História e Desenvolvimento.
A Gio. Società Giovanni Ansaldo & Compagnia, uma das mais emblemáticas indústrias italianas do período moderno, teve sua origem no século XIX, fundada por um grupo de proeminentes empreendedores genoveses — Raffaele Rubattino, Giacomo Filippo Penco, Carlo Bombrini e Giovanni Ansaldo. Este último, personalidade de destacada relevância histórica, imprimiu à empresa uma visão inovadora e empreendedora que viria a definir sua trajetória nas décadas seguintes. De formação humanista e com interesses que se estendiam das artes e ciências à engenharia industrial, Ansaldo tornou-se um verdadeiro símbolo do espírito de modernização que caracterizava a Itália unificada e em processo de industrialização. Nos primeiros anos de existência, até o final do século XIX, a Gio. Ansaldo & C. concentrou suas atividades no setor ferroviário, dedicando-se à fabricação e ao reparo de locomotivas, vagões, caldeiras, guindastes e equipamentos metalúrgicos. Essa especialização refletia as necessidades de uma Itália em transformação, cujo desenvolvimento econômico dependia fortemente da expansão da malha ferroviária e da modernização de sua infraestrutura. Durante esse período, a empresa conheceu um crescimento expressivo, alcançando um contingente de dez mil empregados distribuídos em sete unidades fabris, o que a posicionou entre as maiores organizações industriais do país. Com o avanço do século XX, a companhia iniciou uma fase de diversificação de atividades, expandindo-se para os setores de construção naval e obras mecânicas de grande porte. Essa estratégia visava reduzir a dependência do setor ferroviário e consolidar sua presença em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional italiano. Em 1904, a empresa passaria por um momento de inflexão em sua história, ao ser adquirida por Ferdinando Maria Perrone, figura influente da indústria e das finanças italianas. Sob sua liderança — e posteriormente com o apoio de seus filhos, Mário e Pio Perrone —, a Gio. Ansaldo & C. entrou em um processo de reorganização e modernização empresarial, pautado pela busca da autossuficiência industrial. Para tanto, implementou-se uma ampla integração vertical, abrangendo todas as etapas do processo produtivo, desde a siderurgia básica até a fabricação de armamentos e material bélico. Essa estratégia transformou a Ansaldo em um verdadeiro conglomerado industrial, capaz de competir com os maiores grupos europeus da época. O início da Primeira Guerra Mundial (1914–1918) representou uma virada decisiva para a empresa. Embora a Itália tenha inicialmente mantido uma posição de neutralidade, os dirigentes da Ansaldo desempenharam papel ativo na defesa da entrada do país no conflito. Por meio de lobby político e financiamento de grupos nacionalistas e beligerantes, entre os quais se destacava o movimento protofascista liderado por Benito Mussolini, a companhia alinhou-se aos interesses expansionistas e industriais da elite italiana. Com a entrada efetiva da Itália na guerra, a Gio. Ansaldo & C. vivenciou um surto de prosperidade sem precedentes. A demanda por armamentos, locomotivas, motores e embarcações impulsionou exponencialmente seu crescimento. O valor de mercado da empresa, que em 1914 era de cerca de 30 milhões de liras, ultrapassou 500 milhões de liras ao término do conflito — um aumento de mais de 1.500% em apenas quatro anos.
No auge de sua expansão, durante o verão de 1918, a Ansaldo empregava aproximadamente 80 mil trabalhadores em dezenas de complexos industriais distribuídos por toda a Itália. Nesse período, o grupo controlava uma vasta rede de subsidiárias e empresas associadas, entre as quais se destacavam a A. Cerpelli & C., Banca Industriale Italiana, Cantieri Officine Savoia, Dynamit Nobel, Gio. Fossati & C., Lloyd Italico, Nazionale di Navigazione, Pomilio, Società Idroelettrica Negri e Transatlantica Italiana, consolidando-se como um dos maiores conglomerados industriais e financeiros da Europa. Entretanto, o rápido crescimento, sustentado sobretudo pela economia de guerra, revelou-se insustentável no período pós-conflito. Já a partir de 1910, a empresa enfrentava tensões financeiras estruturais, especialmente em sua relação com o Banco Italiano di Sconto, seu principal credor. Com o fim da guerra e o colapso da demanda militar, essas fragilidades tornaram-se evidentes, levando a Gio. Ansaldo & C. a uma crise de liquidez e endividamento, que ameaçou a continuidade de suas operações e marcou o início de um longo processo de reestruturação e declínio. Em 1921, a família Perrone retirou-se da direção da Gio. Ansaldo & Compagnia, deixando para trás uma das maiores indústrias italianas em meio a uma grave crise financeira que ameaçava sua solvência. Para evitar a falência, formou-se um consórcio liderado pelo Banco Italiana di Sconto, que assumiu a missão de reestruturar a empresa e preservar um dos pilares da indústria nacional. Durante a década de 1920, a Ansaldo adotou uma postura mais conservadora, marcada pela retração de suas operações e pela busca de estabilidade econômica. Embora o setor eletromecânico tenha apresentado sinais modestos de crescimento, o conjunto da companhia permaneceu fragilizado, lutando para recuperar o dinamismo e a rentabilidade do período anterior à Primeira Guerra Mundial. A crise estrutural que assolava a economia italiana — agravada pela instabilidade política e pelas transformações do período entre guerras — levou, na década de 1930, à intervenção do Istituto per la Ricostruzione Industriale (IRI), criado pelo governo para salvar conglomerados estratégicos em dificuldades. Sob a administração do IRI, a Gio. Ansaldo & C. viveu um processo de revitalização, impulsionado pelo programa de rearmamento e pela política autárquica do regime fascista, que visava à autossuficiência nacional em setores essenciais, especialmente o militar e o energético. Nesse contexto, a fábrica Ansaldo de Gênova recebeu uma importante encomenda do Regio Esercito Italiano (Exército Real Italiano): o desenvolvimento de um carro de combate leve sobre lagartas, que combinasse mobilidade, simplicidade construtiva e baixo custo operacional. O projeto foi inspirado no bem-sucedido Carden-Loyd Mk VI, blindado britânico projetado pela Vickers-Armstrongs no início da década de 1920 para o Exército Real Britânico. Esse veículo multifuncional era utilizado tanto para tracionar peças de artilharia quanto para realizar missões de reconhecimento, sendo considerado um dos primeiros tanques leves modernos.

Os engenheiros italianos da Ansaldo e da Fiat Automobiles S.p.A. trabalharam em conjunto na adaptação do modelo britânico às necessidades locais. Em janeiro de 1929, o governo italiano celebrou um contrato de licença com a Vickers-Armstrongs, autorizando a produção nacional do Carden-Loyd Mk VI. As unidades fabricadas na Itália receberam modificações, como a instalação de metralhadoras aeronáuticas de 8 mm e, em alguns casos, lança-chamas Fiat OCI, resultando em um veículo versátil e adequado às exigências do exército. No serviço italiano, o modelo foi designado CV-29, sigla de Carro Veloce 1929, refletindo sua natureza de “tanque rápido” e o ano de introdução em serviço. Durante os primeiros anos de operação, o CV-29 foi amplamente elogiado por suas qualidades técnicas — especialmente sua agilidade, leveza e confiabilidade —, tornando-se uma referência no segmento de veículos blindados leves. O sucesso do projeto italiano ultrapassou fronteiras. Mais de 450 unidades derivadas do conceito original foram exportadas para mais de vinte países, consolidando a reputação técnica da Ansaldo no mercado internacional. O modelo também exerceu forte influência sobre o desenvolvimento de outros carros de combate leves, como o japonês Type 92 Jyū-Sokosha, o polonês TKS e o italiano CV3-33, evidenciando o papel da indústria bélica italiana como vetor de modernização tecnológica no período entre guerras. Com o propósito de racionalizar custos e acelerar o desenvolvimento tecnológico, o novo modelo de carro blindado leve foi projetado tomando como base o bem-sucedido Fiat CV-29, resultando em uma colaboração estratégica entre as equipes de engenharia da Fiat Automobiles S.p.A. e da Gio. Ansaldo & Compagnia. Essa parceria representou um marco importante na integração da indústria bélica italiana, permitindo a conjugação de recursos técnicos, experiência produtiva e capacidade industrial, em consonância com as diretrizes de autossuficiência estabelecidas pelo regime fascista. Em maio de 1933, o primeiro protótipo funcional do novo blindado foi concluído e submetido a um rigoroso programa de testes e avaliações de campo. Os resultados revelaram desempenho satisfatório em termos de mobilidade, confiabilidade e potência de fogo, levando o governo fascista italiano a firmar um contrato inicial para a aquisição de 300 unidades. A produção foi dividida entre as duas empresas: a Fiat, em sua planta de Turim, e a Ansaldo, em suas instalações de Gênova. O veículo recebeu a designação oficial de Fiat-Ansaldo CV-33, sendo incorporado ao Regio Esercito Italiano (Exército Real Italiano) como o principal carro leve de reconhecimento da década. Pouco tempo depois, atendendo às solicitações de oficiais do exército e com base nas experiências operacionais iniciais, foi iniciado, em 1934, o desenvolvimento de uma versão aprimorada do modelo. O projeto foi finalizado em 1935, resultando na criação do Tankette CV-35 (Carro Veloce 1935), um veículo de pequeno porte, destinado a missões de reconhecimento, apoio à infantaria e transporte leve de armamento.
O CV-35 possuía tripulação de dois homens — motorista e artilheiro — e destacava-se por suas dimensões compactas (3,15 metros de comprimento, 1,28 metro de altura e 1,40 metro de largura) e peso aproximado de 3.100 kg, características que lhe conferiam excelente mobilidade. Equipado com um motor Fiat-Spa CV3, de 43 cavalos de potência e 2.746 cm³, refrigerado a água, o blindado podia alcançar velocidades de até 42 km/h em estrada e 12 km/h em terrenos acidentados, com autonomia média de 140 km, desempenho notável para um veículo de sua categoria. Entre as principais inovações técnicas, destacavam-se a adoção de chapas de blindagem aparafusadas — substituindo o método tradicional de rebitagem ou soldagem —, que simplificava a manutenção e reduzia custos, e a introdução de metralhadoras gêmeas Fiat Mod. 14/35 de 8 mm, que substituíram as antigas Fiat-Revelli Mod. 1914 de 6,5 mm, proporcionando maior poder de fogo e confiabilidade em combate. Em 1935, foram autorizadas a construção e entrega de cinco unidades pré-série do CV-35, destinadas a um novo ciclo de testes e avaliações operacionais, conduzidos ao longo de quatro meses. Os resultados foram altamente promissores, demonstrando significativa melhoria em desempenho e robustez. O sucesso desses ensaios consolidou o potencial militar e industrial do CV-35, assegurando à Fiat e à Ansaldo uma posição de destaque no emergente complexo industrial de defesa italiano, fortemente apoiado pelo governo de Benito Mussolini. Em 1935, o Comando do Regio Esercito Italiano (Exército Real Italiano) oficializou uma encomenda de 1.300 unidades do carro blindado leve Fiat-Ansaldo CV-35, consolidando o modelo como o principal veículo de reconhecimento e apoio da força terrestre italiana. As entregas iniciaram-se no começo de 1936, em paralelo à assinatura de um contrato complementar com a Gio. Ansaldo & Compagnia, destinado à modernização dos carros Fiat CV-33 já em serviço. Após as atualizações — que incluíram melhorias na blindagem, no sistema de ventilação e na adequação para armamento duplo —, os veículos modernizados receberam a nova designação L3/33, em que “L” significa Leggero (leve). Esses tanques ligeiros, além de sua função de reconhecimento, foram empregados em tarefas de tração de peças de artilharia leve e adaptados em versões lança-chamas, demonstrando a versatilidade e o valor tático do projeto. Os Fiat-Ansaldo CV-35 entraram em serviço ativo ainda em 1935 e tiveram seu batismo de fogo durante a Segunda Guerra Ítalo-Abissínia (1935–1936), conflito que marcou o auge do expansionismo colonial promovido pelo regime de Benito Mussolini. Sob o comando do marechal Emilio De Bono, aproximadamente 200 mil soldados italianos partiram da Eritreia, então colônia italiana, rumo ao território da Abissínia (atual Etiópia), sem declaração formal de guerra. Os CV-35 desempenharam papel crucial no avanço das forças italianas, oferecendo apoio direto à infantaria e contribuindo para o êxito das operações ofensivas em terreno montanhoso e irregular, ainda que dentro de um cenário de guerra assimétrica. Durante a década de 1930, o CV-35 ganhou amplo reconhecimento internacional, sendo exportado para diversos países da Europa, da América Latina e da Ásia, o que o transformou em um dos veículos blindados mais difundidos de sua época. Seu desempenho prático o levou a ser empregado em múltiplos conflitos, refletindo a política italiana de projeção de influência militar por meio da exportação de armamentos.

Um dos episódios mais notáveis de sua carreira internacional ocorreu na Guerra Civil Espanhola, onde o CV-35 foi amplamente utilizado pelo Corpo de Tropas Voluntárias (Corpo Truppe Volontarie, CTV), enviado pela Itália em apoio às forças nacionalistas lideradas por Francisco Franco. Embora inicialmente eficaz contra forças mal equipadas, o CV-35 mostrou-se vulnerável nos combates diretos, sendo frequentemente destruído por contra-ataques de infantaria e canhões antitanque soviéticos de 37 mm, além de superado pelos tanques leves T-26 e BT-5, fornecidos às forças republicanas. Além do teatro espanhol, o CV-35 foi empregado em diversos outros conflitos internacionais, incluindo a Segunda Guerra Sino-Japonesa, a Guerra Eslovaco-Húngara e a Guerra Anglo-Iraquiana , consolidando sua presença global em diferentes frentes. No momento em que a Itália ingressou na Segunda Guerra Mundial, em 10 de junho de 1940, o Regio Esercito dispunha de cerca de 100 unidades do L3/33, organizadas em dois batalhões blindados, enquanto os CV-35 equipavam as três divisões blindadas italianas, atuando ao lado de carros médios e veículos de apoio mecanizado. Eles também integravam os batalhões de tanques das divisões motorizadas, as esquadras de tanques leves das divisões “Rápidas” (Celere) e uma série de batalhões independentes destacados para operações de apoio direto. Contudo, apesar de sua ampla presença nos teatros de operação do Norte da África, dos Bálcãs e do Mediterrâneo, o CV-35 revelou-se obsoleto já nos primeiros anos do conflito mundial. Sua blindagem delgada, eficaz apenas contra armas leves, mostrou-se incapaz de resistir aos canhões antitanque de 37 mm utilizados pelas forças britânicas e francesas, evidenciando a defasagem tecnológica e doutrinária das forças blindadas italianas diante das exigências do combate moderno. Após a Campanha dos Bálcãs (1940–1941), a maioria dos carros de combate leves CV3-35 foi realocada para tarefas secundárias, com poucas unidades permanecendo em serviço na linha de frente. Durante a Guerra Greco-Italiana (1940–1941), aproximadamente 40 blindados CV3-35 foram capturados e utilizados pelo Exército Grego (Ελληνικός Στρατός) na 19ª Divisão Mecanizada, desempenhando um papel significativo nos combates. Após a invasão da Iugoslávia e da Grécia em abril de 1941, mais unidades dos modelos CV3-35 e L3/33 foram capturadas e empregadas pelas forças de resistência iugoslavas e gregas. Com a assinatura do armistício em 1943, grande parte da frota remanescente dos blindados CV3-33 e CV3-35 foi incorporada pelas tropas de ocupação do Exército Alemão (Wehrmacht) e pelo Exército Republicano Nacional da República Social Italiana (Esercito Nazionale Repubblicano). Essas unidades permaneceram em operação até a rendição final em 8 de maio de 1945. Entre os anos de 1933 e 1943, aproximadamente 2.500 unidades do CV3-33 e CV3-35 foram produzidas. Esses blindados foram fabricados em diversas variantes, incluindo: L3 CC: Versão antitanque equipada com um canhão Solothurn de 20 mm, instalado no lugar da metralhadora. L3 LF: Versão lança-chamas, que tracionava um tanque de combustível blindado com capacidade de 500 litros. L3 Lança-Pontes: Configuração projetada para o transporte e lançamento de pontes. L3 Radio Comando: Equipado com um rádio Marelli RF1 CA de alta potência para funções de comando e comunicação. Uma parcela significativa dos blindados CV3-33 e CV3-35 foi exportada para países como China Nacionalista, Afeganistão, Albânia, Áustria, Bolívia, Brasil, Bulgária, Croácia, Hungria, Iraque e Espanha Nacionalista. Os últimos operadores dos modelos CV3-33 e CV3-35 mantiveram esses blindados em serviço até meados da década de 1950, principalmente em funções de apoio e segurança.
Emprego no Exército Brasileiro.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Ministério da Guerra brasileiro enviou o 1º Tenente de Cavalaria José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque à França, como parte de um programa de intercâmbio militar e educacional. Na Escola de Carros de Combate de Versalhes, o tenente dedicou-se ao estudo das especialidades de motorização e mecanização. Em abril de 1919, foi designado como observador no 503º Regimento de Artilharia de Carros-de-Assalto, onde teve contato direto com a operação dos carros de combate Renault FT-17, adquirindo valiosa experiência prática. José Pessoa destacou-se como autor do tratado Os "Tanks" na Guerra Europeia, publicado em 1921 no Rio de Janeiro. A obra analisava o desenvolvimento e o emprego de veículos blindados no teatro de operações europeu durante a Primeira Guerra Mundial, consolidando seu papel como um dos principais pensadores militares brasileiros sobre o tema. Além disso, foi um dos idealizadores da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, Rio de Janeiro, e fundador do Centro de Instrução de Artilharia de Costa, que em 1942 foi transformado em escola. Ao retornar ao Brasil, a experiência do Tenente José Pessoa exerceu significativa influência no comando do Exército Brasileiro, incentivando a aquisição de carros de combate. A escolha recaiu sobre o Renault FT-17, impulsionada por uma aproximação político-militar entre os governos brasileiro e francês. Contudo, o próprio José Pessoa expressava ressalvas quanto à adequação do modelo para as necessidades da futura força blindada brasileira, considerando-o menos que ideal. Por meio do Decreto nº 15.235, de 31 de dezembro de 1921, foi criada a Companhia de Carros de Assalto, sediada na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Com isso, o Exército Brasileiro tornou-se pioneiro no uso de armas blindadas na América do Sul, embora a operacionalidade dessas forças já existisse antes de sua formalização. A introdução dos Renault FT-17 representou uma inovação significativa, mas enfrentou resistência entre oficiais mais antigos, devido à ausência de uma visão estratégica clara e à falta de uma cultura de inovação. A resistência à adoção dos carros de combate gerou deficiências doutrinárias no Exército Brasileiro, que comprometeram o desenvolvimento e a eficácia da Companhia de Carros de Assalto. Essas limitações persistiram, dificultando o emprego efetivo dos blindados durante as crises políticas e militares das décadas de 1920 e 1930. O uso operacional dos Renault FT-17 ocorreu durante a Revolução Constitucionalista de 1932, em que os blindados foram empregados em missões de defesa de pontes e neutralização de ninhos de metralhadoras. Apesar de seu papel limitado, essas operações marcaram a primeira utilização prática de carros de combate pelo Exército Brasileiro em um conflito interno.
Em 22 de abril de 1935, por meio do Aviso nº 248, foi criada a Seção de Carros-de-Combate no Batalhão de Guardas, utilizando os carros de combate já existentes no Batalhão Escola de Infantaria. No mesmo período, sob a influência direta do chefe da Missão Militar Francesa, General Paul Noel, foi instituída a Seção de Motomecanização no Estado-Maior do Exército. Essas iniciativas representaram um avanço significativo na modernização das forças terrestres brasileiras, sinalizando um esforço para integrar a motomecanização na doutrina militar. A criação da Companhia de Carros de Assalto em 1921, sob a liderança do Capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, foi uma tentativa pioneira de introduzir a arma blindada no Exército Brasileiro. Contudo, a falta de visão estratégica por parte de setores conservadores da oficialidade resultou no abandono progressivo dessa iniciativa. A resistência à motomecanização revelou deficiências doutrinárias que comprometeram a continuidade do projeto, evidenciando a necessidade de uma mudança cultural para evitar o atraso operacional da Força Terrestre. Em 1938, o General Waldomiro Castilho de Lima, inspirado pelas operações militares italianas na Segunda Guerra Ítalo-Abissínia (1935–1936), trouxe novo ímpeto à discussão sobre a motomecanização no Ministério da Guerra. Reconhecendo a obsolescência dos carros de combate Renault FT-17, utilizados pelo Exército Brasileiro desde os anos 1920, foi decidida a substituição desses veículos por modelos modernos. A escolha recaiu sobre os carros de combate Fiat-Ansaldo CV3-35 II, que haviam demonstrado desempenho satisfatório em terrenos montanhosos durante a Guerra Civil Espanhola (1936–1939) e nas regiões áridas da Etiópia. Os Fiat-Ansaldo CV3-35 II representavam o auge do sucesso comercial da indústria bélica italiana, sendo adquiridos por diversos exércitos ao redor do mundo. Seguindo essa tendência, o governo brasileiro celebrou um contrato com o fabricante italiano para a compra de um lote desses veículos blindados. Apesar da relevância dessa decisão, a eficácia operacional dos novos carros de combate ainda enfrentava desafios devido a preconceitos persistentes entre a oficialidade mais tradicional do Exército Brasileiro em relação à adoção de armas blindadas. As ideias visionárias do Capitão José Pessoa, que defendia a importância da motomecanização desde os anos 1920, foram retomadas com entusiasmo pelo Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves. Sua dedicação foi fundamental para a consolidação da arma blindada no Brasil, superando resistências internas e promovendo a modernização da doutrina militar. A iniciativa de Flores marcou um ponto de inflexão, pavimentando o caminho para o fortalecimento das capacidades operacionais do Exército Brasileiro no campo da motomecanização.
Em 1938, o Exército Brasileiro iniciou um novo e decisivo capítulo em sua trajetória de modernização militar. Por determinação do Alto-Comando, a Seção de Carros-de-Combate do Batalhão de Guardas, sediada no Rio de Janeiro, passou a ser responsável pela operação dos recém-adquiridos carros de combate leves Fiat-Ansaldo CV3-35 II. Coube à mesma unidade reunir o efetivo e os equipamentos remanescentes da antiga força de blindados, incluindo os veteranos Renault FT-17, ainda em serviço. Essa reorganização teve como objetivo centralizar os recursos de motomecanização, conferindo maior eficiência operacional, administrativa e doutrinária à nascente arma blindada nacional. No final de abril de 1938, o Brasil recebeu 23 unidades dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, transportadas por via terrestre até o Depósito de Material Bélico de Deodoro, no Rio de Janeiro. Entre esses veículos, cinco eram equipados com metralhadoras Breda de calibre 13,2 mm, enquanto os dezoito restantes traziam metralhadoras duplas Madsen de 7 mm, de origem dinamarquesa. A chegada desses blindados simbolizou o início concreto da mecanização da Cavalaria brasileira, em sintonia com as tendências militares internacionais da década de 1930, marcadas pela valorização da mobilidade e da potência de fogo. Por meio do Aviso nº 400, de 25 de maio de 1938, foi criado o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, incorporado ao Centro de Instrução de Motorização e Mecanização, como parte da recém-fundada Subunidade-Escola de Motomecanização. A nova organização foi aquartelada em Deodoro, em um edifício originalmente projetado para abrigar a Escola de Engenharia — estrutura que mais tarde daria origem à Escola de Material Bélico (EsMB). Essa medida consolidou o esforço institucional do Exército em integrar o ensino técnico e a experimentação prática no processo de modernização militar. A implantação do Esquadrão de Auto-Metralhadoras contou com o empenho notável do Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves, oficial de reconhecida competência e dedicação. Com o auxílio de um sargento mecânico da Escola de Aviação Militar, o capitão coordenou a complexa transferência dos 23 blindados do Depósito de Material Bélico para as novas instalações da unidade, demonstrando notável espírito de iniciativa e compromisso com a consolidação da arma blindada no Brasil. Os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram apresentados oficialmente ao público em 7 de setembro de 1938, durante a tradicional parada militar do Dia da Independência, realizada no Rio de Janeiro. O desfile marcou o surgimento da primeira subunidade mecanizada da Cavalaria brasileira, o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, representando um marco simbólico na história militar nacional. O advento dessa unidade mecanizada refletiu o esforço do Exército Brasileiro em harmonizar a tradição da cavalaria hipomóvel — profundamente enraizada em sua cultura militar — com as demandas tecnológicas e estratégicas da motomecanização moderna. Assim, o ano de 1938 consolidou-se como um divisor de águas, em que tradição e inovação se uniram para moldar o futuro das forças blindadas no Brasil.

Em 1938, o Exército Brasileiro iniciou um novo e decisivo capítulo em sua trajetória de modernização militar. Por determinação do Alto-Comando, a Seção de Carros-de-Combate do Batalhão de Guardas, sediada no Rio de Janeiro, passou a ser responsável pela operação dos recém-adquiridos carros de combate leves Fiat-Ansaldo CV3-35 II. Coube à mesma unidade reunir o efetivo e os equipamentos remanescentes da antiga força de blindados, incluindo os veteranos Renault FT-17, ainda em serviço. Essa reorganização teve como objetivo centralizar os recursos de motomecanização, conferindo maior eficiência operacional, administrativa e doutrinária à nascente arma blindada nacional. No final de abril de 1938, o Brasil recebeu 23 unidades dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, transportadas por via terrestre até o Depósito de Material Bélico de Deodoro, no Rio de Janeiro. Entre esses veículos, cinco eram equipados com metralhadoras Breda de calibre 13,2 mm, enquanto os dezoito restantes traziam metralhadoras duplas Madsen de 7 mm, de origem dinamarquesa. A chegada desses blindados simbolizou o início concreto da mecanização da Cavalaria brasileira, em sintonia com as tendências militares internacionais da década de 1930, marcadas pela valorização da mobilidade e da potência de fogo. Por meio do Aviso nº 400, de 25 de maio de 1938, foi criado o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, incorporado ao Centro de Instrução de Motorização e Mecanização, como parte da recém-fundada Subunidade-Escola de Motomecanização. A nova organização foi aquartelada em Deodoro, em um edifício originalmente projetado para abrigar a Escola de Engenharia — estrutura que mais tarde daria origem à Escola de Material Bélico (EsMB). Essa medida consolidou o esforço institucional do Exército em integrar o ensino técnico e a experimentação prática no processo de modernização militar. A implantação do Esquadrão de Auto-Metralhadoras contou com o empenho notável do Capitão Carlos Flores de Paiva Chaves, oficial de reconhecida competência e dedicação. Com o auxílio de um sargento mecânico da Escola de Aviação Militar, o capitão coordenou a complexa transferência dos 23 blindados do Depósito de Material Bélico para as novas instalações da unidade, demonstrando notável espírito de iniciativa e compromisso com a consolidação da arma blindada no Brasil. Os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram apresentados oficialmente ao público em 7 de setembro de 1938, durante a tradicional parada militar do Dia da Independência, realizada no Rio de Janeiro. O desfile marcou o surgimento da primeira subunidade mecanizada da Cavalaria brasileira, o Esquadrão de Auto-Metralhadoras, representando um marco simbólico na história militar nacional. O advento dessa unidade mecanizada refletiu o esforço do Exército Brasileiro em harmonizar a tradição da cavalaria hipomóvel — profundamente enraizada em sua cultura militar — com as demandas tecnológicas e estratégicas da motomecanização moderna. Assim, o ano de 1938 consolidou-se como um divisor de águas, em que tradição e inovação se uniram para moldar o futuro das forças blindadas no Brasil.O Esquadrão de Auto-Metralhadoras, sediado em Deodoro, no Rio de Janeiro, consolidou-se, a partir de 1938, como o núcleo inicial da Cavalaria mecanizada brasileira. Seus 23 carros blindados leves Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram organizados em quatro pelotões, cada um composto por cinco veículos, além de três unidades de reserva. Em uma solução prática e simbólica, cada pelotão recebeu insígnias representando os naipes de baralho — copas, espadas, paus e ouros — pintadas em círculos brancos nas laterais dos blindados, sistema que facilitava a identificação tática e expressava o espírito de unidade e distinção entre as frações. Do ponto de vista técnico, quatro veículos de cada pelotão estavam armados com duas metralhadoras dinamarquesas Madsen de 7 mm, enquanto o quinto blindado, reservado ao comandante do esquadrão ou do pelotão, era equipado com uma metralhadora italiana Breda de 13,2 mm, de maior calibre e poder de fogo. A estrutura de apoio da unidade incluía duas viaturas de turismo, nove caminhões leves, sete motocicletas e oito motocicletas com sidecar, compondo o pelotão de apoio logístico e administrativo. O efetivo total atingia 102 militares, dos quais sete oficiais e noventa e cinco praças, com dois tripulantes designados para cada blindado Fiat-Ansaldo. Em um gesto de continuidade histórica, o esquadrão incorporou também os cinco últimos carros de combate Renault FT-17 ainda operacionais — símbolos da primeira experiência brasileira com forças blindadas, iniciada na década de 1920. Assim, a unidade reunia, em um mesmo aquartelamento, dois momentos distintos da evolução da motomecanização nacional: o experimentalismo dos anos pós-Primeira Guerra Mundial e a modernização impulsionada pelas transformações da década de 1930. A partir de 1939, o Esquadrão de Auto-Metralhadoras alcançou plena operacionalidade, assumindo um papel central na formação doutrinária e técnica da futura força blindada brasileira. O emprego dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, aliado à introdução de novos métodos de instrução, transformou gradualmente a mentalidade da oficialidade do Exército, ainda fortemente vinculada à tradição da cavalaria montada. Essa transição conceitual foi decisiva para consolidar os fundamentos táticos e organizacionais da Cavalaria Mecanizada, promovendo uma integração mais eficiente entre veículos blindados e unidades de infantaria. Entretanto, as limitações materiais logo se tornaram evidentes. O reduzido número de carros — apenas 23 unidades — impedia qualquer emprego operacional em larga escala, restringindo-os às atividades de ensino e adestramento. Além disso, sua obsolescência técnica tornava-os inadequados para os padrões bélicos emergentes na Europa, onde o poder de fogo e a blindagem dos tanques evoluíam rapidamente. Com o aprofundamento das relações diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos, no contexto da Segunda Guerra Mundial, o país passou a integrar programas de cooperação e assistência militar. Em agosto de 1941, chegaram os dez primeiros carros de combate leves M-3 Stuart, armados com canhões de 37 mm um salto tecnológico significativo em relação aos antigos modelos italianos.

Esse fluxo de material ampliou-se em 1942, com a chegada de centenas de carros de combate M-3A3 e M-3A5 Lee, além dos M-3 e M-3A1 Stuart, consolidando a modernização da frota blindada nacional. Com a introdução desses novos veículos, os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram gradualmente retirados de serviço, encerrando uma fase pioneira da história da blindagem no Brasil. Embora tecnologicamente superados, esses blindados italianos cumpriram um papel fundamental como instrumento de formação, experimentação e transição, preparando o Exército Brasileiro para ingressar na era moderna da guerra mecanizada — uma etapa decisiva para o fortalecimento da Doutrina Blindada Nacional nas décadas seguintes. Em meados de 1942, os carros blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 II, embora substituídos por modelos mais modernos, não foram imediatamente retirados de serviço. Eles foram transferidos para Recife, Pernambuco, onde passaram a integrar o Esquadrão de Reconhecimento da Ala Motomecanizada do 7º Regimento de Cavalaria Divisionário. Essa unidade ficou sob o comando do 1º Tenente Plínio Pitaluga, que posteriormente lideraria o 1º Esquadrão de Reconhecimento da Força Expedicionária Brasileira (FEB), a única unidade de Cavalaria do Exército Brasileiro a atuar no teatro de operações europeu durante a Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1944, os Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram transferidos de volta ao Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Até o término da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, esses blindados foram empregados em missões de patrulha em bases militares. Após o conflito, foram formalmente desativados e armazenados no Depósito Central de Material de Motomecanização, localizado no Rio de Janeiro. Em 1948, pelo menos cinco unidades dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II foram transferidas para a Polícia Militar do Distrito Federal, onde permaneceram em operação até meados da década de 1950. Após esse período, foram recolhidas ao depósito. No mesmo ano, parte da frota foi doada ao governo da República Dominicana. Nos anos subsequentes, alguns desses veículos foram utilizados como alvos em exercícios de artilharia e lança-chamas, refletindo sua obsolescência operacional. Em reconhecimento à importância histórica dos Fiat-Ansaldo CV3-35 II, alguns exemplares foram preservados para fins museológicos e cerimoniais. Dois veículos estão em exposição no Museu Militar Conde de Linhares e no 15º Regimento de Cavalaria Mecanizada, ambos localizados no bairro de Campinho, Rio de Janeiro. Além disso, dois outros blindados, equipados com metralhadoras Madsen de calibre 7 mm e mantidos em condições operacionais, são utilizados em eventos e cerimônias na Escola de Material Bélico (EsMB), no Rio de Janeiro, e na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, RJ. Essas iniciativas asseguram a preservação da memória militar brasileira e o legado dos primeiros esforços de motomecanização no Exército Brasileiro.
Em Escala.
Para a representação do carro blindado Fiat-Ansaldo CV3-35 Modelo II, foi selecionado o kit da Bronco Models na escala 1/35. Este modelo destaca-se pelo elevado nível de detalhamento, incluindo componentes em photo-etched, que conferem maior realismo à maquete. Não foram necessárias modificações adicionais para reproduzir fielmente a versão utilizada pelo Exército Brasileiro, dado que o kit já atende às especificações históricas do veículo. Os emblemas e marcações do Fiat-Ansaldo CV3-35 Modelo II foram representados por meio de decais personalizados, desenvolvidos com base em diversos conjuntos produzidos pela FCM Decais. Essa customização garantiu a precisão histórica das insígnias e símbolos empregados pelo Exército Brasileiro, assegurando uma reprodução autêntica do veículo em sua configuração operacional.
O esquema de cores descrito, conforme o padrão Federal Standard (FS), foi adotado pelo Exército Brasileiro para todos os seus veículos militares nas décadas de 1920 e 1930. Inicialmente, os carros blindados Fiat-Ansaldo CV3-35 foram recebidos com o padrão de camuflagem utilizado pelo Exército Real Italiano (Regio Esercito Italiano). Contudo, esse esquema foi prontamente substituído para adequar os veículos ao padrão estipulado pelo Exército Brasileiro, garantindo uniformidade e conformidade com as normas nacionais.
Bibliografia :
- Carro Veloce L3/35 (CV-35) - http://www.tanks-encyclopedia.com
- CV33 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV33
- CV35 Ansaldo Wikipédia - https://it.wikipedia.org/wiki/CV35
- Consolidação dos Blindados no Brasil - Expedito Carlos Stephani Bastos - www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/DC3.PDF

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