M-102 L/22 105 mm

História e Desenvolvimento.
O calibre 105 mm emergiu como um marco na artilharia de campanha no início do século XX, impulsionado pelas lições aprendidas durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Nesse conflito, os exércitos europeus, especialmente o alemão, demonstraram a superioridade de obuseiros de 105 mm, como o leichte Feldhaubitze 16 (leFH 16), que combinava alcance, potência de fogo e relativa mobilidade. Comparados aos canhões de 75 mm, como o francês Canon de 75 modèle 1897, amplamente utilizado pelos Aliados, os obuseiros de 105 mm ofereciam maior impacto e versatilidade, particularmente em combates de trincheiras e no apoio às tropas terrestres. A eficácia dessas armas em cenários de guerra moderna destacou a necessidade de modernização dos arsenais aliados, que ainda dependiam de equipamentos projetados no final do século XIX. Após o armistício de novembro de 1918, a Força Expedicionária Americana (AEF), que participou ativamente da guerra na Europa, capturou um pequeno lote de obuseiros alemães leFH 16. Essas peças foram enviadas aos Estados Unidos para análise detalhada pelo Departamento de Artilharia do Exército dos Estados Unidos (U.S. Army Artillery), responsável pelo desenvolvimento e operação dos sistemas de artilharia.  Esse estudo marcou o início de um esforço sistemático para desenvolver uma nova geração de obuseiros de 105 mm, com o objetivo de substituir as peças de 75 mm e alinhar a artilharia norte-americana aos padrões modernos. Estes esforços culminariam no desenvolvimento do obuseiro M-2A1 105 mm, que passaria a ser distribuído  ao regimentos de artilharia de campanha no inicio do ano de 1941, recebendo seu batismo de fogo  durante a Campanha de Guadalcanal (agosto de 1942 – fevereiro de 1943), no teatro do Pacífico. Neste período o Exército dos Estados Unidos (US Army) implementou uma estrutura padronizada para seus regimentos de artilharia de campanha, visando otimizar o apoio de fogo às divisões de infantaria e blindados. A combinação de obuseiros de 155 mm e 105 mm refletia a necessidade de equilibrar alcance, poder de fogo e mobilidade, permitindo flexibilidade tática em diferentes cenários de combate. O obuseiro M-1 de 155 mm (mais tarde redesignado como M-114) era uma arma de maior calibre, projetada para alvos de maior distância e fortificações, enquanto o obuseiro M-2A1 de 105 mm (posteriormente M-101) era mais leve, móvel e ideal para apoio direto à infantaria. Desta maneira cada regimento  de artilharia passaria a ser constituído por um  Batalhão de Artilharia de 155 mm com doze canhões cada e por três Batalhões de Artilharia de 105 mm com doze armas cada também.  A proporção de três batalhões de 105 mm para um de 155 mm evidencia a necessidade de maior volume de fogo tático, mas a presença do M-1 de 155 mm reforça o papel crítico de ataques de maior impacto.

Ao término da Segunda Mundial, a produção total do M-2A1 105 mm havia atingido a cifra de 8.563 unidades, se tornando a principal peça de artilharia neste calibre das forças aliadas. O eclodir da Guerra da Coréia levaria a retomada de sua produção, com este obuseiro participando ativamente deste conflito, e até o final de 1953 seriam entregues ao Exército dos Estados Unidos (US Army) mais 1.639 peças.  Embora confiável e eficiente, apresentava limitações em termos de peso, mobilidade e capacidade de transporte aéreo. Com o aumento da necessidade de maior mobilidade tática, especialmente para operações aeromóveis e em terrenos difíceis. Dessa maneira suscitava nos altos escalões a necessidade a médio prazo por um substituo, com esta percepção sendo reforçada pelo elevado nível de desgaste observado na maioria destes obuseiros em serviço, tendo em vista seu intenso emprego em cenários de conflagração real. Visando a atender a esta importante demanda, no início ano de 1960, seria lançado um programa para o desenvolvimento de um novo obuseiro de campanha com calibre de 105 mm, com suas especificações básicas seriam definidas em conjunto entre o Exército dos Estados Unidos (US Army) e o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marine Corps). Seu desenvolvimento seria conduzido pelo Rock Island Arsenal, com o objetivo de criar um obuseiro que mantivesse a potência de fogo do M-2A1 (M-101), mas com peso reduzido e maior facilidade de transporte. A nova peça de artilharia apresentava um peso aproximado de 1.496 kg, quase 1.000 kg a menos que o M-101A1 (cerca de 2.260 kg). Isso foi alcançado com o uso de ligas de alumínio na construção do carro de transporte e um design mais compacto. Mantinha o  calibre de 105 mm e utiliza munição semi-fixa compatível com o M-101A1, incluindo projéteis de alto explosivo (HE), fumígenos, de iluminação e anticarro. O alcance máximo é de cerca de 11.500 metros com munição padrão e até 15.000 metros com projéteis assistidos por foguete. Seria empregado um carro de transporte de duas rodas com uma base triangular de alumínio, permitindo uma rotação de 360 graus para maior flexibilidade no campo de batalha. Esse tipo de design eliminava a necessidade de reposicionamento constante da peça. O M-102 foi projetado para ser transportado por helicópteros como o UH-1 Huey e o CH-47 Chinook, além de aeronaves como o Fairchild C-119, De Havilland C-115 Buffalo e Lockheed C-130 Hercules. Essa capacidade foi um marco para a artilharia de campanha, permitindo rápida implantação em operações aeromóveis. O sistema foi projetado para ser operado por uma equipe de cerca de 8 pessoas, com procedimentos simplificados para montagem, desmontagem e disparo, adequando-se a operações de alta mobilidade.
No primeiro trimestre de 1962, os primeiros protótipos funcionais do obuseiro M-102 105 mm foram concluídos, marcando o início de uma fase intensiva de testes de campo. Esses testes tiveram como objetivo avaliar a capacidade da nova peça de artilharia em operar em terrenos variados e sua adequação ao transporte aéreo, características essenciais para atender às necessidades de mobilidade tática das forças armadas dos Estados Unidos. O obuseiro demonstrou notável robustez, confiabilidade e capacidade de atender às exigências das unidades aerotransportadas e de infantaria leve, consolidando sua posição como uma evolução significativa em relação ao seu antecessor, o M-101A1. Em dezembro de 1963, o M-102 obteve sua homologação operacional, um marco que atestou sua prontidão para o serviço ativo. No início de 1964, foi formalizado um contrato inicial de produção com o Rock Island Arsenal para a fabricação de um lote piloto de 20 unidades, destinadas ao treinamento de multiplicadores nos regimentos de artilharia de campanha do Exército dos Estados Unidos (US Army). Após essa fase inicial, um contrato mais amplo foi celebrado, prevendo a entrega de 1.150 obuseiros a partir de 1966. Essas unidades foram distribuídas às unidades de artilharia de campanha, iniciando a substituição gradual dos obsoletos modelos M-2 e M-2A1 (M-101A1) de 105 mm, que ainda estavam em serviço. Com sua operacionalidade plenamente estabelecida, o M-102 foi enviado com urgência ao teatro de operações da Guerra do Vietnã, sendo empregado pela primeira vez pelo 1º Batalhão do 21º Grupo de Artilharia de Campanha (1st Battalion, 21st Field Artillery), que até então utilizava os veteranos obuseiros M-101A1. No Vietnã, o M-102 desempenhou um papel crucial ao fornecer apoio de fogo direto e indireto às unidades de infantaria, incluindo divisões aeroterrestres e aeromóveis. Sua capacidade de disparar munição semi-fixa de 105 mm, incluindo projéteis de alto explosivo (HE), fumígenos, de iluminação e anticarro, permitia neutralizar posições inimigas, suprimir movimentos do Viet Cong e do Exército do Vietnã do Norte (NVA), além de iluminar campos de batalha durante operações noturnas. Com um alcance máximo de 11.500 metros — ou até 15.000 metros com munição assistida por foguete (RAP) —, o M-102 atendia plenamente às demandas táticas do conflito. Apesar de suas vantagens técnicas, como maior alcance e mobilidade, o M-102 enfrentou resistência inicial por parte de artilheiros mais experientes, habituados ao confiável M-101A1. Esses militares apontavam que o M-101A1, com sua culatra mais baixa, facilitava o carregamento de munição, além de apresentar maior distância do solo quando rebocado, o que simplificava o transporte. Adicionalmente, alguns consideravam o M102 mais complexo para operar e manter em condições de combate, o que gerava certa relutância em adotar a nova peça. 

Apesar das críticas iniciais de artilheiros acostumados ao M-101A1, os comandantes militares dos Estados Unidos consideraram essas objeções secundárias diante das evidentes vantagens técnicas do obuseiro M-102 105 mm. Superior em mobilidade, especialmente em terrenos irregulares, e em eficiência de combate, o M-102 se destacava por seu cano mais longo, que proporcionava maior velocidade de saída aos projéteis, resultando em um alcance ampliado em comparação com seu antecessor. Além disso, sua baixa silhueta dificultava a identificação pelo inimigo no campo de batalha, conferindo uma vantagem tática significativa. Para superar a resistência inicial, o Exército dos Estados Unidos implementou uma campanha de endomarketing, promovendo as qualidades do novo obuseiro e facilitando sua aceitação entre as tropas. Com o tempo, o M-102 substituiu completamente os desgastados M-101A1, consolidando-se como peça essencial de artilharia leve. O emprego em larga escala do M-102 na Guerra do Vietnã revelou, no entanto, algumas falhas de projeto e oportunidades de melhoria. Essas questões foram prontamente identificadas e corrigidas, com aprimoramentos incorporados à linha de produção em contratos subsequentes, garantindo maior confiabilidade e desempenho. Nas décadas seguintes, o M-102 tornou-se o obuseiro padrão de 105 mm do Exército dos Estados Unidos (US Army), operando com uma ampla variedade de munições, incluindo projéteis de alto explosivo, fumígenos, de iluminação e anticarro. Sua versatilidade assegurou sua presença em diversas operações militares conduzidas pelos Estados Unidos. Em maio de 1966, o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps) formalizou a aquisição de 2.500 unidades do M-102, com entregas realizadas ainda naquele ano. Essas peças substituíram os M-101A1 em suas unidades, reforçando a modernização da artilharia dos fuzileiros. Contudo, a partir do final da década de 1980, estudos indicaram a necessidade de substituição do M-102 no curto e médio prazo. Essa transição se concretizou em 1984, com a assinatura de um contrato com a empresa britânica BAE Systems Land Systems para a produção, sob licença, do obuseiro M-118 de 105 mm. Adaptado às especificações americanas, o modelo resultante, designado M-119, começou a ser incorporado em 1985, marcando o início da aposentadoria gradual do M-102. No final da década de 1980, restavam aproximadamente 520 obuseiros M-102 em serviço ativo no Exército dos Estados Unidos (US Army), muitos dos quais foram transferidos para unidades da Guarda Nacional (National Guard). O último emprego em combate do M-102 ocorreu em 2004, quando 17 obuseiros do 1º Batalhão, 206ª Divisão de Artilharia da Guarda Nacional do Arkansas foram enviados a Camp Taji, no Iraque. Essas peças realizaram operações de contrafogo em apoio à 39ª Brigada de Infantaria e à 1ª Divisão de Cavalaria, demonstrando sua relevância mesmo em conflitos modernos.
Um episódio notável ocorrido durante a Guerra do Iraque (2003–2011) foi a recuperação, por forças americanas, de nove obuseiros M-102 105 mm em posse das forças iraquianas. Presume-se que essas peças tenham sido capturadas durante a Guerra Irã-Iraque, na década de 1980, o que ilustra a ampla disseminação global desse equipamento. O M-102 consolidou-se como um obuseiro confiável e versátil, deixando um legado duradouro em diversos teatros de operações e nas forças armadas de nações aliadas dos Estados Unidos. Atualmente, apenas um número reduzido de obuseiros M-102 permanece em serviço, restrito a algumas unidades da Guarda Nacional (National Guard) dos Estados Unidos, onde são utilizados principalmente para treinamento e cerimônias de salvas. Um uso particularmente singular do M102 é sua adaptação para as aeronaves de ataque Lockheed AC-130 Spectre da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF). Modificado para disparar a partir da porta lateral traseira esquerda, o obuseiro confere à aeronave uma excepcional capacidade de saturação de área. Essa aplicação teve início nos estágios finais da Guerra do Vietnã e permanece em uso nas versões modernas, como o AC-130U Spooky II e o AC-130J Ghostrider, demonstrando a versatilidade e longevidade do equipamento. No Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (US Marine Corps), o M-102 foi completamente retirado do serviço ativo em unidades de artilharia, restando menos de vinte unidades operacionais, destinadas exclusivamente a cerimônias. Além de seu papel na Guerra do Vietnã, o M-102 foi empregado em conflitos como a Guerra Civil do Camboja (1967–1975), a Guerra Civil Libanesa (1975–1990), a Guerra Civil Salvadorenha (1979–1992), a Invasão de Granada (1983), a Guerra do Golfo (1990–1991), a Guerra do Kosovo (1998–1999) e a Guerra do Iraque (2003–2011). Sua presença em múltiplos cenários de conflito reflete sua robustez e adaptabilidade. A partir do final da década de 1980, com o início de sua desativação pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), muitos obuseiros M-102 foram transferidos a nações alinhadas com a política externa americana por meio de programas de assistência militar. Países como Jordânia, El Salvador, Malásia, Omã, Vietnã do Sul, Irã, Arábia Saudita, Filipinas, Turquia e Uruguai receberam essas peças, que, em muitos casos, tornaram-se a espinha dorsal de suas capacidades de artilharia. Até os dias atuais, algumas dessas nações mantêm o M-102 em serviço ativo, atestando sua durabilidade e relevância. O obuseiro M-102 105 mm, com sua história marcada por inovação técnica e ampla utilização, permanece como um símbolo da capacidade americana de projetar equipamentos militares confiáveis e de impacto global, influenciando gerações de forças armadas em todo o mundo.

Emprego no Exército Brasileiro.
No início da Segunda Guerra Mundial, o governo norte-americano passou a considerar com extrema preocupação a possibilidade de uma invasão do continente americano pelas forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Essa ameaça tornou-se ainda mais evidente após a capitulação da França, em junho de 1940, pois, a partir desse momento, a Alemanha Nazista poderia estabelecer bases operacionais nas Ilhas Canárias, em Dacar e em outras colônias francesas, criando um ponto estratégico para uma eventual incursão militar no continente. Nesse contexto, o Brasil foi identificado como o local mais provável para o lançamento de uma ofensiva, devido à sua proximidade com o continente africano, que à época também figurava nos planos de expansão territorial alemã. Além disso, as conquistas japonesas no Sudeste Asiático e no Pacífico Sul transformaram o Brasil no principal fornecedor de látex para os Aliados, matéria-prima essencial para a produção de borracha, um insumo de extrema importância para a indústria bélica. Além dessas possíveis ameaças, a posição geográfica do litoral brasileiro mostrava-se estrategicamente vantajosa para o estabelecimento de bases aéreas e portos militares na região Nordeste, sobretudo na cidade de Recife, que se destacava como o ponto mais próximo entre os continentes americano e africano. Dessa forma, essa localidade poderia ser utilizada como uma ponte logística para o envio de tropas, suprimentos e aeronaves destinadas aos teatros de operações europeu e norte-africano. Diante desse cenário, observou-se, em um curto espaço de tempo, um movimento de aproximação política e econômica entre o Brasil e os Estados Unidos, resultando em investimentos estratégicos e acordos de cooperação militar. Entre essas iniciativas, destacou-se a adesão do Brasil ao programa de ajuda militar denominado Lend-Lease Act (Lei de Empréstimos e Arrendamentos), cujo principal objetivo era promover a modernização das Forças Armadas Brasileiras. Os termos desse acordo garantiram ao Brasil uma linha inicial de crédito de US$ 100 milhões, destinada à aquisição de material bélico, possibilitando ao país o acesso a armamentos modernos, aeronaves, veículos blindados e carros de combate. Esses recursos revelaram-se essenciais para que o país pudesse enfrentar as ameaças impostas pelos ataques de submarinos alemães, que intensificavam os riscos à navegação civil, impactando o comércio exterior brasileiro com os Estados Unidos, responsável pelo transporte diário de matérias-primas destinadas à indústria de guerra norte-americana. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. A participação brasileira no esforço de guerra aliado logo se ampliaria. O então presidente Getúlio Vargas declarou que o Brasil não se limitaria ao fornecimento de materiais estratégicos e sinalizou a possibilidade de uma participação mais ativa de suas forças,  envolvendo o possível envio de tropas brasileiras para algum teatro de operações de relevância.

Na década de 1940, a artilharia de campanha do Exército Brasileiro enfrentava desafios significativos, equipada majoritariamente com armamentos ultrapassados, como os canhões alemães Krupp 75 mm Modelo 1908 e franceses Schneider-Canet 75 mm, projetados para tração hipomóvel e fabricados no início do século XX. Esses equipamentos, embora robustos para sua época, não atendiam às exigências do combate moderno. A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, marcou o início de uma transformação profunda, sendo recebidos neste contexto uma variada  gama de equipamentos modernos, incluindo armas de infantaria, canhões antitanque de 37 mm e obuseiros de 105 mm e 155 mm. Essa incorporação representou um salto qualitativo para a artilharia brasileira, dotando-a de maior potência de fogo e precisão. A seguir a artilharia de campanha se faria presente no teatro de operações da Itália, quando os obuseiros de 105mm e 155 mm da Força Expedicionária Brasileira (FEB) seria empregados para apoiar as operações do V Exército dos Estados Unidos  contra as linhas defensivas alemãs, como a Linha Gustav e a Linha Gótica. O batismo de fogo ocorreria no dia 16 de setembro de 1944, no sopé do Monte Bastione, ao norte da cidade italiana de Lucca, na Toscana, um vento gelado já prenunciava os rigores do inverno próximo. Precisamente às 14 horas e 22 minutos foi lançado contra o inimigo nazista o primeiro tiro jamais disparado pela artilharia brasileira fora do continente sul-americano, atingindo com precisão o objetivo previsto: Massarosa.  Ao longo da campanha, os M-2A1 105 mm foram usados para bombardear posições alemãs, neutralizar contra-ataques e proteger flancos aliados, demonstrando precisão e confiabilidade em combates prolongados. Ainda durante o conflito,  mais obuseiros deste modelo seriam recebidos no Brasil , passando a dotar pelo menos mais grupo de Artilharia Divisionária constituída por três grupos de M-2A1 105 mm e um de M-1 155 mm todos sediados no Rio de Janeiro. Na década de 1970, o Brasil intensificou seus esforços para modernizar suas Forças Armadas, consolidando parcerias estratégicas iniciadas durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) por meio do programa Leand & Lease Bill Act. Um marco significativo nesse processo foi o Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, firmado em 1952, que facilitou a transferência de equipamentos militares americanos para o Exército Brasileiro e o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil. Nesse contexto, a partir do início da década de 1970, o Brasil recebeu pelo menos 160 obuseiros M-101A1 de 105 mm, oriundos dos estoques do Exército dos Estados Unidos (US Army).
Ainda no âmbito dos acordos de assistência militar firmados entre o Brasil e os Estados Unidos, sob o amparo do Acordo de Assistência Militar de 1952, o Exército Brasileiro recebeu, entre 1967 e 1968, um lote de equipamentos que incluía uma quantidade limitada dos modernos obuseiros M1-02 105 mm Howitzer. Esse armamento representava, à época, o padrão de excelência em artilharia de campanha de 105 mm das Forças Armadas dos Estados Unidos, destacando-se por sua leveza, mobilidade e capacidade de operação em diversos cenários táticos. A chegada dessas peças ao Brasil marcou um avanço significativo na modernização da artilharia nacional, alinhando-a às inovações tecnológicas que já se consolidavam no cenário militar global. Os obuseiros M-102, cedidos ao Exército Brasileiro eram  pertencentes à versão inicial de produção, e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em julho de 1968. Após o desembaraço aduaneiro, foram transportados por via rodoviária até o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (AGRJ). Nas instalações do arsenal, as peças passaram por um meticuloso processo de montagem e revisão, conduzido nas oficinas especializadas, garantindo que estivessem em plenas condições para o emprego operacional. Esse cuidado refletia o compromisso do Exército Brasileiro em assegurar a máxima eficácia de seus novos equipamentos. Dada a quantidade limitada de obuseiros recebidos, o Comando do Exército Brasileiro optou por concentrar seu uso em uma única unidade, visando otimizar a capacitação técnica e a eficiência operacional. Assim, o lote foi destinado ao 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Essa decisão foi influenciada pela rica tradição e experiência do 25º GAC, uma unidade com raízes históricas profundas, cuja origem remonta ao 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, conhecido como “Boi de Botas”, criado em 1888. O 25º GAC carrega um legado de bravura e relevância na história militar brasileira. Durante a Revolução Federalista (1893–1895), a unidade desempenhou um papel crucial na defesa da cidade de Bagé, consolidando sua reputação como força combativa. Em 1924, o grupo foi mobilizado para São Paulo e Alegrete, participando de operações para conter a revolta que eclodiu em São Paulo. Nos anos de 1930 e 1932, o então regimento esteve novamente envolvido em conflitos internos, apoiando a Revolução de 1930 e combatendo na Revolução Constitucionalista de 1932. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, o grupo contribuiu para a defesa do litoral do Rio Grande do Sul, reforçando sua importância estratégica. Em 1944, 23 de seus militares integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), participando de operações na Itália, onde demonstraram notável competência na operação de artilharia de campanha.

A integração dos obuseiros M-102 AR 105 mm ao 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado em Bagé, Rio Grande do Sul, representou um marco significativo na modernização das capacidades de artilharia do Exército Brasileiro. Essas peças, destinadas às 2ª e 3ª Baterias de Obuses, passaram a operar em conjunto com as baterias equipadas com os obuseiros M-101A1 AR 105 mm e M-114 AR 155 mm, complementando as missões do grupo e reforçando sua capacidade de apoio às operações de campanha. A introdução do M-102 trouxe avanços notáveis, especialmente em mobilidade e eficiência operacional, consolidando o 25º GAC como uma unidade de referência no cenário militar brasileiro. Com um peso de apenas 1.496 kg, o M- 102 era quase mil quilos mais leve que o M-101A1, o que facilitava significativamente sua movimentação em terrenos adversos, como os encontrados em diversas regiões do Brasil. Essa característica, aliada ao seu design inovador, com uma base triangular que permitia rotação de 360 graus, conferia ao obuseiro uma agilidade tática sem precedentes. O M-102 AR foi projetado desde sua concepção nos Estados Unidos para atender às demandas de operações aeromóveis, e sua incorporação pelo Exército Brasileiro marcou o início de uma nova era na mobilidade da artilharia de campanha. Um dos avanços mais significativos proporcionados pelo M-102 foi sua compatibilidade com o transporte aéreo. Inicialmente, os obuseiros foram transportados em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), como o Fairchild C-119 Flying Boxcar, seguido pelos De Havilland C-115 Buffalo e, posteriormente, pelo Lockheed C-130E Hercules. Essa capacidade permitiu ao 25º GAC projetar poder de fogo em âmbito nacional, ampliando sua versatilidade e alcance operacional. A chegada dos helicópteros Aerospatiale SA-330L Puma à Força Aérea Brasileira (FAB), em 1981, abriu novas possibilidades para o transporte helitransportado. Os primeiros ensaios nesse tipo de operação foram realizados com o 3º/8º Grupo de Aviação – Esquadrão Puma, utilizando os M-102 AR 105 mm devido à sua adequação para transporte por helicópteros, uma característica intrínseca ao projeto original do obuseiro. Um aspecto crucial do M102 foi sua compatibilidade com a munição semi-fixa de 105 mm já utilizada pelo M-101A1, que, à época, já era produzida nacionalmente pela Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel). Essa padronização logística trouxe benefícios significativos, reduzindo a dependência de importações e otimizando o abastecimento das unidades de artilharia. O custo unitário da munição produzida pela Imbel era consideravelmente inferior ao Width: System: inferior ao de munições importadas, o que impactava positivamente os custos operacionais do Exército Brasileiro. Essa economia permitiu ampliar os exercícios operacionais com munição real, fortalecendo a capacitação das tropas e a prontidão do 25º GAC.
A introdução do obuseiro M-102 105 mm no 25º Grupo de Artilharia de Campanha (25º GAC), sediado em Bagé, Rio Grande do Sul, representou um avanço significativo na modernização da doutrina de artilharia do Exército Brasileiro. Com sua leveza, mobilidade e capacidade de transporte aéreo, o M102 trouxe inovações que enriqueceram as operações do grupo, especialmente no contexto de uma força terrestre que buscava alinhar-se às tendências globais de mobilidade tática. Contudo, a limitada quantidade de unidades disponíveis comprometeu a viabilidade econômica de sua operação e manutenção, desafiando a plena integração do obuseiro às necessidades operacionais do Exército. Apesar dos esforços meticulosos do Arsenal de Guerra do Rio Grande do Sul para manter os obuseiros M-102 em condições operacionais, a baixa disponibilidade dessas peças revelou-se um obstáculo persistente. A complexidade logística e os custos associados à manutenção de um número reduzido de unidades dificultavam a sustentação do modelo em serviço ativo. Assim, em 1996, o Comando do Exército Brasileiro tomou a decisão de desativar o M-102, restabelecendo o M-101A1 105 mm como a peça padrão de artilharia tracionada de 105 mm. Essa transição, embora necessária do ponto de vista logístico e financeiro, representou um retrocesso em termos de doutrina operacional, uma vez que o M-101A1, embora confiável, carecia das inovações técnicas que caracterizavam o M-102, como maior mobilidade e capacidade de transporte aéreo. A desativação do M-102 refletiu os desafios enfrentados pelo Exército Brasileiro em equilibrar modernização tecnológica com restrições orçamentárias, uma realidade comum a muitas forças armadas em nações em desenvolvimento durante o século XX. O impacto da desativação foi parcialmente mitigado anos mais tarde, com a aquisição de obuseiros mais avançados, como o L-118 Light Gun, produzido pela britânica BAE Systems Land Systems, e o M-56, fabricado pela italiana Oto Melara. Essas peças, incorporadas como parte de iniciativas de modernização do Exército Brasileiro, ajudaram a reduzir a defasagem tecnológica na artilharia de campanha, recuperando parte da capacidade perdida com a retirada do M-102. 

Em Escala.
Para representarmos o obuseiro M-102 L/22 105 mm, fizemos uso do excelente kit da AFV Club na escala 1/35, modelo que prima pela qualidade e detalhamento, combinado peças em metal, e borracha. Para se representar a versão usada pelo Exército Brasileiro, não é necessário proceder nenhuma mudança, com o modelo podendo ser montado direto da caixa.
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão de pintura (camuflagem tática em dois tons) empregado nos obuseiros M-102 105 mm, seguindo o mesmo esquema aplicado nos veículos militares a partir de 1983, substituindo assim a pintura original totalmente em “olive drab”, com a qual foram recebidos no ano de 1968.


Bibliografia: 
- M-102 howitzer Wilipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/M102_howitzer
- 25º Grupo de Artilharia de Campanha - http://www.25gac.eb.mil.br/
- M-102 Army Guide  http://www.army-guide.com/eng/product1194.html