M-60A3 TTS (VCB CC)


História e Desenvolvimento.
Do ponto de vista da engenharia automotiva aplicada ao campo militar, a Segunda Guerra Mundial representou um marco de transformação sem precedentes. Em apenas seis anos, o mundo testemunhou uma verdadeira revolução tecnológica: exércitos que, ainda no final da década de 1930, empregavam cavalos como meio de tração e combate, passariam a dispor de divisões blindadas dotadas de veículos de combate que ultrapassavam as setenta toneladas. Na vanguarda dessa corrida tecnológica estava a Alemanha, cuja indústria automotiva  já consolidada por sua competência técnica  tornara-se o pilar da expansão militar do Terceiro Reich. Foi sob esse ambiente que nasceram os lendários carros de combate Panzer (Panzerkampfwagen), termo que, em alemão, significa literalmente “veículo couraçado”. Produzidos em larga escala, os diversos modelos da família Panzer tornaram-se ícones da doutrina militar alemã conhecida como Blitzkrieg  a “Guerra Relâmpago” , cuja essência residia na combinação de velocidade, poder de fogo e coordenação tática. Através do uso integrado de blindados, artilharia autopropulsada e veículos especializados de apoio e transporte, os alemães desenvolveram uma máquina de guerra altamente móvel e eficaz. Essa estratégia permitiu que, nas fases iniciais do conflito, as forças do Eixo obtivessem vitórias rápidas e decisivas, rompendo as linhas inimigas e explorando suas brechas com notável eficiência. Entretanto, apesar da superioridade técnica e conceitual dos Panzers, a Alemanha enfrentaria um desafio insuperável: a escala industrial de seus inimigos. No front ocidental, os Estados Unidos inundaram o campo de batalha com milhares de tanques M-4 Sherman, enquanto no leste, a União Soviética surpreendia o mundo com o notável T-34, um carro de combate que aliava mobilidade, blindagem inclinada e poder de fogo em um equilíbrio sem precedentes. O desempenho do T-34 — capaz de rivalizar e, em muitos aspectos, superar os blindados alemães — revelou ao mundo o potencial técnico e produtivo da indústria soviética. O sucesso desse projeto seria perpetuado em seus sucessores, os T-44 e T-54, desenvolvidos entre o final da década de 1940 e o início da década de 1950, consolidando o domínio soviético na produção de tanques robustos e de manutenção simplificada, aptos a equipar não apenas o Exército Vermelho, mas também as forças armadas de nações do bloco socialista. Do lado ocidental, os Estados Unidos responderiam ao desafio soviético com uma série de evoluções em seus veículos de combate. O primeiro passo foi o M-46 Patton, introduzido em 1949 para substituir os veteranos M-26 Pershing e M-4 Sherman. Pouco tempo depois, em 1951, surgiu o M-47 Patton, que rapidamente se tornaria o novo padrão tanto do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) quanto do Corpo de Fuzileiros Navais (U.S. Marine Corps). Embora representassem avanços significativos, esses modelos ainda não atendiam plenamente ao conceito emergente de um tanque de batalha principal — o Main Battle Tank (MBT) —, que buscava unificar em uma única plataforma as funções de tanques médios e pesados, combinando mobilidade, blindagem e poder de fogo em níveis equilibrados. 

Essa lacuna seria preenchida a partir de 1952, com o surgimento do M-48 Patton, o primeiro MBT verdadeiramente moderno desenvolvido pelos Estados Unidos. O veículo incorporava um canhão de 90 mm com sistema de carregamento semiautomático, blindagem reforçada com apliques compostos de vidro de sílica fundido e um sofisticado sistema de controle de fogo, composto por telêmetro, computador balístico mecânico, acionamentos elétricos e mira estabilizada. O M-48 não apenas substituiu gradualmente os modelos anteriores (M-46 e M-47), como também se tornaria o pilar da força blindada norte-americana durante a Guerra Fria, servindo em diversas frentes e sendo exportado para dezenas de países aliados. Sua produção, encerrada em 1956, ultrapassou a marca das doze mil unidades, consolidando-o como um dos tanques mais influentes de sua geração e um símbolo do equilíbrio entre inovação técnica, robustez e adaptabilidade — características que definiriam a evolução dos carros de combate nas décadas seguintes. Na segunda metade da década de 1950, a União Soviética iniciou a introdução de versões substancialmente atualizadas do T-54, incorporando mais de 1.400 modificações que elevaram sensivelmente o patamar operacional do veículo e despertaram preocupações agudas entre os planejadores militares ocidentais. A apreensão aumentou ainda mais quando serviços de inteligência detectaram o desenvolvimento de um novo blindado soviético, o T-55, cuja chegada aos arsenais do Pacto de Varsóvia prometia alterar o equilíbrio de forças na Europa. Diante desse quadro, tornou-se evidente que as variantes posteriores do M-48 Patton — mesmo aquelas já dotadas do canhão de 105 mm — careciam de capacidade para enfrentar adequadamente, em um confronto convencional na Europa, os novos blindados soviéticos. Além das qualidades técnicas desses veículos, a discrepância numérica entre as forças ocidentais e as unidades do Pacto de Varsóvia acentuava o problema, impondo um exigente desafio estratégico. Como resposta inicial, foram conduzidos estudos para promover uma modernização emergencial da frota M-48. As análises técnicas, contudo, revelaram que medidas incrementais tenderiam a produzir ganhos marginais apenas, insuficientes para reverter a vantagem soviética. Diante disso, optou-se por alçar um salto qualitativo: em abril de 1957 foi lançado um programa para o desenvolvimento de uma segunda geração de Main Battle Tanks (MBT) — uma nova família de blindados concebida desde sua gênese para integrar mobilidade, proteção e poder de fogo em níveis superiores. O projeto, conhecido inicialmente sob a égide “MBT T-95”, incorporou propostas de solução altamente experimentais para a época: um canhão de alma lisa T-208 de 90 mm rigidamente instalado na torre, um bloco motriz de configuração em “X”, blindagem composta inovadora e sistemas de telêmetro infravermelho. Contudo, a complexidade tecnológica dessas inovações acarretou atrasos significativos, forçando uma reavaliação e um retorno a alternativas mais convencionais. Um episódio determinante para a guinada tecnológica ocidental ocorreu em 1956, no contexto da Revolução Húngara. Um exemplar de T-54A, capturado e levado à embaixada britânica em Budapeste, foi inspecionado por técnicos do Reino Unido. As avaliações indicaram que as munições anticarro correntes na OTAN — do tipo HEAT (High Explosive Anti-Tank) e APC (Armor-Piercing Capped) — revelavam sérias limitações para penetrar a blindagem frontal do T-54A. Esse diagnóstico causou impacto imediato nas doutrinas e na indústria aliada.
Como contrapartida tecnológica, a Grã-Bretanha impulsionou o desenvolvimento de um novo canhão de 105 mm, o Royal Ordnance L7, projeto que se integraria ao blindado FV4007 Centurion, conferindo-lhe capacidade de vencer a proteção adversária e restituindo, em termos de poder de fogo, a paridade entre ocidente e bloco soviético. Assim, o confronto nas décadas seguintes travou-se não apenas em termos de quantidade, mas sobretudo como uma corrida constante por soluções tecnológicas capazes de restaurar o equilíbrio sobre o campo de batalha. Estes dados seriam compartilhados com os militares norte-americanos, passando a influenciar diretamente o programa do carro principal de combate "MBT T-95", e as ponderações resultantes deste estudo levariam a criação do programa XM-60, que passaria a gerido pelo Comitê do Exército para Veículos de Combate (Army Combat Vehicle-ARCOVE). Visando reduzir custos de desenvolvimento, produção e manutenção  além de aproveitar as infraestruturas industriais já disponíveis  decidiu-se que o novo carro de combate seria desenvolvido a partir da bem-sucedida plataforma do M-48 Patton, mantendo ainda algumas soluções técnicas herdadas do M-26 Pershing, seu antecessor. Para a escolha da arma principal, foram realizados em 1958 extensos testes comparativos no Campo de Provas de Aberdeen (Aberdeen Proving Grounds), envolvendo seis diferentes modelos de canhões. Os ensaios avaliavam parâmetros como precisão, poder de penetração, taxa de disparo e efeito terminal. Ao término das provas, a escolha recairia sobre o canhão T-123E6 de 105 mm, uma versão norte-americana produzida sob licença do eficiente Royal Ordnance L7 britânico, que já havia se destacado por sua capacidade de enfrentar com sucesso os carros de combate soviéticos da família T-54/T-55. Além de seu excelente desempenho balístico, o novo canhão apresentava a vantagem logística de poder empregar diversos tipos de munições já disponíveis nos arsenais norte-americanos, incluindo os modelos APDS-T (M392 e M728), APFSDS-T (M735 e M774), APFSDS-DU (M833), HEAT-FS (M456), HEP/HESH, e M393, entre outras. Essa compatibilidade representava um significativo ganho operacional e econômico. Após a conclusão do processo de padronização, o armamento receberia a designação definitiva de M-68, passando a ser fabricado pelo Watervliet Arsenal, em Nova York. O novo veículo também apresentava inovações significativas em sua proteção balística. O conjunto de blindagem foi redesenhado para empregar apliques compostos de vidro de sílica fundido, montados na parte frontal do casco. Essa configuração implicou na substituição do tradicional formato elíptico da parte dianteira do M-48 por uma estrutura em forma de cunha plana, mais inclinada e eficiente contra impactos diretos. Embora a espessura nominal do blindado frontal tenha sido reduzida de 114 mm para 93 mm, o novo ângulo de inclinação proporcionava uma proteção equivalente ou superior, ao mesmo tempo em que diminuía o peso do conjunto. Apesar dos bons resultados obtidos, o uso de materiais compostos foi posteriormente abandonado nas versões de produção subsequentes, sendo substituído por blindagem de aço homogêneo, que oferecia melhor equilíbrio entre custo, facilidade de manutenção e eficiência prática. O XM-60 também seria equipado com um moderno motor Continental AVDS-1790-2, um V-12 a diesel, biturbo e refrigerado a ar, capaz de gerar 750 hp, representando um avanço notável em relação ao motor a gasolina empregado no M-48. 

Essa mudança reduzia o consumo de combustível e o risco de incêndios em combate, além de simplificar o suprimento logístico das unidades blindadas. Em abril de 1959, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos aprovou o contrato para a construção de 45 unidades de pré-produção, com as primeiras saindo das linhas de montagem da Chrysler Defense Corporation, em Delaware, a partir de junho do mesmo ano. Assim nascia o que viria a ser o M-60 Patton, um dos carros de combate mais emblemáticos da Guerra Fria, destinado a tornar-se o pilar da força blindada norte-americana por mais de três décadas. As primeiras unidades do novo blindado começaram a ser entregues entre novembro e dezembro de 1959, sendo imediatamente submetidas a um exigente programa de avaliação no Aberdeen Proving Grounds. Lotes subsequentes foram encomendados para ensaios específicos no Arsenal de Detroit e em Fort Knox, cenário onde se validaram requisitos operacionais e de produção. Um quarto lote-piloto, concluído em 26 de outubro de 1959, serviu como casco-mestre para aferir os processos industriais na fábrica de tanques de Detroit, resultando numa produção inicial de baixa cadência de 180 veículos naquele ano. A produção em série efetiva teve início em outubro de 1960, já nas instalações do Detroit Arsenal Tank Plant, em Warren (Michigan), com os primeiros exemplares sendo encaminhados às unidades do Exército estacionadas na Europa a partir de dezembro de 1960. Apesar do avanço tecnológico representado pelo novo modelo em relação ao M-48 Patton, as avaliações operacionais iniciais indicaram a necessidade de introduzir aperfeiçoamentos de projeto e de integração de sistemas. Em resposta a essas demandas nasceu, no início de 1960, o programa de desenvolvimento da variante M-60A1. Os primeiros protótipos foram testados nos meses de março e abril, e a versão final suplantou várias limitações do projeto original: abandonou o uso de blindagem composta nas primeiras séries, adotou uma torre de proteção melhorada, incorporou periscópios de visão infravermelha (IR) e passou a utilizar o motor Continental AVDS-1790-2A, de perfil mais econômico e com menor emissão de fumaça. Após extensos ensaios em Fort Knox, o M-60A1 recebeu sua aceitação operacional em 22 de outubro de 1961. Na esteira dessa homologação foi firmado, no final daquele ano, um contrato de US$ 61 milhões para a aquisição inicial de 720 veículos, cuja produção, iniciada em 13 de outubro de 1962 na linha da Chrysler/Detroit Arsenal, se estenderia por cerca de duas décadas. A evolução prosseguiu com a busca por maior capacidade antiblindagem. O programa que resultou no M-60A2 focou no emprego de míssil antitanque lançado a partir do próprio veículo; vários protótipos foram submetidos a testes em Aberdeen, culminando na aceitação do modelo M-60A1E2 pelo Exército em 1970 e na assinatura de um contrato para 540 unidades, com entregas iniciadas a partir de 1975. Persistia, porém, uma limitação importante: tanto o M-60A1 quanto o M-60A2 apresentavam dificuldades para disparar com precisão em movimento. Para superar essa deficiência, a partir de 1978 foi empreendido o desenvolvimento da variante M-60A3, que integraria um sistema de estabilização de tiro eficaz e o novo computador balístico M-21. A combinação desses sistemas permitiu, pela primeira vez na família M-60, a execução de disparos precisos a longa distância durante deslocamento, inclusive com munições de ponta como projéteis APFSDS (munição tipo “flecha”), aumentando muito a probabilidade de acerto no primeiro tiro contra alvos móveis e sob condições ambientais adversas. Os primeiros  M-60A3 começaram a ser entregues às unidades a partir de meados de 1979, marcando uma nova etapa na vida operacional do veículo e consolidando-o como um MBT contemporâneo das exigências táticas da Guerra Fria.
Em serviço junto ao Exército dos Estados Unidos (U.S. Army) e ao Corpo de Fuzileiros Navais (U.S. Marine Corps), o M-60A3 consolidou-se, ao longo das décadas de 1970 e início dos anos 1980, como o carro de combate principal das forças norte-americanas. Seu desempenho sólido e confiável o tornou o eixo da doutrina blindada estadunidense durante o período mais tenso da Guerra Fria, quando a ameaça das forças do Pacto de Varsóvia impunha a necessidade de uma constante prontidão militar na Europa Ocidental. Todavia, com o advento do M-1 Abrams, um projeto de segunda geração que incorporava avanços significativos em mobilidade, poder de fogo e proteção, iniciou-se em 1984 um processo gradual de substituição do M-60A3 nas unidades de linha de frente. Cerca de 3.000 exemplares foram então transferidos para a Guarda Nacional do Exército (Army National Guard), passando a integrar as reservas estratégicas destinadas a reforçar as forças norte-americanas estacionadas no continente europeu em caso de conflito direto com a União Soviética. Uma fração dessa frota foi posteriormente submetida a programas de modernização, originando as variantes M-60AX e M-60A4, que incorporavam sistemas eletrônicos atualizados e melhorias no controle de fogo. Mesmo assim, um número expressivo de veículos manteve-se em serviço ativo durante as décadas seguintes, chegando a participar de forma efetiva na Primeira e na Segunda Guerra do Golfo (1991 e 2003), desempenhando funções tanto de apoio direto quanto de defesa territorial. O M-60A3 também alcançaria grande difusão internacional, tornando-se um dos carros de combate ocidentais mais exportados do século XX. Por meio do programa norte-americano de Vendas Militares Estrangeiras (Foreign Military Sales – FMS), centenas de unidades foram transferidas a países aliados dos Estados Unidos, recebendo a designação genérica E-60. Cada remessa era frequentemente customizada conforme as necessidades operacionais de cada nação, resultando em uma ampla gama de variantes que podiam incluir modificações na cúpula M-19, substituição de metralhadoras, atualização de eletrônicos, instalação de novos sistemas de controle de fogo e comunicações, placas de blindagem suplementar, lançadores de granadas de fumaça e motores de maior eficiência. Entre os operadores estrangeiros, Israel destacou-se como o principal usuário e modernizador da plataforma, adquirindo aproximadamente 1.350 unidades. O país implementou profundas atualizações locais que resultaram na criação da família Magach 6, adaptada às exigências do campo de batalha do Oriente Médio. A Jordânia, por sua vez, conduziu um programa de modernização próprio que originou o M-60A3 Phoenix, dotado de um canhão de alma lisa RUAG Land Systems L50 de 120 mm, capaz de disparar de 6 a 10 projéteis por minuto. Essa versão incorporava ainda o Sistema Integrado de Controle de Fogo (IFCS) desenvolvido pela Raytheon, composto por telêmetro a laser seguro para os olhos, visão noturna de segunda geração, computador balístico digital, sensores de referência de escala e barramento de dados MIL-STD-1553, elevando o desempenho do veículo a um novo patamar tecnológico.Além desses dois casos emblemáticos, a família M-60 foi amplamente difundida, servindo em forças armadas de países como Bósnia e Herzegovina, Bahrein, Alemanha, Espanha, Egito, Grécia, Irã, Líbano, Marrocos, Omã, Portugal, Arábia Saudita, Taiwan, Sudão, Tailândia, Tunísia, Singapura, Brasil, Turquia, Áustria, Etiópia, Itália, Iêmen e Ucrânia. 

Emprego no Exército Brasileiro.
A consolidação da Arma de Cavalaria Blindada no Brasil teve seu impulso decisivo a partir da Segunda Guerra Mundial, período em que o país recebeu, por meio de acordos de cooperação militar com os Estados Unidos, centenas de carros de combate dos modelos M-3 Stuart, M-3 Lee e M-4 Sherman. Para os padrões regionais da época, essa expressiva frota representava um salto notável em capacidade de combate e projeção de poder terrestre, elevando significativamente o patamar operacional da Força Terrestre brasileira. Contudo, o rápido avanço da tecnologia bélica no pós-guerra faria com que esses veículos se tornassem obsoletos em poucos anos, impondo ao Exército Brasileiro a necessidade de planejar um novo ciclo de modernização dos meios blindados. Nesse contexto, durante a década de 1960, o país passou a receber, dentro dos termos do Programa de Assistência Militar dos Estados Unidos (Military Assistance Program – MAP), os primeiros carros de combate médios M-41 Walker Bulldog. O M-41 representava um marco de modernidade para as tropas brasileiras, introduzindo sistemas até então inéditos na frota nacional  como torres com acionamento hidráulico, sistemas de visão infravermelha (nas versões M-41A3), canhões de maior poder destrutivo, miras mais precisas e elevada mobilidade. Essas inovações tecnológicas proporcionaram às tripulações brasileiras um novo nível de experiência operacional e um contato direto com o que havia de mais avançado em doutrina blindada no Ocidente. Todavia, a mesma velocidade com que a tecnologia militar evoluía na Guerra Fria logo tornaria o próprio M-41 tecnicamente ultrapassado. No início da década de 1970, já se discutia a necessidade de desenvolver soluções de modernização ou mesmo de produção nacional de carros de combate, em busca de autonomia estratégica e redução da dependência externa. Surgiriam, então, uma série de iniciativas em cooperação entre o Exército Brasileiro e a indústria nacional, entre as quais se destacaram os projetos Bernardini X1 e X1A, bem como os programas de modernização M-41B e M-41C Caxias. Apesar dos avanços obtidos, tais iniciativas tiveram caráter paliativo e eficácia operacional limitada, funcionando mais como soluções de transição do que como respostas definitivas à necessidade de um carro de combate moderno. Na sequência, projetos mais ambiciosos surgiriam, como o Bernardini MB-3 Tamoyo e o Engesa EET-1 P1 Osório, ambos concebidos com o objetivo de dotar o país de um tanque de batalha principal (MBT) de fabricação nacional. Entretanto, por razões técnicas, econômicas e conjunturais, nenhum deles ultrapassou a fase de protótipos, frustrando a expectativa de renovação plena da frota. Esses acontecimentos tiveram reflexos diretos na capacidade operacional da Força Terrestre. Na expectativa de uma solução doméstica, o Exército optou por adiar a aquisição de novos blindados estrangeiros, o que acabou por gerar um sensível atraso tecnológico frente aos exércitos vizinhos do Cone Sul, especialmente na virada das décadas de 1980 e 1990. No início dos anos 1990, a frota de carros de combate de primeira linha era composta majoritariamente pelos modelos M-41B e M-41C Caxias, ambos modernizados, porém já inadequados às exigências de um campo de batalha moderno. Paralelamente, ainda permaneciam em serviço dois Regimentos de Carros de Combate (RCC) equipados com os Bernardini X-1 Pioneiro e X-1A2 Carcará, igualmente defasados em termos de mobilidade, blindagem e poder de fogo.

Diante da premente necessidade de renovar a frota de blindados, a substituição em prazo curto das viaturas em linha tornou-se política prioritária do Estado-Maior do Exército, sendo formalmente incluída no ambicioso programa Força Terrestre 90 (FT-90). O FT-90 tinha por objetivo projetar e edificar um “exército do futuro” com horizonte até 2015, integrando-se a planos mais amplos  como o Força Terrestre 2000 (FT-2000) e o Força Terrestre do Século XXI (FT-21)  que visavam dotar a Força Terrestre de capacidades modernas e interoperáveis para a virada de século. No curto e médio prazos, o programa previa a aquisição de um lote substancial de carros de combate de nova geração, capaz de substituir progressivamente a frota então em serviço. Uma concorrência internacional foi aberta para avaliar propostas de fornecedores estrangeiros e comparar plataformas contemporâneas — entre as quais figuravam o AMX-30 francês, o Leopard 1 da Krauss-Maffei alemã, o M-60A3 norte-americano e, de forma menos convencional, o russo T-80, que chegou a ser avaliado por comitiva brasileira em visita à União Soviética/Rússia. Inicialmente, a preferência técnica do Exército Brasileiro tenderia para o Leopard 1 alemão. Todavia, a conjuntura econômica interna — marcada por estagnação e cortes orçamentários que afetaram os gastos militares ao longo daquela década — inviabilizou a aquisição massiva de mais de cem blindados novos de fábrica. Em face dessas limitações, o programa foi reorientado para compras por oportunidade, buscando soluções que conciliassem desempenho aceitável com custos reduzidos. Nesse contexto alternativo, chamou atenção a oferta da Bélgica, que disponibilizou para venda um lote de Leopard 1A1 usados — unidades do primeiro lote de produção (1968–1971) que haviam recebido atualizações de sistemas de mira e comunicações na década de 1980. A movimentação de mercado foi acompanhada com interesse por atores internacionais: o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos perceberam a chance de retomar influência na cadeia de abastecimento militar brasileira, especialmente após o hiato iniciado em 1977 — quando, em consequência do rompimento de acordos bilaterais, o Brasil havia voltado-se predominantemente para fornecedores europeus. Com esse pano de fundo geopolítico, em 1996 os Estados Unidos apresentaram ao governo brasileiro uma proposta financeiramente atraente em regime de leasing: a cessão de 91 carros de combate M-60A3 TTS  veículos retirados do serviço ativo norte-americano após a introdução do M-1 Abrams  acompanhados de munição, peças de reposição e treinamento. O pacote financeiro proposto somava US$ 12.000.000 (doze milhões de dólares), configurando uma alternativa de baixo custo imediato para o reequilíbrio da Arma Blindada. Essa oferta representou, ao mesmo tempo, uma solução pragmática às restrições orçamentárias brasileiras e uma oportunidade estratégica para retomar laços de cooperação material e logística com os Estados Unidos. A opção pelo M-60A3 TTS, portanto, foi fruto de um cálculo que conjugava necessidade operacional, disponibilidade imediata de meios e considerações geopolíticas — numa fase em que o país buscava, com urgência, recompor sua capacidade de dissuasão regional sem comprometer de forma insustentável os cofres públicos.
Embora o contrato de cessão fosse altamente vantajoso sob os pontos de vista técnico e financeiro, o acordo firmado com os Estados Unidos incluía cláusulas restritivas de emprego. Estas determinavam que os carros de combate não poderiam ser utilizados em situações de conflito real sem prévia autorização do governo norte-americano — uma limitação que refletia a política de controle de exportações de material bélico adotada por Washington desde o fim da Guerra Fria. Ainda assim, os termos gerais da proposta mostraram-se suficientemente favoráveis para que o governo brasileiro aprovasse o acordo. Em meados de 1996, uma comitiva de oficiais do Exército Brasileiro foi enviada à Base da Guarda Nacional (National Guard) em Fort Drum, no estado de Nova York, onde os M-60A3 TTS estavam armazenados em reserva técnica. A missão da delegação brasileira consistia em avaliar as condições gerais e selecionar as 91 viaturas que seriam transferidas ao Brasil. Paralelamente, uma segunda equipe, composta por oficiais e sargentos de Material Bélico, foi deslocada para o Fort Dix, em Nova Jersey, a fim de realizar o curso de manutenção e familiarização técnica com o novo modelo de carro de combate. Uma terceira equipe, formada por oficiais e sargentos de Cavalaria, participou do curso de guarnição e emprego operacional do M-60A3 TTS, tornando-se posteriormente instrutores e multiplicadores nos centros de formação nacionais. É relevante observar que, embora o contrato de aquisição dos carros de combate Leopard 1A1 junto à Krauss-Maffei tenha sido assinado antes da formalização do acordo de leasing com os Estados Unidos, os M-60A3 TTS foram os primeiros a chegar ao país, em fevereiro de 1997 — alguns meses antes do desembarque dos blindados alemães. Esse movimento foi interpretado como um gesto político do Departamento de Estado norte-americano, que buscava reafirmar sua influência sobre o governo brasileiro no campo da cooperação militar. Após a inspeção técnica de recebimento, as viaturas foram distribuídas entre unidades de Cavalaria e instrução: o 4º Regimento de Carros de Combate (RCC), sediado em Rosário do Sul (RS); o 5º RCC, em Rio Negro (PR); o Centro de Instrução de Blindados (CIBld) e a Escola de Material Bélico (EsMB), ambos no Rio de Janeiro. A incorporação dos M-60A3 TTS representou um salto tecnológico sem precedentes para a Arma Blindada brasileira. O modelo introduziu sistemas inéditos até então inexistentes na frota nacional, como o Tank Thermal Sight (TTS) — equipamento de visão noturna passiva e residual —, o tiro estabilizado e indireto, o telêmetro laser e o computador balístico de tiro M-21, que permitiam engajamentos de alta precisão em qualquer condição de luminosidade. Com sua blindagem mais robusta e o canhão M68 de 105 mm, o M-60A3 TTS foi classificado como carro de combate principal (Main Battle Tank – MBT), passando a integrar o núcleo das forças mecanizadas brasileiras. Contudo, a introdução do novo blindado também revelou limitações logísticas significativas: seu elevado peso bruto, superior ao dos modelos anteriormente em serviço, restringia sua mobilidade estratégica, especialmente em regiões onde a infraestrutura rodoviária e ferroviária nacional não havia sido dimensionada para suportar veículos dessa categoria.

Apesar dos desafios logísticos e operacionais que naturalmente acompanharam sua introdução, o M-60A3 TTS consolidou-se, ao longo dos anos, como um símbolo de modernização e de transição tecnológica no Exército Brasileiro. Sua chegada marcou a retomada da cooperação militar com os Estados Unidos, após quase duas décadas de afastamento, e estabeleceu um novo patamar de capacidade operacional para as unidades de carros de combate nacionais, ao incorporar sistemas de controle de fogo, sensores e miras térmicas até então inéditos em solo brasileiro. Embora se tratasse de um veículo de concepção complexa  e cuja frota apresentava problemas de padronização, com pequenas diferenças mecânicas e elétricas decorrentes dos programas de modernização realizados anteriormente nos Estados Unidos , o nível de operacionalidade do M-60A3 TTS no Brasil manteve-se consistentemente elevado. Esse desempenho deveu-se, em grande parte, ao empenho técnico e dedicação do Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMnt/5), sediado em Curitiba, que assumiu a difícil missão de garantir a sustentabilidade logística do sistema de armas. O PqRMnt/5, apoiado por equipes especializadas de manutenção e engenharia, obteve êxitos expressivos na nacionalização de componentes críticos, reduzindo a dependência de importações e assegurando a continuidade operacional dos blindados. Entre os itens nacionalizados destacaram-se filtros de bomba injetora, filtros primários de óleo e combustível, lubrificantes específicos, baterias de 150 Ah, bandagens da cinta de fricção e outros componentes vitais do sistema de propulsão e transmissão. Entretanto, com o avanço da tecnologia e o envelhecimento natural da frota, o Comando do Exército iniciou, a partir de 2006, um processo de reavaliação de seus meios blindados, buscando identificar alternativas capazes de substituir, a médio prazo, tanto os Leopard 1A1 quanto os M-60A3 TTS. Como resultado dessa análise, optou-se pela aquisição de mais de duzentas unidades usadas do modelo Leopard 1A5, também produzidas pela Krauss-Maffei, cuja incorporação começou em 2009. Essa nova etapa promoveu uma reorganização estrutural das forças blindadas, consolidando o Leopard 1A5 como o carro de combate principal (MBT) do Exército Brasileiro. Nesse contexto, decidiu-se pela desativação definitiva dos remanescentes Bernardini M-41C Caxias, ainda em operação junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), sediado em Campo Grande (MS) e subordinado ao Comando Militar do Oeste (CMO). Para substituir esses antigos veículos nacionais, o Exército determinou que o M-60A3 TTS passasse a equipar o 20º RCB, com trinta e duas viaturas transferidas para aquela unidade. O restante da frota foi encaminhado ao Parque Regional de Manutenção da 9ª Região Militar (PqRMnt/9), em Campo Grande, onde diversos carros foram desmontados para o aproveitamento de componentes, formando um importante estoque de suprimentos de 2ª classe. Três exemplares do M-60A3 TTS permaneceram em serviço junto ao Centro de Instrução de Blindados (CIBld), em Santa Maria (RS), empregados em atividades de formação e aperfeiçoamento de guarnições blindadas. Em operação junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada, os M-60A3 TTS rapidamente demonstraram excelente desempenho e confiabilidade, representando um salto qualitativo notável quando comparados aos antigos M-41C Caxias. Seu emprego conferiu à unidade um expressivo ganho em poder de fogo, alcance e precisão de engajamento, além de proporcionar às guarnições um contato mais direto com tecnologias de ponta em controle de tiro e sensores.
Entre os marcos mais significativos dessa trajetória, destaca-se a Operação de Tiro em Roraima, realizada em 29 de setembro de 2015. Nessa ocasião, um M-60A3 TTS deslocou-se por mais de 9.000 km, desde Campo Grande (MS) até Boa Vista (RR), culminando em um exercício de tiro real na Serra do Tucano, município de Bonfim, próximo à fronteira com a Guiana. No Lavrado — terreno de vegetação similar ao cerrado , o blindado realizou sete disparos com o canhão de 105 mm, marcando um momento histórico: pela primeira vez, um carro de combate do Exército Brasileiro operou e efetuou disparos no Teatro de Operações da Amazônia. Ao final da década de 2010, apesar da reconhecida robustez e desempenho satisfatório em serviço, o M-60A3 TTS já evidenciava sinais inequívocos de obsolescência tecnológica. A defasagem em relação aos carros de combate contemporâneos suscitou diversos estudos e análises voltados à modernização ou à extensão da vida útil das unidades remanescentes. Entre as possibilidades inicialmente aventadas, destacavam-se propostas de atualização do sistema de controle de tiro (SCT), a substituição do sistema hidráulico de giro da torre por um elétrico, a modernização dos sistemas de intercomunicação e, ainda, a incorporação de um Gerenciador de Campo de Batalha (Battlefield Management System). Esses estudos foram acompanhados de análises comparativas internacionais, examinando programas de modernização realizados em países como Israel, Turquia e Taiwan, onde o M-60 ainda permanecia em serviço em versões modificadas. A intenção era avaliar a viabilidade técnica e econômica de soluções semelhantes no contexto nacional, privilegiando a participação da indústria brasileira de defesa.  As conclusões preliminares desses levantamentos seriam compiladas em um relatório oficial elaborado pelo Grupo de Tarefa (GT) encarregado da “Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro”, documento posteriormente publicado no Boletim do Exército nº 26, de 28 de junho de 2019. Esse estudo reconhecia, de forma abrangente, que os principais carros de combate em operação no país  Leopard 1A5 e M-60A3 TTS apresentavam expressiva defasagem tecnológica, sobretudo no tocante à proteção balística, aos sistemas de armamento, à aquisição de alvos, aos sensores de observação, à direção de tiro e aos meios de comando e controle (C2). Diante dessas limitações e da restrição orçamentária persistente, somadas à necessidade de padronização dos meios blindados da Cavalaria, o Alto-Comando, decidiu não aplicar programas de modernização aos M-60A3 TTS. Em vez disso, estabeleceu-se que as viaturas ainda operacionais deveriam permanecer em serviço mediante manutenção de rotina, utilizando-se os recursos e componentes disponíveis, até que sua substituição definitiva fosse viabilizada no âmbito do Programa “Nova Couraça”, destinado ao desenvolvimento e à aquisição de um novo carro de combate principal (MBT) para o Exército Brasileiro. Atualmente, as últimas vinte e cinco viaturas M-60A3 TTS permanecem em operação junto ao 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), sediado em Campo Grande (MS), sob a estrutura do Comando Militar do Oeste (CMO). 

Em Escala.
Para representarmos o M-60A3 TTS do Exército Brasileiro empregado atualmente pelo 20º Regimento de Cavalaria Blindada (RCB), fizemos uso do excelente kit da Tamiya na escala 1/35, modelo este que apresenta um excelente nível de detalhamento fornecendo ainda um set extras de equipamentos, tripulação e munição para emprego. Utilizamos decais confeccionados pela  Eletric Products presentes no  set  "Forças Armadas do Brasil".
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura adotado pelo Exército Brasileiro, com este esquema tático de dois tons sendo adotado após o término do contrato de leasing dos M-60A3 TTS. Estes carros de combate foram recebidos em 1997 ostentando uma camuflagem tática em três tons empregada nas unidades do Exército dos Estados Unidos (US Army) baseados na Europa, salientando que por disposições previstas no contrato, estes carros não poderiam sofrer nenhuma alteração em seu padrão de pintura, incluindo a adoção de marcações nacionais de qualquer espécie.
Bibliografia :
- Blindados sob lagartas - Expedito Carlos S. Bastos www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/BSLMPI.pdf
- Blindados no Brasil – Um Longo e Árduo Aprendizado Vol II, por Expedito Carlos S. Bastos
- M60A3 TTS no Brasil – www.defesanet.com
- Viaturas do Exército Brasileiro - http://viaturasdoeb.blogspot.com.br/
- M-60 Patton - http://en.wikipedia.org/wiki/M60_Patton