puget Sound Naval Shipyard . A primeira unidade começou a ser construída em 3 de março de 1941, ocorrendo a primeira comissão do DD-445 USS Fletcher junto a Marinha Americana (US Navy) em 30 de junho de 1942. Esta classe manteve em produção contínua durante toda a Segunda Guerra Mundial, e é  considerada a classe de destroier mais produzida por qualquer país na história naval moderna. Com a evidência da proximidade do final em fins do ano se 1944 , treze  navios do contrato inicial teriam sua construção cancelada, com o ultimo navio desta classe o DD-804 USS Rooks sendo completado em 6 de junho de 1944 com sua comissão sendo efetivada em 02 de setembro do mesmo ano, chegando assim, a tempo de participar das ultimas ações no teatro de Operações do Pacifico.

Os primeiros 25 navios foram encomendados possuíam a ponte de comando arredondada, pois representava uma característica de desing das classes anteriores de destroiers. Posteriormente, a ênfase na defesa antiaérea levaria a adoção de uma ponte redesenhada ou "quadrada" para melhorar as linhas de visão gerais, começando com USS Brownson (DD 518). Portanto podemos dividir esta classe em dois tipos de desing, sendo que 58 navios eram de “alto” ou “ponte redonda” chamados popularmente de “round bridge”; e 117 eram de ponte baixa ou ponte quadrada ou “square bridge”. Interessante citar que esta classe foi a primeira a empregar um sofisticado sistema de comunicação e radar  e sensores, sendo composto pela suíte envolvendo 1 radar de vigilância aérea tipo SPS-6C; 1 radar de vigilância de superfície SPS-10; 1 radar de direção de tiro Mk-25 mod.3, acoplado ao sistema de direção de tiro Mk-37 e 1 sonar de casco SQS-29. Em termos de tripulação cada navio era operado 310 homens, sendo 17 oficiais, 10 suboficiais, 56 sargentos 57 cabos e 170 marinheiros. Os primeiros embates tiveram registro já em agosto de 1942 quando navios da classe Fletcher destinados ao teatro de operações do Pacífico passaram a realizar missões de escolta a grupos de porta aviões e comboios. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, o número de armas antiaéreas aumentou, normalmente resultando em cinco reparos Bofors duplos de 40 mm e sete Oerlikons únicos de 20 mm até 1945. Devido à crescente ameaça de ataques kamikaze, 51 navios receberam um incremento em termos de armas antiaéreas. Ao todo 19 navios foram perdidos durante o conflito, com mais sofrendo perdas totais estruturais não sendo recomentada sua recuperação, após o término do conflito os navios remanescentes foram desativados e colocados em reserva.
O eclodir da Guerra da Coreia em 1950, levaria o retorno a ativa de dezenas de destroiers da Classe Fletcher, com 39 navios sendo modernizados com a redução do armamento geral principal para assim possibilitar a instalação de novos equipamentos, alguns navios ainda chegariam a servir nos estágios iniciais da Guerra do Vietnã. A partir do fim da década de 1950 32 navios desta classe em bom estado seriam transferidas as marinhas do Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Alemanha, Grécia, Itália, Japão, Coréia, México, Peru, Espanha, Taiwan e Turquia. Em fins do ano de 1971 todos os navios remanescentes na reserva da Marinha Americana foram transformados em sucata, com 3 navios sendo preservados em seu país de origem (USS Cassin Young DD-793 , USS The Sullivans DD-537 e USS Kidd DD-661 ) . Nos demais países os Fletcher permanecera em serviço ativo em sua maioria até o final da década de 1980, com o ultimo navio o Cuitláhuac ( Ex John Rodgers DD-574) sendo retirado do serviço ativo somente em 2001.

Emprego na Marinha do Brasil.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as Forças Armadas Brasileiras foram submetidas a um amplo processo de modernização, sendo o país beneficiado por ser signatário do Acordo de Leand & Lease Act Bill (Lei de Empréstimos e Arrendamentos). Em termos de equipamentos, nossas forças armadas se equiparavam com seus pares norte americanos e britânicos, no caso específico da Marinha do Brasil diversos navios modernos foram incorporados, com seu foco principal estava dedicado a missões antissubmarino, o que no período representava a maior ameaça ao esforço brasileiro ao lado dos aliados no conflito. Porém em meados da década de 1950 os meios navais pertencentes a Marinha Brasileira, principalmente os contratorpedeiros de escolta da Classe Bertioga (Cannon Class) se encontravam defasados em termos de desempenho e tecnologia de sensores e sistemas de armas, não fazendo mais frente as ameaças existentes no contexto de guerra antissubmarino. Desta maneira o Ministério da Marinha iniciou um programa de estudos para a modernização da Força de Contratorpedeiros. Naturalmente a escolha recairia sobre navios usados, processo este que fora facilitado a partir de 1952 quando da assinatura do Programa de Assistência Militar (Military Assistence Program – MAP) entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil. Dentro destes termos seria acertada a gradativa cessão  em regime de empréstimo por cinco anos, a partir de 1959 de sete destroiers da Classe Fletcher que no Brasil seriam classificados como contratorpedeiros. Nestes termos seriam selecionados navios em bom estado de conservação, que se encontravam na reserva da Marinha  Americana (US Navy). Com estes vasos de guerra dispostos  na seguinte ordem,  USS Guest - DD 472, USS Cushing - DD 797, USS Bennett - DD 473, USS Lewis Hancock - DD 675, USS Hailey - DD 556, USS Shields - DD 596 e  USS Irwin - DD 794.

O Contratorpedeiro Pará - D 27, ex-USS Guest - DD 472 foi o primeiro a ser incorporado a Marinha Brasileira em incorporado em 5 de junho de 1959, tratava-se de um Fletcher da versão “round bridge”,  O D27 "Galo da Esquadra" chegou a Rio de Janeiro em 22 de dezembro de 1959. A partir de 1961 começou a ser intensamente empregado em exercícios operacionais nacionais e multinacionais como Operação UNITAS III, FT-76, Operações SPRINGBOARD 69 e VERITAS II, UNITAS X, UNITAS XII. Em 1º de agosto, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos, sendo adquirido em definitivo pela Marinha Brasileira. Em 21 de agosto de 1978 foi realizada uma cerimônia sendo submetido a Mostra de Desarmamento e baixa do Serviço Ativo da Armada. Em 22 de fevereiro de 1983, após ter servido como alvo para o primeiro exercício de teste do míssil Exocet - MM 38, disparado por uma Fragata classe Niterói, considerado um sucesso, foi afundado com dois torpedos pelo submarino Ceará - S 14. O segundo navio desta classe a ser incorporado foi o Paraíba - D 28, ex-USS Bennett - DD 473, em 15 de dezembro de 1959, chegando ao Brasil em 31 de janeiro de 1961 sob o comando do Capitão-de-Fragata Nelson Fernandes. Além de ter participado de vários exercícios multinacionais, teve destacada participação em 1964 na Operação DRAGÃO I, a primeira da série daquela que seria durante várias décadas o mais importante evento de adestramento das forças anfíbias da nossa Marinha. Em 15 de agosto de 1973, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo adquirido em definitivo pela Marinha do Brasil. Em 21 de agosto de 1978 foi realizada uma cerimônia sendo submetido a Mostra de Desarmamento e baixa do Serviço Ativo da Armada.
O Paraná - D 29, ex-USS Cushing - DD 797 foi incorporado em 20 de julho de 1961 sendo o primeiro Fletcher do tipo “square bridge”  a ser recebido.  Em 10 de abril de 1972 , fez parte da Força Naval Operacional 28 (F.028)  que em conjunto com navios portugueses transportaram os restos mortais de D. Pedro I em viagem para o Brasil. Em 8 de janeiro de 1973, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo adquirido em definitivo pela Marinha do Brasil. Em 4 de abril, deu baixa do serviço ativo, em cerimônia de Mostra de Desarmamento, tendo atingido nesses quase 21 anos de serviço mais de 1.000 dias de mar e 350.000 milhas navegadas. O quarto navio a ser incorporado foi o Pernambuco - D 30, ex-USS Hailey - DD 556, em 20 de julho de 1961, tratava-se de um Fletcher “round bridge” e destacava-se dos demais por contar com 6 canhões Mk 27 de 3 pol. (76,2 mm/50) ao invés dos Bofors L/60 de 40 mm, possuía ainda uma suíte de sensores mais aprimorada contando com radiogoniômetro Raytheon mod 358-A ADF; agulhas giroscópica Sperry Mk 11; odômetro de fundo Litton Ind.; ecobatímetro EDO Ind. AN/UQN-1D; telefone submarino AN/UQC-1B; gravador de distância sonar Sangamo Elec. CA-55134A; LORAN Fada Radio DAS-3; receptor CME AN/BLR-1; equipamento de derrota estimada UR-6; sistema de direção de tiro A/S MK105, com diretor de ataque MK5; sistema designador de alvos TDS MK5, mod. 1; sistema Fanfare para defesa contra torpedos acústicos; e transmissores, receptores e transceptores de rádio. Em 1º de agosto, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos, sendo adquirido em definitivo pela marinha. Em 2 de abril de 1982, deu baixa do Serviço Ativo da Armada.

O Contratorpedeiro Piauí - D 31, ex-USS Lewis Hancock - DD 675, um Fletcher do tipo “round bridge”; foi incorporado em 2 de agosto de 1967, a exemplo dos demais navios desta classe esteve envolvido em muitos exercícios operacionais e nacionais nos anos seguintes. Em 11 de abril de 1973, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo adquirido em definitivo pela Marinha do Brasil. Participou da Operação ADEREX-I/89, sua última comissão no serviço da Armada, quando hasteou o Pavilhão de Capitânia da Esquadra.  Em 2 de junho, o Piauí - D 31 "Pirata do Caribe" deu baixa do serviço ativo, sendo submetido a Mostra de Desarmamento na Base Naval do Rio de Janeiro.  O sexto navio desta classe o Contratorpedeiro Santa Catarina - D 32, ex-USS Irwin - DD 794, foi incorporado a Marinha do Brasil em 10 de maio de 1968. Dentre suas contribuições a frota ressaltamos que o  D32 em 22 de janeiro, tornou-se o primeiro navio a realizar Transferência de Óleo no Mar (TOM) com o NT Marajó - G 27. Em 11 de abril de 1973, foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), sendo adquirido em definitivo pela Marinha do Brasil. Em 28 de dezembro, depois de vinte anos e sete meses de serviço ativo deu baixa do serviço, sendo submetido a Mostra de Desarmamento. Em 31 de agosto de 1989, o casco do ex-CT Santa Catarina foi usado como alvo para o primeiro lançamento real de um míssil ar-superfície BAe Sea Skua, realizado por uma aeronave SAH-11 Lynx da Força Aeronaval, sendo atingido após o míssil percorrer  uma distância de quase 18 Km.
O Contratorpedeiro Maranhão - D33, ex-USS Shields - DD 596 foi o ultimo Fletcher a ser incorporado a Marinha Brasileira, no dia 6 de julho de 1972, já em 11 de janeiro do ano , foi incorporado a Esquadra, passando a subordinação da Força de Contratorpedeiros e do 1º Esquadrão de Contratorpedeiros. Durante toda sua carreira se fez presente em quase todos os exercícios operacionais nacionais e internacionais como, cinco edições da UNITAS, sete DRAGÃO, duas SARGASSE, duas TROPICALEX, duas ADEREX, duas TEMPEREX, BRASEX/79, AFRICA/79 e AMIGO/83. Em 15 de agosto o D33 "Urso da Califórnia" , foi retirado da lista de unidades pertencentes a Marinha dos Estados Unidos, sendo adquirido em definitivo pela Marinha do Brasil. Ao longo de quase 30 anos os contratorpedeiros da Classe Fletcher prestaram relevantes serviços a Marinha do Brasil, sua incorporação a esquadra no início da década de 1960 promoveu uma revolução nas técnicas de guerra antissubmarino, contribuindo muito para a manutenção de uma doutrina moderna de combate naval. Seria substituídos por navios pertencentes as classes Classe Gearing – FRAM I e Classe Allen M. Sumner - FRAM II e posteriormente pela Classe Garcia.

Em Escala.
Para representar os navios classe Fletcher pertencentes a Força de Contratorpedeiros da Marinha do Brasil, optamos por apresentar o contratorpedeiro D27 Pará, pois se trata de um  navio  do modelo “round bridge”,  que assim  mais se aproxima do kit da Tamiya na escala 1/350. Todos os navios recebidos pela Marinha Brasileira, sofreram após término da Segunda Guerra Mundial uma série de mudanças em prol de um programa de modernização, e para se compor os navios brasileiros é necessário proceder algumas alterações em scratch building. Empregamos decais confeccionados sob encomenda pela Duarte Models, fizemos uso de tintas produzidas pela Tom Colors.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o padrão aplicado em todos os navios da Marinha do Brasil, sendo nos navios da Classe Fletcher recebidos neste esquema,  mantendo esta sistemática até a desativação do último navio o contratorpedeiro D33  Maranhão,  no ano de 1990.

Bibliografia : 

- Fletcher-class Destroyer Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Fletcher-class_destroyer
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/