M-1 Gun Antitanque 57 mm

História e Desenvolvimento.
No início da década de 1930, as unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army) contavam com metralhadoras de calibre .50 (12,7 mm) como suas armas de maior potência. Embora estudos já estivessem em andamento para desenvolver uma arma de maior calibre, capaz de neutralizar veículos automotores e carros blindados contudo, os estudos iniciais eram embrionários e enfrentavam resistência de oficiais de alta patente, que viam o desenvolvimento de novas armas como uma prioridade secundária. A necessidade de conter custos levou os militares a priorizar a análise de peças de artilharia de calibres semelhantes disponíveis no mercado, evitando o desenvolvimento de novos projetos do zero. Entre os modelos avaliados, destacou-se um canhão alemão, que serviu de inspiração para o desenvolvimento, a partir de 1938, do primeiro canhão antitanque americano, o M-3 37 mm. Esta classificada como "leve" apresentava um peso de  de aproximadamente 414 kg, o que facilitava seu transporte por equipes de infantaria ou veículos leves. Ele utilizava munições perfurantes (AP) e explosivas (HE), com uma cadência de tiro de cerca de 20 disparos por minuto. Sua mobilidade e facilidade de operação eram pontos fortes, mas o alcance efetivo, limitado a cerca de 500 metros contra alvos blindados.  Essa arma representou um avanço significativo para o Exército dos Estados Unidos (US Army), sendo projetada para enfrentar as ameaças emergentes de veículos blindados.   O M-3 37 mm recebeu seu batismo de fogo em dezembro de 1941, durante a defesa das Filipinas contra o Exército do Império do Japão. Nesse cenário, o canhão demonstrou sua eficácia contra alvos pouco blindados, como veículos automotores e posições de infantaria japonesas. Seu desempenho foi particularmente notável na Campanha de Guadalcanal (1942), onde foi amplamente utilizado contra a infantaria inimiga e os carros de combate japoneses, cuja blindagem leve era facilmente penetrada pelos projéteis de 37 mm. Essas operações iniciais renderam elogios ao M-3, destacando sua mobilidade e facilidade de operação em terrenos desafiadores.  O verdadeiro teste do M-3 37 mm veio durante a Campanha do Norte da África (1942-1943), onde enfrentou os modernos carros de combate alemães, como os Panzer III e IV. Nesse teatro de operações, o canhão revelou suas limitações críticas: seu calibre de 37 mm era insuficiente para penetrar a blindagem mais robusta dos tanques alemães. Relatórios de inteligência elaborados após a desastrosa Batalha de Kasserine, em fevereiro de 1943, indicaram que os projéteis do M-3 mal causavam danos significativos aos blindados da Wehrmacht, sendo descritos como incapazes de "arranhar" os tanques inimigos. As análises iniciais geraram debates entre os oficiais americanos, com explicações que variavam entre a obsolescência do equipamento, táticas inadequadas ou falta de experiência das equipes. Estudos mais detalhados, no entanto, concluíram que o M-3 era intrinsecamente inadequado para enfrentar as novas ameaças blindadas, destacando a necessidade urgente de substituí-lo por um canhão de maior calibre e potência.

A constatação das limitações do canhão antitanque M-3 37 mm durante a Campanha do Norte da África, especialmente após a Batalha de Kasserine em 1943, levou o comando do Exército dos Estados Unidos (US Army) a priorizar a substituição dessa arma por sistemas de maior calibre e potência. A incapacidade do M-3 de enfrentar os modernos tanques alemães, como os Panzer III e IV, revelou a urgência de adaptar a artilharia antitanque às rápidas evoluções tecnológicas do campo de batalha na Segunda Guerra Mundial. A trajetória do M-3, marcada por sucessos iniciais contra blindagens leves no Pacífico, ilustra os desafios enfrentados pelos militares norte-americanos em acompanhar o ritmo das inovações militares, impulsionando o desenvolvimento de canhões como o M-1 57 mm e o M-5 76 mm. Paralelamente, do outro lado do Atlântico, o Exército Real Britânico (Royal Army) enfrentava desafios semelhantes. No início de 1940, o comando britânico reconheceu a obsolescência do canhão antitanque QF 2 Pounder 40 mm, cuja ineficácia foi evidente nos primeiros meses da Campanha da França, quando confrontado com os avançados carros de combate alemães. Diante dessa realidade, foi emitida uma demanda urgente aos arsenais britânicos para o desenvolvimento de uma nova arma antitanque capaz de superar essas limitações. O Woolwich Arsenal, renomado por sua expertise na produção de artilharia, foi selecionado para liderar o projeto. A escolha do calibre 57 mm foi estratégica, baseada na experiência da instituição na fabricação de peças semelhantes no final do século XIX. Esse know-how, combinado com o ferramental existente, permitiu eliminar etapas no processo de desenvolvimento, acelerando a concepção do novo canhão, que seria designado QF 6 Pounder 57 mm. A fase de projeto foi finalizada em meados de 1940, mas o desenvolvimento do reparo de transporte enfrentou atrasos, sendo concluído apenas em fevereiro de 1941, o que impactou o cronograma original. A situação foi agravada pelos eventos da queda da França e da evacuação das praias de Dunquerque, durante a Operação Dynamo (1940). Nesse processo, a Força Expedicionária Britânica (British Expeditionary Force – BEF) perdeu grande parte de seus equipamentos e armamentos, incluindo canhões antitanque. Com a ameaça iminente de uma invasão alemã e a escassez de armas disponíveis, o comando britânico tomou a decisão pragmática de priorizar a produção em massa do QF 2 Pounder 40 mm, uma arma já em uso, que não exigia treinamento adicional ou adaptação das tropas. Essa escolha, motivada por questões de produtividade e urgência, adiou a fabricação do QF 6 Pounder. A produção do QF 6 Pounder 57 mm foi iniciada em novembro de 1941, com sua entrada em serviço operacional a partir de maio de 1942. Apesar dos atrasos, o canhão provou ser um avanço significativo, oferecendo maior poder de penetração e eficácia contra os blindados alemães em comparação com seu antecessor. Sua introdução no campo de batalha marcou um momento crucial na modernização da artilharia antitanque britânica, contribuindo para o esforço aliado em teatros como o Norte da África.
O canhão antitanque QF 6 Pounder 57 mm, desenvolvido pelo Exército Real Britânico (Royal Army), enfrentou seu batismo de fogo durante a Batalha de Gazala, entre 26 de maio e 21 de junho de 1942, no deserto do Norte da África. Nesse confronto, as forças aliadas, equipadas com o QF 6 Pounder, enfrentaram as divisões blindadas alemãs e italianas sob o comando do General Erwin Rommel. Apesar do desempenho notável do canhão, que demonstrou eficácia contra os tanques do Eixo, a batalha culminou em uma vitória das forças adversárias. Contudo, os relatórios detalhados do uso do QF 6 Pounder confirmaram sua superioridade em relação aos canhões antitanque anteriores, como o QF 2 Pounder 40 mm, destacando sua capacidade de penetração e versatilidade no campo de batalha. A performance do QF 6 Pounder chamou a atenção do Exército dos Estados Unidos (US Army), que buscava urgentemente substituir o obsoleto M-3 37 mm, cuja ineficácia contra os tanques alemães Panzer III e IV foi evidenciada na Campanha do Norte da África. Reconhecendo o potencial do canhão britânico, os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido celebraram um acordo para a produção sob licença do QF 6 Pounder, designado nos EUA como M-1 Gun 57 mm. A variante escolhida foi baseada no modelo QF 6 Mark II, e dois exemplares foram enviados ao Watervliet Arsenal para a confecção de gabaritos e ferramental, permitindo a adaptação do projeto às capacidades industriais americanas. A alta demanda pelo M-1 57 mm levou à decisão de expandir a produção para o Rock Island Arsenal, com as primeiras unidades entregues a partir de outubro de 1942. Para atender às especificidades operacionais americanas, foram desenvolvidas variantes: o M-1A1, equipado com pneus e rodas do tipo US Combat, e o M-1A2, que incorporava a prática britânica de travessia livre, permitindo que a tripulação ajustasse a direção do canhão manualmente, empurrando e puxando a culatra, em vez de depender exclusivamente de engrenagens. Contudo, visando otimizar a produtividade em meio às pressões da guerra, a partir da primavera de 1943, o foco industrial foi direcionado à produção da versão padrão M-1. Cerca de dois terços da produção do M-1 foram destinados às divisões do US Army baseadas na Inglaterra, garantindo alta disponibilidade para a planejada invasão da França em 1944, um marco crucial na campanha aliada na Europa Ocidental. O restante da produção foi alocado ao programa Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), que forneceu apoio militar aos aliados. A maior parte dessas peças foi entregue às forças britânicas, reforçando sua artilharia antitanque, enquanto um pequeno volume foi cedido à União Soviética, para uso pelo Exército Vermelho em sua luta contra as forças do Eixo.

A adoção do QF 6 Pounder e sua produção como M-1 57 mm ilustram a colaboração estreita entre os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, unindo esforços para superar as limitações tecnológicas e táticas diante de um inimigo formidável. A transição do M-3 37 mm para o M-1 57 mm, inspirada no sucesso do QF 6 Pounder, reflete a determinação dos militares americanos e britânicos em adaptar suas capacidades ao ritmo acelerado da guerra. O M-1 57 mm, com sua maior potência e versatilidade, tornou-se um pilar da artilharia antitanque aliada, contribuindo significativamente para o esforço de guerra e deixando um legado de inovação e resiliência na história militar. Como registrado anteriormente, os canhões M-1 Gun e QF6 Pounder apresentaria resultados extremamente positivos, sendo capaz de penetrar qualquer blindagem dos veículos alemães e italianos. Em sua ação mais célebre, os canhões de QF 6 Pounder do 2º Batalhão, a Brigada de Fuzileiros (juntamente com parte da Artilharia Real de Bateria Antitanque 239), destruiriam mais de quinze tanques inimigos na ação em 'Snipe' durante a Segundo Batalha de El Alamein. Com estes resultados se repetindo posteriormente durante as fases iniciais da invasão da Itália. No entanto ao longo do ano seguinte, os alemães introduziram projetos muito mais pesados e fortemente blindados de carros de combate, especialmente os tanques Tiger I e o Panther, contra os quais a munição de 57 mm se mostraria ineficaz quando empregada contra sua blindagem frontal. Desta maneira as forças aliadas passariam a empregas táticas de engajamento lateral e traseiro, com os canhões QF6 Pounder sendo responsáveis pelos primeiros carros de combate Tiger destruídos no norte da África. A partir de maio de 1944 este cenário começaria a mudar, com os carros de combate alemães de nova geração passando a ser vítimas com a introdução de munições mais sofisticadas como o Armor-Piercing Composite Rigid - APCR (munição perfurante de blindagem), Armor-Piercing e Discarding Sabot - APDS. Próximo a implementação da operação Overlord os canhões M-1 Gun 57 mm se encontravam disponíveis em grande número na Europa, e de acordo Tabela de Organização e Equipamentos (TO&E) de 26 de maio de 1943, uma Companhia Regimental Antitanque, passava a incluir nove canhões de 57 mm e cada batalhão dispunha de um pelotão antitanque com três canhões, totalizando dezoito armas destas por regimento. Em meados de 1944, o M-1 57 mm já representava o equipamento padrão das forças norte-americanas na Frente Ocidental, superando largamente em números os canhões M- 3 Gun 37 mm. Durante a campanha de invasão na Normandia os canhões antitanque M1 57 mm, apresentaram destacada participação no esforço aliado, e neste cenário seriam tracionados pelos veículos Dodge WC-63 1 1⁄2 Toneladas 6x6 e  White M-3 Half-Track. 
Com a consolidação da cabeça de ponte na Normandia após a Operação Overlord em 1944, os canhões antitanque M-1 57 mm, produzidos sob licença nos Estados Unidos com base no britânico QF 6 Pounder, foram cedidos às Forças Francesas Livres (France Libre), desempenhando um papel crucial no avanço aliado contra as forças do Eixo na Frente Ocidental. Esses canhões, tracionados por veículos como o Dodge WC-63 e o White M-3 Half-Track, ofereceram mobilidade e potência de fogo, contribuindo significativamente para o sucesso das operações na França. A colaboração entre os aliados, exemplificada pela transferência dessas armas, reforçou a determinação coletiva de derrotar a ameaça nazi-fascista. Com o fim da Segunda Guerra Mundial em maio de 1945, o Exército dos Estados Unidos (US Army) iniciou a desmobilização de suas tropas, e os canhões M-1 57 mm começaram a ser gradualmente desativados. A introdução de novas tecnologias, como canhões sem recuo e bazucas, que ofereciam maior mobilidade e poder de penetração, marcou a transição para uma nova geração de armas antitanque. Apesar disso, o M-1 permaneceu relevante em conflitos subsequentes devido à sua confiabilidade e disponibilidade em grandes quantidades. O eclodir da Guerra da Coreia (1950-1953) trouxe o M-1 57 mm de volta ao cenário de combate. Muitas unidades foram mobilizadas e cedidas ao Exército da Coreia do Sul (Daehanminguk Yuk), onde se mostraram eficazes em operações contra blindados leves e posições fortificadas. A versatilidade do canhão, aliada à sua facilidade de operação, garantiu sua utilidade em um conflito marcado por combates intensos em terrenos variados. Antes mesmo da Guerra da Coreia, as Forças de Defesa de Israel (IDF) tornaram-se um dos maiores operadores pós-guerra do M-1 57 mm e do QF 6 Pounder. Empregados em batalhões antitanque em nível de brigada e pelotões antitanque de batalhão, esses canhões eram essenciais para as operações defensivas e ofensivas de Israel. Até o final de 1955, o IDF contava com 157 peças em serviço ativo, e, em 1956, mais 100 unidades foram adquiridas da Holanda. Infelizmente, essas últimas chegaram tarde demais para serem utilizadas na Crise do Canal de Suez (1956), mas reforçaram o arsenal israelense em conflitos posteriores. O M-1 57 mm também foi adotado pelas Forças Armadas do Paquistão, onde serviu por muitos anos. Atualmente, várias dessas peças são preservadas como gate guardians (guardas do portão) em bases militares paquistanesas, simbolizando sua importância histórica. Durante a Guerra do Biafra (1967-1970), tanto o Exército Federal da Nigéria quanto as Forças Armadas de Biafra fizeram uso do M-1/QF 6 Pounder, adaptando-os até mesmo como canhões embarcados em pequenos navios, demonstrando a versatilidade do sistema em contextos não convencionais. Entre 1942 e 1945, os arsenais norte-americanos, incluindo o Watervliet Arsenal e o Rock Island Arsenal, produziram mais de 15.000 canhões da família M-1 57 mm.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, impulsionada pelo programa norte-americano Lend-Lease Act. A partir de meados de 1942, navios de transporte começaram a desembarcar no porto do Rio de Janeiro, trazendo uma gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. O compromisso do Brasil com o esforço de guerra aliado foi formalizado em  Em 9 de agosto de 1943, por meio da Portaria Ministerial nº 4.744, publicada em boletim reservado no dia 13 do mesmo mês, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Estruturada como a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob o comando do General de Divisão João Batista Mascarenhas de Morais, a FEB incluía, além da divisão principal, diversos órgãos não-divisionários essenciais para sua operação. devendo ao todo ser composta por 25.000 soldados.  A composição da Força Expedicionária Brasileira (FEB) contemplava quatro grupos de artilharia (três equipados com obuses de 105 mm e um com 155 mm), uma esquadrilha de aviação da Força Aérea Brasileira para ligação e observação, um batalhão de engenharia, um batalhão de saúde, um esquadrão de reconhecimento e uma companhia de comunicações. A força contava ainda com um comando próprio, um comando de quartel-general, um destacamento de saúde, uma companhia de manutenção, uma companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de polícia e, simbolicamente, uma banda de música. Além disso, a infantaria recebeu uma variedade de armas anticarro e antitanque, incluindo 57 canhões M-1 57 mm, uma arma até então inédita no Exército Brasileiro.  Para operar esses canhões, foi criada, em 12 de abril de 1943, pelo Decreto-lei nº 5.388-A, a Companhia de Canhões Antitanque, destinada a reforçar a capacidade da FEB de enfrentar blindados inimigos. Esses canhões M-1 57 mm, baseados no britânico QF 6 Pounder, ofereciam maior poder de penetração em comparação com os obsoletos M-3 37 mm, representando um avanço significativo para as operações brasileiras.
Embora as tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB)  destinadas ao teatro de operações na Itália tenham passado por um intensivo programa de treinamento nos centros de instrução do Campo dos Afonsos e Gericinó, no Rio de Janeiro, a familiarização com equipamentos mais complexos, como os canhões antitanque M-1 57 mm e os obuseiros modernos, ainda apresentava deficiências. Essa lacuna foi suprida em solo italiano, com a implementação de um programa de instrução entre 5 e 18 de agosto de 1944, na localidade de Tarquinia, situada 60 quilômetros a noroeste de Roma. Nesse período, os soldados brasileiros responsáveis pela operação dos canhões antitanque foram treinados por militares do V Exército dos Estados Unidos, que possuíam vasta experiência no manejo do M-1 57 mm. Esse treinamento focou na doutrina operacional e nas técnicas de emprego do canhão, capacitando os pracinhas brasileiros para enfrentar os desafios do combate contra blindados no front italiano. No dia 15 de setembro de 1944,  clima gelado  já prenunciava os rigores do inverno próximo, e seria nestas condições que a  Força Expedicionária Brasileira (FEB) receberia seu batismo de fogo, quando as tropas lideradas pelos General Zenóbio da Costa, atuariam em coordenação com três companhias norte-americanas, com esta operação enfrentando pouca resistência do inimigo. Dois dias depois seriam conquistadas as localidades de Massarosa, Bozzano e Quiesia, não sendo registrado, no entanto, nenhum encontro com unidades blindadas alemães ou italianas.  A exemplo da formatação de emprego doutrinário original do Exército dos Estados Unidos (US Army), os canhões antitanque M-1  Gun de 57 mm podem ter sido empregados em conjunto com os canhões M-3 Gun de 37 mm. Junto ao contingente brasileiro, estas armas equipariam o  1º Regimento de Infantaria – Sampaio, 6º Regimento de Infantaria – Ipiranga e 11º Regimento de Infantaria – Tiradentes e pela Companhia Anti Carros. Existem poucos registros oficiais do emprego destes canhões contra veículos blindados inimigos, com estas peças sendo geralmente utilizadas em ataques contra pontos de defesa ou fortificações inimigas. Após o término do conflito em maio de 1945, todos os canhoes M-1 Gun de 57 mm bem como os demais veículos, armas e equipamentos cedidos pelos norte-americanos seriam entregues ao Comando de Material do Exército dos Estados Unidos (US Army) na cidade de Roma. Nesta unidade todos estes materiais considerados em melhor estado de conservação seriam armazenados e despachados posteriormente ao Brasil por via naval. Após serem recebidos no porto do Rio de Janeiro em julho deste mesmo ano, estas peças de artilharia "italianas", passariam a ser concentradas nas unidades de Infantaria e de Companhias Anti Carro, que já operam o mesmo tipo de armamento recebido anteriormente.   

O canhão antitanque M-1 57 mm, baseado no britânico QF 6 Pounder, desempenhou um papel significativo na modernização da artilharia do Exército Brasileiro durante e após a Segunda Guerra Mundial. Ao longo de sua trajetória, essas armas foram tracionadas por uma variedade de veículos, refletindo a evolução das capacidades logísticas da Força Terrestre. Inicialmente, os M-1 foram tracionados por carros blindados como o M-3A1 Scout Car, blindados meia-lagarta White M-2, M-3 e M-5, e utilitários Dodge WC-63 e WC-62 Beep 6x6 Big Foot. Próximo ao fim de sua carreira operacional, já na década de 1960, veículos utilitários nacionais militarizados, como os Ford Willys-Overland Rural F-85, assumiram essa função, demonstrando a adaptabilidade do Exército Brasileiro às condições locais. Embora o M-1 57 mm fosse consideravelmente superior ao seu antecessor, o M-3 37 mm, em termos de potência e eficácia contra blindagens, sua operação no Exército Brasileiro enfrentou restrições significativas devido à escassez de munição de 57 mm. Ao contrário do calibre 37 mm, amplamente disponível por equipar os carros de combate leve CCL M-3 Stuart e os blindados VBR  M-8 Greyhound, e produzido localmente, a munição de 57 mm nunca foi fabricada no Brasil. Essa limitação restringiu o treinamento prático de tiro, impactando a plena exploração das capacidades do M-1 57 mm. No início da década de 1960, o Exército Brasileiro recebeu um novo lote de canhões M-1 57 mm, provenientes de unidades de infantaria do Exército dos Estados Unidos (US Army), cuidadosamente armazenados desde sua desativação no final dos anos 1950. Essa cessão, parte do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, incluiu também um significativo estoque de munição de 57 mm de diversos tipos, proporcionando um alívio para a escassez anterior. Com isso, foi possível retomar a operacionalidade do M-1 57 mm, permitindo sua redistribuição para além dos Regimentos de Infantaria (RI) e das Companhias de Canhões Anticarros (CCAC), alcançando também alguns Esquadrões de Reconhecimento Motorizado (Esqd Rec Mec). Essa ampliação reforçou a capacidade antitanque da Força Terrestre, atendendo às demandas táticas da época. Um momento notável na história do M-1 57 mm no Brasil foi seu emprego durante a Revolução de 1964 (ou Contra-Revolução, conforme a perspectiva), deflagrada em 31 de março daquele ano. Nesse contexto, o Exército Brasileiro mobilizou suas forças nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro para demonstrações de força, e os canhões M-1 foram utilizados em operações de prontidão. Embora não tenham sido empregados em combates diretos, sua presença reforçou a capacidade de dissuasão da Força Terrestre, destacando a relevância estratégica desses equipamentos em momentos de crise política.
A partir do final de 1965, no âmbito do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, as Forças Armadas Brasileiras começaram a receber novos lotes de equipamentos bélicos modernos de origem norte-americana, marcando um novo capítulo na modernização de seu arsenal. Nesse contexto, o Exército Brasileiro foi contemplado com um número considerável de canhões sem recuo (CSR) M-40, M-40A1 e M-40A2  Recoilless Rifle  de 106 mm, projetados especificamente para missões anticarro e antitanque. Essas armas, caracterizadas por seu menor peso, facilidade de manejo e alta eficiência operacional, representaram um avanço significativo em relação aos canhões antitanque M-1 57 mm, que, apesar de sua relevância durante a Segunda Guerra Mundial e na Revolução de 1964, enfrentavam limitações devido à escassez de munição. Os canhões sem recuo CSR , com sua maior potência e versatilidade, começaram a substituir imediatamente os M-1 57 mm nos Batalhões de Infantaria. Além disso, eles passaram a equipar unidades que ainda utilizavam os obsoletos canhões M-3 37 mm, ampliando a capacidade antitanque da Força Terrestre. A introdução dos canhões se recuo permitiu ao Exército Brasileiro atender às demandas do combate moderno, oferecendo maior mobilidade e poder de fogo em comparação com seus predecessores. Essa transição refletiu o compromisso com a atualização das capacidades operacionais, alinhando o Brasil às tendências globais em armamentos antitanque. Apesar de sua superioridade operacional, o M-1 57 mm enfrentava um desafio persistente: a escassez de munição de 57 mm, agravada pelo seu intenso uso em anos anteriores. Diferentemente do calibre 37 mm, amplamente disponível e produzido localmente para os carros de combate M-3 Stuart e blindados M-8 Greyhound, a munição de 57 mm dependia exclusivamente de importações, limitando o treinamento e o emprego prático do canhão. Esse cenário levou, em 1967, à decisão de iniciar o processo de desativação do M-1 57 mm. A retirada gradual dessas armas culminou em meados de 1972, encerrando sua carreira operacional no Exército Brasileiro. Após sua desativação, muitos canhões M-1 57 mm foram preservados como monumentos nas sedes de unidades operacionais, simbolizando a história de bravura e modernização da artilharia brasileira. Outras peças foram destinadas a museus militares espalhados pelo país, onde passaram a integrar acervos que celebram o legado da Força Terrestre. Algumas unidades foram desmilitarizadas e adquiridas por entusiastas e colecionadores civis, permitindo que a memória do M-1 continuasse viva em coleções particulares.

Em Escala:
Para recriar o canhão antitanque M-1 57 mm, um marco na história da artilharia brasileira durante a Segunda Guerra Mundial e eventos posteriores, como a Revolução de 1964, foi utilizado o kit na escala 1/35 produzido pela Riich Models. Este modelo, embora apresente desafios devido à qualidade mediana da injeção plástica, com rebarbas que exigem cuidado adicional durante a montagem, destaca-se positivamente pelo conjunto detalhado de peças em photo-etched. Essas peças conferem maior realismo e precisão aos componentes do canhão, como o reparo e os sistemas de travessia, capturando a essência do M-1 em sua configuração operacional. A representação da versão empregada pelo Exército Brasileiro não requer alterações adicionais, permitindo que o kit seja montado diretamente da caixa.
O canhão antitanque M-1 57 mm, peça fundamental na modernização da artilharia do Exército Brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial, foi recebido a partir de 1942 com um esquema de pintura tático único, baseado no sistema Federal Standard (FS). Esse padrão, aplicado às primeiras 57 unidades cedidas à Força Expedicionária Brasileira (FEB) por meio do programa Lend-Lease Act e mantido nos lotes subsequentes recebidos na década de 1960, foi projetado para garantir camuflagem eficaz em diversos cenários operacionais, desde os campos de batalha na Itália até operações domésticas, como a Revolução de 1964. O esquema de pintura permaneceu inalterado ao longo de toda a carreira operacional do M-1 57 mm no Brasil, refletindo sua adequação às necessidades táticas da Força Terrestre.


Bibliografia: 
- M-3 57 mm Gun Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Ordnance_QF_6-pounder
- US M-1 57 mm Anti-tank gun at Militaria: Weapons - http://efour4ever.com/57mm.htm
- Artilharia de Campanha no Exército Brasileiro – Cezar Carriel Benetti - http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/ACEB.pdf