Submarinos Classe Foca - F no Brasil

História e Desenvolvimento.
O engenheiro naval italiano Cesare Laurenti (Terracina, 1865 - Roma, 1921) foi responsável por uma série de projetos de submersíveis entre o fim do século XIX e o inicio do século XX, dedicando toda a sua vida ao estudo da navegação subaquática com finalidade para o emprego militar naval. Em 1892, tornou-se o diretor de experiências técnicas no desenvolvimento do primeiro submarino da Itália, o Delfino, impulsionado por um motor elétrico a bateria de projeto do engenheiro Giacinto Pullino. Laurenti, com base neste projeto Cesari Laurenti acresceu como melhoria um pequeno motor a gasolina, permitindo assim um grande alcance em velocidade de cruzeiro à superfície enquanto recarregava as baterias. O grande sucesso conceitual deste navio de propulsão hibrida o permitiria angariar recursos para a fundação de uma pequena mais ousada empresa de construção naval na Itália, a Cantieri Navale Fiat San Giorgio. Entre seus trabalhos credita-se o projeto e desenvolvimento a parti de 1905 das classes de submarino Provana, Glauco, Medusa, Argonauta, Foca e classe S, da Marinha Real Italiana (Reggia Marina). Seus projetos ganhariam renome internacional, quando a Marinha Americana (US Navy) no ano de 1909, adquiriu seus projetos para construção do submarino USS G-4 Thrasher, este seria o primeiro navio a servir nos Estados Unidos apresentando o perfil do casco do tipo “quilha uniforme”, que apresentava como maior vantagem uma melhor estabilidade devido a concentração de pressão e sua melhor dissipação em casco exterior aerodinâmico. Apesar de ter uma carreira conturbada em termos de falhas mecânicas, o desing característico dos submarinos projetados por Cesare Laurenti, influenciaria pesadamente o desenvolvimento de novas classes de submarinos norte-americanos.

Logo em seguida, a Marinha Real Britânica (Royal Navy), faria uso de navios desenvolvidos e projetados por Cesare Laurenti, agora com os submarinos da Classe S, construídos nos estaleiros ingleses da Scotts Greenock. Três destes navios (S1, S2 e S3) seriam comissionados entre os anos de 1912 e 1914, estando equipados com dois motores a diesel Scott-FIAT de 650 hp cada e dois motores elétricos FIAT de 400 hp. Estes submarinos destinados a patrulha costeira receberiam as identificações de de HMS 1, HMS 2 e HMS 3, e seriam direcionados a missões de patrulha junto as áreas próximas aos portos existentes no Canal da Mancha. Curiosamente estes mesmos navios seriam transferidos a Marinha Real Italiana (Reggia Marina) em fins do ano de 1915 para assim participar na defesa do mediterrâneo durante a Primeira Guerra Mundial, novamente sendo empregados em missões de patrulha costeira em regiões estratégicas próximos aos portos italianos. A Marinha Portuguesa também faria uso de submarinos desenvolvidos por Cesare Laurenti, entre a Classe Espadarte e a mais representativa a Classe Foca, navios construídos nos estaleiros navais Cantieri Navale Fiat San Giorgio, na cidade italiana de La Spezia, com três navios batizados como NRP Foca, NRP Golfinho e NRP Hidra, operando com grande sucesso entre os anos de 1917 e 1934. 
Seu projeto inovador para a época, com design de casco que apresentava melhor estabilidade devido a concentração de pressão e sua melhor dissipação em casco exterior aerodinâmico, tornavam o modelo promissor em termos do mercado de exportação, a estes fatores operacionais aliava-se o custo de construção, operação e manutenção , que poderia permitir a acessibilidade a nações que ansiavam se modernizar em termos de poder naval, mas não dispunham de grandes orçamentos militares, como as grandes potências navais naquele período histórico. Com base nesta visão Cesare Laurenti, iniciou  em 1905, junto ao departamento comercial da Cantieri Navale Fiat San Giorgio, esforços para a divulgação de seus produtos navais. Para apresentação seria desenvolvido um modelo básico de submarino de patrulha costeira que poderia receber um pequeno leque de customizações para atendimento a particularidades de seus possíveis clientes internacionais. O navio padrão então em termos dimensões 45,15 metros de comprimento; 4,20 metros de boca; 3 metros de calado; 250 toneladas de deslocamento na superfície e 370 toneladas em imersão. Quando em processo de imersão apresentavam uma profundidade operacional de mergulho de 40 metros, com uma velocidade neste modal de operação de 8 nós (14,8 km / h) e uma autonomia de 100 milhas náuticas (160,94 quilômetros). Podia ainda aumentar seu raio de açao submerso quando operando com a velocidade mínima de 1,5 nós (2,77 km / h), podendo chegar a 139 milhas náuticas (257 km). Já em operação na superfície o navio podia desenvolver uma velocidade máxima de 12,3 nós (22,8 km / h), com um raio de ação máximo de 1.200 milhas náuticas (2.222 km).

O arranjo de propulsão destes navios era do tipo alternativo diesel-elétrico, para a navegação de superfície, os submarinos eram movidos por dois motores a diesel FIAT (dois tempos, seis cilindros cada), de 325 cavalos de potência (HP) (239 kW), cada um acionando dois eixos das hélices principais. Já em operação quando submersos os navios da Classe F contavam com motor elétrico Savigliano de 250 cavalos (184 kW), que movia os mesmos dois eixos das hélices, e bateria de acumuladores com 240 elementos divididos em quatro seções, sendo a capacidade total das baterias de 2.000 ampères, numa rate de descarga de 10 horas. O sistema de navegação era composto de um leme vertical duplo, manobrado manualmente, de três estações, e dois pares de lemes horizontais, disparados, operados e recolhidos também manualmente. Era equipado com quilha de lastros de chumbo e bolina, quatro tanques de lastro de 46 toneladas cada, tanque de compensação de 4,8 toneladas, dois tanques de triagem de 0,8 tonelada cada, dois tanques de óleo combustível, internos ao de óleo combustível líquido de 11 toneladas, dois tanques de óleo lubrificante de 0,98 toneladas cada, tanque de compensação de torpedos de 1,8 toneladas e dois tanques de compensação de torpedos de reserva de 0,65 tonelada cada. Sua tripulação era composta por 2 oficiais e 24 suboficiais e marinheiros. Apesar de aparentemente modesto, seu perfil de desempenho era satisfatório para esta classe de submarinos de patrulha costeira nesta época, oque poderia assim atrair o interesse e possíveis clientes estrangeiros, interessados em modernizar suas forças navais.
Em termos de sistemas de armas, estes submarinos estavam equipados com 2 tubos de torpedos na frente ( proa ) de 45 centímetros, para os quais carregavam um total de 4 torpedos leves anti superfície produzidos pela empresa austro-húngara  Torpedofabrik Whitehead & Co., disparados a ar comprimido. Podiam ainda ser armados para autodefesa contra aeronaves ou pequenas embarcações com canhao antiaéreo inglês Armstrong 76/30 mm, ou ainda um reparo de metralhadoras norte americanas Colt de calibre, 6,5 mm. Para comunicação podia ser dotada de uma estação radiotelegráfica, do tipo Marconi, possuía 0,2 kw de potência de transmissão e um alcance de 30 milhas. A estação de sinais submarinos era composta de sino pneumático transmissor e quatro fones receptores, possuía ainda dois periscópios do tipo Galileu, construídos em Florença, ambos recolhíveis, de um metro e com escalas telemétricas e graduações azimutais. Seriam conquistados diversos contratos de exportação destes submarinos e projetos derivados, com muito deles se mantendo ativos até meados da década de 1930.

Emprego na Marinha do Brasil.
No início do século XX, quando Campos Sales assumiu a Presidência (1898-1902), tomou uma série de medidas para o saneamento financeiro do Brasil. O processo de recuperação econômica trouxe esperanças de prosperidade. No contexto de transição, havia apenas uma ameaça: o estado de tensão que se constituía entre a Argentina e o Chile em relação às regiões da Patagônia, do Estreito de Magalhães e da Terra do Fogo. Enquanto os países vizinhos investiam no poder naval, a Marinha do Brasil ainda se recuperava dos desafios dos conflitos internos e externos que havia enfrentado desde a Independência. Em 1904, o deputado Laurindo Pita apresentou, no Congresso Nacional, a proposta de um poderoso Programa Naval, que refletia concepções estratégicas relacionadas ao poder combatente da Esquadra. Concebido pelo Almirante Júlio de Noronha, então Ministro da Marinha, o programa previa a construção de três encouraçados, três cruzadores-encouraçados, seis contratorpedeiros, seis torpedeiros de alto mar, seis torpedeiros de porto, três submersíveis, um navio carvoeiro e um arsenal terrestre. Dois anos mais tarde, em 1906, o novo Ministro, Almirante Alexandrino de Alencar, em parceria com o Ministro do Exterior, Barão do Rio Branco, fez alterações significativas nas demandas explicitadas no programa. As novas mudanças empreendidas no programa de 1906 visavam mais do que dotar a Marinha de poder regional na América do Sul; tinham o objetivo de colocar o País ao lado das nações mais avançadas do mundo. Embora o Programa Naval do Almirante Alexandrino não tenha sido aplicado por completo, possibilitou à Marinha destaque no cenário internacional. Por causa dele, em 1910, tornou-se a terceira maior Marinha do mundo em tonelagem. Quando eclodiram as guerras mundiais que envolveriam as principais nações do mundo, o País estava preparado para defender seu território e pôde prestar apoio aos envolvidos. E neste contexto a ativação da Flotilha de Submersíveis em 17 de julho de 1914, incluiria o Brasil no seleto grupo dos países capazes de operar esta nova tecnologia.

A aquisição de submarinos previstas no Programa de Construção Naval de 1904 – 1906, deu seus primeiros passos reais, quando em meados do ano de 1910, foram conduzidos junto a Cantieri Navale Fiat San Giorgio, as primeiras conversações para a aquisição e construção de três submersíveis de patrulha costeira. Entendimentos seriam firmados entre o Governo Brasileiro e o estaleiro italiano para a compra de três navios da Classe F (Foca), com um cronograma de entrega previsto entre os anos de 1912 e 1914. Em 30 de dezembro de 1911 , pelos Avisos n.º 6439 e 6441, o então Ministro do Negócios da Marinha, Vice-Almirante Joaquim Marques Baptista de Leão, designou o Capitão-de-Corveta Felinto Perry, Chefe da Sub-Comissão Naval na Europa, com sede em La Spezia, encarregado de fiscalizar a construção dos submarinos F 1, F 3 e F 5. O primeiro destes a ser concluído o submarino F-1, teve sua quilha batida em 23 de março de 1912, foi lançado ao mar em 11 de junho de 1913, tendo como madrinha a Sra. Alberto Fialho.  O F 1 realizou provas de mar na superfície e em imersão no Golfo de La Spezia, que se prolongaram até 12 de novembro, sendo entregue à Comissão de Recebimento em 11 de dezembro, quando foi incorporado. Em 4 de junho de 1914 partiu de La Spezia, a bordo do navio doca "Kanguroo", chegando ao Rio de Janeiro em 4 de julho, sendo logo visitado pelo Presidente da República e grande comitiva. Em 26 de setembro de 1917, com a declaração do estado de guerra contra o Império Alemão, proclamada pelo Presidente Wenceslau Braz, os submarinos classe F tomaram parte em comissões de vigilância e patrulhamento nas proximidades do porto do Rio de Janeiro. Durante os anos seguintes se manteve altamente ativo junto a Flotilha de Submersíveis, até o dia 30 de dezembro de 1933, deu baixa do serviço ativo, segundo o Aviso n.º 4232, de 18/11/1933. O navio operou basicamente no adestramento da tripulação e manutenção dos equipamentos durante os 19 anos em que esteve a serviço da Armada, realizando ainda mais de 100 imersões, com 400 lançamentos de torpedos. 
O segundo submarino designado como F3, teve sua quilha batida em 1º de junho de 1912, foi lançado ao mar em 9 de novembro de 1913, e foi incorporado em 16 de março de 1914. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Alberto Lemos Bastos. O F 3 realizou provas de mar na superfície e em imersão no Golfo de La Spezia, sendo entregue à Comissão de Recebimento em 16 de março de 1914, quando foi incorporado. Em 15 de maio, partiu de La Spezia, a reboque do Rebocador de Alto-Mar "Donau" de bandeira holandesa, chegando ao Rio de Janeiro em 23 de junho, atracando no caís do Quartel da Defesa Móvel, na Ilha de Mocanguê Grande, sendo o primeiro a chegar ao Brasil. Em 29 de junho, suspendeu levando a bordo o Ministro da Marinha, Almirante Marques de Leão e o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Gustavo Antônio Garnier, não mergulhando, tendo apenas realizado transito até a Ilha de Cotunduba. Em 6 de julho, suspendeu, levando a bordo o Presidente da República, o MM e o CEMA, mais uma vez não realizando mergulho. A partir de setembro de 1917 se juntaria ao esforço de guerra contra o Império Alemão durante as fases finais da Primeira Guerra Mundial, em missões de patrulhamento costeiro. Em 3 de setembro de 1923, socorreu o hidroavião PLS no 02, no Canal de São Sebastião, tendo ainda, nos dias 4 e 11 de novembro de 1924, realizado incursões contra o Encouraçado São Paulo, que se havia se rebelado, colaborando neste processo com a rendição dos amotinados. O submarino Classe Foca F3 operaria na Flotilha de Submarinos até o dia 30 de dezembro de 1933, deu baixa do serviço ativo, segundo o Aviso n.º 4232, de 18/11/1933, em toda sua carreira na Marinha do Brasil, perfez 762 horas de mergulho, lançando 83 torpedos.

O terceiro navio desta classe foi lançado ao mar em 4 de janeiro de 1914, tendo como madrinha a Sra. Maria Nogueira da Gama, e foi incorporado em 6 de junho de 1914. Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Álvaro Nogueira da Gama. Realizou provas de aceitação até 6 de junho, quando foi entregue ao Governo brasileiro. Deixou o Porto de La Spezia em 12 de junho, a reboque do Rebocador de Alto-Mar Lawerzie (holandês), tendo chegado ao Porto do Rio de Janeiro em 28 de julho. Recebeu o distintivo numérico 95. A incorporação do Submarino F5 à Marinha do Brasil deu-se por ocasião da sua entrega à Flotilha de Submarinos por meio do Aviso do Ministério da Marinha no 3.447 de 17 de julho de 1914. Em 10 de agosto, tendo a bordo a Comissão Fiscal nomeada pelo Governo, realizou prova final de aceitação, sendo entregue a Esquadra em 20 de agosto. Ainda em 1914, foi instituído o "Prêmio Independência" (precursor dos nossos atuais TORPEDEX e ECHO) pelo CT Alberto Lemos Basto. Era agraciado o navio que maior número de acertos obtivesse em lançamentos de torpedos, de acordo com o regulamento da época. O troféu alusivo, um brasão em prata de lei, hoje decora a galeria de peças históricas do Edifício Almirante Felinto Perry, sede do comando da Força de Submarinos na Ilha de Mocanguê. Nele, acham-se inscritos os nomes dos submarinos e os respectivos anos do concurso. O F-5 tornou-se o tradicional vencedor, ganhando-o por cinco vezes. A partir de setembro de 1917 se juntaria ao esforço de guerra contra o Império Alemão durante as fases finais da Primeira Guerra Mundial, em missões de patrulhamento costeiro. Em 04 de novembro de 1924, integrando a Esquadra de Exercícios, fez-se ao mar para atacar o Encouraçado São Paulo, que se rebelou, tendo feito três imersões e navegado a noite toda pronto para combate. Em 30 de dezembro de 1933, foi realizada a Mostra de Desarmamento do SubmarinoF3, juntamente com o F1 e o F5, em cumprimento ao Aviso Ministerial no 4.232, de 18 de novembro de 1933, que deu baixa ao mencionado navio. Durante sua carreira na Marinha do Brasil, perfez 681 horas de mergulho, lançando 38 torpedos.
Os submarinos classe F (Foca) dedicavam-se basicamente ao adestramento da tripulação no manuseio e manutenção dos equipamentos, operando na maioria das vezes dentro da Baia da Guanabara. Foram realizadas também algumas comissões na Baia da Ilha Grande, e nas áreas de Cabo Frio-RJ e São Sebastião-SP, sempre com o apoio de navios de superfície. Ao que se sabe, único porto visitado fora dessa área, foi o de Santos-SP. A desativação desta classe de submarinos na Marinha do Brasil levaria a extinção temporária da Flotilha de Submarinos, No entanto, o Tender “Ceará” e o Submarino “Humaytá” permaneceram em atividade sob a administração do Comando da Defesa Móvel do Porto do Rio de Janeiro, subordinado ao Chefe do Estado-Maior da Armada. Em 1937, a incorporação dos submarinos da classe “Perla”, também de origem italiana, motivou a recriação da Flotilha de Submarinos.  Aos cascos inermes e sem vida daqueles submersíveis, reservou-lhes o destino a função de alicerçar os pilares da ponte de escaleres da Escola Naval, esta, transferida, em 1938, da ilha das Enxadas para a Ilha de Villegagnon.A classe Foca permitiu o Brasil desenvolver a noção de guerra submarina, que ficou evidenciado pelas constantes aquisições desses meios navais ao longo da história naval do país.

Em Escala.
Para representarmos o submarino da classe F (Foca) D32 F1, pertencente a Flotilha de Submersíveis, fizemos uso do novo kit em resina na escala 1/400 do fabricante brasileiro Argus Model. Empregamos alguns detalhamentos em scratch e photo etched (estes oriundos de outros modelos). Decais impressos pelo fabricante, presentes no modelo completam o conjunto. 
O esquema de cores (FS) descrito abaixo representa o segundo padrão aplicado em todos submarinos da Classe F (Foca) entre os seguintes ao seu recebimento até o ano de 1920, quando voltaram a ostentar o padrão cinza claro, com o qual foram recebidos inicialmente.

Bibliografia : 
- Submarinos Classe Foca - https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Foca_(1913)
- Cesare Laurenti – https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesare_Laurenti 
- Navios de Guerra Brasileiros – Poder Naval https://www.naval.com.br 
- Cem anos da Força de Submarinos – Marinha do Brasil
- Marinha do Brasil - https://www.marinha.mil.br/